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Formas Consensuais de Solução de

Conflitos

APRESENTAÇÃO

Os meios de solução de conflitos são divididos em dois grupos: heterocomposição e


autocomposição. Sendo a autocomposição constituída pela conciliação e mediação e a
heterocomposição constituída por arbitragem e jurisdição.

O Estado não está dando conta da sua função de pacificar os conflitos por meio da jurisdição.
Cada vez mais, a sociedade quer a solução de seus conflitos com mais agilidade, porém se sabe
que a demora na solução deles é uma das maiores causas para que o Estado não consiga efetivar
suas funções, além da onerosidade dos processos.

Nesta Unidade de Aprendizagem, você verá a importância das formas consensuais de solução de
conflitos para sociedade, bem como a importância atual dada às formas consensuais de solução
de conflitos. Além disso, diferenciará a mediação de conciliação para, ao final, analisar a
mediação e a conciliação judiciais e extrajudiciais.

Bons estudos.

Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

• Reconhecer a importância atual dada às formas consensuais de solução de conflitos.


• Diferenciar mediação de conciliação.
• Analisar a mediação e a conciliação judiciais e extrajudiciais.

DESAFIO

A origem dos métodos autocompositivos remonta ao início da civilização, antes mesmo do


Estado, quando os titulares do direito resolviam os seus próprios conflitos por meio da
autotutela ou da autodefesa. A justiça era feita pelas próprias mãos.

Imagine a seguinte situação: certa vez, sua colega Cristiane relatou para você, estudante de
direito, que comprou uma sandália em uma loja extremamente cara em um shopping próximo à
sua casa.

Veja a seguir o problema ocorrido com Cristiane:

Dito isso, Cristiane perguntou a você se saberia orientá-la. Como você a orientaria?

INFOGRÁFICO

Os meios consensuais, também chamados de autocompositivos, são apresentados como forma


de solução para a pacificação social dos conflitos. Ao lado desses meios, outros se apresentam,
como os heterocompositivos e a autotutela.

Acompanhe no Infográfico a seguir as características de cada um desses meios de resolução de


conflitos.
CONTEÚDO DO LIVRO

Quando se estuda a importância dos métodos consensuais de soluções de conflitos sociais, é


importante saber que os conflitos têm várias naturezas. Essas diversas características nos levam
a procurar a pacificação social por meio de métodos eficazes para atender às expectativas da
sociedade e atingir o bem comum.

No capítulo Formas Consensuais de Solução de Conflitos, que faz parte do livro Teoria Geral
do Processo e é a base teórica desta Unidade de Aprendizagem, você verá o que são formas
consensuais de solução de conflitos, a sua importância atual, bem como a mediação e
conciliação, que são exemplos de meios consensuais. Verá também que o ordenamento jurídico
brasileiro possibilita a utilização da medição e a conciliação de forma judicial e extrajudicial em
busca de soluções mais adequadas para os conflitos sociais.

Boa leitura.
TEORIA GERAL
DO PROCESSO

Rosana Antunes
Formas consensuais de
solução de conflitos
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Reconhecer a atual importância dada às formas consensuais de so-


lução de conflitos.
 Diferenciar conciliação de mediação.
 Analisar a mediação e a conciliação judiciais e extrajudiciais.

Introdução
Neste capítulo, você estudará as formas consensuais de solução de con-
flitos e aprenderá as diferenças entre a conciliação e a mediação para, ao
final, analisar a mediação e a conciliação judiciais e extrajudiciais.
A crise da justiça tem sido muito discutida nos últimos anos. Atual-
mente, queixa-se da ausência de justiça ou da morosidade, bem como
da ineficácia das decisões.
Resolver essa crise é um desafio a ser vencido. No entanto, não há
fórmulas mágicas para a solução desses problemas apontados, mas se
reconhece a vocação dos meios consensuais como uma alternativa.
Os meios consensuais, também chamados de meios autocompositi-
vos, são métodos não adversariais de solucionar conflitos de interesses
e estão intimamente ligados ao acesso à justiça material.
O acesso à justiça é um direito humano fundamental que não vem
sendo efetivado de forma satisfatória pelos órgãos tradicionais judiciais,
por essa razão há a necessidade de buscar novos métodos ou formas
de efetivar a justiça.
A partir dessa constatação, políticas públicas começaram a ser
implementadas no sentido de incentivar e valorizar os métodos não
adversariais. Atualmente, a primeira política efetiva se deu com a Re-
solução 125 do Conselho Nacional de Justiça (política judiciária de
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tratamento de conflitos de interesses, tendente a assegurar a todos o


direito à solução dos conflitos por meios adequados à sua natureza e
peculiaridade).
No contexto de ampliação do acesso à justiça, duas leis importantes
para a regulamentação de métodos consensuais merecem destaque:
Código de Processo Civil (CPC) de 2015 (Lei nº. 13.105, de 16 de março de
2015) e a Lei nº. 13.140, de 26 de junho de 2015 (mediação).
As duas leis citadas acima trazem a previsão de solução consensual
de conflitos de interesses, quer seja judicial ou extrajudicial.
Dessa forma, grande é a contribuição dos métodos consensuais para
a solução de conflitos de interesse no nosso ordenamento atual, uma
vez que eles buscam a concretização da ampliação do acesso à justiça
de forma material e a pacificação social de forma mais efetiva.

Importância das formas consensuais de conflitos


A origem dos métodos autocompositivos remonta ao início da civilização,
antes mesmo do Estado, quando os titulares do Direito resolviam os seus
próprios conflitos por intermédio da autotutela ou da autodefesa. A justiça
era feita pelas próprias mãos.
Com o surgimento do Estado, foram desenvolvidos meios consensuais de
conflitos, nos quais os titulares decidiam os desacordos por si mesmos ou
poderiam se valer de um terceiro que gozasse da confiança das partes. Como
exemplos desse tipo de solução, podemos citar a mediação e a conciliação.
Com o passar do tempo, a autonomia de decidir os conflitos foi substituída
por um terceiro, de escolha das partes, tendo como exemplo a arbitragem.
Ressalta-se que a arbitragem inaugurou os métodos heterocompositivos.
Com a ascensão da figura do Estado, transferiu-se, de forma gradativa, o
poder de decidir conflitos a um terceiro, o qual era designado pelo Estado,
compondo sua função jurisdicional, ou seja, pelo sistema jurisdicional que
vigora até os dias de hoje.
Um ponto que merece destaque é o estudo feito por Cappelletti e Garth
(1988), que, na obra Acesso à Justiça, publicada no Brasil em 1980, revelou
a investigação sobre o funcionamento do sistema judiciário de alguns países,
como França, Itália, Portugal, Espanha, Estados Unidos, entre outros. Nessa
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obra, os autores tratam da evolução do conceito de acesso à justiça, apresen-


tando alguns obstáculos e as possíveis soluções para superá-los.
O Brasil não estava no rol dos países analisados por Cappelletti e Garth
(1988), apesar disso, as conclusões da pesquisa foram objeto de análise da dou-
trina brasileira, muitas vezes citada nas decisões judiciais dos nossos tribunais.
O novo conceito de acesso à justiça exposto por Cappelletti e Garth (1988,
p. 23) apresenta um sistema de proteção de direitos de forma ampla, trans-
formando o papel do Estado de intervencionista em incentivador do diálogo,
o qual é capaz de promover não somente a assistência judiciária gratuita aos
necessitados e os procedimentos para tutelar direitos transindividuais, mas
também amplos mecanismos de resolução de conflitos, estando alinhado como
escopo maior de pacificar a sociedade.
Uma experiência importante, com relação aos métodos consensuais, reside
no O Tribunal Multiportas, de Harvard Law School, que se constitui em uma
forma de organização judiciária, na qual o Poder Judiciário atua como um
centro de resolução de controvérsias, com diversos procedimentos e com van-
tagens e desvantagens que devem ser levadas em consideração, no momento
de sua escolha, em função das especificidades de cada conflito, bem como
das pessoas nele envolvidas.
Assim, o sistema de uma única porta, que é o do processo judicial, pode
ser conjugado com vários tipos de procedimento, os quais integram um centro
de resolução de disputas, direcionando ao procedimento mais adequado para
o tipo de conflito apresentado. O perfil desse Tribunal inspira o ordenamento
jurídico brasileiro na busca de novas portas de acesso à justiça de forma ma-
terial. Segundo a doutrina brasileira, a abertura de portas no Brasil se inicia
de forma mais clara com os Juizados Especiais.
Dito isso, precisamos entender que os conflitos fazem parte do cotidiano
das pessoas e são necessários para o aprimoramento das relações interpessoais
e sociais. Diante de um conflito, é importante encontrarmos uma forma que
favoreça a composição construtiva. Por isso, é importante que esses conflitos
sejam resolvidos da forma mais adequada possível, permitindo um sentimento
de satisfação das pessoas envolvidas.
A adequação do meio de solução ao tipo de conflito aponta para uma
diversidade de mecanismos de solução, bem como a uma percepção de que
é preciso avaliar o tipo de conflito vivido para que se possa encontrar um
mecanismo de solução que se encaixe na necessidade.
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Nesse contexto, é importante se desapegar da visão de que só é possível


resolver um conflito por um caminho exclusivo, ou seja, quando houver in-
tervenção do Poder Judiciário.
Assim, é possível que mecanismos eficientes, como os meios consensuais
(conciliação e mediação, por exemplo), sejam, assim como a tradicional ju-
risdição, uma opção que visa a vincular o tipo de conflito ao meio de solução
apropriado.
Os meios consensuais se apresentam como mecanismos de inclusão social,
à medida que as partes se tornam corresponsáveis pela construção de uma
resolução mais adequada para suas contendas, e, ainda, de pacificação social,
já que um dos objetivos deles é que as partes aprendam a administrar seus
conflitos por meio do diálogo.
O objeto da autocomposição, ou seja, os direitos que podem ser objeto de
autocomposição estão limitados aos bens disponíveis – direitos patrimoniais
disponíveis ou relativamente indisponíveis (direitos indisponíveis que podem
ter o seu valor convencionado).
Nesse contexto, os métodos consensuais são meios de solução de conflitos
que se adéquam ao moderno conceito de acesso à justiça, pois buscam ampliar
técnicas para o acesso de forma mais eficaz e célere.
Voltado para a ideia de justiça coexistencial e transformativa, o orde-
namento jurídico brasileiro vem gradualmente, ainda que de forma tímida,
demonstrando a preocupação estatal com o tratamento adequado dos conflitos
de interesse e redimensionando o acesso à Justiça. Um dos grandes desafios
da contemporaneidade é a afirmação de um sistema colaborativo e autocom-
positivo que compõe um sistema de justiça e que é tanto ou mais valorizado
que o modelo ordinário estatal.
Na busca de um sistema colaborativo, destacam-se o CPC de 2015 e a Lei
nº. 13.140/2015 (mediação). Essas leis preveem formas de solução de conflitos
consensuais, judiciais e extrajudiciais, reconhecendo que a exclusividade estatal
para a resolução de conflitos de interesses já não é mais capaz de responder
aos litígios de forma célere, adequada e efetiva.
A morosidade nas soluções das lides é apontada como obstáculo ao acesso
à justiça de forma ampla. Segundo o Conselho Nacional de Justiça, em 2016, a
taxa de congestionamento no Poder Judiciário foi de 74,8% na Justiça Estadual
e de 71,6% na Justiça Federal, percentuais que são considerados altíssimos
(BRASIL, 2016).
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Outro dado alarmante é trazido pelo relatório da pesquisa Justiça em Números: o tempo
médio de tramitação de um processo.
O tempo de baixa no processo de conhecimento é de 0,9 anos (11 meses), enquanto
o tempo de baixa na execução gira em torno de 4,3 anos (quatro anos e três meses).
O lapso temporal decorrido entre o protocolo e o primeiro movimento de baixa do
processo revela a dificuldade que o Poder Judiciário vem enfrentando para fazer frente
à realização dos direitos do cidadão.

A doutrina entende que não basta termos uma pluralidade de direitos


reconhecidos em leis, pois dificilmente o acesso ao sistema de justiça trará à
realidade a prática desses direitos se não for compartilhada por todos de forma
igualitária, com métodos mais eficazes, apontando os meios consensuais como
uma das formas de se alcançar a plena satisfação dos interesses da sociedade
de forma autônoma.
Ressalta-se que a universalização da cidadania por intermédio da efeti-
vação dos direitos só se concretiza quando a porta de entrada permite que
se vislumbre, e se alcance, a porta de saída do sistema de justiça em tempo
razoável e, sobretudo, com o conflito pacificado de forma adequada.

A taxa de congestionamento é um indicador que mede o percentual de casos que


permaneceram com as soluções pendentes ao final do ano-base, dentro do universo
de processos em trâmite (soma dos pendentes e dos baixados).

Por tudo que foi dito até o momento, percebe-se que as leis têm evoluído no
sentido verdadeiro da civilidade. Com isso, tem-se buscado formas eficazes,
céleres e menos dispendiosas de resolver os conflitos de interesse, haja vista
que um processo judicial apresenta custos temporal e financeiro, os quais,
muitas vezes, as partes não conseguem cobrir. É cada vez mais importante a
utilização dos meios consensuais para resolução de conflitos.
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O acesso à justiça deixou de ser sinônimo de acesso aos Tribunais, exigindo algo mais:
o acesso ao Direito.
Na nova concepção de acesso à justiça, o Estado deve se comprometer a resolver
conflitos, aplicando diversos mecanismos de resolução, estimulando práticas coope-
rativas e não mais exclusivamente pelos Tribunais de Justiça.

Por fim, é importante saber que a conciliação, assim como a mediação, é


regida por princípios chamados de independência, imparcialidade, confidencia-
lidade, oralidade, informalidade e decisão informada e boa-fé. Independência,
pois se deve agir com liberdade sem sofrer pressão; imparcialidade porque é
preciso ser imparcial ao conflito que está sendo resolvido; confidencialidade
devido à necessidade de haver sigilo; oralidade e informalidade fazem a me-
diação e a conciliação se diferenciar da jurisdição, pois é preciso falar com
uma linguagem mais acessível para garantir que as partes estejam informadas
e possam participar e dissolver o conflito.

Mediação e conciliação
Inicialmente, vale ressaltar que o incentivo para solucionar os conflitos de
interesse, de forma consensual, no Brasil tem assento Constitucional, come-
çando pelo preâmbulo da Constituição Federal de 1988, o qual afirma que
estamos comprometidos com soluções de controvérsias de forma pacífica
interna e externamente.
Dessa forma, os métodos não adversariais, como a mediação e a conciliação,
estão inseridos no comando constitucional, uma vez que estes resolvem as
controvérsias de forma pacífica e cooperativa e com foco na harmonia e na paz.
Diversos são os mecanismos que visam à obtenção da autocomposição. A
mediação e a conciliação são exemplos de meios autocompositivos. Cada um
dos mecanismos mencionados se apresenta e se desenvolve com métodos e
técnicas diferentes, porém, com o mesmo objetivo, há a composição autônoma
de conflitos pelo resgate do diálogo.
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A lide ocorre quando um indivíduo possui interesse em um bem material, e para


adquiri-lo exerce sua pretensão sobre esse bem, contudo encontra resistência por
parte de outra pessoa.

A doutrina aponta a importância da autocomposição como forma de solu-


ção mais adequada para cada lide porque as pendências são igualitariamente
pensadas pelas partes, as quais se comprometem a encerrar seus conflitos de
forma pacífica. Por ter uma grande vocação para promover a paz social, esses
métodos se apresentam como verdadeiros realizadores de justiça.
Vamos agora estudar a mediação e a conciliação, que são métodos auto-
compositivos separados.

Mediação
A mediação é caracterizada pela participação de um terceiro imparcial, o
qual deve ser neutro, sem qualquer poder de decisão, que irá aproximar as
partes envolvidas no conflito, incentivando o diálogo para a realização de
uma composição mutuamente aceitável. É um procedimento voluntário e
confidencial, com métodos próprios, e informal, mas também é coordenado.
No que se refere às escolas de mediação, as doutrinas nacional e interna-
cional apontam três escolas clássicas:

a) modelo tradicional-linear de Harvard;


b) modelo circular-narrativo de Sara Cobb;
c) modelo transformativo de Bush e Folger.

A mediação atua na desconstrução do conflito, estimulando a cooperação.


A despolarização por intermédio do exercício de se colocar no lugar do outro,
praticado ao longo das sessões de mediação, possibilita uma visão total do con-
flito, o que faz com que os mediandos olhem a discórdia por um novo ângulo.
O objetivo é explorar a ideia de que diferentes pensamentos podem se
complementar, e não se excluir, proporcionando maiores possibilidades de
solução para o problema apresentado.
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É importante destacar que a mediação não está necessariamente ligada ao


Poder Judiciário ou a qualquer ente estatal.
O CPC de 2015 disciplinou a mediação como um mecanismo hábil para a
pacificação social e regulamentou os mediadores judiciais, atribuindo-lhes a
qualidade de auxiliar da justiça. Destinou-se a Seção V, do Capítulo III, para
tratar das atividades dos mediadores, dos princípios da mediação, da criação de
Centros Judiciários de Solução Consensual pelos Tribunais, dos impedimentos,
da remuneração, da criação de Câmaras de Mediação e Conciliação para a
solução de controvérsias no âmbito da administração pública e da possibilidade
de mediação extrajudicial, entre outras coisas. Há previsão de utilização da
mediação nas lides em que a Fazenda Pública for parte.
Ainda no ano de 2015, a Lei nº. 13.140/2015 fixou o marco regulatório
da mediação. Ela trouxe toda a regulamentação do instituto, os meios e os
métodos da mediação, bem como os princípios da mediação e uma vasta
regulamentação em relação aos mediadores.
Por tudo que foi dito, a mediação é uma forma de solução de conflito, na
qual as próprias partes buscam as soluções dos conflitos vividos, de forma
consensual, auxiliados por um terceiro imparcial que tem como função aproxi-
mar as partes e estimular o diálogo, buscando o resgate das relações abaladas.

Conciliação
A conciliação é umas das formas mais conhecidas de resolução adequada de
conflitos, a qual pode ser empregada quando há uma dificuldade de encontrar
uma solução entre as partes. Ela é caracterizada pela existência de um terceiro
conciliador, que é quem auxilia na resolução do impasse. A conciliação tem,
no método, a participação mais efetiva desse terceiro na proposta da solução,
tendo como objetivo a solução do conflito que lhe é apresentado na petição
das partes.
Pode-se recorrer a ela na fase pré-processual, antes da propositura da
ação, e na fase processual, quando já existe um processo. Nesse último, a
conciliação se dá depois da citação, com a finalidade de extinguir o processo
e resolver o litígio.
O método de conciliação é muito aplicado pelo Poder Judiciário, pois já se
trata de um meio tradicionalmente usado na fase de instrução e julgamento,
em que as partes são chamadas a compor a audiência de conciliação, a fim
de obter solução do litígio, conciliando os conflitantes.
O conciliador, em regra, é o condutor da conciliação. Contudo, não é órgão
jurisdicionado, ele é um auxiliar da justiça (BRASIL, 2015, arts. 165 a 175).
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A arbitragem é entendida como um instrumento ou meio alternativo para a solução


de conflitos, entretanto, assim como no método judicial tradicional, é considerado um
instrumento de heterocomposição e não autocompositivo.

Mediação e conciliação extrajudiciais


A mediação extrajudicial é aquela que é espontaneamente buscada pelas partes
que estão envolvidas no problema, quando não se chegou a uma composição,
sendo necessária a ajuda de um terceiro nos casos que a lei assim permitir.
Dessa forma, o mediador, com técnicas apropriadas, busca o diálogo para
que as partes envolvidas no conflito se esforcem para encontrar a solução do
impasse, preservando os relacionamentos que precisam ser mantidos.
Nesses casos, o mediador será escolhido pelas partes. Eles estão sujeitos
às mesmas hipóteses legais de impedimento ou suspeição que incidem
sobre os magistrados, as quais estão previstas no art. 145 do CPC de 2015
(BRASIL, 2015).
O art. 186 do CPC de 2015 prevê a possibilidade de as partes escolherem
câmaras privadas de mediação e conciliação, ou seja, extrajudicial (BRASIL,
2015).
As regras para a mediação podem ser contratualmente previstas pelas partes,
contudo, existem prazos, mínimos e máximos, que são contados a partir da
data do recebimento do convite, e local para a realização da primeira reunião
de mediação. Além disso, há penalidades no caso de não comparecimento da
parte convidada.
Já no caso de não houver previsão contratual entre as partes, é necessário
observar alguns critérios para que se realize a primeira reunião de mediação,
tais como: prazo mínimo de 10 dias úteis e máximo de 3 meses, contados a
partir do recebimento do convite para manifestação e local adequado para
uma reunião que possa envolver informações confidenciais. Também será
elaborada uma lista com cinco nomes de mediadores capacitados – assim, a
parte convidada poderá escolher e, caso não se manifeste, será considerado
o primeiro nome da lista.
Vale ressaltar que se a parte convidada para a primeira reunião de mediação
não comparecer e posteriormente entrar com um procedimento arbitral ou
judicial que envolva o mesmo assunto da mediação para a qual foi convidada,
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isso acarretará a aceitação de pagar 50% dos custos e honorários de sucum-


bência – que é quando a parte perdedora no processo é obrigada a arcar com
honorários do advogado da parte vencedora.
A conciliação extrajudicial ocorre antes da instauração do processo
resolver o litígio sem a intervenção judicial, quando a lei permitir. No art.
168 do CPC, há a possibilidade de as partes escolherem a conciliação ex-
trajudicial. Assim, é possível que se obtenha a conciliação fora do ambiente
judicial, ou seja, nesse caso, não há processo em curso tratando do conflito
(BRASIL, 2015).
Por fim, é importante citar que um dos importantes instrumentos nor-
mativos sobre a mediação e a conciliação, que é a resolução, trata sobre os
Centros Judiciários de Solução de Conflitos, o Código de Ética dos Profissio-
nais (mediadores e conciliadores), a atribuição do CNJ, entre outros assuntos
essenciais a essa atividade.
Cabe lembrar que há órgãos que já se utilizam de mediação e conciliação
extrajudiciais. Podemos citar a Defensoria Pública, por intermédio dos Centros
de Conciliação e Mediação Extrajudiciais, bem como o Ministério Público,
por meio do Núcleo de Solução Extrajudicial dos Conflitos.
A União, os estados e os municípios, segundo o art. 174 do CPC de 2015,
também podem criar Câmaras de Mediação e Conciliação Extrajudiciais para
solucionar conflitos com seus administrados, sempre que estes se tratarem de
direitos patrimoniais disponíveis (BRASIL, 2015).

Na conciliação, o conciliador tem uma postura mais ativa para sugerir o acordo entre
as partes e apresentar propostas e ideias de solução. A conciliação é recomendada nos
casos em que você não tem a possibilidade de restaurar ou preservar algum vínculo
que as partes tenham, como na batida de um carro.
Na mediação, a atuação do mediador é de aproximar as partes para o início do
diálogo. Quase sempre existe a necessidade de preservar um vínculo anterior ou um
relacionamento, como as relações de família e consumo, por exemplo.
Formas consensuais de solução de conflitos 11

BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Relatório da justiça em números: 2016 ano-base


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BRASIL. Lei nº. 13.105, de 16 de março de 2015. Brasília, DF, 2015. Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm>. Acesso em: 06
jun. 2018.
CAPPELLETTI, M.; GARTH, B. Acesso à justiça. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris
Editor, 1988.

Leituras recomendadas
ASSOCIAÇÃO DOS MAGISTRADOS BRASILEIROS. AMB lança pesquisa inédita sobre o
uso da Justiça e a concentração do litígio no Brasil. 2015. Disponível em: <https://goo.
gl/Qq5mAv>. Acesso em: 06 jun. 2018.
ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE DEFENSORES PÚBLICOS. Diferenças regionais no acesso à
justiça chegam a 1.000% no Brasil, aponta PNUD. 2015. Disponível em: <https://goo.
gl/5NLJqb>. Acesso em: 06 jun. 2018.
BRASIL. Ministério da Justiça. Brasil ganha Atlas de Acesso à Justiça. [201-]. Disponível
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CABRAL, M. M. Os meios alternativos de resolução de conflitos: instrumentos de am-
pliação do acesso à justiça. Porto Alegre: TJRS, Departamento de Artes Gráficas, 2013.
CALMON, P. Fundamentos da mediação e da conciliação. Brasília, DF: Gazeta Jurídica,
2015.
CAPPELLETTI, M. Conferência proferida no Plenário da Assembleia Legislativa do
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Público do Rio Grande do Sul, n. 35, 1995.
DIDIER, JR, F.; CUNHA, L. C. da. Curso de direito processual civil. 12. ed. rev. atual. Salvador:
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GRINOVER, A. P. Os fundamentos da justiça conciliativa. Revista de Arbitragem e Me-
diação, ano 4, n. 14, p. 16-21, 2017.
12 Formas consensuais de solução de conflitos

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ticipação e processo. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais. p. 128-135.
WATANABE, K. A mentalidade e os meios alternativos de solução de conflitos no Brasil.
In: GRINOVER, A. P.; WATANABE, K.; LAGRASTA NETO, C. (Org.). Mediação e gerenciamento
do processo: revolução na prestação jurisdicional: guia prático para a instalação do
setor de conciliação e mediação. São Paulo: Atlas, 2013.
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
Conteúdo:
DICA DO PROFESSOR

A crise da justiça tem sido muito discutida na atualidade. Há ausência de justiça ou morosidade,
bem como a ineficácia das decisões. Resolver essa crise é um desafio a ser vencido. Não há
fórmulas mágicas para a solução desses problemas apontados, mas atualmente se reconhece a
vocação dos meios consensuais como uma alternativa.

Na Dica do Professor, você verá um pouco sobre o Tribunal Multiportas. O estudo sobre esse
assunto é muito interessante porque nos faz entender os motivos pelos quais ele tem inspirado o
legislador brasileiro.

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EXERCÍCIOS

1) Assinale a alternativa em que são elencadas meios autocompositivos:

A) Mediação e Arbitragem.

B) Conciliação e Arbitragem.

C) Mediação e Conciliação.

D) Sentença Arbitral e Conciliação.

E) Conciliação, Mediação e Arbitragem.

2) A doutrina e a lei apontam que podem ser objeto de autocomposição:


A) qualquer direito desde que as partes assim convencionem.

B) os direitos patrimoniais disponíveis ou indisponiveis que admitam transação.

C) os direitos de terceiros, uma vez que estejam disponíveis.

D) apenas os direitos que já estão judicializados.

E) os direitos que têm o maior grau de litigiosidade.

3) Com a relação à conciliação, assinale a opção correta:

A) É um método de resolução de conflitos heterocompositivo.

B) É um método autocompositivo em que um terceiro parcial apenas aproxima as partes para


solução de conflitos, sem a possibilidade de orientação e sugestões com relação ao objeto
da lide.

C) É um método autocompositivo em que a presença do juiz de direito é indispensável.

D) Só ocorre no ambiente judicial.

E) Pode ser judicial ou extrajudicial.

4) Com relação à mediação podemos afirmar que:

A) é um método de resolução de conflitos que ainda não está regulamentado no nosso sistema
jurídico.
B) é um método de solução de conflitos heterônomo exatamente como a arbitragem.

C) é um método de solução de conflitos autocompositivo.

D) é um método autônomo, contudo a presença do Juiz de direito é fundamental.

E) é uma forma de lidar com os conflitos sociais utilizando-se de atos processuais


jurisdicionais.

5) São princípios que regem a mediação:

A) Independência, imparcialidade, confidencialidade, oralidade, informalidade e decisão


informada.

B) Independência, parcialidade e formalidade.

C) Parcialidade e oralidade.

D) Publicidade, parcialidade e oralidade.

E) Decisão informada, parcialidade, publicidade e formalidade.

NA PRÁTICA

Na imagem a seguir, você vai ter a oportunidade de analisar os argumentos do Tribunal de


Justiça do Rio Grande do Sul, quando da análise de um Recurso de Apelação, interposto pelo
Ministério Público, que questiona a validade de um termo de mediação fixado pelas partes.

Trata-se de apelação pelo Ministério Público contra a sentença homologatória de acordo


entabulado em procedimento pré-processual (Resoluções n.º 125/2010 do CNJ e n.º1026/2014
do CMTJRS), avença na qual as partes acordaram acerca da pensão alimentícia, guarda e
visitação paterna à filha menor. n.º 70070109319 (n.º CNJ: 0221125-74.2016.8.21.7000).

O apelante ministerial sustenta, em síntese, que a matéria acerca da qual houve homologação
judicial, dizendo respeito a direitos indisponíveis, envolvendo criança, cuja incapacidade civil é
absoluta, é imprescindível à prolação de sentença homologatória do acordo, ao menos, a
realização de audiência de ratificação, na presença de Juiz de Direito, de órgão do Ministério
Público e mediante a regular representação processual das partes. Requer, em preliminar, o
recebimento do apelo e, no mérito, o integral provimento para desconstituição da sentença e
realização de audiência de ratificação.

Acompanhe as importantes considerações do Relator do Recurso acerca do assunto.


SAIBA MAIS

Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do
professor:

Conflitos na Administração Pública (CCAF)

Neste link, você terá acesso a um vídeo da Advocacia-Geral da União que explica como a
Administração Pública pode resolver conflitos por meio de Câmaras de Mediação e Arbitragem,
ou seja, sem judicializar.

Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!

Conselho Nacional de Justiça (CNJ)

Neste link, você terá acesso a um vídeo que explica a diferença entre mediação, conciliação e
arbitragem.

Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!

Por uma adequada resolução dos conflitos de consumo

Neste link, você terá acesso a um artigo que trata da adequação da resolução consensual dos
conflitos de consumo.

Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!

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