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Gilberto, professor de educação física, com 42 anos de idade, trabalha há 15

anos no Colégio Sagrada Disciplina, localizado no Bairro Felicidade, no


centro da cidade. É casado, pai de 2 filhas e avô de 4 netos.
No dia 28 de junho de 2019, ao término das aulas, saiu com Maria e Juliana,
também professoras do colégio para tomar um chopp e comemorar a chegada
das férias de meio de ano.
Após alguns copos de chopp e muitas risadas, Gilberto, que sempre achou
Juliana muito bonita e atraente, achou que ela pudesse estar dando mole e
passou a investir com algumas cantadas. A moça, achando graça, sorria, mas
não mostrava nenhuma reciprocidade.
Em dado momento, quando Maria foi ao banheiro, Gilberto decidiu agarrar e
beijar Juliana. A moça passou a gritar e pedir que ele a largasse, mas Gilberto,
fora de si, só queria beijá-la e satisfazer sua lascívia. Maria, ao retornar do
banheiro e ver a amiga sendo agarrada a força, gritou por socorro e as pessoas
que estavam no bar seguraram Gilberto até a chegada da polícia.
Gilberto foi preso em flagrante e conduzido ao 1º DP da Comarca. O
Delegado procedeu com todas as formalidades da lavratura do APFD, autuou
o preso como incurso no art. 215-A do CP (importunação sexual) e
determinou o recolhimento de Gilberto ao cárcere.
Gilda, esposa de Gilberto, ao tomar conhecimento dos fatos, desesperada,
entrou em contato com você para que atue em prol dos interesses de Gilberto.
Considerando apenas as informações narradas, na condição de advogado(a) de
Gilberto redija a peça jurídica cabível, diferente de habeas corpus,
apresentando todas as teses jurídicas pertinentes.
Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da __ Vara
Criminal da Comarca de__

Gilberto, nacionalidade..., casado, professor de educação


física, portador do CPF nº..., com Documento de
Identidade de n°..., residente e domiciliado na Rua, nº...,
bairro..., CEP nº..., Município..., UF..., vem
respeitosamente a presença de Vossa Excelência,
requerer concessão de LIBERDADE PROVISÓRIA, com
fulcro no art. 5º, inciso LXVI, da CF, c.c. os artigos 310, III,
321, 323 e 324, TODOS do CPP, pelas seguintes razões
de fato e de direito expostas:

Dos Fatos

Gilberto foi denunciado pela prática de importunação sexual, nos termos do


artigo 215-A do CP. Segundo a denúncia, os fatos teriam ocorrido em 28 de
junho de 2019 em um bar para comemorar as férias de meio de ano, tendo
como vítima sua colega de trabalho Juliana. O crime teria ocorrido no banheiro
do estabelecimento. Após a chegada da polícia houve prisão por delito em
flagrante, sendo conduzido ao 1º DP da Comarca. Após todas as formalidades
da lavratura do APFD, determinando o recolhimento do denunciado Gilberto ao
cárcere.

Do Direito

Revogação da prisão preventiva

É imperioso esclarecer que o requerente faz jus ao benefício da liberdade


provisória, tendo em vista que não se enquadra nos casos em que seria
permitida a prisão preventiva, cabendo no caso medida cautelar diversa,
prevista no art. 319, do CPP. Possibilidade de medida alternativa a prisão (319,
III, do CPP).
Sobre o tema trago a baila a seguinte julgado do Desembargador Xisto Albarelli
Rangel Neto da 13ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de São
Paulo.

Habeas Corpus. Importunação sexual. Paciente que, no coletivo,


aproximou-se da vítima, retirou seu órgão genital e o esfregou em seu
corpo. Decisão judicial que decreta a prisão preventiva que não
justifica adequadamente a razão de não serem aplicadas medidas
cautelares diversas da prisão. Liminar deferida. Liberdade provisória
com medidas cautelares: 1) comparecimento mensal em juízo para
justificar suas atividades (art. 319, I do CPP); (2) necessidade de
comparecer em juízo toda vez em que for intimado (art. 327 do CPP);
(3) proibição de se ausentar de sua residência por mais de 8 dias e
obrigação de comunicar ao juízo eventual mudança de endereço
(art.328 e 319, IV, ambos do CPP); (4) proibição de manter contato
com a vítima e seus familiares (art. 319, III do CPP); Prisão provisória
que deve ser aplicada só excepcionalmente, agora também em razão
da Recomendação 62 CNJ. ORDEM CONCEDIDA com ratificação da
liminar.1

Possibilidade de liberdade provisória mediante fiança, tendo em vista que não


se enquadra nas situações dos arts. 323 e 324, ambos do CPP, que excluem a
possibilidade de sua concessão, poderá, em último caso, ser concedida
liberdade provisória mediante fiança, com base no art. 325, do CPP, lembrando
que o requerente é primário e portador de bons antecedentes, tem residência e
empregos fixos, conforme comprovam os documentos em anexo.

Preceitua o art. 5º, LXVI, da Constituição Federal o seguinte:


“ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir a
liberdade provisória, com ou sem fiança”. Cuida-se, por certo, de uma
mensagem do constituinte ao legislador ordinário, bem como ao
Judiciário, no sentido de ser a prisão cautelar uma exceção, a ser
decretada quando realmente indispensável. Não pode, pois, ser a
regra. Fosse a regra e não teria o menor sentido a referência à
liberdade provisória no contexto dos direitos e garantias humanas
fundamentais.
Partindo dessa premissa, devemos entender que cabe à lei ordinária
– e somente a esta, justamente pela flexibilidade que possui para ser
alterada – a fixação das condições para alguém, acusado da prática
de um crime, permanecer em liberdade, enquanto se desenvolve a
instrução processual. Por outro lado, é preciso considerar que o
instituto da liberdade provisória, hoje, é estreitamente ligado à prisão
em flagrante. Afinal, esta pode ser atingida, segundo autorização
constitucional (art. 5º, LXI), em combinação com o disposto nos arts.
301 e 302 do Código de Processo Penal, por ordem e emprego de
1
(TJ-SP – HC: 21707942520208260000 SP 2170794-25.2020.8.26.0000, Relator: Xisto
Albarelli Rangel Neto, Data de Julgamento: 21/08/2020, 13ª Câmara de Direito Criminal, Data
de Publicação: 21/08/2020). Disponível em:
<https://tj-sp.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/928454115/habeas-corpus-criminal-hc-
21707942520208260000-sp-2170794-2520208260000?ref=juris-tabs> Acesso em: 16.09.2021
força de qualquer pessoa do povo ou de agentes policiais, sem
autorização prévia da autoridade judiciária. Assim ocorrendo, deve o
magistrado ser imediatamente informado. Mas o autor do eventual
delito já se encontra preso. Não havendo motivo para mantê-lo sob
custódia estatal, pois ausentes os requisitos para a decretação da
prisão preventiva, deve o juiz conceder-lhe liberdade provisória. Por
isso, denomina-se provisória: estava preso e, em virtude do princípio
da presunção de inocência, será colocado provisoriamente em
liberdade, até o final do processo. Condenado, recebendo pena
privativa de liberdade, retornará ao cárcere. Não vemos sentido em
se denominar liberdade provisória a situação existente em casos de
revogação da prisão preventiva ou relaxamento da prisão em
flagrante. Ora, o status natural do ser humano é o de inocência, logo,
deve gozar do direito à liberdade. A prisão preventiva é excepcional.
Uma vez decretada – e não sendo o caso – deve ser
simplesmente revogada, retornando o indiciado ou réu ao seu estado
primitivo de ser humano livre. O mesmo ocorre se a prisão em
flagrante for ilegal: deve ser relaxada e o indiciado retorna ao status
de liberdade plena.2

Portanto, o Requerente não se enquadra nas situações dos artigos que


impossibilitam a concessão de liberdade provisória ou de concessão de medida
cautelar alternativa, razões pelas quais o Gilberto faz jus ao benefício da
liberdade provisória, pelos motivos supramencionados.

Do Pedido

Diante do exposto, requer de Vossa Excelência a concessão de liberdade


provisória, substituindo por medida cautelar diversa.
Em caso de entender que seja determinado o pagamento de fiança, que seja
arbitrada fiança, que deverá ser fixada no mínimo legal, nos termos do art. 326,
do CPP, e expedindo-se o competente alvará de soltura em favor de Gilberto,
como medida de JUSTIÇA.

Nesses Termos, Pede Deferimento.

Local, dia de mês de ano.

Assinatura do Advogado
Nome do Advogado
OAB/UF nº número da inscrição na OAB
2
NUCCI, Guilherme. Liberdade provisória: verdades e mitos. Disponível em:
https://guilhermenucci.com.br/liberdade-provisoria-verdades-e-mitos/ Acesso em: 16.09.2021.
Questão 1

João está sendo investigado por crimes de estelionato em continuidade delitiva.


Alegando a imprescindibilidade para as investigações, bem como o fato de João não ter
residência fixa, o Delegado de Polícia representou ao juiz de direito requerendo a prisão
temporária de João, a qual foi decretada, com a anuência do membro do Ministério
Público.
A esposa de João o procurou para saber o que pode ser feito em seu favor e qual medida
pode ser tomada.

Com base apenas nas informações fornecidas, indique, de forma motivada e


fundamentada, a medida mais adequada a ser tomada no caso de João.

Resposta
Deverá ser falado para a esposa de João que será peticionado diretamente ao
juiz de direito requerendo a revogação da prisão temporária, pois em
desacordo com os preceitos legais. Na fundamentação da peça será arguido
que a doutrina e a jurisprudência, majoritariamente só permitem a prisão
temporária nos crimes descritos no artigo 1°, inciso III da Lei nº 7.960/89. No
presente caso, João está sendo investigado pelo crime de estelionato, o qual
não está no rol taxativo do inciso III, do artigo 1º da lei 7.960/89, o que torna a
prisão ilegal, devendo ser revogada pelo magistrado.
A não revogação está tipificada como crime de abuso de autoridade pela
autoridade judicial que em seu artigo 9º, §único da lei 13.869/19.

Questão 2

1. Frederico entrou no ônibus com o intuito de assaltar o cobrador e levar todo o


dinheiro do caixa. Deparou-se com o coletivo que continha apenas o motorista.
Ao entrar no coletivo e sentar-se atrás de um casal de namorados, percebeu que
ambos não tiravam os olhos da tela dos seus celulares que eram aparelhos de
última geração e que poderiam valer um bom dinheiro. Aproximou-se do casal,
mostrou o revólver que portava e mandou que entregassem os aparelhos, o que
foi imediatamente feito pelos dois. Frederico guardou a arma e os celulares na
mochila; e desceu do ônibus. Não contava que no local em que pediu para descer
havia uma base da Polícia. As vítimas gritaram que era assalto e os policiais
prenderam o meliante.
Com base nas informações fornecidas e no entendimento do STF sobre o tema,
indique qual ou quais foram os crimes praticados por Frederico.

Resposta

Frederico cometeu o crime de roubo qualificado, segundo a posição do


STF Súmula 582, pois para esta corte a consumação se dá com a retirada do
bem da vigilância da vítima. No caso, o agente colocou na mochila os bens.
Observe-se que o agente fez uso de grave ameaça, previsto no artigo 157 do
CP, com aumento de pena no inciso I do § 2º-A do mesmo dispositivo. Como
eram duas vítimas há concurso forma, segundo art. 70, do CP.

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