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Bibliografia:
Ação declarativa à luz do código revisto, J. P. Fernandes Remédio Marques, Coimbra Editora, até
pág. 415 - sala de leitura
INTRODUÇÃO
CAPÍTULO I
NOÇÕES GERAIS
É a função estadual jurisdicional que aplica o direito, de forma imparcial, aos casos
concretos, por via dos tribunais.
Num sentido estrutural, o processo pelo qual se exprime a jurisdição é a forma de uma
função, num sentido funcional o processo que traduz aquela jurisdição consiste na atuação
(estadual) da garantia dos direitos subjetivos e das demais posições jurídicas subjetivas ou
difusas.
É um ramo de direito público que prevê e regula o conjunto de providências através das
quais um titular de um direito subjetivo propriamente dito, de um direito potestativo, de um
poder-dever funcional ou de um interesse difuso pode obter a garantia da possibilidade de
exercício de todas ou de algumas das faculdades jurídicas que se contêm nestas situações
jurídicas individuais e meta-individuais.
Em suma, trata-se de uma disciplina jurídica que regula o conjunto de atos e formalidades
destinadas a tutelar situações jurídicas subjetivas, dando expressão à posição das partes, com
vista à obtenção de uma decisão por parte de um tribunal.
É um ramo de direito público, já que se liga à função jurisdicional (artigo 202º CRP), que
tem como vértice o tribunal, órgão perante o qual as partes pretendem obter tutela jurisdicional.
É um ramo da ordem jurídica que tutela a garantia das relações e situações jurídicas de
direito substantivo, declarando, assegurando ou atribuindo posições ou situações jurídicas.
Estes direitos subjetivos e posições jurídicas têm que ser asseguradas através de uma
instância jurisdicional, ou seja, através de um tribunal, que possa apreciar e julgar de uma forma
equitativa, que culmina numa decisão de um juiz que tem que ser cumprida pelas partes quer
elas queiram ou não. A decisão tem de ser:
• Executada ou decidida/tomada num prazo razoável (artigo 20º/4 CRP), embora, por
vezes, os tribunais portugueses demorem exageradamente, do ponto de vista
temporal, a apreciar e julgar de forma definitiva (sem possibilidade de mais recursos
ordinários) uma situação jurídica. Nestas situações, há sempre a possibilidade de
tornar efetivo esse prazo razoável sancionando a não razoabilidade de decisão.
Como? O TEDH condena, se for caso disso, os Estados a pagar uma indemnização
ao lesado, por demora não razoável no exercício da justiça - o exercício de direito à
jurisdição tem dimensões supranacionais.
A actio era também vista pelos juristas como um direito material. Até ao século XIX, o
direito processual era o direito processual aplicado já desde os romanos. O direito romano
vigorou nas leis portugueses desde as ordenações afonsinas, passando pelas manuelinas e
terminando nas filipinas, nos anos 20 do século XIX, marcado pela influência do processo civil
canónico, mesclado com leis e práticas consuetudinárias da Europa. Não havia distinção em
direito do processo e direito material.
(1) não traduz uma reserva de juiz estadual, pois a CRP (artigo 209º/2) e a lei
ordinária permitem a criação de tribunais arbitrais, como também
(2) Não constitui um sistema fechado, visto que permite novas formas de
composição de conflitos à margem da intervenção e da decisão de um juiz imparcial. De entre
estas avulsa a mediação.
2. Julgados de paz (Lei nº 78/2011, atualizada em 2013): São tribunais do Estado, mas
integram uma organização judiciária diferente (209º/1 CRP). São tribunais do Estado
especializados para julgar certas matérias (os conflitos de direito privado enumerados no artigo
9º da Lei 78/2011 e só estes com exclusão de quaisquer outros), até certo valor (até 15 mil euros)
e em determinado território (artigo 4º/1 da Lei 78/2001), cuja organização, funcionamento e
recrutamento de juizes é diferente da organização dos outros tribunais do Estado (judiciais,
administrativos e fiscais e militares). Os juizes destes tribunais têm contratos a termo certo, não
frequentam a escola dos juizes - centro de estudos judiciários -, entram através de concurso
público. São tribunais de 1ª instância e a eventual impugnação das suas decisões são dirigidas
aos tribunais do Estado de 1ª instância.
CAPÍTULO I
O DIREITO À AÇÃO
A B A B
Relação processual
Relação de direito material
ACTIO IUS
Posto isto, o direito de ação é um direito subjetivo e dentro dos direitos subjetivos tem
uma graduação maior porque é um direito fundamental (artigo 202º/2 CRP).
Qual a estrutura do direito de ação? É um direito subjetivo público. Isto significa que o
direito de ação é o poder jurídico de exigir que o Estado, na qualidade de titular do poder
jurisdicional (mais precisamente, o juiz enquanto titular do órgão de soberania tribunal), examine a
pretensão deduzida em juízo pelo autor. É um direito contra o Estado. O DPC é um ramo do
Assim, o direito de ação, enquanto pretensão de tutela jurisdicional, tem como sujeito
passivo o Estado, através dos tribunais e dos titulares desses órgãos de soberania que são os
magistrados judiciais, os juizes. Todavia, não é necessariamente sempre assim, como é o caso
dos tribunais de arbitragem, onde as partes contratualizam a forma de resolver o litígio
entregando a um terceiro imparcial as funções de juiz. Neste caso, o sujeito passivo é quem
aceitou ser juiz-árbitro.
Para além do mais, o direito de ação é um direito autónomo do direito substancial, ou seja
das posições jurídicas materiais, pois são regulados por normas diferentes e visam disciplinar
atividades diferentes praticadas por pessoas ou entidades que não são sempre coincidentes com
os titulares daquelas posições jurídicas materiais.
Quando é que o direito de ação se completa? Com a citação do réu, após a entrega pelo
autor da petição inicial. Só assim o direito de ação é exercido completamente. O réu foi citado
para que seja informado de que está a correr uma ação contra ele, bem como das faculdades
jurídicas processuais que tem para a apresentar contestação e das consequências da sua não
contestação.
O direito de ação não serve apenas para ser desencadeado para proteger direitos
subjetivos através de uma pronúncia de um juiz, mas também para proteger todas as posições
jurídicas subjetivas para além dos direitos subjetivos, incluindo as expectativas jurídicas (resulta
de um direito subjetivo que ainda está em formação, para garantir o nascimento completo do direito
subjetivo - ex.: herança antes da morte de parente) que podem ser juridicamente tuteladas.
Após a citação do réu, segue-se uma sequência pré-ordenada de atos até à sentença final
que não admite recurso ordinário. Isto é o processo. É a sequência pré-ordenada de atos
previstos na lei, sem prejuízo do juiz poder adequar a sequência aos especialismos do caso
concreto (princípio da legalidade processual e princípio da adequação formal). Seja uma
sequência de atos das partes, de terceiros, atos da secretaria (dos oficias de justiça onde tramitam
os processos), atos do juiz ou atos do agente de execução (que é quem pratica todos os atos e
CAPÍTULO II
CLASSIFICAÇÃO DAS AÇÕES
Dependem daquilo que o autor quer realizar com a ação, do fim a que se destina a ação,
dependem da pretensão processual - artigo 10º CPC.
Ações declarativas (processo declarativo): Destinam-se a compor o conflito de
interesses através da declaração, pelo tribunal, da solução concreta do litígio, da
situação real que sustenta a pretensão do autor (causa de pedir), tal como ela resulta
do pedido. A declaração desta solução concreta constituiu ponto de chegada da
atividade jurisdicional. Trata-se de desencadear a ação de um juiz dirigida a
conhecer e a afirmar como verdadeiros certos factos e não outros - processo de
conhecimento. O juiz pronuncia-se só para condenar a pagar, entregar a coisa,
constituir, modificar ou extinguir relações jurídicas de conteúdo patrimonial e
reconhecer a existência de direitos ou de factos (estas são as pretensões
processualmente admissíveis).
Se alguém propõe uma ação de simples apreciação positiva, o autor tem de provar
que é titular do direito a que se arroga, ou seja, tem o ónus da prova. Todavia, se o
pedido é de simples apreciação negativa, quem tem o ónus da prova é o réu (artigo
343º CC). + 342º/1
• Ações declarativas constitutivas: Aquelas que têm por fim autorizar uma mudança
na ordem jurídica existente. Estas ações não visam apenas que, através da sentença,
o juiz constitua situações ou relações jurídicas, nestas ações o autor pretende que,
pela mera definitividade da sentença, situações jurídicas possam nascer, ser
alteradas e manter-se e ser extintas. Não carecem de ação executiva porque a
efetividade do direito é logo alcançada pelo transito em julgado da sentença. A
sentença autorealiza-se. É o caso da alteração dos contratos por alteração anormal das
circunstâncias, se tal acontece o direito dá a possibilidade de alterar algumas das suas
cláusulas, por mero efeito da sentença. Através desta ação, exerce-se direitos subjetivos
em sentido estrito (direitos potestativos) e o autor pede ao juiz que, através da
sentença, decrete um efeito jurídico novo, que pode ser:
Outro exemplo: Um alegado devedor é réu numa ação de condenação pelo qual o autor pede que
seja condenado a pagar centenas de milhares de euros pelo descumprimento de um contrato e se o réu
decidir mudar-se para a Austrália e vender os todos os seus bens? O que o autor da ação de condenação
poderá fazer? Ele teria que levar esta sentença para a Austrália e fazê-la lá reconhecer por um tribunal.
Todavia, o autor pode, desde logo, pedir ao juiz, onde a ação está a correr ou antes da ação ser proposta,
a apreensão dos bens do alegado devedor suficientes para o caso de execução - arresto, providência
cautelar típica.
Posto isto, as providências cautelares visam antecipar determinados efeitos das decisões
judiciais e prevenir a violação grave ou dificilmente reparável de direitos. Visam compor
provisoriamente a situação controvertida de conflito de interesses: elas destinam-se a ser
substituídas pela tutela que vier a ser definida na ação principal de que são dependentes.
1. Fummus boni iuris (aparência do bom direito) - 368º/1 CPC: Significa que a
providência só pode ser decretada se o juiz for convencido pelo requerente da providência de
que ele, requerente, tem o direito subjetivo que alega ter. Não é que tenha de forma convicta,
mas que o juiz se convença da probabilidade de o requerente ter. O critério do julgamento e da
2. Periculum in mora: Significa que se a providência não for decretada o requerente dela
pode correr o risco de sofrer um risco irreparável, mesmo que venha a ganhar a ação principal.
Se não decretar a providência será que o direito que se pretende realizar na ação principal é
efetivo?
D. Não pode ser decretada quando o prejuízo que dela resulta para o requerido
excede consideravelmente o dano que com ela o requerente pretende evitar
(artigo 368º/2 CPC): Nisto consiste o princípio da conformidade ou da adequação
de meios das providências cautelares: as medidas cautelares adotadas devem ser
apropriadas à prossecução do fim ou fins a elas subjacentes.
No processo civil francês há situações em que a urgência dos factos alegados levam o
juiz a decretar um référé-provision. É um procedimento cautelar que visa assegurar um direito
subjetivo no futuro e em que a decisão do juiz é provisória. Se a providência cautelar for
decretada é provisória e pode ser alterada a qualquer momento a pedido de qualquer das partes
mediante a invocação de novos factos, de factos supervenientes, factos que não foram tomados
anteriormente em consideração. Enquanto a providência não for modificada tem de ser cumprida.
Ela não se torna definitiva e imutável, pois pode ser alterada mediante uma decisão superior dos
requeridos.
E a inversão do contencioso? Ainda não se chegou lá - artigo 371º CPC. Logo que se
torne definitiva a decisão na providência cautelar que dispense o autor de propor a ação principal
e invertido o contencioso, o réu da providência cautelar é notificado de que perdeu a providência
cautelar e de que o juiz dispensou o autor de propor a ação principal e de que se ele, ex réu da
providência cautelar, quiser é ele que fica com o ónus de, em 30 dias, propor na qualidade de
autor uma ação autónoma, para impugnar a existência do direito que foi acautelado na
providência cautelar. Ele, ex réu, se quiser, passa numa nova ação à qualidade de autor e propõe,
nessa qualidade, uma ação contra o ex autor da providência cautelar, agora réu, na qual ele, ex
réu e agora autor, pretende convencer um juiz (que não precisa de ser o mesmo) que o direito
subjetivo acautelado não devia ter sido acautelado. Exemplo: restituição provisória da posse
(artigos 377º a 379º CPC).
• Conservatórios: Têm em vista prevenir o efeito útil da ação principal, pois elas visam
assegurar a permanência da situação existente à época em que o conflito de interesses
O artigo 362º até ao 376º inclusive o legislador trata da sequência processual dos
procedimentos cautelares comuns, sobretudo artigos 365º a 368º. A partir do artigo 377º e ss o
legislador trata de sequências de atos processuais no quadro dos procedimentos cautelares
especificados. Há pretensões processuais formuladas através de procedimentos cautelares que
têm de ter uma tramitação diferente, não se adequam ao procedimento cautelar comum.
Portanto, temos sequências diferentes consoante a natureza do concreto procedimentos cautelar.
- Restituição provisória da posse: 378º e 379º - sequência dos atos especial, não é a
comum ou geral, é esta;
- Suspensão de deliberações sociais: 380º até 383º - a tramitação é esta e não outra;
- Arresto: 392º a 394º visa apreender os bens para garantir a consistência patrimonial de
um credor perante um devedor
- Arrolamento: 403º/2, visa apreender os bens e tem em vista, numa ação principal
posterior, definir a titularidade do domínio desses bens.
Se, em concreto, a pretensão do requerente for diferente de uma qualquer destas aplica-
se a tramitação do procedimento cautelar comum ou geral.
Garantia das providências cautelares: O que garante que a decisão judicial será
cumprida, no caso de o réu não cumprir voluntariamente?
- Criminal: Quem violar uma providência cautelar decretada incorre na pena do crime de
desobediência qualificada. É um tipo criminal que tem elementos objetivos e subjetivos. É
qualificada porque traduz o desrespeito de um comando emitido por um órgão de soberania, o
Haverá casos em que o requerente (autor) tem de responder perante o requerido (réu):
instaurar uma ação de responsabilidade civil extracontratual por facto ilícito. A pretensão
processual é o pagamento de uma indemnização por danos emergentes e lucros cessantes ao
requerido. Qual o facto ilícito? O requerente se demonstrar que ele não agiu com a prudência
normal (uma pessoa normal, equilibrada, sensata colocado na situação do requente naquelas
circunstancia jamais teria xx).
Aplicação das leis processuais no tempo: Que situações jurídicas é que continuam a
ser abrangidas pela lei antiga e quais as que passam a ser abrangidas pela lei nova?
Se se tratar de uma lei direito substantivo, não de direito processual, a regra é do artigo
12º CC: a lei nova só se aplica às situações jurídicas privadas futuras, que ocorram após o início
da vigência dessa lei. A lei só vale para o futuro. Mas a lei nova pode ou não aplicar-se a
situações jurídicas em execução? Normalmente nos contratos de execução duradoura ou
continuada. Exemplo: contrato de arrendamento. É assim porque quando o legislador altera
situações de vida com importância económica e existencial ele legislador está a partir do
pressuposto que essas alterações devem atingir os contratos em curso. Situações que devem
abranger todos os contratos, os contratos do futuro e os que estejam a ser executados. Direito
material: a lei só vale para o futuro, mas pode vir a ser aplicada a situações jurídicas a ser
executadas.
E quando à lei processual? Qual a regra? Aplica-se a situações pendentes? Regra geral,
sim! Porque é direito processual e não material. A regra geral é de a lei nova nova aplica-se às
ações pendentes. O legislador seguiu a regra geral? Artigo 5º da lei 41(63??)/2013 (que aprova o
novo CPC): é aplicável as ações declarativas pendentes. Há desvios dos nº ss.
Pressupostos processuais
A relação jurídica processual tem de ter determinadas caraterísticas para que ela possa
progredir na sequência de atos até à decisão final emitida pelo juiz. Se esses requisitos de
natureza formal não estiverem verificados o juiz não pode analisar o fundo ou o mérito da causa.
- Na maior parte dos casos, é de absolver o réu da instância. Quando se diz que o réu é
absolvido em instância isto significa que o juiz não pode apreciar a pretensão por causa de um
vício formal que existe, por falha do autor. O juiz extingue a instância, ou seja, extingue a relação
jurídica processual e ao extinguir a relação jurídica trilateral o réu é absolvido da instância.
Nestes casos, o juiz não pode apreciar a relação jurídica material controvertida porque
falha um ou vários pressupostos processuais.
É melhor ser absolvido em instância ou ser absolvido do pedido? Ser absolvido do pedido
significa que o juiz analisou a relação jurídica material controvertida e deu razão ao réu e
considerou que este não era o sujeito passivo daquele dever de prestar. A relação material
controvertida era a favor do réu, o autor não tinha razão no direito subjetivo que queria exercer.
Isto significa que a ação é julgada improcedente, o réu é absolvido dos pedidos. O juiz considera
verificados os pressupostos processuais e depois é que tratou das situação material
controvertida. A decisão é de absolvição o réu do pedido.
Resposta: Do pedido.
Se houver vícios de natureza formal, o julgador deve tentar que os vícios processuais
possam ser sanados, para que possa apreciar o fundo e o mérito da causa. O juiz, se possível,
nalguns casos, pode passar por cima dos vícios processuais, mas nem sempre.
As exceções perentórias são meios de defesa invocados pelo réu relativos à relação
material controvertida. São exceções de direito material, que dizem respeito à configuração dos
direitos subjetivos, à sua consistência.
A competência interna
- Artigo 64º CPC: “são da competência…”. Isto significa uma competência residual, os TJ
só têm competência se aquele concreto litígios não poder ser apreciado ou julgado por outro
tribunal ou outra ordem de jurisdição (a jurisdição dos TAF). O que distingue estas duas ordens
de jurisdição relativamente às matérias (TAF e TJ)? Os TJ apreciam e julgam conflitos de
interesses de direito privado, os TAF apreciam e julgam conflitos de direito público (direito
administrativo) em que estão em causa uma relação jurídica administrativa. A relação jurídica é
administrativa se algum dos litigantes, por causa daquela relação jurídica litigiosa, dispõe/goza
de poderes de autoridade, para unilateralmente impor-se, se for caso disso, ao outro.
Além dos TA e dos TJ, a CRP também prevê outros tribunais, prevê o Tribunal
Constitucional, também o Tribunal Contas, os Julgados de Paz, os Tribunais Arbitrais, o Tribunal
de Conflitos (209º/3 CRP) resolve litígios relativamente a tribunais de diferentes jurisdições, que
se constitui quando surjam estes conflitos, para o caso concreto, os Tribunais Militares, os
Tribunais da UE, cujas decisões podem ser executadas em Portugal, a UE tem o Tribunal Geral
(1ª instância), depois o TJUE (última instância).
Os artigos que nos interessam são os artigos sobre a competência dos TJ: artigo 31º e ss
e sobretudo 37º e ss.
No artigo 37º/1: Critérios atributivos de competência interna dos TJ. Quando é que os TJ
que resolvem litígios de direito privado são competentes? Quando 4 critérios cumulativos de
competência estejam verificados no caso concreto. Num caso concreto, o juiz que vai apreciar o
processo à luz do pedido e da causa de pedir vai perguntar-se: o TJ é competente em razão do
território, matéria, valor da causa, hierarquia? Se for respondido afirmativamente, o TJ é
competente. Se faltar algum há um vício de falta de competência.
Há certos tribunais judiciais que só apreciam e julgam certos litígios com exclusão
de quaisquer outros, os que estiverem expressamente atribuídos pela lei de organização do
sistema judiciário, na respetiva norma de competência.
Artigo 96º/a CPC - gera incompetência absoluta: é uma exceção dilatória (meios
de defesa que o réu pode invocar porque respeitam não ao fundo ou mérito da causa, mas á
relação jurídica processual - artigo 577º/a CPC). Qualquer exceção dilatória: 578º CPC - vício de
conhecimento oficioso, isto significa que o juiz tem o poder-dever de o conhecer/apreciar,
também é de conhecimento provocado, o vício processual é suscitado pela parte em quem
aproveita, normalmente os réus. Algumas exceções dilatórias são só de conhecimento provado.
Se é de conhecimento oficioso (97º/1 CPC) até quando o juiz pode conhece-la? A incompetência
absoluta pode ser arguida pelas partes e deve ser suscitada oficiosamente pelo tribunal, o juiz
tem o poder-dever de a conhecer-oficiosamente, enquanto não houver sentença transitada em
julgado; pode acontecer até ao final do processo. Como se pode desencadear o conhecimento
oficioso? Pode ter como origem uma conversa. Efeitos da incompetência absoluta: 1. Artigo 99º/
1: implica a absolvição do réu da instância - solução regra - a relação processual que se tinha
iniciado termina, extingue-se a instância, e não do pedido, este será ser apreciado no tribunal
competente. 2. Artigo 99º/2: se a incompetência absoluta for logo reconhecida e decretada
depois da resposta à contestação, no final da fase dos articulados, ele pode determinar a
remessa do processo no estado em que está para o tribunal competente se o réu, na perspetiva
do juiz, não alegar uma contestação justificada para essa remessa.
Nos TAF há também uma hierarquia: TAC, TCA (Norte e Sul) e STA.
Perdeu interesse prático com o novo CPC. Artigo 41º da lei 62/2013: Temos dois
tipos de órgãos jurisdicionais de 1ª instância cuja competência é aferida em razão do valor das
ações: são a Secção Cível da Instância Central e a Secção Cível da Instância Local.
A alçada é o valor da ação até ao qual um tribunal decide, aprecia e julga um caso,
sem que dessa decisão seja admissível (pela parte que perdeu) recurso ordinário. Ou seja, em
razão da hierarquia, os Tribunais de 1ª e 2ª instância têm alçadas. Se o valor da ação for igual ou
superior a 5 mil euros quem perder a causa não pode recorrer a um tribunal de 2ª instância, não
pode interpor recurso ordinário. O direito ao recurso não faz parte do conteúdo essencial do
direito da tutela efetiva.
Como se sabe o valor da ação (que deve estar indicado na petição inicial)? O valor
da ação corresponde aos interesses económicos que estão em jogo e é o próprio legislador
processual que estabelece o valor das ações - artigo 296º a 310º CPC. Segundo o artigo 306º
CPC, compete ao juiz fixar o valor da causa, se discordar do valor definido pelo autor, ele vai
determinar uma perícia, é um incidente declarativo que tem contraditório. Pode acontecer ainda
que o autor atribui, numa ação de reivindicação, um valor de 40 mil euros à coisa; o advogado,
para prolongar a ação, vai impugnar esse valor afirmando que a coisa vale mais e requer uma
perícia que será determinada pelo juiz. Entendendo-se que a ação passa para 55 mil euros, o que
acontece? Se superou os 50 mil, os autos têm de ser remetidos para o juiz do Juízo Cível da
Instância Central. Artigo 303º/1 CPC, relativamente ao estado civil ou interesses imateriais as
ações consideram-se sempre de valor equivalente à alçada da relação mais 1 cêntimo (30 mil e 1
cêntimo), independentemente da condição económica.
Todas as ações têm que ser localizadas num concreto/determinado ponto físico do
território do país (Estado soberano) cujo tribunal foi acionado por um autor. Temos o litígio e o
tribunal onde o autor acionou, para saber se o tribunal é competente territorialmente falando
temos de chegar à conclusão que o local deste litígio se localiza na esfera de influência
jurisdicional deste órgão/tribunal. Como se sabe isso? Há pontes/elementos que estabelecem a
conexão entre todo e qualquer litígio e o tribunal onde esse litígio deve ser apreciado e julgado.
Há vários elementos de conexão territoriais que têm de ser apreciados caso a caso, elementos
que fazem a ligação entre o litígio e o tribunal que o deva apreciar e julgar. Há sempre critérios
materiais que justificam os elementos de conexão. Quais são esses critérios? Têm a ver com a
celeridade da administração da justiça, o tribunal melhor colocado para apreciar e julgar aquele
litígio; o tribunal melhor colocado em termos da possibilidade da descoberta da verdade material,
o que possa estar mais perto dos factos e dos meios de provas; por vezes, o elemento de
conexão fundamenta-se no critério que visa favorecer o autor, para a tutela dos interesses do
autor, o tribunal territorialmente competente será o que esteja mais perto da residência do autor.
Pode acontecer que se utilize dois elementos e aí pode-se propor a ação tanto no tribunal
da zona A ou B - a escolha do foro pelo autor. O autor, em princípio, não deve poder escolher,
deve ser antes critérios objetivos que devem marcar a competência, se assim fosse haveria
desigualdade material das partes processuais. Mas, em algumas situações, o autor pode propor
a ação em dois locais, pelo menos.
Qual o elemento de conexão que permite localizar o litígio num concreto lugar geográfico
em Portugal?
- Artigo 70º CPC: Foro da situação dos bens. Significa que nessas ações referidas no
artigo 70º o tribunal competente é o tribunal que tenha jurisdição onde o prédio está implantado.
O elemento comum é o conflito à volta de um imóvel. Independentemente do domicílio das
partes, a ação deve ser proposta no tribunal da localização do prédio sobre o qual exista litígio -
DL 49/2014.
- Artigo 71º/1 CPC: Foro de matéria litigioso contratual - direito dos contratos. A ação é
proposta no lugar em que a obrigação devia ser cumprida, quando o réu seja pessoa coletiva ou
se o domicilio do credor se localiza na zona metropolitana do Porto ou Lisboa xxx - para saber o
lugar da obrigação: artigo 882º e 883º CC. Está em causa o interesse público, neste último caso,
para uma melhor administração da justiça, para descongestionar os tribunais daquelas zonas.
Ou então a ação é proposta na zona de domicílio do réu - vale o critério geral do artigo 80º/1
CPC.
- Artigo 71º/2 CPC: Responsabilidade civil extracontratual por factos ilícitos ou objetiva
(fundada no risco). Aplica-se a regra geral. Situações em que entre o autor e réu não houve
contacto social relevante para a relação processual. O facto danoso resultou de comportamento
lícito ou ilícito não alicerçado num contrato. A ação é proposta no lugar onde o facto ilícito ou
danoso ocorreu. Pode acontecer que o facto tenha ocorrido num lugar e o resultado do facto se
venha a manifestar noutro local (p. e., acidente em Coimbra e morte em Lisboa). O artigo não fala,
mas a jurisprudência diz que o autor tem a possibilidade de propor a ação no tribunal que tenha
jurisdição no local em que o facto ilícito ocorreu, bem como no tribunal em que o dano se
manifestou.
- Artigo 78º CPC: Procedimento cautelar - embargo de obra nova (alínea b), os restantes
nominados ou não (alínea c).
1º Está tratada no CPC português: artigos 62º e 63º - aplicam-se quando esteja em causa
quando o réu tem sede ou residência em outro qualquer Estado (p. e., Brasil).
3º Não é pelo facto de a ré não ter residência ou sede num Estado membro que
automaticamente o juiz português olha para o CPC português. A fonte normativa para determinar
competência internacional pode estar noutro instrumento normativo que não o regulamento e o
CPC. Para conciliar os critérios de determinação da competência internacional entre países que
pertenciam à EFTA (Noruega, Suíça, Islândia, Lichtenstein) e países que pertenciam à UE quando
o réu ou a ré tinham domicílio ou sede nesses países (da EFTA) foi aprovada uma convenção
internacional na Suíça (1989 - Convenção de Lugano - atualizada em 2007).
- Litígios extracontratuais por facto ilícito danoso, mas esse facto não
se alicerça na existência de qualquer contrato entre autor e réu: artigo
7º/2 - o lugar é o da prática do facto ilícito, onde o facto ilícito ocorreu
ou poderá ocorrer. É competente tanto o tribunal onde o dano se
produziu, o tribunal em que o dano se consumou ou o tribunal da sede
ou residência do réu.
- Litígios com consumidores finais: artigo 17, 18º e 19º - permite que
quando o autor é o consumidor possa propor a ação perante os
tribunais de onde reside.
Este regulamento não trata apenas das regras de competência internacional direta,
trata também da forma como uma sentença estrangeira emitida por um tribunal de
um Estado membro da UE (com a exceção da Dinamarca, Gronelândia. Ilhas Faroe)
se pode tornar eficaz em Portugal para poder ser, caso não haja cumprimento de
pronúncia, executada em Portugal. Esse controlo nunca é um controlo sobre o mérito
da decisão, o juiz do país onde a sentença estrangeira se destina a ser executada não
pode controlar se os factos foram xx. O pais de destino da sentença não pode
controlar se houve erros de julgamento quanto aos factos ou erros de julgamento
quanto às qualificações jurídicas, interpretação das normas jurídicas. Ele controla o
- Artigo 36º/1.
- Artigo 37º/1 afinal há algum formalismo -> 42º/2/b e 53º e eventual tradução (artigo
37º/2)
Se for uma sentença de outro país? Temos de ver se há alguma convenção bilateral
entre Portugal e esse outro país. Se não houver, para a sentença ser executada em
Portugal tem de se usar o processo especial do artigo 978º, 979º e 980º CPC.
Funções da sentença estrangeira: Uma sentença estrangeira pode servir para efeitos
de registo, como prova documental (documento probatório) ou para efeitos de
execução.
• Artigos 62º e 63º CPC: só usamos estes artigos quando o réu ou a ré não têm sede
ou residência em Estado membro da UE, quando não tenha sede ou residência nos
países abrangidos pela convenção de Lugano, não tem sede ou residência na
Dinamarca, Gronelândia e Ilhas Faroe.
3. Para se ser parte (autor ou réu) é necessário personalidade judiciária - artigo 11º CPC.
A falta de personalidade judiciária gera uma exceção dilatória. Significa que haverá uma
ação em que de um dos lados não há parte.
A falta de personalidade judiciária não é sanável, a não ser na situação específica do artigo
14º CPC. Não sendo sanável, quais as consequências? A falta de parte tem como consequência
é a absolvição do réu da instância - artigo 577º/c e 576º/2 CPC.
Ainda há outras distinções: artigo 29º CPC (igualmente exceção dilatória) - falta de
autorização (ex.: artigo 18º CPC) ou falta de deliberação.
5. Legitimidade processual: Artigo 30º e ss. CPC. O interesse prático é nos casos de
pluralidade de partes que foi desrespeitada. Em direito civil, se alguém não tem poderes para
atuar no negócio jurídico e atuou, esta pessoa em concreto não era o sujeito que licitamente
poderia emitir as declarações de vontade, há, portanto, uma ilegitimidade material ou substantiva
e o negócio não vincula o representado, em regra. A legitimidade processual traduz a posição
que uma parte (autor e/ou réu) tem num litígio, em termos de se dizer que essa parte (autor e/ou
réu) são um dos titulares ou o titular da relação material controvertida - interesse direto em
demandar e interesse direto em contradizer. Só assim é que a pessoa tem legitimidade
processual. Como se sabe que é um dos titulares da relação material controvertida? Quem é
ou não parte legítima? Nº 2. Na falta de outro critério temos o nº 3. Quem define se é ou não
titular da relação material controvertida? Nº 3/parte final (tal como é configurada pelo autor - tal
como a relação material controvertida é configurada pelo autor)
Dimensões:
- Interesses coletivos: partilhados por um conjunto de pessoas que se inserem numa certa
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Pluralidade de partes pode assumir duas figuras em Portugal: 1ª litisconsórcio - 32º a 34º
CPC; 2ª coligação - 36º e 37º CPC.
Distinção:
— Antunes Varela não entende assim, para ele na coligação existem várias
relações materiais controvertidas e diferentes partes, pluralidade de partes e pluralidade de
relações controvertidas; no litisconsórcio será uma relação material controvertida e uma
pluralidade de partes.
2. Litisconsórcio subsidiário ou alternativo - artigo 39º CPC. Quando o autor tem dúvidas
sobre quem é o sujeito da relação controvertida propõe uma ação contra vários e formula um
único pedido, mas diz desconhecer qual desses co-réus é o titular passivo da relação
controvertida e pede ao tribunal que investigue e condene o réu que for o titular da relação
material controvertida no polo passivo. Exemplo: ação de investigação da paternidade.
3. Litisconsórcio inicial sucessivo - artigo 311º e ss. CPC. A ação pode começar com
duas pessoas e podem, posteriormente, intervir nela como parte principal outras pessoas.
Na coligação (artigo 36º e ss. CPC), em princípio, são formulados vários pedidos
diferentes (várias causas de pedir), mas ligados entre si contra vários co-réus.
Este pressuposto tem interesse nas ações decorativas de simples apreciação positiva ou
negativa, porque para propor uma ação de simples apreciação positiva ou negativa antes que o
juiz aprecie o mérito da causa ele tem de analisar este pressuposto. Como? Tem que o autor na
narração que faz dos factos na petição inicial demonstrar que a situação que ele pede que o juiz
clarifique (afirmar que um direito subjetivo existe ou não, que um facto existe, que ocorreu ou não) o juiz
tem de se convencer que subjacente a essa afirmação de facto ou de direito ou de negação de
facto ou do direito há uma situação de incerteza objetiva. Esse facto ou esse direito são, do
ponto de vista do homem e da mulher médios, controvertidos. E é preciso ainda que o juiz se
convença que a situação de incerteza objetiva é grave, na perspetiva do autor, ou seja, para ele e
para as pessoas que estivessem na situação do autor. Se o juiz se recusa-se a analisar seria um
grande transtorno a manutenção dessa situação de incerteza.
7. Patrocínio judiciário: Diz respeito à assistência técnica que as partes podem ter ou
que as vezes têm de ter por parte de juristas que têm a qualidade profissional de advogados.
- Nas causas de competência dos tribunais com alçada em que seja admissível
recurso ordinário. Alçada é o valor até ao qual um tribunal julga sem que seja admissível interpor
recurso ordinário dessa decisão. Limite até ao qual um tribunal aprecia e julga uma ação ou um
recurso sem que seja ser possível interpor recurso ordinário. Os tribunal com alçada significa que
se o valor da ação ultrapassar essa alçada significa que o autor e o réu deviam ter constituído
advogado logo do início - Lei 62/2013. Qual a alçada dos tribunais de 1ª instância? 5 mil euros.
Significa que se o valor da causa for inferior a 5 mil euros o que esse juiz decidir não é passível
de recurso para a 2ª instância. Se assim for o auto e o réu não têm de constituir advogado,
podem litigar sem o auxílio técnico dos profissionais liberais.
- Nos recursos e nas ações que são instaurados nos tribunais superiores (TR e
STJ).
Como é que este pressuposto é sanado? Se o juiz constatar que a ação devia ter sido
subscrito por um advogado e não foi - artigo 41º CPC.
- Quando a falta respeitar ao réu o juiz determina a notificação do réu para no prazo de 10
dias juntar ao processo uma procuração forense. Se o réu não juntar procuração forense a
consequência é que se considera que a defesa apresentada pelo réu não existe.
Princípio do direito do acesso à jurisdição: Princípio segundo o qual todos têm direito à
ação para defender direitos subjetivos, interesses difusos ou quaisquer outra posições subjetivas
- artigo 20º CRP.
Princípio da continuidade da audiência: Uma vez iniciada não deve ser interrompida,
exceto por razões excecionais. Há contacto com as provas pelo que não deve haver
discrepâncias temporais na determinação da vontade do juiz.
Princípio do contraditório (artigo 3º/3 CPC): O juiz deve observar e fazer cumprir ao longo
de todo o processo (desde a petição até à decisão final insuscetível de recurso ordinário) o
princípio do contraditório, não podendo decidir qualquer questão sem que as partes tenham tido
a oportunidade de antes da decisão (seja interlocutória ou final) de tentar influir nessa decisão.
Há proibição das decisões surpresa: Antes do juiz decidir algo com que as partes não
contariam porque não alegaram essas circunstâncias, o juiz deve alerta-las para essa
possibilidade de ele decidir uma certa questão formal ou de fundo/substância num certo sentido
não alegado pelas partes.