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DIREITO PROCESSUAL

DIR340
Prof. GLÁUCIO

Larissa de Paula
   2017/01
1

Caderno de Direito Processual:

Provas: 100pts cada.


1º 10/04
2º 24/05
3º 03/07

MATÉRIA ACUMULATIVA

Estudar conceitos fundamentais;


Valorizar os conhecimentos teóricos.
2

UNIT A. DIREITO PROCESSUAL

I. Sentido
 Direito Processual é o ramo do Direito integrado pelas normas que disciplinam o
exercício da função jurisdicional
. É um ramo do direito
. Direito processual positivo: É um conjunto de normas jurídicas: regras e princípios – campo
do Direito Positivo
. Função jurisdicional: uma das funções de um Estado Soberano.

 Função jurisdicional e trilogia das funções do Estado:


Trilogia: legislativa – jurídica – administrativa/executiva

 Direito Processual é o estudo sistemático das normas que regulam o exercício da


função jurisdicional.
 Direito Processual é o conjunto ordenado de conhecimentos que permite compreender
como o Estado desempenha a função jurisdicional e elaborar propostas tendentes ao
aprimoramento do desempenho dessa função.
Campo da Ciência jurídica

FUNÇÃO LEGISLATIVA: escopo1 principal: criação de normas jurídicas


 Em regra, dotadas de abstração e generalidade que inovam originariamente2 o sistema,
ditadas aprioristicamente, sem distinção particular a nenhuma pessoa e a nenhuma
situação concreta; são verdadeiros tipos, ou modelos de conduta, acompanhados
ordinariamente dos efeitos que seguirão à ocorrência de fatos que se adaptem às
previsões.
 Direito Constitucional: regula a função legislativa.

FUNÇÃO JURISDICIONAL:
1
Objetivo/finalidade
2
A norma legal retira o seu fundamento de validade diretamente da Constituição; quando o Estado estabelece
um regulamento proveniente de uma Lei existente, verifica-se ser este um ato administrativo normativo e não
legislativo, pois não é original. art. 84, IV. CF.
3

Regulado pelo DIREITO PROCESSUAL

 É a função estatal pacificadora


Um dos objetivos é solucionar conflitos de interesse, e ao solucioná-los acaba por pacificar os
conflitantes, eliminando a desarmonia entre os mesmos.

 É a função estatal promotora de Justiça


A ordem jurídica estabelece quem está com a razão, levando-nos à uma decisão justa
- Francesco Carnelutti: a função do processo/jurisdição é a justa composição da LIDE, ou
seja, editar a regra que soluciona o conflito trazido a julgamento. (solução justa).

 Função estatal destinada à atuação concreta da vontade do Direito.


. Atuação:
1º. Elaborar a vontade concreta do Direito: ou seja, a norma jurídica concreta 3. ATIVIDADE
COGNITIVA (intelectual – exame das provas).

2º. Efetivar a vontade concreta (NJ concreta). ATIVIDADE EXECUTIVA (pragmática –


fazer as coisas acontecerem).

ex.: caso de atropelamento;


Sentença: (...). Condeno o réu a pagar à autora R$ 50.000,00, a título de dano material...
(estabelecimento da norma concreta).
Caso Ivan não queira pagar, o Estado entra com a função de efetivar a vontade concreta.

. O Estado no exercício da sua função jurisdicional 4

- Giuseppe Chiovenda: o objetivo do processo é a atuação da vontade concreta do Direito:


. Declaração da NJC;
. Efetivação da NJC.

Diferença:

3
Para o caso.
4
Pai do Direito Processual Moderno
4

Elaborar (o juiz não se limita à lei, há a possibilidade de criar a lei)


vs.
Declarar (cabia ao juiz apenas declarar o que a norma determina).

Embora o juiz elabore a norma jurídica, ele não o faz sozinho; leva-se em consideração os
argumentos das partes, cabendo àquele concordar ou discordar com os argumentos
apresentados, evidenciando, assim, os respectivos motivos.

FUNÇÃO ADMINISTRATIVA: analisa-se por exclusão, é o que não for nem jurídico nem
legislativo.
Regulado pelo Direito Administrativo.
. Não existe denominador comum.
Ex.:
- O Estado é o titular do Serviço Público de Transporte, embora a execução seja de iniciativa
privada.
- Fomento: o Estado incentiva determinadas atividades (BICs, etc.).
- Atos Administrativos normativos (ex.: proibição dos trotes 5) – abertura de um processo
administrativo.
- Função disciplinar6

II. Denominação
 Direito Processual

A) Direito Judiciário
Essa denominação foi utilizada durante o século XIX (até meados do séc. XX), fazendo
referência ao conjunto de normas.
- Prof. José Frederico Marques: escreveu um ensaio no campo do Direito Judiciário Civil
- Prof. Hélio Tornaghi: obra: Instituições de Processo Penal – Direito Judiciário Penal

Críticas ao vocábulo judiciário:


1º JUDICIÁRIO NOS FAZ PENSAR NO PODER JUDICIÁRIO
5
Não é originário, apenas concretiza normas superiores previstas em lei.
6
Não é jurisdicional, uma vez que esta se caracteriza pela definitividade, pela coisa julgada, imodificável. A
função disciplinar não é definitiva.
5

O objetivo é regular a atividade do Poder judiciário?


O direito processual não visa regular a atuação do Poder Judiciário, visa, contudo, regular o
desempenho/exercício da função jurisdicional.
Função jurisdicional ≠ atuação do Poder judiciário

1º Parte típica da atuação do Poder Judiciário; vale ressaltar que não é exercida só pelo P.J, o
Impeachment é uma função jurisdicional exercida pelo Legislativo.
2º O poder judiciário desempenha, principalmente, a função jurisdicional, entretanto, não
somente esta; possui função típica 7 (jurisdicional), mas desempenha também funções atípicas
(legislativa e administrativa).

Elementos de prova concreta:


i. CF, art. 93, “caput” e, art. 125, §1º.
- Art.93: Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o
Estatuto da Magistratura, observados os seguintes princípios
-
- Função atípica de legislação.

- Art. 125 § 1º. A competência dos tribunais será definida na Constituição do Estado,
sendo a lei de organização judiciária de iniciativa do Tribunal de Justiça.

- Função atípica administrativa

ii. CF, art. 96, I, 92, I-A; 103-B, §4º.

Lei complementar 95 de 1988: regula o art. 59, CF: regula o processo de formação dos
diplomas legais.

2º JUDICIÁRIO NOS REMETE À FIGURA DO JUIZ.

Dá-nos a falsa impressão de que o direito processual regula apenas a atuação do juiz. NÃO É
O QUE ACONTECE NA REALIDADE. A ênfase não é no juiz.
Se pensarmos em um Estado democrático de Direito, estaríamos falando de um Estado
que tem como valor fundamental a participação (cidadão interessado no desempenho da

7
Natural: criado e modelado para tal.
6

atividade estatal). A função jurisdicional só é exercida de modo legítima, democrática, se for


desenvolvida em constante diálogo entre o juiz e as partes. O juiz só é capaz de proferir
decisões justas, se pelo diálogo com as partes tentar descobrir quem está falando a verdade.

Logo, o direito processual regula a atuação de todos os envolvidos no processo (promotor, as


partes, juiz, etc.)

B) Direito processual
Superou a expressão Direito judiciário;
 CF, art. 22, I. Regula a competência legislativa privativa da UNIÃO, dentre eles o
DIREITO PROCESSUAL.
Compete privativamente à União legislar sobre: (EC no 19/98 e EC no
69/2012):
I – Direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo,
aeronáutico, espacial e do trabalho;

C) Direito jurisdicional
 Prof. Juan Montero Aroca
Argumento: o que é o Direito processual se não o conjunto de normas que regula a função
jurisdicional. Jurisdição é o cerne do conceito, o processo, por outro lado, é apenas um
instrumento/forma de realização da jurisdição.

1º Crítica
É verdade que o processo é um instrumento (método de exercício da jurisdição), contudo, ele
é tão importante que, se a jurisdição não for desempenhada segundo tal método não haverá
exercício legítimo da jurisdição.

2º Crítica
Em time que está ganhando não se mexe.

PS: Processo ≠ Autos do processo: meio que instrumentaliza os atos praticados no processo;
(é aquele caderno que fica no fórum, etc.)
7

III. Autonomia do Direito processual em relação ao Direito Material

O direito processual não é mero apêndice do direito material, gozando, pelo contrário, de
autonomia legislativa, didática e científica.

Direito processual Vs. Direito material

Argumento:
1º. Possuem objetos8 diversos

2º. D.M disciplina sobre os Bens da vida (bens jurídicos relevantes para o homem e para a
sociedade); estabelece os critérios para o julgamento.
É o corpo de normas que disciplinam as relações jurídicas referentes a bens e utilidades da
vida.
Ex.:
. Vida/ CP, art. 121.
. Liberdade/ CC, art. 151 a 155; art. 171, II.

Regulam sobre o direito material: DP, DC, DA, D. Tributário, DT

3º. DP: tem por objeto a regulamentação do exercício da função jurisdicional a fim de
maximizar a chance de chegarmos a uma decisão justa e efetiva.
- Tenta adequar o procedimento a ser seguido às necessidades do direito material;
- Regula como o processo será desenvolvido de modo que ambas as partes conflitantes
possam apresentar seus argumentos.

 CONCLUSÃO:
O direito processual adquiriu uma autonomia legislativa, didática e científica.
=. Legislativa: há diplomas legislativos (leis) que visam regular especificamente o direito
processual; ex.: CPC, CPP.
=. Didática: há disciplinas dedicadas ao Direito processual; ex.: DIR340
=. Científica: há um estudo específico para o Direito processual.
8
O que disciplinam
8

 RESSALVAS
O direito processual é uma cadeira de rodas ao direito material, de forma que este seja
aplicado de maneira justa e eficiente;
- O DP é um instrumento necessário para a concretização do direito material; supre cada
necessidade de cada direito material.

IV. Objeto da Ciência do Direito Processual


Objeto da Ciência do Direito:
NORMA JURÍDICA

Objeto da Ciência do Direito Processual

INSTITUTOS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO – norma processual


Instituto jurídico: é o conjunto de normas que regula determinado assunto, procurando
conferir-lhe caráter sistemático. (Gláucio/Francisco Amaral).

Direito Positivo9

AÇÃO DEFESA

Direito Processual Positivo


9
Conjunto de normas
9

JURISDIÇÃO PROCESSO

As normas se dividem em quatro grandes conjuntos de normas: Ação, defesa, jurisdição e


processo;

a) Jurisdição: função estatal soberana, pacificadora, que visa resolver conflitos.


Função promotora de justiça, uma vez que não se contenta em solucionar conflitos, o
Estado procura solucionar conflitos de forma justa.
Função tendente à atuação da vontade concreta do Direito.
Pretende substituir a atividade das partes litigantes pela sua própria atividade; não deixa
que as partes solucionem o conflito por meio da força, mas sim por meio do processo,
ação mais civilizada (Função caracterizada pela substitutividade).
Função caracterizada pela definitividade: as decisões podem se tornar imodificáveis –
formando-se a coisa julgada a decisão se torna irrecorrível (ou a parte foi intimada da
decisão e não recorreu ou esgotou-se os recursos).

b) Ação
É o Direito subjetivo processual – excepcionalmente pode vir a ser o poder
- É a possibilidade de exigir o desempenho da função jurisdicional

c) Defesa
É um Direito subjetivo de contrapor-se à ação;
- direito que se abre ao réu de se justificar perante o Estado

d) Processo
Método modelado pela CRFB;
É uma condição de legitimidade da jurisdição, ou seja, só há exercício legítimo, isto é,
aceitável da jurisdição se, e somente se, a jurisdição for exercida segundo os regulamentos do
processo.
10

 Trilogia estrutural do direito processual10:

1. Jurisdição
2. Ação
3. Processo

V. Posição enciclopédica
Direito processual é ramo do direito público ou privado?
R: Direito Púbico
Why?
1. Porque disciplina uma função estatal soberana;
2. Regula uma relação jurídica caracterizada pela subordinação11;
3. O Direito processual tem prevalência do interesse público12 e, principalmente,
4. Porque está sujeito a um regime jurídico de direito público13.

VI. Direito processual e Direito constitucional


a) Importância do Direito Constitucional:
É necessário a compreensão do D.C, pois este exerce influência sobre a interpretação,
compreensão e aplicação de todos os demais ramos. Não há como estudar, por exemplo,
direito civil sem estudar direito Constitucional.

Correlações entre Direito processual e Direito Constitucional:


 Todo o direito processual, como ramo do direito público, tem suas linhas
fundamentais traçadas pelo direito constitucional, que fixa a estrutura dos órgãos
jurisdicionais, que garante a distribuição da justiça e a efetividade do direito objetivo,
que estabelece alguns princípios processuais;

1º Correlação: a CRFB institui o Poder Judiciário;
10
O direito de defesa existe, contudo, não goza de autonomia como o direito de ação; não há diferença
substancial entre a ação e a defesa; constituem um direito ao processo, ao exercício da jurisdição mediante um
processo.
11
Os ramos direito público regulam as relações jurídicas processuais através da ideia de subordinação. O Estado
tem o poder de decidir o processo;
12
Mesmo que o processo envolva conflitos particulares com interesses particulares, há, por outro lado, um
interesse público por trás, que é o de pacificação deste conflito.
13
As normas que integram o direito processual têm uma feição parecida com as normas que integram os direitos
penais, administrativos, tributário etc.; ou seja, parecem mais com as normas que integram os ramos do direito
público. Há princípios comuns.
11

2º Correlação: constitucionalização das fontes formais do direito infraconstitucional;


3º Correlação: filtragem constitucional (constitucionalização do direito infraconstitucional).

1.1 Art. 92 (enumera os órgãos que integram o P. Judiciário) a 126, CF:


regulamento do Poder Judiciário14 (tem como função típica a função jurisdicional).

2.1. Significa que as constituições incorporaram normas que a princípio pertenceriam a


outros campos do direito; ela prevê normas que se associam a algum outro ramo do direito.
Para alterar essas normas é necessária uma Emenda Constitucional com quórum qualificado.
Dessa forma o que se visa com a constitucionalização é elevar uma norma importante, que
seria mais fraca, a um patamar a mais alto, que vai garantir força a ela.

3.1 . Significa que a CF hoje está no centro do sistema, e ela tem uma eficácia irradiante
sobre todos os campos do Direito, ou seja, ela influencia a interpretação de todas as
demais normas. Toda norma jurídica ao ser interpretada tem que passar por um
filtro, que é a constituição. Conjugam-se normas e valores constitucionais para
interpretar normas infraconstitucionais. O art. I do CPC reforça tal tese.

NCPC, art. 1º. O processo civil será ordenado, disciplinado e


interpretado conforme os valores e as normas fundamentais
estabelecidas na Constituição da República Federativa do Brasil,
observando-se as disposições deste Código.

Ex.: art. 5º, XXXV, LIV, LV, LVI, LX, LXIII a LXXIV e LXXVIII.

Sentido: a constituição, hoje, está no centro do sistema, tendo uma eficácia irradiante sobre
todos campos do direito, ou seja, há uma influência sobre a interpretação de todas as demais
normas jurídicas. Toda norma jurídica ao ser interpretada deve passar por um filtro, isto é, a
Constituição Federal.

 Toda interpretação é uma interpretação constitucional.


 NCPC, art. 1º: O processo civil será ordenado, disciplinado e interpretado conforme os
valores e normas fundamentais estabelecidos na CRFB.
14
Olhar do direito administrativo: conjunto de órgãos públicos.
12

Prof. Luis Roberto Barroso


Prof. Lênio Streck

VII. DIVISÃO DO DIREITO PROCESSUAL


 Unidade do direito processual
A unidade é um dogma; premissa de que o direito processual é um complexo de normas
jurídicas dotadas de uma unidade.
Este dogma é reconhecido pelo Direito positivo: CRFB. Art. 22, I.

 A jurisdição, como expressão do poder estatal soberano, a rigor não comporta


divisões, pois falar em diversas jurisdições num mesmo Estado significaria afirmar a
existência, aí, de uma pluralidade de soberanias, o que não faria sentido; a jurisdição
é, em si mesma, tão uma e indivisível quanto o próprio poder soberano.

 O direito processual como um todo decorre dos grandes princípios e garantias


constitucionais pertinentes e a grande bifurcação entre o processo civil e o processo
penal corresponde apenas a exigências pragmáticas relacionadas com o tipo de
normas jurídico-substanciais a atuar.

 DIVISÃO PROPRIAMENTE DITA15:


DP. CIVIL x D.P. PENAL

 Justificativa:
1º ... Ordem pragmática (prática): dividimos porque é útil, pois ao dividir facilita a disciplina
do Direito Processual (ele é uno, mas suas normas possuem certas especificidades).
Facilita ditar as regras;
15
Ficção útil ao Direito Processual.
13

Facilita a sua aplicação.


Facilita o trabalho do legislador e do operador do Direito (juiz, advogado, promotor).

2º.. Didática: Se ele possui peculiaridades, é razoável que o estudemos separadamente.


- Por isso temos disciplinas de Direito Processual civil separada do Direito processual penal.

 Critério de separação:
- Norma a ser aplicada/concretizada – natureza da pretensão sobre a qual incide .

(A função jurisdicional visa a atuar a vontade concreta de certas normas – do Direito -)

 Direito processual penal

Q: Direito processual penal: visa a aplicação de quais normas?


A: Em regra, normas penais. São regras que regulam como o Estado exercerá a jurisdição
quando a norma material que regular o caso concreto for penal, isto é, exerce observando as
normas penais.

Excepcionalmente: norma processual penal

Ex.1: Ação de revisão criminal16; CPP. Art. 621 – 631.


Ocorre quando, por exemplo, houver um processo penal em que o juiz era absolutamente
incompetente17, não obstante, o processo correu normalmente, houve a condenação, o trânsito
em julgado, e posteriormente o réu constata a incapacidade do juiz, ajuizando uma ação de
anulação do processo em função da falta de competência da autoridade que julgou o processo.
A análise não é em função de uma norma material, mas de uma norma de processo penal que
regula a competência.

 A ação de revisão criminal18 é uma ação ajuizada diretamente a um tribunal (ao qual
estiver subordinado o juiz que proferiu a sentença) que tem como objetivo

16
Pode ser ajuizada a qualquer tempo pelo réu e somente pelo réu.
17
Incompetência do órgão jurisdicional  competência = divisão de trabalho no exercício da função
jurisdicional
18
Flexibiliza o instituto da coisa julgada em um processo penal/a definitividade.
14

desconstituir a coisa julgada, formada em um processo penal, em que houve a


condenação do réu.

 É possível ter a análise de uma ação revisão criminal em um caso de norma material;

 Direito processual civil:

Q: quais são as normas aplicadas por meio do D. p. civil


A: Normas do Direito Civil.
Q: Somente as normas do Direito Civil?
A: Não são apenas as normas do direito civil, excepcionalmente é possível que sejam
concretizadas as normas do Direito processual civil.
Q: Só as normas de direito civil e as normas de direito processual civil?
A: Não, este é um campo residual. Visa a concretização de todas as normas (tributário,
administrativo, ambiental, etc.). A legislação no processo civil é mais completa.

Ex.: Ação rescisória19, art. 966 – 975.


Assim como a ação de revisão é ajuizada em um tribunal e serve para destituir a coisa julgada.
Se um juiz profere uma sentença e ela transita em julgado, ajuíza-se a ação rescisória em
segunda instância (TJ).
 Concretiza normas de direito material (incompetência absoluta do juízo).
 Ex.1.1: FUNARBE (fundação de direito privado) como ré em um processo de
descumprimento de contrato. Contudo, o processo foi ajuizado na Justiça Federal cuja
competência é para julgar casos relacionados à União, autarquia e empresas públicas,
não se enquadrando, portanto, no caso da FUNARBE. Logo, cabe a ação rescisória
pedindo a anulação da decisão transitada em julgado.

Ex.2: Impedimento do juiz20 cabe ação rescisória também.

19
Tem prazo prescricional de 2 anos. Art. 975, CPC.
20
Não pode atuar nos processos no qual ele seja parte.
15

Q: Existem outras divisões?


A: Depende do doutrinador. (Alguns ainda acrescentam a separação do direito processual do
trabalho).

VIII. TEORIA GERAL DO PROCESSO

É UMA DISCIPLINA “MENINA”!!!!

 Proposta: dar uma visão panorâmica sobre o direito processual, buscando um liame
entre o D.P.P e o D.P.C.
 Há figuras comuns entre os processos: função jurisdicional, ajuizamento de uma Ação,
princípios do contraditório e ampla defesa...

LER: ConJur: TGP – Aury Lopes Jr.


ConJur: TGP – Afrânio Silva Jardim

Polêmica: amplitude da TGP

 Novas fronteiras do conceito de processo21


 Amplitude inicial:
 Direito processual
 Processo  Processo judicial

1º AMPLIAÇÃO DO CONCEITO DE PROCESSO:


Redução do conceito:
- Processo é um instrumento por meio do qual o Estado exerce suas funções (jurisdicional,
administrativas e legislativas).
- Exercício do poder estatal.
- Processo: traz a ideia de PARTICIPAÇÃO DOS INTERESSADOS.

21
Instrumento por meio do qual o Estado exerce uma de suas funções soberanas, função jurisdicional.
16

- Utilidade: alguns princípios que seriam ditados para o processo judicial, se aplicam a todos
os demais tipos de processos.

2º AMPLIAÇÃO DO CONCEITO DE PROCESSO:


Processo é um instrumento de exercício do poder

Sai da esfera estatal para dizer que entes não estatais devem seguir os preceitos do processo
para aplicar sanções.

JUDICIAL

PROCESSO

ADMINISTRATIVO LEGISLATIVO

NCPC, art. 15. Na ausência de normas que regulem processos


eleitorais, trabalhistas ou administrativos, as disposições deste Código
lhes serão aplicadas supletiva e subsidiariamente.

IX. LINHAS EVOLUTIVAS DO DIREITO PROCESSUAL


 Processo como fenômeno histórico-cultural

-O processo não é dado pela natureza ao homem. É, na verdade, uma criação do homem. 
Por isso é cultural.
-O processo não existe no vácuo, mas apenas em sociedade.  Por isso é histórico.
17

-Sendo assim, à medida em que a sociedade evolui e as necessidades e a maneira do homem


enxergar o mundo se altera, a concepção de processo também muda.

1. FASE SINCRETISTA: sincrética, sincretismo ou praxismo.


 O processo era considerado simples meio de exercício dos direitos;
 A ação era entendida como sendo o próprio direito subjetivo material que, uma vez
lesado, adquiria forças para obter em juízo a reparação da lesão sofrida. Só era titular
do direito de ação quem fosse titular do Direito Material (ou seja, só quem ganhasse o
processo e o direito subjetivo que vem com ele era titular do direito de ação). Era o
Direito Material reagindo contra uma ofensa.

 Não se tinha consciência da autonomia da relação jurídica processual.


 O direito processo não era visto como um ramo autônomo do direito, e muito menos
científico.

-Durou até meados do século XIX, até quando os alemães e austríacos iniciaram uma análise
científica do Direito Processual.
 Pensamento dominante: havia autonomia científica do Direito Processual? Não.
Os estudos do Direito eram voltados exclusivamente para o Direito Material, sendo o
Processual mero apêndice deste. É dessa época as terminologias Direito Substantivo
(Material) e Adjetivo (Processual). Essas expressões rebaixam o Direito Processual a mero
apêndice do Direito Material.

-Relação jurídica processual: difere-se da relação jurídica material. A material envolve


apenas o credor e o devedor; a processual envolve, além desses dois, o Estado juiz.
 Como era a concepção da relação jurídica processual nessa época? Não se falava nesse
tipo de relação jurídica. Só se considerava a material.
 Como se entendia o processo? Não se falava em processo, mas apenas em
procedimento. Era como se fosse uma receita de bolo, uma simples sequência de atos.

 POR QUE SINCRETISMO? Porque aqui o Direito Processual não estava apartado
do Direito Material, com uma clara predominância do material.
18

 Por que praxismo? Porque as preocupações com o processo eram apenas de ordem
pragmática, ou seja, para concretizar o Direito Material.

2. FASE AUTONOMISTA: conceitual, científica ou processualismo.


 É marcada pelas grandes construções científicas do direito processual;
 A afirmação da autonomia científica do direito processual foi uma grande
preocupação desse período. FALTOU UMA POSTURA CRÍTICA.

-Compreende meados do século XIX a meados do século XX.


-Em 1868 foi publicada uma obra por Bülow, que é considerada a certidão de nascimento do
Direito Processual enquanto ciência. Primeira obra que buscou sistematizar
cientificamente o estudo do Direito Processual.
-Nesse período, passávamos pelo positivismo, pelo cientificismo. Havia uma preocupação
em explicar o mundo pela ciência, de modo racional.

 Qual era o pensamento dominante nessa fase? Buscava-se mostrar a autonomia


científica do Direito Processual; apartar o Direito Processual do Material.

-Em consequência, foi nessa fase que surgiram as grandes teorias do Direito Processual, em
que foram delineados os conceitos dos institutos fundamentais do Direito Processual
(jurisdição, ação, defesa e processo), para assim demonstrar a autonomia do Direito
Processual.

-CRÍTICA: nessa fase havia uma visão puramente introspectiva do processo, o que
significa que os estudiosos dessa época não estavam preocupados com os reflexos sociais
do processo, ou seja, com os resultados que o processo produzia na vida das pessoas.

 Processo visto como mero instrumento técnico predisposto à realização da ordem


jurídica material, sem o reconhecimento de suas conotações deontológicas e sem a
análise dos seus resultados na vida das pessoas ou preocupações pela justiça que ele
fosse capaz de fazer.

-IMPORTÂNCIA DESSA FASE: foi de grande importância para a evolução do Direito


Processual, sem ela ainda estaríamos na fase sincrética.
19

3. FASE INSTRUMENTALISTA: teleológica ou instrumentalismo

 EMINENTEMENTE CRÍTICA.
 Exame do processo através dos resultados práticos, ou seja, a partir de um ângulo
externo. É preciso levar em consideração o modo como os seus resultados chegam aos
consumidores desse serviço, ou seja, a população destinatária.

-Inicia-se a partir de meados do século XX.


-O autor brasileiro que representa essa fase é o professor Cândido Rangel Dinamarco.
 Qual era o pensamento dominante nessa fase? Chegou-se à conclusão que a autonomia
e os conceitos do Direito Processual já estavam bem demonstrados. Assim, passou-se
a ter uma preocupação com os reflexos sociais do processo, com o consumidor do
serviço jurisdicional. Preocupava-se, portanto com os resultados práticos do processo.

 O processo é um instrumento de acesso à justiça, mas esse acesso não é apenas


permitir o acesso ao Judiciário, ele só ocorre se o processo levar a decisões justas
(dando razão a quem tem razão), efetivas (que possam ser concretizadas), tempestivas
(que sejam proferidas e efetivadas dentro de um prazo razoável).

-Além disso, passou a existir também uma preocupação com a adequação dos meios, que se
interpenetra com a preocupação anteriormente citada. No processo devem existir meios
adequados para a tutela de determinados direitos.
-O Direito Processual deve criar uma variedade de meios e de técnicas para atender às
diversas demandas de direitos.
-Passou-se a defender que existe um direito à tutela jurisdicional adequada.
 Dessa forma, o processo deixou de figurar como instrumento apenas técnico e passou
a ser, também, um instrumento ético. Ou seja, além de servir para a concretização do
Direito Material, precisa produzir a verdadeira justiça.

É indispensável a consciência de que o processo não é mero instrumento técnico a


serviço da ordem jurídica, mas acima disso, um poderoso instrumento ético destinado a
servir à sociedade e ao Estado.
20

-O juiz deve estar atento ao bem e ao mal que podem decorrer das suas decisões, depois de
aplicar a ordem jurídica (processo como instrumento técnico).
-Essa fase propõe então algumas reflexões às quais o operador do Direito deve estar atento:
quais são os objetivos do Estado ao exercer a jurisdição (quais são os objetivos do processo)?
Quais as técnicas mais adequadas para atingir esses objetivos?

 Formalismo valorativo: nova fase?

-Alguns autores defendem que já existe uma nova fase de evolução do Direito Processual.
Gláucio pensa que isso não é uma fase, mas uma releitura da fase instrumentalista realizada
com base no Direito Constitucional.

-Carlos Alberto Alvaro de Oliveira escreveu a tese de doutorado com o título Formalismo
Valorativo, em que continham algumas críticas ao instrumentalismo.

 Primeira crítica liga-se à relação entre processo e Constituição. Para Carlos, essa
relação não se limita ao plano das garantias constitucionais (normas processuais
inseridas no texto constitucional). Só lidava, portanto, com o fenômeno da
constitucionalização das fontes formais do Direito Processual.
Carlos dizia que era necessário utilizar no processo as evoluções trazidas pelos
estudiosos do Direito Constitucional. É necessário passar a falar de filtragem constitucional.
A interpretação do Direito Processual deve se basear na Constituição, principalmente nos
direitos fundamentais.

-Quando da 2ª fase, a relação processo e constituição limitava-se à constitucionalização das


fontes formais do Direito. Assim, as novas ideais do formalismo valorativo poderiam apenas
serem incorporadas ao pensamento do instrumentalismo, e não se tornar uma nova fase.

 Segunda crítica: no que diz respeito à teoria do processo, o conceito fundamental


tem que deixar de ser a jurisdição e passar a ser o processo. O processo tem que
ser colocado no centro do estudo.
-Diante do nosso modelo constitucional, devemos defender um modelo de processo
democrático, cooperativo, participativo, em que partes e o Estado juiz colaborem entre si para
alcançar a melhor decisão.
21

 Por que falar em formalismo valorativo? Formalismo não dá a impressão ruim, de algo
ultrapassado?
-Na verdade, as formalidades existem com o objetivo de concretizar determinados
valores.

UNIT B - Formas de Solução de Conflitos

1) CASOS PARA ANÁLISE


-Ele narrou alguns casos para serem resolvidos ao longo da unidade.

2) CONCEITO DE LIDE
“Conflito de interesses, qualificado pela pretensão de um dos interessados e pela resistência
do outro”. Carnelluti

 Lide é o conflito de interesses qualificado por uma pretensão resistida.

 NECESSIDADE: Não é um conceito jurídico, mas é tomado pelo Direito por ser útil à
compreensão de vários institutos. Necessidade é a falta de algo que seja apto a trazer a
satisfação a determinado sujeito de Direito.

 BEM: Sinônimo de bem da vida ou bem jurídico. É o algo capaz de satisfazer


determinada necessidade. Para o Direito possuem valor tanto bens materiais quanto
imateriais (ex.: saúde, sossego).

 INTERESSE: É o vínculo psicológico que une um sujeito de Direito portador de


determinada necessidade e um determinado bem que seja apto a satisfazer essa
necessidade.
-Noção de conflito de interesses? É a desarmonia que surge quando interesses de sujeitos
diversos convergem para um mesmo bem. É conatural à sociedade. Onde há sociedade há
22

conflito de interesses, já que as necessidades humanas são ilimitadas, enquanto os bens


jurídicos aptos a satisfazê-las são limitados.

 PRETENSÃO: “Exigência de subordinação do interesse alheio ao interesse próprio”.


Fala-se em pretensão sem que exista um direito subjetivo. Interesse não é o mesmo
que direito. Ex.: Gláucio fala que o carro é dele (pretensão dele), eu falo que é meu
(resistência minha). Vamos a juízo e a sentença pode ser favorável a mim ou a ele. A
sentença irá dizer se Gláucio possui direito subjetivo ou não.

 RESISTÊNCIA: “Oposição a uma pretensão”


-Lide é o conflito de interesses em que ninguém retrocede. Uma parte tem uma pretensão, e a
outra oferece resistência.

-Obs.: o vocábulo pretensão possui duas acepções. Uma delas é associada a direitos
subjetivos, isto é, quando um direito subjetivo é violado, surge uma pretensão. Nessa voga, só
há pretensão quando há direito subjetivo. Relaciona-se à prescrição.

3) EVOLUÇÃO DAS FORMAS DE SOLUÇÃO DE CONFLITOS

Tutela Jurídica:

Ω Conflitos e insatisfações:
Insatisfação: fator antissocial gerador de conflitos; a eliminação dos litígios pode ocorrer por
obra de um ou de ambos os sujeitos dos interesses conflitantes ou por ato de terceiro.

a) 1º FORMA: AUTOTUTELA: impõe o sacrifício do interesse alheio; vingança


privada; não garantia a justiça, mas a vitória do mais forte, mais astuto sobre o mais
fraco ou tímido.

- Forma de solução de conflitos de interesses em que uma das partes,


valendo-se da força ou da astúcia, impõe ao adversário determinada
solução.
23

 Características:
- Ausência de juiz distinto das partes
- Imposição da decisão por uma das partes à outra.
- Satisfação da pretensão por meio da força!!
- Solução violenta e parcial

 Momento histórico:
- Surgiu em sociedades eminentemente primitivas, em tempos que prevalecia o talião, e que
não havia humanização da resolução de conflitos.
- Hoje ainda existe autotutela, no entanto, ela possui parâmetros para ser exercida - condição
de exclusão de ilicitude, legítima defesa e estado de necessidade.

 Qual a justificativa para a admissão da autotutela


-Não havia organização social que desse segurança para as pessoas, e diante da ausência de
um Estado forte, era normal que as pessoas se protegessem com os meios que dispusessem.

 Crítica
-É um meio ineficiente para produzir justiça, porque o fator que determinará o vencedor
não é o certo e o errado, mas a força ou a astúcia.

b) 2º FORMA: AUTO COMPOSIÇÃO: impõe o sacrifício total ou parcial do próprio


interesse; dependem da vontade e da atividade de uma ou de ambas as partes
envolvidas.

Forma de solução de conflitos de interesses em que uma das partes


renuncia integralmente ao respectivo interesse ou, então, em que ambas as
partes renunciam parcialmente a seus respectivos interesses.
24

-Na autotutela prevalecia o embate, aqui a solução é fruto de um negócio, de um acordo de


vontades que pode consistir na renúncia integral por uma das partes ou parcial.

 Características
-Inexistência de um juiz, de um terceiro que venha imparcialmente solucionar o conflito de
interesses.

 Espécies:
# desistência: renúncia à pretensão
# submissão: renúncia à resistência oferecida à pretensão
# transação: concessões recíprocas

 Momento histórico
-Surgiu mais ou menos na mesma época da autotutela.
-A falta de um Estado forte era um elemento que fazia as pessoas procurarem esse meio de
solução de conflitos.

 Crítica
-Também era ineficiente para se promover justiça.
-Hoje ainda é um meio de solução de conflitos muito incentivado pelo Estado e elogiado pelos
doutrinadores, contudo, há um fator de desequilíbrio, que é o fator econômico. O acordo às
vezes faz as pessoas menos favorecidas saírem perdendo. Dessa forma, essa FSC será bem-
vinda desde que a vontade seja livre e consciente.

C) POR ATO DE TERCEIRO – CONCILIAÇÃO, MEDIAÇÃO E O PROCESSO;

Instrumento de solução de conflitos característico de uma sociedade mais civilizada.


- Ao invés da solução parcial dos seus conflitos, ou seja, sem um intermediário, os indivíduos
começaram a preferir uma solução amigável e imparcial através de árbitros (pessoas de sua
confiança mútua em quem as partes se louvam para que resolvam os conflitos).
- Historicamente surge o juiz antes do legislador.

Conforme o Estado ia ganhando força, este conseguia impor-se aos particulares – ditar as
decisões assistindo razão a quem tem razão através dos preceitos jurídicos pertinentes a cada
caso concreto.
25

AUTOTUTELA AUTO COMPOSIÇÃO

Impõe o sacrifício do interesse Impõe o sacrifício total ou parcial


Definição
alheio do interesse próprio
 Ausência de um juiz  Ausência de um juiz
imparcial imparcial

 Violência  Solução por meio de um


Característica
acordo entre as partes.
 Imposição de solução por
uma das partes

Talionato
Quando? //
Sociedades primitivas

Não havia um Estado forte capaz de


Justificativa -
impor sua própria decisão

- Desistência: renúncia à resistência


oferecida à pretensão
Espécies -
- Submissão: renúncia à pretensão
- Transação: acordo de vontades

Meio ineficaz de Justiça: Meio ineficaz de justiça:


Não há certo e errado, mas uma O acordo somente se firmava pelo
Crítica
imposição da solução do mais temor.
astuto ou mais forte ao mais fraco
26

 Processo civil romano: 3º FORMA: ARBITRAGEM

 Quando e como surgiu?


- Surgiu no momento em que o homem percebeu as desvantagens da autotutela e da auto
composição, de forma que como nem sempre é possível obter uma solução consensual, é
melhor entregar a um terceiro o poder para decidir o conflito de interesses.

 Quem era esse terceiro?


Ele precisava reunir duas características:
1- Pessoa estranha à lide (para que ela fosse imparcial);
2- Pessoa escolhida pelos litigantes. Costumava-se escolher sacerdote (pela sua suposta
ligação com as divindades) ou ancião (pelo seu suposto vasto conhecimento).

JUSTIÇA COMO VETOR ORIENTADOR DA DECISÃO E NÃO MAIS A


FORÇA

 Evolução da arbitragem
27

Surge a figura da
LITISCONTESTATIO (contrato
3º Momento
1º Momento
Árbitro: Ancião ou sacerdote;
2º Momento
pelo qual os litigantes escolhem
o árbitro e levam a LIDE à
O pretor escolhe o árbitro

julgamento); - final do
- sociedades - direito
direito
primitivas
Decisão Limitada: o árbitro
romano
As partes firmam a Litis perante
O Pretor deixa de figurar como
um mero funciário do Estado,
contém o poder decisório,
contudo, não o vincula por falta
de um Estado forte
o Pretor
Arbitragem facultativa
romano
para exercer a função de ditar
as normas a serem seguida pelo
árbitro na decisão.

Pretor = funcionário comum do


Posibilidade da execução da Estado romano - encaminhava a
ARBITRAGEM OBRIGATÓRIA
autotutela litis para o árbitro escolhido
pelas partes.

 Primeiro momento:
Em sociedades ainda primitivas, normalmente o árbitro era um sacerdote ou um ancião. A
arbitragem estava sujeita a uma limitação. Ele tinha poder apenas para decidir, isto é, não era
capaz de impor sua decisão e fazer com que ela fosse executada. Se a parte derrotada não
cumprisse a decisão, a parte vencedora acabava exercendo a autotutela. Dessa forma a
evolução não foi tão grande vez que não havia um Estado forte capaz de obrigar as pessoas a
cumprirem a decisão do árbitro.

 Segundo momento:
Surge a figura da litiscontestatio (contrato surgido no Direito Romano pelo qual os litigantes
escolhem um árbitro e convêm em submeter um julgamento à questão controversaconceito
de Enrico Tulio Liebman. Esse autor fundou a Escola Processual Paulista). Assim, as partes
compareciam diante de um pretor (que, neste momento, não era um magistrado, mas um
funcionário comum do Estado romano) e diante dele as partes celebravam o litiscontestatio,
de modo que o pretor apenas formalizava a transferência de poderes ao árbitro para julgar o
conflito de interesses. Ainda havia um grande respeito à vontade das partes. A arbitragem
inclusive era facultativa, além de que as partes tinham poder para escolher o árbitro (não era o
pretor que realizava essa escolha).
28

Os cidadãos em conflito compareciam perante o pretor com o compromisso de acatar a


decisão escolhida; o instrumento que formalizava esse comprometimento chamava-se
litiscontestatio:  “contrato pelo qual os litigantes escolhem o árbitro e convêm em
submeter a seu julgamento a questão controversa”. (Liebman)
Posteriormente, os conflitantes nomeavam o árbitro de sua confiança, o qual recebia do pretor
o encargo de decidir a causa.
- Havia ainda a possibilidade de autotutela!

 Terceiro momento:
Quem escolhe o árbitro já não serão mais as partes, e sim o próprio pretor. Ao escolher o
árbitro e instituir a arbitragem, o pretor dirá a fórmula (normas de Direito material, etc.) que
terá de ser seguida pelo árbitro na decisão. A arbitragem passou a ser obrigatória.

Estado mais fortalecido  a escolha do arbitro deixava de ser feita pelas partes e
passava a ser designada pelo Estado.

# Arbitragem obrigatória/ decisão vinculante


# Surgimento do legislador para garantir a segurança jurídica e evitar julgamentos arbitrários
e subjetivos.

-Há um julgador, ou seja, um terceiro diferente das partes. Ao contrário da autotutela e da


auto composição, a solução não é mais dada pelas partes. Traço marcante da arbitragem.
-A solução (composição) do conflito decorre da deliberação do árbitro. A decisão do árbitro
substitui a vontade das partes.
-Efetivação da decisão do árbitro: a princípio, essa efetivação se dava pela submissão ou pela
autotutela (não havia um Estado forte o suficiente para impor a decisão do árbitro, de forma
que a parte vencedora poderia praticar autotutela para impor a decisão ou a parte perdedora
poderia se submeter à decisão. Assim, a solução do conflito continuava dependendo da
vontade das partes). Em momento posterior houve a intervenção do Estado, o qual estava
mais forte, e a decisão do árbitro passou a ser obrigatória para as partes (surgiu aqui a ideia
de processo destinado a efetivar a decisão, mas esse processo era demasiadamente
formal e lento).
29

 Justiça pública
O pretor deixa de ser um intermédio entre os conflitantes e o árbitro para figurar como
Magistrado, ou seja, passou a conhecer ele próprio do mérito dos litígios entre os particulares
e proferir sentenças
# Fase de um Estado forte que impõe autoritariamente a solução para os conflitos
# Jurisdição

# Vedação da justiça privada/autodefesa/autotutela


# Função jurisdicional = função pacificadora

D) 4ª forma de solução de conflitos: JURISDIÇÃO

 Quando surgiu?
Quando o Estado se tornou suficientemente forte para impor sua vontade sobre a vontade das
partes. Isso se deu ainda no Direito Romano.
-O pretor adquire ainda mais poderes. Ele se torna um magistrado, isto é, o terceiro
julgador. Não é mais um árbitro, mas um representante do Estado.

 Características da jurisdição
-Há um julgador, ou seja, um terceiro diferente das partes. No entanto esse julgador não é
mais um terceiro particular, sem vínculos com o Estado. Não é mais um árbitro, mas um juiz,
que é a corporificação do Estado.
-Composição do conflito se dá pela deliberação do juiz. Essa deliberação revela a vontade do
Estado, isto é, a decisão do juiz será fundamentada no Direito Positivo.

-Dispensa da litiscontestatio  surge o princípio da inevitabilidade da jurisdição (quando um


quer, dois brigam sim).
 Ou seja, desde que uma das partes ajuíze uma ação a outra parta está obrigada ao processo,
mesmo que esta não se defenda. Sendo assim, o processo corre até a sentença, quando o juiz
assistirá razão a uma das partes.
30

 RESUMO
-Autotutela (=autodefesa) // auto composição
-Arbitragem (era antes facultativa depois passou a ser obrigatória)
-Jurisdição
-Evolução das formas de solução de conflitos (transmigração da justiça privada para a justiça
pública).
-Fortalecimento do poder do Estado.

EVOLUÇÃO DAS FORMAS DE SOLUÇÃO DE CONFLITOS (TRANSMIGRAÇÃO


DA JUSTIÇA PRIVADA PARA A JUSTIÇA PÚBLICA).
FORTALECIMENTO DO PODER DO ESTADO

AUTOTUTELA/COMPOSIÇÃO -- ARBITRAGEM -- JURISDIÇÃO

4) FORMAS DE SOLUÇÃO DE CONFLITOS NO DIREITO CONTEMPORÂNEO

4.1. Jurisdição

JURISDIÇÃO:
Atividade mediante a qual os juízes estatais examinam as pretensões e resolvem os conflitos

- Ou seja, é a capacidade que o Estado tem de decidir imperativamente e impor decisões. A


jurisdição tem por função (função jurisdicional) a pacificação desses conflitos.
- O escopo magno do Estado é o bem-comum, e o da jurisdição é a pacificação com justiça.

 PROCESSO: instrumento por meio do qual os órgãos jurisdicionais atuam para


pacificar as pessoas conflitantes, eliminando os conflitos e fazendo cumprir o preceito
jurídico pertinente a cada caso que lhes é apresentado em busca de solução.
31

4.1) Jurisdição

 PRIMAZIA
No Direito contemporâneo a jurisdição passou a gozar de primazia diante das demais formas
de solução de conflitos - status de maior importância em detrimento das outras formas.
 As demais formas – alternativas à jurisdição - são possíveis de serem aplicadas ao
caso haja consenso, contudo, se uma das partes optar pela jurisdição, esta será
priorizada, imposta22!

# O Estado detém o monopólio da prestação jurisdicional.

 Fundamento da primazia:
O fundamento histórico está na evolução das formas de solução de conflitos, de forma que a
jurisdição passou a ser enxergada como a forma mais civilizada de se solucionar conflitos
(essa afirmação, entretanto, não pode ser afirmada de maneira c ategórica hoje em dia).
O fundamento jurídico: está no art. 5º, XXXV da CRFB/88: a lei não excluirá da apreciação
do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito;
Trata-se do princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional: subprincípio do
princípio do acesso à justiça.

 Crise da jurisdição e do Poder Judiciário

o Problema:
O Poder Judiciário não tem conseguido realizar seu trabalho (função jurisdicional) de modo
eficiente. Seria eficiente se conseguisse assegurar verdadeiro acesso à justiça, ou seja, se
proferisse decisões:
Efetivas - que possam ser concretizadas
Tempestivas - que sejam proferidas e efetivadas dentro de um prazo razoável
Justas - dando razão a quem tem razão.

o Contexto:
1. Muitos processos
22
A jurisdição pode ser imposta, enquanto as outras fontes dependem do consenso
32

2. Sérias deficiências estruturais do Poder Judiciário;


3. Os magistrados não dão conta do serviço;
4. Há casos, ainda que pontuais, de corrupção no Judiciário;
5. Ativismo (no sentido pejorativo: prevalência da subjetividade do juiz sobre a
objetividade da lei).

- As estruturas do Poder Judiciário não se adequaram à alta demanda, gerando a insuficiência.


-Os processos aumentaram quando as pessoas começaram a conhecer mais seus direitos
(criação dos juizados especiais fez com que a Justiça ficasse mais popular) e passou a haver
muitos abusos de direitos (qualquer coisa as pessoas julgam motivo para ajuizar uma ação).
Mas o Judiciário não adaptou sua estrutura para essa nova demanda.
-Até que ponto o fato de os magistrados não darem conta do trabalho é verdade e não virou
desculpa?

 Efeitos:
Morosidade;
Decisões equivocadas;
Insatisfação do jurisdicionado.

 RESUMO
Se de um lado há previsão da inafastabilidade do judiciário, ou seja, inevitabilidade da
jurisdição, do outro, não há efetividade no exercício da função jurisdicional, o judiciário não
tem cumprido sua promessa à CRFB (monopólio do poder jurisdicional).

-Essa crise gera uma reação: estímulos aos MASCs (meios alternativos de solução de
conflitos) ou ADR em inglês (alternative dispute resolution) são oferecidos pelo próprio
Judiciário.
 a auto composição tem sido frequente: solução por meio de acordos consensuais.

4.2. Formas de solução consensual de confl itos


33

4.2.1. Valorização da solução consensual

 Torna-se irrelevante que a pacificação venha por obra do Estado ou por outros meios,
desde que eficientes, ou seja, seja jurisdicional ou consensual, o que importa é a
pacificação com justiça do conflito entre as partes.

No Brasil há um estímulo à resolução consensual de conflitos devido à percepção da crise


no Poder Judiciário.
-Projeto capitaneado por um professor da universidade de Florença, Capeletti.
-O que é o acesso à justiça? Quais os obstáculos na promoção do mesmo? Como tais
obstáculos têm sido superados?

Através de um estudo de Direito Comparado, juristas de vários países fizeram


relatórios sobre as três perguntar acima, possibilitando que Capeletti reunisse e sintetizasse
esses relatórios e desse início ao PROJETO DE FLORENÇA23. Por meio dele percebemos
que a forma de solução consensual de conflitos possui um conjunto de virtudes, as quais
foram destacadas pelo Projeto.

 Virtudes da Solução Consensual de Conflitos:

1. Esses meios constituem instrumento de acesso à justiça.


-Acesso à justiça não se confunde com acesso ao Judiciário. Acesso à justiça é o acesso a uma
decisão justa, efetiva e tempestiva. Para se chegar a essa solução, há outros caminhos além da
jurisdição.

2. Maior aceitabilidade da solução pelas partes:

23
Examinou o Direito Positivo
34

Em tese, as partes tendem a aceitar, oferecendo menos resistência, a solução consensual que a
solução jurisdicional. Se a solução é consensual, significa que a parte perdedora cedeu seus
direitos por vontade própria, o que eleva as possibilidades de ela executar as obrigações que
lhe foram impostas na decisão.

3. Combate à onerosidade do processo24


A solução consensual combate de modo eficiente um dos principais obstáculos ao acesso à
justiça: o custo do processo. A solução tende tornar desnecessárias as custas processuais.
O processo civil tem-se mostrado um instrumento caro, seja pela necessidade de
antecipar as custas ao Estado (preparos), seja pelos honorários advocatícios, seja pelo custo às
vezes bastante elevado das perícias.

4. Permite a promoção da justiça coexistencial


Solucionar o conflito procurando restaurar a qualidade da relação entre as partes
conflitantes, o que contribuirá para evitar novos conflitos futuros.

Não basta apenas resolver o caso a partir de uma imposição de decisão, mas deve também
primar pelo relacionamento dos litigantes: imagina se são vizinhos!! Dependendo da forma
como seja decretada a sentença, a convivência entre os conflitantes pode se tornar
insustentável, dando margem a conflitos futuros.

4.2.2. Técnicas de solução consensual


Ruptura com o formalismo processual – desformalização.

A) Negociação:
 Sentido: técnica pela qual as partes envolvidas no conflito, diretamente e sem
intervenção de terceira pessoa, buscam uma solução consensual.

 Características:
 INEXISTÊNCIA DE UM TERCEIRO
 CONTATO DIRETO ENTRE AS PARTES

24
O processo é oneroso, com isso, constitui um óbice à plenitude do cumprimento da função pacificadora do
judiciário.
35

 Recomendação
 As partes devem ter o foco no interesse, e não na posição.
 Abusem da criatividade

Ex.: Glaucio vendendo um apartamento no centro de Viçosa por X


O comprador queria pagar X-10.000;
De primeira nenhum queria abrir mão da posição; contudo, depois de uma longa discussão
chegaram a um acordo. Glaucio permaneceria no imóvel por 11 meses após a venda pelo
valor de X-10.000; firmaram esse contrato tendo em vista o valor do aluguel de um
apartamento no centro de Viçosa, cujo valor seria em torno de R$1.000, que o Glaucio teria
de pagar ao transferir o bem. Assim, ao invés de pagar aluguel, o valor seria abatido no valor
de venda apartamento, satisfazendo a ambos.

Livro: Como chegar ao sim – Roger Fisher, William Ury e Bruce Patton

B) Mediação
 Sentido: técnica consistente na intervenção de um terceiro imparcial, que tenta
auxiliar as partes a alcançar, pelo diálogo, uma solução consensual.

Lei 13.140/15, art. 1º:


Parágrafo único:  considera-se mediação a atividade técnica exercida
por terceiro imparcial sem poder decisório, que, escolhido ou
aceito pelas partes, as auxilia e estimula a identificar ou desenvolver
soluções consensuais para a controvérsia.

 Características:
 Presença de um terceiro imparcial escolhido ou aceito pelas partes
 Terceiro sem poder decisório, mas que tem por escopo alcançar a pacificação com
justiça por meio de soluções consensuais.
 O mediador trabalha o conflito, surgindo o acordo como mera consequência.

# Missão do Mediador:
- Não tem a missão de decidir
36

- Mediador ≠ juiz/árbitro: é apenas o facilitador do diálogo entre as partes.

# Quem?
- Qualquer pessoa, não necessariamente alguém formado em Direito

# Modalidades:
 Postura do mediador:
- Postura PASSIVA: o mediador é apenas um EXPECTADOR/FACILITADOR
A propositura da solução se dá pelas partes e não pelo mediador,
cuja função é apenas facilitar o diálogo.

- Postura ATIVA: há uma tentativa de influenciar as partes


PROPÕE SOLUÇÃO.

 Momento de exercício:
 Judicial
A princípio, as partes decidem pela jurisdição, mas optam posteriormente pela mediação; se
não chegarem a uma solução consensual, o processo é retomado.

 Extrajudicial
Não foi instaurado um processo judicial ainda; a mediação é adotada desde o início.

 Mediação no Direito Brasileiro


 Conselho Nacional de Justiça (CNJ): a fim de estimular a solução consensual, emitiu a
Resolução 125:

CONSIDERANDO caber ao Poder Judiciário estabelecer política pública de


tratamento adequado aos problemas jurídicos e aos conflitos de interesses,
(...), bem como incentivar sua solução mediante outros mecanismos, em
especial os consensuais, como a mediação e a conciliação;

CONSIDERANDO que a conciliação e a mediação são instrumentos


efetivos de pacificação social, solução e prevenção de litígios, e que os
37

programas já implementados no país têm reduzido a judicialização dos


conflitos de interesses, a quantidade de recursos e de execução de sentenças;

Art. 1º. Parágrafo único. Aos órgãos judiciários incumbe oferecer


mecanismos de soluções de controvérsias, em especial os chamados
meios consensuais, como a mediação e a conciliação bem assim prestar
atendimento e orientação ao cidadão. (...).

 NCPC/15: art. 334, “caput”

Se a petição inicial preencher os requisitos essenciais e não for o caso de


improcedência liminar do pedido, o juiz designará audiência de conciliação
ou de mediação (...).

 Previsão de uma audiência de conciliação ou mediação.

C) Conciliação

- Deste assunto já falava a Constituição Imperial brasileira, exigindo que fosse tentada antes
de todo processo, como requisito para sua realização e julgamento da caus.

 Sentido: assim como a mediação, a conciliação é uma técnica consistente na


intervenção de um terceiro imparcial que tenta auxiliar as partes a alcançarem, pelo
diálogo, uma solução consensual de conflitos.

- Qual é então a diferença entre Conciliador e Mediador?


A distinção não é pacífica!!

 Critérios distintivos
- Técnica e duração: consequência dos critérios anteriores

A mediação tende a durar muito mais do que a conciliação – é como ir a um psicólogo, são
necessárias diversas sessões. Visa descobrir as raízes dos problemas – a mediação discute
o conflito em si - que envolvem as partes; busca com que as partes enxerguem as raízes dos
conflitos, possibilitando que as mesmas coloquem para fora suas reclamações, deixando com
que elas falem.

1. Postura:
38

Mediador X Conciliador
Passiva Ativa

No Brasil quando falamos em mediação, sempre estamos falando de mediação passiva; sendo
a posição de mediador ativa sinônimo de conciliador. Isso quer dizer que o ordenamento
brasileiro só teria adotado a modalidade passiva de mediação.

2. Natureza

Mediação: revela-se adequada aos conflitos que necessitam de justiça coexistencial –


envolve questões emocionais, psicológicas.

Conciliação: aplicada às controvérsias de natureza exclusivamente patrimonial


Ex.: Direito das sucessões, família, etc....

4.2.3. O que dizer da valorização das técnicas de solução consensual no direito brasileiro?

1º.
 O que há de bom no uso das técnicas de solução consensual de conflitos?
- É a solução mais civilizadora, pois ambas as partes encontram uma forma de resolver os
seus problemas, e por um custo muito menor do que através da jurisdição.

A solução em si é o meio mais civilizado em um conflito de interesses.

 O que há de ruim?
e) Existe uma propaganda de uma solução mágica e inovadora;
- Contudo, não há uma solução mágica haha... em alguns casos a jurisdição se apresenta como
a melhor forma!
- Só mudaram o nome para algo que já existia há muito tempo!
Art. 98, II, CF/88: Justiça de paz: atribuições conciliatórias ao juiz de paz.
CF/1824 (Constituição do Império): art. 161 e 162: valorização da solução consensual. Então
por que falar em técnica inovadora?
39

2º. Desvirtuamento:
 O Estado está procurando com a solução consensual, um objetivo que não deveria ser
procurado por ele através da solução consensual.
O objetivo da solução consensual não é sanar a crise do judiciário!!

As TSCs.: serão um instrumento eficiente de acesso à justiça, quando for capa de chegar a
soluções justas, efetivas e tempestivas. Devem visar prioritariamente o acesso à justiça, logo,
as TSC, somente se revelam adequadas para alguns casos, aqueles que dependam da solução
consensual para alcançar uma solução justa, efetivas e tempestivas.

Objetivo direto do Estado


|
Crise do Judiciário

Problema: os juízes utilizarão essa técnica de forma inadequada, tentando resolver TODOS os
casos através da solução consensual, sendo ela adequada ou não. O que eles não percebem, é
que essa situação apenas piora a crise do judiciário. Os juízes veem nessa técnica uma forma
de diminuir o seu trabalho.

O Objetivo direto do Estado (deveria ser)


|
- Solução adequada de alguns conflitos (não é utilizada para combater a crise do judiciário)
- Acesso à justiça

As TSC deveriam ser utilizadas apenas para os casos em que se revelem adequada.

Texto: O futuro da justiça: alguns mitos.


40

3º. Necessidade de uma mudança cultural


 Cultura conciliadora x Cultura do jeitinho (tentar tirar vantagem da sua posição –
forma egoísta )

D) Reflexão final:
- Owen Fiss: a parte economicamente mais forte trabalha em função de adiar as audiências a
fim de que a parte economicamente mais fraca faça um acordo ruim.

4.2.4. A admissibilidade da solução consensual (em quais casos ela pode ou não ser utilizada)
- Não se discute a conveniência, mas a própria admissibilidade técnico-jurídica.

 Concepção tradicional
- Disponibilidade do Direito subjetivo disputado pelas partes.
Solução 1: Se o Direito subjetivo era disponível, é então admissível a solução consensual.
Solução: Se o D.S fosse indisponível, é então inadmissível a solução consensual.

O que seria um direito subjetivo indisponível?


- 1ºcaso: Indisponibilidade objetiva: decorre do próprio direito em questão – resulta da
Natureza – Ex.: direitos da personalidade (CC, 11).

- 2ºcaso: Indisponibilidade subjetiva: decorre de características especiais do suposto titular do


Direito – de umas das partes em litígio. A indisponibilidade não decorre da natureza do
direito, mas de certas circunstâncias do titular:
Ex.: Se uma das partes for incapaz, há indisponibilidade subjetiva.
ou
Quando a Fazenda Pública25 for o suposto titular do direito.

 Concepção contemporânea

25
F.P: cofres públicos; no direito processual: F.P designam as pessoas jurídicas de direito público: União,
Estados, DF, municípios, autarquias.
41

# Descolou-se do objeto pelo qual ela visava explicar; não é um espelho da ordem jurídica.

- Noção: A teoria que a doutrina defende elabora um sistema que não tem projeção na nossa
ordem jurídica;
Os ensinamentos não encontram repercussão na ordem jurídica; alguns direitos
tradicionalmente reputados como indisponíveis, admitem que entorno deles sejam celebrados
acordos;
Qualquer concepção doutrinária que ignore o que a lei diz, não serve para explicar a realidade.

- Ideia central: a princípio, quase todas as controvérsias admitem solução consensual, embora,
em algumas situações, haja limites à celebração do acordo.

# Flexibilização da indisponibilidade:

INDISPONIBILIDADE OBJETIVA:

 Direitos tradicionalmente reputados indisponíveis que possuem aspecto patrimonial:


admitem acordo.
Ex.: Direito a alimentos;
- É indisponível,
- Mas é possível um acordo quanto ao valor, à periodicidade ou ainda à forma de pagamento.
- É possível um acordo em decorrência dos aspectos pecuniários do direito. (O direito em si é
indisponível, não obstante possui aspectos patrimoniais que aceitam acordos).
- Transação parcial.

 Direitos tradicionalmente reputados indisponíveis que não possuem aspecto


patrimonial: admitem acordos em maior ou menor extensão.
Ex.: Direito de visitas, direito de guarda, direito ao nome no divórcio.
- Com relação à guarda e à visita, é admissível a possibilidade de um acordo em detrimento da
guarda ser compartilhada, unilateral; ou ainda como será estabelecida as visitas (quantas vezes
e quais dias da semana).
42

Admite-se que a pessoa acusada de cometer uma infração submeta-se a uma sanção na
audiência preliminar (antes da instauração do processo) que não seja pena privativa de
liberdade. Aplicação de sanção penal sem que haja um processo.
-Então um direito antes reputado como indisponível passou a poder ser objeto de soluções
alternativas de conflitos. Então nem mesmo em matérias penais há essa coisa absoluta de só
se poder trabalhar com a jurisdição.
Em matéria penal admite-se apenas a espécie TRANSAÇÃO.

CF, art. 98, I: O julgamento e a execução de causas cíveis de menor


complexidade e infrações penais de menor potencial ofensivo, mediante os
procedimentos oral e sumariíssimo, permitidos, nas hipóteses previstas em
lei, a transação e o julgamento de recursos por turmas de juízes de
primeiro grau;

- Pode o autor do fato submeter-se voluntariamente à pena não privativa da liberdade, antes
mesmo da instauração do processo, por proposta do Ministério Público.
- Direito de não ser punido sem o devido processo legal – indisponível, não obstante admite-
se acordos de restrição de direitos ou multa para se evitar o processo: medidas
despenalizadoras (medidas penais ou processuais alternativas que procuram evitar a pena de
prisão).

- Lei 9.099/95:
Art. 76, “caput”: havendo representação ou tratando-se de crime de ação
penal pública incondicionada, não sendo caso de arquivamento, o Ministério
Público poderá propor a aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou
multas, a ser especificada na proposta.

INDISPONIBILIDADE SUBJETIVA

-Indisponibilidade subjetiva surge quando um incapaz ou a Fazenda pública são partes.

 Incapaz: acordos da ação de alimentos.


- A forma de proteger o incapaz não é proibindo o acordo, mas fiscalizando o acordo; o juiz
não homologa acordos prejudiciais aos incapazes.
43

-O juiz e o promotor fiscalizarão o acordo que envolver incapaz. MP intervém como fiscal da
ordem jurídica.
Art. 178, II, NCPC:
O MP será intimado para, (...), intervir como fiscal da ordem jurídica nas
hipóteses previstas em lei ou na Constituição Federal e nos processos que
envolvam:
II. Interesse de incapaz.
(...)
Parágrafo único. A participação da Fazenda Pública não configura, por si só,
hipótese de intervenção do MP.

-Nos processos em que fazendo pública é parte, é possível haver acordo, e há diversas leis que
orientam nesse sentido.

 Fazenda Pública: ex.: nos processos em que ela é parte e pode admitir acordo:
- Lei 10.259/2001 – JEF – cabível sempre que o valor da causa for menor ou igual a 60 s.m 26,
o órgão competente for a Justiça Federal e o réu for, a União, a autarquia federal ou a
Empresa pública federal.
Art. 3o Compete ao Juizado Especial Federal Cível processar, CONCILIAR
e julgar causas de competência da Justiça Federal até o valor de sessenta
salários mínimos, bem como executar as suas sentenças.

- Lei 12.153/2009 – Casos em que o valor da causa for menor ou igual 60 s.m, a competência
do processo for a Justiça Estadual e o réu for o Estado-membro, o município, as respectivas
autarquias ou Empresas Públicas. – Incentivam o acordo!!!

Art. 2o. É de competência dos Juizados Especiais da Fazenda Pública


processar, CONCILIAR e julgar causas cíveis de interesse dos Estados, do
Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios, até o valor de 60
(sessenta) salários mínimos.

- Lei 13.140/2015 – Lei de mediação; expressamente prevê a aplicação da mediação no


âmbito do poder público.

A sentença judicial homologa o acordo, logo é exigível!


É a similar a uma sentença que assiste razão a uma das partes

4.3. ARBITRAGEM:
26
Salários mínimos.
44

A) Sentido: É a forma de solução de conflitos em que as partes, de comum acordo,


confiam a um ou mais árbitros imparciais o exame da controvérsia e a prolação de
sentença caracterizada pela definitividade.

B) Características
 Fruto de acordo entre as partes: a controvérsia não será solucionada por um juiz mas
por um terceiro imparcial;  Convenção de Arbitragem (lei 9.307/96, art. 3º).

Art. 3º As partes interessadas podem submeter a solução de seus litígios ao


juízo arbitral mediante convenção de arbitragem, assim entendida a
cláusula compromissória e o compromisso arbitral.

Convenção de Arbitragem:
1º espécie: cláusula compromissória27 - lei 9.307/96:

Art. 4º, “caput”: A cláusula compromissória é a convenção através da qual as


partes em um contrato comprometem-se a submeter à arbitragem os litígios
que possam vir a surgir, relativamente a tal contrato.

2º espécie: compromisso arbitral28 (Lei 9.307/96, art. 9º).

Art. 9º. O compromisso arbitral é a convenção através da qual as partes


submetem um litígio à arbitragem de uma ou mais pessoas, podendo ser
judicial ou extrajudicial.

 Poder decisório do árbitro: o árbitro decide tal qual o juiz.


- O mediador e conciliador não decidem coisa alguma, mas o árbitro possui poder decisório.

 Simplicidade e rapidez: tende a ser simples e rápida.

27
Cláusula de um contrato (anterior ao conflito): Eventuais controvérsias relacionadas ao contrato serão
solucionadas por arbitragem.
28
É posterior ao surgimento de um conflito: as partes definem o árbitro nomeado, etc.
45

 Potencial de produzir decisões justas: o árbitro sequer precisa ser formado em


direito e geralmente o conflito não se envolve somente por aspectos jurídicos, mas
também conhecimentos externos.

 Tende a ser cara

C) Direito positivo
# Lei 9.307/96 - Lei de arbitragem.
# Lei 9.099/93, arts. 24 e 25. Juizados especiais (de pequenas causas)!
- Lógica:

1º tentativa: Solução consensual


 Art. 22.  Parágrafo único. Obtida a conciliação, esta será reduzida a escrito e homologada
pelo Juiz togado, mediante sentença com eficácia de título executivo
  Art. 24. Não obtida a conciliação, as partes poderão optar, de comum acordo, pelo juízo
arbitral, na forma prevista nesta Lei.
2º tentativa: Solução por meio da arbitragem
 Art. 25. O árbitro conduzirá o processo com os mesmos critérios do Juiz, na forma dos arts.
5º e 6º desta Lei, podendo decidir por equidade.

3º tentativa: Solução judicial

# CRFB, art. 5º, XXXV  STF, SE 5206/Esp - Reconhece a constitucionalidade da


arbitragem.

# NCPC. Art. 3º.


Não se excluirá da apreciação jurisdicional ou lesão a direito:

§1º. É permitida a arbitragem, na forma da lei;


§2º. O Estado promoverá, sempre que possível, a solução consensual dos
conflitos.
§3º. A conciliação, a mediação e outros métodos de solução consensual
de conflitos deverão ser estimulados por juízes, advogados, defensores
públicos e membros do MP, inclusive no curso do processo judicial.

D) Juiz e árbitro
46

- Juiz: desempenha atividade cognitiva29 e atividade executiva30


- Árbitro: somente desempenha atividade cognitiva: profere a sentença arbitral, não possuindo
poder de executar a sua sentença.

Sentença arbitral = Sentença judicial


 Se não cumprir a sentença arbitral, deve-se ajuizar uma ação de execução.

A força dessas sentenças são as mesmas; caso uma das partes não cumpra a decisão do
árbitro, a outra parte pode levar sentença arbitral, que serve como documento, para ser
apresentada mediante ao Poder Judiciário que efetivará aquela sentença.

E) Natureza jurídica da arbitragem

# Corrente privatista:
A Arbitragem não é jurisdição, possui natureza obrigacional – fruto de um acordo de
vontades; meio alternativo à jurisdição. A arbitragem é diferente da jurisdição. Ela não possui
natureza jurisdicional, e sim obrigacional, afinal ela é fruto de uma convenção de arbitragem.
É na verdade um meio alternativo à jurisdição. Portanto, essa corrente fundamenta-se no
nascimento da arbitragem para determinar seu posicionamento.

# Corrente publicista: arbitragem é jurisdição, uma jurisdição não estatal. Árbitro prefere
sentença que goza de efetividade. Majoritária. Art. 337, §6º, NCPC dá uma pista de que o
legislador é adepto dessa corrente por falar de “jurisdição estatal”, abrindo margem para se
pensar que há uma outra jurisdição.

NCPC, art. 337, §6º: A ausência de alegação da existência de convenção de


arbitragem, na forma prevista neste Capítulo, implica aceitação da jurisdição
estatal e renúncia ao juízo arbitral.

# Corrente Eclética: arbitragem tem natureza jurisdicional e obrigacional. Não resolve o


problema.

29
Deferimento de sentença judicial – elaborar a lei.
30
Efetivação do Direito/sentença.
47

F) Autotutela

-É admitida no Direito contemporâneo? Sim, porém com restrições (e muitas).


-Há restrições por ser ela um meio pouco civilizado e pouco eficiente.
-Se é tão ruim, porque é admitida? Porque o Estado não é onipresente.
-Onde estão as restrições? Na Lei. Ex.: legítima defesa, estado de necessidade, desforço
imediato.
-Desforço imediato: legítima defesa da posse.
CC, art. 1210, §1º:
O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por sua
própria força, contanto que o faça logo; os atos de defesa, ou de desforço,
não podem ir além do indispensável à manutenção, ou restituição da posse.

UNIT C - PRINCÍPIOS
Observações:
Princípios = Razões legitimantes para uma ação;
Princípios = são normas.
48

I. Casos para exame

1º. O jornalista, a juíza e o galo


Foi ajuizado uma ação em face de um vizinho; o autor dizia que o vizinho tinha um galo
impertinente, cujo canto era estridente, e que cantava o dia todo.
- O barulho era anormal;
Juíza: dizendo que tinha interesse no exame da causa, foi considerada suspeita, logo,
não haveria imparcialidade – ela também era vizinha, e estava incomodada.

O jornalista, não sabendo da razão do afastamento da juíza, elaborou uma matéria criticando a
magistrada julgando ter o fato ocorrido em função da suposta irrelevância do caso.
Quem estava certo, a juíza ou o jornalista??

2º. Reconhecimento de oficio da prescrição (pode ser reconhecida ex officio).


O que significa agir de officio? E qual o seu efeito no direito processual?

3º. A Giovanna, juíza, pode decidir o processo tendo como base a testemunha ouvida pelo
repórter na TV?
Se não, como a Giovanna deveria proceder?

II. PRINCÍPIO DA IMPARCIALIDADE

1.1. Definição:

Norma segundo a qual o juiz deve ser uma pessoa que não possua interesse
na prevalência da pretensão do autor, tampouco da resistência do réu e, por
isso, conduza o processo sem prejudicar ou beneficiar indevidamente
qualquer das partes.

Tampouco = também não.

A) Representação gráfica
49

EJ
.
A R

B) Direito ao juiz imparcial


 Direito de ambas as partes – de qualquer pessoa que tenha um interesse disputado em
um processo.
 Dever do Estado em assegurar um juiz imparcial à LIDE

1.2. Mecanismos de proteção do direito ao juiz imparcial

a) Garantias e vedações constitucionais


Art. 95, CRFB.
Art. 95. Os juízes gozam das seguintes garantias:
I – Vitaliciedade, que, no primeiro grau, só será adquirida após dois anos de
exercício, dependendo a perda do cargo, nesse período, de deliberação do
tribunal a que o juiz estiver vinculado, e, nos demais casos, de sentença
judicial transitada em julgado;
II – Inamovibilidade, salvo por motivo de interesse público, na forma do
art. 93, VIII;
III – Irredutibilidade de subsídio, ressalvado o disposto nos arts. 37, X e
XI, 39, § 4o, 150, II, 153, III, e 153, § 2o, I.

- Mecanismos que visam à independência funcional 31 – servem para assegurar que o juiz não
estará sujeito à nenhuma influência externa. Reflete, portanto, na imparcialidade.
- Independência funcional = garante a imparcialidade;

- Não é privilégio, mas sim, condição para o exercício da função judicante (Luquini).
# GARANTIAS:
- CRFB, 95, I, II e III

31
Parte da doutrina declara que esses mecanismos não estão relacionados à imparcialidade, mas à independência
funcional. Contudo, embora garanta a independência, o seu reflexo é a imparcialidade.
50

 Vitaliciedade32: é uma garantia que se relaciona à ideia de aderência ao cargo público


de juiz. Quer dizer que é muito difícil um magistrado perder o seu cargo; ela tem como
efeito que o magistrado somente perde seu cargo se for ajuizado um processo
judiciário que determine por sentença a renúncia à posição.
Vitaliciedade ≠ Estabilidade33

- Como se adquire essa garantia? “Inciso I”


Para os magistrados de primeira instância, é adquirida dois anos de atividade judicante. Para
aqueles que se ingressam na segunda instância ou instância superior, a vitaliciedade é
imediata.

- Por que é uma garantia? É uma garantia necessária em decorrência das sentenças proferidas;
essa garantia faz com que os profissionais privilegiados executem sua função de forma
eficiente, caso contrário eles não “comprariam as brigas que eles geralmente compram”.

 Inamovibilidade: significa que o magistrado não pode ser removido e nem mesmo
promovido para outro órgão judicial contra sua vontade.

- Por que não? Se pudesse, imagina como isso aconteceria!


Ex.: Se o juiz que está em JF estivesse aqui no DF, blá blá blá.
 Evita ingerências externas ou ainda julgamentos que venham a beneficiar uma das
partes.
 NÃO É ABSOLUTA: o Tribunal ou o CNJ pode, desde que com a maioria absoluta
dos votos de seus membros, remover o juiz – deve-se reconhecer o interesse público.

 Irredutibilidade de subsídios
- O pagamento ao magistrado34 é caracterizado como subsídio.
- Art. 30, § 4º, CRFB.
§ 4º. O membro de Poder, o detentor de mandato eletivo, os Ministros de
Estado e os Secretários Estaduais e Municipais serão remunerados
exclusivamente por subsídio fixado em parcela única, vedado o acréscimo de
qualquer gratificação, adicional, abono, prêmio, verba de representação ou

32
Somente perde o cargo mediante sentença judicial que lhe imponha esta punição. Só é conferida à alguns
funcionários públicos.
33
Aderência menor; o servidor público perde o cargo mediante um processo judicial ou administrativo.
34
Não somente a ele!! Secretários públicos, etc.
51

outra espécie remuneratória, obedecido, em qualquer caso, o disposto no art.


37, X e XI.

- É uma parcela única; exceto quando de caráter indenizatório.

# VEDAÇÕES
- Art. 95, parágrafo único.
Parágrafo único. Aos juízes é vedado:
I – Exercer, ainda que em disponibilidade, outro cargo ou função, salvo uma
de magistério;
II – Receber, a qualquer título ou pretexto, custas ou participação em
processo;
III – Dedicar-se à atividade político-partidária;
IV – Receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribuições de
pessoas físicas, entidades públicas ou privadas, ressalvadas as exceções
previstas em lei;
V – Exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou, antes de
decorridos três anos do afastamento do cargo por aposentadoria ou
exoneração.

 Impedimento e suspeições –
Visam assegurar diretamente a imparcialidade do magistrado:
- CPC – no art. 144 encontra-se o rol de impedimento e no art. 145 o rol de suspeições.
- CPP – 252 a 254

Impedimento ≠ Suspeição
- Esses vícios se diferenciam quanto à gravidade de suas consequências: o impedimento é
mais grave que a suspeição.
- Nos casos impedimento35, com certeza o juiz será parcial, já nos de suspeição36,
provavelmente o juiz será parcial.

 Escolha do legislador:
 Gravidade das consequências/As suspeições e os impedimentos estão regulamentados
por regimes jurídicos diversos
- Suspeição = é um tratamento menos rigoroso: art. 146, NCPC.
Art. 966, II.
 Imparcialidade ≠ Neutralidade
35
Ex.: casos em que o juiz é parte no processo e sentenciador ou ainda quando sua esposa é parte no processo.
36
Juiz que julga casos de familiares e amigos. Suspeito de foro íntimo!!
52

Noção:
Imparcialidade: Equidistância do juiz entre as partes;
Neutralidade: é mais do que isso, é a santidade do juiz, pois ele não deveria ter nenhuma
preconcepção da realidade.

 É possível atingir a Imparcialidade? Sim, é um direito das partes.


 É possível atingir a Neutralidade37? Não, pois ninguém se livra de sua própria história;
todos trazemos uma série de preconcepções – temos nossas preferências políticas,
concepções ideológicas diferentes;

# Importância da consciência da impossibilidade de ati ngir-se a neutralidade .

 O problema é quando o juiz deixa que o preconceito oriente a sua decisão, por isso,
não se exige dele a neutralidade, mas ao menos a consciência da mesma.
 Tomar cuidado para que a falta de neutralidade não se transforme em parcialidade:
 A falta de neutralidade, quando não é percebida, pode implicar parcialidade.

Ler a sentença do caso do Richarlysson

OBS: Alguns autores utilizam como sinônimo os vocábulos imparcialidade e neutralidade38.

 Imparcialidade e ati vismo

ATIVISMO: possui uma pluralidade de sentidos, contudo, hoje significa uma conduta
indesejável do magistrado (sentido pejorativo);
- Serve para designar a conduta do juiz que age fora dos limites da ordem jurídica; a conduta
do juiz que inova indevidamente.
- Conduta descolada dos mandamentos impostos pela ordem jurídica.
- Conduz à arbitrariedade

Ex.: Decisão do STF que determinou a possibilidade de aborto até o 3º mês.


- Sérgio Moro!!

37
Não se exige que o juiz seja neutro, mas exige a consciência da neutralidade, de forma que ele evite que essa
falta de neutralidade influencia as decisões ou ainda não influencie completamente.
38
Gláucio adota a corrente que distingue ambas – é o pensamento dominante.
53

# OUTRO SENTIDO: Ativismo serve para designar a postura ativa do juiz na condução do
processo. Desde que já instaurado o processo, o juiz pode ter a iniciativa de determinar certas
medidas que julgue necessária.
- Iniciativa do juiz na adoção de certas medidas que se mostrem concretamente necessárias –
P. Inquisitivo.
- Produção de Provas: ao saber de um certo meio de prova que nenhuma das partes se atentou
a mostrar, ele toma a iniciativa de fazê-lo.

Indagação: A imparcialidade impõe uma conduta letárgica ao juiz ou de modo diverso ele
poderia, por exemplo, tomar a iniciativa da produção de determinadas provas?

 1º corrente: O juiz não pode determinar, ex officio, a produção de provas, porque se


ele agir deste modo, ele se tornará parcial. Estará agindo como advogado de uma das
partes, afina a prova que ele produzirá beneficiará uma das partes. A conduta do
magistrado, em última análise, beneficia uma das partes. HÁ PARCIALIDADE.

 2º corrente: Sim, o juiz pode determinar, ex officio, a produção de provas.


- O juiz não se torna parcial por isso, pois no momento em que o juiz determina a produção de
prova, ele não sabe a quem beneficiará. O magistrado adota uma postura ativa para buscar a
verdade da realidade sensível. A sua conduta não é dirigida ao benefício de uma das partes,
mas em prol da solução do processo.

- Barbosa Moreira: a questão não pode ser analisada sob as luzes da parcialidade, afinal, se
adotássemos a primeira corrente, também teríamos de admitir que o juiz sabendo de
determinada prova, e não a decretando ex officio, seria também parcial, pois beneficiaria a
parte contrária. Devemos, portanto, deixar que o magistrado tome a iniciativa probatória se
esta for a opção do legislador. Para assegurar a imparcialidade, é necessário que a prova seja
produzida com a participação das partes (o controle se faz por meio do contraditório e da
ampla defesa).

CPC, art. 370 –


54

Caberá ao juiz, de ofício ou a requerimento da parte, determinar as


provas necessárias ao julgamento do mérito.
Parágrafo único: O juiz indeferirá, em decisão fundamentada, as
diligências inúteis ou meramente protelatórias.

CPP, art. 156.


DOUTRINA – há uma forte tendência à adoção da primeira corrente: ex.: Auri Lopes Jr. e
Jacinto Miranda Coutinho.

OBS: alguns doutrinadores designam ao juiz que não é ativo a característica de neutro.

III. Princípio do Juiz Natural:

1. Denominação:

NATURAL

CONSTI- JUIZ OU COMPETEN


TUCIO-
NAL JUÍZO -TE

LEGAL

Juiz ≠ Juízo
55

Juiz: pessoa natural – é o agente público que ocupa determinado cargo na magistratura
responsável pela função jurisdicional.
Juízo: é um órgão. É um órgão jurisdicional presidido pelo juiz.

Ex.: 4 juízos – 1º Vara39, 2º Vara40, 3º Vara41 e Juizado Especial42.

Órgão = é um feixe/conjunto de competências;


Ex.: 3º Vara de Viçosa é um órgão que integra a pessoa jurídica Estado de Minas Gerais.

Órgão ≠ entidade

Órgão: não possui personalidade jurídica43.


Entidade: é uma pessoa jurídica44.

Órgão e sub órgão

Um órgão pode se dividir em sub órgãos, assim como um conjunto pode se dividir em
subconjuntos. E um sub órgão é tão órgão quanto (...). Vale dizer: o sub órgão está sujeito
ao mesmo regime jurídico que o órgão.

 Juiz difere de juízo. Juiz é o agente público que ocupa determinado cargo na
magistratura, ele é então uma pessoa natural responsável pela função
jurisdicional. Juízo é um órgão jurisdicional presidido pelo juiz.
Exemplo: em viçosa, considerando a justiça estadual, temos 4 juízos: a primeira vara, a
segunda vara, a terceira vara e o juizado estadual cível e criminal. Nestes trabalham diversos
agentes públicos, sendo um deles o juiz.
As pessoas diferem esse termo pois esse princípio é muito rico e ora se relaciona a
figura do juiz ora ao juízo.

39
Competência Civil
40
Competência Civil
41
Competência Criminal
42
Competência Civil e Criminal de menor potencial ofensivo – cuja pena cominada não seja superior a 2 anos.
43
Ex.: Departamento de Direito
44
Ex.: UFV
56

 Sentido:
 Definição: norma segundo a qual todo processo deve ser presidido pelo respectivo
juiz natural.
 Juiz natural: aquele cuja competência resulta, no momento do fato, das
normas legais abstratas.

 Competência: é conjunto de atribuições conferidas pela lei45 a determinado


órgão jurisdicional.
Designa os limites dentro dos quais certo órgão jurisdicional está autorizado pela ordem
jurídica a desempenhar a função jurisdicional.
- Conceito que se liga à ideia de divisão do trabalho – necessidade de se criarem diversos
órgãos, dividindo-se entre eles, a função jurisdicional.
- Visa concretizar o princípio da eficiência – CRFB, art. 35, “caput” e NCPC, art. 8º.

Art. 8º, NCPC: Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins
sociais e às exigências do bem comum, resguardando e promovendo a
dignidade da pessoa humana e observando a proporcionalidade, a
razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência.

Divisão do trabalho
| visa o |
Princípio da Eficiência

Juiz natural para um dado processo é aquele apontado pela ordem jurídica como competente
para o mesmo, e para que se evite a criação de juízes tendenciosos, as normas a serem
aplicadas devem ser aqueles que que estavam vigentes no início do processo. Criação de um
juízo sabendo quais são suas tendências.

 Exame analítico do conceito de Juiz/juízo NATURAL

1º ideia: juízo natural é um órgão que exerce a função jurisdicional;

 É a Constituição que realiza a repartição de tarefas/funções entre os


diversos órgãos que integram o Estado. É um órgão que recebeu da
Constituição a atribuição de desempenhar a função jurisdicional.

45
(Sentido amplo – ordem jurídica)
57

Constituição
| delega ao |
Juiz Natural
|
Órgão que desempenha a função jurisdicional

Art. 92, CPJ


Art. 52, I, SF.
O Poder executivo não exerce a função jurisdicional
2º ideia: juízo natural é um órgão que possui competência jurisdicional
para um dado processo;

 Um passo para a concretização da competência: para examinar se o


princípio do juiz natural está sendo observado, não basta que o órgão
que aprecia o processo seja dotado de atribuições jurisdicionais.
 Legislação infraconstitucional

É necessário que a ordem jurídica atribua a determinado processo certa competência. A


divisão de trabalho é para que nenhum órgão invada a competência do outro, ficando sempre
dentro de seus limites. Daqui extrai-se que juiz natural é um juízo competente examinando
caso a caso.

Ex.: Juizado estadual especial civil = não permite que pessoas jurídicas de Direito público
sejam parte no processo. Logo, a UFV não poderia ser parte em processos que tramitem no
juizado especial. Deveria ser ajuizada uma ação perante o juiz federal.

3º ideia: juízo natural é o órgão indicado como competente pelas normas


vigentes no momento do fato;

 Sua aplicação se encontra na seara Penal, pois lá existe um risco maior;


essa ideia veda a chamada alteração de competência post factum:
finalidade: assegurar um julgamento imparcial/proibir a alteração de
competência para proibir que se dê uma sentença parcial.
58

Competência da Justiça Militar: Leia o Código Penal Militar art. 9º:


Parágrafo único.  Os crimes de que trata este artigo quando dolosos contra a
vida e cometidos contra civil serão da competência da justiça comum,
salvo quando praticados no contexto de ação militar.

O problema é tentar a nova norma à fatos que ocorreram antes dessa alteração – logo, o juízo
natural impede essa alteração.

4º ideia: juiz natural é o juiz que integra o juízo natural;

 Garantia da inamobilidade: o juiz titular do juízo é quem deverá julgar;


não é legítimo afastar o juiz efetivo e substituí-lo por outro.
 A remoção excepcionalmente é possível, art. 93, VIII. Mas a princípio, o
juiz titular o processo é quem julga.

 COROLÁRIO: proibição dos juízos ou tribunais de exceção.


Juiz/juízos de exceção: são criados post factum, isto é, criados após a prática do fato, seja para
um caso isolado, seja para diversos casos particulares individualmente determinados.
Juízos encomendados.
Juízos AD HOC46

 FUNDAMENTO do princípio do juiz natural:


- CRFB, 5º, LIII e XXXVII
- Princípio da imparcialidade: assegurar um julgamento imparcial. Por que duvidar da
competência do Sérgio Moro? Pois, aparentemente, ele está julgando com parcialidade, ele
tem interesse no caso.

IV. PRINCÍPIO DA ISONOMIA/IGUALDADE

46
Juízes para este fim.
59

1. Sentido: norma segundo a qual as partes do processo devem receber, tanto da lei
quanto do Estado juiz, tratamento paritário (igualitário, isonômico), possuindo as
mesmas oportunidades de pugnar por suas pretensões em juízo.

# Estabelece igualdade NA LEI (foco na criação) e PERANTE A LEI (foco na aplicação).

O princípio manda uma mensagem para o legislador e outra para o juiz. A ordem dirigida ao
Estado legislador é a de que ao criar normas jurídicas, deve-se conceder tratamento
paritário aos diversos sujeitos de direitos, ou seja, não pode haver desigualdades
discriminatórias.
Da mesma forma, a mensagem dirigida ao juiz estabelece que a aplicação da norma
jurídica, deve-se observar a igualdade entre os jurisdicionados, não deve estabelecer
distinções discriminatórias, embora possa estabelecer distinções que visem à igualdade.

2. Fundamento:
# CRFB, preâmbulo
# CRFB, art. 3º, III e IV
# CRFB, art. 5º, “caput”.
#NCPC, art. 139, I.
O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste código,
incumbindo-lhe:
I – Assegurar às partes igualdade de tratamento.

3. Igualdade formal X Igualdade substancial (material)

FORMAL SUBSTANCIAL
Proporcional – Material –

Sentido: tratar os desiguais de modo


* É tratar todas as pessoas de forma desigual, de forma a compensar as
absoluta e irrestritamente igual. respectivas desigualdades.
* Todas as pessoas são iguais
* Típico de um Estado Liberal Premissa: as pessoas não são iguais,
logo para evitar injustiças é necessário
Ex.: na relação de trabalho não há dispensar a elas um tratamento
dúvida de que há um elo mais fraco. desigual.

Estado: Social
60

4. Exemplos de aplicação:
# Lei 8.078/90, art. 6º:
VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do
ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for
verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras
ordinárias de experiências

# NCPC, art. 46, “caput”:


A ação fundada em direito pessoal ou em direito real sobre bens móveis será
proposta, em regra, no foro de domicílio do réu.

Estabelece regra de competência fundamentada na competência territorial: a princípio, as


ações devem ser ajuizadas no foro (comarca) de domicílio do réu;

# NCPC, art. 53, II.


Também estabelece regras de competência: ação de alimentos
Determinando que é competente o foro (comarca) em que estiver domiciliado o alimentando
na ação em que se pedem alimentos (parte da premissa de que o autor está em piores
condições do que o réu).

# NCPC, 7247: apresenta os casos em que o juiz poderá indicar um curador especial.
Curador48 especial – representante que o juiz nomeia para uma as partes; atua apenas naquele
processo para o qual foi nomeado. Ao contrário do curador de incapaz, limitam-se ao
processo em que o curador especial atuará. O juiz somente pode indicar o curador nos casos
previstos em lei.

REVELIA: ausência de apresentação de contestação dentro do prazo legal de um


processo.

 Prazo em dobro – NCPC:


# 186, “caput”: a pessoa representada pela defensoria pública -
# 186, §3º: escritórios modelos – conta com o trabalho de professores.
# 183, “caput”: advogados da Fazenda Pública.

47
IMPORTANTE
48
Serve para assistir o incapaz
61

# 180, “caput”: Ministério Público – procurador – etc.

Determinados sujeitos teriam prazo em dobro para praticar qualquer ato no processo:
Ex: o prazo para contestar será de 15 dias, mas caso não haja contestação, o prazo será de 30
dias – respeita o princípio da Isonomia.

 Dificuldade de se equilibrarem os litigantes.


 Fazenda Pública como super parte e EC 32/2001 (CRFB, 62, §10, “b”).
 A FP possui muitas prerrogativas que a colocam em posição vantajosa em relação às
outras partes desequilibrando, assim, o princípio da isonomia.

[CPC/1973, art. 100, I X NCPC/15, 53, I]


 Não há normas ditadas mais em função do gênero, privilegiado a mulher.
Art. 37, CRFB: princípio da impessoalidade que se equipara ao princípio da imparcialidade.

V. PRINCÍPIO DA AMPLA DEFESA

- É MUITO RICO,
- Confunde-se com outros princípios. Seu conceito contém uma parcela de cada um desses
princípios.

VI. PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO

- É um dos mais, senão o mais, importantes princípios do Direito Processual, encontra-se no


centro do conceito de processo, em seu modo de agir, perfeitamente delineado pela
constituição.
- É O SOMATÓRIO DOS 5 ASPECTOS49 ABAIXO:

 ASPECTOS

49
Cada um indica um passo da evolução do princípio do contraditório ao longo do tempo. Dessa forma, o
princípio não se resume a nenhum aspecto em particular, mas é o resultado de todos.
62

1. Bilateralidade da audiência:
- Se uma parte se manifesta no processo, a outra deve ser ouvida. Enfim, se algo de novo é
trazido ao processo, a parte contrária deve ter a oportunidade de se manifestar (possibilidade
de alegar e provar) sobre a novidade apresentada.

2. Paridade de armas:
- O processo tem que ser uma briga em que as partes tenham condições de brigar de forma
equivalente.
- As partes devem ter as mesmas oportunidades dentro do processo.

3. Manifestação técnica do princípio do contraditório


Sérgio La china: “ O princípio do contraditório articula, em suas manifestações técnicas, dois
aspectos ou tempos essenciais: informação, reação; necessária sempre a primeira, eventual a
segunda (mas necessário que se torne possível!) ”.
C = I + R.

 INFORMAÇÃO: existem dois atos processuais que são atos de informação,


comunicação, esses dois atos são: CITAÇÃO E INTIMAÇÃO50.

- São previstos pela ordem jurídica com o objetivo de concretizar o contraditório.


Servem para levar ao conhecimento de determinadas pessoas o conhecimento sobre
determinado processo, concedendo a elas oportunidade para reagir diante da informação
apresentada

. Citação: o réu deve ser devidamente citado, ou seja, comunicado da existência do processo,
geralmente por meio do oficial de justiça.

# Incorpora o réu ao processo


# NCPC, 238.
# Oferece a oportunidade do réu de se manifestar contra a citação.
# Um réu, uma citação.
# A citação ocorre uma vez no processo.
50
Atos processuais que se enquadram na categoria jurídica de atos processuais de informação.
63

1º momento: Demanda: ato pelo qual o autor ajuíza uma ação em prol da sua pretensão –
surge um vínculo entre o Estado-juiz e o autor.
2º momento: realiza-se a Citação;

Demanda ---- (análise da demanda pelo juiz51) ---- Citação ---- (audiência de C/M) ----
Contestação ---- (intimação) ---- Réplica ---- AIJ ---- Sentença ---- (intimação).

. Intimação: âmbito de atuação residual; é utilizado para realizar a informação dentro do


processo desde que não seja o caso de se utilizar a citação.
# Residual
# Destina-se a alguém
# NCPC, art. 269.
# Pode ocorrer várias vezes no processo.

Para que o contraditório se efetive, é necessário que haja informação!!!!

 REAÇÃO:
Reação é a manifestação daquele que foi citado ou intimado.

PROCESSO CIVIL PROCESSO PENAL

Em regra, a reação, ou seja, a manifestação, é Em regra, a manifestação é REAL


EVENTUAL. (obrigatória).

O sujeito pode optar pela inércia; o réu pode # CPP, art. 261 e 263.
escolher entre se defender ou não, pois o que se # Súmula 523 e 708, STF.
está em jogo são interesses disponíveis. A
grande massa de processos refere-se a causas Se o réu for revel, o juiz nomeará um
patrimoniais. advogado independentemente da forma que
A citação vincula o réu ao processo de modo tal tenha sido realizada a citação.
que a mesma se sujeita à sentença do juiz.
Se o réu é revel, não se presume a
51
Se estiver okay, o processo segue – O juiz deve proferir a decisão liminar.
64

CULPA, a ele será nomeado, por outro


Se o réu não apresenta a contestação ocorre a lado, um advogado que tem o dever
REVELIA (ausência de apresentação jurídico de realizar a defesa. Isso ocorre,
tempestiva da contestação pelo réu – em regra, o pois o que está em jogo é um DIREITO
réu tem 15 dias para apresentar a contestação). INDISPONÍVEL, que é o direito à
liberdade.
Efeitos da REVELIA = art. 344, NCPC:
presunção de veracidade das alegações O contraditório tem que ser EFETIVO.
formuladas pelo autor. Presume-se que a
narração dos fatos contidas na petição inicial O defensor tem que apresentar todos os
seja verdadeira. argumentos possíveis; não se pode
transigir!!
O réu tem a faculdade de reagir diante da
citação!!

Exceção: há situações em que a reação deverá


ser REAL.
NCPC, art. 72:
Curador especial: representante que o juiz dá a
uma parte do processo que se encontra em uma
situação de extrema desvantagem.

Ex.: Citação por edital (criando a mera


presunção de que o réu tomou conhecimento da
citação – o juiz nomeará um curador especial
para apresentar a reação.

C = I + R (eventual) – Processo CIVIL


C = I + R (certo e real) – Processo PENAL.

4. CARÁTER DIALÉTICO DO PROCESSO


Percepção ligada ao platonismo;
Dialético ~ Diálogo52.
O que caracteriza o processo  o Diálogo.
O processo constrói decisões a partir de um diálogo intenso, equilibrado e real entre os
sujeitos que dele participa.

52
O diálogo faz parte da essência do processo, pois permite que o contraditório se faça presente dentro do
processo, e o que é o contraditório se não um dos princípios mais importantes do Direito Processual. O
contraditório é a essência do processo, logo, o diálogo também se caracteriza como essência do processo.
65

5. CONTRADITÓRIO SUBSTANCIAL ou PARTICIPATIVO

# Direito à participação eficiente/ direito de influência – deixara falar e não levar em


consideração o que foi dito é a mesma coisa de não deixar falar. Ex.: Impeachment da Dilma
– GOLPE (não houve respeito ao direito de ser ouvido).

# Direito de ser ouvido e não apenas de falar.


# Matérias apreciáveis de ofício.

6. Princípio do Contraditório

- O contraditório está relaciona à ideia de Direito à participação eficiente, ideia do direito de


ser ouvido, e não apenas do direito de falar.
- Esse 5º aspecto além de envolver as ideias referentes ao direito de participação eficiente, ou
seja, ao direito de ser ouvido, mas também ao direito de não surpresa 53 (o processo não pode
ser um espaço para surpresas). A parte deve ter sempre a oportunidade de argumentar,
influenciar esta decisão.

 NÃO SURPRESA – O PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO VEDA A SURPRESA.


Significa que a parte deve ter a oportunidade de se manifestar sobre determinada questão que
seja relevante para a decisão judicial antes que esta seja proferida.
Tem uma repercussão importante em relação àquelas questões em que a lei autoriza o juiz a
manifestar-se de ofício sobre determinada questão.

 Manifestar-se de ofício não significa manifestação sem ouvir os


interessados. A lei confere ao juiz a possibilidade de ter iniciativa
própria de trazer determinada questão ao debate processual sem
motivação das partes, abrindo espaço para ambas discutirem a pauta
apresentada pelo magistrado.

Essa manifestação de ofício exige um processo em andamento.


53
66

 Fundamento normativo:
Princípio do Contraditório: CRFB, art. 5º, LV: determina que no processo judicial e
administrativo serão observados os princípios do contraditório e da ampla defesa com todos
os recursos a ela inerentes.

O que significa o princípio do Contraditório?


 NCPC, 9º e 10 (esclarece a expressão de ofício).

- Contraditório diferido – contraditório ADIADO:


Diferir: É ADIAR, POSTERGAR.
O juiz, em regra, deve a princípio ouvir a parte antes de sentenciar, contudo, há situações em
que o juiz pode decidir primeiro sem ouvir a parte, abrindo espaço posteriormente para a parte
ser ouvida.

Ex.: Uma pessoa realiza uma inscrição para participar de um concurso público (ex.: delegado
federal – há prova física). Imaginem que na prova física, o resultado não foi favorável ao
candidato. Não obstante, o mesmo havia filmado a sua prova comprovava que ele não tinha
ultrapassado o limite de 2 minutos da prova.
O candidato ajuíza uma ação pedindo uma tutela de urgência para que possa fazer a segunda
fase, que seria no dia seguinte. Nesse sentido, ele pede uma sentença com o contraditório
diferido.

Para assegurar a utilidade do processo, a lei permitiu a mitigação do contraditório. VALE


DESTACAR QUE ESSAS SITUAÇÕES SÃO EXCEPCIONAIS.

 Importância:
 Contraditório: elemento definidor do instituo jurídico.
 Hélio diz que o processo é o procedimento realizado em contraditório;
 Processo: é um tipo de procedimento que observa o contraditório.
 A sentença judicial é legitimada a partir da observação do contraditório.
67

7. Princípio da demanda
- Princípio da ação ou Princípio da inércia da jurisdição

 O que é?
É a norma jurídica consoante a qual o Estado não exerce a jurisdição de ofício, sendo
necessária sua provocação pelo interessado.

SEM A DEMANDA A JURISDIÇÃO NÃO É EXERCIDA!!!


O processo só nasce se nascer a provocação do interessado – o processo decorre do ato de
levar a pretensão à juízo pelo interessado.
Lide: conflito de interesses qualificado pela pretensão resistida!!!!

- O juiz não pode de ofício dar origem ao processo.

 Fundamento jurídico
 Princípio da IMPARCIALIDADE.
 Fundamento legal:
 NCPC, 2º
 CPP, 24, 28 e 30.

Exceções:
 CPC/73, art. 989.
Enumerava os legitimados para instaurar o processo de inventário ou partilha.
A exceção para o juiz instaurasse de ofício o processo de inventário, decorre do interesse do
Estado na partilha dos bens do falecido, haja vista o imposto que incide sobre esses bens que
serão partilhados.
NCPC – exclui essa possibilidade!!!!

 Habeas Corpus de ofício. CPP, art. 654, §2º.


HC: Garantia fundamental constitucional que se encontra no art. 5º, LXVII da CRFB. Quem
sofre violência ou grave ameaça de violação a seu direito de ir e vir, e se essa violência
decorre de um ato ilegal ou de abuso de poder, essa pessoa pode impetrar uma ação de Habeas
68

Corpus, pedindo que o judiciário o proteja contra essa ameaça, permitindo que ele vá e venha
livremente.
 HC de ofício: na pendência de um processo judicial, o juiz ou um
tribunal percebendo que uma pessoa está sofrendo uma violação ao seu
direito de ir e vir, pode de ofício conceder o HC em favor da vítima.

Embora o judiciário esteja estabelecendo um HC de ofício, há um processo pendente.


Com isso, seria essa exceção uma verdadeira exceção ao princípio da demanda? Fica a
dúvida!

 Fredie Didier Jr.


NCPC: 536; 538; 977, I; 948 e 951.
Gláucio não acredita que sejam exceções, pois são inciativas apresentadas dentro de processos
em andamentos.

 Princípio da Congruência:
- Corolário do Princípio da Demanda.

 Denominação
- Princípio da correlação entre petição inicial e sentença.
- Princípio da adstrição da Sentença ao Pedido

 Sentido:
É a norma jurídica consoante a qual o pedido formulado pelo autor em sua petição inicial
determina os contornos do mérito do processo e, por conseguinte, os limites que deverão ser
observados pela sentença.

 Fundamento jurídico:
69

Ex.: a Laura demanda (ato do autor de provocar a máquina do Estado) uma ação em juízo em
favor da Carolina. Ela pede a condenação da outra parte em função dos gastos decorrentes do
acidente e dos danos morais.
P1 S1 (perdas)
PI: 
P2 S2 (danos morais)
S3 (danos estéticos) – não houve provocação em detrimento desta
sentença

S3 – sentença decretada de ofício.

 Princípio da Demanda:
O juiz só pode exercer a jurisdição quando provocado!!! Não houve provocação pela Laura
em função dos danos estéticos, logo, a jurisdição não poderia ser exercida em favor dos danos
estéticos.

 Princípio do contraditório

Não foi possível promover um debate em relação a essa sentença (haja visto que não fora
provocado) – logo, rompe com o princípio do contraditório.

 Fundamentos legais:

NCPC, 141, e 492, “caput”.


CPP, 383, “caput”. Os fatos a princípio não podem ser alterados pelo juiz sem possibilitar a
parte de reagir; diferença: o juiz não está vinculado ao pedido, mas aos fatos narrados.

8. Princípio dispositivo e Princípio da livre investigação das provas54


- Questão fundamental
- Princípio dispositivo
 Sentido:
Norma jurídica
Exclusivamente
54
Quem tem a iniciativa das provas?
70

Partes
Iniciativa das partes – procedimento probatório

OBS:
 Princípio da livre investigação das provas

 Sentido:
- Norma jurídica
- Juiz
- Partes

OBS:

 Princípio inquisitivo (inquisitório)


- Princípio da livre investigação das provas
- NCPC, 370
- CPP, 156

OBS: Processo penal: modelo de processo


A Iniciativa do processo não pode caber ao juiz
Modelo acusatório
Modelo: O fato de o juiz ter a iniciativa da produção de provas não
descaracteriza o modelo acusatório
Modelo inquisitório

 O juiz deve transformar-se em um detetive?


R: Nope!

 Verdade real (material) e verdade formal

M: verdade verdadeira – realidade sensível


71

V
F: resulta dos autos do processo, do conjunto probatório (prova testemunhal,
documental, etc.). Tenta recontar a história ao juiz – as provas levam aos autos do processo
um recorte da realidade (podendo ou não corresponder à realidade).

Situação ideal: reproduzir nos autos do processo o que de fato ocorreu no mundo sensível.
VM = VF.

É correto afirmar que apenas o Processo Penal se preocupa com a Verdade Real?

Processualistas civis: tanto o PP quanto o PC buscam a realidade real, pois buscam a justiça.
E para se chegar à justiça é preciso de fato saber o que aconteceu.

PP: possui um menor de grau de tolerância diante do descompasso entre verdade real e
verdade formal. Como assim? No PP o que está em jogo é a liberdade, direito
indisponível/fundamental, o processo penal deve proteger esse direito de forma especial.

PC: Como não está em jogo o valor da liberdade, a tolerância é maior.


É possível descobrir a verdade?
É possível que seja revelada a verdade, mas não é possível que o juiz tenha a absoluta certeza
de que chegou à verdade real.
- Conjunto probatório = recorte da verdade – atividade de recontar uma história, mas nem
sempre é recontada com precisão.

9. Princípio da persuasão racional


O juiz somente pode se basear em provas que estejam no processo;
O juiz tem que apresentar os motivos que o levaram a valorar as provas de uma determinada
prova.
72

Questão fundamental: uma vez tendo sido incorporada as provas aos autos do processo, como
o juiz deverá valorá-las?

 Livre convicção
 Persuasão racional: prevalece no Direito Brasileiro
 Sistema da prova legal

 A confissão é a rainha das provas, mas a prova testemunhal é a prostituta das provas (tem
menos valor).
 Sistema de prova legal: A lei diz como as provas deverão ser valoradas
 Hierarquia legal dos meios de prova
 Juiz = autômato
 Formalismo > Justiça
 Resquício: NCPC, 406 – CC, 108 e CC, 1.653.

 Sistema da livre convicção (Sistema do julgamento secundum conscientizam):


O juiz é quem determina como as provas deverão ser valoradas.

Regras:
1º. O juiz não está sujeito à regra alguma na valoração das provas.
2º. O juiz pode inclusive basear-se em elementos de provas que não foram trazidos aos autos
do processo.
Crítica: gera insegurança jurídica, uma vez que viola o princípio do Contraditório.
Se o juiz pode se basear em uma prova externa ao processo, as partes não poderão tecer
argumento algum.

Resquícios: TRIBUNAL DO JURI.


- A decisão é proferida por um corpo de jurados composto por 7 jurados. Eles decidem sobre
as questões de fato respondendo uma série de quesitos, e depois o juiz de direito com base
nessas questões aplicam o direito ao caso concreto.

Os jurados não precisam motivar as suas ações!!


73

 CPP, art. 593, §3º parte final.

 Sistema da persuasão racional - Sistema da livre convicção motivada.

 É diferente do sistema da livre convicção: o juiz somente pode utilizar provas


que estejam nos autos e que, portanto, tenham sido submetidas ao crivo do
princípio do contraditório.
O que não está nos autos não está no mundo!!!

 A decisão do juiz ao valorar as provas deve ser MOTIVADA – motivação da


valoração. O juiz deve fundamentar as suas decisões.

 Diferença em relação à Prova legal: não há hierarquia entre os meios de prova


– o juiz atribuirá à prova o valor que concretamente ela mereça receber.
- NCPC, 371 e 479.

Comentário Breve: Lênio Streck:


Lênio é um feroz crítico ao princípio da livre investigação das provas. O “livre’ dá ensejo à
prevalência do subjetivismo do juiz (arbitrariedade).

Gláucio: a crítica do Lênio se dirige ao segundo aspecto (prova legal) e não ao terceiro.
Lênio tem birra com o vocábulo livre.

10. Princípio da motivação

A) Sentido:
É a norma jurídica consoante a qual o juiz possui o dever de apresentar os fundamentos de
toda e qualquer decisão que venha a proferir.

O que significa o vocábulo “fundamentos”: é fazer constar do conteúdo da própria decisão o


raciocínio percorrido pelo juiz para chegar à solução que chegou: a partir do exame das
questões de fato e de direito.
74

 Solução das questões de fato: é como valorou o conjunto probatório (prova


testemunhal, pericial, documental = FATOS)55.
Há fundamento quando a divergências acerca dos fatos é estabelecida por meio das provas.

 Solução das questões de direito: é como o juiz selecionou e interpretou os


textos normativos aplicados;
- Deve explicar o porquê!
- Tem que dizer como ele interpretou o texto normativo; por que ele possui o sentido dado
pelo magistrado (a norma é o resultado da interpretação do texto normativo). Como ele
extraiu essa norma.

B) FINALIDADE
i) Permitir o controle da aplicação de outros princípios
- Quais?
- Persuasão racional: o princípio da motivação verifica se o juiz se baseou apenas nas provas
documentadas nos autos.
- É pela motivação que se verifica a LEGITIMIDADE dos motivos que levaram o juiz a
atribuir maior valor a uma prova que a outra.

Ex.: Se o Luca e o Ivan são testemunhas, e ambos prestam declarações em sentido


antagônicos, o juiz deve argumentar por que um testemunho se apresenta mais fidedigno do
que o outro. Há uma averiguação da racionalidade jurídica.

- Ampla Defesa56 e do Contraditório:


. A motivação verifica se o juiz ouviu as partes;
. Verifica se o juiz considerou todos os argumentos relevantes apresentados por ambas as
partes;
. Ele só terá ouvido as partes se tiver refutado ou contemplado todos os argumentos
relevantes.

55
Demonstram quais fatos ocorreram no caso em questão. Prova é a demonstração de que fatos ocorreram.
56
A parte tem o direito de produzir provas favoráveis à sua pretensão – direito de ser ouvida.
75

. Examina se houve uma análise completa de todo o conjunto probatório.


Do contrário, o juiz não estaria ouvindo a parte.

Pelo princípio da motivação, realiza-se o controle de legitimidade da decisão!


- O controle da racionalidade jurídica da decisão, da aceitabilidade da decisão. Será aceitada
se tiver sido proferida se estiver de acordo com o ordenamento.

- Os princípios estão intimamente ligados – quando se transgride um princípio, afeta-se o


outro.

ii) ASSEGURAR A POSSIBILIDADE DE EXERCÍCIO EFICIENTE DO DIREITO DE


RECORRER

Direito que o interessado possui de recorrer à decisão – ex. apelação – encaminhando a lide
para um tribunal superior, reexaminando-o.
- A motivação facilita à parte prejudicada o direito de recorrer contra a decisão do juiz.
- A exigência da motivação permite um exercício mais eficiente do direito de recorrer.

iii) FUNDAMENTO LEGAL/NORMATIVO


O princípio da motivação está previsto na CRFB, 93, IX; NCPC, 371 e 489, II, §§ 1º e 2º.
- Todas as decisões devem ser fundamentadas sob pena de nulidade; CRFB
- Estabelece a estrutura da decisão; NCPC.

iv) Falsa Motivação


Pena de nulidade
 NCPC, 489, § 1º:
Não se considera motivada a sentença que, por exemplo, invoque um conceito vago 57 sem
dizer o porquê de sua aplicação ao caso concreto.
O JUIZ TEM O DEVER DE ARGUMENTAR

11. PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE


A) Sentido:
Norma jurídica consoante a qual os atos do processo são públicos (não secreto – não sigiloso);
57
Cláusulas gerais e conceitos jurídicos indeterminados
76

B) Consequências:
 Os autos do processo também são públicos.
Atos do processo = atos jurídicos praticados por todos os sujeitos envolvidos no processo –
formam o procedimento, encadeamento lógico e sistemático do processo; ex.: atos de
contestar, julgar, coletar depoimentos etc.
X
Autos do processo = são o fascículo que documenta os atos do processo, uma vez que todos
os processos devem ser documentados.

 As audiências a princípio são públicas;

C) Finalidade (controle)
A publicidade tem por fim o controle popular do desempenho da função jurisdicional.
 A finalidade é permitir o controle popular para por via reflexa assegurar o princípio da
imparcialidade.
É mais fácil ser parcial em segredo!!!

O segredo é ruim, pois abre margem para decisões parciais, mas também o excesso de
publicidade auxilia na condução de decisões parciais. Sobretudo em um mundo que a mídia
exerce grande influência. O excesso de publicidade exerce pressão sobre o juiz, as
testemunhas etc., haja vista temerem desagradas o público com medo de sofrer retaliações.

A publicidade é necessária para assegurar a imparcialidade, mas deve ser feita de modo
moderado, equilibrado.

D) Fundamento normativo:
 CRFB, 5º, LX e 93, IX.

Estabelecem que a lei pode restringir a publicidade (casos de segredos de justiça/sigilo) em


determinadas situações para proteger o interesse social e a privacidade das partes.
Há publicidade, contudo, não é ampla. Há uma publicidade restrita, limitada às partes
e aos advogados.
77

 NCPC, 189. O processo é público, mas pode correr em segredo os casos: CPP,
792 e CLT, 770. (LER PARA A PRÓXIMA AULA).

12.Princípio do duplo grau de jurisdição

 Sentido
 NJ – prejudicado – DJ – recurso – órgão superior – reexame
 Fundamentos:

i. HISTÓRICO: VT, êxodo, cap. 18: 18-27


ii. ORDEM PSICOLÓGICA:
É próprio do ser humano querer uma segunda opinião; os recursos têm a finalidade de
assegurar uma segunda manifestação e com isso facilitar a pacificação, porque tornam mais
provável a submissão do vencido à decisão judicial.
iii. ÉTICO:
A doutrina afirma que os tribunais possuem melhores condições de proferir decisões
justas; uma decisão proferida por um tribunal tem mais chances de ser justa do que uma
decisão proferida por um juiz singular de primeira instância – os tribunais se manifestam por
órgãos colegiados; os magistrados que integram os tribunais são, normalmente, mais
experientes de forma que leva a uma maior experiência da jurisprudência e da vida
propriamente dita.
Por outro lado: os tribunais não têm contato direto com as provas – as testemunhas.

iv. POLÍTICO:
Está ligado ao controle do exercício do poder, pelo fato do judiciário exercer uma parcela do
poder do Estado – função jurisdicional e todo poder deve ser controlado.

v. LEGAL:
- A legislação infraconstitucional discrimina minuciosamente o grau de jurisdição;
Ex.: NCPC, 994 e segs.
78

- CRFB? – Não há previsão expressa da garantia do duplo grau de jurisdição como direito
fundamental, mas a doutrina declara que há essa garantia implicitamente. Prevendo a
existência de tribunais ela confere a eles competência recursal e, portanto, o duplo grau (ao
atribuir competência recursal, ela prevê o princípio do duplo grau).
Ex.: art. 102, II (rec. Ordinário) e III (rec. Extraordinário); art. 105, II (rec. Ordinário) e III
(rec. Especial); art. 108, II; art. 121, §40.

- CADH (pacto de San José da Costa Rica): art. 8, item II, “h”.
Qual a natureza dessa norma?
- Parte da doutrina estabelece que esta norma é uma norma que tem um status tal que dela
surge um direito fundamental. Logo, ela teria natureza constitucional? Sim, pois o art. 5º, §2º,
CRFB
Estabelece que além dos direitos fundamentais, existem outros dispersos pela CF e pelos
tratados internacionais.
- EC 45/2004: CRFB §3º: os direitos fundamentais veiculados por tratados ou convenções
internacionais, terão status constitucional desde que sejam aprovados por quórum qualificado.
 Passou-se a ser previsto de forma expressa o duplo grau de jurisdição com o CADH;
prevaleceu no supremo que tendo esta norma sido incorporada segundo o §2º, a natureza dela
é supralegal (abaixo da CRFB e acima das leis).

- Norma absoluta?
* Não
* Exceções: Lei 6.830/80, art. 34.
CRFB, 102, I, “a”, Lei 9.868/99, 26.
- Nas decisões proferidas pelo STF, não cabe recurso (pois não há nenhum órgão superior ao
STF).

 Provocação e recurso
Assim como é necessária a provocação para se iniciar o processo (e essa provocação se dá por
meio da demanda), também é necessária a provocação para que o processo tenha uma
sobrevida em uma instância superior (e essa provocação se dá por meio de um recurso).
Cabe ao interessado em provocar ou não o judiciário!
79

 Há situações em que há duplo grau, porém sem recurso = reexame necessário (casos
de remessa necessária). Duplo grau obrigatório.
Ex.: NCPC, art. 496; Lei 12.016/2009, art. 14, §1º.
NCPC – determina que as sentenças que condene a União ou qualquer autarquia a pagar um
valor superior a 1000 s.m, estão obrigadas ao duplo grau de jurisdição, mesmo que a União
não entre com recurso.
- São situações excepcionais.

13.Princípio da cooperação

 Norma jurídica consoante ao qual os sujeitos do processo devem colaborar para


que se chegue a uma solução justa, efetiva e tempestiva do mérito do processo.

Deste princípio decorre deveres para todos os sujeitos do processo; todos devem colaborar
para que se alcance um resultado, uma sentença, justa, efetiva e tempestiva.

- Foi previsto pela primeira vez com o NCPC – art. 6º: todos os sujeitos do processo devem
colaborar entre si (...)!
- Estabelece um novo modelo de processo:
 Denominações:
* processo cooperativo
* processo colaborativo
* processo policêntrico (nem as partes nem o juiz têm um protagonismo).
* processo comparticipativo

 O que há de especial neste modelo?


* O processo passa a ser visto como um ambiente de cooperação (uma comunidade de
trabalho). A partir de agora, a princípio, devemos eliminar qualquer protagonismo (devemos
combater o protagonismo de qualquer dos sujeitos, principalmente o do juiz).
* Redimensionar o trabalho entre o juiz e as partes – a divisão de trabalho entre o juiz e as
partes.
80

A ideia é eliminar qualquer protagonismo para ser um trabalho de equipe, é redimensionar a


decisão de trabalho entre os juízes e as partes. No modelo inquisitório a iniciativa cabe ao juiz
e no dispositivo ela cabe à parte, esse modele ele fica no meio do caminho de modo a haver
uma distribuição equilibrada entre as partes.

Modelo dispositivo – modelo cooperativo – modelo inquisitório

* Qual é exatamente o papel do juiz no processo cooperativo?


- Depende do momento
- Momento da condução
- Postura isonômica
- Direção dialogal do processo
- O juiz é paritário na condução
- NCPC, 357, §3º.
Enfim, o juiz o juiz não se coloca acima das partes, mas em condição de igualdade com as
partes. O diálogo permitido no modelo cooperativo é para que a aplicação do direito seja feito
mediante um argumento e contra-argumento (efetividade do princípio do contraditório e da
ampla defesa).

- Momento da decisão – postura assumida

 Deveres decorrentes o princípio da cooperação


1º. Dever de esclarecimento
- Sentido: “Dever de o juiz aclarar as dúvidas que eventualmente tenha sobre a posição das
partes a respeito da narração dos fatos ou sobre os pedidos formulados”. (Marinoni).
O juiz tem o dever de pedir que a petição inicial seja esclarecida.
. NCPC: art.321
- Eliminar as obscuridades de seus atos, a fim de compreender as narrações dos fatos
realizadas pelas partes, e os pedidos e requerimentos das mesmas.

Ele tem o dever de esclarecer e o direito de pedir esclarecimento.


81

2º. Dever de diálogo:


- O procedimento deve ser construído de forma dialogal; com a participação das partes em
simétrica paridade.

- Sentido: “Dever de o órgão jurisdicional dialogar e consultar as partes antes de decidir sobre
qualquer questão, possibilitando que estas o influenciem a respeito do rumo a ser dado à
causa”. (Ponto de contato entre o princípio da cooperação e o princípio do contraditório).
- NCPC, art. 7º, 9º, 10, 11; 489, §§1º e 2º.

3º. Dever de prevenção:


Deparando-se com o vício, o juiz deve alertar as partes para a existência deve desse vício,
abrindo a possibilidade de as partes corrigirem o vício, se possível. O juiz não pode
simplesmente proferir uma sentença terminativa havendo a possibilidade de correção do vício.

- Sentido: “Dever de o órgão jurisdicional prevenir as partes do perigo de o êxito de seus


pedidos ser barrado pelo uso equivocado do processo”.
- Os atos processuais podem conter vícios insanáveis (não pode ser corrigido – sentença
terminativa58) e sanáveis (pode ser corrigido).
- Sanáveis: diante desse vício o juiz não profere uma sentença terminativa logo de princípio,
pelo contrário, o juiz oferece à parte a possibilidade de corrigir o vício para dar seguimento a
uma sentença de mérito. Se o vício não for corrigido, o juiz proferirá uma sentença
terminativa.
- NCPC: 317 e 932, p. único.

4º. Dever de auxílio:


Dever de auxiliar as partes na transposição de eventuais obstáculos que dificultem ou
impeçam o exercício de direitos, o cumprimento de deveres ou o desempenho do ônus
processuais”. (Marinoni).

Ex.1: A UFV e outros dois candidatos figuram como réu na ação judicial de revisão de títulos
para a vaga de concurso para professor na Instituição Federal. Para haver a citação é
necessário saber o endereço dos réus, contudo a parte no processo não tem essa informação. A
58
Sentença que não examina o mérito, ou seja, o pedido do autor, não assistindo razão nem ao autor nem ao réu.
82

fim, portanto, de facilitar o processo, a parte pede o auxílio do juiz para que intime a UFV de
fornecer os endereços dos outros dois réus.

Ex.2: NCPC, 772, III.

14.Princípio do devido processo legal

Um super princípio que traz embutido em si todos os demais princípios, que convergem para
o princípio do acesso à justiça.
P. Imp
P.J.N
PDPL P.I PAJ
P.C
...

 Sentido: É a norma jurídica que confere à ambas as partes o direito ao


[processo justo] => Modelo constitucional de processo.
 É a fonte da qual brotam todos os demais princípios;
 É síntese do (...)

A doutrina afirma que existe um devido processo legal procedimental e um substancial.


- Procedimental: somatório de todos os princípios do direito processual. Significa ele próprio
um modelo constitucional de processo.

- Substancial: (assunto para outra matéria- DIR ADM): pauta-se no princípio da


proporcionalidade.

 Fundamento:
CRFB/88 – art. 5º, LIV.
83

15.Princípio do acesso à justiça

Norma que assegura o acesso a resultados justos, efetivos e tempestivos;


 Sentido: o direito de acesso à justiça compreende ao direito de postular59, mas
não se resume a ele.

- Direito de postular: concentram no início do processo. Postular é pedir: mas em uma


linguagem mais jurídica é o direito das partes de as partes apresentarem em juízo as
respectivas pretensões e resistências.
 Principais atos postulatórios: a demanda do autor (instrumentaliza-se por meio de
documentos designados como petição inicial - civil/denúncia ou queixa - penal) e a
contestação.

Sem a demanda não nasce o processo!

O acesso à justiça não se confunde com o direito de demandar; é necessário abrir as portas do
judiciário, mas também a condução à resultados justos efetivos e tempestivos.

Só há acesso à justiça se chegarmos a resultados justos, efetivos e tempestivos.


PAJ = Direito postulatório + resultado justo + efetivo + tempestivo + ...
Pressupõe aspectos do modo de desenvolvimento do processo e aos resultados que se chegará
o processo.

 O acesso à justiça contém também aspectos anteriores ao processo. Como assim?


Para que haja a justiça é necessário a demanda, e para a demanda é necessário que a parte
reconheça os seus próprios direitos (acesso à informação sobre os direitos e os modos
adequados para o seu exercício).

PAJ = aspectos anteriores ao D. Postular + Direito de Postular + aspectos posteriores ao D.


Postular + resultados JET + ....
 O acesso à justiça não se resume ao acesso ao poder judiciário!!!
Why?

59
Direito de deduzir pretensões em juízo.
84

 O acesso à justiça só se concretiza se alcançar resultados JET’s.


 Há os meios alternativos de solução de conflito (MASC’s)

CRFB, 5º, XXXV: Prevê o princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional.


Ele fala de forma implícita do princípio do acesso à justiça.

NCPC, art. 3º. Compreende toda essa amplitude do acesso à justiça – não é o ideal, mas chega
mais perto do que seja o acesso à justiça em contraposição ao art. 5º da CRFB.

 Ainda o sentido:
- Mauro Cappelletti em coautoria com o prof. Bryant Garth.

 O Direito de acesso à justiça é um Direito Fundamental – na verdade, este é o mais


fundamental dos direitos fundamentais, pois adianta assegurar o direito à vida,
liberdade, etc., se uma vez violados não houver como restaurá-los? Com o acesso à
justiça preservaremos os demais direitos. Sem o PAJ os demais direitos estão ficam à
mercê das arbitrariedades.

 Direito comparado/exames jurídicos e sociológicos.


i. Ele procurou que seus colaboradores identificassem em seus países quais eram os
obstáculos ao acesso à justiça – isso tudo, com a contribuição da sociologia.

I. Obstáculo ao AJ
a) Custo do processo: processo é caro!!
Focaliza as despesas processuais e os chamados honorários advocatícios.
 Despesas processuais: é o desembolso para que a máquina judicial funcione. (Deve-se
pagar antecipadamente as taxas judiciárias, prova pericial etc.).
* Direito Brasileiro:
Despesas processuais
|
Responsabilidade provisória Responsabilidade definitiva
| |
85

Responsabilidade provisória Responsabilidade definitiva

A parte que requer a prática de um ato A parte derrotada deve reembolsar a


deve adiantar as despesas desse ato parte vencedora pelos adiantamentos.

(Adiantamento) Responsabilidade pelo pagamento


NCPC, 82, “caput”. - Parte derrotada NCPC, 82, §2º.

 Honorários advocatícios:
- Contratados: honorários que a parte paga ao advogado que ela contratou.
- Arbitrados: (X)
- Sucumbência: NCPC, 85, “caput”: constitui um prêmio ao advogado vencedor. Assim, o juiz
fixa na sentença os honorários que a parte deve pagar de forma extra pelo seu advogado
vencedor. Sim, o advogado ganha 2x.

 Nas situações de pequenas causa o custo é ainda maior!

II. Possibilidades das partes

- Recursos financeiros:
o Quem possui condições financeiras para litigar?
o Entre os que possuem, quem possui condições para suportar a demora do processo?

- Aptidão para reconhecimento dos direitos


o Conhecimento para reconhecer os próprios direitos e os meios para exercê-lo
As camadas mais desprovidas de recursos têm um acesso precário de informação.

- Litigantes eventuais e habituais

III. Obstáculo referente aos problemas especiais relacionados aos direitos metaindividuais
86

Metaindividuais: Direito que pertence a um grupo considerável de pessoas.


CPC, art. 81.

 Eles ficaram desprotegidos por causa de suas peculiaridades, como por exemplo: quem
pode defende-los em juízo?

IV. Relacionamento entre os obstáculos como um fator complicador

ii. Ele pediu também, para que identificassem como que cada Estado soberano
enfrentou esses obstáculos por meio do Direito positivo.

 Soluções práticas
1º ONDA: Onda da assistência judiciária
- Ataca o custo do processo.
- Assegura processo sem despesa e custo com advogado para aquelas pessoas que não tem
condições, pedindo o benefício da gratuidade jurídica:
Gratuidade: elimina as despesas do processo e os honorários da sucumbência.

- Defensoria pública – assegura a dispensa dos honorários contratados.

 CRFB, 5º, LXXIV e 134.


 Lei 1060/50 – ler a ementa
 NCPC, 98 – 102.

2º ONDA: Direitos metaindividuais


- Consiste na percepção de que os diversos estados regularam a legitimidade adequada para a
defesa desses direitos. Representação adequada: preocupa-se com quem está mais adequado
para proteger tais direitos;
- O MP é quem melhor desempenha essa função de proteção dos direitos metaindividuais.

 Lei 4.717/65 – ler a ementa


 CRFB, art. 5º, LXXIII
 Lei 7.347/85, 5º.
87

 Lei 8.078/90, 82.

3º ONDA: Onda do acesso à Justiça

- Parte de uma percepção de que a 1º e a 2º onda renovatória se preocuparam apenas com a


representação em juízo dos hipossuficientes, que antes não tinham como ser representados.
- A representação em juízo de direito metaindividuais.
- Se preocuparam exclusivamente da representação em juízo de pessoas e direitos que não
tinham acesso ao judiciário.
- Buscou um enfrentamento global do problema:
 Aprimoramento da técnica processual de modo a assegurar resultados JET’s.
Ex.: alguns processos conduziam a uma sentença tardia – criação da tutela de urgência! No
curso do processo o juiz sentencia em favor do autor (pressupõe algumas formalidades).
- Relatividade do binômio direito-processo.
- Juizado especial
PROVA!

UNIT D - TEORIA DA NORMA PROCESSUAL.

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