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TEORIA GERAL DO PROCESSO

JURISDIÇÃO, AÇÃO, PROCESSO E


COMPETÊNCIA
Anna Camila Andrade Piantino

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Olá!
Você está na unidade Jurisdição, ação, processo e competência. Conheça aqui, os três institutos fundamentais

do Processo Civil. Em um primeiro momento, para estudar a jurisdição, aprenda seu conceito, características e

compreenda a nova feição destes institutos no direito contemporâneo. Conheça também suas espécies,

princípios e poderes inerentes. Para compreensão da ação, aprenda seu conceito, elementos, classificação e

hipóteses de cumulação. Aprenda o conceito, natureza e pressupostos do processo e, por fim, aprenda sobre a

competência processual.

Bons estudos!

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1 Jurisdição: noções gerais
A jurisdição é um instituto fundamental do Processo Civil, disciplinado na Parte Geral, Livro II do Código de

Processo Civil. Esta é um dos poderes do Estado, onde este atua no sentido de “(...) formular e fazer atuar

praticamente a regra jurídica concreta que, por força do direito vigente, disciplina determinada situação jurídica

conflituosa” (JUNIOR, 2015, p. 193). Nesse sentido, para a compreensão da jurisdição, primeiro analisa-se seu

conceito e suas principais características. Depois analisa-se a nova feição da atividade jurisdicional através dos

conceitos de criatividade judicial, sistema de precedentes e cláusulas gerais processuais.

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1.1 Conceito e características

A jurisdição é uma das funções do Estado, em que se atribui a um terceiro imparcial o papel de pacificar

conflitos. A função jurisdicional é acionada por interessados diante de situações concretas de conflito de

interesses (JUNIOR, 2015). Já para Fredie Didier (DIDIER, 2015, p. 153):

A jurisdição é a função atribuída a terceiro imparcial (a) de realizar o Direito de modo imperativo (b)

e criativo (reconstrutivo) (c), reconhecendo/efetivando/protegendo situações jurídicas (d)

concretamente deduzidas (e), em decisão insuscetível de controle externo (f) e com aptidão para

tornar-se indiscutível (g).

Já Luiz Guilherme Marinoni (2017) conceitua a jurisdição sob uma ótica de poder exercido pelo Poder Judiciário,

onde deve-se ter especial atenção à organização judiciaria como elemento estruturante da administração da

Justiça. A jurisdição depende não apenas das normas processuais civis, mas desta organização.

Assim, apreende-se que a jurisdição é simultaneamente um poder e uma função do Estado, exercida pelos órgãos

que compõem a estrutura organizacional judiciaria conforme estabelecido pela Constituição da República, onde

um terceiro imparcial realiza o Direito, visando pacificar conflitos de interesses entre particulares Segundo

ensinamentos de Humberto Theodoro Júnior (2015), a jurisdição possui as seguintes características: secundária,

instrumental, declarativa (executiva), desinteressada e provocada.

• Secundária

Age apenas quando as partes não conseguiram resolver um conflito de interesses espontaneamente.

• Instrumental

Serve como instrumento do direito para a aplicação prática deste.

• Declarativa (executiva)

Fixa o direito para as partes, declarando uma decisão para o caso concreto, com base nas normas

expressas em lei e também em sua atividade criativa.

• Desinteressada

É imparcial, devendo o juiz se manter equidistante das partes interessadas.

• Provocada

A jurisdição age por provocação, pois a instauração do processo se dá por iniciativa de parte interessada

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A jurisdição age por provocação, pois a instauração do processo se dá por iniciativa de parte interessada
(JUNIOR, 2015).

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1.2 Nova feição da atividade jurisdicional: criatividade judicial, sistema de
precedentes e cláusulas gerais processuais

A jurisdição nada mais é do que uma técnica de solução de conflitos através de terceiro não interessado que

substitui a vontade das partes interessadas, a chamada heterocomposição. Além de técnica, é também uma

manifestação de poder do Estado, que age de forma imperativa e inevitável na aplicação do Direito (DIDIER,

2015).

Além disso, a jurisdição possui uma nova feição, que é a atividade criativa. Esta criatividade é ilimitada e ocorre

por meio da reconstrução, pois “(...) recria-se a norma jurídica no caso concreto, bem como se recria, muita vez,

a própria regra abstrata que deve regular o caso concreto. ” (DIDIER, 2015, p. 157).

Texto e norma jurídica são conceitos distintos, pois a norma encontra outras fontes além da lei escrita. A norma

jurídica apresenta um forte viés de interpretação em sua construção e é justamente neste aspecto que se insere o

caráter criativo da jurisdição. A interpretação dada às normas pelos tribunais -bem como a maneira como as

normas se amoldam aos casos concretos-, são papeis fundamentais da produção jurídica. As decisões criam algo

novo, todavia, ressalta-se que este processo criativo deve se dar conforme à Constituição, fonte originadora de

normas e viés interpretativo de todo ordenamento. Com a valorização da função criativa da jurisdição, tem-se a

valorização dos precedentes o que, segundo Humberto Theodoro Júnior (2015), confere à própria jurisdição o

papel de fonte do Direito, à exemplo da valorização das súmulas vinculantes no ordenamento brasileiro.

O sistema de precedentes encontra-se disciplinado no Código de Processo Civil nos artigos 926 a 928 (súmula

vinculante), artigo 1.035 (repercussão geral no recurso extraordinário), artigos 976 e seguintes (incidente de

resolução de demandas repetitivas) e artigo 332 (possibilidade improcedência liminar do pedido). Observando

estes artigos, dentre outros, Humberto Theodoro Júnior conclui (JUNIOR, 2015, p. 202):

Dos exemplos acima (e há outros no direito positivo atual) se pode aquilatar a grande mudança de

rumo que o processo vem sofrendo entre nós, no que se relaciona com a força normativa dos

julgados dos tribunais. De modo que se acha autorizada a conclusão de que, nos limites dos

precedentes, as teses jurisprudenciais adquirem a autoridade de fonte do Direito.

Dando margem à utilização da criatividade como função jurisdicional, o texto normativo apresenta cláusulas

gerais, que se tratam de determinações legislativas com certo grau de abstração, que se dá através de termos

indeterminados, que permite uma construção do ordenamento mais ativa através da interpretação, permitindo

que as normas se amoldem ao caso concreto.

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São as cláusulas gerais que permitem uma maior aproximação do texto normativo com o caso concreto, através

do elo da hermenêutica. Trata-se de uma construção dinâmica do Direito feita pela doutrina e pela

jurisprudência com base nessas normas. Segundo Didier (2015) o maior exemplo de cláusula geral do Código de

Processo Civil é o devido processo legal.

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2 Espécies de jurisdição
Materialmente, a jurisdição é una, pois é emanação de um só poder e função do Estado. Todavia, para fins

funcionais e didáticos, ela se divide nas seguintes espécies:

Jurisdição civil
Possui caráter residual, aplicando-se a todas as matérias não abrangidas pela jurisdição penal ou pelas jurisdições

especiais, “(...) pouco importando que a lide verse sobre direito material público (constitucional, administrativo

etc.) ou privado (civil ou comercial)” (JUNIOR, 2015, p. 208).


Jurisdições especiais
São as justiças militar, trabalhista e eleitoral, que, apesar de integrarem a jurisdição una, apresentam estruturas

específicas para fins puramente organizacionais, conforme determinado pela Constituição da República

(GONÇALVES, 2016).

A distinção da jurisdição em civil e penal se dá em decorrência da distinção para efeitos funcionais feita entre os

órgãos integrantes da Justiça. Trata-se de uma distinção baseada no objeto do conflito apresentado ao Poder

Judiciário, ou seja, baseada na matéria discutida (GONÇALVES, 2016). Além da jurisdição civil, penal e especial,

temos também a contenciosa e voluntária. (JÚNIOR, 2015).

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2.1 Jurisdição contenciosa e jurisdição voluntária

Segundo Humberto Theodoro Júnior, jurisdição contenciosa é a jurisdição propriamente dita, ou seja, é a

função estatal de pacificar e compor litígios. Litígios, por sua vez, é a terminologia utilizada para conflitos de

interesses que não encontraram solução voluntária ou espontânea. Nesse sentido:

(...) na base do processo, por meio do qual atua a jurisdição, nos moldes constitucionais, está sempre

‘um conflito de interesses’, do qual decorre a pretensão deduzida em juízo, que, por sua vez revelará

o litígio a ser composto pelo provimento jurisdicional (Júnior, 2015, p. 208).

Todavia, a atuação do Poder Judiciário não se limita à jurisdição contenciosa. Existem situações em que o

magistrado atua meramente realizando uma gestão pública de interesses privados. São situações em que não há

conflito de interesses, apenas um negócio jurídico-processual entre as partes interessadas e o juiz, como ocorre,

por exemplo, no caso do divórcio consensual. Nestas situações, tem-se a chamada jurisdição voluntária

(JUNIOR, 2015).

Também chamada de jurisdição integrativa, a jurisdição voluntária é uma atividade estatal de integração e

fiscalização. Aqui, o juiz não substitui a vontade das partes, mas integra à vontade e fiscaliza os requisitos legais

necessários para se chegar ao resultado pretendido (DIDIER, 2015). Nesse sentido, no exemplo do divórcio

consensual, as partes interessadas apresentam a documentação necessária ao juiz, que fiscaliza os documentos e

observa se todos os requisitos legais estão devidamente preenchidos. Depois, se tudo estiver nos conformes

legais, homologa o acordo de divórcio pretendido pelas partes. Os procedimentos de jurisdição contenciosa

podem ser receptícios, probatórios, declaratórios, constitutivos, executórios ou tutelares.

Procedimentos receptícios
Quando o magistrado se limita a registrar, documentar ou comunicar a manifestação de vontade.
Procedimentos probatórios
São aqueles em que a atividade judicial se dá pela mera produção de provas.
Procedimentos declaratórios
São aqueles em que o magistrado se limita a declarar a existência ou não de uma situação jurídica (DIDIER, 2015).
Procedimentos constitutivos
Ocorrem quando há criação, modificação ou extinção de situação jurídica em decorrência da vontade das partes.
Procedimentos executórios
São aqueles em que o magistrado apenas exerce uma atividade prática que modifica o mundo exterior.
Procedimentos tutelares

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São aqueles em que a proteção de interesse de pessoa desamparada depende de instauração de procedimentos

pelo Judiciário, como ocorre com procedimentos do Estatuto da Criança e do Adolescente (DIDIER, 2015).

Os procedimentos de jurisdição voluntária encontram-se disciplinados no Código de Processo Civil, artigos 719 a

770.

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3 Princípios e poderes inerentes à jurisdição
A jurisdição se submete a todos os princípios gerais constitucionais, bem como a todos os processos específicos

do processo civil. Contudo, além disso, possui princípios específicos, quais sejam: juiz natural (DIDIER, 2015).

3.1 Princípio do juiz natural

O poder jurisdicional emana da Constituição e só pode ser exercido pelo órgão por ela determinado para

enfrentar determinada matéria. Trata-se do direito fundamental de que ninguém poderá ser julgado por

autoridade não competente, conforme se extrai do artigo 5º, incisos XXXVII e LIII da Constituição da República

(JUNIOR, 2015). Juiz natural é o juiz devido. Juiz devido é aquele determinado de modo imparcial e deve ser

pessoa competente, devidamente investida nas funções de juiz, escolhida previamente por regras objetivas, de

modo a se afastar hipóteses de suspeição e até mesmo de Tribunal de exceção. Em decorrência do princípio do

juiz natural, portanto, que os autos são distribuídos por sorteio, de maneira pública, conforme artigo 930, do

Código do Processo Civil.

Fique de olho
Hoje em dia, há uma tendência doutrinaria pelo reconhecimento do princípio do promotor
natural, idêntico ao do juiz natural, mas voltado para as autoridades competentes do
Ministério Público, que também devem resguardar postura de imparcialidade e corresponder
a critérios objetivos de investidura (DIDIER, 2015).

3.2 Princípio da inafastabilidade

Trata-se da inafastabilidade da jurisdição, conforme artigo 5º, inciso XXXV da Constituição: “(..) a lei não excluirá

da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito” (BRASIL, 1988). É o direito fundamental de ação, ou

ainda direito de acesso ao Poder Judiciário, ou acesso à Justiça. Além de ser um direito, este princípio representa

uma imposição ao Poder Legislativo, que não pode abalizar a jurisdição constitucionalmente delimitada. Ainda, é

uma imposição ao Poder Judiciário, não podendo este recursar-se de sua prestação quando legitimamente

provocado (DIDIER, 2015).

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3.3 Princípio da indelegabilidade

Em nome do princípio do juiz natural e em respeito às regras de competência, o poder jurisdicional não pode ser

delegado. A indelegabilidade se aplica de modo integral ao poder decisório, que jamais pode ser entregue a outro

órgão.

Alguns poderes dentro da função jurisdicional podem ser delegados, como é o caso do poder instrutório.

Também se cita a hipótese do artigo 972, que preconiza: “Se os fatos alegados pelas partes dependerem de

prova, o relator poderá delegar a competência ao órgão que proferiu a decisão rescindenda, fixando prazo de 1

(um) a 3 (três) meses para a devolução dos autos” (BRASIL, 2015). EsSas hipóteses expressas de delegação não

se tratam de exceções ao princípio da indelegabilidade, pois são na verdade hipóteses de colaboração entre

órgãos, onde outro órgão pratica atos que outro não poderia praticar, visando o adequado trâmite do processo

(JUNIOR, 2015).

3.4 Princípio da aderência territorial (territorialidade)

Segundo Humberto Theodoro Júnior, “todo juiz ou órgão judicial conta com uma circunscrição territorial dentro

da qual exerce suas funções jurisdicionais, que pode ser a comarca, o Estado, o Distrito Federal ou todo o

território nacional, conforme disposto na Constituição e nas leis de organização judiciária” (JUNIOR, 2015, p.

207). Em outras palavras, os magistrados só possuem autoridade dentro dos limites territoriais de sua

jurisdição. Observa-se que este princípio possui algumas mitigações expressas no Código de Processo Civil, a

exemplo das hipóteses do artigo 6º e 255, que tratam de hipóteses em que autoridades judiciarias devem

cooperar entre si no exercício jurisdicional de seu território (DIDIER, 2015).

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4 Introdução à Ação
Ação é um ato jurídico que inicia o processo objetivando obter tutela do Poder Judiciário sobre o pleito

formulado. Para compreende-la, estudaremos seu conceito, natureza jurídica, elementos, classificação e a

possibilidade de cumulação de ações.

4.1 Conceito e natureza jurídica

Fredie Didier (2015) define a ação como ato jurídico, que também pode ser chamado de “demanda”. Trata-se de

ato que impulsiona o procedimento, define o objeto litigioso e fixa os limites da atividade jurisdicional,

consequentemente. A ação não se confunde com o direito de ação. A ação tem natureza jurídica de ato jurídico

, enquanto o direito de ação tem natureza de situação jurídica complexa, por sua vez composta por inúmeras

outras, como o direito de provocar a atividade jurisdicional, direito à escolha do procedimento, direito à prova,

dentre outros. Nesse sentido, “(...) direito de ação é um direito que enfeixa todas as situações jurídicas

decorrentes da incidência do princípio do devido processo legal” (DIDIER, 2015, p. 285).

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4.2 Elementos da ação: partes, causa de pedir e pedido

A causa de pedir e o pedido são os elementos objetivos da ação, enquanto as partes são o elemento subjetivo. O

pedido equivale à lide, ou seja, é a matéria sobre a qual a tutela jurisdicional irá atuar. Nesse sentido, o pedido é

uma pretensão levada ao Estado-Juiz, objetivando uma providência que solucione um determinado conflito.

Existem dois tipos de pedido: o imediato e o mediato.

Pedido É o próprio desejo do autor de ter uma tutela jurisdicional em relação a sua pretensão, seja

imediato ela uma condenação, expedição de ordem ou outra providência almejada.

Pedido
É o objeto da ação propriamente dita.
mediato

O pedido para ser concedido deve ser certo, determinado, claro, coerente e expresso, não se admitindo pedido

implícito ou genérico (DIDIER, 2015). Por sua vez, a causa de pedir é o fato jurídico que ampara as pretensões

trazidas em juízo. É constituída pelos fatos que deram origem a lide, juntamente com os fundamentos jurídicos

que justifiquem a pretensão do autor.

A causa de pedir possui duas esferas: causa de pedir remota e causa de pedir próxima. Causa de pedir remota é a

descrição do fato que deu origem a lide, enquanto a causa de pedir próxima é o próprio direito. Após a descrição

do fato relacionada com o direito, substancia-se a pretensão do autor (JUNIOR, 2015).

Finalmente, as partes são os sujeitos instituídos em juízo. Podem ser classificadas em parte processual, parte

material e parte legítima. Parte processual são os sujeitos que agem com parcialidade dentro do contraditório. Já

a parte material é aquela que não necessariamente é parte processual, mas é parte da situação jurídica discutida

(casos, por exemplo, onde se discute interesse alheio). Por fim, parte legítima é aquela que tem autorização para

estar em juízo (DIDIER, 2015).

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5 Classificação das ações
As ações podem ser classificadas de cinco modos distintos, quais sejam:
• classificação segundo a natureza da relação jurídica discutida (real e pessoal).
• classificação segundo o objeto do pedido mediato (mobiliária ou imobiliária).
• classificação segundo o tipo de tutela jurisdicional (conhecimento, cautelar e executiva).
• ações de conhecimento (condenatória, constitutiva e declaratória).
• ações dúplices (DIDIER, 2015).

5.1 Classificação segundo a natureza da relação jurídica discutida

Nesta classificação, as ações são divididas em demanda real, se a natureza jurídica da situação jurídica deduzida

em juízo for um direito real, e em demanda pessoal, tratando-se de direitos pessoais. Esta classificação é

importante, pois a natureza da relação jurídica discutida impacta na competência e na capacidade processual das

pessoas casadas, conforme artigos 46, 47 e 73 do Código de Processo Civil. Observa-se que, no caso das ações

possessórias, estas não são reais nem pessoais, possuindo regramento jurídico próprio (DIDIER, 2015).

5.2 Classificação segundo o objeto do pedido mediato

Segundo o objeto do pedido imediato, as ações podem ser mobiliárias (bens móveis) ou imobiliárias (bens

imóveis). Segundo Fredie Didier, trata-se de uma classificação relevante para a análise de competência e

capacidade processual das pessoas casadas. Observa-se que esta classificação não guarda correspondência com a

classificação segundo a natureza jurídica da relação discutida, podendo uma ação imobiliária, por exemplo, ser

real ou pessoal (DIDIER, 2015).

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5.3 Classificação segundo o tipo de tutela jurisdicional

A classificação segundo o tipo de tutela jurisdicional é, em outras palavras, a classificação quanto ao tipo de

atividade que será exercida pelo juiz. Aqui, as ações podem ser agrupadas em ações de conhecimento, executivas

ou cautelares.

Ações de conhecimento são aquelas em que se busca a certificação de um direito, ou seja, busca-se uma

sentença definindo a solução para o conflito de interesses apresentado pelas partes. Já as ações executivas são

aquelas em que se busca não a certificação, mas a execução de um direito, o que se dará pela determinação de

providências concretas para satisfação do direito (GONÇALVES, 2016). Por sua vez, ações cautelares são

aquelas que buscam a mera proteção para efetivação de um direito. Todavia, aponta-se que tal classificação,

apesar de ainda muito utilizada, está se tornando ultrapassada, pois as ações no atual Código de Processo Civil

têm assumido uma natureza sincrética. De acordo com Fredie Didier (DIDIER, 2015, p. 289):

vai-se a juízo em busca de uma providência jurisdicional que viabilize mais de um tipo de tutela

jurisdicional, satisfazendo e assegurando, certificando e efetivando, certificando assegurando e

efetivando etc. Não deixa ter importância a distinção dos tipos de tutela, que são diversos; perde-se

porém, a importância de distinguir as demandas conforme essas modalidades de tutela.

As ações de conhecimento podem ser classificadas em condenatórias, constitutivas e declaratórias, de acordo

com o tipo de tutela postulada. Nos três tipos, busca-se uma sentença. (Gonçalves, 2016)

Ações condenatórias

Também chamadas de ações de prestação, são aquelas que buscam o cumprimento de uma prestação, ou seja,

busca-se exigir de outrem uma conduta de dar, fazer ou não fazer. Quando, em uma relação, alguém não satisfaz

uma prestação devida de forma voluntária, recorre-se ao Poder Judiciário buscando-se sua efetivação. Em outras

palavras, “(...) ação condenatória é aquela em que se afirma a titularidade de um direito a uma prestação, e pela

qual se busca a certificação e a efetivação desse mesmo direito, com a condenação do réu ao cumprimento da

prestação devida” (DIDIER, 2015, p. 290).

Ações constitutivas

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São aquelas que não buscam uma condenação, mas sim modificar, constituir ou substituir uma relação jurídica,

como ocorre, por exemplo, nas ações de divórcio ou separação (GONÇALVES, 2016). Aqui, não é necessário

nenhum ato material (no mundo dos fatos) para efetivar os direitos pretendidos, basta a decisão judicial para

que a tutela pretendida ocorra. São os chamados direitos potestativos (DIDIER, 2015).

Ações declaratórias

São aquelas em que se pretende obter uma certeza jurídica sobre uma questão se insegurança, onde o juiz

declarará a existência ou inexistência de uma relação jurídica. Assim, “a sentença declaratória não impõe

obrigações aos litigantes, por isso não constitui título executivo, mas torna certa uma situação jurídica que,

embora já existisse, não era reconhecida” (GONÇALVES, 2016, p. 382). Cita-se como exemplo as ações que

buscam declaração de paternidade.

As ações dúplices podem ser compreendidas sob a esfera processual e material. No sentido processual, ação

dúplice é aquela em que há pedido contraposto, ou seja, são ações em que o réu, além de meramente contestar a

pretensão do autor, formula demanda contra o autor, ainda que implicitamente. Já sob a óptica material, ação

dúplice pode ser entendida como aquela em que autor e réu ocupam, simultaneamente, o polo ativo e passivo da

demanda. Nesse sentido, esclarece Didier (DIDIER, 2015, p. 301 e 302):

A discussão judicial propiciará o bem da vida a uma das partes, independentemente de suas posições

processuais. A simples defesa do réu implica exercício de pretensão; não formula pedido o réu, pois a

sua pretensão já se encontra inserida no objeto do processo com a formulação do autor. É como uma

luta em cabo de guerra: a defesa de uma equipe já é, ao mesmo tempo, também o seu ataque. São

exemplos: a) as ações declaratórias; b) as ações divisórias; c) as ações de acertamento, como a

prestação de contas e oferta de alimentos.

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6 Cumulação de ações
O estudo da cumulação de ações se divide em duas esferas: a cumulação subjetiva (litisconsórcio) e a cumulação

objetiva (cumulação de pedidos). O litisconsórcio será estudado na Unidade 4 desta disciplina, dentro da esfera

de sujeitos processuais. Então, aqui analisa-se a cumulação objetiva, apenas.

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6.1 Cumulação de pedidos

Os requisitos para cumulação encontram-se previstos no artigo 327 do Código de Processo Civil, in verbis

(BRASIL, 2015):

Art. 327. É lícita a cumulação, em um único processo, contra o mesmo réu, de vários pedidos, ainda

que entre eles não haja conexão.

§ 1º São requisitos de admissibilidade da cumulação que:

I - os pedidos sejam compatíveis entre si;

II - seja competente para conhecer deles o mesmo juízo;

III - seja adequado para todos os pedidos o tipo de procedimento.

Existem três espécies de cumulação de pedidos: própria, imprópria e inicial-ulterior. Na cumulação própria, se

admite procedência simultânea de pedidos e assim, vários pedidos são postulados com o intuito que todos sejam

acolhidos. Esta pode ser simples, quando os pedidos são independentes, ou sucessiva, quando os pedidos são

dependentes entre si. Assim, na cumulação simples a procedência de um pedido não prejudica os demais

pedidos, ao contrário do que ocorre na sucessiva.

Já na cumulação imprópria, não se admite procedência simultânea de pedidos – apesar de vários pedidos

serem postulados – e esta pode ser subsidiária ou alternativa. Na cumulação subsidiária, o juiz conhece pedido

posterior após não acolher pedido anterior. Já na cumulação alternativa, o juiz pode escolher qualquer um dos

pedidos postuladores, então a procedência de um não depende da improcedência do outro. Finalmente, a

cumulação de pedidos pode ser classificada entre inicial e ulterior. A cumulação inicial, como o próprio nome

diz, é aquela que em que os pedidos múltiplos são pleiteados na demanda inicial, enquanto na cumulação

ulterior, novos pedidos são agregados após a demanda inicial (DIDIER, 2015).

Fique de olho
Quando a cumulação de pedidos, importante observar a redação da Súmula 387 do Superior
Tribunal de Justiça (2009), que definiu a licitude da cumulação de pedido de indenização de
dano estético com pedido de indenização de dano moral.

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7 Condições da ação: subsistência da categoria no diploma
processual pátrio?
Tradicionalmente, o estudo da Teoria Geral do Processo envolvia o estudo das chamadas “condições da ação”.

Oriundas da doutrina italiana, as condições na ação eram uma categoria de pressupostos expressa no Código de

Processo Civil de 1973 (DIDIER, 2015). Todavia, o Código de Processo Civil de 2015, que entrou em vigência em

2016, não mais carrega tal categoria. Trata-se de uma adoção clara do legislador pátrio pela doutrina alemã, que

adota a postura de existirem apenas dois tipos de juízo realizado pelo órgão jurisdicional: o juízo de

admissibilidade e juízo de mérito. As condições da ação seriam um terceiro tipo de juízo, mas esta não mais

existe, sendo seu conteúdo absorvido pelos pressupostos processuais e também pelas questões de mérito. Nas

palavras de Fredie Didier (DIDIER, 2015, p. 306):

O texto normativo atual não se vale da expressão “condições da ação”. Apenas se determina que,

reconhecida a ilegitimidade ou a falta de interesse, o órgão jurisdicional deve proferir decisão de

inadmissibilidade. Retira-se a menção expressa à categoria “condição da ação” no único texto

normativo do CPC que a previa e que, por isso, justificava a permanência de estudos doutrinários ao

seu respeito.

Nesse sentido, a possibilidade jurídica do pedido, que antes era categorizada como condição da ação, passa a ser

estudada em uma categoria diversa, a chamada improcedência liminar do pedido. Por sua vez, a legitimidade ad

causam e o interesse de agir são categorizados como pressupostos processuais, segundo apreende-se do atual

diploma processual pátrio (DIDIER, 2015).

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8 Processo
Humberto Theodoro Júnior define o processo como “(...) sistema de compor a lide em juízo mediante de uma

relação jurídica vinculativa de direito público” (JUNIOR, 2015, p. 193). Para sua compreensão, analisa-se aqui seu

conceito, natureza jurídica e os pressupostos processuais.

8.1 Conceito e natureza jurídica

O processo tem natureza jurídica de método sistemático que impõe a prática em juízo de uma série de atos bem

definidos. O processo prescreve como o órgão jurisdicional deve atuar, além de estabelecer: “(...) uma relação

jurídica de direito público geradora de direitos e obrigações entre o juiz e as partes, cujo objetivo é obter a

declaração ou a atuação de vontade concreta da lei, de maneira a vincular, a esse provimento, em caráter

definitivo, todos os sujeitos da relação processual” (JUNIOR, 2015, p. 223). Assim, deve-se compreender o

processo como método e instrumento da atividade dos magistrados, além de relação jurídico-substancial travada

entre os sujeitos do processo visando a resolução de um conflito de interesses. O objeto do processo é centrado

no pedido formulado pela parte, estabelecendo uma relação jurídica de direito material, exigindo uma prestação

jurisdicional (JUNIOR, 2015).

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8.2 Pressupostos processuais

Para ser válido, o processo deve observar certos requisitos, pois só assim terá desenvolvimento regular nos

conformes legais. Tratam-se de questões de ordem pública, que devem ser analisadas de ofício pelo juiz

(GONÇALVES, 2016). Pressupostos, então, são exigências legais que são essenciais para a validade da relação

processual, bem como para a validade do processo. Estes podem ser classificados de duas maneiras:

pressupostos de existência de desenvolvimento, e pressupostos objetivos e subjetivos.

Pressupostos de existência são os requisitos para que a relação processual estabelecida entre as partes seja

válida. Já os pressupostos de desenvolvimento dizem respeito ao andamento regular do processo, de modo que

este seja uma trajetória legalmente correta até a sentença de mérito ou providência jurisdicional definitiva.

Quanto à classificação dos pressupostos como objetivos e subjetivos, sãopressupostos subjetivosaqueles

relacionados aos sujeitos do processo, ou seja, ao juiz e as partes. São eles a competência e investidura do juiz

para a causa, a capacidade civil das partes e a representação por advogado.

Por sua vez, os pressupostos objetivos dizem respeito à forma procedimental e à ausência de fatos que impeçam

a constituição do processo. São eles (JUNIOR, 2015, p. 241):

(a) a demanda do autor e a citação do réu, porque nenhum processo pode ser instaurado sem a

provocação da parte interessada (NCPC, art. 2o);121 de modo que, na demanda, se tem um

pressuposto causal necessário;122 e porque a citação do réu é ato essencial à validade do processo

(NCPC, art. 239);123-124

(b) a observância da forma processual adequada à pretensão (NCPC, arts. 16 e 318);

(c) a existência nos autos do instrumento de mandato conferido a advogado (NCPC, art. 103);125-

126

(d) a inexistência de litispendência, coisa julgada, convenção de arbitragem, ou de inépcia da petição

inicial (NCPC, arts. 485, V e VII, e 330, I);127

(e) a inexistência de qualquer das nulidades previstas na legislação processual (NCPC, arts. 276 a

283).

Por fim, cumpre ressaltar que, como regra geral, a falta dos pressupostos processuais impede o julgamento do

mérito, gerando anulação do processo. Todavia, hoje em dia, o Código de Processo Civil valoriza a correção da

ausência de pressupostos sempre que possível, visando sempre que possível a preservação do processo (JUNIOR,

2015).

- 22 -
9 Competência
A competência decorre da necessidade prática de se dividir as funções do Poder Judiciário, que por sua vez é

uno. Assim, para compreender a competência, é necessário analisar seu conceito, critérios determinativos desta

e, por fim, as possibilidades de modificação da competência no ordenamento pátrio cível.

9.1 Conceito e considerações gerais

Conforme estudado anteriormente, a jurisdição é una e privativa ao Estado, mas por razões práticas de

funcionalidade, é dividida em vários órgãos jurisdicionais, nos limites legais. Nesse contexto, tem-se a

competência, que nada mais é que o poder de exercer a jurisdição dentro de um âmbito delimitado (DIDIER,

2015). Assim, competência é o limite de exercício do poder que ocorre através da distribuição de tarefas aos

órgãos jurisdicionais. Em outras palavras, a competência “(...) diz respeito ao órgão judiciário que, de acordo com

a lei, deverá processar e julgar determina ação” (GONÇALVES, 2016, p. 258).

- 23 -
9.2 Critérios determinativos de competência

Os critérios determinativos de competência dizem respeito à sua distribuição, que decorre de normas

constitucionais, das leis processuais e também da organização judiciaria. Levam-se em conta a soberania

nacional, espaço territorial, hierarquia de órgãos jurisdicionais, natureza, valor da causa e pessoas envolvidas no

litígio (JUNIOR, 2015).

A Constituição da República estrutura o Poder Judiciário, definindo as atribuições do Supremo Tribunal Federal

(art. 102), do Superior Tribunal de Justiça (art. 105), da Justiça Federal (arts. 108 e 109) e das justiças especiais

(eleitoral, militar e trabalhista – arts. 114, 121 e 124). Tendo em vista o arcabouço constitucional, a competência

local (estadual), possui função residual, abrangendo matérias não trabalhadas pelas demais. A determinação das

competências das justiças locais é feita pelas legislações estaduais (art, 125, CR). Nesse sentido, é a redação do

artigo 44 do Código de Processo Civil: “Obedecidos os limites estabelecidos pela Constituição Federal, a

competência é determinada pelas normas previstas neste Código ou em legislação especial, pelas normas de

organização judiciária e, ainda, no que couber, pelas constituições dos Estados” (BRASIL, 2015).

A competência é determina no momento do registro ou da distribuição da petição inicial, conforme artigo 43 do

Código de Processo Civil: “Determina-se a competência no momento do registro ou da distribuição da petição

inicial, sendo irrelevantes as modificações do estado de fato ou de direito ocorridas posteriormente, salvo

quando suprimirem órgão judiciário ou alterarem a competência absoluta” (BRASIL, 2015). Passando para a

análise dos critérios determinativos de competência, analisa-se primeiramente o critério objetivo, que se dá em

razão da matéria, da pessoa e do valor causa, que são elementos da demanda.

Competência em razão da pessoa

Leva em conta as partes envolvidas, sendo o maior exemplo desta modalidade a Fazenda Pública, que julga

causas que envolvam entes públicos.

Competência em razão da matéria

Leva em conta a natureza da relação jurídica, ou seja, a causa de pedir. É em decorrência deste critério

determinativo de competência que se tem as varas de família, por exemplo.

Competência em razão do valor da causa

Como o próprio nome diz leva em conta o valor da causa, que é um dos elementos essenciais da petição inicial.

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Em regra, trata-se de uma competência relativa, ou seja, que pode ser alterada pela vontade das partes (art. 63,

CPC). O exemplo maior de competência em razão do valor da causa é a competência dos Juizados Especiais que

recebem causas de valor de até quarenta vezes o salário mínimo (art. 3º, I, Lei nº 9.099 – Lei dos Juizados

Especiais). No caso dos Juizados Especiais, cumpre ressaltar que se trata de competência absoluta (DIDIER,

2015). Saindo da análise dos critérios objetivos de distribuição da competência, tem-se também o critério

territorial, que distribui a competência em razão do lugar. Em regra, é uma competência relativa, que pode ser

alterada pela vontade das partes, conforme artigo 63 do Código de Processo Civil.

Por fim, tem-se o critério funcional de competência, que leva em conta “a distribuição das funções que devem ser

exercidas em um mesmo processo” (DIDIER, 2015, p. 218). A competência funcional pode se dar

horizontalmente (na mesma instância) ou verticalmente (entre instâncias diversas).

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9.3 Modificação da competência

Observando a redação do artigo 63 do Código de Processo Civil, bem como os critérios determinativos de

competência, é possível perceber que algumas competências são relativas, pois podem ser alteradas pela

vontade das partes. O oposto de competência relativa é a competência absoluta, que não é possível de ser

modificada (art. 62, CPC).

Assim, o estudo da modificação da competência tem como objeto as competências relativas, que podem ser

alteradas por motivos legais (conexão e continência) ou voluntariamente (foro de eleição e não alegação de

incompetência relativa) (DIDIER, 2015).

Primeiramente, analisa-se as hipóteses de modificação voluntária da competência, iniciando-se pelo foro de

eleição (art. 63, CPC). Aqui, tem-se o chamado for contratual ou domicílio de eleição, previsto no artigo 78 do

Código Civil, in verbis: “Nos contratos escritos, poderão os contratantes especificar domicílio onde se exercitem e

cumpram os direitos e obrigações deles resultantes” (BRASIL, 2002).

O foro de eleição estabelecido pelas partes só produz efeito se constar em instrumento escrito e for fixado para

um negócio jurídico em específico (art. 63, §1º, CPC). Destaca-se que este também obriga os herdeiros e

sucessores da parte (art. 63, §2º, CPC).

O domicílio de eleição deve ser entendido como um privilégio das partes, não um ônus, então, é lícito ao

proponente da ação optar pelo foro comum, que tem como regra o domicílio do réu (JUNIOR, 2015). Além disso,

pode o réu alegar abusividade da cláusula que determinou o foro eleito, desde que o faça de forma

fundamentada, antes de ser citado, ou em sua contestação (art. 63, §§3º e 4º, CPC). A segunda hipótese de

modificação voluntária de competência é a não alegação de incompetência relativa. Tratam-se de situações

em que o autor escolhe um foro não competente para ajuizar sua ação, o que faz com o que réu tenha que alegar

a incompetência daquele foro em preliminar de contestação. Se o réu não o fizer, ou seja, se o réu se omitir sobre

essa questão, o foro escolhido pelo autor passa a ser competente. Acontece assim a chamada “prorrogação de

competência”, conforme artigo 65 do Código de Processo Civil.

Aqui, deve-se realizar uma pequena digressão. Prorrogação de competência é o termo utilizado não apenas

para o caso do artigo 65, mas sempre que “se amplia a esfera de competência de um órgão judiciário para

conhecer de certas causas que não estariam, ordinariamente, compreendidas em suas atribuições jurisdicionais”

(JUNIOR, 2015, p. 364).

Analisa-se agora os casos de modificação legal de competência. O primeiro caso é a conexão, que ocorre

quando duas ou mais demandas possuem semelhança suficiente – ainda que distintas – para estabelecer um

vínculo entre sim.

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Prevista no artigo 55, CPC, a conexão ocorre quando duas ou mais causas tiverem em comum o mesmo pedido ou

a causa de pedir. Quando isso ocorre, os processos de ações conexas são reunidos para que sejam sentenciados

conjuntamente (art. 55, §1º, CPC). Deve-se destacar que também é possível juntar processos sem conexão para

julgamento conjunto em hipóteses em que se julgados separadamente poderão gerar decisões conflitantes ou

contraditórias (art. 55, §3º, CPC).

O segundo caso de modificação legal de competência é a continência, que ocorre quando duas ou mais

demandas possuem semelhança quanto às partes e à causa de pedir (art. 56, CPC). Aqui, o pedido de uma causa é

mais amplo que o de outro, abrangendo-o, em outras palavras, uma ação engloba a outra. Percebe-se que a

continência pode ser encarada como uma modalidade de conexão, gerando os mesmos efeitos (JUNIOR, 2015).

Aqui, diferentemente do que ocorre na conexão puramente, há a possibilidade de que as demandas semelhantes

não sejam juntadas. Se a demanda continente (mais abrangente) for anterior a demanda contida, basta extinguir

a contida, afinal, todos seus objetos já estão na demanda continente. Já se a demanda contida for anterior a

continente, ocorre reunião (art. 57, CPC).

é isso Aí!
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:
• conhecer as noções gerais da jurisdição e suas espécies;
• aprender quais são os princípios e poderes inerentes à jurisdição;
• entender o conceito "ação", bem como suas classificações e condições.

Referências
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado, 1988

BRASIL. Lei n. 13.105 de 16 de março de 2015. Institui o Código de Processo Civil. Diário Oficial da União, 17

mar. 2015. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm Acesso

em: 13. Nov. 2019.

DIDIER, Fredie. Curso de direito processual civil. 17. ed. Salvador: JusPODIVM, 2015. v. 1.

BRASIL, Superior Tribunal de Justiça. Súmula 387. Brasília, 2009. Disponível em: https://ww2.stj.jus.br

/docs_internet/revista/eletronica/stj-revista-sumulas-2013_35_capSumula387.pdf Acesso em 20. Nov. 2019.

GONÇALVES, Marcus Vinícius Rios. Direito processual civil esquematizado. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2016.

Disponível em versão eletrônica URL.: ISBN 978-85-026-3829-7.

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JÚNIOR, Humberto Theodoro. Curso de direito processual civil. 56. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. v. 1.

Disponível em versão eletrônica URL.: ISBN 978-85-309-6068-1.

MARINONI, ARENHART e MITIDEIRO. Curso de processo civil. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2017.

Disponível em versão eletrônica URL.: ISBN: 978-85-203-7172-5.

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