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Neste trabalho vamos falar sobre negócios jurídicos uma relação voluntaria com
efeitos práticos com a intenção de alcançar com a tutela de direito, determinado do
ordenamento jurídico.
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1. Evolução histórica e sistemas da integração dos negócios
jurídicos
A percepção de que o negócio jurídico não estaria apto a dar conta de diversos
problemas acabou por conduzir a uma relativização da teoria, seja por meio da extensão
da sua abrangência típica, seja através da expansão, ao menos, dos seus efeitos.
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1.1.Definição De Conceito
Os negócios jurídicos processuais, neste aspecto, podem ser definidos como fato
jurídico voluntário em cujo suporte fático se configura ao sujeito o poder de escolher a
categoria jurídica ou estabelecer certas situações processuais, observados os limites
previstos no próprio ordenamento jurídico.
Uma análise sumária desta noção permitirá estabelecer, desde já, os caracteres
estruturais e funcionais do negócio jurídicos. Estamos perante um facto jurídico. Trata-
se do mais importante, bem como do mais frequente, na vida real, dos factos jurídicos
do direito Civil. É um facto jurídico voluntario, o que significa dizer que pressupõe uma
atuação da vontade como elemento jurídico relevante. Analisa-se, pois numa ou mais
declaração de vontades.
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Para além disso trata-se de um facto lícito, ou seja, conforme com o
ordenamento jurídico e os efeitos que produz não revestem o caracter de sanção para o
autor ou autores do negócio. Os seus efeitos não merecem uma reprovação por parte da
ordem jurídica. O negócio ilícito não vale como negocio, não existe pois os seus efeitos
decorrem ex lege e não ex. votuntane.
É ainda necessário que as partes actuem com ânimo de que os efeitos das suas
declarações negocias sejam tutelados pelos direitos, ou seja, obtenham a sanção da
ordem jurídica. Referimos adiante este aspeto.
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1.2.Desenvolvimento
O instrumento romano típico para acordos privados era o contrato, tido por instituto
autônomo. Sua criação é obra do pandectismo alemão do fim do século XVIII e início
do XIX, fruto do grande esforço abstrativo e sistematizador típico do movimento das
pandectas do Historicismo encabeçado por Friedrich Carl von Savigny (AMARAL:
2003. p. 387).
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Embora a teoria seja, de fato, baseada em dados extraídos dos textos romanos,
deve-se a essa Escola a concepção do negócio jurídico como uma figura autônoma de
contornos perfeitamente definidos (ABREU FILHO: 1997, p. 24).
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1. 2.1.Relação entre a vontade e os efeitos jurídicos do negócio
Não poderia falar sobre o negócio jurídico sem antes abordar a contextualização
no sistema processual brasileiro, a começar pela diferenciação entre fatos jurídicos, atos
jurídicos, atos-fatos jurídicos e negócios jurídicos, bem como do enquadramento dos
atos processuais. Cabe também trazer o conceito, fundamentação, pressupostos e
classificação geral.
Já nos termos em que se definiu o negócio jurídico ficou patente que a declaração
negocial para alem de ter vista a produção de determinados efeitos deve ainda ser
formulada com ânimo de que tais efeitos sejam tutelados pelo direito.
Existem, a este propósito três teorias principais que são designadas de: Teoria dos
efeitos jurídicos; (Rechtsfolgentheorie); Teoria dos efeitos práticos (Grundfgentheorie);
e, Teoria dos efeitos práticos-jurídicos.
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Teoria dos efeitos jurídicos
Para esta doutrina os efeitos jurídicos produzidos, tais como a lei os determina, são
exata, perfeita e completamente (claramente) correspondentes ao conteúdo das vontades
das partes. Os próprios efeitos derivados de normas supletivas resultariam da tácita
vontade das partes.
Teoria dos efeitos jurídicos: para esta doutrina os efeitos jurídicos produzidos, tais
como a lei os determina, são perfeitas e completamente Correspondentes ao conteúdo
da vontade das partes. Os próprios efeitos derivados de normas supletivas resultariam
da tácita vontade das partes.
Haveria uma vontade das partes dirigida à produção de determinados e precisos
efeitos jurídico esta vontade se deve dirigir à produção de tais efeitos jurídicos?
A questão que se coloca é a de saber se ela tem de se dirigir aos efeitos jurídicos do
acto em si mesmo, ou meramente aos efeitos de ordem prática – ordem
económica e social.
A questão que se coloca é a de saber se ela tem de se dirigir aos efeitos jurídicos
do acto em si mesmo, ou meramente aos efeitos de ordem prática – ordem
económica e social. Teoria dos efeitos jurídicos: para esta doutrina os efeitos
jurídicos
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produzidos, tais como a lei os determina, são perfeitas e completamente
Correspondentes ao conteúdo da vontade das partes.
Considera esta doutrina, mais recente, que a teoria dos efeitos jurídicos não é
realista está longe da realidade. Afirma que bastaria que as partes manifestassem uma
vontade de efeitos práticos, materiais ou impérios, normalmente económicos sem
caracter ilícitos. A estes efeitos práticos ou empíricos manifestados, faria a lei
corresponder os efeitos jurídicos com concordantes. Neste caso os efeitos jurídicos são
considerados simplesmente instrumentais.
Esta teoria dos efeitos práticos falha também, tornando-se, por sua vez, inaceitável.
Tal como ela define o negócio jurídico este não se distingue dos compromissos ou
convenções celebrados sob o império de norma de outra ordem (cortesia, moral, praxes
socias, etc.).
É o ponto de vista mais correcto, isto é, aquele que melhor traduz a realidade do
negócio jurídico e o sentido da declaração negocial.
Assume uma posição intermedia, como a sua própria designação indica. Por um
lado, esta teoria, exige nos declarante a vontade de efeito jurídico mas, por outo lado,
prescinde reconduzir a esta vontade todos os efeitos jurídicos que o negócio produz
segundo a lei.
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negócios de pura obsequiosidade e dos simples acordos agréments ou gentlements
agréments
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alienação fiduciária em garantia (a propriedade é transferida com escopo de mera
garantia). A cessão fiduciária de crédito, prevista no art. 66-B da Lei nº 4.728/65,
também é um exemplo (a cessão de crédito tem escopo de garantia).
1. 2.3.Elementos essências
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do Código Civil); ausência de defeitos do negócio jurídico (erro, dolo, coação, estado de
perigo, lesão e fraude contra credores); ausência dos casos de nulidade do negócio
(artigos 166 e 167 do Código Civil) e legitimação.
1. 2.4.Elementos Naturais
Sem necessidade de qualquer cosmética. São factos com significado, mas não
precisam de ser maquilhados para que os efeitos jurídicos se produzam. Basta que o
significado desses factos se identifique com os efeitos jurídicos estabelecidos na lei.
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O resultado da interpretação do comportamento consistente em António entrar
numa peixaria e dizer, apontando para um peixe-espada, “Aquele maroto hoje vai para a
minha panela” (1.ª etapa) é “António pretende comprar o peixe-espada, pagando por ele
o valor indicado” (2.ª etapa).
Os factos naturais geram efeitos na sociedade e por isso são relevantes para o
âmbito jurídico. Os fatos jurídicos, por sua vez, podem ser definidos por Ascensão
(2010) quando ele diz que se caracterizam pela situação geradora de mudanças e efeitos
com consequências jurídicas. Nesse sentido qualquer fato que produza efeitos jurídicos
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pode ser categorizado como fato jurídico já que, com a produção de resultados dentro
do âmbito jurídico se torna indispensável a sua regulamentação.
Parece ter sido Savigny quem primeiro empregou a expressão fato jurídico
(juristiche Tatsache), definindo-o: “Chamo fatos jurídicos os acontecimentos em virtude
dos quais as relações de direito nascem e terminam”. Sobre o fato jurídico Gonçalves
(2020, p.346) diz que: O direito também tem o seu ciclo vital: nasce, desenvolve-se e
extingue-se. Essas fases ou momentos decorrem de fatos, denominados fatos jurídicos,
exatamente por produzirem efeitos jurídicos. Nem todo acontecimento constitui fato
jurídico. Alguns são simplesmente fatos, irrelevantes para o direito.
Somente o acontecimento da vida relevante para o direito, mesmo que seja fato
ilícito, pode ser considerado fato jurídico. Assim, os fatos jurídicos fazem parte do ciclo
do direito, especialmente no âmbito civil, tendo relevância destacada pela legislação
civil brasileira, por ela disciplinada. Com a mesma acepção, diz Pereira (2002, p. 291)
que:
A chuva que cai é um fato, que ocorre e continua a ocorrer, dentro da normal
indiferença da vida jurídica, o que não quer dizer que, algumas vezes, este mesmo fato
não repercuta no campo do direito, para estabelecer ou alterar situações jurídicas.
Outros se passam no domínio das ações humanas, também indiferentes ao direito: o
indivíduo veste-se, alimenta-se, sai de casa, e a vida jurídica se mostra alheia a estas
ações, a não ser quando a locomoção, a alimentação, o vestuário provoquem a atenção
do ordenamento legal.
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1. 2.5.Elementos acidentais
Elementos acidentais são cláusulas que as partes podem livremente incluir nos
seus contratos. São as cláusulas ou estipulações que, não sendo indispensáveis para
caracterizar o tipo abstrato de negócio (compra e venda, doação, etc.), ou para
individualizar a sua identidade concreta, se tornam necessárias para que tenham lugar os
efeitos jurídicos a que elas tendem. Trata-se de cláusulas acessórias dos negócios
jurídicos, decorrentes do princípio da liberdade negocial que poderiam não existir sem
que o negócio estivesse deificados em abstrato e em concreto.
Devemos ter sempre presente, que as classificações dos negócios jurídicos não
constituem compartimentos estanques, o que significa dizer que nada impedi que nada
impedi que um mesmo tipo de negócio, tomado sob perspectiva diferente, se integre em
mais do que uma classificação.
Os negócios jurídicos processuais podem ser separados entre aqueles que dizem
respeito ao objeto litigioso do processo ou ao próprio processo. Didier Jr. (2016, p. 381)
traz o que vem a ser esta classificação: há negócios processuais relativos ao objeto
litigioso do processo, como o reconhecimento da procedência do pedido, e há negócios
processuais que têm por objeto o próprio processo, em sua estrutura, como o acordo
para suspensão convencional do procedimento.
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O negócio que tem por objecto o próprio processo pode servir par a redefinição
das situações jurídicas processuais (ônus, direitos, deveres processuais) ou para a
reestruturação do procedimento. (Didier JR., 2016, p. 385)
No que se refere ao objeto, lembra Didier Júnior (2015, p. 387) que pode haver
negócios processuais sobre o objeto litigioso do processo, a exemplo do reconhecimento
da procedência do pedido, e também pode haver negócio processual que verse sobre o
próprio processo, em sua estrutura, como o acordo para suspensão convencional do
procedimento. O negócio que tem por escopo o próprio processo pode servir para a
redefinição das próprias situações jurídicas processuais – ônus, deveres, direitos
processuais – ou para a modificação do próprio procedimento.
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1. 2.7.Importância Pratica
Nem todos efeitos jurídicos produzidos por uma declaração negocial são
autónomos, isto é, correspondem ao sentido apurado por interpretação da declaração
(por exemplo, os produzidos por aplicação de regras supletivas ou de normas
imperativas). Nessa medida, a declaração negocial comporta-se como um facto ou
como um acto jurídico, dando origem a efeitos jurídicos (mais ou menos)
heterónomos. A menos que o contexto claramente o revele, do apuramento desses
efeitos jurídicos heterónomos não se cuida aqui.
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O tema da interpretação da declaração negocial perfila-se perante a declaração
enquanto significante dos efeitos negociais a produzir de acordo com o sentido desse
significante; não perante a declaração-facto integrante da previsão de normas
jurídicas despoletadoras de efeitos jurídicos de acordo com o sentido dessas normas
jurídicas.
O código Civil regula a declaração negocial nos artigos 217.º e seguintes. Não
bastante, não apresenta qualquer definição a seu respeito. Trata-se de um verdadeiro
elemento essencial do negócio jurídico, uma realidade componente ou constitutiva da
estrutura do negócio. A declaração negocial é, portanto, um elemento verdadeiramente
integrante do negócio jurídico, conduzido a sua falta à inexistência material do negócio.
1.2.9.Interpretação jurídica
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Dá-se assim conceito objetivista de decração negocial fazendo-se concitar a sua
nota essencial, não num elemento interior uma vontade real, efetiva, psicológica --, mas
no elemento exterior, o comportamento declarativo.
A declaração negocial implica sempre, por tanto, num acto exterior adequado a
dar a conhecer uma certa intensão ou conteúdo do pensamento do autor.
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comportamento negocial é a prefiguração dos efeitos jurídicos pretendidos produzir pelo
autor do comportamento, não se está a afirmar que o método de interpretação é
necessariamente subjectivista.
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efectivamente verificado. A declaração pode também, naturalmente, por ignorância,
distracção, etc., do declarante, não satisfazer ou não satisfazer inteiramente os seus
interesses. Com efeito, o declarante não é perfeito. A prefiguração dos efeitos jurídicos
que o declarante realiza, tenha ou não, formação jurídica, pode ter ficado incompleta
relativamente ao pretendido (real ou conjecturalmente).
De acordo com o seu sentido jurídico, a declaração negocial possui, pois, uma
dimensão física, material (o comportamento) e uma dimensão imaterial: o significado.
Note-se que o significado incorpora, simultaneamente, as vertentes de manifestação de
vontade e de pretensão de validade ou produção de efeitos jurídicos. A declaração
negocial, de acordo com o nosso ordenamento jurídico, é a célula do negócio jurídico
(por isso o Código Civil lhe dedica a primeira secção do capítulo sobre o negócio
jurídico).
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A interpretação como actividade de inteligência que visa a apreensão do sentido
de um objecto é uma actividade de conhecimento e destinada a conhecimento, é uma
das formas ou processos de conhecimento1. A interpretação pressupõe um espírito
pensante que comunica algo a um receptor através de um objecto significante.
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A interpretação visa a determinação do sentido juridicamente relevante de um
negócio, sentido esse que resulta da declaração.
Uma vez interpretada a declaração negocial, não cabe ao intérprete, como tarefa
interpretativa final, a tradução da linguagem natural para a linguagem própria da lei.
Como se disse, a lei basta-se com a utilização, pelo declarante, da linguagem natural.
Nessa medida, a aplicação da lei à declaração negocial (devidamente interpretada) faz-
se nos mesmos moldes que a aplicação da lei a qualquer outro facto jurídico
(significativo ou não).
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Por outras palavras, a tradução da linguagem usada por António para “efeitos
jurídicos” não é mais que a actividade própria da aplicação da lei seja ao
comportamento significativo propriamente dito (associando-lhe os efeitos
correspondentes ao significado deste), seja a outros aspectos igualmente geradores de
efeitos jurídicos mas em que a declaração negocial funciona como mero facto jurídico
(por exemplo, relativamente à aplicação de normas supletivas, de normas limitadoras da
autonomia privada, de normas fiscais).
Para haver um negócio jurídico é preciso, como sabemos, a existência de, pelo
menos, uma declaração de vontade que o integre, o que significa dizer que o primeiro
passo para o negócio jurídico consiste numa declaração de vontade (negocial).
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2. 1.7.Linguagem jurídica
O disposto no art. 217.º (bem como, ainda que em menor medida, nos artigos
218.º e 234.º), conjugado com o disposto no art. 219.º, consagra o que se pode designar
por liberdade de manifestação. Ou seja, a possibilidade de cada sujeito exteriorizar a sua
vontade, maxime com o objectivo de fixar o conteúdo de contratos (art. 405.º),
conforme lhe aprouver. Sublinhe-se que não se trata apenas de liberdade de forma, i. e.,
da escolha livre do meio físico de suporte do significado (art. 219.º): o próprio
significado não tem que corresponder, directamente, a um dos significados próprios da
realidade jurídica que se pretende despoletar.
Existem negócios expressos e tácitos, que por sua vez podem ser omissivos ou
omissivos. Quanto a esta temática, Didier Jr. (2016, p. 383) explica: há negócios
expressos, como o foro de eleição, e negócios tácitos, como o consentimento tácito do
cônjuge para a propositura de ação real imobiliária, o consentimento tácito para a
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sucessão processual voluntária a recusa tácita à proposta de Auto composição formulada
pela outra), a renúncia tácita a convenção de arbitragem (art. 337) e a aceitação tácita da
decisão.
Por vezes, a lei exige que a declaração negocial seja expressa: por ex. artigo
957.º (responsabilidade do doador pelos ónus ou vícios do direito ou da coisa doada),
artigo 731.º (renuncia à hipoteca).
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Conclusão
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Referências bibliográficas
Andrade, Manuel A. Domingues de, teoria geral da relação jurídica, vol. e II, Coimbra,
1974.
Didier Júnior, F. Curso de direito processual civil: introdução ao direito processual civil,
parte geral e processo de conhecimento, v. 1, 17. ed. Salvador: Podivm, 2015.
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