Você está na página 1de 82

TÓPICOS ESPECIAIS EM DIREITO

II
DIREITO PROCESSUAL
CIVIL E DIREITO DO
CONSUMIDOR
Autor: Kélvia Faria Ferreira
Revisor: Larissa Gonçalves

INICIAR
introdução
Introdução
Nesta unidade, trataremos dos temas atinentes ao Direito Processual Civil e
ao Direito do Consumidor. Percorreremos as disciplinas de Processo Civil I, II
e III, revisando o conteúdo estudado durante a graduação. A revisão será
apresentada de acordo com os temas de maior recorrência nos exames da
Ordem dos Advogados do Brasil. Ao longo da unidade, você encontrará
remissões aos temas mais cobrados e indicações de leitura – especialmente
da lei seca. Passaremos pela Teoria Geral do Processo, relembrando os
métodos de solução de conflito; os conceitos de jurisdição, ação e processo;
os pressupostos processuais; as condições da ação; além dos princípios
processuais. Em seguida, vamos nos debruçar sobre o procedimento de
conhecimento e suas fases – postulatória, ordinatória, instrutória e decisória.
Em Processo Civil II, vamos relembrar a Teoria Geral dos Recursos e os
Recursos em Espécie. Já em Processo Civil III, analisaremos a tutela executiva,
por meio da liquidação de sentença, do cumprimento de sentença e da
execução. Finalmente, estudaremos os principais pontos atinentes ao Direito
do Consumidor. Vamos perpassar pela Teoria Geral do Direito do
Consumidor, relembrando os conceitos de consumidor e fornecedor –
sujeitos da relação de consumo. Aprenderemos os direitos básicos do
consumidor. Falaremos sobre a proteção contratual e a responsabilidade
pelo fato do produto e do serviço.
Processo Civil I

O Processo Civil é o ramo do Direito que se ocupa de estabelecer as normas


que regulamentarão o desenvolvimento dos processos judiciais nos quais se
busca a satisfação de interesse de natureza cível. Há uma ordenação lógica
de atos a serem praticados pelas partes até que se alcance o provimento
jurisdicional. Nesta seção, estudaremos os predicados básicos que
constituem a Teoria Geral do Processo, bem como o desenvolvimento do
procedimento comum, por meio do qual se leva a demanda ao
conhecimento do Estado-juiz, buscando dele um pronunciamento.

Teoria Geral do Processo


Para que o Estado-juiz possa exercer sua função de dizer o direito no caso
concreto, é necessário que se observem determinados requisitos no
momento de formulação da demanda. Analisaremos, agora, quais são os
métodos de solução de conflitos, a fim de nos debruçarmos sobre o
processo judicial – método tradicional. Veremos que há uma tríade que
compõe a Teoria Geral do Processo – jurisdição, ação e processo. Em
seguida, abordaremos os pressupostos processuais necessários para o
regular ajuizamento e andamento da demanda, as condições da ação, bem
como os princípios aplicáveis ao processo civil.

Métodos de Solução de Conflitos


A vida em sociedade traz consigo a evidente ocorrência de conflitos. Seres
humanos, no exercício de suas atividades cotidianas, inevitavelmente, em
algum momento, terão interesses que se colocarão frente a interesses
diversos de outros seres humanos – e aqui já podemos falar do tradicional
conceito de pretensão e pretensão resistida, ou seja, alguém pretende fazer
algo que um outro alguém não gostaria que aquele fizesse.

Para resolver tais conflitos – ocasionados por pretensões opostas –, existem


vários métodos. Nesta seção, falaremos rapidamente de cada um deles,
para, ao final, debruçarmo-nos sobre a forma tradicional de se resolver
litígios: o processo judicial.

Em primeiro lugar, temos que saber que há, basicamente, três formas de
resolvermos litígios. São elas: a autotutela, a autocomposição e a
heterocomposição. A autocomposição divide-se em: negociação, mediação e
conciliação. Já a heterocomposição divide-se em: arbitragem e processo
judicial. Vamos relembrar cada uma delas?

Autotutela: “auto” significa própria, ou seja, é a defesa feita pelo próprio


interessado. Nesse tipo de situação, a parte, em vez de buscar a tutela do
Poder Judiciário, decide praticar os atos necessários para ver seus interesses
atendidos. Um exemplo de autotutela, retratado na mídia televisiva, é o caso
do morador de um condomínio que, incomodado com o barulho da reforma
realizada por um vizinho, jogou gás de pimenta no imóvel onde estava sendo
feita a obra, a fim de fazer cessar o barulho que o incomodava. Ele, por seus
próprios meios, buscou a resolução de seu conflito. Mas, veja, esse é o tipo
de situação, em regra, vedada pelo ordenamento jurídico brasileiro. Se o
morador estava incomodado, ele deveria buscar os meios legais, acionando
o condomínio para verificar a regularidade da obra e, em última instância,
recorrer ao Poder Judiciário, certo?! No caso, além de outros crimes, como
lesão corporal, o morador pode ter praticado o delito de exercício arbitrário
das próprias razões. Portanto, não poderia ter praticado a autotutela. Há, no
entanto, ocasiões em que é possível praticar a autotutela, desde que
cumpridos os requisitos legais, a exemplo da legítima defesa e da greve.
Outra hipótese de autotutela permitida pelo nosso ordenamento jurídico é o
caso do possuidor que tem sua posse turbada ou esbulhada. Na iminência
da ocorrência de um esbulho possessório, pode o possuidor usar da força
para impedir a turbação ou esbulho – art. 1.210, § 1º, Código Civil (BRASIL,
2002).

Já na categoria autocomposição , temos os métodos de resolução de


conflitos: negociação, mediação e conciliação . Veja, “auto” significa
próprio, e “composição”, nesse contexto, significa acordo, pacto, transação.
Logo, na autocomposição, as partes chegam a uma solução para seu conflito
sem que haja a necessidade de uma manifestação impositiva do Poder
Judiciário. Essa solução pode ser alcançada com ou sem auxílio de terceiros,
e é a partir daí que podemos traçar as principais distinções entre os três
tipos de métodos adequados de solução de litígios.

A negociação é o tipo mais simples dos métodos. Vejamos o que dispõe o


art. 840 do Código Civil (BRASIL, 2002, on-line ): “Art. 840. É lícito aos
interessados prevenirem ou terminarem o litígio mediante concessões
mútuas”. Ou seja, podem as partes envolvidas em um conflito impedirem a
chegada deste ao Poder Judiciário ou mesmo botarem fim a processo já em
curso por meio de atos de disposição mútua – cada um aceita ceder
parcialmente ao seu interesse para alcançar-se a solução. Imagine uma
situação de terrenos vizinhos em que um dos confrontantes precisa realizar
uma obra em sua propriedade, mas, para isso, terá que passar pelo terreno
do vizinho por várias semanas, causando-lhe certo transtorno. Os
confrontantes podem, de modo consensual, acordarem que o vizinho
aceitará a passagem do outro por seu terreno, desde que respeite
determinados horários e que não haja nenhum tipo de dano. Observe que,
judicialmente, muito provavelmente o vizinho que precisa realizar a obra
conseguiria tal provimento, mas os confrontantes evitaram a demanda por
meio da negociação feita entre eles. Essa negociação também poderia
ocorrer quando já proposta a ação, para que se evitasse o prolongamento do
feito.

A negociação como método adequado de solução de conflitos não pode ser


confundida com a negociação processual. Esta última ocorre quando as
partes negociam a forma como serão conduzidas determinadas partes do
processo – art. 190 e 191, Código de Processo Civil (BRASIL, 2015). Por
exemplo: abrem mão da intimação pessoal de certos atos ou de prazos
dilatórios. Lembrando que não são todos os atos processuais que podem ser
negociados.

A mediação , por sua vez, é o método adequado de resolução de conflitos


em que há a participação de um terceiro, ou seja, uma pessoa não
interessada na causa que vai auxiliar as partes em conflito a tentarem
encontrar uma solução para o impasse. O mediador não apresenta possíveis
soluções, mas apenas facilita o diálogo. A finalidade de sua atuação é
possibilitar que as partes encontrem sozinhas a melhor saída para o caso. Já
na conciliação , o terceiro imparcial – o conciliador – pode apontar possíveis
saídas para resolver a questão.

As duas principais diferenças entre a mediação e a conciliação estão no fato


de que, na mediação, geralmente há relação anterior entre as partes, por
exemplo, nos casos envolvendo família. É, especialmente, em virtude dessa
relação prévia entre as partes que o mediador não aponta soluções. Ele
apenas facilita o diálogo entre pessoas que já se conhecem e já possuem
algum tipo de relacionamento prévio. Já na conciliação, normalmente, não se
envolvem questões afetivas ou familiares, sendo, por isso, permitido ao
conciliador apresentar possíveis soluções.

Por outro lado, temos os métodos heterocompositivos de solução de


litígios. Nesses, não são as partes que encontrarão sozinhas a saída para
suas diferenças, mas um terceiro decidirá impositivamente. Na arbitragem ,
tem-se a eleição de um juízo arbitral, ou seja, uma pessoa, ou um corpo de
pessoas, com aptidão para decidir a demanda de modo coercitivo. Logo, a
decisão do juízo arbitral vincula as partes e deve ser cumprida
obrigatoriamente. Por fim, temos as decisões judiciais , que são o recurso
mais conhecido de solução de litígios, por meio do qual transferimos ao
Estado-juiz o poder-dever de dizer o direito no caso concreto.

Jurisdição, Ação e Processo


O conceito apresentado acima é um dos conceitos primordiais para
entendermos a Teoria Geral do Processo, pois se trata do conceito de
jurisdição . Em regra, apenas o Estado, por meio do Poder Judiciário, pode
dizer o direito, solucionando conflitos de interesse, afinal, “é mediante o
poder jurisdicional que o Estado, aplicando a lei ao caso concreto, poderá
afirmar quem tem o direito, solucionando e pondo fim à lide” (SALES, 2018,
p. 4).

Você se lembra do que é lide ? Lide é o nome que se dá para o conflito de


interesses que ocasiona a atuação estatal. Há lide quando há uma pretensão
(um bem da vida que uma pessoa deseja ou algo que a pessoa quer fazer ou
deixar de fazer) e essa pretensão encontra resistência de outra pessoa, ou
seja, é uma pretensão resistida. Por isso, diz-se que “lide é o conflito de
interesse qualificado por uma pretensão resistida” (SALES, 2018, p. 4).

Então, já sabemos que, ocorrendo uma lide – conflito de interesses


qualificado por uma pretensão resistida –, a parte que sofre a resistência
pode buscar a tutela jurisdicional para dirimir/solucionar a questão. Isso
porque a jurisdição é o poder-dever do Estado, exercido por meio do Poder
Judiciário, de dizer o direito no caso concreto.

Mas como a parte interessada busca esse pronunciamento judicial? Por meio
do direito de ação . Ação “é o poder de dar início a um processo, e dele
participar, com o intuito de obter do Poder Judiciário uma resposta ao pleito
formulado” (GONÇALVES, 2020, p. 103). Então, é por meio do direito de ação
que aquele que tem uma pretensão resistida chama o Judiciário a se
manifestar.

A esta altura, você já deve imaginar que o instrumento usado para acionar o
Poder Judiciário é o processo judicial . É por meio do processo que o
interessado exerce seu direito de ação, pedindo que o Estado se manifeste e
resolva a demanda, pacificando, assim, a sociedade. Processo, então, é o
meio/instrumento utilizado para se buscar um bem da vida. “O processo
judicial é nada mais do que uma sucessão de atos, concatenados e
ordenados de maneira lógica, para atingir o resultado final” (SALES, 2018, p.
3).

Estamos, pois, diante da tríade clássica que compõe os elementos essenciais


do Direito Processual Civil: jurisdição, ação e processo. Note que esses três
elementos se relacionam e são interdependentes. Nas palavras de Gonçalves
(2020, p. 158):

Com a evolução da sociedade, a solução dos conflitos tornou-se


atributo de um dos poderes do Estado, a jurisdição tem de ser
acionada pelo prejudicado por meio da ação. Assim que proposta,
o adversário do autor será convocado para manifestar-se,
podendo opor-se à pretensão inicial. E, como tudo visa o
provimento jurisdicional, forma-se um processo, em que, durante
algum tempo, os três personagens – autor, juiz e réu – se
relacionarão, de acordo com um roteiro previamente estabelecido
por lei, que se denomina procedimento. Eis, em suma, o
mecanismo estrutural do processo civil.

Portanto, apenas é possível a efetiva pacificação social porque o Estado


possui o monopólio de poder dizer o direito e às pessoas é possível buscar
essa tutela por meio do direito de ação, corporificado na figura do processo
judicial.
saiba
mais
Saiba mais
Atenção! Não deixe de ler o Título I do Livro
II do CPC/2015 (art. 16 a 20) que trata dos
temas jurisdição e ação. Lembre-se de que o
estudo para a primeira fase da OAB requer
muita leitura da lei seca! Dedique-se
também ao estudo das regras de
competência, estampadas nos art. 21 a 69
do CPC/2015. Acesse o Código de Processo
Civil para fazer a leitura dos artigos
indicados.

ACESSAR

Passaremos a analisar determinados requisitos intrínsecos a cada um desses


elementos, tais como os pressupostos processuais – relacionados ao
elemento processo – e as condições da ação – relacionadas ao elemento
ação.

Pressupostos Processuais
Os pressupostos processuais e as condições da ação devem ser analisados
antes de se analisar o mérito da demanda. São matérias de ordem pública,
ou seja, devem ser conhecidas de ofício pelo juiz. Apenas não é possível a
análise de ofício dos pressupostos processuais e das condições da ação de
ofício em sede de recurso especial e recurso extraordinário, quando é
necessário o prequestionamento.

Tradicionalmente, os pressupostos processuais são divididos em


pressupostos de existência e pressupostos de validade. A seguir,
apresentamos esquematicamente os pressupostos:
Figura 1.1: Pressupostos processuais
Fonte: Elaborada pela autora.

#PraCegoVer : a Figura 1.1 apresenta um fluxograma dos pressupostos


processuais. O fluxo está representado em retângulos. O retângulo mais alto do
fluxo representa os pressupostos processuais. Dele, saem duas linhas, uma para
a direita e outra para a esquerda. Na esquerda, há um segundo retângulo, em
um patamar abaixo do primeiro, no qual está escrito “De existência''. Desse
retângulo, saem mais duas linhas, apontando para dois novos retângulos um
patamar abaixo. No retângulo mais à esquerda, está o requisito “Investidura”.
Desse retângulo, sai mais uma seta que aponta para mais um retângulo, um
patamar abaixo, no qual está escrito “Juiz investido de jurisdição (aprovado em
concurso, nomeado e empossado)”. No retângulo à direita, está escrito
“Demanda regularmente formulada”. Desse retângulo, sai mais uma seta,
apontando para um retângulo um patamar abaixo, no qual está escrito “partes;
pedido; causa de pedir; apresentada ao juízo, atendendo aos requisitos legais
(art. 319, CPC)”. Voltando ao primeiro retângulo – dos pressupostos processuais
–, temos uma seta para a direita, apontando para um retângulo, no qual está
escrito “De validade”. Desse retângulo, saem cinco setas, apontando para cinco
retângulos, todos um patamar abaixo. No primeiro, da esquerda para a direita,
está escrito “Competência material”. No segundo, está escrito “Imparcialidade do
juiz”. No terceiro, está escrito “Capacidade das partes”. Desse terceiro retângulo,
sai uma seta, apontando para um novo retângulo um patamar abaixo, no qual
está escrito “de direito (nascimento com vida); de fato (poder estar em juízo);
postulatória (advogado)”. Voltando ao patamar acima, no quarto retângulo, está
escrito “Inexistência de fatos extintivos da relação jurídica processual”. Desse
retângulo, sai uma seta que aponta para um outro retângulo, um patamar
abaixo, no qual está escrito “PRESSUPOSTOS NEGATIVOS: perempção,
litispendência, convenção de arbitragem”. Por fim, no quinto retângulo do
patamar superior, está escrito “Respeito às formalidades do processo”.

Dessa forma, para que o processo se desenvolva corretamente, é necessária


a existência de um juiz devidamente investido de jurisdição, e a demanda
deve ser formulada corretamente, com a indicação das partes, da causa de
pedir e do pedido, bem como atendendo aos requisitos do art. 319 do CPC
(BRASIL, 2015). Para que esse processo seja válido, o juiz precisa ter
competência material para julgar a causa e ser imparcial. Além disso, as
partes precisam possuir capacidade de direito e de fato e estarem
devidamente assistidas por um advogado. Não podem estar presentes os
pressupostos negativos – perempção, litispendência e convenção de
arbitragem. Por fim, é preciso respeitar as formalidades do processo.

Condições da Ação
O exercício do direito de ação não é livre de condicionamentos. Para exercê-
lo, devem ser respeitadas, além dos pressupostos processuais, as condições
da ação. De acordo com o art. 17 do CPC, “para postular em juízo é
necessário ter interesse e legitimidade” (BRASIL, 2015, on-line ). São essas as
duas condições da ação.

No regramento anterior – CPC de 1973 –, tínhamos três condições da ação.


Além das duas que permanecem, também era considerada condição da ação
a possibilidade jurídica do pedido (art. 267, VI do CPC/1973). Seguindo o
entendimento doutrinário mais atual, o Código de 2015 teve por bem
eliminar a possibilidade jurídica do pedido da categoria condições da ação.
Há quem entenda que, com essa mudança, a possibilidade jurídica passa a
fazer parte do interesse. O que faz sentido, já que não se pode considerar
como justo interesse a ação que pede coisa impossível juridicamente.
A respeito da legitimidade , deve-se observar o art. 18 (BRASIL, 2015, on-line
), que assim dispõe:

Art. 18. Ninguém poderá pleitear direito alheio em nome próprio,


salvo quando autorizado pelo ordenamento jurídico. Parágrafo
único. Havendo substituição processual, o substituído poderá
intervir como assistente litisconsorcial.

O artigo transcrito traz a regra, bem como a exceção. Em regra, apenas


possui legitimidade para ir a juízo o detentor do direito. Não pode um
terceiro propor, na condição de autor, demanda que verse sobre direito de
outrem. Trata-se da legitimidade exclusiva .

Além desta, temos também a legitimidade concorrente , que são os casos


de litisconsórcio. Isto é, existe mais de uma pessoa detentora do direito, e
todas elas possuem, igualmente, o direito de ir a juízo.

Por fim, tem-se a ideia de legitimidade extraordinária , que é a exceção


mencionada pelo art. 18, que são aquelas situações nas quais o
ordenamento jurídico autoriza que um terceiro vá a juízo, em nome próprio,
pleitear direito alheio, agindo assim como substituto processual.

Atenção! Não confunda legitimidade extraordinária com representação.


Quando um incapaz vai a juízo, ele é representado ou assistido por seus
tutores/curadores. Esse não é um caso de legitimidade extraordinária. Isso
porque o tutor/curador não pleiteia em nome próprio direito alheio. O pleito
é feito em nome do incapaz, o qual é representado/assistido.

Já quanto ao interesse , podemos dizer que este se traduz no binômio


necessidade-adequação. Ou seja, o ajuizamento da demanda deve ser
necessário para que se alcance o fim almejado pelo autor. Por outro lado, a
ação proposta deve ser adequada. Por exemplo, não há interesse de agir
quando o autor propõe ação para cobrança de dívida não vencida, eis que
ainda não exigível. Também carecerá de interesse o autor que propuser ação
sem aptidão para alcançar a finalidade pretendida, como, por exemplo, a
impetração de um habeas corpus para a cobrança de dívida, já que o remédio
constitucional apenas possui aptidão para assegurar o direito de ir e vir.

Nas palavras de Gonçalves (2020, p. 169):

O interesse de agir exige o preenchimento do binômio:


necessidade e adequação. É preciso que a pretensão só possa ser
alcançada por meio do aforamento da demanda e que esta seja
adequada para a postulação formulada.

Portanto, para que o direito de ação possa ser exercido, é necessário que a
parte autora demonstre ter interesse e legitimidade, ou seja, que demonstre
ser a titular do direito pleiteado, bem como que demonstre a necessidade
daquela medida para se alcançar o bem da vida pretendido. Deve, ainda,
adotar a medida adequada à causa.

Princípios do Processo Civil


Os princípios possuem grande importância em nosso ordenamento jurídico,
haja vista adotarmos como orientação filosófica o pós-positivismo jurídico e
como concepção interpretativa o neoconstitucionalismo. Essas duas
diretrizes orientam o respeito aos princípios, por meio do reconhecimento
destes como normas jurídicas cogentes, sendo, portanto, de observância
obrigatória, da mesma forma que as regras.

Dessa forma, é essencial conhecermos quais são os princípios que regem o


Direito Processual Civil. Podemos dividi-los em princípios gerais
constitucionais e princípios infraconstitucionais – dispostos no CPC, em
legislação extravagante ou de reconhecimento doutrinário e jurisprudencial.

É importante ressaltar que o processo civil veio sofrendo um processo de


constitucionalização desde o pós-Segunda Guerra, o que foi positivado no
Código de 2015, já em seu artigo 1º, que assim dispõe: “Art. 1º O processo
civil será ordenado, disciplinado e interpretado conforme os valores e as
normas fundamentais estabelecidos na Constituição da República Federativa
do Brasil, observando-se as disposições deste Código” (BRASIL, 2015, on-line
).

Logo, o próprio CPC é claro ao declarar a subordinação das normas


processuais ao disposto na Constituição. Dessa forma, não se pode
negligenciar o que nossa Carta Magna dispõe e que se aplica ao direito
processual.

Podemos listar como princípios constitucionais diretamente ligados ao


processo civil os seguintes:
Dispositivo
Princípio Conceito
constitucional

Obrigatoriedade de que haja


um processo que respeite as
normas antes de se privar
alguém de seus bens ou de sua
liberdade. Possui duas
vertentes: formal e substancial.
O devido processo legal formal
Devido
Art. 5º, LIV obriga que se respeitem as
processo legal
normas procedimentais de
condução dos atos processuais.
Já o devido processo legal
substancial impõe limites ao
Estado, subordinando sua
atuação aos predicados de um
Estado Democrático de Direito.

Assegura que todos aqueles


que entenderem necessário
possam buscar o Poder
Judiciário e obter dele uma
resposta à sua demanda. Pode
Art. 5º, XXXV ocorrer de essa resposta não
Acesso à
(no CPC: art. ser de mérito, caso não
Justiça
3º, caput ) cumpridos os requisitos
necessários. Mas o direito de ir
a juízo está assegurado. Traduz
o direito de ação. Também
conhecido como princípio da
inafastabilidade da jurisdição.
Garante que o demandado seja
cientificado da pretensão contra
ele oposta e, mais que isso,
assegura que ele tenha a
Art. 5º, LV (no
Contraditório possibilidade de apresentar
CPC: art. 9º)
defesa. É obrigação do juiz ouvir
as partes e deixar que uma se
manifeste a respeito do alegado
pela outra.

Necessidade de que o Poder


Judiciário profira decisão em
tempo razoável. As partes não
podem ficar sem uma resposta
Duração Art. 5º, LXXVIII às suas demandas por tempo
razoável do (no CPC: art. indefinido. O CPC/2015 inclui na
processo 4º) duração razoável do processo a
atividade satisfativa, ou seja,
não basta a decisão judicial,
mas o seu efetivo cumprimento
em prazo razoável.

Paridade de tratamento entre


as partes, sem favorecimentos.
A igualdade que se busca não é
Art. 5º, caput e
apenas a formal, mas a
Isonomia inciso I (no
material. O princípio deve
CPC: art. 7º)
orientar a atuação do Poder
Legislativo, bem como do Poder
Judiciário.

Imparcialidade Art. 5º, XXXVII e Devem ser respeitadas as


do juiz LIII regras de competência, de
modo que as partes não
poderão escolher o juiz que
decidirá a causa. É vedada,
ainda, a criação de tribunais de
exceção, ou seja, criados após a
prática do ato.

Trata-se de princípio implícito


decorrente da própria lógica
constitucional que, ao
estabelecer a estrutura do
Poder Judiciário, com sua
divisão em instâncias, faz
Duplo grau de
- pressupor o direito de recurso.
jurisdição
Assim, em regra, as decisões
proferidas pelos órgãos
inferiores podem ser revistas
pelos superiores. Mas é
importante observar que há
diversas exceções a essa regra.

Sendo públicos os atos


processuais, pode a sociedade
exercer o controle sobre a
Art. 5º, LX e atuação do Poder Judiciário.
Publicidade
art. 93, X (no Todavia, há determinadas
dos atos
CPC: art. 11, situações em que a publicidade
processuais
caput ) seria prejudicial às partes ou ao
próprio interesse público, o que
justifica a exceção à regra,
determinando-se o sigilo.

Motivação das Art. 93, IX (no Também é mecanismo de


decisões CPC: art. 489, controle da atuação judicial. Ao
judiciais §1º) decidir, o magistrado precisa
explicitar claramente por que
decidiu desta ou daquela forma
para que as partes possam
conhecer do seu entendimento
e, caso entendam necessário,
opor sua irresignação.

Quadro 1.1: Princípios constitucionais aplicáveis ao processo civil


Fonte: Elaborado pela autora.

#PraCegoVer : o Quadro 1.1 apresenta o resumo das principais


características dos princípios constitucionais aplicáveis ao processo civil.
O quadro está dividido em 3 colunas e 10 linhas. Seguindo as colunas,
da esquerda para a direita, temos, na primeira linha, os itens “Princípio”,
“Dispositivo constitucional” e “Conceito”. Na segunda linha, na coluna
Princípio, está “Devido Processo Legal”; na coluna Dispositivo
constitucional, “Art. 5º, LIV”, e, na coluna Conceito, “Obrigatoriedade de
que haja um processo que respeite as normas antes de se privar
alguém de seus bens ou de sua liberdade. Possui duas vertentes: formal
e substancial. O devido processo legal formal obriga que se respeitem
as normas procedimentais de condução dos atos processuais. Já o
devido processo legal substancial impõe limites ao Estado,
subordinando sua atuação aos predicados de um Estado Democrático
de Direito”. Na terceira linha, está o princípio do “Acesso à Justiça”, na
coluna Dispositivo constitucional, está “Art. 5º, XXXV (no CPC: art. 3º,
caput)”, e, na coluna Conceito, está “Assegura que todos aqueles que
entenderem necessário possam buscar o Poder Judiciário e obter dele
uma resposta à sua demanda. Pode ocorrer de essa resposta não ser de
mérito, caso não cumpridos os requisitos necessários. Mas o direito de
ir a juízo está assegurado. Traduz o direito de ação. Também conhecido
como princípio da inafastabilidade da jurisdição”. Na quarta linha, o
princípio é o do “Contraditório”; o dispositivo constitucional é “Art. 5º, LV
(no CPC: art. 9º)”, e o conceito “Garante que o demandado seja
cientificado da pretensão contra ele oposta e, mais que isso, assegura
que ele tenha a possibilidade de apresentar defesa. É obrigação do juiz
ouvir as partes e deixar que uma se manifeste a respeito do alegado
pela outra. Na quinta linha, está o princípio da “Duração razoável do
processo”. Na coluna Dispositivo constitucional, está “Art. 5º, LXXVIII (no
CPC: art. 4º)”, e o conceito é o seguinte: “Necessidade de que o Poder
Judiciário profira decisão em tempo razoável. As partes não podem ficar
sem uma resposta às suas demandas por tempo indefinido. O CPC/2015
inclui na duração razoável do processo a atividade satisfativa, ou seja,
não basta a decisão judicial, mas o seu efetivo cumprimento em prazo
razoável”. Na sexta linha, está o princípio da “Isonomia”, cujo dispositivo
constitucional correspondente é o “Art. 5º, caput e inciso I (no CPC: art.
7º)”, e o conceito é: “Paridade de tratamento entre as partes, sem
favorecimentos. A igualdade que se busca não é apenas a formal, mas a
material. O princípio deve orientar a atuação do Poder Legislativo, bem
como do Poder Judiciário”. Na sétima linha, está o princípio da
“Imparcialidade do juiz”, o dispositivo constitucional é o “Art. 5º, XXXVII e
LIII”, e o conceito é: “Devem ser respeitadas as regras de competência,
de modo que as partes não poderão escolher o juiz que decidirá a
causa. É vedada, ainda, a criação de tribunais de exceção, ou seja,
criados após a prática do ato”. Na oitava linha, está o princípio do
“Duplo grau de jurisdição”, na coluna Dispositivo constitucional, está um
traço, pois não há dispositivo constitucional correspondente, na coluna
Conceito, está: “Trata-se de princípio implícito decorrente da própria
lógica constitucional que, ao estabelecer a estrutura do Poder Judiciário,
com sua divisão em instâncias, faz pressupor o direito de recurso.
Assim, em regra, as decisões proferidas pelos órgãos inferiores podem
ser revistas pelos superiores. Mas é importante observar que há
diversas exceções a essa regra”. Na nona linha, está o princípio da
“Publicidade dos atos processuais”, cujo dispositivo constitucional
correspondente é o “Art. 5º, LX e art. 93, X (no CPC: art. 11, caput )”, o
conceito é: “Sendo públicos os atos processuais, pode a sociedade
exercer o controle sobre a atuação do Poder Judiciário. Todavia, há
determinadas situações em que a publicidade seria prejudicial às partes
ou ao próprio interesse público, o que justifica a exceção à regra,
determinando-se o sigilo”. Por fim, na décima linha, está o princípio da
“Motivação das decisões judiciais”, no dispositivo constitucional, está o
“Art. 93, IX (no CPC: art. 489, § 1º)”, e, no conceito, está: “Também é
mecanismo de controle da atuação judicial. Ao decidir, o magistrado
precisa explicitar claramente por que decidiu desta ou daquela forma
para que as partes possam conhecer do seu entendimento e, caso
entendam necessário, opor sua irresignação”.

Por sua vez, temos outros princípios que estão positivados no Código de
Processo Civil. São eles:
Dispositivo
Princípio Conceito
legal

Tem estrita ligação com o princípio da


Princípio inércia. Cabe à parte decidir se irá
Art. 2º
dispositivo propor a demanda, quando e quais os
termos do pedido.

A jurisdição é inerte quanto ao início


da ação. Todavia, uma vez proposta a
Princípio do demanda, ela se desenvolve por
impulso Art. 2º impulso oficial, ou seja, cabe ao
oficial magistrado tomar as medidas
necessárias para o regular
andamento do feito.

Todos que participam do processo


Princípio da
Art. 5º devem agir de modo probo e íntegro,
boa-fé
com respeito e lealdade.

Dever de todos os participantes do


processo. Todos devem cooperar para
Princípio da
Art. 6º que se alcance a resolução da
cooperação
demanda em tempo razoável,
evitando pedidos protelatórios.

Quadro 1.2: Princípios legais aplicáveis ao processo civil


Fonte: Elaborado pela autora.

#PraCegoVer : o Quadro 1.2 apresenta o resumo das principais


características dos princípios legais aplicáveis ao processo civil. O
quadro está dividido em 3 colunas e 5 linhas. Seguindo as colunas, da
esquerda para a direita, temos, na primeira linha, os itens “Princípio”,
“Dispositivo legal” e “Conceito”. Na segunda linha, na coluna Princípio,
está “Princípio dispositivo”; na coluna Dispositivo legal, está “Art. 2º”, na
coluna Conceito: “Tem estrita ligação com o princípio da inércia. Cabe à
parte decidir se irá propor a demanda, quando e quais os termos do
pedido”. Na terceira linha, está o “Princípio do impulso oficial”, na coluna
Dispositivo legal, está “Art. 2º”, e, na coluna Conceito, está: “A jurisdição
é inerte quanto ao início da ação. Todavia, uma vez proposta a
demanda, ela se desenvolve por impulso oficial, ou seja, cabe ao
magistrado tomar as medidas necessárias para o regular andamento do
feito”. Na quarta linha, o princípio é o da “boa-fé”; o dispositivo legal é
“Art. 5º”, e o conceito: “Todos que participam do processo devem agir de
modo probo e íntegro, com respeito e lealdade”. Na quinta linha, está o
“Princípio da cooperação”, na coluna Dispositivo legal, está “Art. 6º”, e o
conceito é o seguinte: “Dever de todos os participantes do processo.
Todos devem cooperar para que se alcance a resolução da demanda em
tempo razoável, evitando pedidos protelatórios”.

Lembre-se, os princípios são de observância obrigatória na atual sistemática


constitucional e processual. Para além de funcionarem como postulados
interpretativos, possuem cogência e aplicabilidade imediata no processo
civil.

Processo de Conhecimento
O CPC enuncia um número considerável de procedimentos especiais. Tais
procedimentos apresentam peculiaridades que os distinguem entre si e
também os distinguem do procedimento comum. O procedimento comum é
a regra geral do CPC. Quase sempre, os procedimentos especiais adaptam
algumas partes do procedimento comum para atender às necessidades
decorrentes do direito subjetivo que é tutelado por aquele procedimento.
Muito embora o procedimento comum seja o que se aplica via de regra, os
casos de sua aplicação são encontrados por exclusão: não havendo nenhum
procedimento especial para aquela situação, usa-se o procedimento comum.
Mas, ainda que haja procedimento especial, o procedimento comum tem
aplicação subsidiária, conforme dispõe o art. 318 do CPC (BRASIL, 2015, on-
line ):

Art. 318. Aplica-se a todas as causas o procedimento comum,


salvo disposição em contrário deste Código ou de lei. Parágrafo
único. O procedimento comum aplica-se subsidiariamente aos
demais procedimentos especiais e ao processo de execução.

O procedimento comum possui quatro fases. São elas: fase postulatória; fase
ordinatória; fase instrutória e fase decisória. O regular andamento do feito
segue esse caminho até a decisão que, preferencialmente, resolverá o mérito
da demanda. A primeira fase representa o momento de apresentação da
demanda ao Estado-juiz e a formação da relação jurídico-processual. Nela, o
autor propõe a demanda e o réu é chamado a se defender. Na segunda fase,
o juiz, em regra, saneia o feito e conduz o processo para a terceira fase, mas
os rumos do processo dependerão da apresentação ou não de resposta do
réu. Na terceira fase, são produzidas as provas necessárias para que se
tenha uma decisão de mérito. Por fim, na quarta fase, o juiz decide a
demanda definitivamente.
reflita
Reflita
Fique atento! O procedimento
comum é um dos temas de maior
recorrência no Exame da Ordem. É
muito importante conhecer o
caminho que o processo conduzido
pelo procedimento comum segue,
bem como suas normas. Não esqueça
de ler a lei seca para se acostumar
com a redação legislativa. O
procedimento comum está descrito a
partir do art. 319 do CPC/2015.

Vejamos algumas peculiaridades de cada uma das fases.

Fase Postulatória
É o momento no qual tem início a demanda e se forma, em regra, a
triangulação da relação processual: Estado-juiz, autor e réu. Nessa fase, o
autor apresenta sua pretensão ao Estado-juiz e o réu é chamado a exercer
seu direito de defesa.

A. Petição inicial
Já vimos que o exercício do direito de ação se manifesta por meio da
propositura de um processo judicial. O início desse processo ocorre com a
interposição da petição inicial pela parte autora. É nessa peça que o autor
deduzirá todos os fatos e argumentos jurídicos que considera aptos a
assegurar sua pretensão.
Segundo Gonçalves (2020, p. 460), a petição inicial:

É o ato que dá início ao processo, e define os contornos subjetivo


e objetivo da lide, dos quais o juiz não poderá desbordar. É por
meio dela que será possível apurar os elementos identificadores
da ação: as partes, o pedido e a causa de pedir.

O CPC (BRASIL, 2015) enumera uma série de requisitos cujo cumprimento é


necessário para que se considere a demanda devidamente ajuizada. A
ausência deles, em regra, pode ocasionar o indeferimento da petição inicial.
Todavia, tendo em vista a instrumentalidade do processo e a busca pela
tutela satisfativa, pode ser que o magistrado determine a emenda da inicial.

Vejamos, a seguir, quais são esses requisitos, de acordo com o CPC/2015.


Requisitos da petição inicial: art. 319 e 320, CPC

É o endereçamento da petição .
Como uma carta, a petição inicial
deve apontar a quem ela se
O juízo a que é dirigida
dirige, de acordo com as regras
de competência estabelecidas
pelo ordenamento jurídico.

É a qualificação das partes . Os


dados previstos no Código visam
permitir a perfeita
individualização das partes,
evitando-se problemas com
Os nomes, os prenomes, o
homônimos, por exemplo. Além
estado civil, a existência de união
disso, viabilizam a citação do réu.
estável, a profissão, o número de
Todavia, caso a parte autora,
inscrição no Cadastro de Pessoas
justificadamente, não tenha
Físicas ou no Cadastro Nacional
acesso ou não possa identificar
da Pessoa Jurídica, o endereço
com precisão a parte ré, isso não
eletrônico, o domicílio e a
ocasionará o indeferimento da
residência do autor e do réu
inicial, sendo possível a citação
por edital ou a tomada de outras
providências necessárias à
perfeita individualização da parte
ré.

O fato e os fundamentos É a causa de pedir . É a perfeita


jurídicos do pedido aplicação do brocardo jurídico
“Dá-me os fatos que te darei o
direito”. O juiz está vinculado ao
caso narrado na inicial. Seu
provimento deve considerar a
situação fática trazida à sua
apreciação. Também deve o
autor apontar o fundamento
jurídico, demonstrando que a lei
acolhe sua pretensão. Todavia,
não há obrigação de apontar o
dispositivo legal, pois o juiz
conhece o direito ( juris novit
curia ).

O pedido , junto com as partes e


a causa de pedir, forma a tríade
dos elementos da ação. Sem ele,
não há como o Estado-juiz
pronunciar-se. Ele deve ser claro,
apontando se a pretensão é
condenatória, declaratória ou
O pedido com as suas
constitutiva, bem como qual o
especificações
bem da vida que se busca com a
demanda. O pronunciamento
judicial está vinculado ao pedido
(lembrar das sentenças infra,
ultra e extra petita). Deve haver
clara correlação entre a causa de
pedir e o pedido.

O valor da causa Toda causa deve ter um valor, o


qual deve refletir, em regra, o
proveito econômico que se
pretende com a demanda. Mas,
ainda que não seja possível
verificar um conteúdo
econômico auferível de imediato,
a causa precisa ter um valor. É o
que dispõe o art. 291 do CPC. O
valor da causa é de grande
importância para determinar: a
competência (é um dos critérios
de determinação de
competência); o procedimento
(especialmente para determinar
a possibilidade de se demandar
nos juizados especiais); as custas
processuais; os recursos em
execução fiscal. O art. 292 traz
critérios que auxiliam na fixação
do valor da causa.

O apontamento das provas que


se pretende produzir é um dos
requisitos da inicial que se pode
flexibilizar. Caso o autor aponte,
por exemplo, que pretende tão
somente produzir prova
documental, não estará
As provas com que o autor impedido de requerer, no
pretende demonstrar a verdade momento oportuno, outras
dos fatos alegados provas. Isso porque entende-se
que, no decorrer da demanda,
pode surgir a necessidade de
outras provas para a perfeita
elucidação dos fatos. Como o
objetivo máximo do processo é a
tutela satisfativa, relativiza-se
esse critério.

A opção do autor pela realização No procedimento comum,


ou não de audiência de obrigatoriamente, o juiz deve
conciliação ou de mediação designar audiência de tentativa
de conciliação. Caso o autor
entenda que esta não é viável,
pode assim se manifestar na
inicial. Mas a audiência apenas
deixará de ser realizada com a
concordância da parte ré.

A depender da natureza da
causa e do bem da vida que se
busca, certos documentos são
indispensáveis. Por exemplo, na
ação de divórcio, é fundamental
juntar a certidão de casamento.
É indispensável, também, a
juntada da procuração e do
comprovante de recolhimento de
custas (quando não houver
pedido de justiça gratuita). O art.
435 autoriza a juntada de
A petição inicial será instruída
documentos a qualquer
com os documentos
momento, mas é preciso que
indispensáveis à propositura da
estes sejam “destinados a fazer
ação.
prova de fatos ocorridos depois
dos articulados ou para
contrapô-los aos que foram
produzidos nos autos” (BRASIL,
2015, on-line ). É possível
também a juntada posterior de
documentos, caso a parte prove
que os documentos se tornaram
acessíveis, conhecidos ou
disponíveis após a propositura
da demanda (parágrafo único do
art. 435).
Quadro 1.3: Requisitos da petição inicial
Fonte: Elaborado pela autora.

#PraCegoVer : o Quadro 1.3 traz os requisitos da petição inicial, de


acordo com os art. 319 e 320 do CPC. O quadro está dividido em 2
colunas e 9 linhas. Seguindo as colunas, da esquerda para a direita,
temos, na primeira linha, o nome do quadro. A partir da segunda linha,
temos, na coluna da esquerda, o requisito legal e, na coluna da direita, a
descrição deste. Na segunda linha, na primeira coluna, está escrito “O
juízo a que é dirigida”, e, na segunda coluna, está escrito “É o
endereçamento da petição . Como uma carta, a petição inicial deve
apontar a quem ela se dirige, de acordo com as regras de competência
estabelecidas pelo ordenamento jurídico”. Na terceira linha, na primeira
coluna, está escrito “Os nomes, os prenomes, o estado civil, a existência
de união estável, a profissão, o número de inscrição no Cadastro de
Pessoas Físicas ou no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica, o endereço
eletrônico, o domicílio e a residência do autor e do réu”, e, na segunda
coluna, está: “É a qualificação das partes . Os dados previstos no
Código visam permitir a perfeita individualização das partes, evitando-se
problemas com homônimos, por exemplo. Além disso, viabilizam a
citação do réu. Todavia, caso a parte autora, justificadamente, não
tenha acesso ou não possa identificar com precisão a parte ré, isso não
ocasionará o indeferimento da inicial, sendo possível a citação por edital
ou a tomada de outras providências necessárias à perfeita
individualização da parte ré”. Na quarta linha, temos, na primeira
coluna, “O fato e os fundamentos jurídicos do pedido", e, na segunda, “É
a causa de pedir . É a perfeita aplicação do brocardo jurídico ‘Dá-me os
fatos que te darei o direito’. O juiz está vinculado ao caso narrado na
inicial. Seu provimento deve considerar a situação fática trazida à sua
apreciação. Também deve o autor apontar o fundamento jurídico,
demonstrando que a lei acolhe sua pretensão. Todavia, não há
obrigação de apontar o dispositivo legal, pois o juiz conhece o direito (
juris novit curia )”. Na quinta linha, na primeira coluna, está “O pedido
com as suas especificações”, e, na segunda, “O pedido , junto com as
partes e a causa de pedir, forma a tríade dos elementos da ação. Sem
ele, não há como o Estado-juiz pronunciar-se. Ele deve ser claro,
apontando se a pretensão é condenatória, declaratória ou constitutiva,
bem como qual o bem da vida que se busca com a demanda. O
pronunciamento judicial está vinculado ao pedido (lembrar das
sentenças infra, ultra e extra petita). Deve haver clara correlação entre a
causa de pedir e o pedido”. Na sexta linha, na primeira coluna, está “O
valor da causa”, e, na segunda, está “Toda causa deve ter um valor, o
qual deve refletir, em regra, o proveito econômico que se pretende com
a demanda. Mas, ainda que não seja possível verificar um conteúdo
econômico auferível de imediato, a causa precisa ter um valor. É o que
dispõe o art. 291 do CPC. O valor da causa é de grande importância
para determinar: a competência (é um dos critérios de determinação de
competência); o procedimento (especialmente para determinar a
possibilidade de se demandar nos juizados especiais); as custas
processuais; os recursos em execução fiscal. O art. 292 traz critérios que
auxiliam na fixação do valor da causa”. Na sétima linha, na primeira
coluna, temos “As provas com que o autor pretende demonstrar a
verdade dos fatos alegados”, e, na segunda coluna, “O apontamento das
provas que se pretende produzir é um dos requisitos da inicial que se
pode flexibilizar. Caso o autor aponte, por exemplo, que pretende tão
somente produzir prova documental, não estará impedido de requerer,
no momento oportuno, outras provas. Isso porque entende-se que, no
decorrer da demanda, pode surgir a necessidade de outras provas para
a perfeita elucidação dos fatos. Como o objetivo máximo do processo é
a tutela satisfativa, relativiza-se esse critério”. Na oitava linha, na
primeira coluna, está “A opção do autor pela realização ou não de
audiência de conciliação ou de mediação”, e, na segunda coluna, está
“No procedimento comum, obrigatoriamente, o juiz deve designar
audiência de tentativa de conciliação. Caso o autor entenda que esta
não é viável, pode assim se manifestar na inicial. Mas a audiência
apenas deixará de ser realizada com a concordância da parte ré”. Por
fim, na nona linha, temos, na primeira coluna, “A petição inicial será
instruída com os documentos indispensáveis à propositura da ação”, e,
na segunda coluna, “A depender da natureza da causa e do bem da vida
que se busca, certos documentos são indispensáveis. Por exemplo, na
ação de divórcio, é fundamental juntar a certidão de casamento. São
indispensáveis, também, a juntada da procuração e do comprovante de
recolhimento de custas (quando não houver pedido de justiça gratuita).
O art. 435 autoriza a juntada de documentos a qualquer momento, mas
é preciso que estes sejam ‘destinados a fazer prova de fatos ocorridos
depois dos articulados ou para contrapô-los aos que foram produzidos
nos autos’ (BRASIL, 2015, on-line ). É possível também a juntada
posterior de documentos, caso a parte prove que os documentos se
tornaram acessíveis, conhecidos ou disponíveis após a propositura da
demanda (parágrafo único do art. 435)”.

B. Resposta do réu
Em respeito ao princípio do contraditório, ninguém pode ser demandado e
ter um provimento judicial contra si sem que lhe seja oportunizada a defesa.
Nesse sentido, o réu é chamado a se manifestar sobre os termos da
demanda, momento no qual se completa a relação jurídica processual, o que
ocorre por meio da citação.

Citado, o réu pode apresentar contestação e reconvenção. Pode, ainda,


requerer a intervenção de terceiros (denunciação da lide ou chamamento ao
processo). Tem ele o prazo de 15 dias para apresentar sua defesa (art. 335,
CPC), prazo este cujo início da contagem se dá à luz do art. 231 (BRASIL,
2015). Vejamos algumas particularidades sobre a contestação e a
reconvenção.

Contestação (art. 335 a 342, CPC/2015) : segundo Gonçalves (2020, p. 478),


ao apresentar a contestação, o réu:

[...] formula a pretensão de ver o pedido inicial desacolhido, no


todo ou em parte, apresentando os argumentos e fundamentos
que servirão para convencer o juiz. Daí que a pretensão contida
na contestação é sempre declaratória negativa, de que o juiz
declare que o autor não tem razão, desacolhendo o pedido.

A contestação obedece ao princípio da eventualidade, ou seja, todas as teses


defensivas são concentradas na peça contestatória, ainda que contraditórias
(se uma não for acolhida, o juiz pode acolher a outra. Além disso, o réu pode
defender-se processualmente (apresentando preliminares – art. 337 do CPC)
ou defender-se do mérito da demanda – argumentando, portanto, que o
autor não possui o direito que alega ter.

É possível resumir os principais aspectos da contestação da seguinte forma:


CONTESTAÇÃO

Características Prazo Conteúdo

Deve conter as
defesas processuais
(preliminares que,
em regra, poderiam
ser conhecidas de
ofício, exceto a
No procedimento
Peça de defesa por incompetência
comum, a
excelência, deve relativa e o
contestação deve
veicular toda a defesa compromisso
ser apresentada no
do réu. É a peça que arbitral). E também
prazo de quinze
se contrapõe à as defesas
dias. Se o réu for
petição inicial, substanciais ou de
Ministério Público,
servindo para que o mérito, que se
Fazenda Pública,
réu resista à classificam em
Defensoria Pública
pretensão do autor. diretas ou indiretas.
ou litisconsortes
Pelo princípio da As diretas são
com advogados
eventualidade, todas aquelas que negam
diferentes, de
as defesas, ainda que os fatos em que se
escritórios distintos,
não compatíveis baseia o pedido do
não sendo o
entre si, devem autor; e as indiretas
processo digital, o
figurar na são aquelas que,
prazo será em
contestação. conquanto não
dobro.
negando os fatos,
apresentam outros
impeditivos,
extintivos ou
modificativos do
direito do autor.
Quadro 1.4: Contestação
Fonte: Gonçalves (2020, p. 484).

#PraCegoVer : o Quadro 1.4 é denominado “Contestação”. O quadro


está dividido em 3 colunas e 3 linhas. Seguindo as colunas, da esquerda
para a direita, temos, na primeira linha, o nome do quadro. Na segunda
linha, temos, na primeira coluna, Características, na segunda, Prazo, e,
na terceira, Conteúdo. Na terceira linha, na coluna Características, está
escrito: “Peça de defesa por excelência, deve veicular toda a defesa do
réu. É a peça que se contrapõe à petição inicial, servindo para que o réu
resista à pretensão do autor. Pelo princípio da eventualidade, todas as
defesas, ainda que não compatíveis entre si, devem figurar na
contestação”. Na coluna Prazo, está escrito: “No procedimento comum,
a contestação deve ser apresentada no prazo de quinze dias. Se o réu
for Ministério Público, Fazenda Pública, Defensoria Pública ou
litisconsortes com advogados diferentes, de escritórios distintos, não
sendo o processo digital, o prazo será em dobro”. E, na coluna
Conteúdo, está escrito: “Deve conter as defesas processuais
(preliminares que, em regra, poderiam ser conhecidas de ofício, exceto
a incompetência relativa e o compromisso arbitral). E também as
defesas substanciais ou de mérito, que se classificam em diretas ou
indiretas. As diretas são aquelas que negam os fatos em que se baseia o
pedido do autor; e as indiretas são aquelas que, conquanto não
negando os fatos, apresentam outros impeditivos, extintivos ou
modificativos do direito do autor”.

Reconvenção (art. 343, CPC/2015) : é uma nova ação proposta em face do


autor da ação inicial. Embora sejam julgadas juntas, caso o autor desista da
ação ou ocorra alguma causa extintiva que obste a análise de mérito da
demanda principal, a reconvenção não será extinta. A reconvenção deve ser
apresentada junto com a contestação, sob pena de ocorrência da preclusão
consumativa. Na lógica do CPC/2015, contestação e reconvenção devem ser
apresentadas em peça única. Deve haver relação entre a demanda principal
e a reconvenção – requisito da conexidade.

Não cabe reconvenção, portanto, apenas para que o réu postule a


improcedência do pedido inicial, uma vez que isso não exige ação
autônoma, bastando a contestação. A reconvenção pressupõe
que o réu queira algo mais do autor, que não se satisfaça com a
mera improcedência, e queira formular pretensões em face dele
(GONÇALVES, 2020, p. 485).

Há, ainda, a possibilidade de apresentação de intervenção de terceiros pelo


réu neste momento, como a denunciação da lide e o chamamento ao
processo.

Fase Ordinatória (art. 347 a 353)


Findo o prazo para contestação, os autos serão conclusos ao juiz para que
este decida qual caminho o processo seguirá. Por óbvio, a decisão judicial
dependerá do ocorrido na fase postulatória, ou seja, dependerá da
apresentação ou não de contestação e de reconvenção, pois poderá ocorrer
a aplicação dos efeitos da revelia, caso não haja manifestação do
demandado no prazo a ele concedido.

Em caso de revelia, ou seja, a não apresentação de resposta no prazo, o juiz


pode ou não aplicar os efeitos da revelia. A regra é pela aplicação, conforme
art. 344 (BRASIL, 2015). Todavia, o art. 345 (BRASIL, 2015) traz as exceções,
nas quais a revelia não acarretará a presunção de veracidade dos fatos
alegados na inicial. Ocorrendo essa presunção, o juiz julgará
antecipadamente o mérito da demanda, já que não haverá a necessidade de
produção de provas. Não se aplicando os efeitos da revelia, o juiz saneia o
feito e passa à fase instrutória.

Na fase ordinatória, pode o juiz conceder ao autor a possibilidade de


apresentar réplica. A réplica é uma nova oportunidade para que o autor se
manifeste quanto aos termos da contestação e tem lugar quando o réu alega
fatos impeditivos, modificativos ou extintivos do direito do autor, bem como
preliminares de mérito. A réplica existe em respeito ao princípio do
contraditório.

É também nessa fase que o juiz determina a correção de eventuais vícios


sanáveis ou irregularidades do processo. O juiz, ainda, concede às partes a
oportunidade de especificarem as provas que pretendem produzir, já que,
nesse momento, já se têm perfeitamente delimitados os contornos da
demanda, sendo o momento adequado para que se observe quais são as
provas adequadas à solução da lide.

É possível, ainda, que ocorra o julgamento antecipado da lide, ou seja, sem


que se adentre na fase probatória. Ele ocorrerá caso o juiz entenda a
desnecessidade de produção de outras provas para a solução da demanda
ou quando o juiz entender ser caso de extinção do processo, acolhendo
alguma preliminar apresentada pela parte ré.

Fase Instrutória (art. 369 a 484)


Na fase instrutória, as partes buscarão meios de demonstrar cabalmente a
verdade dos fatos. Lembrando que apenas precisam ser provados os fatos
controvertidos, ou seja, aqueles nos quais há discordância das partes. Caso
haja algum fato alegado pela parte autora e não contestado pela parte ré,
será ele considerado fato incontroverso, presumindo-se verdadeiro. O art.
374 (BRASIL, 2015) enumera os fatos que independem de prova.

A produção de provas deve ser adequada à comprovação dos fatos, o juiz


deve indeferir as provas protelatórias e aquelas que considerar
desnecessárias à formação de sua convicção. O CPC (BRASIL, 2015) enumera
quais são as provas tipificadas legalmente, mas não há impedimento para
que se recorra a outras formas probatórias, desde que não proibidas pelo
direito.

Fase Decisória (art. 485 a 508)


Todo o curso do processo é conduzido para que se chegue à fase decisória,
na qual o Estado-juiz dará a sua manifestação acolhendo ou negando os
pedidos formulados na inicial. Muito embora sejam proferidas diversas
decisões no decorrer da demanda, a decisão que põe fim à fase cognitiva do
processo de conhecimento é, por excelência, a sentença, conforme dispõe o
art. 203, §1º do CPC (BRASIL, 2015).

A sentença possui uma estrutura que deve ser obedecida para que o
pronunciamento judicial efetivamente atenda à sua finalidade. Para isso,
deve apresentar, em primeiro lugar, o relatório da demanda. Nesse
relatório, o juiz identifica as partes, o pedido e as alegações emanadas em
sede de contestação e resume os principais acontecimentos no curso
processual – decisões interlocutórias, provas produzidas etc.

Após relatar os fatos, o juiz fundamentará sua decisão, por meio da


motivação da sentença. A necessidade de motivação das decisões judiciais é
mandamento constitucional, traduzido em princípio do processo civil,
conforme visto. As partes precisam entender quais foram as razões que
levaram o Estado-juiz a se manifestar de determinada forma para que, em
caso de irresignação, possam motivar seus eventuais recursos. A
fundamentação não pode se resumir à paráfrase ou à transcrição de
dispositivos legais ou julgados, devendo o magistrado fazer a devida
correlação destes com a demanda em análise.
Figura 1.2: Procedimento ordinário
Fonte: Elaborada pela autora.

#PraCegoVer : a imagem apresenta a Figura 1.2, que se trata de um fluxograma


sobre o procedimento ordinário. O fluxograma está organizado em patamares
verticais e horizontais. Na linha mais alta do fluxo, consta o nome da figura,
“Procedimento ordinário”. Na linha abaixo dessa, temos quatro retângulos
representando as fases do processo. Cada retângulo representa uma fase, e, em
cada um deles, há uma seta na horizontal apontando para o retângulo seguinte.
No primeiro retângulo, está escrito: “Fase postulatória”. No segundo, está
escrito: “Fase ordinatória”. No terceiro retângulo, está escrito: “Fase ordinatória”.
No quarto, está escrito: “Fase decisória”. De cada um desses quatro retângulos,
saem setas para a linha inferior, a fim de descrever como se desenrola cada uma
delas. Do retângulo da fase postulatória, saem duas setas apontando para dois
retângulos. No primeiro retângulo, da esquerda para a direita, está escrito:
“Petição inicial”. No segundo retângulo, está escrito: “Defesa do réu”. Desse
retângulo, sai mais uma seta apontando para um patamar abaixo, no qual há um
retângulo com as formas de defesa do réu, quais sejam: “Contestação,
Reconvenção e Intervenção de terceiros”. Do retângulo representando a fase
ordinária, saem cinco setas que apontam para cinco retângulos, um patamar
abaixo, descrevendo as possibilidades que podem ocorrer nessa fase. No
primeiro retângulo, está escrito: “Revelia”. No segundo, está escrito: “Réplica”. No
terceiro, está escrito: “Regularização”. No quarto, está escrito: “Especificação de
provas”. No quinto, está escrito: “Julgamento conforme o estado do processo”.
Um patamar abaixo, estão os retângulos decorrentes dos anteriores. Do
retângulo da revelia, saem mais dois, um patamar abaixo. No primeiro, está
escrito: “Presunção de veracidade: julgamento antecipado do mérito”. No
segundo, está escrito: “Não presunção: especificação de provas”. Do retângulo
da réplica, sai mais um, no qual está escrito: “Quando o réu alegar preliminares
do art. 337 ou apresentar fatos impeditivos, extintivos ou modificativos do
direito do autor”. Do retângulo da regularização, sai mais um, no qual está
escrito: “Correção de vícios sanáveis ou irregularidades”. Do retângulo da
especificação de provas, sai mais um retângulo, no qual está escrito: “Não
vincula nem as partes, nem o juiz, que pode indeferir as desnecessárias”. Do
retângulo de julgamento conforme o estado do processo, sai mais um, no qual
estão as hipóteses que podem ocorrer, sendo elas: “- Extinção do processo; -
Julgamento antecipado do mérito; - Julgamento antecipado parcial do mérito; -
Abertura da instrução”. Voltando ao patamar superior, do retângulo que
representa a fase instrutória, sai mais um retângulo, uma linha abaixo, no qual
está escrito: “Produção de provas”. Deste, também sai mais um retângulo, um
andar abaixo, no qual estão escritos os tipos de provas regulamentadas pelo
CPC: “- Prova documental; - Prova pericial; - Inspeção judicial; - Prova
testemunhal; - Depoimento pessoal; - Interrogatório das partes”. Seguindo, de
volta ao patamar superior, temos um retângulo saindo do retângulo da fase
decisória, um patamar abaixo, no qual está escrito: “Sentença (art. 203, § 1º, CPC)
= põe fim à fase cognitiva”. Deste retângulo, temos dois no patamar abaixo, um
ao lado do outro. No da esquerda está escrito: “- Sem resolução de mérito =
terminativa; - Com resolução de mérito = definitiva”. No da direita, está escrito:
“Requisitos da sentença”. Desse retângulo, saem mais três, nos quais cada
requisito da sentença é explicado. No primeiro retângulo, está escrito: “Relatório:
nome das partes, principais argumentos da inicial e da contestação, registro das
principais ocorrências”. No segundo, está escrito: “Motivação (art. 93, IX, CF/88):
razões pelas quais acolhe ou rejeita o pedido, apreciando fundamentos de fato e
de direito”. Já no terceiro, está escrito: “Dispositivo: a parte em que o juiz
efetivamente decide se acolhe ou rejeita o pedido. Somente o dispositivo faz
coisa julgada”.

Por fim, o juiz decide a demanda no dispositivo da sentença. É neste


momento que ele julga os pedidos procedentes, parcialmente procedentes,
improcedentes ou extingue o feito sem resolução de mérito. O dispositivo
deve ter relação com a motivação, pois é decorrente dela. Lembre-se de que
apenas o dispositivo da sentença faz coisa julgada.

Conhecimento
Teste seus Conhecimentos
(Atividade não pontuada)

O arquiteto Fernando ajuizou ação exclusivamente em face de Daniela, sua cliente,


buscando a cobrança de valores que não teriam sido pagos no âmbito de um
contrato de reforma de apartamento. Daniela, devidamente citada, deixou de
oferecer contestação, mas, em litisconsórcio com seu marido José, apresentou
reconvenção em peça autônoma, buscando indenização por danos morais em face
de Fernando e sua empresa, sob o argumento de que estes, após a conclusão das
obras de reforma, expuseram, em site próprio, fotos do interior do imóvel dos
reconvintes sem que tivessem autorização para tanto. Diante dessa situação
hipotética, assinale a afirmativa correta.
(Ano: 2020. Banca: FGV. Órgão: OAB. Prova: FGV - 2020 - OAB - Exame de Ordem
Unificado XXXI - Primeira Fase)

a) Como Daniela deixou de contestar a ação, ela e seu marido não poderiam
ter apresentado reconvenção, devendo ter ajuizado ação autônoma para
buscar a indenização pretendida.
b) A reconvenção deverá ser processada, a despeito de Daniela não ter
contestado a ação originária, na medida em que o réu pode propor
reconvenção independentemente de oferecer contestação.
c) A reconvenção não poderá ser processada, na medida em que não é lícito
a Daniela propor reconvenção em litisconsórcio com seu marido, que é um
terceiro que não faz parte da ação originária.
d) A reconvenção não poderá ser processada, na medida em que não é lícito
a Daniela incluir no polo passivo da reconvenção a empresa de Fernando,
que é um terceiro que não faz parte da ação originária.
Processo Civil II

Até agora, vimos como se desenvolve o processo até o pronunciamento


judicial que coloca fim à fase cognitiva. Por meio da sentença, o juiz resolve a
demanda, apontando quem tem o direito – autor ou réu – ou a extingue sem
analisar o mérito de acordo com as hipóteses legais.

Certamente, a parte que restar vencida no feito ficará irresignada com a


decisão. Pode acontecer de a parte entender que, de fato, a decisão judicial
está correta, mas, via de regra, a parte tem a intenção de buscar a reforma
da decisão. Ademais, é pacífico que o magistrado também pode falhar na
prestação da tutela jurisdicional, sendo possível que sua decisão não esteja
de acordo com o que a parte entende ser o adequado. Sendo assim, há toda
uma estrutura recursal, por meio da qual a parte insatisfeita com o
provimento judicial busca a reforma da decisão. Veremos, agora, as
principais características dos recursos, bem como quais são as hipóteses de
cabimento de cada um deles.
Teoria Geral dos Recursos
De acordo com a doutrina:

Recursos são os remédios processuais de que se podem valer as


partes, o Ministério Público e eventuais terceiros prejudicados
para submeter uma decisão judicial a nova apreciação, em regra
por um órgão diferente daquele que a proferiu, e que têm por
finalidade modificar, invalidar, esclarecer ou complementar a
decisão (GONÇALVES, 2020, p. 956).

Os recursos ocorrem dentro da mesma relação jurídica, ou seja, entre as


mesmas partes da demanda. Assim, se o recurso for apresentado pelo autor,
o recorrido será o réu e vice-versa. Eles têm o condão de atrasar a preclusão
e evitar a coisa julgada, ou seja, se a parte recorreu de uma decisão, não se
pode considerar preclusa sua possibilidade de praticar atos que dependam
da decisão do recurso. Da mesma forma, enquanto pendente recurso, não
se opera a coisa julgada. Tais efeitos se aplicam ainda que ao recurso não
tenha sido atribuído efeito suspensivo .

Por efeito suspensivo entende-se a suspensão do andamento processual


comum para que se aguarde a decisão recursal. Nem todos os recursos
possuem efeito suspensivo. O efeito aplicável a todos os recursos é o efeito
devolutivo , que significa a devolução da análise da demanda para o Poder
Judiciário.

É possível apresentar recursos para corrigir erros materiais ou erros formais.


Quando a parte entende que o julgador deixou de observar regras
processuais cogentes, alegará o error in procedendo , que, caso seja acolhido,
ocasionará a anulação da decisão, com a consequente devolução para o
próprio juízo de origem para que proceda à correção. Já nos casos em que o
juízo tenha proferido uma decisão considerada materialmente incorreta,
será alegado o error in judicando . Nesse caso, a decisão será reformada,
sendo outra proferida em seu lugar que a substituirá. Quem profere essa
nova decisão é o órgão revisor, também chamado de órgão ad quem .
Chama-se a quo o órgão que proferiu a decisão recorrida e ad quem o órgão
que julgará o recurso. Na lógica do CPC/1973, o órgão a quo realizava juízo
de admissibilidade recursal. Isto é, analisava se o recurso preenchia todos os
requisitos necessários para que o órgão ad quem pudesse apreciar o pedido
recursal. Mas, ao chegar no órgão ad quem , era feito outro juízo de
admissibilidade – o que acarretava ainda mais atraso na análise das
demandas e um retrabalho totalmente desnecessário. Tendo isto em mente,
o CPC/2015 aboliu esse juízo de admissibilidade feito pelo órgão a quo, o
qual passa a ser feito apenas pelo órgão ad quem . Mantém-se, todavia, a
interposição perante o órgão a quo – exceção feita ao agravo de
instrumento. Nesse sentido, o recurso é apresentado ao órgão a quo cuja
função, agora, restringe-se a remeter o feito para apreciação do órgão ad
quem , sem a necessidade de fazer juízo de admissibilidade recursal.

Outra característica dos recursos é a impossibilidade de a parte inovar no


pedido. O recurso tem a finalidade de reapreciar a demanda tal qual foi
proposta, não se pode trazer matérias não apreciadas pelo juízo originário
ou apresentar novos elementos de prova que poderiam ter sido
considerados na fase cognitiva. As exceções ficam por conta do art. 493 e do
art. 1.014 do CPC (BRASIL, 2015) e das questões de ordem pública, as quais
podem ser conhecidas de ofício e em qualquer grau de jurisdição.

Por fim, ressalte-se que, ao decidir, o órgão ad quem pode conhecer ou não
do recurso, dar provimento ou não. O recurso é conhecido quando preenche
todos os requisitos intrínsecos e extrínsecos de admissibilidade. A contrario
sensu , não é conhecido o recurso que deixa de cumprir algum requisito
necessário. Dar provimento ou não ao recurso significa concordar ou não
com as razões trazidas pelo recorrente. É dado provimento ao recurso
quando o órgão ad quem concorda com o recorrente e procede à reforma da
decisão originária. Por outro lado, não é dado provimento ao recurso
quando o órgão ad quem mantém a decisão originária, discordando,
portanto, do recorrente.
Recursos em Espécie
A seguir, apresentamos, resumidamente, as espécies de recursos dispostos
no Código de Processo Civil (BRASIL, 2015), bem como os respectivos
dispositivos legais que regulamentam cada um. Não deixe de ler
atentamente a lei seca indicada no quadro!
Recursos em espécie

Hipóteses de
Recurso Legislação
cabimento

Contra sentença e
contra decisão da qual
não caiba agravo de
instrumento. A
apelação devolve ao
tribunal a
possibilidade de
Apelação Art. 1.009 a 1.014
reanalisar o mérito da
demanda, inclusive a
valoração de provas.
Em regra, possui
efeito suspensivo; as
exceções estão no art.
1.012, § 1º.

Agravo de Art. 1.015 a 1.020 Contra decisões


instrumento interlocutórias, mas
apenas aquelas que
possuem aptidão de
causar grave prejuízo
a uma das partes ou
ao próprio andamento
do processo. A regra é
a irrecorribilidade das
decisões
interlocutórias em
separado. O art. 1.015
enumera as decisões
agraváveis. No agravo
de instrumento, o
processo não sobe
para o tribunal e, em
regra, não há efeito
suspensivo.

Contra decisões
monocráticas do
relator que podem ser
de cunho processual
Agravo interno Art. 1.021
ou material. O agravo
interno visa levar a
decisão ao órgão
colegiado.

Contra qualquer
decisão judicial para
sanar omissão,
obscuridade,
contradição ou corrigir
erro material. É o
único recurso que é
analisado pelo próprio
Embargos de magistrado/órgão
Art. 1.022 a 1.026
declaração prolator da decisão.
Não busca inovar, mas
tão somente
esclarecer a decisão.
Sendo assim, não
cabem embargos de
declaração contra
despachos, pois não
têm cunho decisório.
Contra decisões de
competência
originária dos
tribunais. É dirigido ao
STJ ou STF. Tem
similaridade com a
apelação, pois devolve
a análise do mérito ao
órgão superior. Assim,
se a ação é de
Recurso ordinário Art. 1.027 e 1.028
competência
originária do TJ ou
TRF, apresenta-se
recurso ordinário
perante o TJ. Se de
competência
originária do STJ,
apresenta-se recurso
ordinário perante o
STF.

Contra decisões que


contrariem a
legislação federal. Não
permite a
reapreciação de
Recurso especial Art. 1.029 a 1.041 provas, seu objetivo é
fazer com que haja
uma interpretação
uniforme da legislação
federal em âmbito
nacional.
Contra decisões que
contrariem a
Constituição Federal.
Não permite a
reapreciação de
Recurso
Art. 1.029 a 1.041 provas, seu objetivo é
extraordinário
fazer com que haja
uma interpretação
uniforme da
Constituição em
âmbito nacional.

Contra acórdão de
órgão fracionário do
STJ ou STF. O objetivo
é evitar contradições
Embargos de
entre o
divergência em RE e Art. 1.043 e 1.044
posicionamento das
REsp
turmas/seções dos
órgãos superiores,
uniformizando, assim,
a jurisprudência.

Quadro 1.5: Recursos em espécie


Fonte: Elaborado pela autora.

#PraCegoVer : o Quadro 1.5 é denominado “Recursos em espécie”. O


quadro está dividido em 3 colunas e 10 linhas. Seguindo as colunas, da
esquerda para a direita, temos, na primeira linha, o nome do quadro.
Na segunda linha, temos, na primeira coluna, “Recurso”, na segunda,
“Legislação”, e, na terceira, “Hipótese de cabimento”. Na terceira linha,
na coluna Recurso, está escrito: “Apelação”. Na coluna Legislação, está
escrito: “Art. 1.009 a 1.014”. E, na coluna Hipóteses de cabimento, está
escrito: “Contra sentença e contra decisão da qual não caiba agravo de
instrumento. A apelação devolve ao tribunal a possibilidade de
reanalisar o mérito da demanda, inclusive a valoração de provas. Em
regra, possui efeito suspensivo; as exceções estão no art. 1.012, § 1º”.
Na quarta linha, na coluna Recurso, está escrito: “Agravo de
instrumento”. Na coluna Legislação, está escrito: “Art. 1.015 a 1.020”. E
na coluna Hipóteses de cabimento, está escrito: “Contra decisões
interlocutórias, mas apenas aquelas que possuem aptidão de causar
grave prejuízo a uma das partes ou ao próprio andamento do processo.
A regra é a irrecorribilidade das decisões interlocutórias em separado. O
art. 1.015 enumera as decisões agraváveis. No agravo de instrumento, o
processo não sobe para o tribunal e, em regra, não há efeito
suspensivo”. Na quinta linha, na coluna Recurso, está escrito: “Agravo
interno”. Na coluna Legislação, está escrito: “Art. 1.021”. E na coluna
Hipóteses de cabimento, está escrito: “Contra decisões monocráticas do
relator que podem ser de cunho processual ou material. O agravo
interno visa levar a decisão ao órgão colegiado”. Na sexta linha, na
coluna Recurso, está escrito: “Embargos de declaração”. Na coluna
Legislação, está escrito: “Art. 1.022 a 1.026”. E na coluna Hipóteses de
cabimento, está escrito: “Contra qualquer decisão judicial para sanar
omissão, obscuridade, contradição ou corrigir erro material. É o único
recurso que é analisado pelo próprio magistrado/órgão prolator da
decisão. Não busca inovar, mas tão somente esclarecer a decisão.
Sendo assim, não cabem embargos de declaração contra despachos,
pois não têm cunho decisório. Na sétima linha, na coluna Recurso, está
escrito: “Recurso ordinário”. Na coluna Legislação, está escrito: “Art.
1.027 e 1.028”. E na coluna Hipóteses de cabimento, está escrito:
“Contra decisões de competência originária dos tribunais. É dirigido ao
STJ ou STF. Tem similaridade com a apelação, pois devolve a análise do
mérito ao órgão superior. Assim, se a ação é de competência originária
do TJ ou TRF, apresenta-se recurso ordinário perante o TJ. Se de
competência originária do STJ, apresenta-se recurso ordinário perante o
STF”. Na oitava linha, na coluna Recurso, está escrito: “Recurso especial”.
Na coluna Legislação, está escrito: “Art. 1.029 a 1.041”. E na coluna
Hipóteses de cabimento, está escrito: “Contra decisões que contrariem a
legislação federal. Não permite a reapreciação de provas, seu objetivo é
fazer com que haja uma interpretação uniforme da legislação federal
em âmbito nacional”. Na nona linha, na coluna Recurso, está escrito:
“Recurso extraordinário”. Na coluna Legislação, está escrito: “Art. 1.029 a
1.041”. E na coluna Hipóteses de cabimento, está escrito: “Contra
decisões que contrariem a Constituição Federal. Não permite a
reapreciação de provas, seu objetivo é fazer com que haja uma
interpretação uniforme da Constituição em âmbito nacional”. Por fim,
na décima linha, na coluna Recurso, está escrito: “Embargos de
divergência em RE e REsp”. Na coluna Legislação, está escrito: “Art. 1.043
e 1.044”. E na coluna Hipóteses de cabimento, está escrito: “Contra
acórdão de órgão fracionário do STJ ou STF. O objetivo é evitar
contradições entre o posicionamento das turmas/seções dos órgãos
superiores, uniformizando, assim, a jurisprudência”.

Observamos, assim, que nosso ordenamento prevê um robusto sistema


recursal, a fim de que a parte tenha todas as oportunidades de expressar
sua insatisfação com a decisão jurisdicional. Mas o uso do sistema recursal
não pode ser usado como forma de procrastinar a incidência da tutela
jurisdicional. Lembre-se de que todos os participantes do processo devem
cooperar para que o Estado-juiz possa conceder a tutela satisfativa em
tempo razoável.
Processo Civil III

Conforme estudamos nos princípios processuais, a finalidade máxima do


processo é a entrega, em prazo razoável, da tutela jurisdicional – inclusive a
satisfativa. Por tutela satisfativa quer-se dizer a entrega do bem da vida
pleiteado, cujo direito a ele foi reconhecido pelo Poder Judiciário ou em
decorrência de título ao qual a lei atribui eficácia executiva. A satisfação
buscada pode consistir na entrega de coisa, na obrigação de fazer ou não
fazer ou para pagamento de quantia certa.

Para se pleitear a execução, é necessário que o interessado possua título . O


título traduz obrigação líquida, certa e exigível e pode ser de natureza
judicial ou extrajudicial .
Figura 1.3: Processo de execução
Fonte: Elaborada pela autora.

#PraCegoVer : a imagem apresenta a Figura 1.3, denominada “Processo de


execução”. Trata-se de fluxograma na vertical. Na primeira linha, de cima para
baixo, está escrito “Processo de execução”, dentro de um retângulo. Desse
retângulo, saem duas linhas, uma para a direita e uma para a esquerda. Na linha
da esquerda, estão as informações a respeito da execução de título judicial. No
primeiro retângulo, está escrito: “Título judicial”. No retângulo abaixo dele, está
escrito: “Cumprimento de sentença (mesmo processo)”. Abaixo deste, há um
retângulo com as seguintes informações: “- Fase do processo (processo
sincrético); - Não há citação do réu, pois ele já foi citado anteriormente”. Desse
retângulo, saem mais dois. No primeiro, está escrito: “Provisório (tutela
provisória ou pendente trânsito em julgado) = exige caução”. Já no segundo, está
escrito: “Definitivo (decisão transitada em julgado)”. Na linha da direita, estão as
informações a respeito da execução de título extrajudicial. No primeiro
retângulo, está escrito: “Título extrajudicial”. No retângulo abaixo dele, está
escrito: “Processo de execução (processo novo)”. Abaixo deste, há um retângulo
com as seguintes informações: “- Necessária a citação do réu; - Dispensa a fase
de conhecimento, pois o título possui eficácia executiva”. Desse retângulo, sai
mais um, no qual está escrito: “Execução definitiva”.
No caso do título judicial, é possível que ele não esteja liquidado, pois nosso
ordenamento jurídico permite que seja prolatada sentença ilíquida. Nesse
caso, antes de executá-lo – através do cumprimento de sentença –, o
interessado deverá promover a liquidação da sentença.

Liquidação de Sentença
O procedimento de liquidação de sentença está disposto do art. 509 ao art.
512 do CPC (BRASIL, 2015). Em primeiro lugar, é importante ter em mente
que a liquidação de sentença não constitui a formação de uma nova relação
processual ou de um novo processo. Trata-se, apenas, de mais uma fase do
processo que fica entre a fase cognitiva e a fase executiva (cumprimento de
sentença).

Para que o título seja líquido, é necessário que indique a quantidade de bens
ou os valores que constituem a obrigação. Pode ocorrer de o magistrado não
possuir os elementos necessários, no momento de prolação da sentença,
para determinar tais quantias. Nesse caso, dá-se o provimento judicial,
deixando para a fase seguinte a delimitação precisa das quantias.

Mas, atenção, a apuração de valores que necessita de simples cálculos


aritméticos não exige liquidação, conforme dispõe o art. 524 do CPC (BRASIL,
2015). Nesse caso, o credor apenas apresenta memorial de cálculo para
iniciar o cumprimento de sentença. Caso o devedor discorde dos valores ou
o magistrado desconfie de que não estão de acordo com a sentença, é
possível recorrer ao contador do juízo.

De acordo com o CPC (BRASIL, 2015), são duas as espécies de liquidação: por
arbitramento e de procedimento comum.

A liquidação por arbitramento tem lugar quando há a necessidade de se


individualizar os valores de um serviço prestado ou de um bem. As partes
podem apresentar pareceres e documentos que contribuam para a
apuração dos valores, e é possível a nomeação de perito. Observe que, neste
tipo de liquidação, nenhum fato necessita ser provado, não há espaço para
atividade probatória:

É aquela que se presta à apuração do valor de um bem ou


serviço. A única tarefa é a apuração desse valor, o que
demandará a apresentação de pareceres e documentos
elucidativos pelas partes e, se isso não for suficiente, a nomeação
de um perito. Não há nenhum fato novo a ser demonstrado
(GONÇALVES, 2020, p. 844).

Por sua vez, a liquidação pelo procedimento comum “é aquela em que há


necessidade de comprovação de fatos novos, ligados ao quantum debeatur ”
(GONÇALVES, 2020, p. 844). Nesse caso, desenvolve-se atividade probatória,
mas única e exclusivamente para apurar o valor devido. Não ocorre uma
reabertura da fase probatória, a decisão judicial já definiu os limites do que é
devido, basta apurar a quantidade.

A fase de liquidação é julgada por decisão interlocutória .

Cumprimento de Sentença
O cumprimento de sentença, portanto, é a fase processual na qual se busca
a satisfação da tutela concedida por meio de uma decisão judicial – a
sentença, que constitui um título executivo judicial . Observe que o
cumprimento de sentença é mais uma fase processual que se desenvolve
dentro do mesmo processo no qual foi proferida a decisão que se busca
executar, não havendo a formação de um novo processo. Isso porque nosso
processo é sincrético , ou seja, a atividade cognitiva e executiva desenvolve-
se na mesma relação processual. Essa fase processual está regulamentada
do art. 513 ao art. 538 do CPC (BRASIL, 2015).

O cumprimento de sentença pressupõe o inadimplemento do devedor. Após


o proferimento da decisão, o devedor possui o prazo de quinze dias para
cumprir voluntariamente a obrigação. Caso o faça, finda-se o processo sem
que seja necessária essa nova fase. Não o fazendo, o credor deve provocar o
Estado-juiz para que exerça sua função e realize atos constritivos que
obriguem o devedor a cumprir sua obrigação.

O devedor não será citado para se manifestar, já que o cumprimento de


sentença ocorre na mesma relação processual. Será ele, portanto, intimado,
conforme § 2º do art. 513 (BRASIL, 2015). Intimado, o executado pode
cumprir a obrigação, colocando fim ao cumprimento de sentença, ou
apresentar impugnação . A impugnação ao cumprimento de sentença é
incidente processual, julgado, portanto, por meio de decisão interlocutória,
no qual o executado exerce seu direito de defesa, apontando possíveis
incorreções na execução. Via de regra, a impugnação não suspende a
execução. Todavia, pode o magistrado, se relevantes os motivos alegados
pelo executado, conceder efeito suspensivo. É o que dispõe o § 6º do art. 525
(BRASIL, 2015, on-line ):

§ 6º A apresentação de impugnação não impede a prática dos


atos executivos, inclusive os de expropriação, podendo o juiz, a
requerimento do executado e desde que garantido o juízo com
penhora, caução ou depósito suficientes, atribuir-lhe efeito
suspensivo, se seus fundamentos forem relevantes e se o
prosseguimento da execução for manifestamente suscetível de
causar ao executado grave dano de difícil ou incerta reparação.

Por fim, observa-se que as matérias possíveis de apreciação em sede de


impugnação ao cumprimento de sentença são restritas, uma vez que esse
mecanismo de defesa não tem o objetivo de reabrir a discussão sobre o
acerto da decisão. O § 1º do art. 525 (BRASIL, 2015) elenca as matérias que
podem ser alegadas.

Execução
Vimos o procedimento de execução dos títulos executivos judiciais – o que
ocorre por meio do cumprimento de sentença. No entanto, nosso
ordenamento jurídico prevê diversos documentos dotados de eficácia
executiva, ainda que não provenientes de um pronunciamento do Poder
Judiciário. São os títulos executivos extrajudiciais .

Tais títulos são documentos escritos que traduzem uma obrigação líquida,
certa e exigível, podendo ser executados sem a necessidade de se iniciar um
processo de conhecimento. Sendo assim, para executar um título
extrajudicial, o exequente deve iniciar um processo de execução, ou seja, um
processo novo, constituindo uma relação jurídica processual com o
executado. Isso porque não há processo prévio, o título decorre de uma
relação extrajudicial. Dessa forma, o executado será citado, a fim de se
triangularizar a relação processual e de conceder a ele o direito de defesa.

A forma de defesa do executado, por excelência, é por meio de embargos à


execução . Diferentemente da impugnação ao cumprimento de sentença,
nos embargos, não há restrição a respeito das matérias que podem ser
alegadas. Isso porque não houve, em momento anterior, a possibilidade de
se discutir quaisquer aspectos relativos àquela relação jurídica – lembre-se
de que não há um processo prévio aqui. Logo, os embargos à execução
constituem uma defesa autônoma do réu, na qual é possível o
desenvolvimento da atividade cognitiva do Estado-juiz.

Veja, no processo de execução, não se discutirá quaisquer aspectos que


dependam de prova, pois o título extrajudicial goza de liquidez. Caso o
executado entenda que há matérias capazes de afastar a liquidez do título,
desconstituir a relação jurídica ou, por qualquer outro motivo, demonstrar
que não está ele obrigado ao cumprimento da obrigação, deve apresentar
embargos à execução. Os embargos são analisados de forma autônoma à
execução e possuem todas as possibilidades existentes no processo de
conhecimento. A interposição de embargos não depende de penhora,
caução ou depósito e, em regra, não suspende a execução. Todavia, assim
como na impugnação ao cumprimento de sentença, pode o magistrado
atribuir tal efeito, caso entenda que a execução poderá gerar dano
irreparável ao executado.
Os embargos à execução estão regulamentados do art. 914 ao art. 920 do
CPC (BRASIL, 2015).

São vários os títulos executivos extrajudiciais, sendo certo que, para cada um
desses tipos, a execução apresentará determinados requisitos diferenciados
e será conduzida de acordo com a natureza do bem da vida que se visa
obter. Uma execução de obrigação de não fazer, na qual se pretende cessar
uma atividade, não se desenvolverá da mesma forma que uma execução
para pagamento de quantia certa, por exemplo. Prevendo tais distinções, o
CPC (BRASIL, 2015) enumerou regras diferenciadas para cada tipo de
execução. A seguir, apresentamos esquematicamente quais são os tipos de
execução e os respectivos dispositivos legais.
EXECUÇÃO DE TÍTULO EXECUTIVO EXTRAJUDICIAL

Para entrega de coisa certa Art. 806 a 810

Para entrega de coisa incerta Art. 811 a 813

Obrigação de fazer Art. 814 a 821

Obrigação de não fazer Art. 814, 822 e 823

Por quantia certa Art. 824 a 909

Contra a Fazenda Pública Art. 910

De alimentos Art. 911 a 913

Quadro 1.6: Execução de título executivo extrajudicial


Fonte: Elaborado pela autora.

#PraCegoVer : o Quadro 1.6 é denominado “Execução de título


executivo extrajudicial”. O quadro está dividido em 2 colunas e 8 linhas.
Seguindo as colunas, da esquerda para a direita, temos, na primeira
linha, o nome do quadro. A partir da segunda linha, temos, na primeira
coluna, o tipo de execução e, na segunda, os artigos correspondentes.
Na segunda linha, na coluna da esquerda, está escrito: “Para entrega de
coisa certa”. Na coluna da direita, está escrito: “Art. 806 a 810”. Na
terceira linha, na coluna da esquerda, está escrito: “Para entrega de
coisa incerta”. Na coluna da direita, está escrito: “Art. 811 a 813”. Na
quarta linha, na coluna da esquerda, está escrito: “Obrigação de fazer”.
Na coluna da direita, está escrito: “Art. 814 a 821”. Na quinta linha, na
primeira coluna, está escrito: “Obrigação de não fazer”. Na segunda,
está escrito: “Art. 814, 822 e 823”. Na sexta linha, na primeira coluna,
está escrito: “Por quantia certa”. E, na segunda coluna: “Art. 824 a 909”.
Na sétima linha, na coluna da esquerda, está escrito: “Contra a Fazenda
Pública”. Na segunda coluna, está escrito: “Art. 910”. Por fim, na oitava
linha, está escrito na primeira coluna: “De alimentos”. E, na segunda
coluna: “Art. 911 a 913”.

A existência de procedimentos tão diversos tem a intenção de permitir a


tutela adequada aos mais diversos tipos de prestações que o exequente
pode pleitear. Todos eles seguem os regramentos gerais acima expostos,
mas apresentam suas particularidades estabelecidas no Código.

Conhecimento
Teste seus Conhecimentos
(Atividade não pontuada)

Pedro propõe a execução de alimentos, fundada em título extrajudicial, em face de


Augusto, seu pai, no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais). Regularmente citado,
Augusto não efetuou o pagamento do débito, não justificou a impossibilidade de
fazê-lo, não provou que efetuou o pagamento e nem ofertou embargos à
execução.

Pedro, então, requereu a penhora do único bem pertencente a Augusto que fora
encontrado, qual seja, R$ 10.000,00 (dez mil reais), que estavam depositados em
caderneta de poupança. O juiz defere o pedido.
(Ano: 2019. Banca: FGV. Órgão: OAB. Prova: FGV - 2019 - OAB - Exame de Ordem
Unificado - XXVIII - Primeira Fase)

Sobre a decisão judicial, assinale a alternativa correta.

a) Ela foi equivocada, pois valores depositados em caderneta, em toda e


qualquer hipótese, são impenhoráveis.
b) Ela foi correta, pois o Código de Processo Civil permite a penhora de
quaisquer valores depositados em aplicações financeiras.
c) Ela foi equivocada, na medida em que o Código de Processo Civil assegura
a impenhorabilidade da caderneta de poupança até o limite de cem salários-
mínimos, independentemente da natureza do débito.
d) Ela foi correta, pois o Código de Processo Civil admite a penhora de
valores depositados em caderneta de poupança para o cumprimento de
obrigações alimentícias.
Direito do
Consumidor

Em nosso cotidiano, vivenciamos as mais diversas situações que, nem


sempre, se encaixam nas normas jurídicas gerais. Atento a isso, o legislador,
orientado pela doutrina, acaba por criar microssistemas, com disposições
específicas que atendam às peculiaridades das partes ou da relação travada
entre elas.

Nesse sentido, temos o Código de Defesa do Consumidor (BRASIL, 1990),


microssistema criado para regulamentar as relações de consumo .
Observou o legislador que a legislação cível não era suficiente para
efetivamente regulamentar tais relações, com especial enfoque no
consumidor, eis que hipossuficiente na relação.

Assim nasce o direito do consumidor, regulamentado no Código de Defesa


do Consumidor (BRASIL, 1990), cuja sistemática está direcionada a assegurar
a igualdade material entre as partes, na medida em que traz mecanismos de
proteção para a parte que, tradicionalmente, possui desvantagem ao se
relacionar com a outra.
Veremos, agora, as principais características desse microssistema.

Teoria Geral do Direito do


Consumidor
Para que possamos entender as situações nas quais é aplicado o
microssistema consumerista, é primordial entendermos o conceito de
relação de consumo , haja vista que a legislação protetiva terá lugar quando
presente essa relação.

O Código de Defesa do Consumidor (BRASIL, 1990) não traz um conceito de


relação de consumo. A opção legislativa foi por conceituar os elementos
dessa relação para que, assim, se observe a existência da relação de
consumo.

Segundo Almeida (2020, p. 62), “a relação jurídica de consumo [...] poderá ser
definida como aquela relação firmada entre consumidor e fornecedor, a qual
possui como objeto a aquisição de um produto ou a contratação de um
serviço”.

O CDC (BRASIL, 1990) trata de conceituar consumidor e fornecedor, para


que, assim, possamos identificar a existência da relação de consumo.
Vejamos tais conceitos.

Consumidor
De acordo com o art. 2º do CDC (BRASIL,1990, on-line ):

Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou


utiliza produto ou serviço como destinatário final. Parágrafo
único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda
que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de
consumo.
Do conceito legal, podemos extrair os elementos constitutivos da figura do
consumidor. Há um elemento subjetivo, um objetivo e um teleológico. O
elemento subjetivo se caracteriza pela pessoa que consome, podendo se
tratar de pessoa física ou jurídica. Quanto a esse elemento, não há maiores
discussões. A pessoa física ou jurídica pode ser consumidora.

O elemento objetivo também não apresenta maiores dificuldades, é


consumidor aquele que adquire produtos ou contrata a prestação de
serviços no mercado de consumo.

A maior discussão recai sobre o elemento teleológico , que está


relacionado com a finalidade do bem ou do serviço adquirido. É considerada
consumidora a pessoa jurídica que adquire bens e serviços como
destinatária final . Observe que, neste ponto, analisamos tão somente o
consumidor pessoa jurídica, haja vista que, quanto à pessoa física, não há
discussões. A questão se coloca ao considerarmos a aquisição de bens e
serviços por pessoas jurídicas. Geralmente, os bens são adquiridos para
incremento de sua atividade final lucrativa, ou seja, a compra faz parte da
cadeia produtiva da pessoa jurídica. Nesse contexto, surge a dúvida se seria
possível considerar essa pessoa jurídica como destinatária final.

Foram formuladas três teorias que buscaram explicar tal conceito.

A primeira delas é a Teoria Maximalista . De acordo com essa teoria, basta


que a pessoa física ou jurídica adquira bem ou serviço no mercado de
consumo para que seja considerada consumidora. Essa corrente entende
que, ainda que o bem ou o serviço seja usado para implementar atividade
lucrativa, quem o adquiriu é consumidor e deve receber a proteção
consumerista.

A segunda corrente é chamada Teoria Finalista ou Subjetiva . Ela é


justamente o oposto da primeira. De acordo com essa teoria, apenas será
consumidor aquele que adquirir o bem ou o serviço para uso próprio ou de
sua família. Estão fora da proteção consumerista, portanto, quaisquer bens
ou serviços adquiridos para incremento de atividade profissional.
Por fim, a Teoria Finalista Aprofundada ou Mitigada adota a ideia da
segunda teoria, mas com alguma ponderação. Para essa corrente, é
importante observar a existência ou não de vulnerabilidade na relação de
consumo. Assim, aquele que adquirir um produto ou um serviço para o
desempenho de sua atividade lucrativa poderá, sim, ser considerado
consumidor, desde que esteja presente o requisito da vulnerabilidade.

O Superior Tribunal de Justiça (STJ) adota esta última teoria:

Segundo posicionamento consolidado no Superior Tribunal de


Justiça, a da pessoa jurídica é pressuposto sine qua comprovação
da vulnerabilidade para o enquadramento desta no conceito de
consumidor previsto no CDC. Trata‐se da adoção pela
jurisprudência da Teoria Finalista, porém de forma atenuada,
mitigada ou aprofundada que admite a pessoa jurídica como
consumidora, desde que comprovada sua fragilidade no caso
concreto. Tal contexto é muito recorrente às relações envolvendo
microempresas, empresas de pequeno porte, profissionais liberais,
profissionais autônomos, dentre outros (ALMEIDA, 2020, p. 83).

Portanto, nosso ordenamento jurídico considera consumidor a pessoa


jurídica que adquirir bens ou serviços no mercado de consumo como
destinatário final, devendo-se observar a existência de vulnerabilidade para
que se caracterize a relação de consumo.

Fornecedor
A outra parte da relação jurídica de consumo é o fornecedor. O art. 3º do
CDC (BRASIL, 1990, on-line ) o conceitua:

Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou


privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes
despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção,
montagem, criação, construção, transformação, importação,
exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou
prestação de serviços.
O conceito de fornecedor não nos apresenta maiores dificuldades. É
conceito extremamente amplo, enquadrando-se nele todo aquele – pessoa
física ou jurídica – que participa da cadeia produtiva ou de distribuição de
bens e serviços no mercado de consumo.

A advertência que se faz é quanto à necessidade de se exercer a atividade de


modo profissional , com habitualidade e mediante remuneração . Seriam
esses os três requisitos para que se conceitue fornecedor. Neste sentido:

Assim é que, para caracterização do fornecedor, o exercício


profissional e habitual (ainda que sem o objetivo de lucro) deve ser
acompanhado de remuneração. Entretanto, como a lei também
não fez qualquer distinção, a doutrina, de forma uníssona, adverte
que a remuneração pode ser direta ou indireta. Deve-se entender
remuneração como sendo o repasse dos custos, podendo ser
citado o caso de um estacionamento de supermercado, no qual,
embora não haja cobrança direta, decerto, os custos são cobertos
através do preço das mercadorias vendidas no estabelecimento
(SCHWARTZ, 2019, p. 49).

Desse modo, aquele que oferece bens e serviços no mercado de consumo,


de modo profissional, habitual e mediante remuneração – ainda que indireta
– será considerado fornecedor e estará submetido à legislação consumerista.

Direitos Básicos do Consumidor


O art. 6º do CDC (BRASIL, 1990) elenca os direitos básicos do consumidor.
Tais direitos são a pedra de toque da legislação consumerista, pois é por
meio deles que se pode perceber qual é a finalidade máxima do diploma – a
proteção da parte vulnerável da relação de consumo.

Assim é que “o art. 6º configura verdadeiro esteio para o Código, erigido


como um alicerce, sobre o qual são encaixadas as demais disposições,
instrumentalizando os objetivos previstos no art. 4º” (SCHWARTZ, 2019, p.
113).
Apresentamos, a seguir, cada um desses direitos, com uma breve explicação
sobre eles. Lembre-se de ler a legislação seca para solidificar seus
conhecimentos sobre o assunto.
Direitos básicos do consumidor – art. 6º, CDC

São direitos sociais assegurados


I - a proteção da vida, saúde e constitucionalmente. Visam
segurança contra os riscos proteger o consumidor contra
provocados por práticas no práticas comerciais prejudiciais ou
fornecimento de produtos e perigosas à vida e à saúde. A
serviços considerados perigosos segurança é, portanto, uma
ou nocivos; obrigação a ser cumprida pelo
fornecedor.

Obrigação de se promover a
educação para o consumo, ou seja,
educar os consumidores sobre
II - a educação e divulgação sobre seus direitos, sobre consumismo,
o consumo adequado dos sobre consumo consciente. Esse
produtos e serviços, asseguradas a direito deve ser assegurado
liberdade de escolha e a igualdade através da educação formal
nas contratações; (promovida pelo Estado), bem
como da informal (associações,
órgãos de proteção ao
consumidor, fornecedores).

III - a informação adequada e clara O consumidor deve ter total


sobre os diferentes produtos e acesso à informação relativa ao
serviços, com especificação correta produto ou serviço que está
de quantidade, características, adquirindo. Essa informação deve
composição, qualidade, tributos ser clara para que não gere
incidentes e preço, bem como dúvidas e, obviamente, verdadeira.
sobre os riscos que apresentem; Não pode o fornecedor ocultar ou
mentir a respeito das qualidades
do produto ou serviço colocado no
mercado.

A publicidade é o meio através do


qual o fornecedor anuncia seus
IV - a proteção contra a
bens no mercado de consumo.
publicidade enganosa e abusiva,
Todavia, ao fazer tais anúncios, o
métodos comerciais coercitivos ou
fornecedor encontra limites
desleais, bem como contra
decorrentes da necessidade de se
práticas e cláusulas abusivas ou
respeitar a boa-fé. Não pode essa
impostas no fornecimento de
publicidade ser feita em
produtos e serviços;
descompasso com a verdade ou de
modo abusivo.

Tendo em vista a vulnerabilidade


V - a modificação das cláusulas presumida do consumidor, tem ele
contratuais que estabeleçam direito à revisão das cláusulas
prestações desproporcionais ou contratuais consideradas
sua revisão em razão de fatos desproporcionais, ou seja, que
supervenientes que as tornem estipulem um ônus muito maior
excessivamente onerosas; que o bônus ao qual o consumidor
fará jus.

Estabelece a reparação civil por


danos materiais e morais. Observe
VI - a efetiva prevenção e que, na lógica consumerista, tais
reparação de danos patrimoniais e danos deverão ser reparados
morais, individuais, coletivos e ainda que atinjam uma
difusos; coletividade de pessoas ou que
não se possa individualizar o
consumidor atingido.
De nada adiantaria as diversas
proteções ao consumidor se a ele
VII - o acesso aos órgãos judiciários
não fossem disponibilizados os
e administrativos com vistas à
meios adequados para buscar a
prevenção ou reparação de danos
tutela de seus direitos. Neste
patrimoniais e morais, individuais,
sentido, tem-se a atuação dos
coletivos ou difusos, assegurada a
Procons, da Defensoria Pública e
proteção Jurídica, administrativa e
do Ministério Público que atuam
técnica aos necessitados;
constantemente em defesa dos
consumidores.

Em diversas situações, o
VIII - a facilitação da defesa de seus consumidor não possuirá meios de
direitos, inclusive com a inversão provar a situação vivenciada, pois
do ônus da prova, a seu favor, no aqui também repercute sua
processo civil, quando, a critério vulnerabilidade. Nesses casos, tem
do juiz, for verossímil a alegação lugar a inversão do ônus da prova,
ou quando for ele hipossuficiente, presumindo-se verdadeiros os
segundo as regras ordinárias de fatos narrados pelo consumidor,
experiências; cabendo ao fornecedor provar que
não são verdadeiras as alegações.

IX - (Vetado);
Os serviços públicos prestados uti
singuli – fornecimento de água e
luz, por exemplo – se submetem
X - a adequada e eficaz prestação ao diploma consumerista e, por
dos serviços públicos em geral. isso, seus consumidores gozam da
proteção do CDC, tendo direito
subjetivo à prestação adequada e
eficaz do serviço.

Quadro 1.7: Direitos básicos do consumidor


Fonte: Elaborado pela autora.

#PraCegoVer : o Quadro 1.7 é denominado “Direitos básicos do


consumidor – art. 6º, CDC”. O quadro está dividido em 2 colunas e 11
linhas. Seguindo as colunas, da esquerda para a direita, temos, na
primeira linha, o nome do quadro. A partir da segunda linha, temos, na
primeira coluna, cada um dos incisos do art. 6º do CDC e, na segunda
coluna, uma breve explicação sobre o direito assegurado em cada
inciso. Na segunda linha, temos, na coluna da esquerda, o inciso I, que
assim dispõe: “a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos
provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços
considerados perigosos ou nocivos”. Na coluna da direita, está: “São
direitos sociais assegurados constitucionalmente. Visam proteger o
consumidor contra práticas comerciais prejudiciais ou perigosas à vida e
à saúde. A segurança é, portanto, uma obrigação a ser cumprida pelo
fornecedor”. Na terceira linha, na coluna da direita, está o inciso II: “a
educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e
serviços, asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas
contratações”. E, na coluna da direita, está: “Obrigação de se promover a
educação para o consumo, ou seja, educar os consumidores sobre seus
direitos, sobre consumismo, sobre consumo consciente. Esse direito
deve ser assegurado através da educação formal (promovida pelo
Estado), bem como da informal (associações, órgãos de proteção ao
consumidor, fornecedores)”. Na quarta linha, na coluna da esquerda,
temos o inciso III: “a informação adequada e clara sobre os diferentes
produtos e serviços, com especificação correta de quantidade,
características, composição, qualidade, tributos incidentes e preço, bem
como sobre os riscos que apresentem”. E, na coluna da direita: “O
consumidor deve ter total acesso à informação relativa ao produto ou
serviço que está adquirindo. Essa informação deve ser clara para que
não gere dúvidas e, obviamente, verdadeira. Não pode o fornecedor
ocultar ou mentir a respeito das qualidades do produto ou serviço
colocado no mercado”. Na quinta linha, temos, na coluna da esquerda, o
inciso IV: “a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos
comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas
abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços”. E, na
coluna da direita, temos: “A publicidade é o meio através do qual o
fornecedor anuncia seus bens no mercado de consumo. Todavia, ao
fazer tais anúncios, o fornecedor encontra limites decorrentes da
necessidade de se respeitar a boa-fé. Não pode essa publicidade ser
feita em descompasso com a verdade ou de modo abusivo”. Na sexta
linha, na primeira coluna, está: “V - a modificação das cláusulas
contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua
revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem
excessivamente onerosas”. E, na segunda coluna: “Tendo em vista a
vulnerabilidade presumida do consumidor, tem ele direito à revisão das
cláusulas contratuais consideradas desproporcionais, ou seja, que
estipulem um ônus muito maior que o bônus ao qual o consumidor fará
jus”. Na sétima linha, na primeira coluna temos: “VI - a efetiva prevenção
e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e
difusos”. E, na segunda: “Estabelece a reparação civil por danos
materiais e morais. Observe que, na lógica consumerista, tais danos
deverão ser reparados ainda que atinjam uma coletividade de pessoas
ou que não se possa individualizar o consumidor atingido”. Na oitava
linha, temos, na coluna da esquerda: “VII - o acesso aos órgãos
judiciários e administrativos com vistas à prevenção ou reparação de
danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou difusos,
assegurada a proteção Jurídica, administrativa e técnica aos
necessitados”. E, na coluna da direita: “De nada adiantaria as diversas
proteções ao consumidor se a ele não fossem disponibilizados os meios
adequados para buscar a tutela de seus direitos. Neste sentido, tem-se
a atuação dos Procons, da Defensoria Pública e do Ministério Público
que atuam constantemente em defesa dos consumidores”. Na nona
linha, na primeira coluna, está escrito: “VIII - a facilitação da defesa de
seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no
processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou
quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de
experiências”. E, na segunda coluna, está escrito: “Em diversas
situações, o consumidor não possuirá meios de provar a situação
vivenciada, pois aqui também repercute sua vulnerabilidade. Nesses
casos, tem lugar a inversão do ônus da prova, presumindo-se
verdadeiros os fatos narrados pelo consumidor, cabendo ao fornecedor
provar que não são verdadeiras as alegações”. Na décima linha, na
primeira coluna, está: “IX - (Vetado)”. E a segunda coluna está em
branco, já que o inciso foi vetado. Por fim, na décima primeira linha, na
coluna da esquerda, está escrito: “X - a adequada e eficaz prestação dos
serviços públicos em geral”. E, na coluna da direita, está escrito: “Os
serviços públicos prestados uti singuli – fornecimento de água e luz, por
exemplo – se submetem ao diploma consumerista e, por isso, seus
consumidores gozam da proteção do CDC, tendo direito subjetivo à
prestação adequada e eficaz do serviço”.

Como o próprio nome sugere, os direitos estabelecidos no art. 6º do CDC


(BRASIL, 1990) são direitos básicos , nada impedindo que novos direitos
sejam assegurados aos consumidores. O próprio diploma enumera vários
outros direitos, estabelecendo também um sistema de princípios aplicáveis
às relações de consumo.
Proteção Contratual
Em decorrência das relações de consumo, podem as partes dessa relação –
consumidor e fornecedor – celebrarem uma variada gama de contratos.
Ocorre que, em virtude da própria natureza da relação, tais contratos não
são celebrados em condições de igualdade entre as partes. O consumidor –
parte vulnerável da relação, conforme vimos – nem sempre pode discutir os
termos contratuais, cabendo tão somente submeter-se ou não. Ademais, os
contratos podem possuir diversos termos técnicos inacessíveis ao
entendimento do consumidor médio. Além disso, é comum a inclusão de
cláusulas que oneram excessivamente o consumidor e que, quase sempre,
passam despercebidas – quer seja pela extensão do contrato, pela falta de
conhecimento ou pelas famigeradas “letras miúdas”:

Assim, atento às modificações sociais advindas a partir do século


XIX, o CDC, reconhecendo a vulnerabilidade do consumidor,
relativiza o princípio da autonomia das vontades e move o eixo
principiológico contratual, calcado na força vinculante dos
contratos (pacta sunt servanda), para o princípio da boa-fé
objetiva, este sim, doravante, norte a ser observado antes, durante
e depois da relação contratual (SCHWARTZ, 2019, p. 297).

Pensando nisso, o diploma consumerista criou mecanismo de proteção


contratual, constante no interregno dos artigos 46 ao 54 do CDC (BRASIL,
1990). Em primeiro lugar, o art. 46 do CDC (BRASIL, 1990) determina que seja
dada ao consumidor a oportunidade de conhecer o conteúdo do contrato,
não sendo oponível a ele quaisquer cláusulas que não estejam disponíveis
ao seu conhecimento.

O Código leva em consideração o uso constante, especialmente nas relações


consumeristas, dos contratos de adesão, ou seja, aqueles nos quais o
consumidor não tem a possibilidade de discutir as cláusulas contratuais,
podendo apenas aderir ou não, conforme estabelece o art. 54 do CDC
(BRASIL, 1990). Sabendo-se do uso abusivo deste tipo de contrato, o Código,
além da proteção acima narrada, também traz alguns requisitos na
elaboração deste contrato, tais como o destaque para cláusulas que podem
ser prejudiciais ao consumidor, o uso de linguagem clara e acessível e o uso
de fonte que permita a leitura.

Outra proteção contratual decorrente da lógica consumerista (art. 47 do


CDC) traduz-se na interpretação das cláusulas contratuais sempre de forma
mais favorável ao consumidor. Veja, ainda que o Código determine que as
cláusulas devem ser claras e acessíveis, dubiedades podem ocorrer. Assim,
caso haja dúvida quanto à aplicação das cláusulas contratuais, a
interpretação será sempre a que mais favoreça o consumidor, eis que
presumida sua vulnerabilidade.

Os consumidores também estão protegidos nos casos de promessas feitas


pelo fornecedor, que não estejam expressamente previstas no contrato, mas
que constem de escritos particulares, recibos e pré-contratos (art. 48 do
CDC). Inclusive, pode o consumidor executar tais obrigações pré-contratuais.

Outro ponto importante é o período de reflexão de que goza o consumidor


nos casos em que a venda não ocorre no estabelecimento comercial.
Quando feita por telefone, internet ou a domicílio, o consumidor possui o
prazo de sete dias para exercer o direito de arrependimento e desistir da
contratação, conforme art. 49 do CDC.

Ainda na lógica da proteção contratual, o CDC enumera diversas cláusulas


que são consideradas abusivas, ou seja, que não poderão constar dos
contratos. Caso constem, serão nulas de pleno direito. O rol está no art. 51
do CDC (BRASIL, 1990), mas, é importante ressaltar, não se trata de rol
taxativo, tendo em vista que o próprio dispositivo ressalva a possibilidade de
outras cláusulas serem consideradas abusivas.

Responsabilidade pelo Fato do


Produto/Serviço
Como vimos, a legislação consumerista tem o intuito de proteger o
consumidor nas relações de consumo, uma vez que vulnerável em sua
relação com o fornecedor. Além dos direitos básicos estabelecidos pela
Constituição (BRASIL, 1988) e pelo Código de Defesa do Consumidor (BRASIL,
1990) e do sistema de proteção contratual, o CDC apresenta, ainda, regras
específicas a respeito da responsabilidade civil do fornecedor.

De acordo com a teoria geral da responsabilidade civil, todo aquele que, por
meio de ação ou omissão, causar dano a outrem tem a obrigação de repará-
lo. Via de regra, essa obrigação depende da comprovação de dolo ou culpa
do causador do dano – responsabilidade subjetiva. No entanto, em
decorrência da necessidade de se proteger o consumidor, a
responsabilidade do fornecedor é, em regra, objetiva, ou seja, independe da
comprovação de dolo ou culpa. Neste sentido:

Pela teoria do risco da atividade ou do empreendimento, todo


aquele que fornece produto ou serviço no mercado de consumo
cria um risco de dano aos consumidores e, concretizado este,
surge o dever de repará‐lo independentemente da comprovação
de dolo ou de culpa (ALMEIDA, 2020, p. 368).

Sendo assim, ocorrendo o evento danoso em decorrência da existência de


defeito ou vício em produto ou serviço colocado à disposição no mercado de
consumo, haverá a obrigação de reparação, sendo desnecessária a
comprovação de dolo ou culpa do fornecedor.

O CDC (BRASIL, 1990) divide a responsabilidade civil do fornecedor em


virtude de fato do produto ou fato do serviço . A responsabilidade em
decorrência de fato do produto está estabelecida no art. 12 do diploma
consumerista (BRASIL, 1990), e a responsabilidade pelo fato do serviço no
art. 14 do CDC (BRASIL, 1990).

O fato do produto ou do serviço ocorre quando estes apresentam vício ou


defeito . A doutrina costuma distinguir os dois fatos, entendendo que o vício
ocorre quando o produto ou o serviço é inadequado aos fins a que se
destina, já o defeito ocorre quando há insegurança no uso do produto ou do
serviço. Assim:

No tocante à responsabilidade pelo fato do produto e do serviço,


as atenções estão centradas basicamente na incolumidade física e
psicológica do consumidor. Tal assertiva busca amparo no fato de
que a expressão “fato do produto ou do serviço” refere‐se a
acidente de consumo decorrente de um produto ou de um serviço
defeituosos. [...] Já em relação à responsabilidade por vício do
produto e do serviço, o foco da proteção direciona‐se mais para a
incolumidade econômica (ALMEIDA, 2020, p. 374).

Tal entendimento decorre da própria conceituação legal que assim


estabelece:

Art. 12. omissis § 1° O produto é defeituoso quando não oferece a


segurança que dele legitimamente se espera, levando-se em
consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais: [...]

Art. 14. omissis § 1° O serviço é defeituoso quando não fornece a


segurança que o consumidor dele pode esperar, levando-se em
consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais: [...]
(BRASIL, 1990, on-line).

Portanto, tendo o próprio Código apontado como defeito a ausência de


segurança no uso do produto ou serviço, faz-se relevante a distinção.

Ressalte-se que, quanto ao produto viciado ou defeituoso, respondem


solidariamente pela reparação todos aqueles que compõem a cadeia
produtiva, já que o CDC aponta para a responsabilidade do fabricante, do
produtor, do construtor, nacional ou estrangeiro, e do importador, bem
como do comerciante – art. 12 e 13 do CDC (BRASIL, 1990). Já quanto ao vício
ou ao defeito do serviço, responde o fornecedor, ou seja, aquele que prestou
o serviço viciado ou defeituoso.
Uma última informação de suma relevância é quanto à responsabilidade civil
do profissional liberal. Tais profissionais – advogados, contadores, médicos,
dentistas – possuem, ordinariamente, obrigação de meio, e não de
resultado. Isto é, estão obrigados a prestar o melhor serviço possível, mas
não podem assegurar que o resultado final será exatamente o aguardado
pelo consumidor. Atento a isso, o CDC pôs a salvo da responsabilidade
objetiva estes profissionais. Isso significa que, para o caso de fato do serviço
no qual o fornecedor seja um profissional liberal, o consumidor deverá
provar o seu dolo ou a sua culpa, tratando-se, pois, de responsabilidade
subjetiva, conforme art. 14, § 4º, do CDC (BRASIL, 1990).
conclusão
Conclusão
Nesta unidade, revisamos as disciplinas de Processo Civil e a disciplina de
Direito do Consumidor. Esperamos que, ao final da leitura, você possa ter
conseguido relembrar os aspectos mais importantes dessas disciplinas,
criando uma verdadeira linha temporal do processo civil – do seu
nascimento ao seu fim; bem como possa ter refletido sobre a importância do
diploma consumerista na proteção do consumidor. Lembre-se de realizar a
leitura da legislação seca apontada neste material e não deixe de consultar
outras fontes de estudo. Em sua biblioteca virtual, há bons livros para
aprofundamento. Bons estudos e uma excelente prova. E que venha a
aprovação!

referências
Referências
Bibliográficas
ALMEIDA, F. B. de. Direito do Consumidor Esquematizado . 8. ed. São
Paulo: Saraiva Educação, 2020.
BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do
Brasil de 1988 . Brasília, DF: Presidência da República, [2020]. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm
. Acesso em: 28 jan. 2021.

BRASIL. Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 . Código de Defesa do


Consumidor. Brasília, DF: Presidência da República, [2017]. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8078compilado.htm . Acesso em: 28
jan. 2021.

BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 . Código Civil. Brasília, DF:


Presidência da República, [2018]. Disponível em
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm . Acesso
em 28 jan. 2021.

BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 . Código de Processo Civil.


Brasília, DF: Presidência da República, [2015]. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm .
Acesso em: 28 jan. 2021.

GONÇALVES, M. V. R. Direito Processual Civil Esquematizado . 11. ed. São


Paulo: Saraiva Educação, 2020.

SALES, F. A. de V. B. de. Manual de Direito Processual Civil . Volume único.


2. ed. São Paulo: Rideel, 2018.

SCHWARTZ, F. Manual de Direito do Consumidor : tópicos & controvérsias.


2. ed. Rio de Janeiro: Processo, 2019.

Você também pode gostar