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Direito Processual Penal § Aulas práticas, 2019-2020 - Prof. Dr.ª Ana Pais
João Pedro da Silva Domingues

Aula 1 Ð 24 de mar•o de 2020

O PROCESSO PENAL
Introdu•‹o
Vamos pela primeira vez falar sobre uma cadeira processual penal. As consequ•ncias do crime, j‡
o vimos, come•am no artigo 40.¼ CPenal. Tendo estudado a parte substantiva, vamos para a
processual. Aqui temos o Direito Processual Penal e o Direito da Execu•‹o de Penas (ligado ˆs
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san•›es).

J‡ come•amos a ver um direito adjetivo, caso do DPCivil Ð e neste ramo do direito as coisas podem
processar-se naturalmente, sem a exig•ncia de um processo. No direito penal n‹o Ž assim, n‹o Ž
poss’vel executar as suas regras sem a exist•ncia de um processo. ƒ atravŽs deste que este se
materializa.

O que Ž um processo?
Quando falamos em processo pensamos num caminho, um percurso com v‡rios passos, ou
seja, regras que o legislador estabelece para a prossecu•‹o desse caminho. Qual Ž o ponto
de partida e qual Ž o ponto de chegada? De onde Ž que partimos? A denœncia ou a queixa Ž
apenas uma das formas poss’veis. O processo, o seu desencadear faz-se por uma das formas
previstas no artigo 241¼ CPC (mecanismo de desencadeamento do processo). Todas estas
formas exigem para o seguimento do processo a chegada deste ao MP. Isto leva ˆ abertura do
inquŽrito.

Quanto ao ponto de chegada, quanto ao fim, claro est‡ que este depender‡ do processo em si.
Imaginemos que se percorrem todas as fases, qual ser‡ o fim? O julgamento poder‡ ser uma
das œltimas, mas pode n‹o ser a ultima dado que pode haver recurso. Assim, o fim ser‡ quando
a senten•a for tendencialmente definitiva no OJ, uma vez que n‹o podemos descurar os
recursos extraordin‡rios (interpostos mesmo depois do tr‰nsito em julgado).

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Quanto a este segundo j‡ come•amos a abordar em Penal III, tal como Ž o exemplo da liberdade condicional e
o de perman•ncia na habita•‹o. Vimos ainda regras da execu•‹o da penal de multa. Assim, percebemos que o
Direito Penal executivo n‹o merece uma cadeira aut—noma.
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Dado que j‡ olh‡mos para o caminho em si, tanto o in’cio como o fim, importante Ž olharmos para
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o esquema da tramita•‹o do processo penal comum.

Assim, temos o inicio, a aquisi•‹o do conhecimento do crime pelo MP, que d‡ inicio ao inquŽrito,
fase destinada ˆ investiga•‹o, a qual Ž da responsabilidade do MP, mas que apesar de dominada
por este - veremos que apesar Ž o dominus do inquŽrito - pode ser coadjuvado pelos —rg‹os de
policia criminal. Estes s‹o apenas participantes, instrumentais do processo. O inquŽrito pode
terminar com uma acusa•‹o ou com um arquivamento.

O que Ž que significa arquivar, processualmente? Ficamos por aqui, o processo n‹o segue.
O que Ž que significa acusar, processualmente? Pretende-se que a causa seja sujeita a
julgamento.

Ora, perante uma decis‹o de arquivar ou acusar, h‡ uma possibilidade de n‹o se ir logo para
julgamento, ou de n‹o se ficar por aqui, que Ž a possibilidade de haver instru•‹o. O facto de a
instru•‹o ser facultativa significa que s— existe se for requerida por um dos sujeitos processuais
que para isso tenha legitimidade. Isto justifica o ÒfacultativaÓ entre par•nteses, no esquema.
Esta fase destina-se a descortinar, o que vai ser feito pelo juiz de instru•‹o criminal. No fim,
pode haver um despacho de pronœncia ou um despacho de n‹o pronœncia. Ora daqui ou iremos
a julgamento ou n‹o iremos a julgamento.

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Vide os esquemas disponibilizados pelos docentes no material de apoio.

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Perante este despacho, quem com ele n‹o concorde, pode reagir atravŽs do recurso. Assim, Ž
poss’vel recurso da decis‹o instrut—ria, mas n‹o em todos os casos (veremos adiante). A n‹o
pronuncia n‹o leva a julgamento; a pronœncia leva a julgamento.
Chegamos ao julgamento, e temos aqui, na mesma, os —rg‹os instrumentais. No final deste
julgamento a senten•a pode ter ora natureza absolut—ria ora condenat—ria. Ap—s esta pode ainda
haver recurso, claro est‡.
Esta Ž a abordagem mais simples.

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SISTEMATIZA‚ÌO DO CîDIGO DE PROCESSO PENAL
³ Artigo 1.¼ e seguintes Ð disposi•›es gerais;
³ Artigo 8.¼ e seguintes Ð dos sujeitos processuais;
³ Artigo 85.¼ e seguintes Ð dos atos processuais;
³ Artigo 124.¼ e seguintes Ð da prova;
³ Artigo 191.¼ e seguintes Ð das medidas de coa•‹o e de garantia patrimonial;
³ Artigo 241.¼ e seguintes Ð da not’cia do crime;
³ Artigo 248.¼ e seguintes Ð das medidas cautelares e de pol’cia;
³ Artigo 262.¼ e seguintes Ð do inquŽrito;
³ Artigo 286.¼ e seguintes Ð da instru•‹o;
³ Artigo 311.¼ e seguintes Ð do julgamento;
³ Artigo 381.¼ e seguintes Ð dos processos especiais;
³ Artigo 399.¼ e seguintes Ð dos recursos.

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TRAMITA‚ÌO DO PROCESSO PENAL COMUM
Ora, come•amos, mais uma vez pela aquisi•‹o da not’cia do crime, fase a que se segue o
inquŽrito.

E temos duas refer•ncias quanto a isto - o artigo 263.¼/1 que nos indica que esta fase Ž da
responsabilidade do MP, MP este cuja fun•‹o est‡ no C—digo e na CRP (ver esquema). H‡ aqui
uma nota diferenciadora - apesar da responsabilidade ser do MP, h‡ situa•›es em que atos do
processo v‹o ter de ser praticados (artigos 268¼ e 269¼), ordenados ou autorizados pelos ju’zes
de instru•‹o. Em que situa•›es Ž que estamos no inquŽrito e ouvimos falar de um juiz que vai ao
inquŽrito fazer determinadas coisas? Pode, por exemplo, intervir para autorizar buscas, adotar medidas
de coa•‹o, nomeadamente as medidas preventivas, como Ž o caso da pris‹o preventiva. Um dos
fundamentos reside no perigo de fuga.

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N‹o iremos abordar os processos especiais; Ž de extrema import‰ncia fazer um estudo aprofundado do C—digo
e saber com ele trabalhar.
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An‡lise do segundo esquema Ð tramita•‹o do processo penal comum 2 Ð disponibilizado pelos docentes.

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Aqui temos atos que contendem com os direitos dos arguidos, com os seus DLGÕs, t•m de ser
praticados e autorizados pelo juiz da instru•‹o.
Desta fase do inquŽrito, resulta o qu•? Para alŽm do despacho, temos uma alternativa. Ou acusa
ou arquiva e tem de decidir. No entanto h‡ uma terceira alternativa - em vez de acusar decide-se por
um dos mecanismos do artigo 280.¼ ou artigo 281.¼, uma vez que em condi•›es normais acusaria,
mas aqui entende que, apesar dos ind’cios, n‹o Ž necess‡rio julgamento e opta por uma decis‹o
divertida, ou seja, uma temos uma solu•‹o que diverge daquela que seria a tramita•‹o dita
comum (veremos a seguir no que consiste, efetivamente)

Segue-se a fase facultativa da instru•‹o onde atua o juiz da instru•‹o. Esta Ž facultativa porque
pode ser, pelo artigo 287.¼/1, al. b), requerida pelo assistente ou pelo arguido, artigo 287.¼/1, al. a). Esta
acaba com uma decis‹o instrut—ria de pronœncia (vai para julgamento) ou de n‹o pronœncia (n‹o
h‡ julgamento).

Nesta fase de julgamento pode haver tribunal com juiz singular, coletivo ou com jœri - sendo
este de 1» inst‰ncia. Cada um deles intervir‡ consoante a determina•‹o da sua compet•ncia.

Quanto ˆ senten•a, regem os artigos 365.¼ e seguintes do CPP - tendo natureza condenat—ria
(artigo 375.¼) ou absolut—ria (artigo 376.¼), podendo-se seguir ainda o recurso, s— o havendo se a
parte que o pode pedir o fizer (veremos adiante).

Aqui, a dispensa de pena, artigo 280.¼, permite, ao MP logo no final do inquŽrito antecipar esta
solu•‹o e n‹o esperar atŽ ao fim como vimos relativamente ˆs consequ•ncias jur’dicas do crime - em
que era o juiz depois no fim, na senten•a condenat—ria que dispensava de pena. O que se trata
aqui Ž de antecipar esta solu•‹o.

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CONFORMA‚ÌO JURêDICO-CONSTITUCIONAL DO PROCESSO PENAL
Encontramos normas muito relevantes ao n’vel do processo penal na nossa CRP. ƒ comum
acentuar-se que o direito processual penal Ž o sism—grafo da Constitui•‹o de um Estado Ð
depende a estrutura e a caracteriza•‹o do processo penal das orienta•›es politicas t’picas
historicamente afirmadas. ƒ o verdadeiro direito constitucional aplicado, em v‡rios pontos de vista.

ó O artigo 27.¼ CRP n‹o Ž exclusivo do Direito Penal e o seu nœmero 3 integra j‡ outro ‰mbito;
ó Vamos recorrer muito ao artigo 32.¼, que respeita ˆs garantias do processo criminal;
ó Do artigo 28.¼ vamos remeter para o artigo 202.¼ do CPC.
ó No documento de apoio referenciam-se uma sŽrie de diretivas que n‹o precisamos de ler na
totalidade - h‡ que apenas saber que existem e que poder‹o ser aplicadas por via da sua
aplicabilidade direta.

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Ver o material de apoio.

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ESTRUTURA DO PROCESSO PENAL


Aqui teremos de atentar que h‡ duas estruturas - a inquisit—ria e a acusat—ria.

Qual Ž o caminho que temos de percorrer? Entender ambas e saber qual tem acolhimento. N—s
temos uma estrutura mista, acusat—ria mitigada; vem isto do C—digo anterior de 1929, sendo o
atual de 1987. Antes t’nhamos um regime totalit‡rio com um fundo acusat—rio formal; isto porque
na pr‡tica o que aparentemente n‹o julgava era quem o fazia, da’ ser mitigada, sendo na verdade
inquisit—ria. Isto foi durante o Estado Novo. Este regime foi permitido inclusive ap—s a Revolu•‹o de
Abril, uma vez que o papel era uma coisa, ainda que a pr‡tica fosse outra.

Em 87 temos diferen•as que emergem no novo CPP Ð passa a estrutura a ser acusat—ria. A
estrutura Ž acusat—ria porque vale tudo o que est‡ na sua gŽnese? N‹o Ž verdade, n‹o Ž tudo. N‹o h‡
igualdade de armas, em muito sistemas o MP Ž um puro acusador, mas esta realidade n‹o Ž a nossa,
n‹o Ž um processo de partes. O artigo 53.¼ do CPP prev• a posi•‹o do MP e diz o que lhe compete.

Ser objetivo e procurar a verdade n‹o Ž ser uma parte, que Ž ser parcial. Isto n‹o acontece em
Portugal, n‹o h‡ parte no nosso processo penal. Falamos sim em sujeitos ou meros participantes
processuais. A al’nea que Ž particularmente demonstrativa disto Ž a al’nea d), uma vez que o MP
pode inclusive recorrer ainda que no interesse exclusivo da defesa.

S‹o finalidades do nosso processo penal a realiza•‹o da justi•a e a descoberta da verdade


material (finalidades que s‹o aut—nomas entre si); a prote•‹o perante o Estado dos direitos
fundamentais das pessoas (arguido e outros); bem como o restabelecimento da paz jur’dica
posta em causa com a pr‡tica do crime.

Porque se fala em verdade material e n‹o apenas em verdade? Juridicamente n‹o h‡ apenas
uma verdade, temos a verdade material e a verdade formal. A material consiste na verdade que se
forma no processo. ƒ a verdade verdadeira, Ž a verdade dos factos, aquilo que efetivamente ter‡
ocorrido. Contudo esta nem sempre corresponde ˆ realidade. Vimos isso em direito processual civil. Vamos
supor que a alguŽm intenta uma a•‹o para o pagamento de 100 mil euros, mas a pessoa contra quem Ž intentada a a•‹o n‹o
deve nada. Mas n‹o contesta. N‹o sendo notificado e tendo o prazo ara contestar, n‹o contestando, d‡-se como provado, ainda
que tal n‹o corresponda ˆ realidade. Ora n‹o acontece isto em processo penal, n‹o se d‡ como provado o
que est‡ na acusa•‹o. Apenas o ser‡ se as provas a isso levarem. O paradigma Ž muito diferente
do direito civil, aqui interessa a verdade material.

A outra finalidade Ž o restabelecimento da paz jur’dica comunit‡ria posta em causa por for•a do
crime, temos aqui a finalidade das penas e das medidas de seguran•a, sendo tambŽm esta finalidade
do processo.

A œltima Ž a prote•‹o dos direitos fundamenais. Mas n‹o Ž apenas do arguido, Ž dos cidad‹os
no geral. Exemplo das escutas, estamos a ouvir o arguido, mas tambŽm os que com ele conversam.

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As escutas podem ser feitas sempre, por cada pessoa, durante todo o tempo? N‹o, t•m de ser
autorizadas pelo juiz, em causa tem de estar certo tipo de criminalidade, estar numa situa•‹o em que
ser‡ um meio efetivamente necess‡rio, durante um espec’fico tempo, etc.

Uma outra caracter’stica Ž o princ’pio da acusa•‹o. Aqui temos MP a investigar e a acusar e o


juiz Ž que julga.
Outra carater’stica Ž a de que h‡ um leque alargado de sujeitos processuais.
Por fim, vale o princ’pio de investiga•‹o, ou seja, h‡ um poder-dever de investiga•‹o do juiz.
Ent‹o, mas se Ž o MP que investiga isto n‹o Ž estar a p™r em causa o principio da investiga•‹o? Da
reparti•‹o de tarefas? N‹o, Ž uma investiga•‹o subsidi‡ria Ð artigos 340.¼ e 348.¼ CPC. Nos termos
do artigo 340.¼, o juiz s— exercer‡ esta investiga•‹o se entender que as provas trazidas para o
processo n‹o s‹o suficientes. Assim, s— lan•a m‹o deste expediente se considerar necess‡rio,
n‹o Ž sempre. Imaginemos que h‡ uma testemunha que viu udo, mas ninguŽm a chamou ou era
necess‡ria a prova pericial. Pode faz•-lo, nos termos do n.¼ 1, oficiosamente.
Para alŽm disto, este princ’pio Ž tambŽm limitado porque o juiz s— pode investigar no ‰mbito
dos factos trazidos para o processo, tudo o que extravasar o objeto do processo n‹o Ž permitido.
Se o fosse estar’amos a desvirtualizar o princ’pio da acusa•‹o.

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Aula 2 Ð 31 de mar•o de 2020

APLICA‚ÌO DA LEI PROCESSUAL NO TEMPO


Sabemos que em matŽria substantiva a lei nova s— se aplica em fun•‹o do momento da pr‡tica
do facto Ð s— se aplica a lei nova se o facto em causa for praticado j‡ na sua vig•ncia (artigo 2.¼ CP)
Ð, enquanto em matŽria processual a lei nova se aplica imediatamente, independentemente do
processo ser um processo pendente ou n‹o. N‹o est‡ em causa a lei vigente no momento em que
o processo se inicia.

A lei nova aplica-se, em principio, em regra de forma imediata a todos os processos Ð esta
regra assume duas limita•›es: as duas al’neas do n.¼ 5:
i. N‹o se aplica imediatamente a lei nova quando esta implicar o agravamento sens’vel e ainda
evit‡vel da situa•‹o processual do arguido, nomeadamente uma limita•‹o do seu direito
de defesa Ð manifesta•‹o do artigo 32.¼/1 da CRP que se refere ˆs garantias de defesa do
arguido, entre as quais o recurso, sendo certo que o TC tambŽm tem de enquadrar esta
matŽria no artigo 29.¼/4.
ii. A outra limita•‹o prevista na al. b) Ž a de que a lei n‹o se aplica imediatamente se houver uma
quebra da harmonia e unidade dos v‡rios atos do processo Ð quanto a isto, temos o
exemplo do CPP de 87. Quando este entrou em vigor, introduzindo um modelo de CPP
completamente distinto do anterior, o pr—prio C—digo entendeu que n‹o devia ser aplicado
a processos j‡ pendentes (aplica-se apenas aos processos que se iniciarem j‡ na sua
vig•ncia).

Isto Ž uma avalia•‹o perante as leis processuais que se vai fazendo caso a caso Ð s— se pode dizer
que a lei nova agrava a situa•‹o do arguido, em fun•‹o da an‡lise da situa•‹o concreta (n‹o
conseguimos dizer abstrata e genericamente quais as situa•›es em que h‡ agravamento ou quebra da
harmonia entre atos do processo).

No ‰mbito do Ac. do STJ temos uma situa•‹o relacionada com a al. a) do artigo 5.¼/2 CPP Ð nessa
situa•‹o concreta o que estava em causa era a altera•‹o legislativa ao artigo 400.¼/1, f); rege o
Ac—rd‹o:
Nos termos dos artigos 432.¼, no 1, al’nea b), e 400.¼, n. 1, al’nea f), do CPP, na reda•‹o anterior ˆ
entrada em vigor da Lei no 48/2007, de 29 de Agosto, Ž recorr’vel o ac—rd‹o condenat—rio proferido, em recurso,
pela rela•‹o, ap—s a entrada em vigor da referida Lei, em processo por crime a que seja aplic‡vel pena de pris‹o
superior a oito anos, que confirme decis‹o de 1.» inst‰ncia anterior ˆquela dataÓ.

A refer•ncia ao artigo 432.¼ serve para entender a raz‹o de ser do artigo 400.¼ - no ‰mbito dos
recursos, h‡ sempre lugar a recurso para a Rela•‹o (existe sempre este primeiro grau de recurso);
pode Ž n‹o haver recurso da Rela•‹o para o Supremo, precisamente por for•a do artigo 432.¼.
Ou seja, s— Ž poss’vel recorrer da Rela•‹o para o Supremo quando essa decis‹o n‹o for irrecorr’vel
(nos casos do artigo 400.¼/1, al. f).

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Processos por crime a que era aplic‡vel pena n‹o superior a 8 anos n‹o iam ao supremo. Em
2007 passa a lei a dizer que n‹o se admite recurso de ac—rd‹os condenat—rios proferidos, em recurso,
pelas rela•›es, que confirmem decis‹o de 1.» inst‰ncia e apliquem pena de pris‹o n‹o superior a 8
anos Ð h‡ uma diferen•a no critŽrio utilizado. AtŽ 2007, o critŽrio (isto tem tudo a ver com a diferen•a
entre pena aplicada Ð pena concreta - e pena aplic‡vel Ð moldura, pena abstrata) era o da pena
aplic‡vel; a lei vem mudar o critŽrio e substitu’-lo pelo critŽrio a pena aplicada.

Suponhamos que est‡ em causa o facto de o arguido ser julgado pela pr‡tica de crime de ofensa
ˆ integridade fica grave, punido nos termos do artigo 144.¼ CP. O arguido vem a ser condenado na
primeira inst‰ncia a uma pena concreta de 6 anos de pris‹o e recorre para a rela•‹o Ð que confirma
este a condena•‹o.
AtŽ 2007 podia recorrer para o STJ? Com a entrada em vigor da lei de 2007 pode recorrer? O
critŽrio da lei antiga Ž o da pena aplic‡vel e o critŽrio a partir de 2007 Ž o da pena aplicada. AtŽ
2007 podia recorrer, a partir de 2007 n‹o Ð isto mostra que esta nova lei implica um agravamento
sens’vel e inevit‡vel da situa•‹o do arguido, nomeadamente do seu direito de defesa. Com a
entrada em vigor desta lei deixa de poder recorrer para o supremo, perde um grau de recurso.

Devemos defender que se preenche uma das limita•›es ˆ regra da aplica•‹o imediata Ð al. a) Ð
e que, portanto, n‹o se vai aplicar a lei nova imediatamente, mas a lei antiga, aquela que estava
em vigor e que criou legitima expectativa de poder chegar em termos de direito de recurso atŽ
ˆ terceira inst‰ncia que Ž o supremo.

Recurso extraordin‡rio de fixa•‹o de jurisprud•ncia (artigos 437.¼ ss. do CPP): h‡ lugar a este
recurso quando, Òno dom’nio da mesma legisla•‹o, o STJ proferir dois ac—rd‹os que, relativamente ˆ
mesma quest‹o de direito, assentem em solu•›es opostasÓ; bem assim quando Òum tribunal da rela•‹o
proferir ac—rd‹o que esteja em oposi•‹o com outro, da mesma ou de diferente rela•‹o, ou do STJ, e
dele n‹o for admiss’vel recurso ordin‡rio, salvo se a orienta•‹o perfilhada naquele ac—rd‹o estiver de
acordo com a jurisprud•ncia j‡ anteriormente fixada pelo STJÓ.

Neste caso, havia oposi•‹o entre o ac—rd‹o do STJ de 20 de fevereiro de 2008, proferido no recurso
n.¼ 4838/07, e o ac—rd‹o do STJ de 10 de janeiro de 2008, proferido no recurso n.¼ 4376/07, na decis‹o
sobre a interpreta•‹o do disposto no artigo 400.¼, n.¼ 1, al’nea f), do CPP, na reda•‹o da Lei n.¼ 48/2007,
de 29 de Agosto, em conjuga•‹o com o disposto no artigo 5.¼, n.¼ 2, al’nea a), do CPP, sobre a aplica•‹o
no tempo das normas de processo penal.

No caso, a aplica•‹o imediata da nova lei comportaria a supress‹o de um grau de recurso: j‡ n‹o
seria poss’vel interpor recurso do Tribunal da Rela•‹o para o STJ. A quest‹o era, pois, a de saber
se esta hip—tese deveria ou n‹o ser subsumida na previs‹o do artigo 5.¼, n.¼ 2, al’nea a), do CPP.

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A decis‹o do Ac. de fixa•‹o foi no mesmo sentido do que decidimos fazer no caso Ð considerar que a
nova lei, 48/2007, representou uma situa•‹o de agravamento da situa•‹o processual do arguido e
limita•‹o do seu direito de defesa e por isso n‹o aplic‡mos a lei nova, mas a lei antiga (continuamos a
aplicar o critŽrio da pena aplic‡vel).
Note-se que n‹o Ž relevante a data da pr‡tica do facto Ð tem que ver com a data de inicio do processo.

SUJEITOS PROCESSUAIS
Este Ž um conceito muito pr—prio do processo penal Ð estamos habituados a uma terminologia
que nos leva a falar em partes; este conceito de parte Ž um conceito errado para o processo penal,
n‹o podemos falar em partes no processo penal portugu•s porque o nosso processo penal n‹o Ž
efetivamente um processo de partes. O que n‹o significa que n‹o haja forma de se designar os
intervenientes no processo Ð h‡, eles n‹o s‹o Ž partes. Quando falamos em partes pensamos no
modelo acusat—rio puro Ð n‹o Ž o caso da nossa estrutura de processo penal; a nossa estrutura Ž
uma estrutura de base acusat—ria, mas Ž integrada por um principio de investiga•‹o. E n‹o sup›e
nem igualdade de armas, nem sup›e a interven•‹o de partes no processo. Para ilustrar isto, o nosso
MP n‹o intervŽm como advogado do Estado/ parte numa lide em que h‡ acusa•‹o e defesa. O nosso
MP n‹o Ž um advogado do Estado, n‹o Ž um puro acusador. N‹o Ž essa a fun•‹o que tem no processo
penal, pelo que Ž errado falar em partes. O nosso MinistŽrio Pœblico n‹o Ž uma parte desde logo
por causa de uma norma que mostra qual Ž o seu estatuo processual Ð o artigo 53.¼ CPPenal; o
MinistŽrio Pœblico busca a verdade, qualquer que ela seja.

O MP orienta-se por critŽrios de objetividade Ð o que Ž contr‡rio ˆ subjetividade que podia indicar
que o MP Ž uma parte, mas n‹o Ž o caso. O MP procura por uma verdade material, que Ž a verdade
dos factos. Portanto, Ž errado falar em partes.

Se n‹o falamos em partes falamos em qu•?


Os intervenientes do processo h‹o-de subdividir-se em duas categorias
§ Sujeitos processuais;
§ Meros participantes processuais.
Todos os que participam no processam integram uma destas duas categorias Ð temos de saber
identificar a que grupo pertencem. Para isso temos de atender a um critŽrio.

Qual um critŽrio para que uns integrem uma categoria e outros a outra? Citando Figueiredo Dias e
Maria Jo‹o Antunes, Òenquanto os participantes processuais praticam atos singulares, cujo
conteœdo processual se esgota na pr—pria atividade, os sujeitos processuais s‹o titulares de
direitos aut—nomos de conforma•‹o da concreta tramita•‹o do processo como um todo, em
vista da sua decis‹o finalÓ.

No entendimento da Dr.» Ana Pais h‡ aqui um fundamental termo para perceber a distin•‹o -
Òconforma•‹oÓ. Conformar significa dar forma; um sujeito processual Ž alguŽm que pode exercer

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direitos que podem dar forma ao processo, pode fazer coisas processualmente que lhe permitem
influenciar a concreta tramita•‹o do processo.
Por isso Ž que identificamos como sendo sujeitos processuais estes cinco Ð Tribunal (juiz) (art. 8.¼
e ss), MinistŽrio Pœblico (art. 48.¼ e ss), Arguido (art. 57.¼ e ss), Defensor (art. 62.¼ e ss) e
Assistente (art. 68.¼ e ss).

Todos eles podem influenciar concretamente a tramita•‹o do processo. Os restantes podem ter um
papel muito importante, mas n‹o podem fazer nada que contenda com o tratamento processual.
N‹o falaremos em influenciar o processo, aten•‹o Ð pode ser equivoco; isto tem apenas que ver ou
n‹o com dar forma ao processo.
Num processo concreto imaginemos que um arguido n‹o tem nenhuma interven•‹o Ð este
arguido que nunca apareceu Ž sujeito processual, mas n‹o influenciou nada. Imaginemos que ele Ž
condenado por uma testemunha que foi decisiva para que o tribunal forme a sua convic•‹o. Influente
e importante aqui foi a testemunha, o arguido n‹o fez nada. E, no entanto, isso n‹o faz com que a
testemunha seja um sujeito processual. O critŽrio n‹o Ž o da import‰ncia, nem o da influ•ncia material
para a decis‹o Ð o critŽrio Ž o do poder de conforma•‹o processual.

Exemplos de casos que influenciam a tramita•‹o do processo:


§ Juiz Ð proferir despacho de pronœncia (juiz de instru•‹o);
§ Arguido Ð requerer a instru•‹o (se for acusado e n‹o requerer instru•‹o, vai logo haver julgamento; a
fase de instru•‹o s— existe se arguido ou assistente a requerer);
§ Defensor Ð o advogado do arguido (s— a este advogado se chama defensor); este Ž o mandat‡rio do
arguido Ð temos um mandato forense e o instrumento que habilita esta interven•‹o do defensor ser‡ uma
procura•‹o forense (instrumento para conferir mandato ao advogado); O defensor intervŽm tambŽm no
processo como verdadeiro sujeito (enquanto o advogado do assistente n‹o o Ž) Ð artigo 64.¼. H‡ uma
sŽrie de atos do processo que n‹o podem ser praticados sem advogado. Se ele Ž alguŽm que n‹o
pode estar ausente de certos atos, isso faz com que ele seja sujeito do processo penal.
Vimos j‡ o critŽrio distintivo Ð o que distingue os sujeitos dos meros participantes, por refer•ncia
ao texto do Dr. Figueiredo Dias. Aplicado o critŽrio de distin•‹o, os sujeitos processuais s‹o estes 5
que vimos.

Quanto aos meros participantes, todos os intervenientes que n‹o possam exercer poderes de
conforma•‹o processual o s‹o e os que aqui referimos s‹o meros exemplos Ð como sejam os —rg‹os
de policia criminal, suspeito, ofendido, etc.
No entanto, entre estas duas categorias temos a refer•ncia ˆs partes civis Ð n‹o a podemos incluir
em nenhuma; a incluir nalguma teria que ser na dos sujeitos, mas com uma qualifica•‹o distintiva e
critŽrios distintos. Porque falamos de partes civis? Qual o interesse em discutir uma coisa civil num
processo que n‹o Ž civil? Isto tem uma raz‹o de ser Ð qual o sentido de discutir uma quest‹o civil
e falar da interven•‹o de parte civis num processo que n‹o Ž civil? Isto justifica-se pelo principio da
ades‹o Ð este principio Ž a regra (h‡ exce•›es no artigo 72.¼); em regra se o facto que constitui crime
for simultaneamente gerador de danos, e puder dar lugar a uma quest‹o de responsabilidade
civil, essa circunst‰ncia n‹o obriga a que o pedido seja feito nos tribunais civis com uma peti•‹o inicial.

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Direito Processual Penal

Esse pedido n‹o Ž feito autonomamente no ‰mbito de outro processo, mas Ž um pedido apresentado
no ‰mbito do processo penal

Artigo 71¼, o pedido de indemniza•‹o civil fundado na pr‡tica de um crime Ž deduzido no


processo penal respetivo, s— o podendo ser em separado, perante o tribunal civil, nos casos
previstos na lei.
A op•‹o do legislador foi a de introduzir uma espŽcie de excerto ao tribunal penal Ð o que significa
apenas que o tribunal penal vai ter de decidir tambŽm quanto ˆ verifica•‹o da responsabilidade
civil e seus pressupostos. Temos o mesmo facto em que h‡ crime e que gera danos Ð discute-se
tudo no f—rum penal.

Isto porque o direito penal Ž um direito de œltima ratio. H‡ raz›es de ’ndole diferente e que
justificam isto Ð desde logo raz›es pragm‡ticas de economia de meios (Ž mais eficaz esta quest‹o
ser dirimida pelo mesmo tribunal do que usar meios para p™r dois tribunais a discutir estas quest›es.
Estas, apesar disso, s‹o aut—nomas Ð pode resultar uma quest‹o penal e n‹o uma condena•‹o civil;
ou seja, n‹o h‡ do ponto de vista substantivo confus‹o entra regra da responsabilidade penal e
da responsabilidade civil Ð elas s‹o aut—nomas e continuam a ser autonomamente decididas. Os
factos Ž que s‹o os mesmos, o tribunal que decide Ž que Ž o mesmo. A rela•‹o Ž s— processual.
Isso faz com que tenhamos intervenientes que s‹o partes vivis Ð e aqui podemos falar em
partes porque falamos da realidade do processo civil que est‡ enxertada no processo penal; falamos
dos lesados, dos demandados civis (que h‡-de ser o arguido, ele Ž que foi o lesante; o pedido de
indemniza•‹o vai ser deduzido contra o arguido Ð mas pode n‹o ser s— o arguido. Quem mais pode
ser demandado civil Ð a seguradora, por exemplo, num caso de acidente de via•‹o. No ‰mbito penal,
no processo penal ela tem alguma interven•‹o? N‹o Ð n‹o Ž nada no processo penal. Naquela parte
civil ela est‡ a ser demandada. Se fosse uma a•‹o aut—noma era rŽ, aqui Ž demandada civil). Estas
partes civis s‹o o que? Meros participantes n‹o s‹o de certeza Ð isto porque eles t•m direitos de
conforma•‹o do processo. Veja-se o artigo 401.¼ - as partes civis t•m direito ao recurso, ou seja, t•m
logo aqui um direito conforma•‹o processual.
No entanto eles podem recorrer de qu•? Da parte da indeminiza•‹o. Eles t•m direitos de
conforma•‹o processual restritos ˆ matŽria civil, s‹o sujeitos da a•‹o civil, s— aqui estando por causa
do princ’pio da ades‹o, sendo sujeitos apenas em sentido formal. Em sentido material n‹o discutem
a quest‹o penal, exercem apenas direitos de conforma•‹o processual restritivos ao concreto
universo indemnizat—rio. Eles t•m uma participa•‹o constitutiva, n‹o s‹o meros participantes, mas
tambŽm n‹o s‹o sujeitos processuais em sentido material, mas apenas em sentido formal.

N‹o Ž um apenso Ð se fosse, podia de facto correr nos termos da tramita•‹o do processo civil. O
principio n‹o Ž o da apensa•‹o. Vimos incidentes processuais em processo civil, que correm
autonomamente. No processo penal n‹o Ž assim - o pedido Ž deduzido aqui, todas as regras que se
aplicam s‹o as do processo penal (artigos 71.¼ e ss). S— se aplica em processo penal as regras do
processo penal, subsidiariamente Ž que se vai ao processo civil, no que n‹o estiver previsto. Os prazos,

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Direito Processual Penal

est‹o aqui, (para contestar, por exemplo), est‡ tudo aqui. A tramita•‹o n‹o Ž distinta e isto n‹o Ž um
apenso que corre ao lado, mas autonomamente. O pedido Ž deduzido aqui e quando chegar ao
momento do julgamento, resulta uma decis‹o comum quanto ˆ quest‹o penal e civil quantos
aos factos e h‡ depois condena•‹o ou absolvi•‹o criminal e civil. Mas todo o curso do processo
corre ao mesmo tempo.
Qual a outra raz‹o? ƒ evitar contradi•‹o de julgados Ð h‡ uma coisa comum que s‹o os factos
provados e n‹o provados. Ele (juiz) n‹o pode dar uma coisa provada para a quest‹o penal e outra
para a quest‹o civil. Os pressupostos, regras, Ž tudo o mesmo juiz a verificar, apesar de os
requisitos serem diferentes Ð as decis›es podem ser diferentes, mas processualmente as regras
s‹o comuns.

CASO PRçTICO 1
Alberto foi notificado para prestar declara•›es perante a PSP, em virtude de ter sido visto a
abandonar, pelas 3 horas da manh‹, um estabelecimento comercial que havia sido assaltado
nessa mesma noite.

1. Sendo suspeito da pr‡tica de um crime de furto qualificado (art. 204¼ do CP), ter‡
Alberto de ser constitu’do arguido? Qual o relevo desse ato do ponto de vista
processual?

Estatuto processual do arguido


Isto faz com que tenhamos de analisar o estatuto processual do arguido. Vamos ˆs normas dos
artigos 57.¼ e seguintes. O artigo 57.¼/1 indica que assume a qualidade de arguido todo aquele contra
quem for deduzida acusa•‹o ou requerida instru•‹o num processo penal. Ou seja, se chegarmos ao
fim do inquŽrito sem arguido, temos de ter arguido quando formos acusar.
NinguŽm pode ser acusado sem ser arguido Ð resulta isto do artigo 57.¼. Se houver
arquivamento, se a decis‹o for esta, n‹o se constitui ninguŽm como arguido. O que pode acontecer
depois de haver arquivamento? O assistente quer que o processo v‡ a julgamento, fica
descontente com o arquivamento Ð pode requerer a fase da instru•‹o (serve para isto mesmo).
Se ele requer a abertura de instru•‹o f‡-lo contra o arguido Ð por isso Ž que se diz, (ou, em caso de
arquivamento) alguŽm contra quem seja requerida abertura da instru•‹o.

Esta via de previs‹o do arguido do artigo 57 Ž subsidi‡ria; s— se chega ˆ instru•‹o sem arguido
se n‹o tiver havido constitui•‹o deste atŽ a’, o que Ž muito raro Ð artigo 272.¼. Se contra alguŽm
h‡ fundada suspeita de pr‡tica de crime, Ž obrigat—rio interrogar essa pessoa como arguida. Na
investiga•‹o, aten•‹o (esta norma Ž uma norma do inquŽrito). Se durante a investiga•‹o h‡ suspeita
fundada de que alguŽm Ž suspeito, ele tem de ser ouvido e na qualidade de arguido. Vamos
chegar ˆ acusa•‹o sem arguido? Raramente isso vai acontecer.
Isto porque em regra, cumprido o artigo 272.¼ vamos sempre ter arguido antes da instru•‹o. Este
Ž um caso de constitui•‹o obrigat—ria de arguido.
H‡ mais casos, de constitui•‹o obrigat—ria de arguido, nomeadamente os do artigo 58.¼/1 Ð no nosso

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Direito Processual Penal

caso Ž a al. a). Ele Ž convocado para prestar declara•›es, perante —rg‹o de policia criminal.
Quando temos uma duvida sobre um conceito usado pelo CPC podemos recorrer a uma norma que
tem uma espŽcie de gloss‡rio do C—digo, que Ž o artigo 1.¼. Um —rg‹o de policia criminal nos termos
da al c) Ð todas as entidades e agentes policiais a quem caiba levar a cabo quaisquer atos ordenados
por uma autoridade judici‡ria ou determinados por este C—digo. Portanto, a PSP Ž um —rg‹o de pol’cia
criminal. Temos alguŽm que Ž suspeito Ð al. e), toda a pessoa relativamente ˆ qual exista ind’cio de
que cometeu ou se prepara para cometer um crime, ou que nele participou ou se prepara para participar
-, pelo que Ž mero participante processual. Este suspeito vai ser ouvido perante um —rg‹o de policia
criminal, precisamente para prestar declara•›es nos termos do artigo 58.¼/1, al. a) e por isso tem de
ser constitu’do arguido.
J‡ temos a via de constitui•‹o subsidiaria do artigo 57.¼ e casos de constitui•‹o obrigat—ria Ð artigos
272.¼ e 58.¼/1.
H‡ uma terceira via Ð que Ž a via de constitui•‹o volunt‡ria prevista no artigo 59.¼/2. A pessoa
que Ž suspeita pode pedir para ser constitu’da arguida no processo [no caso MADDIE houve a tese do
rapto e come•ou a ser divulgado que estaria a ser praticado um crime pelos pais Ð nesse contexto eles
s‹o convocados para ser ouvidos na PJ de faro. Deslocam-se para ser ouvidos e fazem uso deste
expediente]. Isto faz com que entre automaticamente em aplica•‹o o estatuto processual do arguido Ð
t•m direitos de conforma•‹o processual, um conjunto de direitos e deveres que o tornam num
verdadeiro sujeito (artigos 61.¼/1 e 61.¼/6).
Neste exemplo est‡ patente o interesse em usufruir de um direito concreto que tem um arguido e
n‹o uma testemunha Ð direito ao sil•ncio (61.¼/1, al. d). Muitas vezes constituem-se arguidos para se
poder beneficiar da posi•‹o processual do arguido Ð h‡ direitos e deveres.

Resumindo e olhando para o caso,


Ele tem de ser constitu’do arguido porque se trata de um caso obrigat—rio de constitui•‹o ao abrigo
do artigo 58.¼/1, al. a). Qual o relevo desse ato de constitui•‹o do arguido? Passa de mero participante
a ser sujeito processual o que significa deixar de ser suspeito para arguido (artigo 1.¼, al. e),
sendo que essa posi•‹o se consubstancia no que se refere o artigo 60.¼ (direitos, artigo 61.¼, e
deveres, artigo 63.¼ - remeter).

Aten•‹o que o CPP quando fala em hip—teses de alguŽm que Ž ouvido no ‰mbito de um processo penal
e Ž suspeito deve ser constitu’do arguido, nos termos do artigo 58.¼/1 e do artigo 272.¼, estes t•m raz‹o
comum Ð tem de ser uma suspeita fundada. Se a pessoa Ž suspeita, presta declara•›es, e essa
suspeita Ž fundada, a’ Ž obrigat—ria a constitui•‹o de arguido, sob pena de nulidade.

Pragmaticamente pode haver atropelos a estas coisas Ð muitas vezes ouve-se a pessoa sem esta ser
constitu’da arguida, s— para a obrigar a falar. Se se trata de uma suspeita que ainda n‹o Ž fundada,
n‹o se devia proceder ˆ constitui•‹o do arguido porque essa suspeita pode n‹o se confirmar. Agora,
pode dizer-se que a partir do que a pessoa diz, esta se constitui como arguida. Isto acontece nos atos
e Ž normal.

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Aula 3 Ð 14 de abril 2020


Vimos que sujeitos processuais s‹o o Tribunal, o MinistŽrio Pœblico, o Arguido, o Assistente e
o Defensor. Destac‡mos ainda as partes civis, que s‹o sujeitos processuais formalmente no processo
penal, mas os poderes de conforma•‹o que exercem s‹o restritos ao ‰mbito do pedido de
indemniza•‹o civil.

Na quest‹o anterior dizia-se que o agente era suspeito da pr‡tica do crime, mas o CPP exige que
seja essa uma suspeita fundada. Admitindo que est‡ em causa uma suspeita fundada, era obrigat—ria
a constitui•‹o de arguido porque esta pessoa est‡ a ser interrogada por um —rg‹o de policia criminal.
ƒ importante que vejamos a diferen•a entre o conceito de suspeito e do conceito de arguido Ð o
arguido Ž um verdadeiro sujeito processual, enquanto um suspeito Ž um mero participante processual.
Isto leva-nos ˆ segunda parte da quest‹o.

Note-se que h‡ uma terceira hip—tese de constitui•‹o de arguido que Ž a constitui•‹o volunt‡ria, a
constitui•‹o de arguido a pedido (artigo 59.¼/2) Ð Ž poss’vel que nos termos desta norma alguŽm que
n‹o iria ser constitu’do arguido pela autoridade judici‡ria pe•a para o ser; e pe•a para o ser quando
estiverem a ser efetuadas dilig•ncias destinadas a comprovar a imputa•‹o que pessoalmente a
afeta. Nestas situa•›es, que Ž a nossa segunda quest‹o do caso, torna-se relevante analisar o
interesse do ato de se constituir arguido.
O relevo tem precisamente a ver com a passagem do estatuto de mero participante para o estatuto
de arguido, um verdadeiro sujeito processual Ð artigos 60.¼ e 61.¼. O estatuto processual do arguido
Ž densificado por estas duas normas do CPPenal. Indica-nos que Ž assegurado ao arguido o
exerc’cio de direitos e de deveres processuais (tudo isto Ž matŽria que abordaremos, mas esta
norma indica-nos que ao arguido assiste um conjunto de direitos (artigo 61.¼/1) e deveres (artigo 61.¼/6).
Destaca-se deste elenco o direito ao sil•ncio, um direito que em certas situa•›es, nomeadamente
durante o inquŽrito, quando o suspeito est‡ a ser interrogado, mas ainda n‹o h‡ sobre ele uma suspeita
fundada, n‹o existe Ð poder‡ t•-lo se se pretender constituir arguido.

Temos tr•s situa•›es: constitui•‹o subsidi‡ria (artigo 57.¼), constitui•‹o obrigat—ria (artigos 58.¼
e 272.¼) e ainda a constitui•‹o a pedido (artigo 59.¼/2) Ð estas s‹o as vias de constitui•‹o de
arguido.

2. Poder‡ a PSP proceder ˆ constitui•‹o de arguido? De que forma?

Esta quest‹o coloca-nos desde logo perante uma evid•ncia que Ž a de saber quem pode proceder ˆ
constitui•‹o de arguido Ð artigo 58.¼. Havendo suspeita fundada, esta situa•‹o seria um dos casos
previstos na al. a) e nessa mesma norma, no n.¼ 2 explicita-se desde logo como se faz a constitui•‹o
de arguido e quem o pode fazer.

Pode a PSP faz•-lo? O artigo 58.¼/1 indica que desde logo podem constituir arguido a autoridade
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Direito Processual Penal

judici‡ria ou —rg‹o de policia criminal. O artigo 1.¼ tem uma espŽcie de gloss‡rio com conceitos que
utiliza o C—digo, distinguindo-nos estas duas entidades. A autoridade judici‡ria, al. b), s‹o o juiz e o
MP; na al. c) tambŽm temos o —rg‹o de policia criminal. Na al. d) temos uma tŽcnica de reenvio Ð por
um lado o C—digo usa o conceito e define-o, mas depois a al. c) reenvia-nos novamente para o que Ž
determinado pelo pr—prio C—digo ou mesmo por lei avulsa. Ou seja, como sabemos quem s‹o as
entidades e agentes policiais a quem cabe levar a cabo atos ordenados por uma autoridade
judici‡ria ou determinada por este C—digo? Temos de recorrer ˆ Lei da Organiza•‹o e
Investiga•‹o Criminal para percebermos quem s‹o os —rg‹os de policia criminal, e para distinguir
os —rg‹os de policia criminal de compet•ncia genŽrica e de compet•ncia especifica.

Os —rg‹os de policia criminal genŽrica s‹o desde logo a PSP, a GNR e a Policia Judici‡ria
(compet•ncia genŽrica para a investiga•‹o criminal); depois h‡ tambŽm —rg‹os de policia criminal
de compet•ncia espec’fica, que n‹o participam na investiga•‹o criminal em todo o seu espetro, mas
apenas quando estejam em concreto ‡reas espec’ficas da criminalidade (ASAE Ð criminalidade
relacionada com o setor alimentar e crimes contra a economia e saœde; SEF Ð crimes de tr‡fico de
pessoas, criminalidade relacionada com os estrangeiros; Autoridade Tribut‡ria Ð criminalidade fiscal
e tribut‡ria; ACT Ð crimes praticados no ‰mbito da rela•‹o laboral). Depois a compet•ncia de cada um
est‡ definida em legisla•‹o especifica, para a qual remete as li•›es.

Devemos reter que a PSP Ž um —rg‹o de policia criminal ao abrigo do artigo 1.¼, sendo um —rg‹o
de policia criminal de compet•ncia genŽrica, e nos termos do artigo 58.¼/2, podia proceder ˆ
constitui•‹o de arguido. Importante seria tambŽm indicar que sendo o —rg‹o de policia criminal mero
participante, a sua interven•‹o n‹o consubstancia o exerc’cio de um direito de conforma•‹o processual
Ð praticam atos que se esgotam na sua pr—pria atividade. N‹o Ž por isto, por poderem proceder ˆ
constitui•‹o de arguido, que s‹o sujeitos processuais Ð eles s‹o meros participantes processuais.

Pode ser a PSP a faz•-lo, mas como? DE QUE FORMA? Essa forma resulta do artigo 58.¼/2 Ð
opera-se atravŽs da comunica•‹o oral ou por escrito, Ž imperativo que seja feita a comunica•‹o ao
visado (de que a partir desse momento ele deve considerar-se arguido) e com a explica•‹o dos seus
direitos e deveres. As formalidades n‹o terminam aqui no n.¼ 2 Ð o nœmero 3 indica que quando
esta constitui•‹o Ž feita por —rg‹o de policia criminal h‡ uma formalidade adicional. Tem de ser
comunicado ˆ autoridade judici‡ria para que ela valide no prazo de 10 dias. O n.¼ 4 Ž tambŽm
relevante porque indica que apesar de ser poss’vel a constitui•‹o oral, esta implica a entrega de um
documento onde conste a identifica•‹o do processo e do defensor se este tiver sido nomeado
(pode ser este constitu’do ou nomeado). Estas s‹o as formalidades exigidas: comunica•‹o, valida•‹o
do —rg‹o de policia criminal e entrega deste documento.
E se estas n‹o forem cumpridas? Se falhar algumas destas exig•ncias dos nœmeros 2,3 e 4
intervŽm o nœmero 5 Ð TEMOS UMA PROIBI‚ÌO DE VALORA‚ÌO DE PROVA. A pessoa que foi
irregularmente constitu’da arguido, as suas declara•›es ficam sob o manto de uma proibi•‹o de
valora•‹o de prova, n‹o podem ser usadas. No nosso exemplo, em que tinha de haver a valida•‹o

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prevista no nœmero 3, se n‹o a houver acontece o que est‡ previsto no nœmero 5, mas tambŽm intervŽm
o nœmero 6 Ð outras provas que hajam sido anteriormente obtidas j‡ poder‹o ser valoradas,
aten•‹o!

Por fim, imaginemos que essa prova Ž valorada Ð que consequ•ncia advŽm da’? [remeter do artigo
58.¼/5 para o artigo 120.¼/2, al. d)]. Se for utilizada este meio de prova cuja proibi•‹o aqui se imp›e,
esse ato fica machado de nulidade.
A entrega do documento Ž obrigat—ria quer seja OPC quer seja a autoridade judici‡ria a
proceder ˆ constitui•‹o de arguido, aten•‹o.

3. Procedendo-se ˆ constitui•‹o de arguido, ser‡ obrigat—ria a presen•a de defensor?

Quem Ž o defensor? ƒ desde logo um dos sujeitos processuais, mas quem Ž? ƒ o advogado do
arguido. Apesar de haver outros advogados que podem participar no processo penal (assistente),
esses n‹o sujeitos processuais. Porque Ž que o defensor Ž sujeito processual? H‡ casos em que a lei
diz que Ž obrigat—ria a assist•ncia por defensor, e isso faz com que o defensor n‹o seja um
qualquer advogado do processo, um qualquer mandat‡rio, mas um verdeiro sujeito processual
cuja assist•ncia ao arguido Ž de tal forma importante para a realiza•‹o da justi•a, que sem ele
n‹o se podem realizar uma sŽrie de dilig•ncias (artigo 64.¼).

Olhando para o artigo 64.¼, n‹o Ž necess‡ria a presen•a do defensor para o arguido aquando da
sua constitui•‹o Ð veja-se a al. d). Nem quando o arguido Ž cego, surdo, etc., para a constitui•‹o de
arguido se exige a constitui•‹o de arguido. Para a constitui•‹o de arguido n‹o Ž necess‡ria a
assist•ncia de defensor.
Agora temos de atender a especificidades Ð no nosso caso quando se constitui a pessoa arguido?
Para o interrogat—rio Ž j‡ obrigat—ria a constitui•‹o de arguido, ao abrigo da al. b). O nosso
interrogat—rio n‹o Ž feito por autoridade judici‡ria. O que aqui est‡ em causa Ž um interrogat—rio feito
por —rg‹o de policia criminal, n‹o por autoridade judici‡ria; a lei aqui Ž clara ao indicar que n‹o Ž
obrigat—ria a constitui•‹o de assist•ncia. N‹o estamos a dizer que n‹o pode estar, aten•‹o, agora
a lei s— implica esta assist•ncia quando o interrogat—rio Ž feito pela autoridade judici‡ria (Juiz, MP e
Juiz de instru•‹o).

A quest‹o Ž: porque Ž que o CPP s— imp›e a obrigatoriedade de assist•ncia por defensor no


caso do interrogat—rio ser feito por autoridade judici‡ria? O que justifica que s— o interrogat—rio
feito por autoridade judici‡ria esteja sujeito a esta obrigatoriedade? Quando estudarmos a prova e a
prova produzida em julgamento iremos verificar que a prova que vale em processo penal Ž a
que Ž produzida em julgamento. Mas h‡ exce•›es que se prendem com a possibilidade de se
valorar alguns meios de prova n‹o produzidos nesse momento do processo, mas produzidos

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anteriormente. A regra Ž a de que todos os meios de prova t•m de ser produzidos em julgamento Ð
no entanto Ž poss’vel que certas declara•›es prestadas pelo arguido possam ser usadas. Se o C—digo
vem admitir a t’tulo excecional que declara•›es prestadas numa fase anterior do processo tenham
valor, s— o faz quando essas forem prestadas perante o MinistŽrio Pœblico ou juiz Ð por isso Ž que
h‡ esta exig•ncia obrigat—ria de defensor (analisaremos esta quest‹o mais detalhadamente adiante).

Importante destacar Ž que o defensor Ž um sujeito processual porque participa na


administra•‹o da justi•a, n‹o se limitando a uma defesa meramente tŽcnica Ð assume esta
posi•‹o de sujeito por via destes atos elencados no artigo 64.¼.
Aten•‹o que h‡ possibilidade de haver dois tipos de defensor Ð defensor nomeado e defensor
constitu’do (artigo 62.¼). Quando o advogado Ž um advogado constitu’do isso significa que este foi
designado pelo arguido, mediante procura•‹o forense junto aos atos, passando a constar do
processo esse instrumento que habilita a pessoa X a constituir-se advogada do arguido Y. Mas nem
todos procedem a esta constitui•‹o Ð por raz›es de car•ncia econ—mica, ou outras. Se ele n‹o
constitui Ž-lhe nomeado de entre as listas que a Ordem dos Advogados faculta, no ‰mbito do apoio
judici‡rio. Isto n‹o significa que todas as pessoas que t•m um defensor nomeado n‹o pagam
honor‡rios, aten•‹o Ð paga o arguido, a n‹o ser que este perante a Seguran•a Social apresente um
requerimento para obter apoio judici‡rio e este o isenta da presta•‹o de custas (a SS Ž que analisa a
situa•‹o econ—mica da pessoa e dizer se tem ou n‹o direito ˆ isen•‹o). O respons‡vel pelo pagamento
Ž o pr—prio arguido se o apoio judici‡rio n‹o lhe for concedido.

Durante interrogat—rio por OPC este tem de ser notificado no sentido da constitui•‹o obrigat—ria
de assistente; e se ele pretender estar acompanhado, isso n‹o lhe pode ser negado. N‹o Ž
obrigat—ria a constitui•‹o de defensor, a n‹o ser que seja um arguido preso ou detido (a’ Ž
sempre obrigat—ria a constitui•‹o de defensor).

4. O facto de a constitui•‹o de arguido ser feita pela PSP significa que Ž a PSP que,
neste caso, vai dirigir o inquŽrito?

Qual a norma que nos fala sobre a dire•‹o do inquŽrito? Artigo 263.¼/1 - a dire•‹o do inquŽrito
Ž sempre do MP. N‹o Ž pelo facto de OPC ter intervindo num ato concreto que cabe a este a dire•‹o
do inquŽrito Ð o MP ƒ O DOMINUS DO INQUƒRITO. Mas o CPP n‹o deixa de dizer que este Ž assistido
pelos OPC. Qual o papel que estes desempenham nesta assist•ncia ao MinistŽrio Pœblico? Artigo
270.¼ - prev• os atos que podem ser delegados pelo MP nos OPC. S‹o importantes estas normas
para clarificar o tipo de rela•‹o que existe entre o MP e os OPC Ð esta rela•‹o sup›e que haja uma
delega•‹o de compet•ncias. O modelo da rela•‹o entre estes designa-se como sendo um modelo
de autonomia org‰nica e depend•ncia funcional Ð os OPC n‹o podem por via desta participa•‹o
deixar de ser aut—nomos enquanto —rg‹o (atŽ porque estes n‹o se dedicam exclusivamente ˆ
investiga•‹o criminal, mas mesmo nesta n‹o dependem organicamente do MP).
Mas apesar da autonomia org‰nica, do ponto de vista das fun•›es que v‹o exercer no ‰mbito

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Direito Processual Penal

da investiga•‹o criminal ficam dependentes do dominus do inquŽrito, que Ž o MP. Isto Ž


importante para se caracterizar o que indica o artigo 270.¼.

Desde logo o nœmero 3 fala expressamente nesta ideia de delegar Ð aqui distinguimos j‡ as
autoridades de policia criminal. Quem s‹o as autoridades de policia criminal? Artigo 1.¼, al. d). H‡
quase que uma grada•‹o Ð acima e a dirigir o inquŽrito est‡ o MP, depois est‹o os OPC a efetuar
as dilig•ncias que este lhes atribuiu, mas ainda h‡ estas autoridades de policia criminal que podem
autorizar certos atos espec’ficos, aqui previstos no n.¼ 3, como sejam as per’cias, porque t•m
um estatuto tambŽm hierarquicamente superior aos —rg‹os de policia criminal. Mas aten•‹o, s‹o
as autoridades de policia criminal que delegam aos —rg‹os de policia criminal, e como tal estes œltimos
s‹o meros participantes. A dire•‹o Ž sempre do MinistŽrio Pœblico.
Tecnicamente quem mais preparado est‡ para realizar uma sŽrie de atos da investiga•‹o criminal
exigidos pela investiga•‹o em si? Muitas vezes Ž a policia Ð o MP n‹o tem compet•ncia para fazer
reconstitui•›es de factos, ir ao local, etc. AtravŽs desta delega•‹o de compet•ncias, quem tem estas
tarefas Ž o —rg‹o de policia criminal.
Este modelo carateriza-se por autonomia org‰nica dos —rg‹os de policia criminal, mas depend•ncia
funcional em rela•‹o ˆs autoridades judici‡rias.

Estatuto do MinistŽrio Pœblico


Falta-nos explicar mais densamente o estatuto do MinistŽrio Pœblico Ð artigo 53.¼ (vimos este artigo
por causa da no•‹o de sujeitos processuais contrapondo-se ˆ ideia de partes que n‹o se usa no
processo penal). O MP n‹o Ž uma parte por v‡rios motivos Ð n‹o Ž um advogado do Estado, n‹o
assume a posi•‹o de mero acusador (remeter do artigo 263.¼ para o artigo 53.¼ e vice-versa). O
artigo 53.¼/2, al. b) fala especificamente desta compet•ncia para dirigir o inquŽrito.
A prop—sito do MP, devemos ainda enquadrar esta configura•‹o dele como sujeito
processual competente para dirigir o inquŽrito noutra ideia que diz respeito ˆ sua legitimidade
para promover o processo penal Ð e esta relaciona-se, mais do que com a dire•‹o do inquŽrito,
com o desencadear o processo (remeter para o artigo 219.¼ da CRP).
Esta norma do artigo 219.¼ tem importantes refer•ncias: desde logo ˆ ideia do artigo 48.¼, que
este Ž competente para a a•‹o penal, Ž a este que cabe a dire•‹o do inquŽrito e a promo•‹o do
processo; mas tambŽm fala da autonomia do MP, que Ž uma autonomia do ponto de vista
externo, n‹o depende o MP de nenhum outro —rg‹o no ‰mbito da separa•‹o de poderes, mas
organiza-se numa estrutura do tipo hier‡rquico (internamente).

Este Ž dotado ainda de estatuto pr—prio que foi recentemente alterado Ð tem dado lugar a
polŽmicas, tendo-se colocado a quest‹o de saber atŽ onde iam os poderes hier‡rquicos dos superiores
do MinistŽrio Pœblico (no ‰mbito, nomeadamente, do Processo Tancos). A este prop—sito devemos
consultar o Parecer 33/2019, que foi alvo de grande discuss‹o, do Conselho Consultivo da PGR em
que discute atŽ onde deve ir a autonomia do magistrado titular do inquŽrito e atŽ onde pode ir o poder
do seu superior hier‡rquico, de se imiscuir no trabalho que faz. Para efeitos de enquadramento deste

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material importa o artigo 219.¼ - internamente a estrutura Ž hier‡rquica, externamente tem


autonomia.

5. Quem poderia constituir-se assistente no processo? Como e quando poderia faz•-


lo?

Temos tr•s quest›es Ð quem pode constituir-se assistente, como o pode fazer e quando o pode fazer?
5.1. O quem Ð artigo 68.¼. Em regra, nos termos da al. a), quem pode constituir-se assistente Ž o
ofendido; o ofendido Ž o titular dos interesses que a lei especialmente quis proteger com a
incrimina•‹o. Falamos dos bens jur’dicos Ð o ofendido ser‡ o portador do bem jur’dico que foi
violado com a pr‡tica do crime. Esta Ž a regra, Ž esta a pessoa que pode constituir-se assistente (h‡
exce•›es, veremos). Assim sendo, no nosso caso pr‡tico o ofendido Ž o propriet‡rio do
estabelecimento; o bem jur’dico Ž o patrim—nio, o crime Ž um crime de furto qualificado. O portador do
bem jur’dico Ž o propriet‡rio do estabelecimento comercial que foi assaltado Ð este poder‡ constituir-
se assistente ˆ luz do artigo 68.¼/1, al. a). Que vantagens tem? Como ofendido Ž mero participante
processual; pode passar a ser assistente, passando a ser um verdadeiro sujeito processual Ð o
que pode fazer passando a assistente? Para ter direitos de conforma•‹o processual, mais
especificamente, requerer abertura de instru•‹o (requer uma fase que se n‹o for pedida n‹o existe,
isto Ž muito importante), por exemplo. Temos de enquadrar a nossa resposta no artigo 69.¼ - diz-se
aqui o que compete ao assistente, e tal n‹o compete ao ofendido. Temos uma sŽrie de exemplos de
atos que pode praticar o assistente. Isto tudo para explicar o quem.

Ainda quanto ao quem Ð artigo 68.¼/1, restantes al’neas. Se o ofendido morreu, por exemplo, pode
constituir-se assistente nos termos da al’nea c); se o ofendido for menor, al. a), etc. E depois temos a
novidade da al. e) Ð em rela•‹o a certos crimes, previstos nesta al’nea, que s‹o crimes atentam contra
bens jur’dicos supra individuais, e entende o legislador que em rela•‹o a estes a possibilidade de
constitui•‹o de assistente n‹o deve estar restrita ˆ categoria do ofendido, devendo poder faz•-lo
qualquer pessoa; nos processos mais medi‡ticos, h‡ interven•‹o de v‡rios assistentes
(nomeadamente jornalistas que pretendem divulgar o que est‡ no processo), estando ao lado do
MinistŽrio Pœblico na atividade de procurar a verdade material.

5.2. Como Ð requer ao juiz. AlguŽm que tenha legitimidade tem de apresentar um requerimento
dirigido ao juiz (artigo 68.¼/4), sendo que neste justifica a sua legitimidade para a constitui•‹o de
assistente (ou ele Ž ofendido, ou o c™njuge do ofendido que morreu, etc.). Tem de justificar a sua
legitimidade e pagar a taxa de justi•a.

5.3. Quando Ð aqui temos de fazer uma distin•‹o. Ainda n‹o distinguimos entre crimes pœblicos,
semipœblicos ou particulares, mas o quando depende disto. A regra Ž o crime ser pœblico ou
semipœblico, em que a resposta a esta quest‹o nos Ž dada pelo artigo 68.¼/3 Ð em qualquer altura
do processo (Ž um prazo muito lato, veja-se a œltima al’nea do artigo 68.¼/3 Ð temos o processo todo
a correr sem assistente, podemos chegar ao momento da senten•a e o ofendido constitui-se assistente
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para recorrer, por exemplo). Isto quando os crimes s‹o pœblicos ou semipœblicos (veremos as
defini•›es adiante). H‡ uma exce•‹o Ð quando estamos perante crimes de natureza particular, em
que o prazo nos Ž dado pelo artigo 68.¼/2, temos um prazo de 10 dias a contar da advert•ncia
para o efeito.

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Aula 4 - 21 de abril de 2020


Est‡vamos a ver ainda o tema dos participantes e sujeitos processuais.

6. Suponha que o juiz que, durante o inquŽrito, autorizou a realiza•‹o de buscas


domicili‡rias ˆ casa de Alberto vem a ser juiz do julgamento. Assumir‡ esta
circunst‰ncia algum relevo processual?

O tribunal/ juiz
A quest‹o jur’dica em causa tem a ver com os impedimentos e suspei•›es Ð insere-se ao n’vel
dos participantes e sujeitos e sujeitos processuais; est‡ aqui em causa um sujeito processual que ainda
n‹o verific‡mos. Falamos do tribunal (ou juiz). Essa qualidade de sujeito processual do juiz/ tribunal
obriga-nos a considerar alguns princ’pios importantes que norteiam a atividade do juiz, princ’pios
com assento constitucional Ð principio do monop—lio da fun•‹o jurisdicional, principio da
independ•ncia judicial e principio do juiz natural (ver li•›es para detalhar).

Muito brevemente, o principio do monop—lio da fun•‹o jurisdicional significa que as decis›es


judiciais, tomadas pelo juiz, s‹o decis›es que adquirem a for•a de caso julgado Ð porque os
tribunais judiciais s‹o os —rg‹os competentes nos termos da lei e da CRP para administrar a
justi•a (a fun•‹o jurisdicional Ž exclusiva do juiz).
Depois temos o princ’pio do juiz natural Ð artigo 32.¼/9 da CRP; ou seja, nenhuma causa pode
ser subtra’da ao tribunal cuja compet•ncia esteja fixada em lei anterior. Ser‡ a lei anterior a definir
a compet•ncia do tribunal e a partir da’ essa compet•ncia j‡ fixada n‹o pode ser alterada.

Para o caso releva o principio da independ•ncia judicial Ð falamos de independ•ncia face a


todos os de mais poderes do Estado. Efetivamente, o poder judicial implica que os ju’zes e o seu
poder de aplicar e declarar o direito ao caso concreto n‹o seja objeto de qualquer limita•‹o,
imposi•‹o, condicionamento por parte de qualquer outro poder, mas tambŽm de qualquer outra
ordem (n‹o falamos s— de poderes do Estado, mas tambŽm de grupos civis ou pol’ticos, etc.). Este
principio da independ•ncia judicial relaciona-se diretamente com outro principio que aqui devemos
convocar Ð princ’pio da acusa•‹o. Fal‡mos deste a prop—sito das estruturas processuais. Quando
fal‡mos da estrutura que carateriza o nosso processo penal, uma estrutura acusat—ria integrada por
um principio de acusa•‹o Ð o princ’pio da acusa•‹o indica-nos que a entidade que investiga e
acusa Ž uma entidade diferente daquela que julga (no primeiro caso a compet•ncia Ž do MP, no
segundo do juiz). O princ’pio da acusa•‹o Ž apenas uma das carater’sticas da estrutura acusat—ria.
Relativamente ao principio est‡ em causa uma cis‹o de tarefas. Portanto, estes dois princ’pios Ð
independ•ncia judicial e acusa•‹o Ð concorrem para fundamentar o regime legal dos
impedimentos e suspei•›es.

Vejamos os artigos 39.¼ e ss. As recusas e escusas s‹o uma categoriza•‹o dentro do conceito
de suspei•‹o. Temos por um lado impedimentos, por outro as suspei•›es (que se subdividem

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entre escusas e recusas).


Os impedimentos est‹o previstos nos artigos 39.¼ e 40.¼; as recusas e escusas (suspei•›es)
est‹o no artigo 43.¼.
Nos impedimentos falamos de circunst‰ncias que s‹o expressamente previstas na lei,
taxativamente previstas na lei e que uma vez verificadas impedem a participa•‹o do juiz no
processo.

H‡ dois tipos de impedimentos:


Os que se relacionam com rela•›es pessoais (entre as pessoas, s‹o as situa•›es do artigo 39.¼);
tambŽm no artigo 39.¼ temos refer•ncias a impedimentos que se relacionam com a participa•‹o de
um juiz no processo. Mas sobretudo os relacionados com a interven•‹o no processo est‹o no artigo
40.¼. Falamos de situa•›es em que o juiz que vai julgar Ž filho do arguido ou c™njuge do assistente ou
j‡ foi ouvido como testemunha Ð falamos sempre de rela•›es pessoais ou situa•›es em que o juiz j‡
foi ouvido como testemunha. O legislador entende que o juiz n‹o pode participar no processo Ð e
isto n‹o est‡ sujeito a uma avalia•‹o casu’stica, s‹o situa•›es descritas na lei e que implicam que
o juiz esteja imprevisto de intervir.

No artigo 40.¼ temos impedimentos relacionados em participa•‹o no processo, por juiz Ð o juiz j‡
interveio no processo como juiz e fez alguma coisa no processo, uma das circunst‰ncias do
artigo 40.¼. Falamos de situa•›es em que o juiz j‡ aplicou a medida de coa•‹o (artigos 200.¼ a 202.¼)
ou j‡ presidiu ao debate instrut—rio ou participou na decis‹o do recurso anterior.
Ou seja, olhando para a al. a) - o legislador fez aqui uma escolha de algumas medidas de
coa•‹o; temos na lei processual penal sete medidas de coa•‹o Ð artigo 196.¼; no entanto, o legislador
no impedimento da al. a) limita-se a dizer que o juiz s— vai estar impedido de ser juiz de julgamento
ou de intervir num pedido de revis‹o quando tiver aplicado uma das tr•s dos artigos 200.¼, 201.¼
ou 202.¼ Ð de entre as sete que existem, o juiz s— est‡ impedido se estiver a aplicar uma das tr•s mais
gravosas (as medidas de coa•‹o est‹o previstas por ordem crescente e de gravidade). Porque Ž que
ele s— est‡ impedido quando est‹o em causa as 3 mais gravosas? Tem a ver com um requisito que
lhes Ž comum Ð h‡ um conceito comum que diz respeito ao forte ind’cio da pr‡tica do crime. A
rela•‹o Ž com este conceito dos fortes ind’cios Ð um juiz para aplicar uma destas 3 medidas e para
averiguar a exist•ncia de fortes ind’cios da pr‡tica de um crime grave, um crime pun’vel com pena de
no m’nimo 3 anos, tem de ter um conhecimento algo profundo do processo, conhecimento esse
que o vai condicionar numa avalia•‹o futura dos factos Ð o juiz tem de ficar com um prŽ-ju’zo que
Ž suficiente para p™r em causa a sua isen•‹o. O legislador entende que se um juiz aplicou uma
daquelas medidas, teve de aferir se h‡ ou n‹o fortes ind’cios da pr‡tica de um crime; e para aferir disto,
ele tem de ter um profundo conhecimento do processo que o condiciona na sua avalia•‹o futura, que
pode condicionar a sua isen•‹o/ imparcialidade. Isto Ž discut’vel mas Ž a op•‹o do legislador e tem
esta raz‹o subjacente.

Analisando as restantes situa•›es do artigo 40.¼:

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Al. b) Ð o debate instrut—rio (remeter para os artigos 297.¼ ss) Ž a œnica dilig•ncia obrigat—ria
da instru•‹o; havendo instru•‹o, uma fase facultativa, h‡ s— uma dilig•ncia que temos a certeza que
vai existir que Ž a do debate instrut—rio, artigo 298.¼;
Al. c) Ð imaginemos que depois do recurso Ž ordenada a repeti•‹o do julgamento. Se for
ordenada o juiz de julgamento est‡ impedido;
Al. d) Ð sempre que um juiz tenha interven•‹o em sede de recurso e se esse recurso for ou da
decis‹o final ou da decis‹o instrut—ria, ou ent‹o se tiver tido interven•‹o nu recurso relacionado com
aquelas medidas de coa•‹o, esse juiz j‡ n‹o pode voltar a intervir num julgamento, recurso ou pedido
de revis‹o;
Al. e) Ð arquivamento em caso de dispensa de pena (remeter para o artigo 280.¼); suspens‹o
provis—ria Ð artigo 281.¼; e, por fim, o juiz que tiver recusado aplica•‹o da forma sumar’ssima Ð
um dos processos especiais previstos no C—digo (remeter para os artigos 392.¼ e ss).

Temos os impedimentos que s‹o circunst‰ncias taxativamente previstas na lei que colocam o juiz
numa situa•‹o em que n‹o pode intervir no processo Ð o juiz fica impedido para julgar e isso n‹o
est‡ sujeito a qualquer avalia•‹o de qualquer entidade; Ž uma circunst‰ncia que implica afastamento
por impedimento. Pode acontecer que n‹o se verifique impedimento, mas em que se entenda estar em
causa a imparcialidade do juiz Ð casos de suspei•‹o (artigo 43.¼). ƒ esta uma avalia•‹o que ter‡ de
ser sempre casu’stica, temos aqui uma cl‡usula geral de suspei•‹o. Esta cl‡usula Ž tambŽm
concretizada no n.¼ 2 - aquilo que n‹o cabe no artigo 40.¼ e n‹o Ž impedimento pode cair na
cl‡usula da suspei•‹o, mas isso Ž uma avalia•‹o feita casuisticamente. Esta suspei•‹o pode
fundamentar escusa Ð esta Ž pedida pelo pr—prio juiz, que entende que o seu distanciamento n‹o Ž o
ideal face ao processo, a sua independ•ncia n‹o est‡ garantida e, ent‹o, pede para ser afastado do
processo (n.¼ 4 do artigo 43.¼) Ð ou recusa Ð ou seja, tambŽm h‡ a suspei•‹o, fundada em recusa,
mas neste caso j‡ n‹o Ž o juiz que pede, Ž um dos outros sujeitos processuais (artigo 43.¼/3 Ð MP,
arguido, assistente ou partes civis).

Como Ž que um juiz pede escusa ou se requer recusa? Nos termos dos nœmeros seguintes. Em
face disto, tem havido noticias num processo medi‡tico de um juiz que pediu escusa - processo do
Rui Pinto; o juiz publicou fotos nas redes sociais relacionadas com o arguido, foram difundidas essas
fotos e ele ainda Ž juiz no caso E-Toupeira. Pediu ao tribunal superior que o escuse de intervir (ter‡ a
Rela•‹o de Lisboa de intervir).
Est‡ em causa um juiz a lan•ar m‹o do expediente do artigo 43.¼/4 com fundamento no n.¼ 1 e n.¼
2, sendo certo que a decis‹o n‹o Ž dele Ð ele pode pedir ao tribunal superior que o escuse de intervir.

No nosso caso temos um juiz que durante o inquŽrito autorizou buscas e agora Ž juiz do
julgamento. Ter’amos de inserir isto nos princ’pios que vimos e analisar o regime das impedi•›es.
Se for motivo de impedimento temos o problema resolvido porque a sua verifica•‹o implica logo que o
juiz n‹o possa participar, n‹o h‡ avalia•‹o casu’stica. ƒ declarado impedimento e esse Ž feito pelo
pr—prio juiz por despacho nos autos (n.¼ 3). Primeiro temos de ver os impedimentos e ver se o

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caso se reconduz a estas circunst‰ncias. A busca Ž uma dilig•ncia investigat—ria que tem de ser
autorizada por juiz, mas n‹o se reconduz a nenhuma destas circunst‰ncias (artigo 269.¼); prev• este
artigo quais os atos que durante o inquŽrito t•m de ser ordenados pelo juiz de instru•‹o Ð al. c), buscas
domicili‡rias. No inquŽrito, sendo o dominus deste o MP, em principio n‹o h‡ juiz, mas tem de haver
sempre que for necess‡rio a pr‡tica de atos dos artigos 268.¼e 269.¼ - Ž preciso, nos prazos devidos,
que seja o juiz de instru•‹o a praticar ou no caso do artigo 269.¼ a autorizar e ordenar.

No nosso caso o juiz foi ao inquŽrito autorizar nos termos do artigo 177.¼. O nosso juiz ordenou
uma busca domicili‡ria e agora Ž o juiz do julgamento. N‹o est‡ impedido porque isso n‹o se
reconduz a nenhuma das circunst‰ncias dos artigos 39.¼ e 40.¼; resta-nos dizer que poder‡ ser uma
suspei•‹o Ð se Ž escusa vamos para o n.¼ 4, recusa para o n.¼ 3. Se fosse o pr—prio juiz a considerar
que estava em causa a sua pr—pria imparcialidade, pedia escusa nos termos do n.¼ 4; se fosse algum
dos sujeitos processuais, n.¼ 3. Se fosse escusa ou recusa, teria de ser nos termos do n.¼ 1 e n.¼ 2.
Seria dif’cil uma escusa ou recusa ser autorizada nestes termos, ele limitou-se a autorizar ou
ordenar um ato por entender que para a investiga•‹o este era importante Ð n‹o parece que
possamos dizer que est‡ em causa a sua imparcialidade, mas isto Ž discut’vel porque est‡ em causa
uma cl‡usula geral de suspei•‹o no n.¼ 1.
A ideia aqui era excluir os impedimentos, avan•ar para as suspei•›es e explicar a escusa e
a recusa.

PRINCêPIOS RELATIVOS Ë PROMO‚ÌO PROCESSUAL


6
Princ’pio da oficialidade [1], princ’pio da legalidade [2] e princ’pio da acusa•‹o [3]

1. Princ’pio da oficialidade Ð crimes pœblicos, crimes semipœblicos e crimes particulares


O princ’pio da oficialidade responde a uma quest‹o de compet•ncia Ð saber a quem compete
a iniciativa; quando se fala em promo•‹o processual fala-se em promo•‹o do processo, impulso,
iniciativa, desencadear do processo.

O principio da oficialidade pretende responder ˆ quest‹o de saber a quem compete a promo•‹o


processual Ð investigar a pr‡tica da infra•‹o e a quest‹o de a submeter a julgamento ou
n‹o.
Reflete-se j‡ dois momentos em que se desdobra o principio: estes dois momentos s‹o os
que j‡ enunci‡mos; a quest‹o da compet•ncia desdobra-se em saber a quem compete a
iniciativa de investigar a pr‡tica da infra•‹o; e ainda a decis‹o de submeter a julgamento.

Esta resposta atira-nos para esta figura do MinistŽrio Pœblico Ð a ideia do legislador Ž de que o
direito penal Ž direito de prote•‹o de bens jur’dicos; o DPP que est‡ ligado ao direito penal substantivo
e Ž um assunto da comunidade jur’dica Ð assim sendo, a regra ter‡ de ser a do monop—lio da
Justi•a estadual. Assim, a iniciativa do processo n‹o pode estar nas m‹os dos privados/ particulares,

6
O princ’pio da acusa•‹o j‡ foi antecipado aquando da an‡lise da estrutura do processo.
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ter‡ de ser um assunto confiando a uma entidade publica. Por isso Ž que se chama principio da
oficialidade Ð a compet•ncia para iniciar a investiga•‹o e decidir submeter ou n‹o a julgamento h‡-de
ser de uma entidade pœblica oficial que entre n—s Ž o MP.

Esta Ž a regra Ð a de que Ž uma entidade publica a quem cabe a iniciativa de investigar a
pr‡tica da infra•‹o, bem como a de submeter a infra•‹o a julgamento.

Por isso Ž que dizemos que o principio da oficialidade sendo a regra, a regra Ž tambŽm a de que os
crimes s‹o pœblicos Ð significa isto que em regra compete ao MP a iniciativa de investigar a pr‡tica
da infra•‹o e tambŽm a decis‹o de a submeter ou n‹o a julgamento (artigos 48.¼ e 276.¼); no artigo
276.¼ temos o segundo momento Ð encerramento do inquŽrito (arquivando ou deduzindo
acusa•‹o). Temos aqui o principio do inquŽrito no artigo 48.¼ e o fim do inquŽrito no artigo 276.¼ Ð em
regra ambos s‹o da compet•ncia do MP. O inicio Ž a iniciativa de investigar, o fim Ž a decis‹o de
submeter a julgamento Ð em regra isso vale assim e por isso, em regra, os crimes s‹o pœblicos. Nessa
medida temos a refer•ncia de que o princ’pio da oficialidade vale inteiramente em rela•‹o aos
crimes pœblicos, porque em rela•‹o a estes valem estes dois momentos da oficialidade.

Mas o pr—prio artigo 48.¼ mostra logo que n‹o h‡ regra sem exce•‹o Ð diz expressamente que h‡
restri•›es nos artigos 49.¼ a 52.¼; pode haver restri•›es a esta regra. S‹o restri•›es de diferente
natureza - pode ser uma mera limita•‹o ou uma verdadeira exce•‹o.

O que acontece quando o crime Ž semipœblico? H‡ uma limita•‹o ao principio da oficialidade e


uma limita•‹o porque este n‹o vale no seu primeiro momento Ð o momento segundo o qual a
iniciativa de investigar a pr‡tica da infra•‹o cabe ao MP. N‹o cabe porque nos termos do artigo 49.¼
esta investiga•‹o depende de queixa do ofendido. Ou seja, diz-se que sendo o crime semipœblico
(quando se diz que depende de queixa Ž igual a dizer que Ž semipœblico), o MP n‹o pode por iniciativa
pr—pria abrir inquŽrito Ð tem de esperar pela queixa, sem a qual pode avan•ar (por parte do ofendido
ou de outras pessoas que a podem fazer Ð remeter do artigo 49.¼ para a norma da queixa que est‡ no
CP, o artigo 113.¼).

Isto mostra que nos crimes semipœblicos o princ’pio da oficialidade s— vale no 2¼ momento Ð
quanto ˆ decis‹o de submeter ou n‹o a causa a julgamento. Essa decis‹o do fim do inquŽrito Ž do
MP. N‹o vale Ž o primeiro momento e, por isso, os crimes semipœblicos representam uma limita•‹o ao
princ’pio da oficialidade.

Por fim h‡ tambŽm uma situa•‹o de verdadeira exce•‹o Ð em que o princ’pio da oficialidade
n‹o vale em nenhum dos seus momentos - que Ž a dos crimes particulares. Estes est‹o no artigo
50.¼; quando o crime for particular, Ž necess‡rio que essas pessoas se queixem, se constituam
assistentes e deduzam acusa•‹o particular. Nos crimes particulares n‹o vale o princ’pio da
oficialidade Ð representam estes uma exce•‹o ao principio,

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CASO PRçTICO 2
Descreva a tramita•‹o processual anterior ao julgamento em cada uma das hip—teses
seguintes:

Mas como sabemos em concreto se o crime Ž pœblico, semipœblico ou particular?


Temos de ver se no tipo legal est‡ dito alguma coisa Ð se n‹o estiver temos de seguir a regra. ƒ na
lei substantiva que isto est‡ descrito. A resposta a saber se um determinado crime Ž pœblico ou
particular est‡ na lei substantiva Ð outras vezes est‡ no tipo legal de crime, outras n‹o, outras temos
de aplicar a regra.
E a regra Ž a de que o crime Ž pœblico.

Antes da tramita•‹o temos de decidir se o nosso crime Ž publico, semipœblico ou particular. Ou o


tipo legal de crime diz que o procedimento depende de queixa e a’ o crime Ž semipœblico, ou diz
que depende de acusa•‹o particular, e quando diz isto Ž porque o crime Ž particular; quando
nada diz o crime segue a regra, e Ž publico.

A) O Ant—nio matou o Bernardo Ð artigo 131.¼ CPenal.

Qual a natureza deste crime da al. a)? Artigo 131.¼ - nada se diz no artigo 131.¼, mas tambŽm
n‹o se diz nada quanto a procedimento em todo este cap’tulo; temos de percorrer o cap’tulo em
que se insere o crime; no capitulo sobre o homic’dio n‹o temos nenhuma norma sobre o
procedimento que pode alterar a natureza do crime.
Portanto, n‹o se diz nada e o crime Ž publico; o legislador atende a muita coisa para decidir se um
crime Ž publico, particular ou semipœblico Ð desde logo, a densidade do bem jur’dico Ž fundamental
para uma decis‹o como esta. O bem jur’dico vida Ž o bem jur’dico supremo.

B) O Carlos ofendeu a integridade f’sica do Daniel Ð artigo 143.¼ CPenal.

Depende de queixa, Ž semipœblico. Agora, imaginemos que Daniel Ž policia e estava no exerc’cio
das suas fun•›es Ð isso mudava a nossa resposta, passava a ser crime pœblico;

C) A Em’lia injuriou a Fernanda Ð artigo 181.¼ CPenal.

Temos um crime contra a honra, a injuria (diferen•a entre injuria e difama•‹o Ð Ž precisamente a
quem se dirige a imputa•‹o de facto desonroso; se a pessoa se dirige diretamente ao visado temos
injuria; se o faz invocando o visado, mas perante terceiro temos difama•‹o). No nosso exemplo Ž injuria.
O artigo 181.¼ n‹o diz nada, mas diz o artigo 188.¼ Ð temos de ter o cuidado de olhar para as outras
normas do cap’tulo. O artigo 188.¼ Ž uma norma dedicada ao procedimento, indicando que todos os
crimes deste capitulo s‹o particulares, dependem de acusa•‹o particular. A n‹o ser em duas

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situa•›es concretas, a do artigo 184.¼, e as situa•›es do artigo 187.¼; nestes dois casos basta queixa
e o crime torna-se semipœblico. Mas a nossa situa•‹o n‹o Ž essa Ð seguimos a regra de que os
crimes contra a honra s‹o particulares.

Temos tr•s exemplos de tr•s crimes de diferente natureza.

Classificados os crimes, o que sup›e sempre recurso ˆ lei substantiva, respondamos ˆ pergunta do
caso Ð descrever a tramita•‹o anterior ao julgamento.

TRAMITA‚ÌO PROCESSUAL
1. CRIME PòBLICO

O crime Ž publico, devemos come•ar por dizer que o Ž nos termos em que vimos, ou seja, segue-
se a regra (vale inteiramente o principio da oficialidade) Ð a iniciativa de investigar e de submeter
ou n‹o a julgamento pertence ao MP nos termos dos artigos 48.¼ e 276.¼.
Qual a tramita•‹o? O processo inicia-se com a aquisi•‹o da noticia do crime; como se adquire?
Artigo 241.¼ - denœncia, conhecimento pr—prio ou —rg‹os de policia criminal. Adquirida a noticia
do crime por uma destas tr•s formas, o MP abre o inquŽrito que Ž uma fase de investiga•‹o. O
inquŽrito serve para investigar a pr‡tica do crime e quem foi o sue agente Ð dirige-o o MP
coadjuvado pelos OPC (nos termos em que j‡ vimos na œltima aula).
Chega-se ao fim do inquŽrito, temos depois acusa•‹o ou arquivamento Ð quem decide isto, se o
crime Ž publico Ž o MP. Quer o inicio quer o fim do inquŽrito s‹o da compet•ncia do MP ao abrigo
dos artigos 48.¼ e 276.¼. Acusa•‹o significa submeter a causa a julgamento, arquivamento significa
n‹o submeter.

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Mas qualquer que seja a decis‹o do MP, pode haver a fase facultativa de instru•‹o Ð se houver
acusa•‹o quem ter‡ interesse processual em requerer abertura da instru•‹o? Desde logo o arguido -
mas h‡ tambŽm uma situa•‹o em que o assistente mesmo havendo acusa•‹o pode ter interesse,
porque pode estar descontente com ela. Em caso de acusa•‹o pode requerer abertura da instru•‹o o
arguido e tambŽm o assistente relativamente aos factos que dela n‹o constam e que ele pretendia que
fossem apreciados em julgamento.

Se houver arquivamento, s— o assistente pode requerer instru•‹o Ð s— este est‡ descontente.


Qualquer que seja o sujeito processual a requerer, esta Ž aberta, sendo que essa vai sempre terminar
com uma decis‹o instrut—ria seja de pronœncia (em que haver‡ julgamento) ou de n‹o pronœncia (n‹o
h‡ julgamento Ð a n‹o ser que seja apresentado recurso desta decis‹o e desta haja provimento).

2. CRIME SEMIPòBLICO

Qual a diferen•a na tramita•‹o? ƒ onde est‡ o X na figura Ð se o crime Ž semipœblico constitui


limita•‹o ao princ’pio da oficialidade no primeiro momento, pelo que o processo n‹o se inicia
com a aquisi•‹o da noticia do crime por uma daquelas tr•s vias. S— pode haver abertura do
inquŽrito depois de haver queixa Ð uma forma de denœncia (queixa Ž diferente de denœncia; a
denœncia Ž mais abrangente porque pode ser feita por qualquer pessoa e no caso dos crimes
semipœblicos n‹o pode ser denœncia por qualquer pessoa Ð tem de ser uma queixa do ofendido ou
de outras pessoas referidas naquele artigo 113.¼ do CP).

O X indica que h‡ limita•‹o ao principio, n‹o pode come•ar-se o processo havendo fase de
inquŽrito sem haver queixa do ofendido. O MP s— pode abrir inquŽrito se na qualidade de ofendido

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alguŽm apresentar queixa, uma forma de denœncia mais restrita.

Depois da queixa j‡ pode o MP promover o processo, abrir inquŽrito e investigar. A partir da’
tudo se passa nos mesmos termos.

No fim do inquŽrito quem acusa e arquiva? ƒ o MP. O segundo momento vale na integra, no
momento da decis‹o de submeter ao n‹o a julgamento vale o principio, sendo o MP que acusa ou
arquiva. O resto Ž nos mesmos termos.

3. CRIME PARTICULAR

Em’lia injœria Fernanda Ð aqui temos dois XÕs porque os dois momentos do princ’pio da
oficialidade n‹o se aplicam. N‹o Ž o MP que promove o inquŽrito abrindo-o depois de adquirir a
noticia do crime e tambŽm n‹o Ž ele que arquiva ou acusa.

O que est‡ na origem quando o crime Ž particular? Necessariamente a queixa Ð mas esta n‹o
chega, Ž preciso (artigo 50.¼) a constitui•‹o como assistente. N‹o Ž o MP que adquire a noticia e
abre inquŽrito; este s— o pode fazer depois de haver queixa e constitui•‹o de assistente. Mas
mantŽm-se que o inquŽrito Ž uma fase de investiga•‹o feita pelo MP; o que faz com que as coisas
sejam diferentes Ž que para abrir inquŽrito o MP precisa que haja queixa e constitui•‹o de assistente -
depois disso Ž ele que abre inquŽrito e investiga.

Mas chega-se ao fim do inquŽrito e deixa novamente de ser este a ter a decis‹o Ð o segundo
momento do princ’pio tambŽm n‹o vale. Quem vai decidir acusar ou n‹o acusar vai ser o

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assistente. A essa acusa•‹o feita pelo assistente chama-se acusa•‹o particular. A acusa•‹o Ž feita
pelo assistente nos crimes particulares.
Depois disso, se houver acusa•‹o particular, quem pode requerer a abertura da instru•‹o Ž o
arguido Ð este Ž que esta descontente. E depois tudo se passa nos mesmos moldes Ð na instru•‹o j‡
n‹o h‡ diferen•a. Mas h‡ estas duas diferen•as Ð o primeiro e segundo momento do principio n‹o se
verificam.

Em principio a instru•‹o n‹o pode ser requerida pelo assistente Ð mas analisaremos esta
quest‹o melhor. Nas situa•›es normais n‹o teria sentido Ð o assistente chega ao fim do inquŽrito e Ž
noticiado pelo MP para acusar; se acusar, que sentido tem requerer abertura da instru•‹o? Se decidir
n‹o acusar foi tambŽm porque n‹o o quis fazer - artigo 287.¼.

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Aula 5 Ð 28 de abril de 2020

T’nhamos j‡ come•ado a matŽria relativa aos princ’pios da promo•‹o processual, e a esse


prop—sito percorremos dois materiais, relativos ao princ’pio da oficialidade. Analis‡mos o seu
conteœdo e vimos que Ž a prop—sito deste que se distinguem os crimes pœblicos dos semipœblicos e
dos particulares. Vimos que o principio vale inteiramente no caso dos crimes pœblicos, vale apenas no
segundo momento relativamente aos semipœblicos (uma limita•‹o ao principio) e n‹o vale de todo
relativamente aos crimes particulares, o que representa uma verdadeira exce•‹o ao princ’pio.
Vimos a tramita•‹o em rela•‹o a cada um dos tipos de crime.

Ficou por ver o œltimo dos esquemas Ð mais n‹o Ž do que uma espŽcie de an‡lise detalhada da
primeira parte do esquema anterior; temos a tramita•‹o do crime particular e a tramita•‹o detalhada
no œltimo esquema, uma vez que ele Ž uma verdadeira exce•‹o ao princ’pio. Temos de conhecer v‡rias
normas, fazer as respetivas remiss›es. O crime particular tem mais detalhe, vejamos.

Qual a tramita•‹o no caso de crime particular? Vamos partir do nosso exemplo, crime de injœria Ð
Em’lia injuriou Fernanda. O que Ž que a Fernanda tem de fazer? porque j‡ sabemos que se n‹o vale
o principio da oficialidade vai ter de ser o ofendido, Fernanda, a desencadear o procedimento criminal
(porque Ž que ela Ž ofendida? Artigo 68.¼/1, al. a) Ð s‹o os titulares do bem jur’dico protegido com a
norma incriminadora) Ð tem de se queixar, tem de constituir assistente e deduzir acusa•‹o particular.

Fernanda vai apresentar queixa nos termos do artigo 113.¼ CP (discute-se se este instituto Ž de
natureza substantiva ou processual, mas est‡ regulado no CP) Ð temos aqui v‡rias situa•›es de
titularidade do direito de queixa; na al. a) est‡ a regra de que quem Ž titular do direito de queixa
Ž o ofendido (remeter do artigo 68.¼/1, al. a) para o artigo 113.¼/1 CP). O ofendido, como titular do
direito de queixa, pode apresent‡-la; e quando a apresenta o que acontece? Agora temos a
refer•ncia ao artigo 246.¼/4, segunda parte Ð tratando-se de crime cujo procedimento depende de
acusa•‹o particular, a declara•‹o Ž obrigat—ria, devendo, neste caso, a autoridade judici‡ria ou o —rg‹o
de policia criminal a quem a denœncia for feita verbalmente advertir o denunciante da obrigatoriedade
de constitui•‹o de assistente e dos procedimentos a observar; ou seja, tratando-se de crime particular,
a declara•‹o de que deseja constituir-se assistente Ž obrigat—ria (...).

Ou seja, a pessoa queixa-se e, sendo o crime particular, nota essa de que Ž advertido o ofendido,
por quem recebe a queixa, tem de fazer uma declara•‹o no sentido de que deseja constituir-se
assistente Ð claro que s— faz essa constitui•‹o porque Ž advertida para tal. Perguntam-lhe se esta
deseja constituir-se assistente, uma vez que tal Ž obrigat—rio Ð a partir da’ tem o prazo de 10 dias para
se constituir assistente (artigo 68.¼/2 CPP, remeter para este do artigo 246.¼/4). Quanto ao prazo,
distinguimos duas situa•›es Ð crimes pœblicos e semipœblico (n.¼ 3) Ð al. a), b) e ) Ð e crimes particulares
(n.¼ 2) Ð 10 dias a contar da advert•ncia.

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A pessoa queixa-se, declara que se pretende constituir assistente e depois tem um prazo de 10 dias
para o fazer, ao abrigo deste artigo 68.¼/2 (o artigo 68.¼ fala do requerimento para a constitui•‹o de
assistente). 10 dias a contar daquela advert•ncia do artigo 246.¼/4, aten•‹o.
Depois disto, da constitui•‹o de assistente, se cumprir o prazo, vai ser aberto o inquŽrito pelo MP e
feita a investiga•‹o pelo MP. A diferen•a Ž que o MP n‹o pode abrir inquŽrito sem se verificarem
estas duas coisas Ð queixa e constitui•‹o de assistente.

Chega ao fim do inquŽrito e notifica-se o assistente para, querendo, deduzir acusa•‹o particular
Ð artigo 285.¼/1 e 2. O MP deve referir se recolheu ou n‹o ind’cios da pr‡tica do crime e quem foi o seu
agente. Mas isto n‹o Ž vinculativo para o assistente Ð imaginemos que este diz que n‹o recolheu
ind’cios de que se verificou o crime; isso condiciona a acusa•‹o particular de Fernanda? N‹o Ð isso Ž
uma decis‹o do assistente; o MP transmite as informa•›es que recolheu, mas isso n‹o impede
que ela acuse. E o mesmo no sentido inverso Ð recolhe o MP ind’cios, mas o agente, por qualquer
motivo, decide n‹o deduzir acusa•‹o particular, n‹o quer avan•ar com o processo (pode faz•-
lo). ƒ uma decis‹o que cabe ao particular Ð porque nestes crimes deixa-se nas m‹os dele o impulso
processual, quer na fase inicial, quer na fase final do inquŽrito.

O assistente Ž notificado pelo MP e a partir da’ come•a a correr o prazo de 10 dias para deduzir
acusa•‹o particular. Se o fizer o processo prossegue Ð esta Ž a acusa•‹o sem a qual o processo
n‹o pode avan•ar. Imaginemos que o assistente deduz acusa•‹o, o MP pode (artigo 285.¼/4)
acompanhar a acusa•‹o particular; n‹o Ž obrigado a faz•-lo, o que Ž discut’vel (a norma diz
ÒpodeÓ), h‡ quem conteste esta reda•‹o da norma. ƒ uma tomada de posi•‹o que o MP pode
assumir e se o fizer vai acusar tambŽm, em 5 dias depois da acusa•‹o particular, pelos mesmos
factos, por parte deles ou outros desde que n‹o importem altera•‹o substancial.

Depois da acusa•‹o particular acompanhada ou n‹o pelo MP (a acusa•‹o particular Ž a


principal, a do MP Ž meramente secund‡ria) segue-se (sempre que h‡ acusa•‹o h‡ julgamento a n‹o
ser que seja requerida a instru•‹o) a instru•‹o, que pode ser requerida apelo arguido (artigo 287.¼/1,
al. a) Ð para tentar evitar a submiss‹o a julgamento. Deve requerer a abertura da instru•‹o o arguido Ð
consoante o desfecho desta h‡ julgamento se ela terminar com despacho de pronœncia.

Muita aten•‹o a este esquema e ao fazer as remiss›es Ð partimos sempre do artigo 50.¼, que Ž a
norma que tem os tr•s requisitos quando o crime Ž particular (queixa, constitui•‹o de assistente
e dedu•‹o de acusa•‹o particular); devemos explicar todos estes passos quando isto nos for
perguntado (prazos, momentos processuais, etc.).

Aten•‹o, o processo Ž uno. Isto que acontece com o MP para a acusa•‹o particular e acontece com
o assistente quando a acusa•‹o Ž pœblica. Artigos 284.¼ e 285 Ð Ž verdade que a acusa•‹o particular
Ž uma acusa•‹o feita pelo assistente, mas quando os crimes t•m natureza particular; mas
quando existe assistente e o crime n‹o Ž particular, no fim do inquŽrito o MP decide se acusa

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ou arquiva; se acusa Ž dada ao assistente a possibilidade de, querendo, acusar tambŽm. ƒ isso
que est‡ no artigo 284.¼. Se o crime Ž pœblico ou semipœblico, a acusa•‹o principal Ž do MP, mas
o assistente se quiser tambŽm pode deduzir acusa•‹o para acompanhar a do MP, acusando
pelos mesmos factos, parte deles ou outros desde que n‹o haja altera•‹o substancial. Esta
norma do artigo 284.¼ vale para os crimes pœblicos e semipœblicos.
O mesmo racioc’nio ao contr‡rio vale para o artigo 285.¼ Ð quem tem de acusar no fim do
inquŽrito Ž o particular que tem de ser constitu’do assistente; o MP pode nos termos do n.¼ 4 acusar
pelos mesmos factos, parte deles ou outros que n‹o importem altera•‹o substancial.

Chegamos ao fim do inquŽrito; crime pœblico ou semipœblico Ð acusa•‹o do MP, assistente pode
acompanhar (artigo 284.¼). Particular Ð fim do inquŽrito, MP notifica o assistente para deduzir acusa•‹o
particular; ele deduz, o MP se quiser pode acompanhar.

Isto s‹o pe•as processuais do mesmo processo, o processo Ž o mesmo, Ž uno Ð a pe•a
fundamental ser‡ a acusa•‹o pœblica do artigo 284.¼ nos crimes pœblicos e semipœblicos e nos crimes
particulares a acusa•‹o particular do artigo 185.¼.

Em principio, sendo o crime particular, sendo a acusa•‹o do assistente, em principio, n‹o faz
sentido que (artigo 287.¼) o assistente deduza a abertura da instru•‹o Ð se ele acusou n‹o tem
sentido, em principio, veremos, que ele possa requer a abertura da instru•‹o. Por isso Ž que a norma
na al. b) diz que o assistente pode, mas pelo assistente se esse procedimento n‹o depender de
acusa•‹o particular; ele s— pode deduzir abertura da instru•‹o se crime for pœblico ou
semipœblico, n‹o tem sentido ser ele a requer se o crime for particular. Em princ’pio n‹o pode
requer abertura da instru•‹o quando o crime Ž particular Ð pode n‹o ser assim, mas em casos muito
espec’ficos, veremos.

PRINCêPIO DA LEGALIDADE
N‹o confundir com a oficialidade Ð os momentos cronol—gicos s‹o os mesmos, in’cio e fim do
inquŽrito, mas a pergunta a que respondem Ž diferente; o princ’pio da oficialidade responde ˆ
pergunta de saber quem tem legitimidade (em principio Ž o MP apesar das limita•›es e exce•›es que
conhecemos). O princ’pio da legalidade responde ˆ pergunta de saber se o MP est‡ ou n‹o est‡
obrigado a fazer duas coisas, os tais dois momentos que coincidem Ð a abrir inquŽrito sempre que
adquire noticia do crime (1) e a saber se est‡ obrigado a deduzir acusa•‹o no final do inquŽrito
(2).

Chega ao conhecimento do MP um facto criminoso, ele tem sempre de abrir inquŽrito? E quando
chegar ao crime, depois de recolher ind’cios suficientes, tem de acusar? Est‡ obrigado?

Se valesse entre n—s um principio de oportunidade, o principio oposto a este, essas decis›es
estavam nas m‹os do MP Ð podia ter muitos processos, havia crimes mais importantes e decidia n‹o

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abrir inquŽrito; pode fazer isto? ou chega ao fim do inquŽrito e por raz›es de qualquer ordem acha que
n‹o se justifica acusar.
Entre n—s n‹o vale este principio, mas um principio de legalidade Ð por isso, quest‹o de
legitimidade ou compet•ncia Ž oficialidade; de vincula•‹o, de saber se est‡ ou n‹o obrigado Ž
principio da legalidade.

Aqui pergunta-se se o MP na sua atua•‹o Ž ou n‹o livre de decidir Ð se abre ou n‹o acusa ou
n‹o. N‹o Ž livre, ele est‡ vinculado ˆs obriga•›es legais previstas nas normas dos artigos 262.¼/2
e 283.¼/1.

O primeiro momento do principio da legalidade contende com o artigo 262.¼/2 Ð se se diz que d‡
sempre lugar ˆ abertura do inquŽrito, isso significa que o MP n‹o pode decidir se sim ou n‹o,
tem de abrir inquŽrito, h‡ uma vincula•‹o ˆ lei por parte do MP. O primeiro momento do principio
decorre deste artigo 262.¼/2 que consubstancia o dever de investigar.
Mas n‹o Ž o œnico dever que sobre ele impende Ð h‡ um segundo momento que decorre do artigo
283.¼/1. Ou seja, n‹o Ž pode deduzir ou decide se deduz, deduz se h‡ ind’cios. Est‡ obrigado a
deduzir sempre que recolher ind’cios suficientes; este Ž o 2.¼ momento do principio que consubstancia
o dever de acusar. Vincula•‹o, legalidade e dois momentos Ð primeiro, dever de investigar, segundo
de acusar.

Qual o fundamento deste principio? Ou seja, o que o justifica? ƒ uma quest‹o de igualdade na
aplica•‹o da lei; o MP n‹o vai decidir se deduz ou n‹o acusa•‹o com base noutros motivos sociais Ð
isso conduzia ao arb’trio e fazia com que se decidissem de maneira diferente casos iguais. O principio
da legalidade contende com o principio da igualdade, artigo 13.¼ CRP. A outra norma relevante que
funciona como fundamento a isto Ž o artigo 219.¼ da CRP.

CASO PRçTICO 3
O Guilherme assistiu ao furto do computador port‡til do Humberto e denunciou o facto ao
MinistŽrio Pœblico.

1. O MinistŽrio Pœblico est‡ obrigado a abrir inquŽrito?(

Est‡, se houver queixa apresentada por Humberto j‡ que este crime Ž semipœblico. A pergunta Ž
sobre o primeiro momento do principio da legalidade, mas Ž importante fazer uma nota prŽvia:
temos um crime de furto simples, artigo 203.¼ CP, que Ž um crime de natureza semipœblica, uma
limita•‹o ao principio da oficialidade e est‡ dependente de queixa o procedimento criminal
(queixa apresentada pelo ofendido, artigo 113.¼ - nunca esquecer deste artigo). Se o ofendido cumprir,
o que agora se imp›e perguntar Ž Ð havendo queixa, o MP est‡ obrigado a abrir inquŽrito? Sim
est‡ Ð est‡ sempre, s— que nos crimes pœblicos ele est‡ obrigado a adquirir inquŽrito depois de adquirir
a noticia do crime (h‡ tr•s formas para a adquirir Ð artigo 241.¼, atravŽs de OPC ou conhecimento do
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MP); s— que o crime aqui n‹o Ž publico, pelo que ele n‹o Ž obrigado a abrir inquŽrito quando adquire
a noticia do crime, mas depois de quando o ofendido apresentar a sua queixa. Se Humberto,
ofendido nos termos do artigo 113.¼/1 apresentar queixa o MP est‡ obrigado a abrir inquŽrito (n‹o pode
n‹o abrir). Esta pergunta obrigava-nos a considerar os dois princ’pios, oficialidade e legalidade.

Aten•‹o Ð houve denœncia por Guilherme, mas o crime n‹o Ž pœblico. N‹o pode o MP apenas
na base da denœncia deste abrir o inquŽrito; apenas o pode fazer se e quando o ofendido, Humberto,
apresentasse queixa.

Pensemos: qual a diferen•a entre queixa e denœncia? Houve uma denœncia da pr‡tica de um
crime, feita por Guilherme Ð o terceiro que assistiu. Essa denœncia s— poderia dar lugar ˆ abertura
do inquŽrito se o crime fosse pœblico, o que n‹o Ž. Portanto, s— h‡ abertura de inquŽrito depois
da queixa (o crime Ž semipœblico).
Qual a diferen•a entre queixa e denœncia? ÒTodas as queixas s‹o denœncias, mas nem todas
as denœncias s‹o queixasÓ Ð desde logo porque a queixa Ž uma forma de denœncia, Ž um conceito
mais restrito. Uma forma de denœncia que vale apenas para os crimes particulares e semipœblicos
Ð o conceito de queixa Ž mais restrito. A queixa Ž uma forma de denœncia que vale para os crimes
semipœblicos e particulares. ƒ importante perceber que a queixa s— pode ser apresentada por quem?
N‹o Ž s— pelo ofendido Ð Ž por quem for titular desse direito; em regra (artigo 113.¼/1) Ž o ofendido,
mas n‹o nos restringimos a esta previs‹o; Ž tambŽm titular do direito de queixa, se o ofendido morrer
(n.¼3); no n.¼ 4 temos a situa•‹o de um incapaz; e ainda o nœmero 5 Ð independentemente de tudo o
que vimos, o CP diz ainda que nos casos em que o procedimento dependa de queixa, admite-se que
MP possa dar inicio ao prazo de 6 meses a contar da data em que tiver tido conhecimento do facto e
dos seus autores sempre que o interesse do ofendido o aconselhar e, al’neas a), b) Ð quando dizemos
que Ž apresentada pelo ofendido, isso Ž a regra, mas depois temos outras hip—teses no artigo e a
hip—tese do n.¼ 5 em que se admite que o MP inicie o processo, apesar da natureza do crime, se
o interesse do ofendido o aconselhar e se se verificar uma destas al’neas.

A queixa s— pode ser apresentada por um destes titulares do direito que est‹o no artigo 113.¼-
Quanto ˆ denœncia, artigo 241.¼ - artigos 244.¼ e 242.¼. Em regra, a denœncia Ž facultativa e pode ser
apresentada por qualquer pessoa; s— h‡ obriga•‹o de denunciar nos casos do artigo 242.¼ (entidade
policial em rela•‹o a qualquer crime de que tome conhecimento ou a um funcion‡rio naqueles termos).
A denœncia Ž facultativa, pode ser apresentada por qualquer pessoa, s— Ž obrigat—ria nos casos do
artigo 242.¼.
Em rela•‹o ˆ denœncia n‹o se prev• nenhum prazo na lei; a queixa tem de ser apresentada no
prazo de 6 meses a contar do conhecimento (artigo 115.¼ CP).

Assim sendo, resposta ˆ primeira quest‹o Ð principio da legalidade no seu primeiro momento
(explicar). Mas efetivamente, assim como lemos que o primeiro momento est‡ previsto no artigo
262.¼/2, essa norma tambŽm se reporta a exce•›es Ð a obriga•‹o de abrir inquŽrito existe, sim, mas

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s— existe depois de haver queixa apresentada por quem for titular desse direito. Isto porque o crime em
causa Ž semipœblico e, como tal, exige que o ofendido apresente queixa. Se Humberto o fizer, o MP
estaria obrigado a abrir inquŽrito. Se n‹o apresentasse queixa, havendo apenas denœncia de
Guilherme, o MP n‹o podia abrir inquŽrito, tendo de aguardar pela queixa (referir tambŽm a diferen•a
entre o instituto da queixa e o instituto da denœncia.

2. Ap—s a queixa, o MinistŽrio Pœblico abriu inquŽrito e recolheu ind’cios suficientes da


pr‡tica do crime e de quem foi o seu agente.(
2.1. O MinistŽrio Pœblico tem o dever de acusar?(
2.2. Haveria, no caso, alguma alternativa ˆ dedu•‹o de acusa•‹o?

Explica-se agora o principio da legalidade no seu segundo momento Ð obriga•‹o de acusar


(artigo 283.¼/1). O que significa a express‹o ind’cios suficientes? O nœmero 2 desta norma refere-se a
este conceito. Ou seja, qual o critŽrio da sufici•ncia indici‡ria? Quem tal avalia Ž o MP, pedindo-se que
este fa•a um ju’zo de prognose Ð que se coloque mais ˆ frente no processo e se questione se Ž mais
prov‡vel uma condena•‹o do que uma absolvi•‹o. Se a resposta for sim, Ž mais prov‡vel a
condena•‹o, h‡ ind’cios suficientes.

Na quest‹o 2.2. questiona-se se h‡ alternativa ˆ dedu•‹o de acusa•‹o Ð na primeira aula pr‡tica,


quando vimos a tramita•‹o do processo comum no esquema mais detalhado, a fase de inquŽrito pode
terminar com despacho de acusa•‹o ou arquivamento; mas h‡ alternativas Ð mecanismos de
divers‹o. Temos duas alternativas ˆ acusa•‹o, o que mostra que h‡ ind’cios suficientes quando se
aplica estes institutos. Se n‹o houver ind’cios suficientes da pr‡tica do crime, pura e simplesmente
arquiva-se o inquŽrito (artigo 277.¼). nestes dois casos isso n‹o acontece Ð h‡ ind’cios. mas o MP n‹o
acusa, decide-se por um destes mecanismos.

Notas comuns aos dois institutos do arquivamento em caso de dispensa de pena (artigo 280.¼) e
suspens‹o do processo (artigo 281.¼) Ð s‹o cinco:
¥ S‹o alternativas ao despacho de acusa•‹o, ou seja, aplicam-se nos casos em que o MP
entende que existem ind’cios suficientes da pr‡tica do crime e de quem foi o seu agente; mas
em vez de acusar faz uso destes mecanismos;
¥ Aplicam-se aos casos de pequena e mŽdia criminalidade Ð mŽdia criminalidade, crimes
pun’veis com pena atŽ 5 anos, pequena criminalidade crimes pun’veis com pris‹o atŽ 1 ano.
O artigo 280.¼ permite aplica•‹o a penas pun’veis com pena de pris‹o atŽ 6 meses e o artigo
281.¼ a crimes pun’veis com pris‹o atŽ 5 anos;
¥ S‹o ambos os institutos forma de dar express‹o a um coeficiente de oportunidade Ð ou
seja, estamos a dizer que se isto fosse uma ideia de legalidade estrita duas uma uma: havia
ind’cios acusava-se, n‹o havia arquivava-se. O que aqui dizemos Ž que apesar de haver
ind’cios podemos aplicar um destes mecanismos. Isto n‹o significa afastar o principio da
legalidade Ð houve esta polŽmica; O Dr. Costa Andrade vem dizer que h‡ uma flexibiliza•‹o

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deste principio no sentido de uma legalidade aberta, mas continua a ser legalidade, desde logo
porque a aplica•‹o destes institutos faz-se dentro dos limites impostos pela pr—pria lei, como
ali‡s implicam prosseguir um programa pol’tico-criminal definido pela pr—pria lei. Ainda que
signifiquem a introdu•‹o de uma flexibiliza•‹o, n‹o implicam um afastamento do principio da
legalidade;
¥ S‹o mecanismos de divers‹o Ð no sentido de divergir; porque a aplica•‹o destes institutos
implica divergir do sistema formal de aplica•‹o da justi•a penal (o sistema indicaria que se
houvesse ind’cios Ð acusa•‹o; se n‹o houvesse Ð arquivamento). Estes mecanismos implicam
uma diverg•ncia ao sistema formal. O artigo 280.¼ representa um mecanismo de divers‹o
simples Ð porque o MP est‡ a antecipar uma situa•‹o que podia ocorrer no fim do
julgamento que Ž a dispensa de pena (pensa que n‹o vale a pena desenvolver o processo;
aplica-se o instituto e Ž encerrado o processo). Coisa diferente acontece com o instituto do
artigo 281.¼ - Ž uma solu•‹o de divers‹o com interven•‹o porque nos casos da suspens‹o
provis—ria do processo, nœmero 2 do artigo 281.¼, v‹o ser aplicadas ao arguido injun•›es/
regras de conduta Ð ou ele cumpre e o processo extingue-se; ou n‹o cumpre e acusa-se (o
que se ia fazer e n‹o se fez porque se entendeu que se podia resolver de forma divertida, vai
se fazer Ð nœmero 3. Quando se diz no nœmero 4 que o processo prossegue, prossegue com
a acusa•‹o Ð que Ž aquilo que n‹o se fez. Durante quanto tempo fica o processo suspenso
para verificar se ele cumpre as regras? ƒ o juiz que fixa as regras e o prazo, prazo este que
pode ser atŽ 2 anos, via de regra; h‡ situa•›es especiais em que pode ir atŽ 5 anos.
¥ S‹o solu•›es consensuais Ð nota do consenso; exige-se acordo entre os diferentes sujeitos
processuais. Mas h‡ tambŽm uma diferen•a Ð h‡ um consenso limitado no caso do artigo
280.¼ - t•m de concordar o juiz de instru•‹o e o MP, se o instituto for aplicado durante a fase
de inquŽrito (Ž mais limitado ainda na fase de inquŽrito); se for aplicado na fase da instru•‹o
tem de concordar tambŽm o arguido, em conjunto com o MP e o juizÐ e um consenso alargado
nos casos do artigo 281.¼ - porque aqui exige-se que haja concord‰ncia de 4 sujeitos
processuais, juiz de instru•‹o, MP, arguido e assistente (se houver, por isso Ž que apesar
de por vezes n‹o ser necess‡ria a sua constitui•‹o, esta pode ser importante. Se alguŽm n‹o
se constituir assistente n‹o vem ser chamado para dar o seu consenso na aplica•‹o deste
instituto).

Porque Ž que nos termos do artigo 280.¼/2 se pede o consenso do arguido? O legislador pensa
que durante o inquŽrito, antes da acusa•‹o, como a fase de inquŽrito era em regra secreta, n‹o era
necess‡rio ouvir o arguido porque n‹o havia conhecimento pœblico de que ele era arguido; quando a
regra da publicidade do processo era a de que a fase de inquŽrito era secreta a l—gica era esta. Depois
de haver inquŽrito ele pode pensar que quer ir a julgamento para se opor e defender-se. Agora n‹o Ž
assim Ð artigo 86.¼/1. Desde que o processo penal Ž todo ele em regra pœblico a distin•‹o entre o
nœmero 1 e n.¼ 2 n‹o far‡ sentido. A Dr. » Ana Pais indica que teria sentido exigir-se o consenso do
arguido tambŽm na fase do inquŽrito, apesar de n‹o se ter mexido nesses artigos.
Haveria no caso alternativa ˆ dedu•‹o de acusa•‹o? Sim, a suspens‹o provis—ria do processo;

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afastamento o arquivamento em caso de dispensa de pena, Ž que n‹o Ž poss’vel no crime de furto uma
vez que este Ž punido com pena de pris‹o atŽ 3 anos, n‹o admitiria dispensa de pena (nem olh‡vamos
para os outros requisitos Ð aten•‹o que teriam de se verificar TODOS os requisitos da dispensa
de pena, artigo 74.¼). Aqui esbarr‡vamos logo no requisito formal. Seria aplic‡vel, eventualmente,
o artigo 281.¼.
J‡ dissemos que Ž o artigo 281.¼ aplic‡vel para crimes pun’veis com pena de pris‹o atŽ 3 anos,
j‡ vimos que tem de haver um consenso alargado, etc., mas tudo isto Ž aplic‡vel ao instituto da
suspens‹o provis—ria do processo em sentido pr—prio. Mas h‡ casos especiais de suspens‹o
provis—ria do processo (n.¼ 7, 8 e 9). O nœmero 7 prev• um caso especial de suspens‹o para o
crime de viol•ncia domŽstica, artigo 152.¼ (remeter); no n.¼ 8 temos outro caso especial de suspens‹o
provis—ria do processo para as situa•›es de crimes sexuais praticados contra menores - artigo
163.¼ ss, crimes contra a liberdade e autodetermina•‹o sexual, mais concretamente o artigo 178.¼, que
diz que os crimes previstos nos artigos 163.¼ a 165.¼, 167.¼, 168.¼ e 170.¼ dependem de queixa, s‹o
crimes de natureza semipœblica, salvo se forem praticados contra menor ou deles resultar suic’dio ou
a morte da vitima; ou seja, se forem praticados contra menor t•m natureza pœblica.
O crime de viol•ncia domŽstica Ž pœblico. Discute-se se deviam estes dois crimes ser crimes
pœblicos ou semipœblicos (j‡ foram ambos); sendo crimes pœblicos h‡ sempre quest›es relacionadas
com a segunda vitimiza•‹o que o processo pode implicar (processo por correr contra a vontade da
vitima). Quando isto ocorre h‡ sempre a quest‹o sobre se este crime devia ter natureza pœblica Ð Ž
mais f‡cil defender social e politicamente que os crimes s‹o pœblicos, mas isso pode n‹o ser a melhor
resposta para as vitimas. O que tem isto a ver com a suspens‹o provis—ria? Tudo Ð diz-se no nœmero
7 que a suspens‹o em caso de viol•ncia pode ser aplicada mediante requerimento da vitima
pode ser determinada a suspens‹o provis—ria do processo; salta-se a al. a) Ð nem se exige que a
vitima seja assistente; desde que ela requeira o instituto Ž aplicado. No outro caso nem se exige
concord‰ncia da vitima porque Ž menor. Nestes casos est‡-se a pensar no interesse das vitimas; esta
Ž uma forma de tentar responder com este instituto ao problema que pode ter sido gerado com o facto
do crime ser pœblico Ð existe processo sempre que haja noticia do crime; se houver ind’cios o MP
acusa. E se isso n‹o for o melhor para a vitima? Tem de acusar, n‹o pode n‹o avan•ar com o processo.

Portanto, para os casos dos nœmeros 7 e 8 - acontece que a lei dispensa no caso do n.¼ 8 a
concord‰ncia do assistente, no caso do n.¼ 7 dispensa a concord‰ncia do assistente e basta o
requerimento da vitima. Porque Ž que o legislador Ž menos exigente nestes crimes do que no restante
do instituto? Por causa da sua natureza pœblica; Ž a forma de dar alternativa de mais f‡cil aplica•‹o
deste instituto, porque s‹o crimes que implicam grande sofrimento da vitima. As vitimas podem ver
resolvido o conflito penal por esta via. No n.¼ 8 Ž o MP que promove a aplica•‹o do instituto se entender
que isso Ž o que melhor satisfaz o interesse da vitima menor.
Estes nœmeros n‹o se aplicavam no nosso caso.

Serve isto como uma v‡lvula de escape do sistema em fun•‹o da natureza dos crimes Ð Ž
uma forma de p™r fim ao processo por for•a dos crimes serem pœblicos. Se o crime for particular

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o assistente ainda pode desistir da queixa, nos termos do artigo 116.¼. Se for semipœblico ou
particular, como Ž que um particular que n‹o quer o processo lhe pode por fim? Desiste; se o crime
for pœblico n‹o h‡ nada para desistir porque n‹o h‡ queixa nem acusa•‹o particular, vale o
principio da imutabilidade da acusa•‹o pœblica Ð depois de deduzida esta n‹o pode ser retirada,
sendo necess‡ria uma solu•‹o; n‹o havia forma de por fim ao processo mesmo quando o interesse do
ofendido o aconselhava, pelo que temos esta v‡lvula de escape.
No instituto da suspens‹o do processo est‹o em causa os interesses do arguido Ð evitar a sua
submiss‹o a julgamento porque Ž poss’vel resolver o conflito de forma alternativa (pequena e
mŽdia criminalidade, h‡ consenso entre todos os sujeitos processuais). Mas n‹o Ž isto que est‡ em
causa nos casos especiais Ð estes n‹o t•m em vista isto. Apesar de estarem inseridos neste mesmo
instituto, obedecem a uma l—gica distinta desta. A preocupa•‹o aqui Ž com as vitimas Ð viol•ncia
domŽstica e crimes sexuais contra menores. Estes dois casos especiais dos nœmeros 7 e 8 t•m direta
rela•‹o com a op•‹o que o legislador faz quanto ˆ natureza destes crimes Ð s‹o crimes pœblicos.
Se pensarmos na promo•‹o do processo, quando o crime Ž pœblico, esta come•a com a aquisi•‹o
da noticia do crime por qualquer forma. E se a vitima n‹o quiser o processo, pode fazer alguma coisa?
N‹o Ð n‹o esteve nas suas m‹os o impulso pelo que n‹o est‡ nas suas m‹os por termo ˆquele
processo. Mas o legislador pensa que a exist•ncia do processo pode ser contr‡ria aos interesses
da vitima, ent‹o tenta arranjar uma v‡lvula de espace do sistema Ð suspens‹o provis—ria do
processo. Permitem-se que no fim do inquŽrito a requerimento da vitima n‹o se acuse e se fa•a coisa
diferente Ð que se aplique a suspens‹o provis—ria do processo. H‡ um outro caso especial que j‡
obedece a l—gica diferente Ð n.¼ 9. Falamos de furtos, artigo 203.¼, e mais uma vez se dispensa
concord‰ncia do assistente para furtos que ocorrem em estabelecimento comercial, durante o
per’odo de abertura ao pœblico e relativo a coisas m—veis de valor diminuto, se tiver havido
recupera•‹o imediata destas Ð remeter do n.¼ 9 para a norma do CP que alterou tambŽm a sua
natureza quanto a estes crimes (artigo 207.¼/2 e vice-versa). O artigo 207.¼/2 torna estes crimes
particulares, mas depois vem tirar-lhe o tapete com este nœmero 9 Ð permite-se que apesar de ser
particular se dispense a concord‰ncia do assistente, nas m‹os de quem se p™s a iniciativa processual.
Dissemos que nos casos dos n.¼s 7 e 8 os crimes s‹o pœblicos e n‹o h‡ como a vitima opor-se ao
desenvolvimento e continua•‹o do processo. Se for semipœblico ou particular? Nesse caso o particular,
a vitima que queria opor-se ao andamento do processo, impedir que continue, pode desistir da queixa.
Se for crime particular pode desistir da acusa•‹o particular? Sim Ð artigos 113.¼,116.¼ e 117.¼.
A desist•ncia de queixa Ž poss’vel nos termos do artigo 116.¼ com uma norma do CPP Ð
suponhamos que somos ofendidos, o crime semipœblico e apresent‡mos queixa. Agora entendemos
que n‹o queremos andar com o processo e queremos desistir da queixa. Isto est‡ nas nossas m‹os
exclusivamente? N‹o Ð Ž necess‡rio que n‹o haja oposi•‹o do arguido (artigo 51.¼ CPP, nœmero
3). ƒ preciso que a desist•ncia n‹o tenha oposi•‹o do arguido. Nos crimes pœblicos isso n‹o Ž poss’vel
Ð se n‹o dependem de queixa nem acusa•‹o particular, n‹o se vai desistir do que n‹o se faz; nem Ž
poss’vel porque vale um principio no caso dos crimes pœblicos que Ž o principio da imutabilidade da
acusa•‹o pœblica Ð significa que a acusa•‹o pœblica, deduzida pelo MP, Ž imut‡vel, n‹o podendo haver
nem renuncia nem desist•ncia da acusa•‹o.

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Aula 6 Ð 5 de maio de 2020

Aten•‹o na abordagem que fazemos ao instituto do artigo 280.¼ Ð tem como epigrafe
ÒarquivamentoÓ, mas n‹o Ž um arquivamento que se assemelha ao do artigo 276.¼, o arquivamento
propriamente dito; a’ n‹o h‡ ind’cios suficientes da pr‡tica do crime; aqui h‡, mas Ž um caso de
dispensa de pena, quando se verificarem os seus requisitos do artigo 74.¼. O MP faz um ju’zo no
final do inquŽrito deste tipo Ð se este processo pode culminar com a aplica•‹o da dispensa de pena,
ent‹o para qu• submeter a julgamento. Acabamos com a dispensa de pena j‡, aplicando este instituto
com o arquivamento em caso de dispensa de pena que permite antecipar a solu•‹o para o momento
do final do inquŽrito.

Na suspens‹o do processo se n‹o forem cumpridas as regras de conduta, como vai


prosseguir o processo? O MP vai acusar; sai frustrada a aplica•‹o do instituto pelo que o MP
faz o que faria Ð acusar.
Est‡vamos a tratar os casos especiais de suspens‹o provis—ria do processo Ð nœmeros 7,8 e 9

3. Suponha agora que o autor do crime foi Igor, irm‹o de Humberto. Quem decidiria, neste
caso, sobre a dedu•‹o de acusa•‹o?

Agora temos uma novidade, falamos de um crime praticado entre familiares Ð isso vai ter algum
interesse? T’nhamos resolvido o caso com base no artigo 203.¼, mas o 207.¼ em algumas situa•›es,
uma delas Ž esta Ð em que o agente Ž parente da vitima Ð, indica que o procedimento criminal
depende de acusa•‹o particular. Por causa de ter sido praticado pelo irm‹o o crime torna-se
particular e isso muda a resposta que t’nhamos dado. Se Ž particular constitui exce•‹o ao princ’pio
da oficialidade e, portanto, como tal era preciso que Humberto 10 dias depois de advertido de que o
crime Ž particular se constitu’sse assistente, como j‡ vimos. E assim era aberto inquŽrito e seria
obrigado o MP abri-lo. O MP faz investiga•‹o, chega ao fim e notifica o assistente (artigo 285.¼) e ele
tem 10 dias para deduzir acusa•‹o particular. Sendo que o MP depois de deduzida acusa•‹o particular
podia tambŽm acusar pelos mesmos factos, parte deles ou outros que n‹o demonstrem altera•‹o
substancial.

Mas ainda temos de dizer mais alguma coisa Ð as nossas perguntas anteriores tinham a ver com
possibilidade de aplica•‹o de alternativas ˆ acusa•‹o. E aqui, Ž poss’vel aplicar alternativa? Se o
crime for semipœblico ou particular continua a ser poss’vel recorrer aos institutos dos artigos
280.¼ e 281.¼? Chegamos ao fim do inquŽrito e j‡ sabemos que se Ž particular notifica o assistente para
querendo deduzir acusa•‹o; e em vez de acusar Ž poss’vel aplicar aqueles institutos? Temos de
distinguir os crimes semipœblicos dos particulares. Quanto aos semipœblicos, a quem cabe no fim
do inquŽrito deduzir acusa•‹o? MP. Quem vai promover aplica•‹o de um destes institutos? O MP Ð
tudo se passa como nos crimes pœblicos. Se o MP em vez de acusar achar que faz mais sentido aplicar
os institutos prop›e Ð a resposta Ž evidente, tudo se passa nos mesmos termos dos crimes pœblicos

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porque quem deduz acusa•‹o ou arquiva Ž o MP.

Agora, a quest‹o coloca-se se o crime for particular Ð a’ quem tem de acusar Ž o assistente.
H‡ quem diga que se se chega ao fim e a decis‹o de acusar ou n‹o n‹o Ž do MP ent‹o isto n‹o
se aplica, j‡ n‹o se pode aplicar o 280.¼ ou 281.¼.
7
A posi•‹o da Dr.» Maria Jo‹o Antunes Ž: pode sim; porque Ž que n‹o h‡-de poder? Vai no sentido
de admitir a aplica•‹o dos institutos mesmos quando os crimes s‹o particulares. Se Ž
pressuposto do artigo 281.¼ a concord‰ncia do assistente, ent‹o, se ele em vez de acusar aderir a
uma mostra de suspens‹o provis—ria porque n‹o se pode aplicar? No artigo 281.¼ se o MP notifica
se recolheu ou n‹o ind’cios, se der nota para que se aplique este instituto, porque n‹o avan•ar? Coisa
diferente ou mais dif’cil de defender ser‡ o artigo 280.¼ Ð porque n‹o Ž necess‡ria concord‰ncia
do assistente.
Mesmo no caso do artigo 280.¼ a Dr.» Maria Jo‹o Antunes entende que Ž defens‡vel a sua aplica•‹o
no caso dos crimes particulares. Quer porque politico criminalmente Ž uma boa solu•‹o Ð se Ž um caso
que permite dispensa Ž atŽ 6 meses e se ainda por cima Ž o crime particular, Ž uma decis‹o que se
deixou nas m‹os do particular, o Estado tem menos interesse em prosseguir com o processo; e
quando dizemos que o assistente Ž que tem de acusar, isto n‹o significa que ele tenha um direito
a um julgamento. H‡ uma promo•‹o processual nas suas m‹os, mas isso n‹o significa que tenha
direito ao julgamento Ð ele pode acusar e depois da acusa•‹o particular requerer a fase da instru•‹o
que pode acabar com n‹o pronœncia. N‹o h‡ um direito ao julgamento Ð o andamento do processo
pode n‹o lhe permitir chegar a julgamento. Por todos estes argumentos a Dr.» Maria Jo‹o entende que
Ž defens‡vel a aplica•‹o do artigo 280.¼ mesmo que o crime seja particular.
Mesmo nos crimes particulares (nos semipœblicos tudo se passa como nos pœblicos) onde podia
haver dœvidas sobre aplica•‹o destes institutos porque quem acusa Ž o particular, estes mecanismos
s‹o de poss’vel aplica•‹o, desde que o assistente concorde. Ou no caso do artigo 280.¼ mesmo
que n‹o concorde. Neste caso j‡ sab’amos que s— fazia sentido problematizar a prop—sito do artigo
281.¼.
Resposta Ð n‹o Ž pelo facto deste crime ser particular que fica impedida a possibilidade de
recorrer ao artigo 281.¼.

4. No final do inquŽrito foi deduzida acusa•‹o. Como poderia o arguido reagir


processualmente?

Temos que a equacionar quer o cen‡rio inicial fosse de crime semipœblico, em que a acusa•‹o
seria proferida pelo MP, nos termos do artigo 283.¼, quer o crime fosse particular e acusa•‹o fosse
deduzida pelo assistente. Mas para o caso Ž indiferente. Em qualquer dos casos qual seria o
mecanismo de controlo ao dispor do arguido para por em causa essa decis‹o de acusar, fosse ela do
MP ou do assistente? Requer a abertura da instru•‹o Ð artigo 287.¼/1 al. a) para os dois casos.

7
P‡ginas 96 e seguintes do manual.

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A INSTRU‚ÌO

Quando dizemos que h‡ um mecanismo de controlo judicial, Ž isso que carateriza a fase da
instru•‹o. ƒ uma fase de controlo judicial de qu•? Vejamos a norma do artigo 286.¼. quanto ˆ
finalidade, qual a express‹o usada pelo legislador? Comprova•‹o judicial. ƒ isso que est‡ em causa
quando se fala da instru•‹o Ð Ž uma fase de controlo judicial. Mas de qu•?

Hç TENDæNCIA (dos alunos) PARA DIZER QUE SE REQUER PARA CONTROLAR


JUDICIALMENTE. MAS JUDICIALMENTE O QUæ? N‹o podemos falar de uma forma genŽricas no
controlo do MP Ð o MP Ž uma magistratura aut—noma; e o juiz de instru•‹o tambŽm n‹o Ž um superior
hier‡rquico do MP. Ele n‹o vai controlar a atividade, mas a decis‹o tomada no final do inquŽrito.
No limite esta decis‹o atŽ pode nem ser do MP Ð no nosso nœmero 2 em que o crime Ž particular a
acusa•‹o nem foi proferida pelo MP, mas pelo particular e pode tambŽm haver instru•‹o. Muita aten•‹o
a isto - Ž um controlo judicial da decis‹o tomada no fim do inquŽrito qualquer que ela seja e por
quem quer que seja. Tem a finalidade de servir para controlar judicialmente a decis‹o, nada mais que
isso.

Veremos nas li•›es que h‡ uma discuss‹o Ð havia quem falasse na instru•‹o como sendo um
suplemento aut—nomo de investiga•‹o. A investiga•‹o faz-se na fase de inquŽrito, mas quando
houvesse esta (instru•‹o) era tambŽm para investigar suplementarmente. Esta ideia Ž errada Ð n‹o Ž
para isso que serve a instru•‹o. Isso resulta desde logo do artigo 286.¼, mas n‹o s—. Para alŽm do
artigo 286.¼ temos v‡rios argumentos Ð outro Ž o pr—prio carater facultativo da instru•‹o; se ela Ž
facultativa quer dizer que s— h‡ investiga•‹o suplementar nalguns casos? Se ela Ž suplemento
aut—nomo de instru•‹o dizemos que s— a h‡ nalguns casos, o que n‹o tem sentido. E mais Ð h‡
outra norma que demonstra que n‹o Ž verdade que a instru•‹o serve para investigar mais que Ž o
artigo 309.¼, uma norma sobre a decis‹o instrut—ria que diz que ela Ž nula sempre que pronunciar
por factos que constituem altera•‹o substancial. Ou seja, onde est‡ fixado o objeto do processo?
S‹o os factos que v‹o a julgamento; onde Ž fixado pela primeira vez o objeto? Na acusa•‹o, seja do
MP seja do assistente. ƒ a’ que se balizam os factos que devem ser submetidos a julgamento, Ž
a’ que se comp›e o objeto do processo. E no ‰mbito da instru•‹o pode-se alterar o objeto do
processo? N‹o ou a decis‹o Ž nula.

Ou seja, se n‹o podem acrescentar outros factos que n‹o estavam na acusa•‹o ent‹o Ž porque ela
n‹o Ž suplemento aut—nomo de investiga•‹o.
Os artigos 286.¼/1, 286.¼/2 e 309.¼/1 s‹o normas que revelam a natureza da fase da instru•‹o
como sendo de controlo judicial.

Agora, Ž verdade que ao longo do tempo as altera•›es ao CPP t•m posto em causa esta ideia, t•m
desvirtuado este car‡ter da instru•‹o como mera fase de controlo judicial Ð artigo 289.¼/2 que fala da
possibilidade de haver contradit—rio no ‰mbito dos atos da instru•‹o; caso tambŽm do regime do

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artigo 303.¼/3 e 4 Ð porque apesar do que vimos quanto ˆ nulidade da decis‹o que pronuncia que factos
que importam altera•‹o substancial, Ž verdade que nestes artigos se permite que apesar de n‹o
poderem ser considerados esses novos factos, Ž poss’vel que se reencaminhem esses factos e seja
aberto novo processo, um processo aut—nomo.

Estas notas conjugadas ainda com o artigo 303.¼/5 que aplica ao regime da alterca•‹o da
qualifica•‹o jur’dica o mesmo regime do julgamento Ð quando um juiz n‹o concorda com a qualifica•‹o
jur’dica que resulta da acusa•‹o (por exemplo, a acusa•‹o diz q Ž homic’dio simples mas o juiz acha
que Ž qualificado) est‡ nos termos do artigo 303.¼/5 equiparado. ƒ verdade que apesar de continuamos
a dizer que a instru•‹o n‹o Ž um suplemento aut—nomo de investiga•‹o, as altera•›es ao CPP
suscitam-nos cada vez mais duvidas sobre o que quer o legislador Ð parece estar a desfigurar a fase
da instru•‹o. No entanto, no entendimento da Dr.» Ana Pais, esta tend•ncia a que se tem assistido de
altera•›es que produzem este efeito n‹o permitem ainda que se diga que a instru•‹o serve para
outra coisa que n‹o a de controlo judicial da decis‹o tomada no fim do inquŽrito Ð seja ela tomada
8
pelo MP, seja pelo assistente.

5. Poderia o MinistŽrio Pœblico encerrar o inquŽrito com um despacho de arquivamento? Com


que fundamento? Como poderia o assistente reagir a este despacho?

O que temos que configurar? Quais as causas de arquivamento. E aqui sim falamos de
arquivamento propriamente dito, previsto no artigo 277.¼. O que pode ser causa de arquivamento?
Temos tr•s partes quanto ˆ causa de arquivamento:
1. Prova bastante de n‹o se ter verificado crime Ð arquiva o MP.
2. Arguido n‹o o ter praticado Ð houve crime, mas o arguido X n‹o interveio em qualquer
conduta que possa reconduzir-se ao tipo legal de crime; pelo menos quanto a esse arguido
arquiva-se;
3. Ou ser legalmente inadmiss’vel o procedimento Ð exemplos: crime particular, foi
apresentada queixa, mas n‹o houve constitui•‹o de assistente; em principio nem se devia
ter aberto inquŽrito. Mas mesmo que se tivesse aberto, o MP deve notificar o ofendido para se
constituir assistente. Imaginemos, por exemplo que s— se descobriu mais tarde que a pessoa
que praticou o crime Ž irm‹o, que furtou Ð s— a’ se notifica o assistente; se n‹o se constituir
arquiva-se, Ž inadmiss’vel o procedimento. No momento em que n‹o h‡ constitui•‹o de
assistente arquiva-se. Outro exemplo em que o crime Ž particular e o MP vai arquivar Ð quando
o assistente n‹o deduz acusa•‹o. Faz-se investiga•‹o, chega-se ao fim do inquŽrito e o MP
notifica o assistente para ele em 10 dias acusar e ele n‹o acusa. O MP arquiva com este
fundamento. Fora dos crimes particulares veja-se este exemplo Ð situa•‹o em que o furto que
se pensava ser um crime pœblico por algum motivo se vem a provar que n‹o Ž e n‹o houve
queixa. Mas e se for pœblico? (se a pessoa que praticou o crime morreu, por exemplo); ou se

8
Ler todas as normas do cap’tulo da instru•‹o.

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o procedimento criminal prescreveu (outro exemplo de procedimento legalmente inadmiss’vel).


Ou seja, causas de arquivamento juridicamente h‡ estas tr•s situa•›es, mas depois temos de
pensar em exemplo que se possam reconduzir a elas. ƒ muito mais f‡cil configurar exemplos
quando os crimes s‹o semipœblicos ou particulares, mas tambŽm se podem verificar no caso
de crimes pœblicos (motivos que podem levar ao arquivamento).

No caso: o crime Ž particular, e sendo-o, o que pode motivar o arquivamento pelo MP? A n‹o
dedu•‹o de acusa•‹o particular. MP pode arquivar. E agora? Com que fundamento? Artigo 277.¼/1
œltima parte, ser legalmente inadmiss’vel procedimento.

Como poderia o assistente reagir a este despacho? Sempre que temos uma decis‹o de
acusa•‹o j‡ sabemos que h‡ um mecanismo de controlo judicial que Ž o de abertura da instru•‹o. Mas
quando a decis‹o Ž de arquivar h‡ 2 mecanismos de controlo:
Interven•‹o hier‡rquica Ð artigo 278.¼. S— Ž poss’vel quando a decis‹o for de arquivamento.
Diz-se aqui que o superior hier‡rquico pode determinar que seja formulada a acusa•‹o.
Ou que as investiga•›es prossigam. Se o que o superior pode fazer Ž mandar acusar ou
continuar a investiga•‹o Ž porque a decis‹o anterior, de que se reagiu, foi de arquivamento.
Mecanismos de controlo da decis‹o tomada no fim do inquŽrito Ð se a decis‹o for de
acusa•‹o s— temos o requerimento da abertura de instru•‹o (artigo 277.¼); se for arquivamento
temos ainda um mecanismo que Ž o controlo judicial, o requerimento de abertura de instru•‹o,
artigo 277.¼. H‡ uma diferen•a importante quanto ˆs possibilidades de rea•‹o.

A interven•‹o hier‡rquica s— funciona como mecanismo de controlo nos casos em que houve
arquivamento.

Agora, se o crime Ž particular, se houve arquivamento, poderia o assistente reagir? Como? Sendo
o crime particular e se tiver sido arquivado porque ele n‹o deduziu acusa•‹o, em principio ele
pode requer abertura da instru•‹o? N‹o Ð por um lado n‹o porque a lei o diz no artigo 287.¼/1, b).
H‡ outro argumento Ð n‹o faz sentido, se cabe a ele decidir de acusa ou n‹o, vai agora ele pedir
a juiz que controle a sua pr—pria decis‹o? Em principio n‹o pode Ð em princ’pio porque a Dr.» Maria
Jo‹o Antunes alerta para a possibilidade de se verificarem situa•›es em que deve admitir-se
que o assistente possa faz•-lo. Quais? Por exemplo se o assistente n‹o for notificado para naquele
prazo deduzir acusa•‹o (imaginemos que o MP n‹o se apercebeu de que Igor Ž irm‹o de Humberto.
E chega ao fim do inquŽrito e em vez de notificar para acusar arquiva; e o Humberto sabe que devia
ter sido ele a decidir se havia acusa•‹o ou n‹o e n‹o lhe deram essa oportunidade; h‡ um erro do MP
ao n‹o se aperceber que o crime Ž particular e ao n‹o fazer o que devia ter feito Ð notificar o assistente.
E se n‹o permitirmos que o assistente reaja nomeadamente permitindo-se abertura da instru•‹o, como
Ž que se corrige este erro? N‹o se corrige Ð devemos, no artigo 287.¼/1, perceber que o que estava na
mente do legislador; o Òse o procedimento n‹o dependeÓ diz respeito ˆs situa•›es em que o assistente
foi devidamente notificado, o crime Ž efetivamente particular e no prazo em que se impunha n‹o

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acusou. Se n‹o o fez n‹o deve agora permitir-se que venha promover o andamento do processo contra
os ditames legais. Isto Ž assim nos casos em que o assistente foi devidamente notificado nos
termos do artigo 285.¼. Agora quando n‹o foi tem de se permitir que requeira abertura da instru•‹o
sob pena de n‹o conseguir reagir contra um erro do MP.

6. Encerrada a instru•‹o, foi proferido despacho de pronœncia. Poderia o arguido recorrer de


tal despacho?

Quanto a isto, uma primeira nota importante Ð estamos a falar de recursos. S— foi dado este ponto,
apesar de ser sobre recursos, porque Ž uma situa•‹o especifica, de recurso da decis‹o instrut—ria.
Quando Ž que o despacho instrut—rio assume esta forma de despacho de pronœncia? Artigo 308.¼/1.
Quando Ž o juiz pronuncia um arguido? Mais uma vez o critŽrio da sufici•ncia indici‡ria Ð o juiz
vai verificar se h‡ ou n‹o ind’cios suficientes em rela•‹o a tudo o que Ž pressuposto da condena•‹o.
O juiz de instru•‹o com o que tem vai ver se o que Ž mais prov‡vel acontecer no julgamento Ž
condena•‹o ou absolvi•‹o. Se for condena•‹o ent‹o ele pronuncia o arguido. Perante esta
evid•ncia, atŽ chegarmos aqui, falamos de meios de rea•‹o processual do MP ou do assistente
(despacho de arquivamento ou acusa•‹o particular). AtŽ aqui nunca fal‡mos de recursos porque nunca
falamos de decis›es judiciais. Agora, a decis‹o instrut—ria Ž uma decis‹o judicial, por isso Ž que
o meio de rea•‹o h‡-de ser o recurso Ð por isso falamos agora do recurso, que Ž um meio de
impugna•‹o de decis›es judiciais. Se assim Ž temos de saber algo sobre recursos e h‡ uma ideia
de base que vale em processo penal Ð principio da recorribilidade, artigo 399.¼; em processo penal
tudo Ž recorr’vel a n‹o ser que a lei diga o contr‡rio. Todas as decis›es judicias ser‹o em principio
recorr’veis a n‹o ser que a lei diga o contr‡rio e ela diz o contr‡rio em duas normas paradigm‡ticas:
Artigo 400.¼;
Artigo 310.¼, casos em que a decis‹o instrut—ria n‹o Ž recorr’vel.
Temos quatro hip—teses que podemos ter em qualquer situa•‹o. Como pode ter acabado o
inquŽrito? Acusa•‹o ou arquivamento. E a instru•‹o? Com despacho de pronœncia ou n‹o
pronœncia.
§ Acusa•‹o + pronœncia;
§ Acusa•‹o + n‹o pronœncia;
§ Arquivamento + pronœncia;
§ Arquivamento + n‹o pronœncia.

Destas quatro hip—teses s— de uma Ž que n‹o se pode recorrer. Artigo 310.¼ - destas
quatro, qual Ž a œnica em que haver‡ irrecorribilidade? Aquela em que h‡ acusa•‹o e
pronœncia; porque? O que justifica que o legislador tenha decidido que quando h‡ acusa•‹o
e despacho de pronœncia n‹o deve haver recurso? Pelo facto de termos duas decis›es no
mesmo sentido. Mas no arquivamento com n‹o pronœncia tambŽm temos duas decis›es no
mesmo sentido e posso recorrer.

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S— uma destas hip—teses Ž que vai poder fundamentar a irrecorribilidade e Ž a hip—tese em que
h‡ acusa•‹o com pronœncia. Porqu•? S‹o duas decis›es no mesmo sentido; e Ž verdade, mas
tambŽm no caso de arquivamento com n‹o pronuncia h‡ duas decis›es no mesmo sentido.
Temos de ver algo mais Ð s‹o duas decis›es no mesmo sentido, mas n‹o basta isto.
Pensemos, olhando para o artigo 310.¼ se tivermos acusa•‹o particular e pronœncia, tambŽm
h‡ duas decis›es no mesmo sentido e n‹o h‡ irrecorribilidade. S— h‡ irrecorribilidade quando
h‡ duas decis›es no mesmo sentido proferidas por duas magistraturas diferentes.
Quando temos uma pronuncia a que se segue acusa•‹o do MP a’ h‡ irrecorribilidade. Agora,
quando temos pronœncia quando antes s— houve acusa•‹o particular, a’ n‹o h‡
irrecorribilidade.

O nosso caso Ž uma situa•‹o de crime particular e, portanto, no fim do inquŽrito o assistente foi
notificado para, querendo, deduzir acusa•‹o. Parece ter sido deduzida e agora chegamos ao fim da
instru•‹o e temos decis‹o de pronœncia. Esta s— ser‡ irrecorr’vel se o MP tiver acompanhado; se a
acusa•‹o principal Ž do assistente, a particular, s— vai haver irrecorribilidade da decis‹o de pronœncia,
se ela tiver sido acompanhada por acusa•‹o pœblica do MP. O artigo 285.¼/4 tem um pode Ð h‡ quem
conteste se devia dizer s— pode ou deve nos casos em que o MP acusar, artigo 285.¼/2. H‡ quem
defenda que se o MP tiver dito ao assistente que recolheu ind’cios suficientes, ele devia estar sujeito a
um deve acusar ao abrigo do principio da legalidade. Mas a lei n‹o diz isto Ð Ž uma faculdade; quem
defende que n‹o devia ser um mero pode usa este argumento do artigo 310.¼ Ð h‡ consequ•ncias para
o facto do MP lan•ar m‹o desta faculdade ou n‹o? H‡ Ð Ž que se lan•ar m‹o desta faculdade pode
vir a inibir o recurso da decis‹o de pronœncia e isso Ž mais um argumento a favor da ideia de
que o MP quando recolhe ind’cios suficientes, sendo o crime Ž particular, deve acompanhar
acusa•‹o particular. Mas a lei diz pode, aten•‹o.

Se o MP acusar tambŽm o despacho de MP vai ser irrecorr’vel; se n‹o acompanhar a


acusa•‹o do assistente, a’ nunca vai haver irrecorribilidade. O legislador quer duas decis›es no
mesmo sentido de 2 magistraturas diferentes.

Mas porque Ž que no sentido do arquivamento com n‹o pronuncia n‹o se imp›e a
irrecorribilidade? A decis‹o de n‹o pronœncia continua a ser recorr’vel Ð a ideia do juiz natural Ž um
dos argumentos que Ž usado para fundamentar esta solu•‹o legal, o juiz de instru•‹o estaria a roubar
a causa ao juiz do julgamento, ao juiz que ir‡ calhar em sorte na decis‹o sobre a causa (h‡ quem
defenda isto). H‡ outro argumento que devemos ter em conta Ð quem estaria interessado em recorrer
depois de um arquivamento e de uma n‹o pronœncia? O assistente. Estamos a equacionar que este
assistente que estava descontente requer abertura da instru•‹o; a decis‹o Ž de n‹o pronœncia. Que
expediente teria ele para por em causa esta decis‹o se n‹o houvesse recuso? Nenhum Ð se n‹o lhe
dermos possibilidade de recorrer de um despacho de n‹o pronœncia as coisas acabavam a’.

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Enquanto num despacho em que h‡ irrecorribilidade quem estaria interessado em recorrer?


O arguido; e acaba aqui? Ele ainda vai a julgamento e ainda tem um grau de recurso, que h‡ sempre.
Nos tirarmos ao arguido a possibilidade de recorrer de um despacho de pronœncia que corrobora a
acusa•‹o, mas ele ainda tem um julgamento e um recuso para fazer valer a sua posi•‹o. Enquanto se
tir‡ssemos ao assistente a possibilidade de recorrer do despacho de pronœncia depois do arquivamento
ele n‹o tem mais nada.

Mas o processo penal n‹o existe para tutelar interesses particulares, dos assistentes Ð podemos
argumentar neste sentido. Mas n‹o deixa de ser verdade que se tiramos esta possibilidade ao
assistente lhe tiramos tudo enquanto o arguido tem outras fases processuais para fazer valer a sua
pretens‹o.

A Dr.» Maria Jo‹o Antunes defende esse entendimento de que deveria tambŽm ser irrecorr’vel a
decis‹o de n‹o pronœncia posterior ao arquivamento; n‹o Ž o que diz a lei, mas a Dr.» Maria Jo‹o n‹o
v• obst‡culos a que tambŽm neste caso houvesse irrecorribilidade.

Neste caso seria irrecorr’vel se a acusa•‹o particular tivesse sido acompanhada pelo MP nos
termos do artigo 285.¼/4.

MEIOS PROCESSUAIS

CASO PRçTICO 4
Joel, suspeito da pr‡tica de um crime de viola•‹o (artigo 164.¼, n.¼ 2, do C—digo Penal), foi
detido.

1. Um suspeito pode ser detido?

Temos um caso sobre medidas de coa•‹o e deten•‹o (p‡ginas 136 e seguintes do manual)

Coloca-nos esta quest‹o 1 perante um problema relativo ao meio processual da deten•‹o. Artigos
254.¼ e ss., figura da deten•‹o, temos que olhar para ela com algum cuidado. A que se destina este
instituto? Temos desde logo uma divis‹o entre deten•‹o em fragante delito Ð artigo 255.¼ - e fora de
fragante delito Ð artigo 256.¼. Estas s‹o as duas espŽcies de deten•‹o e isto relaciona-se com as
finalidades do instituto que est‹o reguladas no artigo 254.¼.

A deten•‹o Ž efetuada para uma de duas coisas Ð al. a). temos tr•s situa•›es Ð (1) ou Ž julgado
em processo sum‡rio (remeter para os artigos 381.¼ ss), (2) depois para ser presente a juiz
competente para primeiro interrogat—rio (artigo 141.¼) ou ent‹o (3) para aplica•‹o ou execu•‹o de
medida de coa•‹o, uma das medidas que veremos que est‹o reguladas nos artigos 196.¼ e ss (atŽ ao

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artigo 202.¼). Esta Ž uma primeira finalidade da deten•‹o; a segunda, al. b) Ð alguŽm faltou a uma
dilig•ncia, Ž preciso ir busca-lo para o obrigar a estar presente, faz-se mediante deten•‹o; a
diferen•a Ž que se for para uma das finalidades da al. a) a deten•‹o pode durar no m‡ximo 48 horas.
Se for para ser presente a MP ou juiz Ð 24h.

Temos depois duas espŽcies Ð flagrante delito e fora de flagrante delito. Em flagrante delito Ð
quem pode fazer a deten•‹o? AtŽ pode ser qualquer pessoa, se for em flagrante (b). Claro com uma
imposi•‹o Ð n‹o Ž para deter a pessoa e proceder a uma priva•‹o de liberdade a titulo privado; Ž para
entregar a uma das autoridades da al. a) de imediato. Com duas limita•›es Ð se o crime for semipœblico
ou pœblico (n.¼ 3) se for particular j‡ n‹o Ž poss’vel.

Imaginemos que vamos na rua e vemos A a insultar B, injœria Ð crime particular. Podemos deter A
em fragante delito (artigo 256.¼/1) para entregar ˆ policia? N‹o porque Ž um crime particular; isto resulta
do n.¼ 4. S— pod’amos identificar a pessoa, n‹o det•-la. Mas se for ofensa ˆ integridade f’sica simples
Ð o artigo 143.¼ diz que ofensa ˆ integridade f’sica simples Ž crime semipœblico. Podemos deter A? Se
o senhor B apresentar queixa, se se queixar, a’ pode haver deten•‹o; se n‹o essa deten•‹o j‡ n‹o Ž
poss’vel. Agora, se o que assistimos foi A a disparar sobre B (homic’dio tentado) Ð pœblico. H‡
limita•‹o? N‹o, podemos deter claro com a obriga•‹o do nœmero 2. A deten•‹o em flagrante delito
pode ser feita p qualquer pessoa e com obriga•‹o de entregar ˆs autoridades.

Isto j‡ n‹o vale se for fora de flagrante delito Ð quem pode proceder ˆ deten•‹o? Autoridades
judici‡rias ou OPC.

Mas o caso pergunta quem pode ser detido Ð quanto a isso, quem pode ser detido? N‹o tem
sentido limitar a deten•‹o a quem praticou ou crime ou com a natureza do crime (esta œltima n‹o
interessa aqui). Quem pode ser detido? Um suspeito pode ser detido? Pode Ð nem Ž preciso ser
suspeito. Para responder a isto temos de ver a norma das finalidades Ð qualquer pessoa que se
encontre numa daquelas situa•›es:
Al. a), que tenha de ser presente a juiz; interrogat—rio judicial ou a quem se v‡ aplicar MC;
Al. b), pode ser testemunha, perito Ð mas aqui temos uma situa•‹o fora de flagrante delito e
t•m de se cumprir as formalidades do artigo 257.¼.

A pessoa Ž notificada para estar presente, n‹o aparece e n‹o justifica Ð o juiz pode emitir mandados
de deten•‹o.

Quem Ž o suspeito? Artigo 1.¼ CPP Ð esta pessoa j‡ sabemos n‹o Ž sujeito processual, mas
participante. Pode ser detido? Pode se essa deten•‹o for legitimada por uma de qualquer das
finalidades da al a) ou b). Esta Ž mais uma nota para comparar isto com a medida de coa•‹o pris‹o
preventiva, a medida de coa•‹o mais gravosa de todas. O que t•m em comum? A priva•‹o da
liberdade; de diferente t•m muita coisa como veremos.

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Distinguir deten•‹o de pris‹o preventiva; j‡ temos a sua natureza jur’dica. A pris‹o
preventiva Ž uma medida de coa•‹o, a deten•‹o Ž uma medida processual, n‹o de coa•‹o.
Quanto ˆ deten•‹o, finalidades Ð artigo 254.¼. Quem pode aplicar? Depende se Ž em flagrante
ou n‹o. Em flagrante qualquer pessoa; fora Ð autoridade judiciaria ou OPC. A quem se pode
aplicar? A qualquer pessoa que se encontra nas situa•›es descritas no artigo 254.¼. Em que prazo?
Depende da finalidade. Al a) Ð 48h; al. b) Ð 24h. O prazo m‡ximo que se imp›e ˆ deten•‹o resulta da
CRP, artigo 28.¼. Esta Ž que imp›e prazo m‡ximo para a deten•‹o de 48h. O que resulta do artigo
254.¼, a) Ž uma imposi•‹o constitucional do artigo 28.¼/1.
H‡ estas 5 notas de distin•‹o que veremos Ð natureza jur’dica, quem pode aplicar, a quem se
pode aplicar, prazo e finalidade.

2. Poderia o —rg‹o de pol’cia criminal sujeitar Joel a termo de identidade e resid•ncia?

O que Ž o termo de identidade e resid•ncia? Uma MC, a menos gravosa de todas Ð artigo 196.¼
(s‹o sete as MC e est‹o previstas por ordem crescente de gravidade, a menos gravosa Ž esta). A
pessoa que fica sujeita a TIR tem de prestar termo de identidade e resid•ncia Ð significa que tem de
se identificar com os seus dados pessoais e indicar uma morada. Isso consta de um termo escrito
que fica no processo.

E as obriga•›es decorrentes disto s‹o as do nœmero 3 Ð fica a pessoa sujeita a Òcomparecer


perante a autoridade competente ou de se manter ˆ disposi•‹o dela sempre que a lei o obrigar ou para
tal for devidamente notificado; temos depois obriga•‹o de n‹o mudar de resid•ncia sair dela (se vai 15
dias de fŽrias deve informar o processo, se for mais 5 dias). Al. c) Ð todas as notifica•›es passam a ser
feitas por via postal simples; a partir o momento que X prestou TIR e diz que mora na rua X, tem de
estar muito atenta ˆ caixa do correio. A pessoa vai se considerar notificada s— pelo facto de estar uma
carta na caixa de correio da morada que indicou. ƒ isto que significa Ð isto j‡ Ž uma limita•‹o da
liberdade das pessoas, aten•‹o. Aqui se a pessoa vai de fŽrias, por exemplo, tem de comunicar. Isto
j‡ implica limita•‹o. ƒ uma medida de coa•‹o por este motivo. Dizer que o TIR costuma ser qualificado
como medida de coa•‹o sui generis Ð apesar de constar do elenco das MC, estar aqui inserida, ser
qualificada pelo legislador como MC e de ter esta nota de que implica restri•›es da liberdade, h‡ tantas
notas dissonantes em rela•‹o ˆs de mais medias de coa•‹o que h‡ atŽ quem diga que isto n‹o devia
ser considerado medida de coa•‹o Ð a Dr.» Ana Pais n‹o alinha nisto. N‹o podemos dizer que n‹o Ž
se est‡ previsto na lei como tal. Mas podemos dizer que Ž sui generis, porque Ž muito diferente
em v‡rios aspetos das restantes medidas de coa•‹o:

A. Ž a œnica que constitui dever imposto ao arguido (artigo 61.¼/6, al. c) Ð Ž a medida
de coa•‹o que Ž a œnica configurada pelo legislador como um verdadeiro dever
imposto ao arguido;

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Muito questionado em provas escritas e orais.

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B. Aplica-se automaticamente com a constitui•‹o de arguido; ao suspeito que Ž


constitu’do arguido, a esta pessoa, aplica-se automaticamente o TIR Ð artigo 196.¼/1.
ƒ a œnica medida de coa•‹o aplicada automaticamente com a constitui•‹o de arguido.
Remeter do artigo 196.¼ para o artigo 204.¼/1 Ð este œltimo Ž a norma que nos diz
quando Ž que se pode aplicar medidas de coa•‹o Ð uma destas exig•ncias tem que
se verificar; isto Ž assim ˆ exce•‹o do TIR Ð este aplica-se automaticamente com a
constitui•‹o de arguido e independentemente da verifica•‹o de qualquer exig•ncia de
natureza cautelar. Isto s— acontece com o TIR.
C. Quem Ž que aplica o TIR? Artigo 196.¼/1 Ð autoridade judici‡ria ou OPC. Isto Ž
totalmente diferentes das de mais medidas de coa•‹o Ð para serem aplicadas t•m que
ser por um juiz. H‡ reserva de juiz quanto as restantes Ð aqui juiz, MP ou OPC;
D. No caso da aplica•‹o do TIR n‹o se exige nenhum dever especial de
fundamenta•‹o (artigo 194.¼/6 Ð imp›e um dever especial de fundamenta•‹o do
despacho que aplica a MC ˆ exce•‹o do TIR);
E. Quando se extingue? Duas normas Ð artigo 196.¼/3, e) extingue-se com a extin•‹o
da pena. Veja-se o artigo 214.¼/1, e). As outras MC podem no limite durar atŽ ao
transito em julgado da senten•a condenat—ria. O TIR mantŽm-se atŽ que se extinga a
pena.

O OPC pode sujeitar Joel a TIR nos termos do artigo 196.¼/1, mas para isso Ž preciso que ele
seja constitu’do arguido. Dev’amos recorrer ao artigo 196.¼/1 e completar com o artigo 58.¼, al. c). O
OPC tem compet•ncia para isto para aplicar esta medida de coa•‹o, contrariamente ˆs outras que t•m
que ser aplicadas por juiz (no artigo 194.¼ diz-se expressamente que s‹o apicadas poe despacho do
juiz no inquŽrito; ent‹o na instru•‹o e julgamento s•-lo-‹o tambŽm porque Ž matŽria judicial). No
entanto, neste caso o Joel j‡ Ž arguido? N‹o sabemos Ð o OPC deteve Joel e essa deten•‹o legitima
a constitui•‹o de arguido ao abrigo do artigo 58.¼/1, c). Portanto, estas eram as duas normas
fundamentais para responder ˆ quest‹o. O Joel teria de ser constitu’do arguido primeiro, suspeito da
pr‡tica de viola•‹o, deten•‹o esta feita nos termos do artigo 254.¼. Seria constitu’do arguido nos termos
do artigo 58.¼, c) e ser-lhe-ia consequentemente aplicado TIR por este OPC automaticamente ao abrigo
do artigo 196.¼/1.
Portanto, a deten•‹o ao abrigo do artigo 254.¼ implica a constitui•‹o de arguido.

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Aula 7 Ð 12 de maio de 2020

Est‡vamos a tratar o caso pr‡tico relativo ˆ matŽria da deten•‹o e das medidas de coa•‹o Ð caso
pr‡tico 4. As medidas de coa•‹o s‹o medidas de natureza cautelar, sendo uma matŽria muito
importante, s‹o medidas exclusivas do processo penal e que se relacionam com exig•ncias
cautelares do processo penal. Estas exig•ncias s‹o as referidas no artigo 204.¼ - ˆ exce•‹o do TIR,
uma media sui generis, todas as de mais sup›em a verifica•‹o de pelo menos uma das exig•ncias
cautelares referidas no artigo 204.¼. Estas medidas t•m todas carater restritivo de direitos, umas
mais gravosas que outras, mas esta ideia acaba por ter uma rela•‹o com outra matŽria Ð a titulo de
enquadramento das matŽrias das medidas de coa•‹o, devemos relacionar tal com o tema inicial das
finalidades do processo penal. O regime das medidas de coa•‹o, em particular o regime da mais
gravosa, pris‹o preventiva, Ž particularmente ilustrativo do car‡ter conflituante das finalidades do
processo penal. ƒ importante perceber porque Ž que este regime legal demonstra que as finalidades
do processo penal s‹o conflituantes e que a tarefa necess‡ria Ž a de harmoniza•‹o cont’nua, de
tentativa disto; uma tarefa de concord‰ncia pr‡tica, Ž preciso reconhecer o car‡ter conflituante das 3
finalidades, mas este deve obrigar a uma concord‰ncia pr‡tica, tentar tirar o melhor proveito de cada
uma das finalidades, sem que uma seja mais importante que a outra.

3. Na sequ•ncia do primeiro interrogat—rio judicial de arguido detido, poderia o juiz de


instru•‹o aplicar como medida de coa•‹o a presta•‹o de trabalho a favor da comunidade?

Ou seja, a quest‹o aqui prende-se com uma dilig•ncia que Ž o primeiro interrogat—rio judicial do
detido como arguido, artigo 141.¼. O suspeito Ž detido, constitu’do arguido e presta TIR, mas Ž
tambŽm presente a juiz, desde logo com uma das finalidades referidas no artigo 141.¼ - uma das
finalidades da realiza•‹o deste interrogat—rio Ž a aplica•‹o de medida de coa•‹o. Tudo est‡ em saber
se o juiz pode aplicar como medida de coa•‹o a presta•‹o de trabalho a favor da comunidade.
Devemos convocar o principio da legalidade das medidas de coa•‹o Ð est‡ previsto no artigo 191.¼
e diz-nos que a liberdade das pessoas s— pode ser limitada total ou parcialmente em fun•‹o de
exig•ncias processuais de natureza cautelar (as do artigo 204.¼, uma norma chave em matŽria de
medidas de coa•‹o, fazer remiss‹o), e depois vem o conteœdo do principio da legalidade Ð pelas
medidas de coa•‹o e de garantia patrimonial previstas na lei. Um juiz s— pode aplicar uma medida de
coa•‹o que esteja expressamente prevista na lei. Se olharmos para o elenco das medidas de coa•‹o,
que se inicia no artigo196.¼ e vai atŽ ao artigo202.¼, temos sete medidas de coa•‹o. S‹o estas as
medidas de coa•‹o previstas na lei (no artigo 191.¼ refere-se tambŽm as medidas de garantia
patrimonial, n‹o vamos ver, mas remeter do artigo 191.¼ para o 196.¼ a 202; quando se refere a estas
medidas de garantia patrimonial, artigos 227.¼ e 228.¼).

Se s— pode ser aplicada uma medida de coa•‹o prevista na lei, s— pode ser aplicada uma destas
sete Ð s‹o previstas segundo ordem crescente de gravidade, da menos gravosa (TIR), ‡ mais gravosa

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(pris‹o preventiva), mas percorrendo isto facilmente percebemos que n‹o h‡ nenhuma medida de
coa•‹o presta•‹o de trabalho a favor da comunidade. Ela est‡ prevista no CP como pena de
substitui•‹o em sentido pr—prio. Podia atŽ estar prevista a titulo processual, mas n‹o Ž o caso, ela n‹o
est‡ nesta lista de medidas de coa•‹o. T’nhamos de explicar o conteœdo do principio, analisar o elenco
e excluir a possibilidade do juiz aplicar esta MC porque n‹o Ž uma MC prevista na lei.

4. Poderia o juiz aplicar uma medida de coa•‹o invocando apenas como fundamento a
gravidade do crime em causa?

Parece que a pris‹o preventiva se aplica quando o crime Ž grave. Parece isto, mas o critŽrio para
a sua aplica•‹o, n‹o Ž a gravidade do crime; Ž importante de um ponto de vista de proporcionalidade
para o legislador definir alguns critŽrios. A um crime de furto simples n‹o podemos aplicar pris‹o
preventiva porque a lei n‹o o permite. Agora, qualquer que seja o crime, mesmo o mais grave de todos
(homic’dio qualificado), n‹o se pode aplicar pris‹o preventiva ou outra medida de coa•‹o
fundamentando essa aplica•‹o na gravidade do crime. As medidas de coa•‹o podem ser aplicadas
logo no inquŽrito, mas seja em que fase for, s‹o aplicadas a alguŽm que se presume inocente.
Estamos a falar da aplica•‹o a alguŽm que ainda nem acusado foi. Est‡ aqui em causa assegurar
exig•ncias cautelares Ð Ž ai que tem de se fundamentar concretamente a sua aplica•‹o. N‹o, invocar
apenas a gravidade do crime n‹o pode ser fundamento para a aplica•‹o de qualquer medida de
coa•‹o. Fundamento s‹o as exig•ncias cautelares Ð as previstas no artigo 204.¼
Da al. a) e da b) para a c) est‡ um ou Ð tem que se verificar pelo menos uma, em concreto, pelo
menos uma destas exig•ncias:
Al. a), fuga ou perigo de fuga;
Al. b), Perigo de perturba•‹o do decurso do inquŽrito ou da instru•‹o do processo e,
nomeadamente, perigo para a aquisi•‹o, conserva•‹o ou veracidade da prova,
Al. c), perigo, em raz‹o da natureza e das circunst‰ncias do crime ou da personalidade do
arguido, de que este continue a atividade criminosa ou perturbe gravemente a ordem e a
tranquilidade pœblicas.
Estas s‹o as exig•ncias cautelares que t•m que se verificar para que seja poss’vel a aplica•‹o de
qualquer medida de coa•‹o, ˆ exce•‹o do TIR. Qual o princ’pio aqui subjacente e que devemos
convocar para explicar a nossa resposta? Artigo 193.¼, principio da necessidade, adequa•‹o e
proporcionalidade Ð temos que saber distinguir isto, o principio n‹o Ž o mesmo. Isto Ž uma ideia de
proporcionalidade em sentido amplo, com tr•s dimens›es. O principio que nos interessa aqui Ž o da
necessidade Ð as medidas de coa•‹o a aplicar em concreto devem ser necess‡rias ˆs exig•ncias
cautelares que o caso consubstancia. O q nos interessa aqui Ž focar no principio da necessidade, que
Ž um principio previsto no artigo 193.¼/1 ,1» parte conjugado com o artigo 204.¼.

As medidas de coa•‹o s— podem ser aplicadas quando elas forem necess‡rias para acautelar
pelo menos uma exig•ncia cautelar que exista, que se verifique no caso concreto. Uma medida
de coa•‹o que seja aplicada sem q haja exig•ncias cautelares ser‡ sempre desnecess‡ria. Algo
necess‡rio Ž algo que Ž preciso para fazer face a qualquer exig•ncia/ necessidade. Se n‹o existe

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necessidade/ exig•ncia cautelar no caso, a medida de coa•‹o aplicada ser‡ desnecess‡ria.

Quando se nos pergunta se Ž poss’vel invocar apenas como fundamento a gravidade temos de
dizer que n‹o, fundamento Ž raz‹o para aplicar. Tem que se verificar Ž pelo menos uma das
exig•ncias cautelares, a norma diz claramente a aplicar em concreto, a necessidade da exig•ncia
cautelar tem que ser motivada pelo juiz no seu despacho, sendo uma justifica•‹o do por qu• daquela
exig•ncia cautelar se justi•ar naquele caso. Essa exig•ncia Ž muito clara em rela•‹o ˆ necessidade
das medidas de coa•‹o no artigo 194.¼, al. d), os factos que consubstanciam a verifica•‹o de pelo
menos uma das exig•ncias cautelares. T’nhamos que explicar tudo isto Ð principio da necessidade e
percorrer estas normas.

5.Verificando-se perigo de fuga, poderia o juiz aplicar apenas a medida de coa•‹o de


suspens‹o do exerc’cio do poder paternal?

A suspens‹o do exerc’cio do poder paternal seria que medida de coa•‹o? Artigo 199.¼/1, b). Qual
o problema suscitado? H‡ perigo de fuga e o juiz aplica suspens‹o do exerc’cio do poder paternal.
Aqui Ž um problema de adequa•‹o, n‹o necessidade. E se h‡ perigo de fuga, uma medida ser‡
necess‡ria. O problema Ž que esta medida de coa•‹o n‹o se mostra adequada ˆ exig•ncia cautelar
que se verifica no caso, Ž a segunda dimens‹o do artigo 193.¼. Se uma pessoa concreta que Ž arguida
demonstra para qualquer circunst‰ncia concreta da sua vida, porque j‡ tentou fugir, que a exig•ncia
est‡ verificada, do que vale suspender o poder paternal? Isto n‹o inibe a pessoa de fugir, Ž uma medida
de coa•‹o que seria desnecess‡ria. N‹o devemos ler o artigo 193.¼ e agrupar as ideias que ali est‹o,
necessidade, adequa•‹o e proporcionalidade n‹o Ž tudo a mesma coisa. Adequa•‹o j‡ sup›e um
ju’zo de idoneidade, Ž preciso que a medida seja adequada a satisfazer a exig•ncia cautelar que
o caso reclama, artigo 204.¼.

6. Suponha que no inquŽrito o ministŽrio pœblico requereu a aplica•‹o da obriga•‹o de


perman•ncia na habita•‹o e o juiz aplicou pris‹o preventiva. Quid iuris?

Ou seja, temos aqui a aplica•‹o de uma medida de coa•‹o no inquŽrito Ð a situa•‹o mais
comum. ƒ muito comum que as medidas de coa•‹o sejam aplicadas no inquŽrito, mas n‹o Ž a œnica
fase. Qualquer que seja a fase em que s‹o aplicadas, as medidas de coa•‹o s‹o sempre aplicadas
por juiz, ˆ exce•‹o do TIR. Se for na fase de julgamento, qual o juiz que vai aplicar? Juiz de
julgamento; na fase de instru•‹o? Juiz da instru•‹o. Mas nesses casos na instru•‹o e no
julgamento h‡ uma importante diferen•a Ð estes ju’zes s‹o o dominus dessas fases processuais. A
fase Ž dirigida por eles e eles podem aplicar as medidas de coa•‹o oficiosamente, n‹o Ž preciso que
ninguŽm requeira nem que o MP promova. Mas o dominus da fase de inquŽrito Ž o MP. O juiz de
instru•‹o est‡ no tribunal, nem tem que saber da exist•ncia do processo. O juiz da instru•‹o tanto
pode intervir na instru•‹o como no inquŽrito, o que Ž que ele vai fazer ao inquŽrito? Ele Ž o juiz
das liberdades. Ele pode ter de praticar ou ordenar uma sŽrie de atos Ð artigos 268.¼ e 269.¼.

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No caso do artigo 268.¼ temos atos que o juiz da instru•‹o tem que praticar no inquŽrito; no
artigo 269.¼, atos que ordena ou autoriza no inquŽrito.

No artigo 268.¼, al. b) o juiz de instru•‹o vai ao inquŽrito praticar nomeadamente o ato de
aplica•‹o da medida de coa•‹o. Se ele for concordado pelo MP, o MP dirige a investiga•‹o e entende
que por qualquer raz‹o Ž necess‡ria aplica•‹o de medida de coa•‹o, promovendo a aplica•‹o de certa
medida de coa•‹o.

Coisa diferente acontece nas outras fases; o juiz de instru•‹o, no inquŽrito, n‹o Ž ele que
oficiosamente aplica a medida de coa•‹o; ela Ž promovida pelo MP, analisando-a o juiz, para ver se
vai aplicar ou n‹o. Esta situa•‹o est‡ regulada de forma mais detalhada no artigo194.¼. Devemos
remeter de uma norma para a outra. Diz o 194.¼/1 que ˆ exce•‹o do TIR, as MC s‹o aplicadas por
despacho do juiz durante o inquŽrito, a requerimento do MP e depois do inquŽrito mesmo
oficiosamente Ð se for no inquŽrito Ž o MP que promove, que requer ao juiz a aplica•‹o. Se for
nas outras fases j‡ n‹o tem que ser ele a requerer, pode ser o juiz oficiosamente, mas tem que ouvir o
MP.

No caso, estamos na fase de inquŽrito, interessando-nos o que resulta dos nœmeros 2 e 3 do


artigo 194.¼ - come•am pela express‹o Òdurante o inquŽritoÓ; a quest‹o 6 prende-se com a quest‹o de
saber se no inquŽrito o juiz fica vinculado ao que o MP requer ou n‹o quanto ˆs medidas de coa•‹o.
O MP pede obriga•‹o de perman•ncia na habita•‹o. O juiz deve estar vinculado a este pedido, ou seja,
deve apenas pode avaliar se sim ou n‹o ˆ obriga•‹o de perman•ncia na habita•‹o ou pode fazer
aplica•‹o de outra medida de coa•‹o?
Esta quest‹o Ž objeto de discuss‹o na doutrina e j‡ foi objeto de resposta diferente Ð a Dr.» Maria
Jo‹o Antunes sempre foi adepta de uma posi•‹o restritiva no sentido de que o MP, sendo o
dominus do inquŽrito Ž quem melhor saber quanto ˆ investiga•‹o, devendo o juiz da instru•‹o
estar vinculado ao que pede o MP. N‹o justifica que um juiz das liberdades, a tentar restringir ao
m‡ximo a limita•‹o das liberdades, v‡ fazer pior. Mas quem sabe o que Ž melhor para a investiga•‹o
Ž o MP. AtŽ pode interessar ao MP uma medida de coa•‹o menos gravosa porque a investiga•‹o est‡
a decorrer, pode haver interesses para que o arguido n‹o esteja limitado na sua liberdade.

Agora, independentemente das discuss›es doutrinais, o legislador n‹o tem tido sempre resposta
uniforme. Atualmente, a previs‹o do legislador, nœmeros 2 e 3 vai no sentido de haver uma
diferen•a estabelecida em fun•‹o de qual a medida de coa•‹o em causa. O n.¼ 2 aplica-se ˆs
exig•ncias cautelares das al’neas a) e c). O n.¼ 3 Ð al’nea b).
Nas al’neas a) e c) Ð total liberdade para o juiz, aplica uma ou outra mesmo que seja mais
grave. Coisa diferente na al. b) Ð pode aplicar outra menos grave, mais grave n‹o. O legislador
distingue aqui o fundamento de aplica•‹o das medidas. Se o fundamento de aplica•‹o das medidas
(aten•‹o que Ž poss’vel cumular MC) for a al. b) o juiz nunca pode aplicar MC mais grave que a pedida
pelo MP. Se for a al. a) ou a al. c) pode aplicar a pedida ou outra que for mais grave.

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Porque faz o legislador esta distin•‹o? O que est‡ na mente do legislador Ž isto - se est‡ em
causa o perigo da al. b), quem melhor sabe como acautelar esse perigo Ž o MP. Portanto, o que
ele pede ser‡ o ideal para o caso dos autos, e talvez isso atŽ devesse fazer com que o juiz ficasse
vinculado, mas pode aplicar outra menos grave. O legislador pensa que se o argumento da doutrina Ž
o de que se deve atender ao que o MP acha que Ž melhor para a investiga•‹o, ent‹o vai atender a isso
quando estiver em causa o perigo da al. b). E ent‹o faz esta distin•‹o entre as al’neas.

No caso n‹o sabemos qual a al’nea que motivou o requerimento do MP, n‹o sabemos qual a
exig•ncia cautelar que vai ser considerada verificada no caso; claro que se olharmos para a quest‹o
anterior e fosse perigo de fuga, o juiz de instru•‹o, a), pode aplicar a medida mais gravosa; se fosse
ca’amos no n.¼ 2 e o juiz podia aplicar pris‹o preventiva. Mas n‹o sabemos, nada nos Ž dito nesse
sentido. Pelo contr‡rio, se pelo menos a al. b) for uma das exig•ncias convocadas, ent‹o o juiz j‡ vai
estar limitado pelo requerimento do MP, no sentido de que pode aplicar MC diferente desde que menos
grave, mas n‹o pode aplicar uma mais grave, que Ž o caso, do que a pedida pelo MP (perman•ncia na
habita•‹o).

Diz-se basicamente no n.¼ 2 que o juiz pode aplicar a que foi pedida ou outra mais ou menos
grave; agora, a partir do momento em que a exig•ncia cautelar Ž pelo menos a da al. b) a’ j‡ h‡ uma
limita•‹o ao poder do juiz Ð pode aplicar outra, mas nunca uma mais grave.

H‡ sempre duas notas com que devemos jogar a analisar isto:


1. Qual o papel do juiz das liberdades? A ideia de juiz de instru•‹o que passa nos media Ž
errada, parece que ele Ž alguŽm que est‡ no inquŽrito quase como super investigador, a dirigir
a instru•‹o; o juiz da instru•‹o Ž dominus da fase de instru•‹o; no inquŽrito Ž o juiz das
liberdades. Ele s— Ž convocado pelo legislador para ir ao inquŽrito porque h‡ atos que t•m
que ser realizados no ‰mbito da investiga•‹o que s‹o muito restritivos de DLGÕs. Por exemplo,
escutas, n‹o s‹o lesados apenas direitos do arguido; buscas domicili‡rias, a maioria das
pessoas n‹o vive sozinha. Falamos de dilig•ncias investigat—rias que atentam altamente contra
os DLGÕs das pessoas, sendo preciso um juiz para analisar se aquelas medidas s‹o
proporcionais.
2. S— a ideia de que ele aplica medida de coa•‹o mais grave do que a pedida pelo MP, Ž j‡ uma
ideia desviante Ð entende a Dr.» Ana Pais que n‹o Ž isso que ele l‡ est‡ a fazer. O seu papel
n‹o Ž esse. A segunda nota tem a ver com o argumento de que quem sabe o que Ž melhor
para a investiga•‹o Ž o MP.

Jogando com estes argumentos Ž dif’cil aceitar esta solu•‹o legal. Tem raz‹o de ser, percebe-se,
mas a Dr.» Ana Pais n‹o concorda, acha que esta solu•‹o n‹o Ž consent‰nea com o papel do juiz das
liberdades e do MP no inquŽrito. Temos de conhecer a solu•‹o legal, explica-la, saber o que est‡ por
tr‡s dela e se formos cr’ticos, fundamentar.

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7. Admitindo que foi legalmente aplicada a pris‹o preventiva no inquŽrito, poderia o juiz,
por iniciativa pr—pria, durante a fase de instru•‹o, substituir essa medida por cau•‹o?

Ou seja, o juiz da instru•‹o, imaginemos, aplicou pris‹o preventiva, e que f•-lo legalmente, n‹o h‡
nada a contestar. Estamos agora na instru•‹o, pode ele por sua iniciativa substituir por uma medida
menos gravosa que Ž a cau•‹o (artigo 197.¼). Pode faz•-lo? Desde logo enquadrar esta quest‹o num
principio relativo ˆs MC que Ž o principio da precariedade. O principio da precariedade Ž um principio
tambŽm relativo ˆs medidas de coa•‹o que nos diz que as medidas de coa•‹o s‹o prec‡rias. Ou seja,
t•m um tempo de vida, n‹o se mant•m sempre inalteradas enquanto se mantŽm o processo. O
seu tempo de vida Ž determinado pelas exig•ncias cautelares.
Se elas se mantiverem em principio mantŽm-se a medida de coa•‹o. E se elas desparecerem/ se
alterarem? ƒ normal que haja altera•›es. Se falarmos do perigo para aquisi•‹o e conserva•‹o da prova
Ð Ž uma exig•ncia cautelar que depois de haver acusa•‹o, de toda a prova estar reunida, depois de
toda a investiga•‹o, que dificilmente se mantŽm (Ž normal que depois de ser recolhida a prova n‹o
continuemos a dizer que h‡ perigo para a aquisi•‹o da prova).

H‡ altera•›es com o andamento do processo e decorrentes da passagem do tempo que se devem


refletir nas medidas de coa•‹o, que s‹o prec‡rias Ð essa precariedade reflete-se desde logo no artigo
212.¼ que prev• a substitui•‹o ou revoga•‹o das medidas de coa•‹o. A substitui•‹o ou revoga•‹o das
medidas de coa•‹o tem direta rela•‹o com a sua natureza prec‡ria e com esse principio, mas tambŽm
com as exig•ncias cautelares que se verificarem no caso. O que determina a revoga•‹o? H‡ lugar a
revoga•‹o ou quando as medidas de coa•‹o n‹o foram aplicadas segundo a lei ou ent‹o, al. b),
deixaram de subsistir as exig•ncias que a justificam.

ƒ a al. b) que nos interessa aqui Ð quais as circunst‰ncias que justificam a sua aplica•‹o? As
exig•ncias cautelares. Elas desapareceram? A medida de coa•‹o Ž prec‡ria, ela est‡ pendurada
na exig•ncia cautelar, se n‹o a h‡, tem que haver revoga•‹o. Pelo contr‡rio, pode acontecer que
ela n‹o se extinga, mas que a exig•ncia se atenue Ð substitui•‹o.
A revoga•‹o d‡-se nomeadamente quando deixam de substituir as exig•ncias cautelares que
motivaram a aplica•‹o da medida de coa•‹o, a substitui•‹o d‡-se quando n‹o deixaram de subsistir,
mas se atenuam as exig•ncias cautelares.
Quanto ˆ revoga•‹o, esta tem lugar porque a medida de coa•‹o deixou de ser necess‡ria,
deixou de haver exig•ncia cautelares, pelo que a medida de coa•‹o deixa de ser necess‡ria, a
revoga•‹o relaciona-se com o principio da necessidade. A substitui•‹o tem a ver com a
adequa•‹o Ð a exig•ncia cautelar alterou-se, atenuou-se e aquela medida de coa•‹o deixou de
ser adequada e proporcional.

No caso Ð o juiz podia fazer isto no inquŽrito por iniciativa pr—pria? N.¼ 4 do artigo 212.¼ - sim,
a substitui•‹o pode ser feita oficiosamente. No nosso caso, uma vez que estamos na instru•‹o,
mesmo que n‹o houvesse nœmero 4 n‹o havia dœvidas de que o juiz o pudesse fazer Ð Ž que ele Ž o

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dominus da instru•‹o, claro que ele podia ordenar oficiosamente. Para que n‹o haja duvidas e
porque isto pode acontecer no inquŽrito, o legislador faz quest‹o de o dizer no nœmero 4.¼. Mesmo no
inquŽrito, quem aplica a MC Ž o juiz da instru•‹o, portanto, ele tambŽm pode substitu’-la ou revoga-la
oficiosamente.

Por exemplo, estando em caus a pris‹o preventiva, mesmo que n‹o houvesse lugar a revoga•‹o
ou substitui•‹o do artigo 212.¼, podia haver sempre lugar a uma revoga•‹o ou substitui•‹o n‹o
oficiosamente, nem a requerimento, mas por for•a do REEXAME - um instituto que tambŽm Ž
demonstrativo da precariedade; o legislador obriga o juiz oficiosamente a reexaminar os pressupostos
que determinaram a aplica•‹o daquelas medidas. Se ninguŽm requer ou se o juiz n‹o analisar as
exig•ncias cautelares, entretanto, ele f‡-lo certamente dali a 3 meses em reexame.
Agora se somos arguidos, foi proferida acusa•‹o e estava em causa perigo para prova. Foi
decretada h‡ um m•s. Temos de esperar? N‹o, podemos requerer revoga•‹o ou substitui•‹o; mas
depois tambŽm h‡ reexame pelo juiz, mesmo que n‹o se pe•a.

Estas medidas de coa•‹o nunca podem ser agravas? Podem, mas para isso Ž preciso que se
verifique alguma forma de exig•ncia mais gravosa, isso n‹o est‡ previsto no CPP. Imaginemos que
estava sujeito s— a TIR ou a obriga•‹o de apresenta•‹o peri—dica. Ele tem que avisar se se ausentar
do pa’s e tenta fugir, sendo detido a tentar fugir no aeroporto. Esta circunst‰ncia adita perigo de fuga
ou mesmo uma fuga (se falta ˆ apresenta•‹o peri—dica a que estava obrigado). A’ vai ser presente a
juiz para aplica•‹o de uma MC mais gravosa. Alteram-se as circunst‰ncias no sentido mais grave.
ƒ uma situa•‹o contr‡ria. Podia-se revogar a anterior e aplicar uma nova ou ter as duas em
simult‰neo. Neste caso revoga-se a obriga•‹o de apresenta•‹o peri—dica, n‹o faz sentido prender
alguŽm e dizer que tem na mesma que se apresentar na GNR,
No n.¼ 4 do artigo 212.¼ quando se refere que MP e arguido t•m que ser ouvidos, isso Ž obrigat—rio
(claramente uma consagra•‹o do p do contradit—rio, um principio basilar do nosso sistema acusat—rio).

8. Como poder‡ Joel reagir se a pris‹o preventiva se prolongar para alŽm dos prazos
referidos no artigo 215.¼ do C—digo de Processo Penal?

Ou seja, o artigo 215.¼ Ž mais uma norma que nos mostra a natureza prec‡ria das MC e
especialmente da pris‹o preventiva. Ela est‡ sujeita, n‹o Ž a œnica (art 218.¼), a prazos m‡ximos.
H‡ prazos m‡ximos para as MC.
O que pode fazer um arguido que veja a pris‹o preventiva prolongar-se alŽm dos prazos legais que
se imp›em? Como se pode impugnar a aplica•‹o de uma MC ou a sua manuten•‹o? Est‡ em
causa o prolongamento da medida para alŽm do caso, mas a resposta tambŽm podia valer para o caso
de aplicar medida de coa•‹o, n‹o havendo exig•ncia cautelar e se quisŽssemos reagir. Falamos aqui
dos modos de impugna•‹o.

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O que pode fazer o arguido para reagir no nosso caso do prolongamento da medida para alŽm do
prazo?
H‡ dois modos de impugna•‹o Ð falamos sempre de decis›es tomadas por juiz. H‡-de,
portanto, haver sempre um modo de impugna•‹o poss’vel Ð o recurso. H‡ um recurso espec’fico,
previsto na lei para os despachos que apliquem ou substituem medida de coa•‹o Ð artigo 219.¼. H‡
lugar a recurso para o Tribunal da Rela•‹o. ƒ um recurso que pode ser interposto pelo arguido ou
pelo MP. N‹o pode recorrer qualquer dos sujeitos processais como no caso dos recursos gerais, artigo
401.¼. ƒ interposto para o Tribunal da Rela•‹o, remeter para o artigo 427.¼ e ss. E vejamos tambŽm o
que diz o nœmero 2 deste artigo que nos d‡ logo a pista para o outro modo de impugna•‹o Ð diz que
n‹o h‡ litispend•ncia ou caso julgado entre o recurso do n.¼ 1 e a provid•ncia de habeas corpus.

Habeas corpus Ž um instituto com previs‹o constitucional, artigos 220.¼ ss, que tem duas
modalidades Ð em caso de pris‹o ilegal (artigo 222.¼) e em caso de deten•‹o ilegal (artigo 220.¼).
O artigo 220 remete para a deten•‹o; como se reage perante uma deten•‹o ilegal? Com o habeas
corpus, uma provid•ncia muito cŽlere. Mas n‹o Ž o nosso caso Ð seria uma situa•‹o de pris‹o
preventiva para alŽm do prazo, ou seja, pris‹o ilegal. O artigo 222.¼ fala em pris‹o n‹o em pris‹o
preventiva Ð aplica-se a qualquer situa•‹o em que alguŽm se encontre ilegalmente preso. N‹o Ž
exclusivo da pris‹o preventiva, mas tambŽm vale neste caso. Seria aplic‡vel no nosso recurso ou
habeas corpus ou ambos. Porque o artigo 219.¼ /2 diz que n‹o h‡ litispend•ncia entre os dois
institutos. O caso de habeas corpus s— se aplica quando se verificar uma das al’neas do artigo 222.¼/2
(al. c) do nosso caso.

Assim sendo, o arguido podia recorrer e/ou dar entrada de uma provid•ncia de HC. N‹o h‡
litispend•ncia porque falamos de situa•›es distintas Ð o recurso Ž muito mais demorado, Ž
inevitavelmente mais demorado do que aquilo que acontece com uma provid•ncia de HC. ƒ um
procedimento muito cŽlere o habeas corpus Ð artigo 221.¼/1, por exemplo, pode ser ordenada por via
telef—nica a apresenta•‹o imediata do detido. Isto Ž para tornar o procedimento ‡gil, em mais lado
nenhum se v• isto. No recurso, a pessoa recorre, depois o recurso ou Ž admitido ou n‹o, depois h‡
prazos, etc., e s— depois contam outros prazos, demora meses. A provid•ncia de HC Ž cŽlere, ver todo
o regime do artigo 223.¼. Tudo isto para que a decis‹o seja r‡pida. Mas tambŽm Ž raro em que os
pedidos de HC s‹o procedentes, o que Ž bom sinal (remeter das normas do HC para o 31.¼ CRP).

Estes modos de atua•‹o podem ser, portanto, usados em simult‰neo Ð artigo 219.¼, n‹o h‡
litispend•ncia ou caso julgado entre estes institutos (podendo ter o mesmo fundamento ou n‹o)

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A PROVA

Quando falamos em produ•‹o de prova estamos a pensar na fase em que a prova se vai ter
de produzir Ð julgamento. Ela vai ser recolhida no inquŽrito, pode ser realizada na instru•‹o, mas vai
ser produzida no julgamento. ƒ importante distinguir entre meios de prova e meios de obten•‹o de
prova. S‹o coisas diferentes.

Meios de prova, a partir do artigo 128.¼; uma coisa s‹o os meios de prova que s‹o os capazes
de por si mesmo servir como fonte de convencimento do juiz, t•m aptid‹o de ser usados pelo
juiz de forma imediata para formar a sua convic•‹o. S‹o eles pr—prios fonte de convencimento
do juiz, podendo ser de imediato usados por estes para fundamentar a sua decis‹o.
Os meios de obten•‹o de prova s‹o os instrumentos/ ferramentas ao dispor das autoridades
judici‡rias, juiz ou MP, para se obter meios de prova. Servem para que autoridades judici‡rias
possam investigar e recolher os meios de prova, porque s— este ser‡ capaz de fundamentar
diretamente a decis‹o do juiz (as buscas, por exemplo, meios de obten•‹o da prova; se no
‰mbito de uma busca que Ž um meio de obten•‹o de prova, for encontrado certo documento
relevante, temos a busca que Ž meio de obten•‹o de prova e o documento que Ž um meio de
prova).

Os meios de prova obt•m-se atravŽs dos meios de obten•‹o de prova. Meios de obten•‹o de
prova Ð exames, artigo 171.¼, que podem ser aos lugares, ˆs coisas, pessoas; revistas (ˆs pessoas);
buscas (ˆs coisas/ locais); apreens›es, s‹o tudo formas de obter prova. Qualquer meio de prova; os
meios de prova s‹o quais? Temos prova testemunhal, declara•›es do arguido, prova por acarea•‹o,
prova por reconhecimento, prova por reconstitui•‹o do facto, etc., artigo 128.¼.

Partindo desta ideia, se os meios de prova s‹o os que t•m aptid‹o para ser analisados pelo juiz de
forma imediata e para formar a sua convic•‹o, Ž importante ver quais s‹o admiss’veis. Vale o
principio de admissibilidade de prova Ð Ž admiss’vel tudo o que n‹o Ž proibido pela lei (artigo
125.¼, principio da legalidade da prova. H‡ proibi•›es de prova no artigo 126.¼. O que for proibido pelo
artigo 126.¼, por exemplo, ou outra norma; o que n‹o for proibido j‡ Ž permitido, n‹o tem que ser
especialmente previsto, n‹o pode Ž ser proibido por lei. Se n‹o houver nenhuma refer•ncia ˆ
proibi•‹o, a prova Ž admitida.
Artigo 32.¼/8, 38.¼ CRP e 126.¼ CPP Ð ver normas.

Isto Ž uma quest‹o de admissibilidade.

Quest‹o diferente Ž a da valora•‹o. Sendo ela admiss’vel, como Ž que o juiz valora /aprecia a
prova? Vale o principio da livre aprecia•‹o da prova, artigo 127.¼. Prev•-se que salvo quando a lei
dispuser diferentemente, em regra a prova Ž apreciada segundo as regras de experi•ncia e da livre
convic•‹o; h‡ um sentido positivo e negativo do principio.

Jo‹o P. Domingues 59

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Sentido positivo Ð se dizemos que a prova est‡ sujeita ˆ livre aprecia•‹o do julgador, isso
poderia indiciar, n‹o Ž o que est‡ em causa, que est‡vamos perante um total arb’trio, uma
liberdade subjetiva do juiz/ discricionariedade. Mas n‹o Ž isso que est‡ em causa. O significado
de livre aprecia•‹o da prova Ž uma ideia de liberdade, mas uma liberdade de acordo com
um dever Ð o juiz forma a sua livre convic•‹o, mas Ž obrigado a motiv‡-la, a fundamentar a
sua convic•‹o que formou livremente. ƒ a’ que se tira o car‡ter de arb’trio a esta livre
convic•‹o Ð um dever de geral de fundamenta•‹o existe para todos os despachos judiciais,
(artigo 97.¼/5), mas est‡ em causa mais que isso, n‹o s— este dever geral, mas um dever
especial de fundamenta•‹o Ð artigo 365.¼/3 que diz que cada juiz e cada jurado Ž obrigado a
dizer qual o meio de prova que justifica aquela sua decis‹o. (hip—tese de o tribunal ser de jœri,
mas vale quer seja coletivo s— com ju’zes ou singular s— com 1); quando o tribunal Ž colegial,
quer coletivo quer de jœri, a decis‹o do tribunal sup›e delibera•‹o e vota•‹o, mas cada juiz Ž
obrigado a dizer qual o meio de prova que justifica aquela sua decis‹o. H‡ outra norma,
artigo 374.¼/2 Ð h‡ um dever especial de fundamenta•‹o quanto a esta matŽria da prova,
indicando que quanto ˆ parte da senten•a que versa sobre a tomada de decis‹o, a
fundamenta•‹o (que se segue ao relat—rio) (...) com indica•‹o e exame critico das provas que
serviram para formar a convic•‹o do tribunal (sublinhar indica•‹o, exame cr’tico das provas
que servia, etc.) De acordo com um sentido positivo este principio n‹o significa um
arb’trio mas uma liberdade com um dever de fundamenta•‹o, n‹o s— geral do artigo 97.¼,
mas um dever especial de fundamenta•‹o que resulta de v‡rias normas, com destaque
para estas duas.
Se o juiz n‹o cumprir com esta obriga•‹o, a consequ•ncia Ž nulidade Ð remeter do artigo 374.¼
para o 379.¼/1, al. a). Portanto, de um ponto de vista positivo Ž importante destacar isto.

De um ponto de vista negativo o que significa a livre aprecia•‹o da prova? Porque se fala de
um significado negativo? Dizer-se que entre n—s vale o principio da livre aprecia•‹o da prova
significa que se afasta o sistema da prova legal porque o sistema da prova legal ser‡ o
sistema que diz que Ž o legislador a definir qual o valor que se d‡ ao meio de prova,
quase numa espŽcie de grada•‹o de meios de prova. Este n‹o Ž o nosso sistema Ð num
sentido negativo, dizer que vale o principio da livre aprecia•‹o Ž dizer que n‹o vale o sistema
segundo o qual h‡ critŽrios legais prŽ-definidos sobre o valor a atribuir a cada prova. Se Ž
verdade que um juiz aprecia livremente a prova que perante si Ž produzida tambŽm Ž verdade
que h‡ situa•›es em que essa prova n‹o pode ser apreciada de foram totalmente livre Ð
limita•›es ao principio da livre aprecia•‹o da prova. Reconduzem-se ˆ primeira parte do
artigo 127.¼ Ð lemos o corpo do artigo 127.¼ a partir da primeira express‹o Òsalvo quandoÓ: h‡
situa•›es em que o legislador tem uma palavra a dizer sobre o valor da prova; n—s n‹o temos
um sistema de prova legal, o legislador n‹o diz qual o valor, mas em alguma situa•›es limita a
aprecia•‹o do juiz.
Em suma, n‹o h‡ critŽrios legais prŽ-definidos sobre o valor a atribuir a cada prova, a cada
meio de prova.

Jo‹o P. Domingues 60

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CASO PRçTICO 5
Lu’s foi pronunciado pela pr‡tica de um crime de tr‡fico de pessoas (artigo 160¼, n.¼1, do
C—digo Penal). O processo encontra-se, presentemente, na fase de julgamento.

1. Poder‡ Lu’s recusar-se a responder ˆs perguntas sobre a sua identidade?(

2. Lu’s negou os factos que lhe eram imputados, prestando sobre eles declara•›es falsas.
Poder‡ ser criminalmente responsabilizado por estas falsas declara•›es?

3. Suponha que Lu’s confessou os factos que lhe eram imputados. Quais os efeitos desta
confiss‹o?

4. Considere agora que Lu’s se recusou a responder ˆs perguntas que lhe foram dirigidas
pelo juiz sobre os factos que lhe eram imputados. Qual o efeito deste sil•ncio do arguido?
E se o juiz se convencer de que, naquelas circunst‰ncias, a œnica explica•‹o plaus’vel para
o arguido se remeter ao sil•ncio Ž o facto de ser culpado?

5. Poderia o juiz de julgamento ordenar oficiosamente a realiza•‹o de uma per’cia


psiqui‡trica a Lu’s? Qual o valor desta prova?

6. Apesar de estar agora a exercer o direito ao sil•ncio, Lu’s prestou declara•›es


incriminat—rias durante a fase de inquŽrito, perante autoridade judici‡ria e na presen•a do
defensor. Podem estas declara•›es ser utilizadas como prova em julgamento?

1. Lu’s foi pronunciado pela pr‡tica de um crime Ð significa isto o qu•? Que foi requerida a instru•‹o e
que ela culminou com um despacho de pronœncia. O despacho chama-se de pronuncia e aqui
usamos outra terminologia, dizemos logo que foi pronunciado. N‹o sabemos como terminou o
inquŽrito, sabemos que foi requerida a instru•‹o e ela termina com a decis‹o de pronœncia.

Esta quest‹o tem a ver com o meio de prova declara•›es do arguido Ð o arguido em sede de
julgamento pode desde logo ter uma de tr•s atitudes Ð nada dizer, negar os factos ou confessar os
factos. Remete-se ao sil•ncio - pode ou n‹o e em rela•‹o a qu• -, nega ou confessa.
Analisaremos as tr•s primeiras quest›es dentro do ponto de vista de que analisamos o meio de prova
declara•›es do arguido.

Uma coisa s‹o as declara•›es do arguido sobre a sua identidade, coisa diferente s‹o as
declara•›es do arguido quanto aos factos. Quanto ˆ sua identidade, na nossa primeira quest‹o, h‡
um dever legal de responder e responder com verdade (artigo 61.¼/6, diz se na al. b) que o arguido
Ž obrigado a responder com verdade); se Ž obrigado a responder e com verdade ˆs perguntas feitas,

Jo‹o P. Domingues 61

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ent‹o tem que haver uma comina•‹o caso n‹o cumpra este dever. Qual a comina•‹o? Pode incorrer
em responsabilidade penal, artigo 141.¼/3. O dever est‡ previsto na al. b) do artigo 61.¼/6 e Ž reiterado
esse dever em duas normas Ð artigo 141.¼/3 (primeiro interrogat—rio judicial de arguido detido), e diz-
se expressamente que deve ser advertido de que a falta de resposta ou falsidade f‡-lo incorrer em
responsabilidade penal. J‡ veremos que crime est‡ em causa. Ver outra norma j‡ relativa ao julgamento
em que se diz coisa id•ntica Ð o artigo 342.¼, Ž j‡ para a fase de julgamento e tambŽm se lhe perguntam
os mesmos dados e se n‹o responder ou responder sem verdade incorre em responsabilidade penal.
Fazer remiss›es.

Quando se diz que f‡-lo incorrer em responsabilidade penal o que est‡ em causa? Um crime de
falsas declara•›es Ð artigo 359.¼ CP. Quanto ˆ identidade, o arguido tem o dever de responder e
responder com verdade.
E quanto aos factos? Pelo contr‡rio j‡ n‹o h‡ nenhum dever de responder, h‡ sim um direito ao
sil•ncio. O arguido tem direito ao sil•ncio Ð artigo 61.¼/1, al d). Portanto, enquanto em rela•‹o ˆ
identidade h‡ um dever de responder e com verdade, em rela•‹o aos factos h‡ um direito ao sil•ncio.
Este Ž concretizado em duas importantes normas relativas ao julgamento Ð artigos 343.¼/1 e 345.¼.
Como Ž que se compatibiliza essa previs‹o legal? Se ele se remeter ao sil•ncio isso n‹o o pode
desfavorecer, e o sil•ncio pode ser s— parcial.

Como se relaciona este regime legal das declara•›es do arguido em caso de sil•ncio quanto aos
factos, com o artigo 127.¼?
Se dizemos que ele aprecia as provas como quiser e entender, salvo seja, e s— tem que
fundamentar, n‹o Ž uma liberdade total; aqui o juiz n‹o pode interpretar o sil•ncio num certo
sentido, ou seja, o juiz pode interpretar o sil•ncio do arguido? Sim, s— n‹o pode interpretar num
sentido, Ž o que a lei diz. N‹o Ž uma exce•‹o ao principio da livre aprecia•‹o, mas uma limita•‹o Ð
ele n‹o pode interpretar o sil•ncio no sentido desfavor‡vel ao arguido. Ele est‡ limitado na sua
aprecia•‹o porque n‹o pode fazer uma aprecia•‹o num certo sentido.

[Fa•amos j‡ a quest‹o 4 do caso]

4.
Qual o efeito deste sil•ncio do arguido? E se o juiz se convencer de que naquelas circunst‰ncias a
œnica circunst‰ncia de ele estar calado Ž ser culpado? T’nhamos que enquadrar desde logo o principio
da livre aprecia•‹o da prova, declara•›es do arguido, e direito ao sil•ncio. H‡ um direito ao sil•ncio,
sendo que este s— pode produzir efeitos num sentido, n‹o noutro. O sil•ncio nunca pode ter
como efeito a confiss‹o. Estamos preocupados em contraria o h‡bito do senso comum que Ž dizer
que quem cala consente Ð em processo penal isso n‹o acontecer, e o sil•ncio n‹o pode ter esse efeito.
Se o juiz se convencer que ele se calou Ž porque Ž culpado, pode ele formar a convic•‹o no sentido
da culpa do arguido? Pode, n‹o pode Ž dizer que foi tendo em conta o direito ao sil•ncio, ele pode ter
outros meios de prova que tal comprometem. Ele n‹o pode Ž fundamentar a culpabilidade com base

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no sil•ncio Ð o sil•ncio do arguido Ž uma verdadeira limita•‹o ao principio da livre aprecia•‹o da


prova.
O direito ao sil•ncio tem direta rela•‹o com o estatuto do arguido, de alguŽm que se presume
inocente. Em boa verdade, o direito ao silencio Ž uma das principais carater’sticas do estatuto
processual do arguido, marcado pela presun•‹o de inoc•ncia, uma garantia constitucional prevista no
32.¼/1 e 2 CRP. Devemos relacionar essa nota do direito ao sil•ncio do arguido, com a parte da matŽria
em que falamos do sil•ncio logo no inicio, com a regula•‹o do sil•ncio quanto ˆ aprecia•‹o do juiz ˆ
fase de julgamento Ð devemos relacionar quer o cap’tulo dos meios processuais (p‡ginas 113 das
li•›es), com a outra parte das li•›es em que se fala da aprecia•‹o dessa prova e dos princ’pios
aplic‡veis ˆ fase e julgamento (p‡ginas 171 e seguintes).

Artigos 341.¼/1 e 345.¼/1 Ð normas relativas ao julgamento e ao efeito que o sil•ncio tem ou
n‹o do exerc’cio do direito ao sil•ncio na fase do julgamento. O artigo 343.¼/1 prev• desde logo
que o presidente informa o arguido que tem o direito a prestar declara•›es, sem que a tal seja obrigado
e sem que o seu sil•ncio o possa desfavorecer; o sil•ncio nunca pode ser interpretado num sentido
desfavor‡vel ao arguido. Se dizemos que o juiz nunca pode interpretar o sil•ncio no sentido
desfavor‡vel ao arguido, ent‹o dizemos que nestes casos h‡ em rela•‹o ao principio da livre
aprecia•‹o da prova uma limita•‹o a este. Se a regra Ž a de que o juiz aprecia como entender e
aqui n‹o pode interpretar no sentido de desfavorecer o arguido, temos aqui uma limita•‹o do principio
Ð o sil•ncio do arguido Ž um dos casos de limita•‹o ˆ livre aprecia•‹o da prova, e uma
verdadeira limita•‹o; o legislador limita a possibilidade de o juiz interpretar num certo sentido. Est‡
aqui subjacente o principio da n‹o autoincrimina•‹o, um direito constitucional do arguido,
presumindo-se este como inocente.

Na quest‹o 1 e na quest‹o 4 temos de aflorar o direito ao sil•ncio Ð n‹o existe na pergunta 1, tem
que responder; na pergunta 4 h‡ um efeito do direito ao sil•ncio quando falarmos de declara•›es
quanto aos factos.

2.
A nega•‹o pode ser verdade ou pode ser mentira Ð por vezes h‡ a tend•ncia de dizer que se
ele nega est‡ a mentir, mas n‹o necessariamente. A quest‹o que nos interessa n‹o Ž essa; no caso
do arguido negar os factos vale inteiramente o principio da livre aprecia•‹o da prova, artigo 127.¼,
o juiz acredita ou n‹o acredita com base na sua convic•‹o, nas regras da experi•ncia,
confrontos com meios de prova, etc.

Aqui negou os factos e prestou declara•›es falsas. Temos que come•ar por dizer, e que Ž
importante, que quando um arguido nega os factos, n‹o quer dizer que sempre que negue esteja a
faltar ˆ verdade, agora quando nega o juiz pode sempre apreciar livremente as declara•›es dele (pode

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acreditar ou n‹o). Quando h‡ nega•‹o vale inteiramente o principio da livre aprecia•‹o da prova.
E se negar e for evidente por confronto com outros meios de prova que aquela nega•‹o Ž falsa,
que prestou declara•›es falsas. Pode ser responsabilizado criminalmente? N‹o, n‹o pode Ð
contrariamente ao que acontece com as testemunhas. Desde logo as testemunhas prestam
juramento, o arguido n‹o presta juramento em caso algum - artigo 140.¼/3. Claramente se diz que
ele n‹o presta juramento Ð porque ele n‹o Ž de facto obrigado a responder com verdade quanto aos
factos; ele n‹o tem um dever de responder nem dever de responder quanto aos factos. N‹o significa
que haja um direito ˆ mentira, significa apenas que s— se exige ao arguido que ele cumpra o dever de
verdade em rela•‹o aos seus dados pessoais, n‹o se exige que ele colabore com a justi•a, que
seja um agente da sua pr—pria condena•‹o, portanto, as decola•›es que ele prestar negando
ser‹o sempre livremente apreciadas pelo juiz, podendo este acreditar nelas ou n‹o, mas mesmo
que n‹o acredite nunca h‡ lugar a responsabilidade penal.

Em rela•‹o ˆs testemunhas, prova testemunhal Ð artigo 128.¼, mais concretamente artigo 132.¼, al.
d) Ð a testemunha tem um dever de responder com verdade, pelo que a testemunha essa sim, presta
juramento para j‡ (al. b), e tem que responder com verdade, o que significa que se n‹o responder com
verdade incorre em responsabilidade criminal Ð artigo 132.¼/2.

3.
Lu’s confessa os factos; quais os efeitos desta confiss‹o? Esta Ž uma situa•‹o que temos de
analisar com mais cuidado. No caso da confiss‹o h‡ um regime mais dif’cil de explicar no sentido
em que h‡ uma maior necessidade de fazer distin•›es.
Temos que olhar ao regime do artigo 344.¼ Ð h‡ desde logo uma nota prŽvia importante: no caso da
confiss‹o temos de primeiro, antes de saber se h‡ ou n‹o limita•‹o ao principio da livre aprecia•‹o da
prova, ver a moldura para o crime em causa; falamos aqui de tr‡fico de pessoas, artigo 160.¼/1, qual
a moldura? 3 a 10 anos. Temos sempre que ver primeiro se o crime Ž pun’vel com pena de pris‹o
atŽ 5 anos ou superior a 5 anos Ð temos de ver se est‡ em causa pequena criminalidade ou mŽdia
criminalidade. O regime do n.¼ 2 do 344.¼ aplica-se ˆ pequena e mŽdia criminalidade, o do n.¼ 3, al. c)
diz que n‹o se aplica quando estiver em causa criminalidade grave.

Se estivermos perante um crime de, por exemplo, furto simples, artigo 203.¼ (atŽ 3 anos) Ð aplica-
se o regime do n.¼ 2; se alguŽm confessar um crime de furto simples acontece o que? Ou seja, a pessoa
confessa acabou, n‹o se faz mais produ•‹o de prova nenhum e os factos que confessou s‹o
dados como comprovados. Isto significa que o juiz vai apreciar livremente esta prova? N‹o
porque o legislador lhe est‡ a dizer que ele tem que dar os factos como provados, n‹o vai dar
como provados se acreditar. A limita•‹o ao principio da livre aprecia•‹o est‡ aqui, na œltima parte da
al. a) do n.¼ 2. Passa-se de imediato ˆs alega•›es orais e reduz-se a taxa de justi•a a metade.

Se forme crime de pequena e mŽdia criminalidade, pena atŽ 5 anos, a confiss‹o implica uma
limita•‹o ˆ livre aprecia•‹o do julgador, sendo ele obrigado a dar como provados os factos. Mas

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a Dr.» Maria Jo‹o Antunes diz que esta Ž uma limita•‹o aparente porque, se virmos, o juiz nos
termos do n.¼ 3, al. b) pode sempre suspeitar do carater livre da confiss‹o Ð ou seja, imaginemos
que para o juiz Ž evidente que aquela pessoa que acabou de confessar estava a mentir, por qualquer
circunst‰ncia, ela est‡ a ser coagida a confessar, por exemplo. Tem que dar esses factos como
provados? N‹o porque vai caber na al. b) do n.¼ 3 Ð excetuam-se do numero 2 estes casos. A Dr.»
Maria Jo‹o diz que na pequena e mŽdia criminalidade, segundo o artigo 344.¼/2, a) h‡ uma limita•‹o ˆ
livre aprecia•‹o da prova, mas Ž apenas aparente porque o juiz pode sempre suspeitar do car‡ter livre
daquela confiss‹o e acabar por n‹o dar como provados aqueles factos. Isto se o nosso crime fosse de
pequena/mŽdia criminalidade.

Mas no nosso caso temos um crime pun’vel com pena de pris‹o superior a 5 anos, j‡ est‡vamos
ao abrigo do n.¼ 3 por for•a da al. c) Ð o legislador para crimes pun’veis com pena de pris‹o superior a
5 anos, j‡ diz que essa confiss‹o Ž livremente apreciada pelo juiz. No caso dos crimes de
criminalidade grave, com penas superioras a 5 anos, vale inteiramente o principio da livre aprecia•‹o
de prova Ð d‡ os factos como provados se acreditar naquela confiss‹o, n‹o d‡ se n‹o acreditar
naquela confiss‹o.

N‹o Ž obrigado a conden‡-la, pode analisar os outros meios de prova e n‹o acreditar naquela
confiss‹o, seguindo uma convic•‹o diferente.

5.
Pode o juiz de julgamento ordenar oficiosamente realiza•‹o de per’cias? A prova pericial, artigos
151.¼ ss, tem lugar quando Ž preciso um ju’zo feito por alguŽm com especiais conhecimentos
tŽcnicos cient’ficos ou art’sticos. Imaginemos que o juiz entende que o Lu’s tem uma anomalia
ps’quica, mas ele n‹o Ž tŽcnico; pode o juiz de julgamento ordenar a produ•‹o de meios de prova?
Pode, ao abrigo do princ’pio da investiga•‹o Ð um principio estruturante do processo penal
portugu•s, uma estrutura de base acusat—ria, mas integrada por um principio de investiga•‹o Ð h‡ uma
norma paradigm‡tica sobre este que nos diz que o juiz pode oficiosamente mandar produzir prova
alŽm daquela que a defesa ou acusa•‹o requereram; n‹o Ž um juiz passivo que dependa da sua
avalia•‹o da prova carreada pela prova levada ao processo. N‹o h‡ partes nem obriga•‹o destas
serem obrigadas a trazer provas para o processo. H‡ um juiz que exerce este poder-dever de
investigar Ð artigo 340.¼. ƒ a norma ao abrigo da qual um juiz pode ordenar a produ•‹o de qualquer
meio de prova durante o julgamento desde que ele ache necess‡rio ˆ descoberta da verdade Ð e Ž isso
que est‡ aqui em causa, uma per’cia que ninguŽm requereu, podendo ele orden‡-la ao abrigo deste
artigo 340.¼. O principio da investiga•‹o Ž um principio geral de prossecu•‹o processual (julgamento)
e tambŽm um principio relativo ˆ prova, justamente nesta fase. Esta ideia decorre tambŽm com o
regime da prova pericial, artigo 154.¼.

Qual o valor desta prova? Ele ordena a realiza•‹o da per’cia e depois o que vem referido no
relat—rio tem ou n‹o uma consequ•ncia? Qual o seu valor? Rege o artigo 163.¼ - no n.¼ 1, temos uma

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presun•‹o, porque se diz que o ju’zo feito pelo perito se presume subtra’do ˆ livre aprecia•‹o do
julgador, ou seja, significa que vale aquilo que o perito diz na per’cia, n‹o Ž o juiz que olhar para a
per’cia e acreditar ou n‹o no ju’zo pericial, ele faz prova por si s—, vale o que disser o perito na per’cia;
temos no n.¼ 1 uma limita•‹o ao principio da livre aprecia•‹o da prova. A limita•‹o est‡ no n.¼ 1
mas h‡ um n.¼ 2 (distinguir) Ð j‡ se diz que o juiz pode divergir do ju’zo apresentado pelo perito.
Se pode divergir tendo que fundamentar a sua diverg•ncia, volta-se a permitir que o juiz aprecie
livremente. H‡ novamente uma escapat—ria no n.¼ 2 Ð faz sentido que ele divirja no sentido em que
pode haver um erro not‡rio nessas bases do perito. A’ ele pode divergir do ju’zo pericial Ð verifica
que nos pressupostos de que partiu h‡ lapsos, por exemplo, n‹o havendo em face disso possibilidade
de acompanhar esse ju’zo. A’ claramente Ž uma situa•‹o exemplo do n.¼ 2. A outra situa•‹o pode ter
a ver com o facto em que o juiz Ž tambŽm um perito na matŽria Ð tem conhecimentos id•nticos aos
do perito (Ž pouco prov‡vel mas pode acontecer). Claro tendo sempre de fundamentar.

6.
Quais as provas que valem em julgamento? As que s‹o produzidas em julgamento. Esta regra
tem direta rela•‹o, artigo 355.¼ (n‹o valem em julgamento provas que n‹o tiverem sido produzidas ou
examinadas em audi•ncia) com dois princ’pios fundamentais do processo penal com import‰ncia na
fase julgamento Ð princ’pio da oralidade (a forma de se atingir a decis‹o sup›e a pr‡tica de atos sob
a forma oral; atŽ ˆ decis‹o pratica-se uma sŽrie de atos e esses devem ser praticados oralmente; isso
Ž muito importante para garantir o outro principio) e principio da imedia•‹o (rela•‹o que o juiz tem
com a prova, a rela•‹o que ele tem com a prova Ž de proximidade comunicante, ele aprecia a prova
sem qualquer media•‹o, diretamente). Acredita-se no que a pessoa diz n‹o s— pelo que diz, mas pela
forma como diz, se hesita, se n‹o, se houve contradi•›es, isto Ž tudo muito importante. A forma como
falam Ž muito importante para o convencimento do juiz, sendo essa imedia•‹o fundamental no
julgamento. Por isso Ž que se diz que no recurso e no STJ estes n‹o se podem substituir em rela•‹o ˆ
primeira inst‰ncia porque n‹o h‡ a mesma imedia•‹o com a prova, n‹o h‡ mesma proximidade.

Isto, apesar de tudo, permite exce•›es Ð as situa•›es previstas nos artigos 356.¼ e 357.¼.
possibilidade de se reproduzem no julgamento declara•›es prestadas anteriormente. O artigo 357.¼ Ž
o nosso caso Ð para que seja poss’vel reproduzir ou ler declara•›es que prestou em julgamento Ž
necess‡rio o que? Ou foi ele que pediu, al. a), ou nos casos da al. b) que ser‡ o nosso exemplo Ð
podem ser usadas como prova em julgamento ou n‹o? Depende se foram feitas por autoridade
judici‡ria, na presen•a do defensor e se o arguido pudesse ter sido informado de que isto podia
acontecer. Aten•‹o, Òque o que ele disser agora poder‡ valer em julgamentoÓ.

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[Material relativo a uma matŽria iniciada na te—rica, mas n‹o foi conclu’da ainda. Altera•‹o dos factos.
Quando temos um CP sobre altera•‹o temos primeiro de decidir se h‡ factos novos ou s‹o os mesmos
e s— h‡ diferente posicionamento sobre eles. Se s— h‡ diferente posicionamento Ð altera•‹o da
qualifica•‹o jur’dica; acha que o crime deve ser homic’dio simples ou n‹o qualificado, ele pode fazer
isso tem Ž de dar prazo ao arguido para se defender. Agora, se houver facto novo que n‹o era
conhecido e foi descoberto agora h‡ 3 hip—teses. A’ j‡ Ž altera•‹o dos factos, ent‹o ou ela Ž substancial
ou n‹o substancial. O CPP diz isto no artigo 1.¼, f) Ð se os factos novos implicarem (...). Depois de
decidirmos se ela Ž da qualifica•‹o ou dos factos e sendo dos factos se Ž substancial ou n‹o, temos
de ver se aconteceu na instru•‹o, julgamento (...) e temos de seguir aquelas normas].

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Casos pr‡ticos resolvidos

I.

A foi constitu’do arguido em processo por crime de injœria (181.º CP).

1. Tendo sido deduzida acusa•‹o, pronuncie-se sobre a possibilidade de o ministŽrio pœblico se decidir pelo
arquivamento em caso de dispensa de pena ou pela suspens‹o provis—ria do processo.

O crime de injœria est‡ previsto no artigo 181.º, C—digo Penal (CP) e o respetivo procedimento criminal encontra-se no artigo
188.º - segundo este, estamos perante um crime particular.

Um dos princ’pios centrais do Direito Processual Penal portugu•s Ž o princ’pio da oficialidade: a iniciativa abrir inquŽrito e de
investigar a pr‡tica do facto e dos seus agentes (1.º momento), bem com submeter, ou n‹o, o facto a julgamento cabe, em regra,
ao MinistŽrio Pœblico (MP), como refere o artigo 48.º do C—digo de Processo Penal (CPP).

PorŽm, referimos Òem regraÓ porque os crimes particulares, como Ž o caso da injœria, s‹o uma verdadeira exce•‹o a este
princ’pio, nos seus dois momentos.

Assim, refere o artigo 50.º, CPP, que quando o procedimento criminal depender de acusa•‹o particular do ofendido ou de outras
pessoas, Ž necess‡rio que essas pessoas se queixem (o direito de queixa est‡ previsto no artigo 113.º, CP), se constituam
assistentes e deduzam acusa•‹o particular. Desta maneira, verificamos que tanto a iniciativa de abrir inquŽrito, como a de
acusar/n‹o acusar n‹o est‡ nas m‹os do MP.

O requerimento para que se possam constituir arguidos tem lugar no prazo de 10 dias a contar da advert•ncia referida (artigo
68.º/2, CPP).

Quem dirige a fase de inquŽrito, que Ž a fase de investiga•‹o por excel•ncia, continua, contudo, a ser o MP. ƒ nesta em que se
v‹o realizar o conjunto de dilig•ncias que visam investigar a exist•ncia de um crime, determinar os seus agentes e a
responsabilidade deles e descobrir e recolher provas (artigo 262.º, CPP). O MP dirige, ent‹o, o inquŽrito, auxiliado pelos —rg‹os
de pol’cia criminal (artigo 263,º/1, CPP).

Findo o inquŽrito, visto que o procedimento depende de acusa•‹o particular, o MP notifica o assistente para que este deduza,
em 10 dias, acusa•‹o particular, como refere o artigo 285.º, CPP. O nº4 desse mesmo artigo refere, ainda que o MP pode acusar
pelos mesmos factos, por parte deles ou por outros que n‹o importem uma altera•‹o substancial dos factos.

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Feito o enquadramento, passemos para a an‡lise da possibilidade de arquivamento em caso de dispensa de pena ou pela
suspens‹o provis—ria do processo.

Se estivŽssemos perante um crime pœblico ou semipœblico, como Ž o MP a deduzir a acusa•‹o, este tema n‹o trazia grandes
quest›es; no entanto, como sabemos, estamos perante um crime particular e, posto isto, temos de saber, primeiramente, o que
s‹o estes institutos e, num segundo momento, se valem, tambŽm, para os crimes particulares.

O instituto de arquivamento de pena e o instituto de suspens‹o provis—ria do processo est‹o previstos nos artigos 280.º e 281.º,
CPP, respetivamente.

Estes s‹o mecanismos de divers‹o, ou seja, divergem da tramita•‹o formal do processo penal: isto acontece tendo em conta
interesses do arguido, dado que se evita a ida a julgamento (s‹o, pois, uma alternativa ˆ acusa•‹o).

Estes dois artigos abrem portas a uma certa oportunidade; no entanto, n‹o plenamente, dado que est‹o previstos na lei e
respondem perante critŽrios apertados.

S— podemos aplicar estes mecanismos de divers‹o relativamente ˆ pequena e mŽdia criminalidade (basta olhar para o artigo
280.º, que se aplica em caso de se aplicar a dispensa de pena, prevista no artigo 74.º, CP; e para o artigo 281.º, que apenas
permite a sua aplica•‹o em rela•‹o a penas n‹o superiores a 5 anos).

AlŽm disso, o 280.º e o 281.º exigem a consensualidade de diversos intervenientes no processo: no primeiro caso, do MP e do
juiz de instru•‹o; no segundo, do MP, do juiz de instru•‹o e do assistente.

Desta forma, como o artigo 281.º exige o consentimento do assistente (que, relembre-se, no caso em apre•o deduziu
acusa•‹o), n‹o h‡ problemas maiores quanto ˆ aplica•‹o desde instituto.

PorŽm, o artigo 280.º s— exige o consentimento do MP e do juiz: apesar disso, a Dr.ª Maria Jo‹o Antunes considera que, mesmo
neste caso, Ž poss’vel lan•ar m‹o deste instituto. Basta, ali‡s, olhar para o intuito do mesmo, que Ž evitar que o arguido passe
pela Òcerim—nia degradante do julgamentoÓ e evitando, ainda, a dessocializa•‹o do mesmo.

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2. Supondo que o arguido confessou os factos de que vinha acusado em audi•ncia de julgamento, diga quais os efeitos
dessa confiss‹o

Estamos no ‰mbito dos meios de prova, sendo que o artigo 124.º, CPP, refere que constituem objeto de prova todos os factos
juridicamente relevantes para a exist•ncia ou inexist•ncia do crime, a punibilidade ou n‹o punibilidade do arguido e a
determina•‹o da pena ou da medida de seguran•a, sendo admiss’veis as provas que n‹o forem proibidas por lei (artigos 125.º e
126.º, CPP).

No nosso sistema processual penal rege-se por um princ’pio de livre aprecia•‹o da prova, segundo o qual a prova Ž apreciada
segundo as regras da experi•ncia e da livre convic•‹o da entidade competente. Assim, por um lado negativo, n‹o temos, entre
n—s, um valor de prova previamente fixado por lei; por outro, a livre aprecia•‹o n‹o Ž sin—nimo de livre arb’trio da entidade
competente, pelo que tem de haver uma devida fundamenta•‹o acerca da convic•‹o formada.

As declara•›es do arguido s‹o um dos meios de prova admitidos, encontrando-se previstas nos artigos 140.º e seguintes, CPP.
Face ˆs quest›es que lhe s‹o colocadas, o arguido pode assumir um de tr•s comportamentos: negar os factos, remeter-se ao
sil•ncio ou confess‡-los, que Ž o nosso caso.

O regime da confiss‹o encontra-se no artigo 344.º, CP.

O presidente tem sempre de perguntar ao arguido se confessa os factos de livre vontade, livre de qualquer coa•‹o, bem como
se prop›e a fazer uma confiss‹o integral e sem reservas.

Quando a confiss‹o Ž feita de modo integral e sem reservas, n‹o sendo o crime pun’vel com pena de pris‹o superior a 5 anos,
que Ž o nosso caso, renuncia-se ˆ produ•‹o de prova relativa aos factos imputados e consideram-se os mesmos como
provados. Passa-se, ent‹o, de imediato ˆs alega•›es orais.

No entanto, se a confiss‹o n‹o for feita de modo integral e sem reservas (bem como nos casos de a pena aplic‡vel ser superior
a 5 anos), o tribunal decide, em sua livre convic•‹o, se deve ter lugar e em que medida, a produ•‹o de prova quanto aos factos
confessados.

Deste modo, os efeitos da confiss‹o dependem em que termos a mesma foi feita; esses mesmos termos podem implicar, como
vimos, um desvio ao princ’pio da livre aprecia•‹o da prova.

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Direito Processual Penal

II.

A est‡ a ser julgado pela pr‡tica de um crime de dano com viol•ncia (214.º/1/a, CP).

1. Na fase de inquŽrito, invocando a culpa do agente e a necessidade de prote•‹o do ofendido, o juiz aplicou a A a
proibi•‹o de contactar com determinadas pessoas e de frequentar certos lugares. Aprecie criticamente a decis‹o
do juiz.

O crime de dano com viol•ncia Ž um crime pœblico e, como tal, vale o princ’pio da oficialidade nos seus dois momentos: o MP
tem legitimidade para promover o processo penal (artigo 48.º, CPP).

Adquirindo a not’cia do crime (artigo 241.º, CPP), cabe-lhe a iniciativa de abrir inquŽrito e investigar a exist•ncia do crime, dos
seus agentes, a responsabilidade deles, bem como recolher as provas (artigo 262.º, CPP); para tal, realizam-se todas as
dilig•ncias necess‡rias, com o aux’lio dos —rg‹os de pol’cia criminal (artigo 262.º, CPP).

No caso em apre•o, sabemos que o juiz aplicou a proibi•‹o de A contactar com determinadas pessoas e de frequentar certos
lugares, ou seja, aplicou a medida de coa•‹o de proibi•‹o e imposi•‹o de condutas, nomeadamente a do nº1, al’nea d) do
mesmo artigo.

As medidas de coa•‹o implicam sempre, em maior ou menor medida, uma restri•‹o ˆ liberdade: esta, ali‡s, Ž uma das medidas
mais gravosas que pode ser imposta, ficando apenas atr‡s da obriga•‹o de perman•ncia na habita•‹o e da pris‹o preventiva.

Esta tem‡tica das medidas de coa•‹o Ž muito pr—xima da necessidade de concord‰ncia pr‡tica das finalidades do processo
penal: temos sempre de ter em conta que est‹o a ser aplicadas a uma pessoa que ainda se presume inocente; ao mesmo tempo,
tem de se balan•ar com a finalidade de realiza•‹o da justi•a e descoberta da verdade.

A aplica•‹o de medidas de coa•‹o implica, ent‹o, uma sŽrie de requisitos apertados e uma data de princ’pios.

Quanto aos princ’pios, temos o da legalidade, o da necessidade, o da adequa•‹o, o da proporcionalidade, o da subsidiariedade e


o da precariedade.

No caso em apre•o, avulta o princ’pio da necessidade. As medidas de coa•‹o devem ser necess‡rias e adequadas ˆs exig•ncias
cautelares (artigo 193.º, CPP), sendo que essas exig•ncias cautelares se encontram previstas no artigo 204.º, CPP.

Deste modo, nenhuma medida de coa•‹o pode ser aplicada se em concreto n‹o se verificar, no momento da aplica•‹o da
mesma, pelo menos uma das situa•›es enunciadas ao longo das tr•s al’neas. Nenhuma destas œltimas, ali‡s, refere sequer
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como critŽrio a culpa do agente: atenta-se, ao invŽs, ˆs finalidades de descoberta da verdade e da realiza•‹o da justi•a (al’neas
a e b) e ao restabelecimento da paz jur’dica (al’nea c).

Como tal, e segundo o artigo 212.º, a medida de coa•‹o aplicada deve ser imediatamente revogada.

2. Suponha agora que A foi submetido a julgamento acusado da pr‡tica de um crime de dano (212.º, CP) e que o
tribunal o condenou pelo crime de dano com viol•ncia (214.º/1/a, CP), por se ter apurado, no decurso da audi•ncia
de julgamento, que os factos foram praticados com viol•ncia contra uma pessoa. Pronuncie-se sobre a validade da
decis‹o do tribunal.

A hip—tese sub judice prende-se com a quest‹o de altera•‹o substancial dos factos/altera•‹o da qualifica•‹o jur’dica. No
primeiro caso, surgem novos factos que s‹o relevantes; no segundo, os factos s‹o os mesmos, apenas se alterando a
qualifica•‹o jur’dica em si.

Neste caso, temos a descoberta de novos factos que levam ˆ imputa•‹o ao agente de um crime de dano. Temos, ent‹o, de
saber se essa altera•‹o Ž, ou n‹o, substancial.

Consideramos uma altera•‹o substancial dos factos aquela que tiver por efeito a imputa•‹o ao arguido de um crime diverso ou a
agrava•‹o dos limites m‡ximos das san•›es aplic‡veis. ƒ o que acontece no caso em apre•o.

Como estamos na fase de julgamento, temos de mobilizar do artigo 359.º, CPP.

Segundo este, uma altera•‹o substancial dos factos descritos na acusa•‹o ou na pronœncia (porque fixam o objeto do processo
e n‹o se pode ir alŽm dele) n‹o pode ser tomada em considera•‹o pelo tribunal para o efeito de condena•‹o no processo em
curso, nem implica a extin•‹o da inst‰ncia.

A comunica•‹o da altera•‹o dos factos ao MP vale como denœncia para que ele proceda pelos novos factos, se estes forem
autonomiz‡veis; n‹o Ž, contudo, o nosso caso.

Ressalva-se, porŽm, a hip—tese de o MP, o arguido e o assistente estiverem de acordo com a continua•‹o do julgamento pelos
novos factos (nº3).

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III.

1. A apresentou queixa contra B e constitui-se assistente, imputando-lhe a pr‡tica de um crime de injœria (181.º/1 CP).
Pressupondo que o MinistŽrio Pœblico arquivou o inquŽrito, diga se esta decis‹o Ž pass’vel de controlo.

A injœria Ž um crime previsto no artigo 181.º, CP, sendo que depende de acusa•‹o particular, como refere o artigo 188.º, CP.

Os crimes particulares s‹o uma verdadeira exce•‹o ao princ’pio da oficialidade. Este princ’pio permite-nos saber a quem
compete a iniciativa de abrir o inquŽrito e investigar a pr‡tica do facto (1.º momento), bem como a de decidir pela sua
submiss‹o, ou n‹o, a julgamento (2.º momento). Em regra, esta compet•ncia pertence a uma entidade pœblica estadual (MP).

Contudo, quando o procedimento criminal depender de acusa•‹o particular, Ž necess‡rio que o ofendido ou outra pessoa com
direito de queixa (artigo 113.º, CP) se queixem (exce•‹o ao 1.º momento), se constituam assistente e deduzam acusa•‹o
particular (exce•‹o ao 2.º momento), tal como estipulado pelo artigo 50.º, CPP.

A fase de inquŽrito Ž, na mesma, conduzida pelo MP, auxiliado pelos —rg‹os de pol’cia criminal. Sendo a fase de investiga•‹o por
excel•ncia, o inquŽrito compreende o conjunto de dilig•ncias necess‡rias que visam investigar a exist•ncia de um crime,
determinar os seus agentes e a responsabilidade destes, bem como descobrir e recolher provas (artigo 262.º, CPP).

Findo o inquŽrito, diz o artigo 285.º, CPP, quando o procedimento depender de acusa•‹o particular, o MP notifica o assistente
para que este deduza acusa•‹o.

Assim, temos aqui de diferenciar duas hip—teses: foi o assistente que n‹o deduziu acusa•‹o no prazo? Ou foi o MP que n‹o o
notificou para o fazer?

No caso de o assistente n‹o ter deduzido acusa•‹o, n‹o h‡ nada a fazer, porque teve, efetivamente, oportunidade de o fazer.

PorŽm, apesar de a al’nea b) do artigo 287.º valer para os casos em que o procedimento n‹o dependa de acusa•‹o particular,
consideramos que no caso de n‹o ter sido notificado pelo MP para o fazer, o assistente pode requerer a abertura de instru•‹o
(meio de controlo judicial), no mesmo prazo de 20 dias. O requerimento, aqui, vale como dedu•‹o de acusa•‹o.

Outra hip—tese prevista Ž a do artigo 278.º, CPP: se o assistente n‹o quiser requerer a abertura de instru•‹o, pode optar pelo
mecanismo da interven•‹o hier‡rquica.

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IV.

Na fase de inquŽrito foram recolhidos ind’cios suficientes no sentido de A ter praticado um crime de abuso sexual de
crian•as (171.º/1, CP).

1. Justifique pol’tico-criminalmente a aplica•‹o no caso da suspens‹o provis—ria do processo.

O crime de abuso sexual de crian•as encontra-se previsto no artigo 171.º e Ž um crime pœblico. Como tal, vale o princ’pio da
oficialidade na sua plenitude - o MP tem legitimidade para promover o processo penal (artigo 48.º, CPP) e, como tal, compete-
lhe a iniciativa de abrir inquŽrito e investigar a pr‡tica do facto (1.º momento) e de decidir a submiss‹o, ou n‹o, da causa a
julgamento (2.º momento).

Posto isto, adquirida a not’cia do crime (artigo 241.º, CPP), tem de haver lugar ˆ abertura de inquŽrito, por causa do princ’pio da
legalidade (artigo 262.º/2, CPP). Nesta fase, v‹o ser realizadas as dilig•ncias que visam investigar a exist•ncia de um crime,
determinar os seus agentes e a responsabilidade deles, bem como descobrir e recolher as provas (artigo 262.º/1).
Apesar de a dire•‹o do inquŽrito caber ao MP, este Ž assistido pelos —rg‹os de pol’cia criminal, que atuam sob a direta
orienta•‹o do MP e na sua depend•ncia funcional (artigo 263.º/1 e 2, CPP).

Com o encerramento do inquŽrito, temos duas op•›es: o arquivamento ou a dedu•‹o de acusa•‹o (artigo 276.º, CPP).
Se durante o inquŽrito tiverem sido recolhidos ind’cios suficientes de se ter verificado o crime e de quem foi o seu agente, o MP
tem de deduzir acusa•‹o contra aquele (artigo 283.º, CPP, que reflete, mais uma vez, o princ’pio da legalidade - entre n—s n‹o
vale um princ’pio da oportunidade e o MP tem de deduzir acusa•‹o).

Para tal, consideram-se suficientes os ind’cios sempre que deles resultar uma possibilidade razo‡vel de ao arguido vir a ser
aplicada, por for•a deles e em julgamento, uma pena ou uma medida de seguran•a (artigo 283.º/2 CPP). ƒ, portanto, feito um
ju’zo de prognose.

Todavia, h‡ alternativas aos despachos de acusa•‹o, isto Ž, apesar de se terem recolhido ind’cios suficientes, em vez de
recorrermos ao despacho, mobilizamos um dos institutos previstos nos artigos 280.º e 281.º, CPP.
No caso em apre•o, falamos especificamente da suspens‹o provis—ria do processo (artigo 281.º), CPP.

Este Ž um mecanismo de divers‹o, ou seja, vamos divergir da tramita•‹o comum do processo penal; em regra, tem-se em vista
os interesses do arguido, na medida em que se dispensa a ida a julgamento e uma eventual desscocializa•‹o do mesmo.

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Aplicam-se ˆ pequena e mŽdia criminalidade e s‹o institutos consensuais, ou seja, a sua aplica•‹o depende do consenso de
diferentes sujeitos processuais.

No caso, porŽm, em crime contra a liberdade e a autodetermina•‹o sexual de menor n‹o agravado pelo resultado, o MP pode
determinar a suspens‹o provis—ria do processo em concord‰ncia com o arguido e o juiz de instru•‹o (artigo 282.º/8, CPP). Aqui,
temos em causa n‹o os interesses do arguido, mas sim os interesses da v’tima.
Como o crime Ž pœblico, muitas das vezes pode correr contra a vontade da v’tima, sendo considerada este nœmero um
Òsuced‰neo do direito de desist•ncia ou renœnciaÓ, dado que nos crimes pœblicos vale o princ’pio da imutabilidade da acusa•‹o.

2. Supondo que foi deduzida acusa•‹o, diga em que circunst‰ncia poder‡ A ser julgado na aus•ncia.

A regra geral encontra-se no artigo 332.º, CPP: Ž obrigat—ria a presen•a do arguido na audi•ncia; contudo, faz-se a ressalva do
disposto dos artigos 333.º e 334.º, CPP.
A possibilidade de aus•ncia est‡ expressamente consagrada na nossa Constitui•‹o, no seu artigo 32.º/6: segundo este, a lei
define os casos em que, assegurados os direitos de defesa, pode ser dispensada a presen•a do arguido ou acusado em actos
processuais, incluindo a audi•ncia de julgamento.

O artigo 333.º refere, ent‹o, que se o arguido regularmente convocado (artigos 313.º e 113.º, CPP) n‹o estiver presente na hora
designada para o in’cio da audi•ncia, o presidente toma as medidas necess‡rias e legalmente admiss’veis para obter a sua
compar•ncia; neste seguimento, a audi•ncia s— ser‡ adiada se o tribunal considerar que Ž absolutamente indispens‡vel para a
descoberta da verdade a compar•ncia do arguido.

Note-se, ainda, que Ž um dever do arguido prestar termo de identidade e resid•ncia logo que adquira qualidade como tal (artigo
61.º/6/c, CPP). Este Ž uma medida de coa•‹o impr—pria, a menos grave, atravŽs da qual a pessoa se identifica com os dados
pessoais e indica uma morada. A partir da’, as posteriores notifica•›es passam a feitas por via postal simples (artigo 196.º/3/c,
CPP), sendo que pode ser realizada a audi•ncia na aus•ncia do arguido (al’nea d do mesmo artigo).

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3. Supondo que A foi condenado numa pena de pris‹o de 6 anos e que pretende recorrer com fundamento em viola•‹o
do princ’pio in dubio pro reo, diga qual Ž o tribunal competente para apreciar o recurso

Visto que A foi condenado numa pensa de pris‹o de 6 anos, foi julgado num tribunal coletivo, previsto no artigo 14.º, CPP, que
t•m compet•ncia em rela•‹o a crimes cuja pena m‡xima seja superior a 5 anos de pris‹o (nº2/al’nea c do mesmo artigo).

A princ’pio geral do nosso sistema Ž o da recorribilidade, ou seja, em regra Ž poss’vel recorrer dos ac—rd‹os, das senten•as e
dos despachos cuja irrecorribilidade n‹o esteja prevista na lei (artigos 399.º e 400.º, CPP), bem como do duplo grau de recurso
(se bem que Ž um princ’pio que cada vez comporta mais exce•›es, pois tem sido reservado para o STJ os casos mais graves).

Por norma, os recursos das senten•as proferidas pelos tribunais de primeira inst‰ncia interp›em-se para um Tribunal da Rela•‹o
(artigo 427.º, CPP). Contudo, estamos perante um caso de recurso per saltum para o Supremo Tribunal de Justi•a.

O princ’pio in dubio pro reo estabelece que ficando a dœvida aquŽm do razo‡vel, devem os factos favor‡veis ao arguido ser
dados como provados.

Ora, visto que temos, no caso em apre•o, uma senten•a superior a 5 anos e a aprecia•‹o de matŽria de direito (artigo 434.º,
CPP), por for•a do artigo 432.º/1/c, CPP, recorre-se para o STJ.

V.

O MinistŽrio Pœblico adquiriu a not’cia da pr‡tica de um crime de peculato, sendo o mesmo imputado a A (375.º/1, CP).

1. Durante o inquŽrito, o MinistŽrio Pœblico requereu a aplica•‹o ao arguido da obriga•‹o de perman•ncia na habita•‹o,
mas o juiz aplicou a pris‹o preventiva. Pronuncie-se sobre esta decis‹o.

O crime de peculato est‡ previsto no artigo 375.º, CP, sendo um crime pœblico.
Significa isto, ent‹o, que o MP tem legitimidade para promover o processo penal (artigo 49.º, CPP), valendo o princ’pio da
oficialidade na sua plenitude: adquirida a not’cia do crime (artigo 241.º, CPP), h‡ lugar a inquŽrito (artigo 262.º/2, CPP, sendo
que aqui se demonstra um reflexo do princ’pio da legalidade), que compreende o conjunto de dilig•ncias que visam investigar a
exist•ncia de um crime, determinar os seus agentes e respetiva responsabilidade e descobrir e recolher provas (artigo 262.º/1,
CPP).
A dire•‹o do inquŽrito, como demonstra o artigo 263.º, CPP, cabe ao MP, coadjuvado pelos —rg‹os de pol’cia criminal.

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Ora, sabemos que durante a fase de inquŽrito o MP requereu a aplica•‹o da obriga•‹o de perman•ncia na habita•‹o, que Ž uma
medida de coa•‹o; ao invŽs, o juiz aplicou a pris‹o preventiva, que Ž a medida de coa•‹o mais gravosa.

Uma medida de coa•‹o implica sempre a restri•‹o da liberdade do arguido, o que significa que, neste ‰mbito, avultam
especialmente as necessidades de concord‰ncia pr‡tica das finalidades do direito penal: por um lado, temos a descoberta da
verdade e a realiza•‹o da justi•a; por outro, temos uma medida que est‡ a ser aplicada a uma pessoa que ainda se presume
inocente. Isto significa que a aplica•‹o da mesma ainda tem de ser comunitariamente aceit‡vel tendo em conta a presun•‹o de
inoc•ncia.
Da’ que as medidas de coa•‹o tenham de respeitar uma sŽrie de princ’pios e requisitos apertados, tendo de ser coincidentes
com as exig•ncias cautelares de cada caso concreto.

O caso em apre•o remete-nos para o artigo 194.º, CPP, mais concretamente para o seu nº2. Segundo este, durante o inquŽrito,
o juiz pode aplicar medida de coa•‹o mais grave, quanto ˆ sua natureza, medida ou modalidade de execu•‹o, da que foi
requerida pelo MP, desde que com fundamento nas al’neas a) e c) do artigo 204.º: ou seja, desde que essa agrava•‹o tenha por
base a fuga ou perigo de fuga do arguido; ou o perigo, em raz‹o da natureza e das circunst‰ncias do crime ou da personalidade
do arguido de que este continue a atividade criminosa ou perturbe gravemente a ordem pœblica.

N‹o temos dados para averiguar se a aplica•‹o da pris‹o preventiva tem, ou n‹o, fundamento nessas duas hip—teses.

PorŽm, questionamos se esta Ž a solu•‹o adequada por dois motivos: atŽ que ponto faz sentido o juiz poder alterar a medida de
coa•‹o aplicada?
Por um lado, o MP Ž o dominus da fase de inquŽrito, sendo que este est‡ numa melhor posi•‹o para se pronunciar acerca das
exig•ncias do caso concreto. Por vezes, ali‡s, a aplica•‹o de uma determinada medida pode ser estratŽgia do pr—prio MP, que
v• as suas expectativas logradas com a decis‹o do juiz.
Por outro lado, o juiz de instru•‹o Ž o juiz das liberdades, o guardi‹o dos direitos, liberdades e garantias: n‹o faz sentido que,
assumindo esse papel, aplique ao arguido uma medida de coa•‹o pior e mais gravosa do que aquela que foi sugerida pelo MP.

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2. Tendo em vista a investiga•‹o da not’cia do crime, o MinistŽrio Pœblico solicitou ao arguido a entrega de
determinados documentos, tendo A recusado a entrega dos mesmos. Justifique este comportamento processual do
ponto de vista legal e doutrinal.

A quest‹o que se coloca tem a ver com o estatuto processual do arguido.

Desde o momento em que uma pessoa adquire a qualidade de arguido, Ž-lhe assegurado o exerc’cio de direitos e de deveres
processuais, sem preju’zo da aplica•‹o de medidas de coa•‹o (artigo 60.º, CPP).

Os direitos e deveres do arguido encontram-se espalhados ao longo do nosso CPP, mas temos um artigo dedicado a essa
tem‡tica, nomeadamente, o artigo 61.º, CPP.

Pelo artigo 32.º/1 da nossa Constitui•‹o, afirmamos que o processo criminal assegura todas as garantias de defesa, incluindo o
recurso; sendo que o nº2 do mesmo artigo estabelece que todo o arguido se presume inocente atŽ ao tr‰nsito em julgado da
senten•a de condena•‹o.

Neste ‰mbito, decorre um direito ao sil•ncio e ˆ n‹o auto-incrimina•‹o: o arguido n‹o tem um direito ˆ mentira, mas
simplesmente n‹o tem um dever de verdade nem de colabora•‹o com a administra•‹o da justi•a penal. Releva, ainda, uma outra
garantia do arguido, que Ž o respeito pela sua decis‹o de vontade.

A jun•‹o da n‹o auto-incrimina•‹o, do sil•ncio e do respeito pela sua decis‹o de vontade d‹o origem a uma sŽrie de direitos
concretos, nomeadamente, o de n‹o facultar meios de prova, como por exemplo, no nosso caso concreto, a prova documental.

Estes s‹o, ali‡s, direitos que o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem inclui num processo equitativo.

3. Supondo que o arguido foi condenado numa pena de pris‹o de 6 anos e que pretende recorrer quanto ˆ medida da
pena determinada, indique qual o tribunal competente para apreciar o recurso.

Tendo em conta que o arguido foi condenado numa pena de 6 anos, o tribunal competente para julgar em 1.ª inst‰ncia foi um
tribunal coletivo, previsto no artigo 14.º, CPP. Este julga os processos cuja pena m‡xima, abstratamente aplic‡vel, seja superior a
5 anos de pris‹o (nº2, al’nea b).

Em matŽria de recursos, a regra geral Ž a prevista no artigo 399.º, CPP, que Ž a da recorribilidade dos ac—rd‹os, senten•as e
despachos cuja irrecorribilidade (artigo 400.º, CPP) n‹o estiver prevista na lei.

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Por norma, o recurso da decis‹o proferida em 1.ª inståncia interp›e-se para um tribunal da Rela•‹o (artigo 427.º, CPP), que
conhece tanto matŽria de facto, como matŽria de direito (artigo 428.º, CPP).

O recurso s— Ž interposto para o Supremo Tribunal de Justi•a se se verificar algum dos casos previstos no artigo 432.º, CPP.

Um dos casos previstos no artigo mencionado supra Ž, precisamente, o caso de ac—rd‹os proferidos pelo tribunal de jœri que
apliquem uma pena de pris‹o superior a 5 anos, visando exclusivamente o reexame da matŽria de direito.

Como tal, o tribunal competente para conhecer do recurso Ž o STJ.

VI.

Durante o inquŽrito, foram recolhidos ind’cios suficientes de que A praticou os crimes previstos nos artigos 180.º/1 e
193.º, CP.

1. Enquadrando a quest‹o nos princ’pios da promo•‹o processual, diga quem Ž competente para deduzir acusa•‹o.

A difama•‹o Ž prevista no artigo 180.º/1 e Ž um crime de natureza particular (artigo 188.º, CP).

Por sua vez, a devassa por meio inform‡tico est‡ prevista no artigo 193.º, CP, sendo um crime de natureza pœblica.

Temos tr•s princ’pios fundamentais da promo•‹o processual: o da oficialidade, o da legalidade e o da acusa•‹o. Passemos,
ent‹o, ˆ an‡lise da quest‹o.

Tendo o nosso processo penal uma estrutura acusat—ria (32.º/5, CRP), h‡ uma cis‹o entre a entidade que investiga e acusa, e a
entidade que julga, como forma de garantir a objetividade e imparcialidade do julgador. A este princ’pio da acusa•‹o, temos de
interligar o princ’pio da oficialidade.

O princ’pio da oficialidade responde ˆ quest‹o de quem tem compet•ncia para abrir inquŽrito e investigar, bem como de
submeter, ou n‹o, a causa a julgamento. Esta tarefa cabe, em regra, ao MP, a uma entidade pœblica estadual, precisamente
porque estamos no ‰mbito de matŽria do interesse da comunidade (artigo 48.º, CPP).

O princ’pio da oficialidade vale na sua plenitude em rela•‹o aos crimes pœblicos, isto Ž, vale tanto no seu primeiro (abrir
inquŽrito e investigar), como no segundo momento (deduzir acusa•‹o). Nestes casos, vale, tambŽm, o princ’pio da legalidade,
segundo o qual, adquirida a not’cia do crime, h‡ sempre lugar a inquŽrito (artigo 262.º/2, CPP) e, por outro lado, recolhidos
ind’cios suficientes, tem de haver lugar ˆ dedu•‹o de acusa•‹o (artigo 283.º, CPP).
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Assim sendo, quanto ao nosso crime 193.º, CP, o MinistŽrio Pœblico, ap—s adquirir a not’cia do crime por um dos meios previstos
no artigo 241.º, CPP, tem de abrir inquŽrito.

A fase de inquŽrito Ž sempre da compet•ncia do MP, sendo a fase de investiga•‹o por excel•ncia. Compreende o conjunto de
dilig•ncias que visam investigar a exist•ncia de um crime, determinar os seus agentes e respetiva responsabiliza•‹o, e descobrir
e recolher as provas (artigo 262.º, CPP).

Recolhendo ind’cios suficientes, ou seja, aqueles de que resultar uma possibilidade razo‡vel ao arguido de vir a ser aplicada uma
pena ou uma medida de seguran•a, Ž o MP que tem, igualmente, compet•ncia (e obriga•‹o) de deduzir acusa•‹o (artigo 283.º/1
e 2, CPP).

Todavia, o princ’pio da oficialidade encontra desvios e exce•›es, quanto a crimes semipœblicos e particulares, respetivamente,

O crime de difama•‹o, como vimos, Ž um crime particular, o que significa que n‹o vale o princ’pio da oficialidade em nenhuma
os seus momentos (da’ ser uma exce•‹o).

Quanto a este crime, aplicamos o artigo 50.º, CPP: quando o procedimento que depender de acusa•‹o particular Ž necess‡rio
que o ofendido ou a pessoa com direito de queixa (artigo 113.º, CP) se queixem, constituam como assistentes e deduzam
acusa•‹o particular.

Assim, o MP s— abre inquŽrito com a queixa. Note-se que o MP continua a ser o dominus da fase de inquŽrito - esta n‹o passa
para as m‹os dos particulares; simplesmente n‹o se pode abrir inquŽrito sem a queixa do ofendido. Aqui temos, pois, uma
exce•‹o ao 1.º momento do princ’pio da oficialidade.

Remetemos as considera•›es feitas anteriormente relativas ˆ fase de inquŽrito para o crime particular.

Finda a fase de inquŽrito, mobilizamos o artigo 285.º, CPP: em caso de crime particular, o MP vai notificar o assistente para que
este deduza, em 10 dias, acusa•‹o particular (ou seja, n‹o vale, tambŽm, o 2.º momento).

No m‡ximo, o MP pode acusar pelos mesmos factos, por parte deles ou por outros que importem uma altera•‹o substancial dos
factos (nº4 do artigo 285.º, CPP).

Em conclus‹o, quanto ao crime de devassa por meio inform‡tico, a entidade competente para deduzir acusa•‹o Ž o MP;
enquanto que para o crime de difama•‹o, o competente Ž o assistente.

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2. Havendo pronœncia pelos factos constantes da acusa•‹o, poder‡ ser interposto recurso da decis‹o instrut—ria?

A fase de instru•‹o Ž uma fase facultativa do processo penal que, para existir, tem de ser requerida (artigo 287.º, CPP). Esta Ž
uma fase de controlo judicial da decis‹o de acusar/n‹o acusar, e n‹o do trabalho do MP em si (artigo 286.º, CPP).

A instru•‹o termina com um despacho de pronœncia ou de n‹o pronœncia e, sendo uma decis‹o judicial, Ž suscet’vel de recurso
(artigo 399.º, CPP), devido ao princ’pio geral da recorribilidade.

Quanto ao crime de devassa por meio inform‡tico, havendo acusa•‹o por parte do MP e despacho de pronœncia, aplicamos o
artigo 310.º, CPP: neste caso, o despacho Ž irrecorr’vel.

Isto justifica-se porque temos duas magistraturas distintas com a opini‹o no mesmo sentido (o MP, com a acusa•‹o, e a judicial,
com o despacho de pronœncia).

Quanto ao crime de difama•‹o, que Ž particular, depende: se o MP se juntou ˆ acusa•‹o do assistente, o despacho tambŽm Ž
irrecorr’vel. Contudo, isto j‡ n‹o vale para os casos em que a acusa•‹o do assistente n‹o for acompanhada pela do MP - aqui, j‡
Ž recorr’vel, porque n‹o temos duas magistraturas a decidir no mesmo sentido, mas sim a judicial e um particular.

VII.

O arguido A foi acusado da pr‡tica do crime de homic’dio simples (131.º CP). Em julgamento, prestou declara•›es e
confessou os factos que lhe eram imputados.

1. O tribunal decidiu, porŽm, absolver A com base no depoimento de 2 testemunhas que afastaram qualquer tipo de
participa•‹o de A no homic’dio. Justifique a decis‹o do ponto de vista legal e doutrinal.

O homic’dio simples est‡ previsto no artigo 131.º, CP, sendo um crime pœblico.

No nosso ordenamento processual penal, vigora o princ’pio da legalidade da prova (artigo 125.º, CPP), sendo admiss’veis todas
as provas que n‹o forem proibidas por lei (artigo 126.º, CPP).

AlŽm disso vigora, em regra, o princ’pio da livre aprecia•‹o da prova, previsto no artigo 127.º, CPP, segundo o qual a prova Ž
apreciada segundo as regras da experi•ncia e livre convic•‹o da entidade competente.

Segundo o artigo 124.º, CPP, constituem objeto da prova todos os factos juridicamente relevantes para a exist•ncia ou
inexist•ncia do crime, a punibilidade ou n‹o punibilidade do arguido e a determina•‹o da pena ou da medida de seguran•a.
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Tanto a prova testemunhal, como as declara•›es do arguido s‹o meios de prova expressamente admitidos no nosso CPP, nos
artigos 128.º e 140.º, CPP, respetivamente.

Quanto aos factos imputados ao arguido, ele pode adotar um de tr•s comportamentos: neg‡-los; nada dizer; ou confess‡-los.

Sabemos que, no caso em apre•o, o arguido confessou os factos que lhe eram imputados, o que nos remete para o artigo 344.º,
CPP, relativo ao regime da confiss‹o.

Por norma, uma confiss‹o integral e sem reservas implica a renœncia ˆ produ•‹o da prova relativa aos factos imputados e
consequente considera•‹o destes como provados (nº2, al’nea a, do artigo 344.º).

PorŽm, estamos perante uma exce•‹o: o nº3 do referido artigo estabelece que esse regime n‹o se aplica quando o crime for
pun’vel com pena de pris‹o superior a 5 anos; no caso sub judice, a pena aplic‡vel Ž de 8 a 16 anos de pris‹o.

Como tal, o tribunal decide, em sua livre convic•‹o, se deve ter lugar e em que medida, quanto aos factos confessados, a
produ•‹o de prova (nº4), valendo o princ’pio da livre aprecia•‹o da prova.

Quanto ˆ prova testemunhal, a testemunha Ž inquirida sobre factos de que possua conhecimento direto e que constituam objeto
da prova.

Estas est‹o obrigadas a prestar juramento (artigo 91.º/1, CPP), sendo obrigadas a

Como tal, valendo o princ’pio da livre aprecia•‹o da prova em ambos os meios, o juiz julga conforme as suas convic•›es. N‹o
tendo, necessariamente, de ficar preso ˆ confiss‹o.

2. Suponha agora que o tribunal, dando como provados os factos constantes da acusa•‹o, decidiu condenar o arguido A
por crime de homic’dio qualificado (132.º CP). Justifique a decis‹o do ponto de vista legal e doutrinal.

A acusa•‹o fixa o objeto do processo: assim sendo, n‹o se pode ir alŽm do mesmo na condena•‹o. Como tal, sendo acusado
por homic’dio simples, n‹o pode ser condenado por homic’dio qualificado.

Estamos no ‰mbito de uma altera•‹o da qualifica•‹o jur’dica dos factos, ou seja, n‹o entram novos factos em an‡lise; muda
simplesmente a qualifica•‹o do crime.

Como tal, visto que estamos na fase de julgamento, mobilizamos o artigo 358.º/3, CPP, que nos faz recorrer ao regime da
altera•‹o n‹o substancial dos factos.
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Neste sentido, o presidente, a requerimento, comunica a altera•‹o ao arguido e concede-lhe o tempo estritamente necess‡rio
para a prepara•‹o da defesa.

3. Surpreendido por uma opera•‹o policial no momento em que transportava coca’na, B p™s-se em fuga e desapareceu
para parte incerta. Poder‡ ser acusado e depois julgado por crime de tr‡fico de estupefacientes (21.º/1, DL n.º 15/93,
de 22 de Janeiro), apesar de o seu paradeiro ser desconhecido das autoridades judici‡rias?

O crime de tr‡fico de estupefacientes est‡ previsto no artigo 21.º do Decreto-Lei nº15/93 e Ž um crime pœblico. Vale, ent‹o, o
princ’pio da oficialidade na sua plenitude, bem como o da legalidade.

Como tal, adquirida a not’cia do crime (artigo 241.º, CPP) , o MP est‡ obrigado a abrir inquŽrito (artigo 262.º/2, CPP), para
efetuar as dilig•ncias que visam investigar a exist•ncia de um crime, bem como determinar os seus agentes e recolher as provas
necess‡rias (artigo 262.º/1, CPP).

A dire•‹o do inquŽrito cabe ao MP, coadjuvado pelos —rg‹os de pol’cia criminal, tal como Ž estabelecido pelo artigo 263.º/1, CPP.

Se durante a fase de inquŽrito tiverem sido recolhidos ind’cios suficientes de se ter verificado o crime e de quem foi o seu
agente o MO deduz acusa•‹o (artigo 283.º/1, CPP). Refor•a o nº2 que s‹o ind’cios suficientes aqueles que refletirem uma
possibilidade razo‡vel de ao arguido ser aplicada uma pena ou uma medida de seguran•a (faz-se, portanto, um ju’zo de
prognose).

Se se seguirem estes pontos, B pode, sim, ser acusado e julgado pelo crime em quest‹o.

Quanto ˆ segunda pergunta, temos de analisar alguns aspetos relevantes.

A regra Ž que a presen•a do arguido na audi•ncia Ž obrigat—ria (artigo 332.º, CPP). Contudo, a pr—pria CRP traduz a
possibilidade de, por vezes, e nos casos devidamente especificados na lei, a mesma poder prosseguir sem o arguido.

Esses casos est‹o previstos no artigo 333.º, aos quais se juntam os relativos ao termo de identidade e resid•ncia.

Estamos, portanto, perante um caso em que n‹o Ž poss’vel notificar o arguido do despacho, nem de executar uma deten•‹o ou
pris‹o preventiva, porque n‹o se sabe o seu paradeiro. Vai ser, ent‹o, notificado por editais para se apresentar em ju’zo e, se
n‹o acontecer, Ž declarado contumaz (artigo 335.º, CPP).

A declara•‹o de contum‡cia Ž um mecanismo de desmotiva•‹o ˆ falta da audi•ncia, visto que se traduz num estado de Òmorte
civil do arguidoÓ. Assim, aplica-se o regime do artigo 338.º.
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DIREITO PROCESSUAL PENAL


ALGUNS EXAMES FINAIS RESOLVIDOS

I
Quest›es te—ricas

1. A aplica•‹o de medidas de coac•‹o depende sempre da concreta verifica•‹o de exig•ncias


processuais de natureza cautelar.

As medidas de coac•‹o incluem-se nos meios processuais, estando reguladas nos artigos
181¼ a 226¼; e 27¼/3/b) e 28¼ da CRP. As medidas de coac•‹o previstas no processo penal
portugu•s est‹o previstas no artigo 196¼ a 202¼, estando enunciadas por ordem de gravidade (no
artigo 196¼ encontramos medidas de coac•‹o mais leves do que no artigo 202¼).
De entre estes tipos de medidas temos o termo de identidade e resid•ncia (artigo 196¼),
obriga•‹o de apresenta•‹o peri—dica (artigo 198¼), suspens‹o de exerc’cio de profiss‹o, fun•‹o,
actividade ou direito (artigo 199¼), obriga•‹o de perman•ncia na habita•‹o (artigo 201¼) e pris‹o
preventiva (artigo 202¼ e 27¼/3/d e 28¼ da CRP).
Todas estas medidas afectam, de forma mais ou menos intensa, direitos fundamentais da
pessoa a quem s‹o aplicadas, sendo aplicadas coactivamente pelo Estado. Este Ž um dom’nio
altamente problem‡tico j‡ que chocam aqui interesses e princ’pios contrapostos - a ideia de
concord‰ncia pr‡tica tem aqui um interesse pr‡tico significativo. O Estado est‡ aqui a limitar a
liberdade de alguŽm que n‹o foi declarado culpado e que se presume inocente. Por outro lado,
existe a necessidade de garantir interesses de ordem pœblica que o processo deve prosseguir e que
se prendem com uma boa e efectiva realiza•‹o de justi•a. Temos assim dois interesses que
colidem, o que faz com que a aplica•‹o de uma medida de coac•‹o dependa da verifica•‹o de
pressupostos materiais, de ordem geral e espec’fica, bem como pressupostos de ’ndole processual.
No que diz respeito ˆ vertente substantiva, esta Ž uma matŽria constitucionalmente conformada,
com princ’pios basilares como o da legalidade, subsidiariedade, precariedade, proibi•‹o do
excesso e a exig•ncia de reserva de juiz, que, de forma directa incidem nesta quest‹o.
Por outro lado, temos a vertente processual da quest‹o, existe um procedimento pr—prio,
destinado a aplicar a medida de coac•‹o. As medidas de coac•‹o s‹o medidas processuais que
afectam liberdades fundamentais, e nessa medida a sua aplica•‹o Ž sempre, qualquer que seja a
fase processual, da compet•ncia do juiz (da’ dizermos que existe uma reserva de juiz nos termos
do artigo 32¼/4 da CRP). Esta matŽria encontra-se regulada desde logo no artigo 194¼/1. Durante
o inquŽrito e fase de instru•‹o, Ž competente o juiz de instru•‹o (artigo 17¼ e 268¼/1/b)); durante
a fase de julgamento, Ž competente o juiz do julgamento; durante a fase de recurso, o juiz de
recurso.
Sendo aplicada uma medida de coac•‹o, o despacho de aplica•‹o deve ser sempre
fundamentado, havendo um especial dever de fundamenta•‹o se estivermos perante a medida de
coac•‹o mais gravosa - a pris‹o preventiva.

2. Em matŽria de prova pericial h‡ um desvio ao princ’pio da livre aprecia•‹o da prova.

O princ’pio da livre aprecia•‹o da prova Ž um dos princ’pios gerais relacionados com a


prova, a par do princ’pio da investiga•‹o, da legalidade da prova e in dubio pro reo.
Est‡ em causa saber no princ’pio da livre investiga•‹o da prova se, quando uma prova Ž

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produzida, a entidade competente aprecia a prova atravŽs de critŽrios legais ou da sua livre
convic•‹o pessoal, ou seja, atravŽs de um sistema de prova legal ou sistema de prova livre.
O artigo 127¼ estabelece entre n—s o princ’pio da livre aprecia•‹o, porŽm, n‹o possibilita
destarte que haja uma aprecia•‹o da prova subjectiva e arbitr‡ria: ao invŽs, esta est‡ vinculada
pelas finalidades da descoberta da verdade material e tem de ser sempre redut’vel a critŽrios
objectivos (artigo 365¼/3), logo, suscept’vel de motiva•‹o e controlo (artigo 374¼/3 e 379¼).
Sucede que este princ’pio vale relativamente ˆ maior parte dos meios de prova, mas a
prova pericial consubstancia uma excep•‹o ˆ regra.
A prova pericial, prevista no artigo 151¼ e seguintes, tem lugar quando a percep•‹o ou
aprecia•‹o dos factos exigirem especiais conhecimentos tŽcnicos, cient’ficos ou art’sticos. O
nosso sistema de prova pericial Ž um sistema de per’cia oficial, ou seja, o perito Ž nomeado pelo
tribunal. H‡ aqui um critŽrio legal de valora•‹o da prova pericial, que resulta do artigo 163¼, que
impede o juiz de livremente valorar a per’cia. Salvaguarda-se o caso raro do juiz ser tambŽm um
perito e decida em sentido contr‡rio (n¼ 2).

3. O regime legal da altera•‹o substancial dos factos constitui uma manifesta•‹o da


estrutura acusat—ria do processo penal portugu•s.

Comecemos por referir o que significa o processo penal portugu•s ter uma estrutura
acusat—ria. O artigo 32¼/5 da CRP, articulado com o artigo 219¼/1 e 2, revelam a estrutura
acusat—ria do nosso processo penal.
O processo penal de estrutura acusat—ria Ž caracter’stico de um Estado de pendor liberal.
Neste a nota fundamental Ž a de que, quem procede ˆ investiga•‹o e acusa Ž uma entidade distinta
da que procede ao julgamento (MinistŽrio Pœblico e Juiz, respectivamente) - este modelo garante
uma maior objectividade e imparcialidade da decis‹o.
A finalidade primordial do processo penal Ž a protec•‹o dos direitos das pessoas e,
nomeadamente, do arguido - porŽm, Ž tambŽm um processo que est‡ empenhado na descoberta
da verdade material. Assim, a estrutura acusat—ria est‡ integrada por um princ’pio da investiga•‹o:
o juiz pode ir alŽm dos contributos da acusa•‹o e da defesa, criando as bases necess‡rias para a
boa decis‹o da causa. O artigo 340¼ do CPP demonstra esta estrutura acusat—ria integrada por um
princ’pio de investiga•‹o em nome da descoberta da verdade material e da realiza•‹o da justi•a.
Note-se que esta interven•‹o Ž subsidi‡ria, na prossecu•‹o daquela finalidade.
Por outro lado, n‹o devemos ver o nosso processo penal como um processo acusat—rio
puro, j‡ que n‹o temos um processo de partes, n‹o podemos dizer que existe um lado da acusa•‹o
e outro da defesa. Cabe ao MP, t‹o s—, descobrir a verdade material e realizar a justi•a.
Posto isto, vejamos agora o regime legal da altera•‹o substancial dos factos e sua
correla•‹o com a estrutura acusat—ria do processo penal portugu•s.
A matŽria da altera•‹o substancial (ou n‹o) dos factos enquadra-se na fase do julgamento.
Um dos corol‡rios do princ’pio da acusa•‹o Ž o de que a acusa•‹o define e fixa perante o tribunal
de julgamento o objecto do processo - efeito de vincula•‹o tem‡tica da acusa•‹o - o juiz s— vai
poder conhecer e decidir aquilo que consta da acusa•‹o do MP e, em casos excepcionais, da
pronœncia do juiz de instru•‹o.
Ora, a altera•‹o substancial dos factos ocorre quando surge um facto novo. Por exemplo,
o MinistŽrio Pœblico acusa o arguido de furto, mas faz-se prova de que houve viol•ncia (e como
tal que como tal dever‡ haver tambŽm uma altera•‹o da qualifica•‹o jur’dica para roubo.
Nos termos do artigo 1¼/f, a altera•‹o substancial dos factos Ž aquela que tiver por efeito a
imputa•‹o ao arguido de um crime diverso ou a agrava•‹o dos limites m‡ximos das san•›es
aplic‡veis.

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O que fazer perante esta altera•‹o substancial dos factos? Na fase de inquŽrito, nos termos
dos artigos 284¼/1 e 311¼/2, b), para os crimes pœblicos e semipœblicos, o assistente n‹o pode com
a sua acusa•‹o provocar a altera•‹o do objecto do processo, n‹o pode juntar acusa•‹o por factos
que importem a altera•‹o substancial do processo. Vale o mesmo para os crimes particulares
relativamente ao MP, segundo os artigos 285¼/4 e 311¼/2, b): o MP tambŽm n‹o pode acusar por
factos que importem uma altera•‹o substancial da acusa•‹o particular.
Na fase de instru•‹o vale o artigo 303¼/3 e 4, segundo o qual uma altera•‹o substancial
dos factos descritos na acusa•‹o ou no requerimento para abertura da instru•‹o n‹o pode ser
tomada em conta pelo tribunal (n¼ 3).
Chegados ao julgamento, vale o artigo 359¼, que diz que uma altera•‹o substancial dos
factos descritos na acusa•‹o ou na pronœncia n‹o pode ser tomada em conta pelo tribunal para o
efeito de condena•‹o no processo em curso, nem implica a extin•‹o da inst‰ncia (n¼ 1); porŽm,
exceptua-se o caso em que haja acordo do MP, do arguido e do assistente (n¼ 3).

Modelo de resposta extra’do do manual de Maria Jo‹o Antunes:

Desde logo importa enquadrar esta tem‡tica no modelo acusat—rio do processo penal
portugu•s, mais concretamente, no princ’pio da acusa•‹o, do qual decorre a vincula•‹o tem‡tica
para o tribunal do julgamento ao objecto da acusa•‹o deduzida pelo MP ou pelo assistente (em
caso de acusa•‹o particular). Digamos que ser‡ relevante ainda se aqueles factos que se alteram,
sofrem uma altera•‹o substancial ou n‹o substancial.
Comecemos pelo artigo 1¼, que na al’nea f) descreve o que Ž a altera•‹o substancial dos
factos: “aquela que tiver por efeito a imputação ao arguido de um crime diverso ou a agravação
dos limites máximos das sanções aplicáveis”.
Ora, diga-se que o objecto do processo deve manter-se o mesmo desde que Ž fixado na
acusa•‹o (no fim do inquŽrito) e atŽ ao tr‰nsito em julgado da decis‹o.
A imputa•‹o de um crime diverso em julgamento, ˆquele pelo qual o arguido foi acusado,
significa que os novos factos conhecidos pelo tribunal v‹o alŽm do objecto do processo fixado
pela acusa•‹o ou pela pronœncia (se tiver havido instru•‹o), compete portanto saber o que Ž o
objecto do processo.
Se houver uma altera•‹o substancial dos factos descritos na acusa•‹o, esta n‹o pode ser
tomada em conta pelo tribunal para o efeito de condena•‹o no processo em curso, sob pena de
nulidade da senten•a (artigos 1¼, f); 359¼/1; 379¼/1, b)). Ressalvam-se as situa•›es em que o MP,
arguido e assistente estejam de acordo com a continua•‹o do julgamento pelos novos factos, nos
termos do artigo 359¼/3 e 4). Esta solu•‹o entende-se por uma quest‹o de economia e celeridade
processual. Se este fosse o caso, aquela senten•a seria plenamente v‡lida, mas uma vez que n‹o
temos dados para concluir que assim seja, prossigamos na exposi•‹o te—rico-pr‡tica.
Assim, o n¼ 1 e 2 deste artigo informam que a inexist•ncia de acordo n‹o resulta na extin•‹o da
inst‰ncia, sendo comunicado ao MP os novos factos valendo esta comunica•‹o como denœncia
para que ele proceda pelos novos factos, “se estes forem autonomizáveis em relação ao objecto
do processo”.
J‡ se esses factos n‹o forem autonomiz‡veis em face do processo, h‡ aqui um sacrif’cio
intoler‡vel das finalidades do processo penal de descoberta da verdade material, de realiza•‹o de
justi•a e da pacifica•‹o social, e ainda um atentado ˆ norma constitucional de que ninguŽm pode
ser julgado mais do que uma vez pelo mesmo crime (artigo 29¼/5), como nos elucida Figueiredo
Dias.

3. Na fase de inquŽrito, o juiz de instru•‹o exerce somente fun•›es jurisdicionais.

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Resposta afirmativa. Refer•ncia ˆ reparti•‹o de fun•›es processuais entre o juiz de instru•‹o


e o ministŽrio pœblico. Refer•ncia aos artigos 32.¼, n.¼ 4, e 219.¼ da Constitui•‹o e 17.¼, 262.¼ e
ss., 268.¼ e 269.¼ do C—digo de Processo Penal.

A fase de inquŽrito Ž a primeira fase do processo comum, estando prevista nos artigos
262¼ e seguintes, Ž uma fase obrigat—ria e dirigida pelo MP coadjuvado pelos —rg‹os de pol’cia
criminal, nos termos do artigo 263¼. ƒ a fase que compreende o conjunto de dilig•ncias que visam
investigar a exist•ncia de um crime, determinar os seus agentes e recolher as provas.
A fase do inquŽrito inicia-se com a aquisi•‹o da not’cia, nos termos enunciados pelo
artigo 241¼. Esta aquisi•‹o d‡ lugar ˆ abertura do inquŽrito, de acordo com o princ’pio da
legalidade, ressalvadas as excep•›es previstas na lei (artigo 262¼/2).
No entanto, h‡ aqui uma necessidade de reparti•‹o de fun•›es entre o juiz de instru•‹o e
o MP em certos casos. Imaginemos que durante o inquŽrito t•m de ser praticados actos que se
prendam com direitos, liberdades e garantias - estes n‹o poder‹o ser tomados pelo MP, ter‹o que
ser ordenados/delegados pelo juiz (artigo 268¼ e 269¼).
Podem haver outros actos para alŽm destes que t•m de ser praticados pelo juiz de
instru•‹o por contenderem com direitos do arguido. Imaginemos que o MP, durante o inquŽrito,
considera que est‡ perante um inquŽrito de elevada complexidade, a declara•‹o de especial
complexidade tem que ser decretada pelo juiz de instru•‹o - Maria Jo‹o Antunes entende que este
caso deveria ser da compet•ncia do MP. J‡ se a elevada complexidade derivar do facto de o
arguido estar preso, faz sentido ser da compet•ncia do juiz.

5. Caracterize a estrutura do processo penal portugu•s a partir das regras de inquiri•‹o das
testemunhas na audi•ncia de julgamento.

Quanto ˆ estrutura do nosso processo penal esta Ž acusat—ria. Tem como nota fundamental
a entidade que investiga e acusa ser diferente da entidade que julga. No entanto, como podemos
depreender da leitura do artigo 340¼, esta Ž integrada por um princ’pio de investiga•‹o, ou seja, o
juiz pode mandar produzir meios de prova oficiosamente - por exemplo, pode mandar ouvir
testemunhas n‹o arroladas.
Por outro lado, a estrutura n‹o Ž acusat—ria pura porque n‹o temos um processo de partes.
O artigo 348¼ revela isso atravŽs do modo como inquirimos uma testemunha, o n¼ 4 diz que estas
s‹o inquiridas por quem as indicou e, no nœmero 5, que o juiz pode ainda fazer as perguntas que
entender necess‡rio para um bom esclarecimento e decis‹o, exprimindo-se aqui o princ’pio de
investiga•‹o e seu car‡cter subsidi‡rio.

6. Qual a raz‹o de ser das excep•›es e dos desvios ao princ’pio da oficialidade?

O princ’pio da oficialidade responde ˆ quest‹o de saber a quem compete a iniciativa de


investigar a pr‡tica de uma infrac•‹o e de a submeter ou n‹o a julgamento. Sendo o Direito Penal,
um direito de protec•‹o de bens jur’dicos fundamentais, o processo penal assume-se como um
assunto da comunidade jur’dica, e por isso, se afirma o monop—lio estadual da justi•a penal. Ou
seja, cabe ao Estado, a promo•‹o do processo penal, independentemente da vontade dos
particulares. ƒ uma entidade pœblica oficial que, em regra, assume a iniciativa do processo e por
isso, o princ’pio da oficialidade desdobra-se em dois momentos: 1) Ž a uma entidade pœblica
oficial (MinistŽrio Pœblico) que cabe a iniciativa de investigar a pr‡tica de uma infrac•‹o
(conforme o artigo 48¼); 2) Ž tambŽm a uma entidade pœblica oficial (MinistŽrio Pœblico) que cabe

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a decis‹o de submeter ou n‹o a infrac•‹o a julgamento (conforme o artigo 276¼/1).]


Quando estamos perante crimes pœblicos, Ž sempre o MP que tem legitimidade para a
promo•‹o oficiosa e por sua iniciativa do processo penal, decidindo com plena autonomia. Vale
aqui o princ’pio da oficialidade em toda a sua extens‹o.
No entanto, quando nos deparamos com crimes semipœblicos e crimes particulares, o
princ’pio da oficialidade sofre uma limita•‹o e uma excep•‹o (respectivamente).
O crime semipœblico depende de queixa, j‡ o crime particular depende de acusa•‹o
particular.
No crime semipœblico, que constitui uma limita•‹o ao princ’pio da oficialidade, a decis‹o de
investigar o crime n‹o cabe ao MP, mas sim ao ofendido; porŽm, a partir do momento em que o
ofendido apresenta queixa, Ž o MP que volta a decidir se a causa Ž ou n‹o submetida a julgamento.
S‹o exemplos os crimes do artigo 143¼ e 178¼/1 e 2.
Nos crimes particulares por seu turno, h‡ uma excep•‹o ao princ’pio da oficialidade j‡
que, nos termos do artigo 50¼, Ž preciso que o ofendido se queixe, se constitua assistente e deduza
acusa•‹o.
Feita esta introdu•‹o te—rica explicitemos agora as raz›es para a exist•ncia de limita•›es
e excep•›es ao princ’pio da oficialidade. Se calhar devia come•ar a resposta por aqui.
Podemos invocar quatro raz›es:
1) Desde logo, relativamente a certas infrac•›es, n‹o Ž comunitariamente exig’vel a
exist•ncia de um processo penal (por A dar uma bofetada a B). S‹o casos de menor import‰ncia,
em que se deixa nas m‹os do ofendido decidir se h‡ ou n‹o processo.
2) A promo•‹o processual pode ser prejudicial para interesses da v’tima que se relacionam
directamente com a sua intimidade, quer da vida privada, quer da vida familiar.
3) A criminologia mostra que muitas vezes, a exist•ncia de um processo leva a um
fen—meno de vitimiza•‹o secund‡ria - acresce ao mal do crime o mal do processo.
4) Finalmente, podemos conseguir o fen—meno de descriminaliza•‹o real. Se a queixa
est‡ na m‹o do ofendido, Ž este que define se o comportamento Ž crime ou n‹o.

7. Qual Ž o papel do juiz de instru•‹o no processo penal?

O juiz de instru•‹o foi criado em 1972, tendo hoje bastante relev‰ncia em v‡rias fases do
processo penal portugu•s.
O artigo 17¼ come•a por dizer que compete ao juiz de instru•‹o proceder ˆ instru•‹o,
decidir quanto ˆ pronœncia e exercer todas as fun•›es jurisdicionais atŽ ˆ remessa do processo
para julgamento.
Numa primeira fase de inquŽrito, o juiz de instru•‹o ordena os actos que se prendem com
restri•›es dos DLG, h‡ aqui uma reparti•‹o de fun•›es entre o MP, a quem compete investigar e
acusar, e que chama o juiz de instru•‹o para que este controle actos que possam atentar contra
DLG. Os actos a praticar pelo juiz de instru•‹o na fase de inquŽrito encontram-se previstos no
artigo 268¼ e 269¼.
Na fase de instru•‹o, positivada nos artigos 286¼ e seguintes, o juiz de instru•‹o dirige a
instru•‹o nos termos dos artigos 288¼ e 291¼, trata-se de uma fase facultativa (artigo 286¼/2), que
visa a comprova•‹o judicial da decis‹o de deduzir acusa•‹o ou arquivar o inquŽrito, e onde o juiz
de instru•‹o primordialmente opera.

8. O que distingue o sistema da prova livre do sistema da prova legal?

O artigo 124¼ do CPP dita que constituem objecto da prova todos os factos juridicamente

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relevantes para a exist•ncia ou inexist•ncia do crime, a punibilidade ou n‹o punibilidade do


arguido e a determina•‹o da pena ou medida de seguran•a a aplicar.
O artigo 127¼ estabelece a livre aprecia•‹o da prova, postulando que a prova Ž apreciada
segundo as regras da experi•ncia e a livre convic•‹o da entidade competente, estabelecendo,
destarte, o sistema da prova livre. Note-se que isto n‹o significa que existe uma aprecia•‹o
absolutamente arbitr‡ria, esta h‡-de ser pautada e vinculada pelas finalidades do processo penal,
maxime a finalidade da descoberta da verdade material.
O sistema da prova legal por outro lado ocorre quando a aprecia•‹o da prova tem lugar
com base em regras legais que determinam a priori qual o valor a dar a cada meio de prova.

9. Qual Ž o papel do assistente no processo penal portugu•s?

O artigo 68¼ do CPP enuncia quem se pode constituir como assistente. A figura do
assistente configura um verdadeiro sujeito processual, tendo uma participa•‹o conformadora e
constitutiva, distinguindo-se do ofendido, mero participante processual, cuja participa•‹o Ž
meramente acess—ria e instrumental.
A figura do assistente tem a posi•‹o de colaborador do MinistŽrio Pœblico (nos termos do
artigo 69¼/1), tendo as compet•ncias previstas no artigo 69¼/2, tais como, intervir no inquŽrito e
na instru•‹o, oferecendo provas e requerendo as dilig•ncias que se afigurarem necess‡rias.
Devem ser sempre representados por advogado, nos termos do artigo 70¼.
Esta figura assume especial import‰ncia no ‰mbito dos crimes particulares, ou seja,
aqueles crimes que constituem uma excep•‹o total ao princ’pio da oficialidade, cujo procedimento
criminal depende de que o ofendido se queixe, se constitua assistente e deduza acusa•‹o
particular.

10. Qual o significado do princ’pio da investiga•‹o no processo penal portugu•s?

O nosso processo penal tem uma estrutura marcadamente acusat—ria (n‹o sendo
puramente acusat—ria j‡ que n‹o temos um processo de partes), como dita o artigo 32¼/5 da CRP,
tendo como nota essencial uma reparti•‹o de poderes, entre a figura que investiga e acusa (o
MinistŽrio Pœblico) e a figura que julga (o Juiz).
Temos uma estrutura acusat—ria integrada por um princ’pio de investiga•‹o, ou seja, o
juiz, pode ele pr—prio ir alŽm dos contributos da acusa•‹o e da defesa, criando as bases necess‡rias
para a boa decis‹o da causa. Prova disso Ž o artigo 340¼ do CPC, onde se diz que o tribunal ordena,
oficiosamente ou a requerimento, a produ•‹o de todos os meios de prova cujo conhecimento se
lhe afigure necess‡rio ˆ descoberta da verdade e ˆ boa decis‹o da causa. Sublinhe-se mais uma
vez que este princ’pio Ž subsidi‡rio, apenas se recorre a ele quando for estritamente necess‡rio
para a prossecu•‹o daquela finalidade.

11. O tribunal de segunda inst‰ncia pode agravar a pena em caso de recurso interposto pelo
arguido?

Um dos princ’pios fundamentais em matŽria de recurso Ž o princ’pio da proibi•‹o da


reformatio in pejus, artigo 409¼: interposto recurso de decis‹o final somente pelo arguido, pelo
MP no exclusivo interesse daquele, ou pelos dois em conjunto, o tribunal superior n‹o pode
modificar, na sua espŽcie ou medida, as san•›es constantes da decis‹o recorrida, em preju’zo de
qualquer dos arguidos. Tal possibilidade desmotivaria o arguido de recorrer, afectando o direito
ao recurso, como tal afectaria uma garantia processual, constitucionalmente protegida nos termos

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do artigo 32¼/1.
Note-se que h‡ uma limita•‹o a este princ’pio no nœmero 2 do mesmo artigo, sendo
poss’vel agravar a pena de multa nos casos expressamente previstos naquela disposi•‹o legal.

12. A fase de instru•‹o continua a ser uma fase judicial de controlo da decis‹o de deduzir
acusa•‹o ou arquivar o inquŽrito.

A fase de instru•‹o encontra-se prevista no artigo 286¼ e seguintes do CPP.


Esta fase visa a comprova•‹o judicial da decis‹o de deduzir acusa•‹o ou arquivar o
inquŽrito em ordem a submeter ou n‹o a causa a julgamento (nos termos do artigo 286¼/1), sendo
uma fase facultativa (nos termos do n¼ 2), que pode surgir no seguimento da fase de inquŽrito.
Tem compet•ncia para requerer abertura da instru•‹o, nos termos do artigo 287¼, o
arguido e assistente, desde que se encontrem previstos os requisitos para tal.
Cumpre ao juiz de instru•‹o dirigir esta fase, nos termos do artigo 288¼, praticando todos
os actos necess‡rios ˆ realiza•‹o das finalidades referidas no artigo 286¼.
Esta fase termina com um despacho de pronœncia ou n‹o pronœncia, seguindo ou n‹o para
julgamento, respectivamente.
Assim, esta fase assume-se como uma verdadeira fase de controlo judicial face ao
processo penal, sendo que, o despacho de pronœncia possibilita o continuar da tramita•‹o do
processo, porŽm o despacho de n‹o pronœncia Ž o equivalente material ao arquivamento, sendo
que se essa decis‹o se tornar efectiva, o processo extingue-se e n‹o passa da fase de instru•‹o.

13. A not’cia de um crime d‡ sempre lugar ˆ abertura de inquŽrito.

O artigo 241¼ do CPP remete-nos para a aquisi•‹o da not’cia do crime, prevendo que Ž o
MP a entidade competente para a sua aquisi•‹o (primeiro momento do princ’pio da oficialidade,
sendo que o segundo Ž a decis‹o de acusar ou arquivar o processo).
Estamos aqui perante o ‰mbito dos crimes pœblicos, nos quais o princ’pio da oficialidade
vale por inteiro, ou seja, Ž o MP que tem legitimidade para tomar a iniciativa de investigar a
pr‡tica de um crime do qual teve not’cia, abrindo inquŽrito, e mais tarde, acusando ou arquivando
- submetendo ou n‹o a julgamento - o caso que tem em m‹os.
Tal prende-se com o facto do Direito Penal ser um direito de tutela subsidi‡ria dos bens
jur’dicos, extravasando a rela•‹o entre o ofendido e o agressor e, haver um monop—lio estadual
da fun•‹o jurisdicional no que diz respeito ˆ descoberta do crime e aplica•‹o da san•‹o
correspondente. Se assim n‹o fosse valeria a lei do mais forte, sendo necess‡rio repor a ordem
jur’dica comunit‡ria que Ž abalada com a pr‡tica do crime.

14. As medidas de coac•‹o s‹o aplicadas por despacho do juiz.

As medidas de coac•‹o, previstas no artigo 191¼ e seguintes, t•m que obedecer ao


princ’pio da legalidade. Trata-se aqui de aplicar uma medida restritiva da liberdade (de direitos,
liberdades e garantias) a alguŽm que n‹o foi ainda julgado culpado, e que, atŽ l‡, se presume
inocente, pelo que tais medidas devem ser aplicadas com respeito a v‡rias exig•ncias processuais
de natureza cautelar.
Posto isto, as medidas de coac•‹o s— podem ser aplicadas por despacho do juiz, nos
termos do artigo 194¼/1. Este juiz poder‡ ser o juiz de instru•‹o (artigo 17¼, 268¼/1, b)), ou de
julgamento, ou recurso, consoante a fase em que estas se apliquem.
Mas porque Ž que estas medidas t•m de ser aplicadas por despacho de juiz? Desde logo

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porque estamos perante decis›es que contendem com direitos fundamentais das pessoas, mas
tambŽm porque h‡ aqui uma exig•ncia acrescida de imparcialidade, trata-se de um terceiro que
n‹o est‡ comprometido com a investiga•‹o, o juiz intervŽm aqui como um juiz supra-partes, n‹o
Ž parceiro do MP.

15. Interposto recurso pela defesa, o tribunal superior n‹o pode modificar, na sua espŽcie
ou medida, as san•›es constantes da decis‹o recorrida, em preju’zo do arguido.

Proibi•‹o de reformatio in pejus, nos termos do artigo 409¼. Contenderia com o direito
constitucionalmente garantido de recurso. Note-se que admite a excep•‹o da agrava•‹o da pena
de multa.

16. O arguido e o assistente t•m uma participa•‹o constitutiva na declara•‹o do direito ao


caso concreto.

A afirma•‹o Ž verdadeira, tanto o arguido como o assistente, s‹o verdadeiros sujeitos


processuais tendo uma participa•‹o conformadora e constitutiva e n‹o meramente acess—ria ou
instrumental, como Ž o caso dos participantes processuais.
Assim, o arguido, nos termos do artigo 57¼, Ž aquele contra quem foi deduzida acusa•‹o
ou requerida instru•‹o num processo penal.
O assistente, por seu turno, nos termos do artigo 68¼, corresponde, via de regra, ao
ofendido (participante processual).

17. As medidas de coac•‹o s‹o aplicadas pelo juiz, oficiosamente ou a requerimento do


MinistŽrio Pœblico.

A afirma•‹o Ž verdadeira. Nos termos do artigo 194¼, as medidas de coac•‹o s‹o aplicadas
por despacho do juiz, durante o inquŽrito a requerimento do MinistŽrio Pœblico, e depois do
inquŽrito oficiosamente pelo juiz. Tal entende-se por estas medidas contenderem com direitos,
liberdades e garantias de arguidos que n‹o foram ainda julgados como culpados, e se presumem
inocentes, e ainda, pelo facto acrescido de que, o juiz Ž uma supra-parte no processo, um terceiro
que n‹o est‡ comprometido com a investiga•‹o, pelo que aqui se satisfazem tambŽm exig•ncias
de imparcialidade.

18. A prova Ž apreciada segundo a livre convic•‹o da entidade competente.

Tal Ž a regra, como disp›e o artigo 127¼. No entanto o artigo 163¼, relativamente ˆ prova
pericial oferta-nos uma excep•‹o a esta regra; bem como o artigo 140¼.

19. No recurso de revista o princ’pio in dubio pro reo est‡ subtra’do ˆ aprecia•‹o do tribunal.

O princ’pio in dubio pro reo postula que, caso o juiz tenha dœvidas em rela•‹o ˆ prova,
esta dœvida tem de ser valorada a favor do arguido.
Quanto ao tribunal de revista e respectivo recurso para este, digamos que o tribunal de
revista (STJ) apenas conhece matŽria de direito, nos termos do artigo 434¼.
Ora, o princ’pio vale para toda a matŽria de facto, quer para a relativa ao crime quer para
a atinente ˆ san•‹o que lhe corresponde, mas j‡ n‹o para a matŽria de direito. Isto n‹o obsta no
entanto, a que o tribunal de recurso conhe•a da viola•‹o do princ’pio quando o recurso interposto

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seja apenas de revista.


A viola•‹o do princ’pio in dubio pro reo integra a matŽria de direito, com qualquer outra
viola•‹o de um princ’pio jur’dico, pelo que est‡ no ‰mbito dos poderes de cogni•‹o do STJ, tal
como previstos no artigo 434¼ do CPP.

20. Explique por que raz‹o o juiz de instru•‹o Ž tido como o juiz das liberdades.

O juiz de instru•‹o aparece no processo penal portugu•s como um verdadeiro juiz das
liberdades, sendo que tal se torna evidente face ˆ sua interven•‹o no ‰mago das medidas de
coac•‹o. Estamos aqui perante medidas que restringem os direitos, liberdades e garantias dos
arguidos que ainda n‹o foram julgados culpados (sendo mesmo presumidos inocentes), mas cuja
aplica•‹o Ž requerida pelo MP durante a fase de inquŽrito, nos termos do artigo 194¼/1.
O juiz de instru•‹o surge aqui como uma figura supra-partes, um terceiro, imparcial ˆ
investiga•‹o do MinistŽrio Pœblico que vem apreciar a possibilidade (ou n‹o) de aplica•‹o de
medidas de coac•‹o. Trata-se aqui de uma opera•‹o de concord‰ncia pr‡tica entre finalidades do
direito penal, por um lado, afigura-se necess‡rio restaurar a paz jur’dica comunit‡ria, por outro
estamos a restringir direitos, liberdades e garantias de arguidos. N‹o obstante, se o juiz de
instru•‹o considerar que naquela fase de inquŽrito (ou na fase de instru•‹o, mas a’ a t’tulo oficioso,
j‡ que Ž a ele que compete gerir esta fase) cumpre aplicar uma medida de coac•‹o, ent‹o este,
atravŽs de despacho, possibilita a sua aplica•‹o.

21. O princ’pio da livre aprecia•‹o da prova vale sem excep•›es no processo penal
portugu•s. N‹o Ž verdade. Vide supra.

22. Quando requerida pelo ofendido, a instru•‹o Ž um suplemento aut—nomo de


investiga•‹o.

A afirma•‹o padece de alguns v’cios.


Desde logo, a instru•‹o Ž uma fase facultativa do processo penal portugu•s e que visa a
comprova•‹o judicial da decis‹o de deduzir acusa•‹o ou de arquivar o inquŽrito em ordem a
submeter ou n‹o a causa a julgamento (nos termos do artigo 286¼/1 e 2).
Acresce que, o artigo 287¼ diz-nos quem pode requerer a abertura da fase instrut—ria,
sendo que, s‹o elencados o arguido e o assistente, dois sujeitos processuais, com poderes de
conforma•‹o e constitui•‹o no processo penal.
Sucede que in casu, a afirma•‹o que se comenta plasma um requerimento de abertura de
fase instrut—ria por um ofendido, ora, o ofendido Ž um participante processual, que, se pode
constituir como assistente e conformar assim a sua posi•‹o como sujeito processual. N‹o sendo
este o caso, o ofendido n‹o poderia requerer a abertura da fase instrut—ria.

23. As declara•›es do arguido s‹o sempre apreciadas segundo a livre convic•‹o da entidade
competente.

Referir a livre aprecia•‹o da prova nos termos do artigo 127¼.


Quanto ˆs declara•›es do arguido importa ressalvar a seguinte situa•‹o, se na declara•‹o
o arguido negar os factos que lhe s‹o imputados, esta nega•‹o fica sujeita ao princ’pio da livre
aprecia•‹o.
Se por outro lado o arguido confessar, nos termos do artigo 344¼, e esta confiss‹o for
integral, livre e sem reservas, e se tratar de crime pun’vel com pena inferior a 5 anos, temos uma

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limita•‹o ao princ’pio da livre aprecia•‹o da prova. Caso contr‡rio (imaginemos que temos um
crime pun’vel com pena de pris‹o superior a 5 anos), vale inteiramente o princ’pio da livre
aprecia•‹o.
Se o arguido se remeter ao sil•ncio, temos aqui uma verdadeira limita•‹o ˆ livre
aprecia•‹o, na medida em que o arguido tem o direito ao sil•ncio, sem que isso o possa
desfavorecer.

24. A figura da suspens‹o provis—ria do processo revela a introdu•‹o de medidas de divers‹o


e consenso na solu•‹o do conflito penal.

A suspens‹o provis—ria do processo propriamente dita, prevista no 281¼, nœmeros 1 a 6,


Ž um instituto que confere especial aten•‹o aos interesses do arguido, desde logo porque tem em
vista, evitar a sua dessocializa•‹o.
Pelo contr‡rio, a suspens‹o provis—ria do processo, nos casos especiais dos nœmeros 7 e
8 do artigo 281¼, afirma-se como um instituto que tem em vista, em primeira linha, os interesses
da v’tima. A suspensão provisória do processo nestes casos surge como uma “válvula de escape”
do sistema (conforme S—nia Fidalgo), perante a actual natureza pœblica dos crimes em quest‹o.
Na verdade, nestes crimes, por serem pœblicos, o desenvolvimento da tramita•‹o n‹o depende da
iniciativa particular pelo que pode o processo prosseguir mesmo contra a vontade do ofendido.
Por isso, esta solu•‹o de simplifica•‹o dos requisitos para aplicar o artigo 281¼ apresenta-se, como
referem alguns autores, como um “sucedâneo da desistência de queixa”.
Com efeito, a figura da suspens‹o provis—ria do processo, bem como o arquivamento em
caso de dispensa de pena, postula-se como duas situa•›es, nas quais h‡ uma alternativa ao
despacho de acusa•‹o do MinistŽrio Pœblico, que recolheu ind’cios suficientes de se ter verificado
um crime, mas d‡-se aqui uma certa margem de oportunidade, atravŽs destes mecanismos de
divers‹o (porque divergem da normal tramita•‹o do processo penal comum), por estarmos perante
casos de pequena e mŽdia criminalidade. O artigo 280¼ constitui um mecanismo de divers‹o
simples, o artigo 281¼ um mecanismo de divers‹o com interven•‹o.
S‹o ainda mecanismos consensuais, j‡ que a sua aplica•‹o exige o acordo de v‡rios
sujeitos processuais. O artigo 280¼ espelha uma solu•‹o de consenso limitada; o artigo 281¼ uma
solu•‹o de consenso alargado.

25. No C—digo de Processo Penal portugu•s est‡ consagrado o princ’pio de duplo grau de
recurso.

Em 1998, o legislador introduziu o duplo grau de recurso no processo penal portugu•s.


Ora, em rela•‹o ˆs decis›es do tribunal colectivo e em matŽria de facto, pode recorrer-se para a
Rela•‹o e desta decis‹o pode ser ainda interposto recurso para o Supremo (427¼, 428¼ e 432¼/1,
b)). N‹o obstante, o artigo 400¼, exclui muitos casos de recurso da Rela•‹o para o Supremo, sendo
que o duplo grau de recurso conhece v‡rias excep•›es e vem sendo objecto de uma interpreta•‹o
restritiva dos tribunais de recurso.

26. Todas as queixas s‹o denœncias, mas nem todas as denœncias s‹o queixas.

A resposta a esta afirma•‹o deve passar por estabelecer a diferen•a entre os conceitos de
denœncia e de queixa.
Comecemos por dizer que falamos de queixa nos crimes semi-pœblicos e particulares; por
sua vez, s— falamos em denœncia para os crimes pœblicos.

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No ‰mbito da legitimidade: o artigo 113¼ do CP Ž a norma paradigma dos titulares da


legitimidade para exercerem o direito de queixa; a denœncia pode ser feita, em regra, por qualquer
pessoa, sendo esta facultativa (artigo 244¼ CPP). Note-se que h‡ casos em que a denœncia pode
ser obrigat—ria, nos termos do artigo 242¼ (—rg‹os de pol’cia criminal em rela•‹o a todos os crimes
de que tenham conhecimento – n‹o necessariamente no exerc’cio das suas fun•›es; e para os
funcion‡rios, para crimes de que tenham conhecimento no exerc’cio das suas fun•›es.
Por œltimo, quanto ao prazo, a queixa deve ser apresentada dentro de um prazo definido
no CP, que Ž o prazo de 6 meses a contar da data do conhecimento do facto e dos seus autores
(artigo 115¼ do CP); pelo contr‡rio, n‹o h‡ prazo estabelecido na lei para a apresenta•‹o de
denœncia.
Nos crimes semi-pœblicos e particulares, Ž poss’vel a desist•ncia da queixa e/ou da
acusa•‹o da particular, nos termos dos artigos 116¼/2 CP e 117¼ CP, atŽ ˆ publica•‹o da senten•a
de 1» inst‰ncia.
Artigo 116¼/2 CP e 51¼ CPP (Note-se que o arguido pode opor-se ˆ desist•ncia,
imaginemos que este quer provar a sua inoc•ncia em ju’zo. Destaque para o n¼ 3 do artigo 51¼
CPP)
Tratando-se de crimes pœblicos, n‹o h‡ lugar a qualquer desist•ncia, na medida em que,
vale o princ’pio da imutabilidade da acusa•‹o pœblica.
Imaginemos agora que o processo foi desencadeado quando o ofendido era menor pelos
representantes ou pelo MinistŽrio Pœblico, mas quando este atinge os 16 anos deseja desistir do
processo. Pode? Este problema foi resolvido no artigo 116º/4: “4 - Depois de perfazer 16 anos, o
ofendido pode requerer que seja posto termo ao processo, nas condi•›es previstas nos n.os 2 e 3,
quando tiver sido exercido o direito de queixa nos termos do n.¼ 4 do artigo 113.¼, ou tiver sido
dado in’cio ao procedimento criminal nos termos da al’nea a) do n.¼ 5 do artigo 113.º”.
Trata-se de uma oposi•‹o ˆ continua•‹o do processo e n‹o de uma desist•ncia.

II
Casos pr‡ticos

1. Durante o inquŽrito, foram recolhidos ind’cios suficientes de que A praticou os crimes


previstos nos artigos 180¼, n¼ 1, e 193¼ do C—digo Penal.

a) Enquadrando a quest‹o nos princ’pios da promo•‹o processual, diga quem Ž competente


para deduzir acusa•‹o.

No contexto da promo•‹o processual comecemos por falar do princ’pio da oficialidade.


O princ’pio da oficialidade responde ˆ quest‹o de saber a quem compete a iniciativa de
investigar a pr‡tica de uma infrac•‹o e de a submeter ou n‹o a julgamento. Sendo o Direito Penal,
um direito de protec•‹o de bens jur’dicos fundamentais, o processo penal assume-se como um
assunto da comunidade jur’dica, e por isso, se afirma o monop—lio estadual da justi•a penal. Ou
seja, cabe ao Estado, a promo•‹o do processo penal, independentemente da vontade dos
particulares. ƒ uma entidade pœblica oficial que, em regra, assume a iniciativa do processo e por
isso, o princ’pio da oficialidade desdobra-se em dois momentos: 1) Ž a uma entidade pœblica
oficial (MinistŽrio Pœblico) que cabe a iniciativa de investigar a pr‡tica de uma infrac•‹o
(conforme o artigo 48¼); 2) Ž tambŽm a uma entidade pœblica oficial (MinistŽrio Pœblico) que cabe

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a decis‹o de acusar ou n‹o (conforme o artigo 276¼/1).]


Quando estamos perante crimes pœblicos, Ž sempre o MP que tem legitimidade para a
promo•‹o oficiosa e por sua iniciativa do processo penal, decidindo com plena autonomia. Vale
aqui o princ’pio da oficialidade em toda a sua extens‹o.
No entanto, quando nos deparamos com crimes semipœblicos e crimes particulares, o
princ’pio da oficialidade sofre uma limita•‹o e uma excep•‹o (respectivamente).
Assim, nos crimes semi-pœblicos, previstos no artigo 49¼, h‡ uma limita•‹o ˆquele
princ’pio, respectivamente ao primeiro momento, j‡ que, estamos aqui perante casos cujo
procedimento criminal depende de queixa do ofendido ou de outras pessoas, sendo necess‡rios
que estas levem esses factos ao MinistŽrio Pœblico, para que este promova o processo.
J‡ nos crimes particulares, estamos aqui perante uma verdadeira excep•‹o ao princ’pio da
oficialidade, j‡ que, nos termos do artigo 50¼, Ž necess‡rio que o ofendido ou outras pessoas se
queixem (primeiro momento), se constituam assistentes e deduzam acusa•‹o particular (segundo
momento).
Feita esta introdu•‹o te—rica, vejamos agora o nosso caso em maior pormenor.
Estamos perante um crime de difama•‹o, nos termos do artigo 180¼/1, e devassa por meio
inform‡tico, nos termos do artigo 193¼ do C—digo Penal.
O crime de difama•‹o, nos termos do artigo 188¼, depende no seu procedimento criminal
de acusa•‹o particular (ressalvados os casos do artigo 184¼ e artigo 187¼, porŽm o enunciado n‹o
nos d‡ indica•›es para podermos tirar outras conclus›es). Assim, o crime de difama•‹o Ž um
crime particular, pelo que, estamos perante um caso de excep•‹o ao princ’pio da oficialidade
tendo compet•ncia para deduzir acusa•‹o o assistente, nos termos do artigo 50¼.
No caso de crime por devassa por meio inform‡tico, o artigo 193¼ nada diz quanto ao
procedimento criminal, excluindo o artigo 198¼ aquele mesmo crime do procedimento criminal
geral aplic‡vel aos crimes previstos naquele artigo.
Assim, uma vez que nada se diz, este crime dever‡ ser considerado pœblico, pelo que,
aqui verificar-se-‡ o princ’pio da oficialidade sem limita•›es ou excep•›es, sendo o MinistŽrio
Pœblico a entidade competente para deduzir acusa•‹o (bem como para abrir inquŽrito depois da
aquisi•‹o da not’cia do crime).
b) Havendo pronœncia pelos factos constantes da acusa•‹o, poder‡ ser interposto recurso
da decis‹o instrut—ria?

A fase de instru•‹o Ž uma fase facultativa que visa a comprova•‹o judicial da decis‹o de
deduzir acusa•‹o ou de arquivar o inquŽrito em ordem a submeter ou n‹o a causa a julgamento,
nos termos do artigo 286¼/1 e 2. Esta fase culmina com um despacho de pronœncia ou n‹o
pronœncia.
Nos termos do artigo 310¼, se a decis‹o instrut—ria pronunciar o arguido pelos factos
constantes da acusa•‹o do MinistŽrio Pœblico, formulada nos termos do artigo 283¼ ou do artigo
285¼/4, esta decis‹o Ž irrecorr’vel.
Assim temos no nosso caso dois crimes, que importa individualizar.
O crime de devassa por meios inform‡ticos, sendo um crime pœblico enquadrar-se-‡ neste
artigo, sendo a decis‹o instrut—ria de pronœncia dos factos constantes desta acusa•‹o pelo MP,
irrecorr’veis.
J‡ quanto ao despacho instrut—rio relativo aos factos constantes da acusa•‹o particular
(de que depende o crime particular de difama•‹o em causa), este Ž recorr’vel, nos termos gerais
do artigo 399¼.

2. O MinistŽrio Pœblico adquiriu a not’cia da pr‡tica de um crime de peculato, sendo o

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mesmo imputado a A. (artigo 375¼, n¼ 1, do C—digo Penal).

a) Durante o inquŽrito, o ministŽrio pœblico requereu a aplica•‹o ao arguido da obriga•‹o


de perman•ncia na habita•‹o, mas o juiz aplicou a pris‹o preventiva. Pronuncie-se sobra
esta decis‹o.

Est‡ em causa a aplica•‹o de uma medida de coac•‹o pelo juiz de instru•‹o diferente da
requerida, o que pode suscitar algumas quest›es do ponto de vista do princ’pio da acusa•‹o.
Digamos primeiramente que as medidas de coac•‹o, se encontram positivadas no artigo 191¼ e
seguintes do CPP, sendo medidas que restringem direitos, liberdades e garantias, face a arguidos
que ainda n‹o foram julgados culpados, presumindo-se inocentes.
Como tal, desde logo, por estarmos perante matŽria de restri•›es a direitos, liberdades e
garantias, exige-se a participa•‹o de um juiz, in casu, como estamos na fase de inquŽrito, o juiz
de instru•‹o. Para alŽm deste factor, o despacho de aplica•‹o de medida de coac•‹o emitido por
juiz faz sentido numa perspectiva de exig•ncia de imparcialidade, o juiz Ž aqui um terceiro, alheio
ˆ investiga•‹o do MP, e por isso existe a exig•ncia legal de ter que ser o MP a requerer ao Juiz
(de instru•‹o) que aplique uma determinada medida de coac•‹o (artigo 194¼/1).
Sucede que no caso, o juiz decidiu aplicar uma medida de coac•‹o diversa da que havia
sido pedida pelo MP, ainda para mais a mais gravosa de todas: a pris‹o preventiva.
Ora, n‹o Ž vedada ao juiz a possibilidade de aplicar uma medida de coac•‹o diversa, ainda
que mais grave, como disp›e o artigo 194¼/2, desde que se verifique o fundamento das al’neas a)
e c) do artigo 204¼.
J‡ quanto ˆ al’nea b) daquele artigo 204¼, este n‹o pode servir de fundamento para a
aplica•‹o de medida de coac•‹o mais gravosa.

b) Tendo em vista a investiga•‹o da not’cia do crime, o ministŽrio pœblico solicitou ao


arguido a entrega de determinados documentos, tendo A. recusado a entrega dos mesmos.
Justifique este comportamento processual do ponto de vista legal e doutrinal.

O arguido Ž um verdadeiro sujeito processual, na medida em que tem uma participa•‹o


constitutiva e conformadora do processo. Assume a qualidade de arguido todo aquele contra quem
for deduzida acusa•‹o ou requerida instru•‹o num processo penal, nos termos do artigo 57¼, tendo
o arguido uma garantia de presun•‹o de inoc•ncia nos termos do artigo 32¼/2 da CRP.
Nos termos do artigo 61¼/1, d), o arguido tem o direito de n‹o responder a perguntas feitas,
por qualquer entidade, sobre os factos que lhe forem imputados e sobre o conteœdo das
declara•›es que acerca deles prestar; acrescentando o artigo 345¼ que este sil•ncio jamais o poder‡
desfavorecer.

c) Supondo que o arguido foi condenado numa pena de pris‹o de 6 anos e que pretende
recorrer quanto ˆ medida da pena determinada, indique qual o tribunal competente para
apreciar o recurso.

Uma vez que estamos perante um crime com pena m‡xima abstracta superior a 5 anos, o
tribunal competente para julgar este caso, em 1» inst‰ncia foi o tribunal colectivo, nos termos do
artigo 14¼/2, b). Diga-se que os casos do artigo 14¼/2, b) podem ser da compet•ncia do tribunal
singular, nos termos do artigo 16¼/3, caso que n‹o parece ser de aplicar aqui.
Assim, vejamos agora a matŽria dos recursos. Estes est‹o previstos no artigo 399¼ e
seguintes, sendo um direito constitucionalmente garantido pelo artigo 32¼/1 da CRP. O princ’pio

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geral Ž o da recorribilidade de todas as decis›es, nos termos do artigo 399¼.


Ora o artigo 401¼, diz-nos quem tem legitimidade para recorrer, sendo que, o nœmero 1,
al’nea b), confere esta legitimidade ao arguido.
Em regra, o recurso de decis‹o proferida por tribunal de 1» inst‰ncia interp›e-se para a
rela•‹o, nos termos do artigo 427¼. No entanto, h‡ casos excepcionais de recurso per saltum
directamente para o STJ, como podemos ler no artigo 432¼. O nosso caso contempla uma destas
situa•›es, nomeadamente o artigo 432¼/1, c), j‡ que a decis‹o inicial foi de um tribunal colectivo.
Assim, o tribunal competente ser‡ o STJ, sendo que este, nos termos do artigo 434¼ apenas visa o
reexame de matŽria de direito.

3. A foi submetido a julgamento acusado da pr‡tica de um crime de ofensa ˆ integridade


f’sica simples (artigo 143¼/1 CP). O Tribunal condenou-o pelo crime de ofensa ˆ integridade
f’sica grave (artigo 144¼, al’nea b), do CP) por se ter apurado, no decurso da audi•ncia de
julgamento, que a ofensa afectou de maneira grave a capacidade de trabalho da v’tima.
Pronuncie-se sobre a validade da senten•a dada pelo Tribunal.

A quest‹o sub judice remete-nos, prima facie, para a tem‡tica da altera•‹o dos factos e a
altera•‹o da qualifica•‹o jur’dica.
Desde logo importa enquadrar esta tem‡tica no modelo acusat—rio do processo penal
portugu•s, mais concretamente, no princ’pio da acusa•‹o, do qual decorre a vincula•‹o tem‡tica
para o tribunal do julgamento ao objecto da acusa•‹o deduzida pelo MP ou pelo assistente (em
caso de acusa•‹o particular). Digamos que ser‡ relevante ainda se aqueles factos que se alteram,
sofrem uma altera•‹o substancial ou n‹o substancial.
Comecemos pelo artigo 1¼, que na al’nea f) descreve o que Ž a altera•‹o substancial dos
factos: “aquela que tiver por efeito a imputação ao arguido de um crime diverso ou a agravação
dos limites máximos das sanções aplicáveis”.
Ora, diga-se que o objecto do processo deve manter-se o mesmo desde que Ž fixado na
acusa•‹o (no fim do inquŽrito) e atŽ ao tr‰nsito em julgado da decis‹o.
A imputa•‹o de um crime diverso em julgamento, ˆquele pelo qual o arguido foi acusado,
significa que os novos factos conhecidos pelo tribunal v‹o alŽm do objecto do processo fixado
pela acusa•‹o ou pela pronœncia (se tiver havido instru•‹o), compete portanto saber o que Ž o
objecto do processo.
Se houver uma altera•‹o substancial dos factos descritos na acusa•‹o, esta n‹o pode ser
tomada em conta pelo tribunal para o efeito de condena•‹o no processo em curso, sob pena de
nulidade da senten•a (artigos 1¼, f); 359¼/1; 379¼/1, b)). Ressalvam-se as situa•›es em que o MP,
arguido e assistente estejam de acordo com a continua•‹o do julgamento pelos novos factos, nos
termos do artigo 359¼/3 e 4). Esta solu•‹o entende-se por uma quest‹o de economia e celeridade
processual. Se este fosse o caso, aquela senten•a seria plenamente v‡lida, mas uma vez que n‹o
temos dados para concluir que assim seja, prossigamos na exposi•‹o te—rico-pr‡tica.
Assim, o n¼ 1 e 2 deste artigo informam que a inexist•ncia de acordo n‹o resulta na
extin•‹o da inst‰ncia, sendo comunicado ao MP os novos factos valendo esta comunica•‹o como
denúncia para que ele proceda pelos novos factos, “se estes forem autonomizáveis em relação ao
objecto do processo”.
J‡ se esses factos n‹o forem autonomiz‡veis em face do processo, h‡ aqui um sacrif’cio
intoler‡vel das finalidades do processo penal de descoberta da verdade material, de realiza•‹o de
justi•a e da pacifica•‹o social, e ainda um atentado ˆ norma constitucional de que ninguŽm pode
ser julgado mais do que uma vez pelo mesmo crime (artigo 29¼/5), cit. Figueiredo Dias.
ConvŽm, no entanto, fazer aqui a distin•‹o entre altera•‹o dos factos e altera•‹o da

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qualifica•‹o jur’dica dos factos. H‡ altera•‹o da qualifica•‹o jur’dica dos factos quando os factos
se mant•m, alterando-se somente a sua qualifica•‹o jur’dica. ƒ o exemplo de escola de alguŽm
que Ž acusado de homic’dio simples, porŽm vem a ser condenado por homic’dio qualificado,
perante os mesmos factos, por se ter conclu’do por uma especial censurabilidade.
Ser‡ altera•‹o substancial dos factos se alguŽm for acusado de homic’dio simples, sendo
produzida prova na audi•ncia de julgamento da qual resultam factos distintos dos descritos na
acusa•‹o que levam ˆ subsun•‹o do comportamento do agente no tipo legal de homic’dio
qualificado.
O nosso caso perfilha esta œltima situa•‹o (altera•‹o substancial dos factos).

4. A foi condenado pela pr‡tica de um crime de furto (artigo 203¼ do C—digo Penal).

a) Pressupondo que a v’tima do crime foi B, filho de A, e que o processo seguiu a forma
comum, descreva a tramita•‹o processual anterior ao julgamento, justificando legal e
doutrinalmente.

Comecemos por fazer umaenuncia•‹o te—rica da matŽria, nomeadamente referindo-nos


ao princ’pio da oficialidade.
O princ’pio da oficialidade responde ˆ quest‹o de saber a quem compete a iniciativa de
investigar a pr‡tica de uma infrac•‹o e de a submeter ou n‹o a julgamento. Sendo o Direito Penal,
um direito de protec•‹o de bens jur’dicos fundamentais, o processo penal assume-se como um
assunto da comunidade jur’dica, e por isso, se afirma o monop—lio estadual da justi•a penal. Ou
seja, cabe ao Estado, a promo•‹o do processo penal, independentemente da vontade dos
particulares. ƒ uma entidade pœblica oficial que, em regra, assume a iniciativa do processo e por
isso, o princ’pio da oficialidade desdobra-se em dois momentos: 1) Ž a uma entidade pœblica
oficial (MinistŽrio Pœblico) que cabe a iniciativa de investigar a pr‡tica de uma infrac•‹o
(conforme o artigo 48¼); 2) Ž tambŽm a uma entidade pœblica oficial (MinistŽrio Pœblico) que cabe
a decis‹o de acusar ou n‹o (conforme o artigo 276¼/1).]
Quando estamos perante crimes pœblicos, Ž sempre o MP que tem legitimidade para a
promo•‹o oficiosa e por sua iniciativa do processo penal, decidindo com plena autonomia. Vale
aqui o princ’pio da oficialidade em toda a sua extens‹o.
No entanto, quando nos deparamos com crimes semipœblicos e crimes particulares, o
princ’pio da oficialidade sofre uma limita•‹o e uma excep•‹o (respectivamente).
Assim, nos crimes semi-pœblicos, previstos no artigo 49¼, h‡ uma limita•‹o ˆquele
princ’pio, respectivamente ao primeiro momento, j‡ que, estamos aqui perante casos cujo
procedimento criminal depende de queixa do ofendido ou de outras pessoas, sendo necess‡rios
que estas levem esses factos ao MinistŽrio Pœblico, para que este promova o processo.
J‡ nos crimes particulares, estamos aqui perante uma verdadeira excep•‹o ao princ’pio da
oficialidade, j‡ que, nos termos do artigo 50¼, Ž necess‡rio que o ofendido ou outras pessoas se
queixem (primeiro momento), se constituam assistentes e deduzam acusa•‹o particular (segundo
momento).
Feita esta introdu•‹o te—rica, vejamos agora o nosso caso em maior pormenor.
Estamos perante um crime de furto nos termos do artigo 203¼. O n¼ 3 deste artigo diz que
o procedimento criminal do crime de furto depende de queixa. Ora, tal remeter-nos-ia para os
crimes semi-pœblicos, no entanto vejamos o artigo 207¼/1, a). Pela leitura deste artigo
depreendemos que este crime assume, in casu, as vestes de um crime particular.
Assim, a tramita•‹o deste processo iniciar-se-‡ no artigo 50¼ do CPP. O ofendido dever‡
queixar-se (nos termos do artigo 113¼), constituir-se assistente obrigatoriamente (nos termos do

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artigo 246¼/4 e 68¼/2, bem como o artigo 32¼/7 da CRP) e deduzir acusa•‹o particular.
O MP abre inquŽrito, n‹o por iniciativa pr—pria, manifestando-se aqui a primeira
excep•‹o ao princ’pio da oficialidade. Sendo que esta Ž a primeira fase do processo penal, tendo
a finalidade prevista no artigo 262¼ e sendo dirigida pelo MP, nos termos do artigo 263¼.
No final da fase de inquŽrito, nos termos do artigo 285¼ o MP notifica o assistente para
que este deduza acusa•‹o particular, no prazo de 10 dias, caso este queira. Note-se que, nos termos
do artigo 285¼/2, mesmo que o MP n‹o tenha recolhido ind’cios suficientes do crime, esta
notifica•‹o ocorre.
De seguida o arguido pode requerer a abertura da fase facultativa de instru•‹o, nos termos
do artigo 287¼/1, a), relativamente aos factos pelos quais o assistente tiver deduzido acusa•‹o.
Esta fase Ž dirigida por um juiz de instru•‹o e visa a comprova•‹o judicial da decis‹o de deduzir
acusa•‹o ou de arquivar o inquŽrito em ordem a submeter ou n‹o a causa a julgamento, nos termos
do artigo 286¼.
Esta fase culmina com um despacho instrut—rio que pode ser um despacho de pronœncia
ou n‹o pronœncia, nos termos do artigo 307¼ e 308¼. Um despacho de pronœncia Ž recorr’vel nos
termos gerais do artigo 399¼ (in casu) pelo arguido, bem como um despacho de n‹o pronœncia
pode ser objecto de recurso por parte do assistente, nos mesmos termos gerais.
Ap—s o despacho de pronœncia, sem preju’zo do j‡ referido recurso, chegamos ˆ fase de
julgamento, nos termos do artigo 311¼ e seguintes.

b) Pressupondo que foi ordenada a realiza•‹o de per’cia psiqui‡trica, diga qual o valor desta
prova.
Livre aprecia•‹o da prova nos termos do artigo 127¼ enquanto regra geral da aprecia•‹o
das provas no ‰mago do processo penal.
Referir que sendo uma prova pericial, nos termos do artigo 163¼, h‡ aqui uma limita•‹o
da livre aprecia•‹o da prova, sem preju’zo do caso raro do n¼ 2 em que o juiz tambŽm Ž um perito
naquela matŽria e fundamenta a sua diverg•ncia.

5. A foi acusado da pr‡tica de um crime de actos sexuais com adolescentes (artigo 173¼/2
CP).

a) Como classifica este crime, do ponto de vista da promo•‹o processual?

O crime de acto sexual contra adolescentes, nos termos do artigo 178¼/2, com a devida
remiss‹o para o artigo 173¼, Ž um crime que depende de queixa, salvo se daquele crime resultar
suic’dio ou morte da v’tima.
Pressupondo que n‹o houve morte ou suic’dio enquadremos este crime no nosso processo
penal.
Ë partida ser’amos levados a admitir que este Ž um crime de natureza semi-pœblica, nos
termos do artigo 49¼ do CPP.
No entanto, estamos aqui perante um crime contra a autodetetermina•‹o sexual que, a par
dos crimes de viol•ncia domŽstica, sofrem um tratamento diferenciado no nosso processo penal.
Com efeito, estes crimes t•m natureza pœblica, porŽm, conserva-se a hip—tese de a promo•‹o
processual ser levada a cabo pelo ofendido, j‡ que este pode querer evitar o “mal do processo”
adicionado ao já existente “mal do crime”, uma tentativa de evitar a vitimização secundária.
A l—gica desta solu•‹o da lei prende-se com a tutela dos interesses da v’tima do crime.
A possibilidade de nestes crimes haver suspens‹o provis—ria do processo, mediante
requerimento livre e esclarecido da v’tima ou tendo em conta o interesse da v’tima Ž sintoma claro

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das dœvidas que surgem no momento de optar pela natureza pœblica ou semipœblica de tais crimes
(artigo 281¼/7 e 8 CPP).

b) Enquadrando a quest‹o nos princ’pios da promo•‹o processual, diga em que


circunst‰ncias pode ter lugar a suspens‹o provis—ria do processo

Sendo que neste caso o procedimento criminal Ž dependente de queixa, o ofendido, nos
termos do artigo 49¼ do CPP e 113¼ do CP, deveria fazer queixa ao MP para que este desse in’cio
ao processo. Aqui encontramos uma excep•‹o ao princ’pio da oficialidade, nomeadamente no seu
primeiro momento, j‡ que, a promo•‹o processual n‹o se d‡ com a aquisi•‹o da not’cia do crime,
mas est‡ dependente de queixa do ofendido. Este poderia declarar constituir-se assistente na
denœncia, nos termos do artigo 246¼/4, n‹o sendo aqui obrigat—rio que tal aconte•a.
Aberto o inquŽrito, nos termos do artigo 262¼ e seguintes, o MP dirige esta primeira fase,
de modo a ir de encontro ˆs finalidades plasmadas no artigo 262¼. Por regra, no final desta fase,
o MP deduz acusa•‹o ou arquiva o caso, conforme tenha recolhido ind’cios de que se verificou o
crime ou n‹o os tenha recolhido, respectivamente.
No entanto, importa referir dois mecanismos de divers‹o, existentes nos artigos 280¼ e
281¼. Estes divergem da tramita•‹o comum do processo penal, e n‹o se prendem com o
arquivamento do artigo 277¼. Aqui o MP recolheu ind’cios de que existe um crime, no entanto,
por se tratarem de crimes de pequena ou mŽdia criminalidade, d‡-se aqui uma margem de
oportunidade, e possibilita-se uma via diferente, desde que os requisitos plasmados nestes artigos
se encontrem preenchidos, nomeadamente a necessidade da concord‰ncia entre os sujeitos
processuais visados.
No entanto, o artigo 281¼, prev• no n¼ 7 e 8, dois tipos de crimes que n‹o se prendem com
pequena ou mŽdia criminalidade, mas aos quais se oferta esta via de escape. Interessa-nos aqui o
n¼ 8.
Acontece que, se n‹o pudŽssemos resolver esta situa•‹o por esta via, poderia haver
constrangimentos para os interesses das v’timas, o legislador introduz assim este mecanismo de
divers‹o para que se encontre uma solu•‹o para o conflito penal fora das inst‰ncias formais – Ž
uma espŽcie de v‡lvula de escape que contorna a natureza pœblica destes crimes e salvaguarda a
posi•‹o (j‡ dŽbil) da v’tima.

c) Diga qual o tribunal competente para conhecer do recurso que venha a ser interposto da
decis‹o condenat—ria e quais os poderes de cogni•‹o deste tribunal.

Importa primeiramente determinarmos qual foi o tribunal de 1» inst‰ncia que venha a


proferir decis‹o condenat—ria.
Desde logo o artigo 13¼, referente ao tribunal do jœri Ž exclu’do j‡ que a sua interven•‹o
tem que ser requerida pelo MP, pelo assistente ou pelo arguido, e o enunciado n‹o indica que tal
tenha acontecido.
Quanto ao tribunal colectivo, cabem na compet•ncia deste tribunal os processos que, n‹o
devendo ser julgados por tribunal singular, respeitem a crimes, cuja pena m‡xima, abstractamente
aplic‡vel, seja superior a 5 anos (artigo 14¼/2, b)). Sendo este o caso que temos em m‹os. De notar
que n‹o estamos perante a situa•‹o positivada no artigo 16¼/3, pelo que prosseguiremos a
resolu•‹o do nosso caso pr‡tico.
Em matŽria de recursos, o artigo 399¼ estabelece a regra geral da recorribilidade. Digamos
ainda que o direito ao recurso Ž constitucionalmente garantido, nos termos do artigo 32¼/1 CRP.
O artigo 401¼ estabelece quem tem legitimidade e interesse em agir, em sede de recurso.

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De seguida, pela leitura do artigo 427¼, percebemos que, em regra, o recurso da decis‹o
proferida por tribunal de 1» inst‰ncia interp›e-se para a rela•‹o. No entanto, vejamos se o nosso
caso consubstancia uma das excep•›es ˆ regra.
Pela leitura do artigo 432¼/1, c), percebemos que estamos aqui perante uma excep•‹o, j‡
que o caso foi julgado em 1» inst‰ncia por um tribunal colectivo, o que significa que dever‡ haver
recurso per saltum para o STJ daquela decis‹o condenat—ria.
O STJ funciona como tribunal de revista, ou seja, os seus poderes de cogni•‹o, nos termos
do artigo 434¼ visam exclusivamente o reexame de matŽria de direito.

6) A foi submetido a julgamento, acusado da pr‡tica de um crime de furto simples (artigo


203¼/1 CP).

a) Como classifica este crime do ponto de vista da promo•‹o processual?

O crime de furto, nos termos do artigo 203¼/3 do CP Ž um crime semipœblico, sem preju’zo
das hip—teses plasmadas no artigo 207¼ que o tornam um crime particular.
Dizer que um crime Ž semipœblico remete-nos para a quest‹o do princ’pio da oficialidade.
O princ’pio da oficialidade responde ˆ quest‹o de saber a quem compete a iniciativa de investigar
a pr‡tica de uma infrac•‹o e de a submeter ou n‹o a julgamento (deduzir acusa•‹o). Sendo o
Direito Penal, um direito de protec•‹o de bens jur’dicos fundamentais, o processo penal assume-
se como um assunto da comunidade jur’dica, e por isso, se afirma o monop—lio estadual da justi•a
penal. Ou seja, cabe ao Estado, a promo•‹o do processo penal, independentemente da vontade
dos particulares. ƒ uma entidade pœblica oficial que, em regra, assume a iniciativa do processo e
por isso, o princ’pio da oficialidade desdobra-se em dois momentos: 1) Ž a uma entidade pœblica
oficial (MinistŽrio Pœblico) que cabe a iniciativa de investigar a pr‡tica de uma infrac•‹o
(conforme o artigo 48¼); 2) Ž tambŽm a uma entidade pœblica oficial (MinistŽrio Pœblico) que cabe
a decis‹o de acusar ou n‹o (conforme o artigo 276¼/1).]
Quando estamos perante crimes pœblicos, Ž sempre o MP que tem legitimidade para a
promo•‹o oficiosa e por sua iniciativa do processo penal, decidindo com plena autonomia. Vale
aqui o princ’pio da oficialidade em toda a sua extens‹o.
No entanto, quando nos deparamos com crimes semipœblicos e crimes particulares, o
princ’pio da oficialidade sofre uma limita•‹o e uma excep•‹o (respectivamente).
Assim, nos crimes semi-pœblicos, previstos no artigo 49¼, h‡ uma limita•‹o ˆquele
princ’pio, respectivamente ao primeiro momento, j‡ que, estamos aqui perante casos cujo
procedimento criminal depende de queixa do ofendido ou de outras pessoas, sendo necess‡rios
que estas levem esses factos ao MinistŽrio Pœblico, para que este promova o processo.

b) Indique qual o tribunal competente para proceder ao julgamento de A e aquele que ser‡
competente para conhecer eventual recurso que vier a ser interposto da decis‹o.

Devemos come•ar por analisar o artigo 13¼, ora, uma vez que a interven•‹o do jœri n‹o
foi requerida por nenhum dos sujeitos processuais mencionados, passamos para o artigo 14¼.
O artigo 14¼, relativo aos tribunais colectivos tambŽm n‹o tem compet•ncia para avaliar este caso,
desde logo porque o crime de furto tem uma pena abstracta m‡xima de 3 anos.
Como tal, a compet•ncia caber‡ ao tribunal singular, nos termos do artigo 16¼/2, al’nea
b), para julgar em 1» inst‰ncia.
Quanto ˆ possibilidade de recurso, diga-se desde logo que esta Ž garantida

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constitucionalmente pelo artigo 32¼/1 da CRP e encontra-se prevista o princ’pio geral de


recorribilidade nos termos do artigo 399¼ do CPP.
Ë partida os recursos de decis‹o proferida por tribunal de 1» inst‰ncia interp›e-se para a
rela•‹o, nos termos do artigo 427¼, sendo que n‹o estamos perante uma excep•‹o de recurso per
saltum nos termos do artigo 432¼.
Assim, o tribunal competente para julgar um eventual recurso Ž o tribunal da rela•‹o,
cujos poderes de cogni•‹o s‹o de facto e de direito, nos termos do artigo 428¼.

7. Na fase de inquŽrito foram recolhidos ind’cios suficientes no sentido de A. ter praticado


um crime de abuso sexual de crian•as (artigo 171¼/1 CP).

a) Justifique pol’tico-criminalmente a aplica•‹o, no caso, da suspens‹o provis—ria do


processo.

Refer•ncia ˆ suspens‹o provis—ria do processo, enquadrando-a no princ’pio da


legalidade quanto ˆ promo•‹o processual, e ao regime especial dos crimes sexuais contra
a liberdade e a autodetermina•‹o sexual, face ˆ natureza pœblica dos mesmos

b) Supondo que foi deduzida acusa•‹o, diga em que circunst‰ncia poder‡ A ser julgado na
sua aus•ncia.

A presen•a do arguido Ž obrigat—ria na audi•ncia do julgamento, nos termos do artigo


332¼. No entanto, este artigo encontra excep•›es, constitucionalmente possibilitadas pelo artigo
32¼/6 que nos diz que a lei define os casos em que pode ser dispensada a presen•a do arguido nos
actos processuais, incluindo a audi•ncia de julgamento.
Assim, o artigo 333¼ e 334¼ prev•em algumas das situa•›es nas quais o julgamento
decorre, ainda que na aus•ncia do arguido.
Refer•ncia ao regime regra da presen•a arguido e aos casos em que pode haver
julgamento na aus•ncia, nos termos da lei processual penal e da Constitui•‹o.

c) Supondo que A. foi condenado numa pena de pris‹o de 6 anos e que pretende recorrer
com fundamento em viola•‹o do princ’pio in dubio pro reo, diga qual Ž o tribunal
competente para apreciar o recurso.

Vide pergunta te—rica relativa ao recurso para STJ e princ’pio in dubio pro reo.
Refer•ncia ao tribunal competente em 1.» inst‰ncia e ao recurso directo para o
Supremo Tribunal de Justi•a, tendo em conta o conteœdo do princ’pio in dubio pro reo.

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Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra
Direito Processual Penal
23 de junho de 2015
I.

1. Resposta afirmativa.

Referência à estrutura acusatória e, concretamente, ao princípio da acusação e ao efeito

de vinculação temática do tribunal que lhe está associado.

Referência aos artigos 32.º, n.º 5 da Constituição e 1.º, alínea f), 303.º e 359.º do Código

de Processo Penal.

2. Resposta afirmativa.

Referência à repartição de funções processuais entre o juiz de instrução e o ministério

público.

Referência aos artigos 32.º, n.º 4, e 219.º da Constituição e 17.º, 262.º e ss., 268.º e 269.º

do Código de Processo Penal.

II.

1. Discussão da questão da possibilidade de ser aplicada medida de coação diferente da

requerida, à luz do princípio da acusação e dos princípios gerais de aplicação das

medidas de coação.

Regime legal das medidas de coação e, especificamente, os artigos 194.º, n.ºs 1, 2 e 3, e

204.º do Código de Processo Penal.

2. Estatuto processual do arguido e direito à não auto-incriminação.

Artigos 26.º e 32.º, n.ºs 1 e 2, da Constituição e 61.º, n.º 1, alínea d), do Código de

Processo Penal.

3. Competência do tribunal de 1.ª instância e tribunal competente para conhecer do

recurso em função da matéria a reexaminar.

Artigos 14.º, 16.º, n.º 3, 427.º, 428.º e 432.º do Código de Processo Penal.

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Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra
Direito Processual Penal
14 de julho de 2015

I.

1. Discordância quanto à afirmação, salientando, por referência às disposições legais


pertinentes, quem pode requerer a instrução e com que finalidade.

2. Discordância quanto à afirmação por referência ao regime legal da confissão e ao


regime legal do silêncio do arguido.

II.

1. Referência à suspensão provisória do processo, enquadrando-a no princípio da


legalidade quanto à promoção processual, e ao regime especial dos crimes sexuais
contra a liberdade e a autodeterminação sexual, face à natureza pública dos mesmos.

2. Referência ao regime regra da presença arguido e aos casos em que pode haver
julgamento na ausência, nos termos da lei processual penal e da Constituição.

3. Referência ao tribunal competente em 1.ª instância e ao recurso direto para o


Supremo Tribunal de Justiça, tendo em conta o conteúdo do princípio in dubio pro reo.

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