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Afonso Comidando
Menongue
2021
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Direito processual penal. Apontamentos
Nota prévia
O autor
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Afonso Comidando.
ABREVIATURAS
CP__________________Código Penal
MP__________________Ministério Público.
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Direito processual penal. Apontamentos
1. Noção de Processo-crime.
As leis penais (Direito penal) preveem certas condutas sociais e classifica-as como
criminosas e, por isso, estipulam as respectivas sanções: penas ou medidas de
segurança. Contudo, a apuração se, de facto, o crime ocorreu, a determinação do seu
agente e o seu grau de responsabilidade não ocorre de modo automático; é um processo
mais ou menos complexo, dependentemente de diversos factores. É, precisamente, a lei
processual penal (Direito processual penal) que define a sequência de actos a serem
observados para a instauração (início) do referido processo, o seu desenvolvimento
(marcha), as decisões, a execução das decisões e os recursos dessas mesmas decisões.
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2. Estrutura do processo-crime.
4 — A última fase respeita à execução da sentença (decisão final), ditada pelo juiz, caso
ele conclua que o crime, de facto, ocorreu e que o réu foi quem o cometeu. A sanção
pode ser uma pena (de prisão, de multa, de prestação de trabalho à comunidade ou de
admoestação) ou uma medida de segurança, caso o condenado sofra de anomalia
psíquica (artigos 548.º a 604.º).
O recurso não é uma fase do processo. É um incidente, que pode ser levantado a meio
do processo ou no final, pelo qual o interessado, que se sente inconformado com a
decisão desfavorável do juiz, pede ao tribunal superior a reapreciação da referida
decisão (artigo 459.º e seguintes do CPP).
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O processo-crime pode revestir uma forma comum ou uma especial. A forma comum é
a regra, é aquela usada para a tramitação do processo sempre que a lei não definir,
expressamente, uma forma especial para o caso em concreto (artigo 299.º, n.º 2 do
CPP). A forma especial subdivide-se em processo sumário, processo de contravenções,
processo abreviado e processo para infracções que devem ser julgados em primeira
instância no Tribunal supremo.
I — O Processo sumário destina-se aos crimes puníveis com pena de prisão, quando o
limite máximo da moldura penal não for superior a 3 anos, e o arguido ter sido detido
em flagrante delito e, além disso, poder ser julgado no prazo de 5 ou 15 dias a contar da
data da detenção (artigos 427.º a 4 36.º do CPP).
III — Os crimes que, por escassez de tempo, não poderem ser objecto de julgamento
sumário e os crimes puníveis com multa ou com pena de prisão de máximo não superior
a 5 anos podem ser objecto de processo abreviado, caso possam ser julgados no prazo
de 45 dias a contar da data da notícia do crime (artigos 445.º a 450.º do CPP).
IV — Por fim, há determinadas pessoas que não podem ser julgadas, em primeira
instância, por outro tribunal que não seja o Tribunal Supremo. É o caso do deputado à
Assembleia Nacional, os Ministros de Estado, Ministros, Secretários de Estado, Vice-
Ministros, Oficiais Generais das FAA. O tipo de processo para esses sujeitos denomina-
se processos julgados em primeira instância pelo Tribunal Supremo (artigo 289.º, n.ºs 1
à 5 do CPP, e artigo 34.º da Lei n.º 13/11, de 18 de Março – da Orgânica do Tribunal
Supremo).
1. Notificação.
A notificação tem dois sentidos. Por um lado, é o acto por meio do qual se dá a
conhecer um facto ou uma decisão processual a determinada pessoa. Por exemplo, a
notificação de constituição como arguido, dita ou entregue à pessoa antes tida como
mero suspeito [artigo 64.º, n.º 2, al. a), do CPP]. Igualmente, serve de convocatória, isto
é, o chamamento de algum interveniente para praticar algum acto no processo ou para
ser submetido a algum acto processual. Por exemplo, a pessoa pode ser notificada para
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Mas não são somente estes os requisitos da notificação. É que, nos termos do artigo
127.º, n.º 6, o próprio despacho, que ordenar a notificação, deverá, excepcionalmente,
ser transcrito no auto de notificação ou deve juntar-se à notificação uma cópia do
referido despacho caso, com a notificação, se pretender o seguinte:
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2. Falta de comparência.
a) O efeito disciplinar é a sanção que consiste numa multa a ser aplicada pelo juiz
[artigo 135.º, n.º 1, e artigo 313.º, n.º 1, al. i)].
Quando as suspeitas sobre um crime conhecido recaírem sobre determinada pessoa, ela
não deverá ser interrogada muito menos poderá ser submetida a medida de coacção ou
de garantia patrimonial enquanto não for constituída como arguido. Constituir a pessoa
como arguido significa dar-lhe a conhecer que foi aberto, contra si, um processo, por
alegadamente ter cometido um crime, e, por esta razão, está vinculado ao referido
processo mediante direitos, que passa a ter, e deveres que passam a ser-lhe impostos. O
suspeito torna-se arguido de forma imediata e automática ou por meio de simples
notificação.
deduzidas (artigo 63.º, n.º 2). Diversamente, a constituição por meio de notificação
ocorre quando, fora dos (dois) casos que referimos, a lei exigir a constituição de
arguido. Agora, tais outra situações de constituição obrigatória de arguido são aqueles
previstos no artigo 64.º, n.º 1:
c) Quando a pessoa for detida por pesarem sobre si suspeitas de ter cometido
algum crime. Nota: no momento da detenção devem ser dado a conhecer ao
arguido os seus direitos, nomeadamente, o direito de comunicar aos parentes e
ao advogado que está a ser detido e o direito de não responder às perguntas
sobre o crime que motivou a sua detenção, e, ainda, ser advertido de que tudo
quanto disser poder ser usado contra si em juízo.
O OPC deve constituir o suspeito como arguido, mesmo sem a prévia autorização do
Ministério Público, quando detém o suspeito em flagrante delito ou quando levante
contra si um auto de notícia [artigo 64.º, n.º 1, als. c) e d), conjugado com o artigo 251.º,
n.º 3] ou, ainda, quando o OPC tiver de aplicar a medida de termo de identidade e
residência à pessoa [artigo 64.º, n.º 1, al. b), conjugado com o artigo 269.º, n.º 2].
a) Prova testemunhal: aquela pessoa física que tenha estado presente no momento
em que ocorreu algum facto relacionado com o crime sob investigação pode ser
chamada para depor, isto é, para relatar, com verdade, o que viu, ouviu ou se
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Já vimos como a prova pode ser produzida. Por vezes, porém, só é possível chegar à
prova, usando algum dos meios enumerados, taxativamente, na lei. Tais meios são:
identificação do suspeito, revistas e buscas, apreensão, exame, identificação ou
localização celular e vigilância electrónica, escutas telefónicas e acções encobertas.
II — Revistas e buscas: são operações materiais que visam encontrar coisa, escondida
na pessoa (revista) ou em local não acessível ao público (busca), que possa servir para a
prova de um crime (artigo artigo 212.º). O Órgão de Polícia Criminal apenas pode
ordenar buscas com o fundamento [a] ou na indisponibilidade do magistrado a quem o
mandado devia ser requerido, [b] ou por consentimento prévio e expresso do titular do
direito à inviolabilidade do local de busca, ou [c] se se verificar a iminência ou a
ocorrência de um crime ou, no caso da revista, o suspeito tiver sido detido em flagrante
delito (artigo 214.º).
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É ilícita e, por isso, não pode ser usada contra o arguido – é inadmissível –, toda a prova
obtida por meios ilegais ou, ainda que obtida por meios legais, não tenham sido
observadas as formalidades legais exigidas pelo uso de tais meios.
SECÇÃO I – DETENÇÃO.
1. Noção.
Deter uma pessoa significa privar a liberdade dela por período necessário para a prática
de um determinado acto. Se a detenção tem em vista, somente, fazer comparecer, à
força, aquele que não respondeu a convocatória, a pessoa detida deve ser apresentada ao
magistrado competente até 24 horas [artigo 250.º, n.º 1, al. c), do CPP].
Quando a detenção é motivada por fortes indícios de que a pessoa cometeu um crime, a
privação da sua liberdade pode durar até 48 horas (artigo 250.º, n.º 1). Fora desse
período, a pessoa só não é restituído à liberdade caso esteja já sob o domínio do juiz
(detenção judicial) ou quando estiver em prisão preventiva.
2. Momentos da detenção.
a) Detenção em flagrante delito: é aquela que ocorre quando a pessoa capturada foi
surpreendida no momento em que estava a cometer o crime ou no momento em
que acabou de o cometer. Também constitui detenção em flagrante delito a
captura do suspeito no decurso da perseguição, ininterrupta, a seguir ao
cometimento do crime. Mas, quando o crime cometido é aquele que se prolonga
no tempo, a captura é sempre em flagrante delito enquanto o crime durar (artigo
252.º do CPP). É o caso do rapto (artigo 175.º do CP).
As medidas de coacção pessoal e de garantia patrimonial não são sanções como ocorre
com as penas e as medidas de segurança. Elas são meras decisões, taxativamente
enumeradas, que têm como objecto proteger determinados interesses processuais
enquanto o processo não atingir a sua finalidade.
A pessoa contra a qual tenha sido aplicada uma detenção ou medida de coacção,
executada ou ordenada por uma autoridade ou seu agente, pode pedir ao juiz a
reapreciação da medida mediante recurso ou habeas corpus.
juiz das garantias (a pedido do Ministério Público), ou for uma medida substitutiva
(secundária) resultante da impugnação da medida aplicada pelo Ministério Público
(formulada pelo arguido), recorre-se ao tribunal superior. A mesma solução aplica-se
quando a medida de coacção for aplicada pelo juiz da fase de julgamento, (artigo 287.º,
n.º 6).
A pessoa que tenha sido detida ou presa ilegalmente, pelos abusos referidos na secção
anterior, deve ser indemnizada pelo Estado, embora este, por sua vez, tenha o direito de
regresso, isto é, de cobrar à autoridade ou do agente que deu causa à condenação do
Estado. Além do caso que acabamos de referir, a pessoa que for detida ou presa
preventivamente deve ser indemnizada quando a detenção ou prisão preventiva resultar
de erro grosseiro da autoridade ou agente que tenha ordenado ou executado a detenção
ou a prisão, ou se se provar que, afinal de contas, o arguido não cometeu o crime ou que
o cometeu, mas em legítima defesa, em estado de necessidade, em situação de conflito
de deveres, em caso de ter havido consentimento vinculante da vítima, ou tiver actuado,
em situação de excesso de legítima defesa ou de estado de necessidade desculpante ou
de conflito de deveres desculpante (artigos 30.º a 38.º do CP). O regime das
indemnizações, pelas causas que acabamos de referir está. previsto nos artigos 296.º a
298.º do CPP.
Para que o crime seja investigado é necessário que seja reportado ao órgão a quem
compete mandar instaurar o processo correspondente. O órgão titular da acção penal é o
Ministério Público, o qual, para o efeito, é representado por magistrados junto dos
Órgãos de Polícia Criminal (artigo 48.º, n.º 2, al. a), do CPP). O magistrado toma
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conhecimento do crime por três vias: quando ele mesmo constata directamente, por
meio dos órgãos de polícia ou por denúncia (artigo 303.º do CPP).
D — A queixa é o nome que se dá à denúncia (facultativa) feita pelo ofendido (ou seu
representante) nos casos em que, sem a declaração expressa dele, dizendo que deseja o
procedimento criminal contra o arguido, o Ministério Público não pode ordenar a
instauração do processo-crime (artigos 50.º e 306.º, n.º 3). Diz-se, então, que estamos
perante crime semipúblicos, conforme indica a epígrafe do artigo 50.º. Alguns crimes,
porém, exigem do queixoso mais um passo para que o Ministério Público possa mandar
iniciar a instrução e, no final, acusar, se for caso disso. São os chamados crimes
particulares. Estes impõem que o ofendido seja colaborador do Ministério Público, isto
é, que constitua advogado e, no final da instrução preparatória, se o processo tiver que
transitar para a fase de julgamento, deduza, também, a acusação sob pena de o
Ministério Público perder a legitimidade e, por isso, arquivar o processo (artigo 51.º).
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peritos e intérpretes; ordenar a detenções e praticar outros actos que forem da reserva do
juiz.
Não obstante o Órgão de Polícia Criminal ser o órgão de execução de certas decisões
dos magistrados que dirigem o processo-crime, ele não só dispõe de poderes delegados
(artigo 313.º, n.º 3 do CPP). Também tem competências próprias, tais como a
identificação de suspeitos (artigo 211.º), as revistas e buscas (artigo 214.º) e detenções
(artigo 251.º, n.º 4, e artigo 254.º, n.º 3).
O arguido tem direitos e deveres dentro do processo que corre contra si. Ele tem o
direito de estar presente em acto processual do seu interesse, direito de audiência,
direito à informação, direito ao silêncio, direito a defensor, direito de intervenção e
direito de impugnação (artigo 67.º do CPP). Ele tem, porém, o dever de comparência, de
responder e com verdade as perguntas atinentes à sua identidade e estatuto social, de se
sujeitar a actos ou medidas legais e de não perturbar a instrução processual (artigo 68.º).
O processo-crime deve ser instruído dentro dos prazos previstos no artigo 321.º do CPP.
Assim:
a) 6 Mês, se houver arguido preso (n.º 1). Mas este período de tempo pode ser
alargado para 10 meses (n.º 2), quando o crime imputado ao arguido for punível
com pena de prisão cujo limite máximo seja superior a 5 anos e o processo se
revestir de especial complexidade, nos termos previstos pelo artigo 283.º, n.º 2,
aplicável por remissão do artigo 321.º, n.º 2;
Em regra, a lei não prevê o tempo que deve durar a instrução enquanto não for
determinada a pessoa suspeita de cometer o crime. De facto, se ninguém é perseguido
criminalmente, o Estado não pode ser pressionado pelo factor tempo, a abdicar do seu
direito de perseguir o criminoso a fim de o levar a julgamento. Portanto, se o agente do
crime ainda não foi descoberto, o exercício da acção penal estará apenas condicionado
pelos prazos de extinção da responsabilidade criminal (artigos 129.º a 137.º do CP).
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4. Relatório de instrução.
Salvo disposição legal expressa, o Código do Processo Penal não exige do Órgão de
Polícia Criminal a apresentação de um relatório (parecer) final da actividade instrutória.
Exige, sim, relatórios do resultado de algumas diligências probatórias, tais como
relatório pericial (artigo 197.º) e relatório de escutas e gravações (artigo 243.º, n.º 2).
Isto quer dizer que o relatório final, além de não vincular o titular da acção penal só
pode ter utilidade administrativa e interna, por exemplo, para a avaliação da
produtividade do instrutor, salvo outro entendimento do legislador.
Realizadas as diligências possíveis, com vista a descoberta do crime, o seu autor e o seu
grau de responsabilidade, dá-se por encerrada a fase de instrução preparatória. Se o
resultado da instrução for negativo, o Ministério Público ordenará o arquivamento do
processo, fundamentando que existe prova bastante de que não há crime, ou de que o
arguido não o cometeu ou de que o procedimento criminal ou se extinguiu ou não é
legalmente admissível, ou, ainda, quando não se tiver produzido prova suficiente da
existência do crime ou de quem o cometeu, ou por simples desistência por parte do
queixoso [artigo 322.º, n.º 1; artigo 331.º, n.º 6, do CPP; e artigo 127.º, n.º 2 do CP].
Caso o resultado da instrução seja positivo, isto é, tenha reunido prova bastante do
crime, da autoria e da responsabilização do agente, ainda assim, poderá haver
arquivamento do processo ainda nessa fase de instrução preparatória, por meio de mini-
sentenças condenatórias, com o fundamento em dispensa de pena (artigo 325.º), ou em
cumprimento das injunções e regras de conduta impostas ao arguido (artigo 327.º, n.º 2).
Enfim, tendo havido prova bastante do crime, o seu agente e a sua responsabilidade, e
não for caso de arquivamento nos termos já referidos, então o processo transitará
imediatamente para a fase de julgamento, salvo se o assistente ou o arguido recorrerem
do despacho do Magistrado do Ministério Público. O despacho mediante o qual o
referido magistrado promove o julgamento do arguido chama-se acusação (artigo 328.º).
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Índice
Nota prévia…………………………………………………………………………………..2
Abreviaturas……………………………………………………………………………........3
1. Noção de Processo-crime………………………………………………………..4
2. Estrutura do processo-crime……………………………………………………..4
2.1. Fases do processo…………………………………………………………...5
2.2. Formas ou tipos de processo………………………………………………..6
1. Notificação……………………………………………………………….6
2. Falta de comparência…………………………………………………….8
SECÇÃO I – DETENÇÃO………………………………………………………12
1. Noção………………………………………………………………………..12
2. Momentos da detenção…………………………………………………......12
PATRIMONIAL………………………………………………...13
MEDIDAS CAUTELARES…………………………………......14
INJUSTIFICADA DA LIBERDADE…………………………....15
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Índice………………………………………………………………………………….....20
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