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1ª e 2ª Aulas de

Direito Processual Civil I


Profa. Tereza Cristina
O Poder Judiciário de Ontem

Função Primária

Julgar Processos

Cultura da Sentença
Acesso ao Judiciário
Protagonismo do juiz

Acesso à Justiça

Direito de Peticionar /Acesso Formal à Justiça)


O Poder Judiciário de Hoje
O Poder Judiciário de Hoje e o
Tribunal Multiportas
Função Primária Acesso à Justiça

Oportunizar a
participação do Acesso qualitativo a
jurisdicionado na uma ordem jurídica
solução de seu conflito, justa
oferecendo o meio mais
adequado
Métodos Consensuais de Solução
1. Negociação: É um meio autônomo de solução de conflitos
no qual há um processo de comunicação bilateral, com o
objetivo de se chegar a uma decisão conjunta. Pode ou não
haver facilitação de terceiros.

2. Mediação: É um meio autônomo de solução de conflitos


no qual o terceiro facilitador atua como colaborador para
que as partes melhorem sua comunicação e
relacionamento. Não cabe ao mediador propor soluções,
mas sim facilitar as partes para que elas mesmas
encontrem as possíveis soluções para suas questões.

3. Conciliação: É um meio autônomo de solução de


conflitos no qual o terceiro facilitador atua como um
conciliador do diálogo, da negociação e da realização de
eventual acordo entre as partes.
Justiça “em Números”

Relatório Justiça em Números 2017 - CNJ


Confiram os números de 2019 !
Dos Números
Será que estamos diante de uma
sociedade beligerante no
equacionamento dos seus conflitos e
dissensos?

Esta sociedade beligerante está


preparada para assumir a
responsabilidade para o
equacionamento dos seus conflitos e
dissensos?
Quebra do Paradigma
Adversarial

 Mudança cultural:

 Do Modelo “perde x ganha”


 (Processo Judicial)

 Para o Modelo “ganha x ganha”


 (Conciliação e Mediação)
Consequências da Cultura da
Litigiosidade
 O judiciário encontra-se sufocado diante do elevado
número de processos em tramitação.

 O percentual de resolução judicial é inferior ao número


de instauração de novos processos judiciais.

 Convivemos com uma cultura da litigiosidade e da


sentença judicial, que nem sempre põem fim ao conflito

 Cada vez mais, há críticas e censuras da mídia e dos


cidadãos contra o judiciário brasileiro, no que se refere
à morosidade na prestação jurisdicional.
Sobrecarga do Judiciário
Elevado Número de Processos
 MAGISTRADOS:
 Justiça Estadual: média de 5,66 magistrados para cada 100.000
habitantes, sendo que há 22% de cargos vagos para magistratura
(Justiça em Números 2017*, confiram o relatório de 2019)
 Serventuários da Justiça
 Defensores Públicos
 Promotores e Procuradores
 Advogados
 Demais Operadores do Direito

*Link de acesso: Em 2019 houve atualização dos dados desta pesquisa


http://cnj.jus.br/files/conteudo/arquivo/2017/12/b60a659e5d5cb79337945c1dd137496c.pdf
Há Uma Resposta Para Esse
Cenário ????
Abordagem Positiva do
Conflito

Conflito como Conflito como


Oportunidade de Oportunidade de
crescimento pessoal mudança e de
e relacional entre as resolução dos
pessoas. problemas.
> Até aqui já sabemos que a solução
de qualquer conflito no âmbito
Judicial não parece ser simples

> E que essa forma de solução de


conflitos apresenta desgastes e
elevados custos : Financeiros,
Pessoais e Emocionais.
Visão Adversarial Sobre o
Conflito
POSIÇÕES: MODELOS:
Autor
A Ganha B Perde

Réu A Perde B ganha

Perguntamos: Nossa visão sobre o


Conflito precisa ser sempre de
embate com outro ?
O QUE IMPORTA É O RESPEITO
A TODOS OS QUE
PENSAM DIFERENTE DE NÓS!

“A regra de ouro da boa conduta é a


tolerância mútua, porque nunca
pensamos todos da mesma forma e
sempre veremos só uma parte da
verdade sob diferentes ângulos.”

Mahatma Ghandi
Atualmente Precisamos Pensar
sobre Como se Fazer
a Abordagem do Conflito para a
Sua Melhor e Adequada Solução
se perguntando:
Qual será a melhor estratégia para solução
de conflito desta natureza?

> Enfrentamento pela via Contenciosa?


ou
> Busca de saídas pela via Consensual?
Características das modalidades de
solução dos conflitos

CONTENCIOSAS NÃO CONTENCIOSAS

As partes se enfrentam As partes cooperam entre si

As partes controlam o
O procedimento é controlado
procedimento (art.190
por terceiros (juiz ou árbitro)
CPC/15)
Um terceiro decide sobre a As partes decidem sobre a
solução do conflito solução do conflito

Centra-se no passado Trata do presente e do futuro


Apresentação dos meios adequados
de resolução dos conflitos

SISTEMA MULTIPORTAS
 Negociação direta
 Negociação assistida
 Sistema judicial
 Conciliação
 Mediação
 Arbitragem
 DRB ( Dispute Resolution
Board)
Diversas formas legais
para a solução de conflitos
 Autotutela
É a forma mais primitiva de resolução de controvérsias e
consiste na dominação do mais forte sobre o mais fraco e
já foi abolida.

 Autotutela Legal
(Exemplo do art. 1210, §1º, Código Civil/2002)

 Autocomposição
(Negociação, Conciliação e Mediação)

 Heterocomposição
(Poder Judiciário e Arbitragem)
Pirâmide para a Solução de
Conflitos
Ao nos deslocarmos da
‘base’ para o ‘topo’
da pirâmide se vê que
à medida em que se
sucedem os diversos
mecanismos:
 Cresce a intervenção
de terceiros;

 Aumenta o
formalismo;

 Acirra a litigiosidade;

 O processo tende a se
tornar mais demorado.
Negociação

A B

ACORDO
Negociação

“Negociação é um meio básico de conseguir


o que se quer de outrem. Nela, há uma
Comunicação Bidirecional concebida
para chegar a um acordo, quando você e o
outro lado têm alguns interesses em
comum e outros opostos”.

(Fisher Ury e Patton: Como chegar ao Sim.


2005, p. 15)
Conciliação

CONCILIADOR

ACORDO

A B
Conciliação

“ A conciliação é um procedimento mais célere e, na


maioria dos casos, restringe-se a uma reunião entre
as partes e o Conciliador. Trata-se de mecanismo
muito eficaz para conflitos em que inexiste entre as
partes, relacionamento significativo no passado ou
contínuo no futuro, portanto preferem buscar um
acordo de forma imediata para pôr fim à
controvérsia ou ao processo judicial.” E, para tanto,
o conciliador poderá sugerir possíveis soluções às
partes.

Adolfo Braga
Mediação

MEDIADOR

A B

ACORDO
Mediação
“ Mediação é um meio, geralmente não
hierarquizado, de solução de disputas, em
que duas ou mais pessoas, com a
colaboração de um terceiro, o Mediador –
que deve ser Apto, Imparcial, Independente e
Livremente escolhido ou aceito – expõem o
problema, são escutadas e questionadas,
dialogam construtivamente e procuram
identificar os interesses comuns, opções e,
eventualmente, firmar um acordo.”

Carlos Eduardo Vasconcelos


Arbitragem

ÁRBITRO

A B
SENTENÇA
ARBITRAL
(art.515, VII,
CPC/15)
Arbitragem
A Arbitragem é uma forma Extrajudicial de
resolução de conflitos, com a participação de um ou
mais Árbitros Privados, escolhidos segundo a
vontade das partes.
Assim como acontece no Poder Judiciário, os
árbitros examinam os argumentos expostos pelas
partes demandantes e proferem uma decisão final
e obrigatória, designada por Sentença Arbitral.
Esta decisão, via de regra, não está sujeita a
recurso e é considerada pela lei um Título
Executivo Judicial podendo, portanto, ser
imediatamente executada, em caso de
descumprimento.
Mediação e Arbitragem

Mediação Arbitragem

Regulamentação: Lei Federal n.º Regulamentação: Lei Federal n.º


13.140/2015 9.307/1996

Atividade Técnica não


Natureza Jurisdicional
Jurisdicional

Método Autocompositivo Método Heterocompositivo

O Mediador não decide o


O árbitro decide o conflito e
conflito e atua como facilitador
impõe a decisão às partes
da comunicação entre as partes
Mediação e Arbitragem

Mediação Arbitragem

O mediador nunca profere O árbitro profere a sentença


sentença, mas o eventual acordo, arbitral, que possui força de título
após homologado pelo juiz é título executivo judicial (art. 515, VII,
judicial (art. 515, II e III, CPC/15) CPC/15)

Possibilidade de mediação
judicial (Centros Judiciários
regulamentados pelo CNJ – O Poder Judiciário e as Câmaras
CEJUSCS) e extrajudicial Arbitrais não se confundem
(Câmaras). A mediação deve ser
estimulada pelos Tribunais.
Cenário Legislativo no Enfoque da
Conciliação e Mediação

Resolução 125/10 do CNJ


Instituiu a Política Pública Nacional de tratamento
Adequado dos Conflitos de Interesses.

Lei 13.140 de 26 de Junho de 2015


Lei da Mediação.

Lei 13.105 de 16 de Março de 2015


Código de Processo Civil em Vigor.
O Código de Processo Civil de 2015

Destaca a importância de uma cultura


não litigiosa e estimula o papel das
partes como protagonistas na solução
dos seus próprios conflitos.
Práticas Dialógicas

Mediação Conciliação

Qual a
diferença?
Mediação e Conciliação

Mediação Conciliação

Objetivo maior: Desconstrução do


Objetivo maior: Chegar ao Acordo
conflito e restauração do diálogo

O mediador é apenas facilitador, Conciliador: pode interferir


as partes protagonizam soluções objetivando o acordo

Projeta-se ao Presente e Futuro Baseia-se no Passado e Presente


Mediação e Conciliação

Mediação Conciliação

Duração: Média de 6 a 8 encontros Geralmente há encontro único

Mediador: Há impedimento
Conciliador: Aporte Legal pode ser
ético para abordar a visão técnica
lembrado (imparcial)
e legal (imparcial)

Busca a Postura de Congruência e Apazigua a Postura Adversarial


Cooperação entre as partes entre as partes e busca acordo

Confidencialidade Confidencialidade
CÓDIGO DE
PROCESSO CIVIL DE 2015
PERCEBE-SE QUE:

> CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015, atendendo à


Política Nacional de Tratamento Adequado do Conflito,
institucionalizou as práticas dialógicas de modo expresso

PERCEBE-SE AINDA QUE:

> A PARTIR DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015


tornou-se indispensável, àqueles que se graduam em Direito,
conhecer todas as portas possíveis à solução dos conflitos que
lhes forem confiados. E, por isso, será imprescindível que cada
uma dessas portas seja apresentada aos seus clientes, antes
da propositura da ação judicial aplicável ao caso concreto.
Código de Processo Civil
Lei n.º 13.105/15
 Inclusão na Parte Geral das Normas
Fundamentais do Código de Processo Civil:

Art. 3.º Não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou


lesão a direito.
§1.º É permitida a arbitragem, na forma da lei.
§2.º O estado promoverá, sempre que possível, a solução
consensual dos conflitos.
§ 3.º A Conciliação, a Mediação e outros métodos de solução
consensual de conflitos deverão ser estimulados por Juízes,
advogados, defensores públicos e membros do Ministério
Público, inclusive no curso do processo judicial.
Código de Processo Civil
Lei n.º 13.105/15
 Dos poderes, dos deveres e da responsabilidade do
juiz

Art. 139. O Juiz dirigirá o processo conforme as disposições


deste código, incumbindo-lhe:
[...]
V – Promover, a qualquer tempo, a autocomposição
preferencialmente com auxílio de conciliadores e mediadores
judiciais.
Código de Processo Civil
Lei n.º 13.105/15
 Dos Auxiliares da Justiça
 Dos Conciliadores e Mediadores Judiciais

Art. 165. Os tribunais criarão centros judiciários de solução


consensual de conflitos, responsáveis pela realização de
sessões e audiências de conciliação e mediação e pelo
desenvolvimento de programas destinados a auxiliar, orientar e
estimular a autocomposição.
§1º A composição e a organização dos centros serão definidas
pelo respectivo tribunal, observadas as normas do Conselho
Nacional de Justiça.
Mediação e Conciliação
Definições da Lei (CPC/2015)

Art. 165. [...] Art. 165. [...]


§3.º O Mediador, que atuará
§2.º O Conciliador, que
preferencialmente nos casos
em que houver vínculo atuará preferencialmente nos
anterior entre as partes, casos em que não houver
auxiliará aos interessados a vínculo anterior entre as partes
compreender as questões e os poderá sugerir soluções para o
interesses em conflito, de litígio, sendo vedada a
modo em que eles possam utilização de qualquer tipo de
pelo restabelecimento da constrangimento ou
comunicação, identificar, por intimidação para que as partes
si próprios, soluções
conciliem.
consensuais que gerem
benefícios mútuos.
Código de Processo Civil
Lei n.º 13.105/15
 Dos Princípios Informadores da
Conciliação e Mediação

Art. 166. A conciliação e a mediação são


informadas pelos princípios da independência, da
imparcialidade, da autonomia da vontade, da
confidencialidade, da oralidade, da
informalidade e da decisão informada.
Código de Processo Civil
Lei n.º 13.105/15

 “Quarentena”

Art. 172. O conciliador e o mediador ficam


impedidos, pelo prazo de 1(um) ano, contado
do término da última audiência em que
atuaram, de assessorar, representar ou
patrocinar qualquer das partes.
Código de Processo Civil
Lei n.º 13.105/15

 Da audiência de Conciliação ou
Mediação

Art. 334. Se a petição inicial preencher os requisitos


essenciais e não for o caso de improcedência liminar
do pedido, o Juiz designará audiência de conciliação
ou de mediação com antecedência mínima de
30(trinta) dias, devendo ser citado o réu com pelo
menos 20(vinte) dias de antecedência.
Código de Processo Civil
Lei n.º 13.105/15

Art. 334. [...] § 1.º O conciliador ou mediador, onde


houver, atuará necessariamente na audiência de
conciliação ou de mediação, observando o disposto
neste Código, bem como as disposições da lei de
organização judiciária.

§2.º Poderá haver mais de uma sessão destinada à


conciliação e a mediação, não podendo exceder a
2(dois) meses da data da realização da primeira
sessão, desde que necessárias à composição das
partes.
Código de Processo Civil
Lei n.º 13.105/15

Art. 334. [...]

§ 3.º A intimação do autor para audiência será feita na


pessoa de seu advogado.

§ 4.º A audiência não será realizada:


I – se ambas as partes, manifestarem, expressamente,
desinteresse na composição consensual;
II – quando não se admitir autocomposição.
Código de Processo Civil
Lei n.º 13.105/15
Art. 334. [...]
§ 5.º O autor deverá indicar, na petição inicial, seu
desinteresse na autocomposição, e o réu deverá fazê-lo, por
petição, apresentada com 10(dez) dias de antecedência,
contados da data da audiência.
§ 6.º Havendo litisconsórcio, o desinteresse na realização da
audiência deve ser manifestado por todos os litisconsortes.

Art.319. A petição inicial indicará:


VII – a opção do autor pela realização ou
não de audiência de conciliação e
mediação.
Código de Processo Civil
Lei n.º 13.105/15
Art. 334. [...]

§ 7.º A audiência de conciliação ou mediação poderá


realizar-se por meio eletrônico, nos termos da lei.

§ 8.º O não comparecimento injustificado do autor ou do


réu à audiência de conciliação é considerado ato
atentatório à dignidade da justiça e será sancionado com
multa de até dois por cento da vantagem econômica
pretendida ou do valor da causa, revertida em favor da
união ou do estado.
Código de Processo Civil
Lei n.º 13.105/15
Art. 334. [...]
§ 9.º As partes devem estar acompanhadas por seus advogados
ou defensores públicos.

§ 10.º A parte poderá constituir representante, por meio de


procuração específica, com poderes para negociar e transigir.

§ 11.º A autocomposição obtida será reduzida a termo e


homologada por sentença.

§ 12º A pauta das audiências de conciliação ou de mediação


será organizada de modo a respeitar o intervalo mínimo de 20
(vinte) minutos entre o início de uma e o início da seguinte.
Código de Processo Civil
Lei n.º 13.105/15
Art.515

Caput. São títulos executivos judiciais, cujo cumprimento dar-


se-á de acordo com os artigos neste título (Do Cumprimento
da Sentença):

II- a decisão homologatória de autocomosição judicial;


VII- a sentença arbitral

§ 2º A autocomposição judicial pode envolver sujeito estranho


ao processo e versar sobre relação jurídica que não tenha
sido deduzida em juízo

OBS: art. 18, 31 e 32 da Lei de Arbitragem (L.9.307/1996)


Código de Processo Civil
Lei n.º 13.105/15
Art. 694

Caput. Nas ações de família, todos os esforços


serão empreendidos para a solução consensual da
controvérsia, devendo o juiz dispor do auxílio de
profissionais de outras áreas de conhecimento para a
mediação e conciliação.

Parágrafo único: A requerimento das partes, o juiz


pode determinar a suspensão do processos enquanto
os litigantes se submetem a mediação extrajudicial
ou a atendimento multidisciplinar.
Código de Processo Civil
Lei n.º 13.105/15
Art. 784
Caput. São títulos executivos extrajudiciais:

IV: O instrumento de transação referendado pelo


Ministério Público, pela Defensoria Pública, pela
Advocacia Pública, pelos advogados dos transatores
ou por conciliador ou mediador credenciado por
tribunal
XII: todos os demais títulos aos quais, por disposição
expressa, a lei atribuir força executiva

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