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Tema: Jurisdição Constitucional

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Maputo, Maio de 2023

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Indice
Introdução................................................................................................................................................3

Objectivos................................................................................................................................................4

Objectivos gerais.....................................................................................................................................4

Objectivos específicos.............................................................................................................................4

Jurisdição constitucional..........................................................................................................................5

Competências..........................................................................................................................................7

Jurisdição constitucional como actividade Jurisdicional..........................................................................7

a) Efeitos da revogação de normas jurídicas............................................................................................8

b) Efeitos da inconstitucionalidade.........................................................................................................9

c) Inutilidade superveniente da lide e inutilidade superveniente da decisão de mérito..........................12

d) Casos de jurisprudência sobre a fiscalização da constitucionalidade sobre normas revogadas no


Direito Comparado................................................................................................................................13

Conclusão..........................................................................................................................................15

Referencias bibliográficas.....................................................................................................................16

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Introdução
A jurisdição constitucional é um instrumento, e dos mais eficazes, na defesa da correta aplicação
dos comandos constitucionais, além de estender sua proteção aos direitos fundamentais. Sua
importância para a reelaboração do direito contemporâneo se reveste de atributo especial, quando
se tem como certo que a história da constituição seria outra, sem a jurisdição constitucional.

A jurisdição constitucional busca identificar o nascimento, características, funções, evolução e


efetividade desse instrumento constitucional e sua atuação em defesa da plena e correta aplicação
dos comandos constitucionais e na proteção dos direitos fundamentais. O objetivo é trazer à
compreensão a ideia da jurisdição constitucional, apontando seu significado dentro do
constitucionalismo e sua importância para a reelaboração do direito contemporâneo.

A constituição como norma suprema do ordenamento jurídico não tem valor enquanto não
houver entidades com poderes para fazer valer essa qualidade de norma suprema do
ordenamento jurídico. É justamente por esse facto que a própria constituição estabelece várias
formas destinadas a garantir que seja salvaguardada a sua supremacia, fixando bases que
garantam o cumprimento das suas normas, incluindo no processo de feitura das normas
ordinárias que devem obediência à Constituição. Juntamente com essas bases, também foram
estabelecidas várias formas de fiscalização da constitucionalidade para garantir que normas já
aprovadas possam ser submetidas ao crivo da constituição.

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Objectivos
Objectivos gerais
 Descrever as normas da jurisdição constitucional

Objectivos específicos
 Identificar os Órgãos que controlam a constituição dos vários estados
 Descrever como se materializam esses orgaos

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Jurisdição constitucional
A jurisdição constitucional objetiva efetivar a ordem jurídica e impor, através do Poder
Judiciário, o cumprimento das normas que, por exigência do direito vigente, devem regular as
mais diversas situações jurídicas. Na qualidade de expressão da soberania do Estado, a jurisdição
é a capacidade de decidir imperativamente e de impor decisões, sendo o canal que dá efetividade
ao Direito. Através da manifestação do seu caráter soberano, o Estado conhece os conflitos de
interesse, ou não, e declara em seu nome e não em nome das partes, o direito aplicável ao caso,
podendo executar o decisum, se provocado. A importância da jurisdição constitucional está no
fato de firmar o Poder Judiciário no cenário dos poderes de Estado, afastando a percepção vulgar
de ser este Poder um mero órgão de solução de conflitos de interesses. Ou seja, o Poder
Judiciário não se resume a um órgão de Estado, cuja função se esgote na prolação de sentenças.
Nessa perspectiva, é necessário reconhecer ao mesmo sua legítima participação no processo
político e institucional do País. No exercício da função jurisdicional, o Estado se materializa
juridicamente, sob os mesmos fundamentos que o legitima a exercer, no quadro de uma ordem
jurídica instituída, as funções legislativa e executiva. A jurisdição constitucional, portanto,
prende-se à “função de declarar o direito aplicável aos fatos, bem como é causa final e específica
da atividade do judiciário”. Nessa função, a jurisdição constitucional é a própria reinvenção da
Constituição, à medida que decifra e reprime os excessos do sistema político no código jurídico,
através de sanções.

A jurisdição constitucional “consiste na atuação da lei mediante a substituição da atividade de


órgãos públicos à atividade de outros, seja no afirmar a existência de uma vontade das leis, seja
em torná-la posteriormente efetiva”. A jurisdição deixou o clássico conceito de apenas dizer o
Direito para o caso concreto, pois o controle de constitucionalidade praticado pelos Tribunais
Constitucionais desenvolveu-se em abstrato, sem qualquer referência a um caso concreto,
tratando-se, contudo, de uma atividade jurisdicional. Uma atividade dos poderes que no controle
das leis, explica-se pelo sistema hierárquico de valores entre normas e pela constituição escrita
ou flexível, cujos elementos diferenciam a lei constitucional das leis ordinárias. A isto se soma a
indispensável separação dos poderes do Estado, de maneira que cada um tenha circunscrita a
órbita intransponível de sua competência e um órgão incumbido de assegurar a vigência do
sistema hierárquico de valor das leis, prescrito nos dispositivos constitucionais ou decorrentes da
própria natureza de determinado regime jurídico-político.

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A jurisdição é uma manifestação típica da atividade judiciária, derivada do ato jurisdicional e
confirmadora da força do direito na solução de conflitos. Por seus órgãos, a função judiciária
constitui uma atividade criadora do direito. A decisão política convertida em lei é, na visão
interna do sistema jurídico, assimilada ou expelida pela decisão judicial, embora as motivações
da sentença estejam, explícitas ou não, sob a influência política que as engendrou.

A jurisdição é uma proteção substitutiva, já que o órgão jurisdicional atua substituindo as partes
envolvidas no processo. Ela serve à tutela de direitos e interesses contra lesões ou violações de
direito, tendo como ponto de partida para o exame da jurisdição o próprio Estado, cuja existência
explica sua origem. Essa vinculação com o Estado, em certa medida presente na doutrina
medieval e fortemente tributária dos ideais igualitários da Revolução francesa, decorre em
substituição das jurisdições senhoriais. Modernamente, porém, a jurisdição desenvolveu-se na
direção do controle de constitucionalidade dos atos normativos do Estado, diante da necessidade
de que as leis fossem fiscalizadas judicialmente.

Neste aspecto, o controle judicial da constitucionalidade das leis, por meio da legislatura, age sob
uma autoridade delegada, limitada pela própria Constituição, habilitando o Judiciário a declarar o
que uma lei significa, fazendo decair toda lei inconstitucional submetida à provação das cortes
(COOLEY, 1982, p. 23). A adoção do judicial control ou de processos equivalentes, nos Estados
democraticamente constituídos, é apenas o reconhecimento de que uma lei que reparte os
poderes dos órgãos estatais é logicamente superior às outras leis e, relativamente imutável.

A jurisdição em sua integridade conceitual abarca todas as questões, não havendo qualquer
demanda que escape ao seu poder de atuação, por isso um processo contínuo de expansão,
crescendo à medida que o Estado tutela novos direitos e permite a criação de instrumentos
processuais para torná-los possíveis e eficazes. Entretanto, o vocábulo jurisdição é um conceito
de direito público que não está preso, exclusivamente, ao direito judiciário. Assim, tomar a
jurisdição pelo órgão que a realiza é fixar-se ao critério formal, que é um dos elementos para a
sua noção, mas não o único. Ela envolve ato jurisdicional, que implica em pretensão, e se
apresenta como questão de direito, colocado em termos contraditórios, que posteriormente
assume a forma processual. O processo, por ser meio de realização da jurisdição, é concebido
como instrumento da paz social, onde se busca a eliminação do conflito, devolvendo à sociedade
a tranquilidade desejada. Por isso a dimensão instrumental do processo se desenvolve aliado aos

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escopos da jurisdição e da instrumentalidade, que revelam a função sócio-política da atividade
jurisdicional (DINAMARCO, 1994, p. 48).

Competências

À jurisdição compete, mediante processo, conferir eficácia forçada às relações jurídicas


espontaneamente ineficazes, impondo uma sanção jurídica em razão do dever jurídico
descumprido, como forma de atendimento ao direito que foi lesado ou ameaçado. Ao juiz
prolator da jurisdição exige-se um comportamento atuante e não mais uma posição inerte, de
mero aplicador da lei. As teorias tradicionais do direito já exigiam uma completa adesão à
realidade social.

Jurisdição constitucional como actividade Jurisdicional

A jurisdição constitucional é tomada, pois, no sentido de atividade jurisdicional que tem como
objetivo verificar a concordância das normas de hierarquia inferior, leis e atos normativos, com a
Constituição, desde que violem as formas impostas pelo texto constitucional ou estejam em
contradição com o preceito da Constituição, pelo que os órgãos competentes devem declarar sua
inconstitucionalidade e consequente inaplicabilidade.

Entretanto, reduzir a jurisdição constitucional apenas ao controle de constitucionalidade, é


limitar o seu campo de abrangência. Outras manifestações incluem-se na sua órbita e realçam a
sua compreensão, que passa:

a) Pela tutela dos direitos fundamentais frente a qualquer disposição dos poderes públicos;
b) pela resolução dos conflitos de atribuições entre os poderes de Estado;
c) pela fiscalização das atividades dos titulares de órgãos constitucionais;
d) pelo controle da legitimidade dos partidos políticos e pelas funções do contencioso
eleitoral;
e) pela manutenção e garantia da democracia e pelo sistema de checks and balances;

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f) pela passagem da soberania parlamentar, na maioria dos sistemas constitucionais
ocidentais, para a soberania da Constituição, reforço da legalidade no Estado democrático
de direito e legitimidade constitucional.

A jurisdição constitucional tutela a regularidade constitucional no exercício ou atividade dos


órgãos constitucionais. Ao mesmo tempo faz valer as situações jurídicas subjetivas do cidadão,
previamente consagradas no texto constitucional. Por isso a jurisdição constitucional da
liberdade é o instrumento para resguardar o cumprimento e a superioridade de certos direitos
fundamentais.

Órgãos que controlam a constituição dos vários estados e como se materializa

Parafraseando Gomes Canotilho, o aperfeiçoamento da aplicação concreta e exteriorização


material do Direito Constitucional está muitas vezes dependente de uma boa actividade de
interpretação da Lei pelas instituições jurídicas – desde o próprio parlamento, cuja actividade
legislativa encontra limites na Constituição, até aos tribunais, cuja actividade de aplicação da lei
aos casos concretos também não deve ofender a Constituição – o que exige, em toda a extensão
da actuação dessas instituições, a necessidade de sempre tomar como base, na sua orientação e
limite, a Constituição da República, enquanto lei suprema do ordenamento jurídico.

Para procurar uma boa abordagem do assunto, importa, em primeira linha, identificar os efeitos
da revogação, derrogação e alteração de uma norma, por um lado, e os efeitos da declaração de
inconstitucionalidade ou ilegalidade de uma norma, por outro. Igualmente, é importante definir
qual é o paradigma da teoria da inutilidade de uma decisão de mérito, nos termos da
jurisprudência constitucional moçambicana, como também se mostra relevante uma breve
análise comparativa entre o ordenamento jurídico português e o moçambicano quanto ao
tratamento do assunto. A identificação do efeito de cada forma de eliminação da norma no
ordenamento jurídico é determinante para aferir a lógica da necessidade ou não de apreciação de
uma norma já revogada, derrogada ou alterada.

a) Efeitos da revogação de normas jurídicas


A partir da publicação dos actos normativos, independentemente da sua entrada em
vigor, sempre que a referida norma ofenda a Constituição, pode, nos termos legais, ser pedida a

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declaração da sua inconstitucionalidade. É imperioso frisar que há diferença entre o momento em
que é pedida a fiscalização da constitucionalidade da norma (apresentação do pedido) e o
momento a partir do qual podem-se produzir os efeitos da declaração de inconstitucionalidade
(início da verificação das consequências da eliminação da norma no ordenamento jurídico). Uma
norma em vacatio legis, apenas está sob termo – que é a subordinação da produção dos seus
efeitos a partir da data definida para a sua entrada em vigor.
A revogação de normas jurídicas verifica-se quando a autoridade legislativa – Assembleia da
República ou Conselho de Ministros, conforme a natureza da norma jurídica em causa, apresenta
nova manifestação legislativa em sentido diverso ao da norma anterior, podendo ser total ou
parcial (derrogação) ou ainda nos casos em que simplesmente é eliminada a norma anterior e não
é introduzida uma nova norma sobre a matéria, como ainda nos casos em que é introduzida uma
norma no ordenamento jurídico que é contrária às anteriores e, consequentemente, criar uma
situação de incompatibilidade entre as normas anteriores e as novas ou da circunstância de a
nova lei regular toda a matéria da lei anterior. Portanto, quando há revogação da lei, a lei
revogada, no que diz respeito à sua aplicação às situações que ela regulava, deixa de poder ser
aplicada, passando a aplicar-se a nova lei que regula a matéria ou passando a observar-se as
estipulações da lei nova. Nos casos em que a revogação implica a eliminação completa da norma
anterior sem a criação de outra que regule a matéria, ou quando se trate de normas temporárias
não substituídas por outras, as cominações da norma anterior deixam de existir e uma eventual
obrigação que era estabelecida em lei anterior deixa de ser exigida.

b)  Efeitos da inconstitucionalidade (por caducidade ou por declaração expressa de


inconstitucionalidade)
Ao abrigo do artigo 70º da Lei n.º 2/2022, de 21 de Janeiro, Lei Orgânica do Conselho
Constitucional, a declaração de inconstitucionalidade ou de ilegalidade com força obrigatória
geral produz efeitos desde a entrada em vigor da norma declarada inconstitucional ou ilegal e
determina a repristinação das normas revogadas.

Nos casos em que a inconstitucionalidade ou ilegalidade é declarada por infracção a uma norma
constitucional ou legal posterior, a declaração de inconstitucionalidade só produz efeitos desde a
entrada em vigor da norma posterior que ditou a alteração que dá lugar à inconstitucionalidade
ou ilegalidade. É o que estabelece o n.º 2 do artigo 70º da Lei Orgânica do Conselho

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Constitucional. Nada mais cristalino e justo. É que se o que dá lugar à inconstitucionalidade ou
ilegalidade é uma norma que surgiu posteriormente àquela que é objecto de escrutínio, implica
que antes da entrada em vigor da norma que justifica a inconstitucionalidade ou ilegalidade, a
norma ilegal era incólume, por isso, não há espaço para que os efeitos da declaração de
inconstitucionalidade ou de ilegalidade da norma se retrotraiam a um período em que a norma
que justifica a inconstitucionalidade ou ilegalidade não existia. Neste caso, a nova norma é que
torna caduca a anterior por inconstitucionalidade ou ilegalidade com a entrada da nova, razão de
os efeitos da inconstitucionalidade ou ilegalidade apenas se retrotraírem até à entrada em vigor
dessa norma.

É claro que para as situações em que a nova norma torna caduca a anterior, sempre devem ser
ressalvadas situações de leis especiais e leis temporárias, em relação às quais, nos termos do
artigo 7º do Código Civil, não dão lugar à caducidade ou derrogação das leis anteriores sobre a
mesma matéria regulada. Mas nos casos de declaração de inconstitucionalidade ou ilegalidade de
leis especiais ou temporárias, os efeitos já serão fixados nos termos gerais do nº 1 do artigo 70º
da Lei Orgânica do Conselho Constitucional o que, no nosso entender, dá lugar à aplicação do
regime geral que era regulado pela norma especial.

Contudo, a grande ressalva que é feita é para os casos julgados, conforme resulta do nº 3 do
artigo 70º da Lei Orgânica do Conselho Constitucional. Portanto, todos os casos julgados ficam
ressalvados, o que implica que, nos casos de fiscalização sucessiva e abstracta da
inconstitucionalidade ou de ilegalidade, mesmo se sabendo que houve casos em que foram
aplicadas normas inconstitucionais ou ilegais, tais destinatários dessas decisões devem se
conformar com elas desde que tenham transitado em julgado.

Mas, a norma também comporta excepção que, no nosso entender, é problemática. O nº 3 do


artigo 70º da Lei Orgânica do Conselho Constitucional, estabelece que “ficam ressalvados os
casos julgados, salvo decisão em contrário do Conselho Constitucional, quando a norma respeitar
a matéria penal ou disciplinar e for de conteúdo menos favorável ao arguido”.
Ora, é princípio constitucional, conforme resulta do nº 2 do artigo 60º da Constituição da
República de Moçambique, sempre que houver uma alteração legal – o que inclui a declaração
de inconstitucionalidade – e dela resultar benefício para o arguido, tal situação deve ser
obrigatoriamente aplicada em benefício do arguido.

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Isto é, ao abrigo do nº 1 do artigo 56º da Constituição da República de Moçambique, os direitos e
liberdades individuais são directamente aplicáveis, vinculam as entidades públicas e privadas,
são garantidos pelo Estado e devem ser exercidos no quadro da Constituição e das leis. O que se
extrai desta norma é que todas as normas inerentes aos direitos e liberdades fundamentais –
como é o caso da aplicação das normas penais –, no caso dessa norma penal for declarada
inconstitucional e esse efeito for favorável aos arguidos ou reclusos condenados em processos
com caso julgado já formado, a aplicação dessa norma em favor desses condenados, deve ser
directamente aplicável.

Por conseguinte, é nosso posicionamento que a Lei Orgânica do Conselho Constitucional não
deve fazer depender a aplicação desse facto em benefício dos arguidos à sua declaração pelo
Conselho Constitucional, porque isso já resulta directamente da Constituição.

O nº 4 do artigo 70º da Lei Orgânica do Conselho Constitucional traz situações dúbias que, no
nosso entender, também trazem problemas sobre os critérios de fixação dos efeitos de
inconstitucionalidade ou de ilegalidade de normas. A disposição legal em causa dispõe que
“quando a segurança jurídica, razões de equidade ou o interesse público de excepcional relevo,
que deve ser fundamentado, o exigirem, o Conselho Constitucional fixar efeitos da
inconstitucionalidade ou da ilegalidade com alcance mais restritivo do que o previsto…”

A segurança jurídica “é um princípio jurídico que estabelece que o direito deve oferecer, àqueles
a ele sujeitos, a capacidade de regular suas condutas de maneira razoavelmente previsível e
estável”. Portanto, na definição dos efeitos da inconstitucionalidade, se razões de segurança
jurídica o justificarem, fundamentando, o Conselho Constitucional pode fixar os efeitos de
inconstitucionalidade com efeito mais restritivo. Portanto, nesse caso, se o fundamento para a
fixação do efeito mais restritivo da inconstitucionalidade, o Conselho Constitucional deverá
sempre indicar a razão ou qual é a lógica ou em que termos se pretende garantir a segurança
jurídica nessa matéria específica. A fundamentação consiste na exposição clara e expressa das
razões de facto e de direito que justificam a decisão.

A equidade consiste na “adaptação da regra existente à situação concreta, observando-se os


critérios de justiça. Pode-se dizer, então, que a equidade adapta a regra a um caso específico, a

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fim de deixá-la mais justa”. À equidade estão adjacentes dois princípios essenciais do Direito: a
paridade e a equivalência. A paridade é um princípio que emerge da própria lógica da
necessidade de salvaguarda do direito à igualdade de tratamento entre as pessoas em várias
relações jurídicas, permitindo que para situações da mesma natureza sejam estabelecidas as
mesmas consequências ou benefícios. Por sua vez, o princípio da equivalência obriga que uma
determinada prestação ou consequência seja estabelecida na medida do prejuízo ou da
contraprestação que a justifica.  

É nosso posicionamento que esta disposição dá muita liberdade ao Conselho Constitucional de


fixar os efeitos de inconstitucionalidade ou de ilegalidade sem que os critérios usados estejam
fortemente estabelecidos para uma orientação mais segura. Portanto, “a segurança jurídica,
razões de equidade ou o interesse público de excepcional relevo” como critérios da fixação do
efeito da inconstitucionalidade ou de ilegalidade não estão densificados e a sua não densificação
deixa possibilidade de arbitrariedade, o que não engrandece o nosso sistema por criar riscos na
fixação dos efeitos da declaração de inconstitucionalidade ou de ilegalidade.

c) Inutilidade superveniente da lide e inutilidade superveniente da decisão de mérito

A inutilidade superveniente da lide dá-se quando o efeito jurídico pretendido através do processo
se tornou lógica, natural ou juridicamente irrealizável ou sem utilidade durante a instância. Nos
termos da alínea e) do artigo 287º do Código de Processo Civil, a inutilidade superveniente da
lide é causa de extinção da instância. Portanto, “a instância extingue-se ou finda de forma
anormal todas as vezes que, ou por motivo atinente ao sujeito, ou por motivo atinente ao objecto,
ou por motivo atinente à causa, a respectiva relação jurídica substancial se torne inútil, i.e., deixe
de interessar a sua apreciação”.

Por sua vez, o Conselho Constitucional refere-se, como é o caso do Acórdão 4/CC/2007, de 16
de Agosto, Acórdão nº 06/2007, de 30 de Novembro[14], Acórdão nº 2 /CC/2018, de 22 de
Março, Acórdão nº 04/CC/2010, de 7 de Maio, Acórdão 4/CC/2020, de 26 de Março,[17] a uma
inutilidade superveniente de mérito sempre para situações em que se pede a fiscalização
sucessiva, seja concreta ou abstracta, de inconstitucionalidade ou ilegalidade e se constate que as
normas são caducadas ou na pendência do recurso a norma em fiscalização seja revogada. Salvo

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melhor entendimento, esta interpretação é causada pela inconsistência da lógica da declaração do
efeito da inconstitucionalidade que dá espaço para que o efeito “ex nunc” seja suficiente na
resolução do assunto, o que no nosso entender não deveria ser bastante, pois deveria ser
privilegiado o efeito “ex tunc”, conforme resulta do nº 1 do artigo 70º da Lei Orgânica do
Conselho Constitucional.

d) Casos de jurisprudência sobre a fiscalização da constitucionalidade sobre normas


revogadas no Direito Comparado

De acordo com a orientação desde há muito firmada, o entendimento do Tribunal Constitucional


Português é de que a revogação da norma objecto do pedido de declaração de
inconstitucionalidade não determina, sem mais, a inutilidade da intervenção do Tribunal
Constitucional.

Isto é, como “a revogação reveste, em princípio, eficácia prospectiva (ex nunc), enquanto, em
sede de fiscalização abstracta sucessiva, de acordo com o artigo 282.º, n.º 1, da CRP, a
declaração de inconstitucionalidade comporta, em regra, eficácia retroactiva (ex tunc), subsiste a
possibilidade de persistir interesse jurídico relevante na eliminação dos efeitos produzidos medio
tempore”.
Nessa senda, nos termos da jurisprudência do Tribunal Constitucional Português, o interesse
jurídico relevante na declaração de inconstitucionalidade de uma norma revogada, “não existirá
sempre que se verifique uma de três situações. Em primeiro lugar, quando seja previsível que a
declaração de inconstitucionalidade ou ilegalidade venha acompanhada de uma decisão de
fixação de efeitos, nos termos do n.º 4 do artigo 282.º da Constituição, que mitigue ou elimine a
sua repercussão no passado. Em segundo lugar, quando se demonstre que a declaração de
inconstitucionalidade de normas não alteraria a posição jurídica dos interessados,
designadamente porque as decisões que as aplicaram transitaram em julgado, as normas
eventualmente inconstitucionais seriam mais favoráveis aos arguidos ou os efeitos jurídicos
produzidos são, por natureza, irreversíveis. Em terceiro lugar, quando seja reduzido o número de
casos em que sejam aplicáveis as normas revogadas, casos esses em que permanece aberta a via
do recurso de constitucionalidade”.

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Conforme se constata, sob ponto de vista comparativo, quanto aos aspectos meramente formais,
tanto o ordenamento jurídico moçambicano, como o português possuem a mesma teoria ecléctica
quanto aos efeitos da declaração de inconstitucionalidade ou de ilegalidade. Na verdade, o
ordenamento jurídico moçambicano importou de forma taxativa o regime português.

O que diferencia o regime português do moçambicano é o tratamento do assunto pela


jurisprudência, pois a jurisprudência constitucional portuguesa, conforme demonstrado, permite
a apreciação da inconstitucionalidade ou ilegalidade de normas revogadas quando persistir
interesse na eliminação dessa norma inconstitucional enquanto a jurisprudência constitucional
moçambicana, com o regime jurídico idêntico ao de Portugal, quanto aos efeitos da
inconstitucionalidade ou da ilegalidade, independentemente da persistência do interesse relevante
na eliminação dos efeitos da inconstitucionalidade ou da ilegalidade, sempre que uma norma
estiver em fiscalização e na pendência do recurso tal norma for revogada, imediatamente decide-
se pela inutilidade superveniente de uma  decisão de mérito, o que no nosso entender é mau para
o aperfeiçoamento dos direitos e liberdades fundamentais, pois deixa espaço para que efeitos de
uma norma inconstitucional ou ilegal continuem a se manifestar na esfera jurídica dos cidadãos.

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Conclusão
A primeira grande conclusão que se retira desta abordagem é a de que a teoria dos efeitos da
inconstitucionalidade, embora esteja, doutrinalmente, mais ou menos evoluída, na prática ainda
encontra muitas barreiras na sua fixação pelos Estados para a melhor eficácia da existência das
normas constitucionais.

Igualmente, tanto em Portugal como em Moçambique, o efeito da declaração de


inconstitucionalidade tem uma lógica sui generis e o desenvolvimento prático da sua
implementação depende muito da orientação que é fixada e aprofundada pela jurisprudência.
Neste caso, conforme amplamente se demonstrou, a possibilidade de apreciação de
inconstitucionalidade de normas revogadas é permitida em Portugal considerando a lógica do
efeito da declaração de inconstitucionalidade e o efeito da revogação que pode não eliminar
todos os vícios que a norma criou quando vigorou, desde que preenchidos os pressupostos
lógicos referidos.
Contudo, orientação diversa tem o Conselho Constitucional da República de Moçambique, pois
sempre que a norma tiver sido derrogada ou tiver sido já revogada, ab initio, declara não haver
importância para uma decisão de mérito sem discorrer sobre a importância ou não da eliminação
dos efeitos da inconstitucionalidade ou ilegalidade da norma, considerando ao facto de que a
declaração de inconstitucionalidade ou ilegalidade tem efeito prospectivo – ex tunc e pode ser
preponderante na eliminação do mal que foi criado pela inconstitucionalidade ou ilegalidade, o
que no nosso entender, constitui um desamparo constitucional.
Por conseguinte, urge uma nova orientação na fiscalização da constitucionalidade para garantir
que uma norma que seja inconstitucional ou ilegal e que tenha produzido efeitos e a sua
revogação não tenha eliminado os efeitos que ainda podem ser eliminados, o que pressupõe,

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como já referido, a existência de um interesse relevante na eliminação dos efeitos da
inconstitucionalidade ou ilegalidade.   

Referencias bibliográficas

http://www.ienomat.com.br/revistas/judicare_arquivos/journals/1/articles/100/public/100-502-1-
PB.pdf
https://www.asg.co.mz/a-fiscalizacao-da-constitucionalidade-e-da-legalidade-de-normas-
revogadas/
AMARAL, Diogo Freitas do. História das ideias políticas. Lisboa: Almedina, 2003;
ARISTÓTELES. Tratado da Política. Lisboa: Europa-América, 1977; AZEVEDO, Luiz H.
Cassilide. O controle legislativo de constitucionalidade. Porto Alegre: Sérgio Fabris, 2001;

BR nº 222, I Série, de 19 de Novembro de 2020.

Cf. http://www.tribunalconstitucional.pt/tc/acordaos/20220127.html. Consultado no dia 11 de


Fevereiro de.2022, às 14 horas e 21 minutos.

Acórdão n.º 171/2021, Acórdãos n.ºs 17/1983, 238/1988, 135/1990, 308/1993, 397/1993,
804/1993, 806/1993, 186/1994, 57/1995, 580/1995, 117/1997, 673/1999, 45/2000, 32/2002,
140/2002, 187/2003, 76/2004, 19/2007, 31/2009 e 239/2012.

Cf. http://www.tribunalconstitucional.pt/tc/acordaos/20220127.html.
 
Vg. Acórdãos n.ºs 238/88, 186/94, 188/94, 57/95, 117/97, 497/97, 45/2000, 32/2002, 485/2003,
76/2004, 19/2007, 497/2007, 31/2009, 539/2012), devendo tal indispensabilidade ser evidente e
manifesta (v. os Acórdãos n.ºs, 238/88 e

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32/2002. http://www.tribunalconstitucional.pt/tc/acordaos/20220127.html.

Cf. Acórdão nº 127/2022. http://www.tribunalconstitucional.pt/tc/acordaos/20220127.html. Op.


cit. Pág. 3

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