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3/22/22, 11:15 AM jurisprudência.

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jurisprudência.pt

Supremo Tribunal
de Justiça
Processo

132/11.0JELSB. S1
Relator

RAUL BORGES
Sessão

02 Maio 2012
Votação

UNANIMIDADE
Meio Processual

RECURSO PENAL
Decisão

PROVIDO EM PARTE

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TRÁFICO DE ESTUPEFACIENTES

CORREIO DE DROGA

MEDIDA CONCRETA DA PENA CULPA

ILICITUDE PREVENÇÃO GERAL

PREVENÇÃO ESPECIAL

Sumário

I  -   O crime de tráfico de estupefacientes, p. e p.


pelo art. 21.º, n.º 1, do DL 15/93, de 22-01, é punível
com pena de prisão de 4 a 12 anos, tratando-se de
um ilícito que cada vez prolifera mais, quer no

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âmbito nacional, quer a nível internacional, de


efeitos terríveis na sociedade e que permite
auferir, para os «donos do negócio», enormes
proveitos ilícitos, sendo, pois, imperioso e urgente,
combatê-lo.
II -  Sendo um dos fins das penas a tutela dos bens
jurídicos, nos termos do art. 40.º do CP, há que
olhar ao bem jurídico em causa que é pluriofensivo,
tutelando a vida, a integridade física e a liberdade
dos virtuais consumidores, embora todos eles se
possam reconduzir a um bem geral – a saúde
publica.
III - Nesta dimensão das finalidades da punição, as
circunstâncias e os critérios do art. 71.º do CP
devem contribuir tanto para co-determinar a
medida adequada à finalidade de prevenção geral
(a natureza e o grau de ilicitude do facto impõe
maior ou menor conteúdo e prevenção geral,
conforme tenham ou não provocado maior ou
menor sentimento comunitário de afectação de
valores), como para definir o nível e a premência
das exigências de prevenção especial (as
circunstâncias pessoais do agente, a idade, a
confissão, o arrependimento), ao mesmo tempo
que também transmitem indicações externas e
objectivas para apreciar e avaliar a culpa do
agente.
IV - No caso concreto, quanto ao modo de
actuação, à natureza e qualidade do produto
estupefaciente, há a considerar que estamos
perante uma actuação isolada, um único acto de
transporte de cocaína, que a arguida transportou
desde a Venezuela para Portugal e que se
destinava a ser introduzida no mercado europeu,
sendo que a recorrente se tinha comprometido a
efectuar o transporte mediante a promessa de
pagamento de quantia não apurada. Será de
atender, ainda, à quantidade elevada de cocaína
apreendida, no caso atingindo 2996,51 g, que
possibilitaria a preparação de 14 982 doses. O dolo
da arguida foi directo e intenso, bem sabendo que
a conduta era proibida e punida por lei, mas, não
obstante, quis a realização do facto típico – a
efectivação remunerada do transporte. Releva,
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também, o motivo porque a recorrente se dispôs a


efectuar o transporte e que foi o de angariar
dinheiro para suprir as suas dificuldades
económicas sentidas em Espanha onde sempre
viveu, sendo certo que tinha a promessa de
contraprestação retributiva, correspondendo a um
salário (e não a uma comparticipação no negócio).
V -  As razões e necessidades de prevenção geral
positiva ou de integração são muito elevadas. Na
verdade, há que ter em conta as grandes
necessidades de prevenção geral numa sociedade
assolada pelo fenómeno do tráfico de droga, que a
jusante gera outro tipo de criminalidade que
consistirá na prática de roubos, havendo que dar
satisfação ao sentimento de justiça da
comunidade. Por outro lado, estamos perante mais
um caso de «correio de droga», cujo número não
pára de crescer nos últimos anos, sendo por isso,
as exigências de prevenção elevadas e prementes.
VI - As necessidades de prevenção especial
avaliam-se em função da necessidade de
prevenção de reincidência, devendo reforçar no
delinquente o sentimento da necessidade de se
auto-ressocializar, ou seja, de não reincidir.
VII - Tendo em conta os padrões jurisprudenciais
usados em outras decisões impõe-se uma
intervenção correctiva no sentido de uma ligeira
redução da medida da pena aplicada e, assim,
tendo em consideração a primariedade da arguida
e as suas condições pessoais e familiares, afigura-
se adequada a pena de 4 anos e 10 meses de prisão
[em substituição da pena de 5 anos e 6 meses de
prisão fixada pelo Tribunal da 1.ª instância].

Texto Integral
No âmbito do processo comum, com intervenção
do Tribunal colectivo, n.º 132/11.0JELSB da 6.ª Vara
Criminal de Lisboa, foram submetidos a
julgamento:
 - AA, casada, cozinheira, nascida em 06-08-1959,
em L…, Espanha, residente em H… A…, T… dei C…,
L…, Espanha, presa preventivamente à ordem dos

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presentes autos desde 03-05-2011 (detida em 02-


05-2011);
- BB, casado, administrador de empresas, nascido
em 25-04-1962, em Arménia, Colômbia, residente
na mesma morada, que esteve preso
preventivamente à ordem dos autos, desde 03-05-
2011 até 29-11-2011, dia em que foi libertado, em
virtude da absolvição - fls. 372 verso.
     Por acórdão do Colectivo competente, datado de
29 de Novembro de 2011, constante de fls. 351 a
366, foi deliberado:
A)  Absolver o arguido BB como co-autor de um
crime de tráfico de estupefacientes, p. e p. no
artigo 21°, n.º 1, do Dec.-Lei n.º 15/93, de 22-01, com
referência à tabela I-B, anexa, por cuja prática
vinha acusado.
B)   Condenar a arguida AA como autora material de
um crime de tráfico de estupefacientes, p. e p. no
artigo 21.º, n.º 1, do Decreto-Lei n.º 15/93, de 22-01,
com referência à tabela I-B, anexa, na pena de 5
(cinco) anos e 6 (seis) meses de prisão.
      Inconformada, a arguida interpôs recurso para o
Tribunal da Relação de Lisboa, apresentado a
motivação de fls. 376-8, e em original de fls. 394-6,
sem apresentar conclusões, mas incidindo apenas
sobre a medida da pena, defendendo que dever-se-
ia situar numa pena na ordem dos 4 anos e 6 meses
de prisão, sem por em causa que a mesma seja
uma pena de prisão efectiva.
      O Ministério Público respondeu conforme fls.
382 a 392, terminando assim:
«Em suma:
1. O circunstancialismo da acção, a gravidade
objectiva dos factos, a culpa evidenciada e o que
contra e a favor do agente se constata, sem perder
de vista as necessidades de prevenção, geral, e as
que in casu se fazem sentir, e bem assim a moldura
penal
2.  abstracta da infracção por que responde (4 a 12
anos de prisão),
3.  tornam adequada, pela observância dos
critérios definidores dos artigos 40° e 71° do
Código Penal, a pena de 5 (cinco) anos e 6 (seis)
meses de prisão a que a recorrente foi condenado
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pela prática, em autoria material, de um crime de


tráfico de estupefacientes p. e p. pelo art. 21°.l do
DL 15/93, de 22.01, com referência à tabela I-B
anexa a este diploma.
4. Pese embora estejamos perante uma situação
de "transporte de droga", tal não pressupõe ou
justifica que o quantum a fixar em concreto seja
mais próximo do limite mínimo que ao tipo de ilícito
cabe, 4 anos de prisão.
5. Por outro lado, a reinserção social da recorrente,
sendo uma das finalidades das penas, não pode
sobrepor-se à protecção que a comunidade
merece perante o perigo em que se traduz o crime
em apreço, ou seja, às exigências fortíssimas de
prevenção geral no que concerne à traficância
internacional de estupefacientes, como é o caso
dos autos.
6. E, no caso, a pena de 5 anos e 6 meses de prisão
aplicada à recorrente, não ultrapassa a medida da
sua culpa, atentas a razões de prevenção especial
e geral que se impõem.
Nenhuma censura merece a decisão recorrida que,
como tal, deverá ser mantida».
      O recurso foi admitido por despacho de fls. 456,
sendo os autos remetidos para o Tribunal da
Relação de Lisboa.
      Por despacho do Exmo. Relator, constante de
fls. 466, foi excepcionada a incompetência material
do Tribunal da Relação de Lisboa para conhecer do
recurso e ordenada a remessa dos autos para o
STJ.
       O Exmo. Procurador-Geral Adjunto emitiu douto
parecer, a fls. 472/5, que termina dizendo que sem
prejuízo de, neste caso na sua parcial procedência,
poder ser ponderada a eventual redução da pena
para medida nunca inferior a 5 anos de prisão,
emite parecer no sentido de que será de negar
provimento ao recurso e de confirmar, assim, a
decisão impugnada.
       Cumprido o disposto no artigo 417.º, n.º 2, do
CPP, a recorrente silenciou.
       Não tendo sido requerida audiência de
julgamento, o processo prossegue com julgamento
em conferência, nos termos dos artigos 411.º, n.º 5
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e 419.º, n.º 3, alínea c), do Código de Processo


Penal.
       Colhidos os vistos, realizou-se a conferência,
cumprindo apreciar e decidir.
       Como é jurisprudência pacífica, sem prejuízo
das questões de conhecimento oficioso – detecção
de vícios decisórios ao nível da matéria de facto
emergentes da simples leitura do texto da decisão
recorrida, por si só ou conjugada com as regras da
experiência comum, referidos no artigo 410.º, n.º 2,
do Código de Processo Penal - acórdão do Plenário
da Secção Criminal, de 19-10-1995, no processo n.º
46580, Acórdão n.º 7/95, publicado no Diário da
República, I Série - A, n.º 298, de 28-12-1995 (e BMJ
n.º 450, pág. 72), que fixou jurisprudência, então
obrigatória, no sentido de que “É oficioso, pelo
tribunal de recurso, o conhecimento dos vícios
indicados no artigo 410º, nº 2, do Código de
Processo Penal, mesmo que o recurso se encontre
limitado à matéria de direito” e verificação de
nulidades, que não devam considerar-se sanadas,
nos termos dos artigos 379.º, n.º 2 e 410.º, n.º 3, do
CPP - é pelas conclusões que o recorrente extrai
da motivação, onde sintetiza as razões de
discordância com o decidido e resume o pedido
(artigo 412.º, n.º 1, do Código de Processo Penal),
que se delimita o objecto do recurso e se fixam os
limites do horizonte cognitivo do Tribunal Superior.
                                                          *******
         Questão única a decidir - Medida da pena –
Redução?
         Como se referiu, a recorrente não apresentou
conclusões, mas do teor da motivação retira-se
com clareza que a sua única pretensão é a redução
da pena que foi aplicada para quatro anos e seis de
prisão, não colocando a questão de eventual
suspensão da execução da pena.
                                                          ****
            Fundamentação de facto
   Factos Provados
Foi dada como provada a seguinte matéria de
facto, que é de ter-se por imodificável e
definitivamente assente, já que da leitura do texto
da decisão, por si só considerado, ou em
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conjugação com as regras de experiência comum,


não emerge a ocorrência de qualquer vício
decisório ou nulidade de conhecimento oficioso,
mostrando-se a peça expurgada de insuficiências,
erros de apreciação ou contradições que se
revelem ostensivos, sendo o acervo fáctico
adquirido suficiente para a decisão, coerente, sem
contradição, harmonioso, e devidamente
fundamentado.
1 - Os arguidos, que são marido e mulher,
deslocaram-se a Caracas - Venezuela, no dia 16 de
Abril de 2011, no voo TP 121 que partiu de Lisboa
pelas 16h20, tendo ocupando os lugares 22J e 22H.
2 - Os arguidos no dia 2 de Maio de 2011, pelas 11h28
chegaram ao aeroporto de Lisboa no voo TP 130
procedente de Caracas - Venezuela transportando
a arguida consigo as malas que ostentavam as
etiquetas TP 877129 e TP 877130.
3 - Viajaram em lugares afastados 40 B e 42G e
saíram separadamente do aeroporto.
4 - Ao chegarem ao aeroporto de Lisboa, na data
indicada em 2), o arguido saiu em primeiro lugar.
5 - Por sua vez a co-arguida veio, cerca das 13h30,
a ser interceptada no aeroporto na posse das
aludidas malas quando se dirigiu ao Canal Verde,
tendo sido seleccionada, pelos funcionários
alfandegários, para revisão de bagagem.
6 - No decurso da qual veio a ser encontrado no
interior das aludidas malas, dissimulado no interior
de sete frascos de creme, sendo seis da marca
“A….” e um da marca “L… -Aloé Vera” um produto
suspeito de ser cocaína com o peso bruto de
7.681,700 gramas.
7 - Após o que, instada pelos agentes da PJ sobre a
possibilidade de estar alguém no aeroporto à sua
espera, apesar de inicialmente ter dito que não era
provável acabou por admitir tal possibilidade.
8 - Por tal facto, sob o controlo dos agentes da PJ,
pelas 14h20, foi-lhe permitido sair para a zona de
chegadas do aeroporto na posse de todos os bens
que transportava nas malas, assim se criando a
aparência de que tudo correra bem.
9 - Nessa altura foi de imediato abordada pelo co-
arguido que se lhe dirigiu com o propósito de a
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ajudar a transportar as malas que a arguida tinha


transportado desde a Venezuela.
10 - Malas essas onde a arguida bem sabia
transportar a cocaína dissimulada pela forma antes
descrita.
11 - Tendo-lhe sido apreendidos os aludidos frascos
e produto referidos em 6.
12 - E ainda, à arguida AA:
-Um cartão de embarque no voo TP 130, a
01.05.2011, para o percurso Caracas - Lisboa;
-Um bilhete electrónico da Companhia TAP,
referente ao voo TP 130, proveniente de Caracas
com destino a Lisboa, ambos em nome da arguida;
-Duas etiquetas de bagagem da TAP Portugal,
datadas de 01/05/2011, uma com a referência
0047TP877129 e outra com a referência
0047TP877130;
-Um cartão de embarque em nome do co-arguido
BB/A, referente ao voo TP 121 de 16 de Abril,
procedente de Lisboa com destino a Caracas;
-Um cartão de embarque em nome da arguida
AA/A, referente ao voo TP 121 de 16 de Abril,
procedente de Lisboa com destino a Caracas;
-Um cartão/chave do Hotel “R… B…” em Lisboa;
-Um cartão de embarque, rasgado, em nome de
AA, referente ao voo da AIR EUROPA 1156, de 16 de
Março, procedente de Lisboa com destino a
Madrid;
-Um cartão de embarque, em nome de BB,
referente ao voo da AIR EUROPA 1156, de 16 de
Março, procedente de Lisboa com destino a
Madrid;
-Um cartão de embarque em nome de AA/A,
referente ao voo TP 715, de 26 de Fevereiro,
procedente de Madrid com destino a Lisboa, com
números manuscritos;
-Um cartão do Hotel “C…” em nome de AA,
referente à chegada no dia 16 de Março e saída a 17
de Março;
-Uma factura emitida pelo Hotel “R… B…” em
Lisboa em nome de AA, no valor de 190€;
-Um telemóvel marca “ZTE”, com a respectiva
bateria acoplada, de cor bordeaux e preta, sem
IMEI visível, contendo um cartão da Operadora
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YOIGO n° de série 8934040210043231777 com o PIN


de bloqueio n° 0000.
13 - E, ao co-arguido:
-Um cartão de embarque em nome de BB/A, no voo
TP 130, de 1.05.2011, procedente de Caracas com
destino a Lisboa.
-Um bilhete electrónico da Companhia TAP, em
nome de BB/AL, referente ao voo TP 130,
proveniente de Caracas com destino a Lisboa;
-Um telemóvel marca ALCATEL, com a respectiva
bateria acoplada, de cor preta e cinzenta, com o
IMEI xxxxxxxxx, contendo um cartão da Operadora
MOVISTAR com n° de série 895804220003239561,
sem o PIN de bloqueio.
14 - O produto referido em 6 foi submetido a exame
laboratorial e identificado como cocaína
(cloridrato) contendo 2996,51 gramas de cocaína,
possibilitando assim a preparação de 14982 doses
de cocaína
15 - A arguida conhecia perfeitamente a natureza e
características estupefacientes do produto que lhe
foi apreendido.
16 - Produto que aceitou transportar por, para
tanto, lhe ter sido prometida quantia não apurada.
17 - O telemóvel apreendido à arguida destinava-se
a permitir-lhe contactar e ser contactada pelo
ulterior destinatário do estupefaciente.
18 - O arguido, é natural da Colômbia e não possui
residência, emprego estável ou qualquer outra
ligação pessoal ou familiar no nosso país.
19 - A arguida agiu de modo livre, deliberado e
consciente.
20 - Bem sabendo que tal conduta lhe estava
legalmente vedada.
21 - À arguida não são conhecidos antecedentes
criminais.
22 - O teor do Relatório Social da arguida, de fls.
325 a 329, dos autos, que refere:
Introdução
O presente relatório foi baseado nas seguintes
diligências:
- Entrevista à arguida, com a presença do
intérprete nomeado pelo Tribunal;

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- Articulação com a equipa da DGRS Lisboa EP'S 1,


nomeadamente com a TRS que elaborou o relatório
para determinação da sanção do co-arguido e
marido de AA;
- Articulação com os serviços da administração
prisional do estabelecimento prisional de Tires,
nomeadamente com os serviços de vigilância e os
serviços de educação.
Dado tratar-se de uma cidadã estrangeira, sem
referências em Portugal, não nos foi possível
aceder a mais nenhuma fonte de informação para a
elaboração do presente instrumento.
I—Dados Relevantes do Processo de Socialização
AA é natural de Espanha, país onde sempre viveu e
onde decorreu o seu crescimento e processo de
socialização.
A arguida cresceu no seio de uma família
aparentemente estruturada, junto dos pais e três
irmãos mais novos, com um nível de vida, segundo
referido, acima da média. O progenitor seria
proprietário de três joalharias, na zona de Léon,
Espanha, sendo os rendimentos auferidos pela sua
actividade profissional suficientemente abastados
para permitir que a progenitora não exercesse
actividade laboral, permanecendo em casa, para
prestar apoio aos filhos.
Assim, AA descreve uma infância isenta de
problemas, aparentemente gratificante, do ponto
de vista material e afectivo.
Ainda jovem terá tido uma relação afectiva, fruto
da qual nasceu a sua única filha, actualmente com
29 anos de idade. Apesar da relação afectiva não
ter tido continuidade, manteve sempre uma
relação positiva com o pai da descendente.
A arguida refere um nível de escolarização
superior, sendo licenciada em Filologia Inglesa.
Terá posteriormente iniciado um curso de
Gemologia (estudo de pedras preciosas), do qual
desistiu no final do 2º ano, tendo optado por um
curso de Cozinha, na área da Restauração, tendo
passado a trabalhar nesta área, primeiramente
como aprendiz de um conhecido Chefe, tendo
posteriormente, ela própria, alegadamente
trabalhado, como Chefe de Cozinha, numa
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sociedade desportiva, tendo a seu cargo uma


dezena de empregados.
AA terá trabalhado, entre 1998 e 2002, para uma
empresa estatal, através da Câmara Municipal de
Léon, ligada a um projecto da Comunidade
Europeia, que visava converter áreas mineiras em
áreas agro-alimentares. Cozinhava e fabricava
produtos alimentares, procurando distribuidores
que promovessem os produtos em todo o país
(Espanha). Esta actividade terá sido interrompida
quando a filha ficou doente, com um problema
cancerígeno que a terá levado a necessitar de ser
intervencionada cirurgicamente por diversas
vezes, prestando-se a arguida a acompanhar a
descendente neste processo.
Os custos do acompanhamento médico e das
intervenções cirúrgicas terão provocado o colapso
da sua situação financeira, uma vez que canalizou
todos os seus rendimentos para custear os
tratamentos da descendente.
Os pais da arguida, pretensamente pessoas
abastadas, pouco a puderam ajudar, uma vez que o
progenitor terá conduzido a família à ruína, por
questões de jogo em Casinos, tendo tido
necessidade de entregar as joalharias de que era
proprietário e estando em vias de ser despejado da
respectiva habitação.
A própria arguida, não conseguindo suportar as
despesas, perdeu o imóvel onde vivia, passando a
residir numa pensão.
Tendo, todavia, conhecido o co-arguido, o qual se
encontraria em Léon por motivos de trabalho,
acabou por organizar a vida com ele, em 2009,
passando o casal a viver, desde essa data, em
comum. A relação é descrita como coesa e
afectivamente gratificante.
O casal terá então pensado criar uma empresa de
exportação de produtos alimentares para a
Venezuela, para promoção e venda naquele país do
que era produzido em Espanha, à semelhança do
que a arguida fizera anteriormente, em Espanha,
enquanto trabalhou para a Comunidade Europeia.
Assim, terão viajado para a Venezuela, a fim de

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estabelecer, naquele país, contactos e procurar


financiadores para a empresa em formação.
II- Condições Sociais e Pessoais
A arguida é uma mulher de aparência desgastada,
deprimida e ansiosa.
A data da prisão vivia numa pensão, em Léon,
Espanha, com o marido, numa situação de
acentuada precariedade económica, sem poder
recorrer ao apoio dos próprios pais, eles próprios
vivenciando uma desvalorização do seu anterior
nível de vida e uma situação económica muito
difícil.
Esta fase coincide com o início dos projectos para
formação da empresa de exportação de produtos
alimentares, não sendo claro de onde provinha o
financiamento da viagem efectuada à Venezuela. A
sua rede de relacionamentos sociais, neste
período, parece ter-se reduzido substancialmente,
aparentando ter a arguida subsistido numa
situação de eventual pobreza envergonhada.
Nas suas características pessoais evidencia-se um
estilo megalómano, procurando transmitir uma
imagem sobrevalorizada, como alguém muito
(re)conhecido no seu meio comunitário de
residência. Assume uma postura um tanto
defensiva no que se refere às suas opções de vida,
estando consciente das circunstâncias que
determinaram a maioria delas. Do ponto de vista
social parece ter sido condicionada pelas
expectativas dos outros, procurando corresponder
e obter dessa forma reconhecimento social, que
parece valorizar.
A sua atitude é de aparente crítica face aos factos
referidos nos autos, embora nos pareça pouco
interiorizada, nomeadamente a respeito da
gravidade dos mesmos, uma vez que parece
procurar justificações que possam dirimir a
hipotética culpa, como se os fins pudessem
justificar os meios.
III-Impacto da Situação Jurídico-Penal
Desde que foi presa, AA tem evidenciado uma
postura adaptada ao quadro normativo, tendo
solicitado colocação laboral, encontrando-se a
trabalhar, há quinze dias, na oficina do pavilhão.
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Manifesta acentuada ansiedade, face à sua


situação jurídico-penal e à proximidade da
audiência de julgamento, o que a levou a procurar,
junto dos serviços clínicos do EP, terapêutica
própria para a estabilização do seu estado
emocional.
Refere sofrer de enfisema pulmonar, tencionando
requerer transferência de EP, quando a sua
situação jurídico-penal o permitir, para um EP que
disponha de aquecimento, a fim de prevenir
eventuais complicações de saúde.
A arguida tem beneficiado de visitas inter-EP's,
que a têm permitido contactar com o marido e co-
arguido, preso no EP de Lisboa.
De resto, não possui qualquer referência em
Portugal, tendo solicitado e estando a receber
apoio da embaixada espanhola.
As suas perspectivas vão no sentido de regressar a
Espanha e aí reorganizar a sua vida económica e
familiar, junto do marido, continuando a prestar o
apoio que lhe for possível à filha doente.
IV- Conclusão
A presente avaliação evidencia uma mulher que
aparenta, ao longo da sua trajectória de vida, e
sobretudo nos anos mais recentes, uma
progressiva degradação da sua condição socio-
económica, que explica através da doença da
descendente, identificando este facto como o
principal factor determinante das suas opções de
vida mais recentes.
Sem referências em Portugal nem apoio, para além
do da sua embaixada, AA vivência um quadro de
instabilidade emocional, que a levou a requerer
apoio terapêutico por parte dos serviços clínicos
do EP.
As suas perspectivas vão no sentido de regressar
ao seu país de origem e reorganizar aí a sua vida,
não se nos afigurando possuir motivação para
encetar alterações à sua vivência anterior,
continuando limitada/ condicionada pela doença
da descendente.
23 - O teor do Relatório Social do arguido, de fls.
318 a 321, dos autos, que refere:
Introdução
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A informação constante no presente relatório foi


obtida através de entrevistas realizada com o
arguido no Estabelecimento Prisional de Lisboa,
com a presença de um intérprete para mediação
linguística, e articulação com os vários serviços
deste Estabelecimento Prisional.
A informação recolhida não foi passível de
confirmação com outras fontes, dado o arguido
não possuir referências familiares ou outras em
Portugal, excepção da cônjuge, co-arguida no
presente processo, que se encontra presa no
Estabelecimento Prisional de Tires.
I - Dados relevantes do processo de socialização
BB nasceu há quarenta e nove anos na Colômbia -
Bogotá - onde o seu processo de socialização terá
decorrido no agregado familiar dos progenitores e
dois irmãos, num contexto favorável organizado e
estruturante, onde lhe terão sido asseguradas, no
plano económico, as necessidades básicas, para o
que contribuía a actividade profissional do pai,
comerciante.
Ao nível escolar após ter concluído, no país de
origem, o equivalente ao 12° ano, refere ter
concluído a licenciatura em Gestão de Empresas.
Refere ter iniciado a sua actividade profissional
aos 18 anos com vista à sua autonomia financeira,
tendo efectuado a sua licenciatura ao mesmo
tempo que trabalhava.
Refere nunca ter trabalhado na área da sua
licenciatura, tendo iniciado a actividade
profissional de decorador de interiores e
posteriormente como proprietário de um negócio
no ramo alimentar.
Aos 23 anos passou a co-habitar com a namorada,
fruto do qual tiveram duas filhas actualmente com
31 e 23 anos. Questionado sobre a idade da filha
mais velha, uma vez que teria sido pai aos 18 anos,
o arguido apresentou um discurso confuso e
contraditório referindo que a filha teria nascido
antes de passarem a co-habitar.
A separação conjugal ocorreu passados 11 anos de
união, referindo o arguido passar a viver num
apartamento arrendado e trabalhando no seu
negócio de produtos alimentares.
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Adquiriu um camião afim de iniciar um negócio de


transportes tendo começado a surgir graves
problemas económicos com o pagamento das
prestações referentes à aquisição do mesmo,
acabando por emigrar para Espanha em 2008 para
encontrar melhores condições de vida.
Em Espanha, refere ter vivido inicialmente em
Madrid em casa de uns primos tendo desenvolvido
trabalho de forma muito irregular na construção
civil, acabando por se mudar para Leon por
questões laborais.
Acabou por vir a contrair matrimónio em 2009 com
a actual esposa, co-arguida no actual processo,
tendo passado a habitar casas arrendadas com
uma grave situação socio-económica, subsistindo
de apoios estatais, circunstância que refere se ter
agravado com a doença da filha da esposa.
II - Condições sociais e pessoais
BB refere que, à data da prisão, se encontrava a
viver em Leon - Espanha com a esposa,
encontrando-se ambos desocupados e com uma
grave situação socio-económica, sobrevivendo de
apoios estatais.
Em termos pessoais, o arguido apresentou um
discurso confuso e contraditório, manifestando
ausência de auto-análise e autocrítica,
demonstrando algumas fragilidades ao nível das
competências pessoais e sociais que lhe permitam
delinear um projecto de vida consistente.
Ao nível de projecto futuro, refere pretender
regressar a Espanha onde dispõe de apoio da
família da esposa e onde tentará encontrar uma
actividade profissional.
III - Impacto da situação jurídico-penal
BB encontra-se preso no Estabelecimento
Prisional de Lisboa apresentado um
comportamento adequado e uma postura
adaptada, não registando sanções disciplinares.
Não se revê no presente processo apresentando
ausência de auto-análise e juízo crítico.
Refere nunca ter tido qualquer contacto com o
sistema de justiça, nem em Portugal, nem em
Espanha nem na Colômbia, podendo a privação de

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liberdade constituir um factor de promoção na


aquisição de consciência crítica.
Durante a sua reclusão beneficia de visitas da
esposa, presa no EP Tires, mantendo contactos
telefónicos com os familiares na Colômbia.
IV- Conclusão
Trata-se de um indivíduo de nacionalidade
colombiana, aparentemente, com um agregado
familiar organizado e estruturado, perspectivando
voltar para Espanha quando for libertado.
Ao nível pessoal, apresenta ausência de auto-
análise e autocrítica, demonstrando algumas
fragilidades ao nível das competências pessoais e
sociais que lhe permitam delinear um projecto de
vida consistente.
Estas características, agravadas pela fragilidade
de um suporte familiar estruturado que lhe possam
proporcionar um equilíbrio emocional e social e a
dificuldade de inserção no mercado de trabalho,
constituem circunstâncias que poderão contribuir
para o risco de V reincidência.
Neste sentido, considera-se que o processo de
integração de BB se encontra condicionado pela
necessária interiorização dos normativos sociais
vigentes, bem como das condições profissionais e
sociais que irá encontrar quando em liberdade.
       Fundamentação de Direito
       Questão única - Medida da pena - Redução? 
       No caso presente está em causa a pretensão de
redução da medida da pena aplicada pelo crime de
tráfico de estupefacientes por que foi condenada a
recorrente.
        Vejamos.
        O crime de tráfico de estupefacientes, p. e p.
pelo artigo 21.º, n.º 1, do Decreto-Lei n.º 15/93, de
22 de Janeiro, é punível com uma pena de prisão
de 4 a 12 anos.
        Trata-se de crime que cada vez prolifera mais,
quer no âmbito nacional, quer a nível internacional,
de efeitos terríveis na sociedade e que permite
auferir, para os “donos do negócio” enormes
proventos ilícitos, sendo, pois, imperioso e
urgente, combatê-lo.

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Isto mesmo era expressamente referido no


preâmbulo da Convenção das Nações Unidas
contra o Tráfico Ilícito de Estupefacientes e de
Substâncias Psicotrópicas de 1988, adoptada em
Viena, na conferência realizada entre 25 de
Novembro e 20 de Dezembro desse ano, que
“sucedeu” a outros instrumentos, por onde passam
as orientações políticas prosseguidas ao nível da
União Europeia, como a Convenção Única sobre
Estupefacientes de 1961, concluída em Nova
Iorque, em 31 de Março de 1961 (Convenção Única
sobre Entorpecentes, reconhecendo que «a
toxicomania é um grave mal para o indivíduo e
constitui um perigo social e económico para a
humanidade», e a necessidade de uma actuação
conjunta e universal, exigindo uma cooperação
internacional), aprovada para ratificação pelo
Decreto-Lei n.º 435/70, de 12/09, publicado no BMJ
n.º 200, págs. 348 e ss. e ratificada em 30-12-1971,
modificada pelo Protocolo de 1972, e a Convenção
sobre Substâncias Psicotrópicas de 1971, feita em
Viena, em 21 de Fevereiro de 1971, aprovada para
adesão pelo Decreto n.º 10/79, de 30-01 e ratificada
por Portugal, em 24 de Abril de 1979, estando em
causa nestas convenções assegurar o controlo de
um mercado lícito de drogas.
      É a partir desta Convenção que surgirá o
Decreto-Lei n.º 430/83, de 13 de Dezembro.
      Com a referida Convenção de 1988, aprovada na
sequência do despacho do Ministro da Justiça n.º
132/90, de 5-12-1990, publicado no DR, II Série, n.º
7, de 09-01, pela Resolução da Assembleia da
República n.º 29/91 e Decreto do Presidente da
República n.º 45/91, publicados no Diário da
República, de 6 de Setembro de 1991, pretende-se
controlar o acesso aos chamados «precursores»,
colmatar as lacunas das convenções anteriores e,
sobretudo, reforçar o combate ao tráfico ilícito e
ao branqueamento de capitais, sendo a razão
determinante do Decreto - Lei n.º 15/93, de 22 de
Janeiro.
       Aí se pode ler que “ … o tráfico ilícito de
estupefacientes … representa(m) uma grave
ameaça para a saúde e bem estar dos indivíduos e
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provoca(m) efeitos nocivos nas bases económicas,


culturais e políticas da sociedade; preocupadas …
com o crescente efeito devastador do tráfico ilícito
de estupefacientes …nos diversos grupos sociais
…; reconhecendo a relação existente entre o
tráfico ilícito e outras actividades criminosas com
ele conexas que minam as bases de uma economia
legítima e ameaçam a estabilidade, a segurança e a
soberania dos Estados; reconhecendo igualmente
que o tráfico ilícito é uma actividade criminosa
internacional cuja eliminação exige uma atenção
urgente e a maior prioridade; conscientes de que o
tráfico ilícito é fonte de rendimentos e fortunas
consideráveis que permitem à organizações
criminosas transnacionais invadir, contaminar e
corromper as estruturas do Estado, as actividades
comerciais e financeiras legítimas a todos os seus
níveis; decididas a privar as pessoas que se
dedicam ao tráfico dos produtos das suas
actividades criminosas e a eliminar, assim o seu
principal incentivo para tal actividade; desejando
eliminar … os enormes lucros resultantes do
tráfico ilícito; … reconhecendo que a erradicação
do tráfico ilícito é da responsabilidade colectiva de
todos os Estados e que nesse sentido é necessária
uma acção coordenada no âmbito da cooperação
internacional; … reconhecendo igualmente que é
necessário reforçar e intensificar os meios
jurídicos eficazes de cooperação internacional em
matéria penal para eliminar as actividades
criminosas internacionais de tráfico ilícito; …”.
      Trata-se, pois, de um problema universal que,
obviamente, atinge também o nosso País.
      No plano interno, releva neste domínio a
Estratégia Nacional de Luta contra a Droga,
aprovada pela Resolução do Conselho de Ministros
n.º 46/99, de 22 de Abril de 1999, publicada in Diário
da República, I Série - B, n.º 122/99, de 26 de Maio,
e em edição da «Presidência do Conselho de
Ministros – Programa de Prevenção da
Toxicodependência – Projecto Vida», com o
depósito legal 140101/99 e com prefácio do então
Ministro Adjunto do Primeiro Ministro.

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     Partindo do reconhecimento da dimensão


planetária do problema da droga, que em termos
de tratamento jurídico a nível internacional data
desde 1912, com a Convenção da Haia, ou
Convenção Internacional sobre o Ópio, elaborada
na sequência da primeira conferência
internacional sobre drogas ocorrida em Xangai, em
1909, assentando em oito princípios estruturantes,
a saber: 1 – Princípio da cooperação internacional;
2 – Princípio da prevenção; 3 – Princípio humanista;
4 – Princípio do pragmatismo; 5 – Princípio da
segurança; 6 - Princípio da coordenação e da
racionalização de meios; 7 - Princípio da
subsidiariedade; e 8 - Princípio da participação,
sublinhando a estratégia da cooperação
internacional, estabeleceu o documento como um
dos seus objectivos principais o reforço do
combate ao tráfico, como opção estratégica
fundamental para o nosso País, a partir de seis
objectivos gerais e de treze opções estratégicas
individualizadas – cfr. págs. 45 a 47 da referida
edição.
      A produção, tráfego e consumo de certas
substâncias consideradas como prejudiciais à
saúde física e moral dos indivíduos passou a ser
punida após a publicação do Decreto n.º 12210, de
24 de Agosto de 1926.
      A este diploma, seguiram-se os Decretos-Lei n.º
420/70, de 3 de Setembro, n.º 430/83, de 13 de
Dezembro e n.º 15/93, de 22 de Janeiro.
      Vejamos se colhe a pretensão da recorrente.
      Dentro da moldura cabível no caso concreto
funcionam todas as circunstâncias que, não
fazendo parte do tipo de crime, deponham a favor
ou contra o agente, designadamente:
- O grau de ilicitude do facto, o modo de execução
deste e a gravidade das suas consequências, bem
como o grau de violação dos deveres impostos ao
agente;
- A intensidade do dolo ou da negligência;
- Os sentimentos manifestados no cometimento do
crime e os fins ou motivos que o determinaram;
- As condições pessoais do agente e a sua situação
económica;
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- A conduta anterior ao facto e a posterior a este,


especialmente quando esta seja destinada a
reparar as consequências do crime;
- A falta de preparação para manter uma conduta
lícita, manifestada no facto, quando essa falta deva
ser censurada através da aplicação da pena.

****
      No domínio da versão originária do Código Penal
de 1982, alguma jurisprudência, dizendo basear-se
em posição do Professor Eduardo Correia (Actas
das Sessões, pág. 20), segundo a qual o
procedimento normal e correcto dos juízes na
determinação da pena concreta, em face do novo
Código, seria o de utilizar, como ponto de partida, a
média entre os limites mínimo e máximo da pena
correspondente, em abstracto, ao crime, adoptou
tal orientação, considerando-se em seguida as
circunstâncias que, não fazendo parte do tipo de
crime, depusessem a favor do agente ou contra
ele, sendo exemplos de tal posição os acórdãos de
13-07-1983, BMJ n.º 329, pág. 396; de 15-02-1984,
BMJ n.º 334, pág. 274; de 26-04-1984, BMJ n.º 336,
pág. 331; de 19-12-1984, BMJ n.º 342, pág. 233; de
11-11-1987, BMJ n.º 371, pág. 226; de 19-12-1994,
BMJ n.º 342, pág. 233; de 10-01-1987, processo n.º
38627 – 3.ª, Tribuna da Justiça, n.º 26; de 11-11-1987,
BMJ n.º 371, pág. 226; de 11-05-1988, processo n.º
39401 – 3.ª, Tribuna da Justiça, n.ºs 41/42.
     Manifestou-se contra esta interpretação
Figueiredo Dias em Direito Penal Português, As
Consequências Jurídicas do Crime, § 277, págs.
210/211.
     A refutação de tal critério foi feita por Carmona
da Mota, in Tribuna da Justiça, n.º 6, Junho 1985,
págs. 8/9 e Alfredo Gaspar, em anotação ao
acórdão de 02-05-1985, in Tribuna da Justiça, n.º 7,
págs. 11 e 13, dando-se conta, em ambos os casos,
de que o primeiro aresto em que se verificou uma
inflexão na jurisprudência foi o acórdão da Relação
de Coimbra de 09-11-1983, in Colectânea de
Jurisprudência 1983, tomo 5, pág. 73.
      Posteriormente, e ainda antes de 1995, partindo
da ideia de que a culpa é a medida que a pena não
pode ultrapassar nem mesmo lançando apelo às
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necessidades de prevenção, mesmo que


acentuadas, começou a considerar-se não ser
correcto partir-se dum ponto médio dos limites da
moldura penal para a agravação ou atenuação
consoante o peso relativo das respectivas
circunstâncias, como vinha sendo entendido,
salientando-se que a determinação da medida da
pena não depende de critérios aritméticos. Neste
sentido, podem ver-se os acórdãos do Supremo
Tribunal de Justiça de 16-12-1986, BMJ n.º 362, pág.
359; de 25-11-1987, BMJ n.º 371, pág. 255; de 22-02-
1989, BMJ n.º 384, pág. 552; de 09-06-1993, BMJ n.º
428, pág. 284; de 22-06-1994, processo n.º 46701,
CJSTJ 1994, tomo 2, pág. 255. E no acórdão de 27-
02-1991, in A. J., n.º 15/16, pág. 9 (citado no acórdão
de 15-02-1995, CJSTJ 1995, tomo 1, pág. 216),
decidiu-se que na fixação concreta da pena não
deve partir-se da média entre os limites mínimo e
máximo da pena abstracta. A determinação
concreta há-de resultar de a adaptar a cada caso
concreto, liberdade que o julgador deve usar com
prudência e equilíbrio, dentro dos cânones
jurisprudenciais e da experiência, no exercício do
que verdadeiramente é a arte de julgar.
      Anteriormente, não manifestando
preocupações de adesão à pena média,
pronunciaram-se, v. g.,  os acórdãos de 21-06-1989,
BMJ n.º 388, pág. 245 e de  17-10-1991, BMJ n.º 410,
pág. 360.
      Hans Heinrich Jescheck, in Tratado de Derecho
Penal, Parte General, II, pág. 1194, diz: “o ponto de
partida da determinação judicial das penas é a
determinação dos seus fins, pois, só partindo dos
fins das penas, claramente definidos, se pode
julgar que factos são importantes e como se
devem valorar no caso concreto para a fixação da
pena”.
      Definindo o papel que cabe à culpa na
determinação concreta da pena, nos termos da
teoria da margem de liberdade (Claus Roxin,
Culpabilidade y Prevención en Derecho Penal,
págs. 94 -113) é ele o seguinte: a pena concreta é
fixada entre um limite mínimo (já adequado à culpa)
e um limite máximo (ainda adequado à culpa),
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limites esses que são determinados em função da


culpa do agente e aí intervindo dentro desses
limites os outros fins das penas (as exigências da
prevenção geral e da prevenção especial).
A partir de 1 de Outubro de 1995 foram alterados os
dados do problema, passando a pena a servir
finalidades exclusivas de prevenção, geral e
especial, assumindo a culpa um papel meramente
limitador da pena.
A terceira alteração ao Código Penal operada pelo
Decreto-Lei nº 48/95, de 15 de Março, entrado em
vigor em 1 de Outubro seguinte, proclamou a
necessidade, proporcionalidade e adequação
como princípios orientadores que devem presidir à
determinação da pena aplicável à violação de um
bem jurídico fundamental, introduzindo a inovação,
com feição pragmática e utilitária, constante do
artigo 40º, ao consagrar que a finalidade a
prosseguir com as penas e medidas de segurança
é «a protecção dos bens jurídicos e a reintegração
do agente na sociedade», ou seja, a reinserção
social do agente do crime, o seu retorno ao tecido
social lesado.
Com esta reformulação do Código Penal, como se
explica no preâmbulo do diploma, não prescindiu o
legislador de oferecer aos tribunais critérios
seguros e objectivos de individualização da pena,
quer na escolha, quer na dosimetria, sempre no
pressuposto irrenunciável, de matriz
constitucional, de que em caso algum a pena pode
ultrapassar a culpa, dispondo o n.º 2 que «Em caso
algum a pena pode ultrapassar a medida da culpa».
            Em consonância com estes princípios dispõe
o artigo 71.º, n.º 1, que “a determinação da medida
da pena, dentro dos limites definidos na lei, é feita
em função da culpa do agente e das exigências de
prevenção”; o n.º 2 elenca, a título exemplificativo,
algumas das circunstâncias, agravantes e
atenuantes, a atender na determinação concreta
da pena, dispondo o n.º 3, que na sentença são
expressamente referidos os fundamentos da
medida da pena, injunção com concretização
adjectiva no artigo 375.º, n.º 1 do CPP, ao
prescrever que a sentença condenatória
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especifica os fundamentos que presidiram à


escolha e à medida da sanção aplicada. (Em sede
de processo decisório, a regulamentação
respeitante à determinação da pena tem
tratamento autónomo relativamente à questão da
determinação da culpabilidade, sendo esta tratada
no artigo 368.º, e aquela prevista no artigo 369.º,
com eventual apelo aos artigos 370.º e 371.º do
CPP).
           Figueiredo Dias, em Temas Básicos da
Doutrina Penal, Coimbra Editora, 2001, no tema
Fundamento, Sentido e Finalidades da Pena
Criminal, págs. 65 a 111, diz que o legislador de 1995
assumiu, precipitando no artigo 40.º do Código
Penal, os princípios ínsitos no artigo 18.º, n.º 2, da
CRP, (princípios da necessidade da pena e da
proporcionalidade ou da proibição do excesso) e o
percurso doutrinário, resumindo assim a teoria
penal defendida:
1) Toda a pena serve finalidades exclusivas de
prevenção, geral e especial.
2) A pena concreta é limitada, no seu máximo
inultrapassável, pela medida da culpa.
3) Dentro deste limite máximo ela é determinada
no interior de uma moldura de prevenção geral de
integração, cujo limite superior é oferecido pelo
ponto óptimo de tutela dos bens jurídicos e cujo
limite inferior é constituído pelas exigências
mínimas de defesa do ordenamento jurídico.
4) Dentro desta moldura de prevenção geral de
integração a medida da pena é encontrada em
função de exigências de prevenção especial, em
regra positiva ou de socialização,
excepcionalmente negativa ou de intimidação ou
segurança individuais.
          No dizer de Fernanda Palma, in “As Alterações
Reformadoras da Parte Geral do Código Penal na
Revisão de 1995: Desmantelamento, Reforço e
Paralisia da Sociedade Punitiva”, nas “Jornadas
sobre a Revisão do Código Penal”, 1998, AAFDL,
pág. 25 «a protecção de bens jurídicos implica a
utilização da pena para dissuadir a prática de
crimes pelos cidadãos (prevenção geral negativa),
incentivar a convicção de que as normas penais
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são válidas e eficazes e aprofundar a consciência


dos valores jurídicos por parte dos cidadãos
(prevenção geral positiva). A protecção de bens
jurídicos significa ainda prevenção especial como
dissuasão do próprio delinquente potencial».
            Américo Taipa de Carvalho, em Prevenção,
Culpa e Pena, in Liber Discipulorum para Jorge
Figueiredo Dias, Coimbra Editora, 2003, pág. 322,
afirma resultar do actual artigo 40.º que o
fundamento legitimador da aplicação de uma pena
é a prevenção, geral e especial, e que a culpa do
infractor apenas desempenha o (importante) papel
de pressuposto (conditio sine qua non) e de limite
máximo da pena a aplicar por maiores que sejam
as exigências sociais de prevenção.
            Está subjacente ao artigo 40.º uma
concepção preventivo-ética da pena. Preventiva,
na medida em que o fim legitimador da pena é a
prevenção; ética, uma vez que tal fim preventivo
está condicionado e limitado pela exigência da
culpa.
            Para o efeito de determinação da medida
concreta ou fixação do quantum da pena que vai
constar da decisão o juiz serve-se do critério
global contido no referido artigo 71.º do Código
Penal (preceito que a alteração introduzida pela Lei
n.º 59/2007, de 4 de Setembro, deixou intocado,
como de resto aconteceu com o citado artigo 40.º),
estando vinculado aos módulos - critérios de
escolha da pena constantes do preceito.
Como se refere no acórdão de 28-09-2005, CJSTJ
2005, tomo 3, pág. 173, na dimensão das
finalidades da punição e da determinação em
concreto da pena, as circunstâncias e os critérios
do artigo 71.º do Código Penal têm a função de
fornecer ao juiz módulos de vinculação na escolha
da medida da pena; tais elementos e critérios
devem contribuir tanto para co-determinar a
medida adequada à finalidade de prevenção geral
(a natureza e o grau de ilicitude do facto impõe
maior ou menor conteúdo de prevenção geral,
conforme tenham provocado maior ou menor
sentimento comunitário de afectação dos valores),
como para definir o nível e a premência das
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exigências de prevenção especial (circunstâncias


pessoais do agente; a idade, a confissão; o
arrependimento) ao mesmo tempo que também
transmitem indicações externas e objectivas para
apreciar e avaliar a culpa do agente.
         Observados estes critérios de dosimetria
concreta da pena, há uma margem de actuação do
julgador dificilmente sindicável, se não mesmo
impossível de sindicar.
         O referido dever jurídico-substantivo e
processual de fundamentação visa justamente
tornar possível o controlo - total no caso dos
tribunais de relação, limitado às «questões de
direito» no caso do STJ, ou mesmo das relações
quando se tenha renunciado ao recurso em
matéria de facto – da decisão sobre a
determinação da pena.
Estando a cognoscibilidade em recurso de revista
limitada a matéria de direito, coloca-se a questão
da controlabilidade da determinação da pena nesta
sede.
            Paulo Pinto de Albuquerque, no Comentário
do Código de Processo Penal, Universidade
Católica Editora, 2007, págs. 217/8, defende que a
questão da determinação da espécie e da medida
da sanção criminal redunda numa verdadeira
questão de direito.
            Segundo Maria João Antunes, em
Consequências Jurídicas do Crime, Lições 2007-
2008, págs. 19 e 20, no procedimento de
determinação da pena trata-se de autêntica
aplicação do direito – na sentença são
expressamente referidos os fundamentos da
medida da pena, por imposição do artigo 71.º, n.º 3,
do CP. Consequentemente, há uma autonomização
do processo de determinação da pena em sede
processual penal (artigos 369.º, 370.º e 371.º do
CPP) e a possibilidade de controlo da decisão
sobre a determinação da pena em sede de recurso,
ainda que este seja apenas de revista.
            Figueiredo Dias em Direito Penal Português,
As Consequências Jurídicas do Crime, 1993, págs.
196/7, § 255, após dar conta de que se revela uma
tendência para alargar os limites em que a questão
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da determinação da pena é susceptível de revista,


afirma estarem todos de acordo em que é
susceptível de revista a correcção do
procedimento ou das operações de determinação,
o desconhecimento pelo tribunal ou a errónea
aplicação dos princípios gerais de determinação, a
falta de indicação de factores relevantes para
aquela, ou, pelo contrário, a indicação de factores
que devam considerar-se irrelevantes ou
inadmissíveis. Defende ainda estar plenamente
sujeita a revista a questão do limite ou da moldura
da culpa, assim como a forma de actuação dos fins
das penas no quadro da prevenção, e
relativamente à determinação, dentro daqueles
parâmetros, do quantum exacto de pena, esta será
controlável no caso de violação das regras da
experiência ou se a quantificação se revelar de
todo desproporcionada.
Ainda de acordo com o mesmo Professor, nas
Lições ao 5.º ano da Faculdade de Direito de
Coimbra, 1998, págs. 279 e seguintes: «Culpa e
prevenção são os dois termos do binómio com
auxílio do qual há-de ser construído o modelo da
medida (sentido estrito ou de «determinação
concreta») da pena.
As finalidades da aplicação de uma pena residem
primordialmente na tutela de bens jurídicos e, na
medida do possível, na reinserção do agente na
comunidade. A pena, por outro lado, não pode
ultrapassar em caso algum a medida da culpa.
Assim, pois, primordial e essencialmente, a medida
da pena há-de ser dada pela medida da
necessidade de tutela dos bens jurídicos face ao
caso concreto e referida ao momento da sua
aplicação, protecção que assume um significado
prospectivo que se traduz na tutela das
expectativas da comunidade na manutenção (ou
mesmo no reforço) da validade da norma infringida.
Um significado, deste modo, que por inteiro se
cobre com a ideia da prevenção geral positiva ou
de integração que vimos decorrer precipuamente
do princípio político-criminal básico da
necessidade da pena».

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Anabela Miranda Rodrigues em “O Modelo de


Prevenção na Determinação da Medida Concreta
da Pena”, in Revista Portuguesa de Ciência
Criminal, ano 12, n.º 2, Abril/Junho de 2002, págs.
147 e ss., como proposta de solução defende que a
medida da pena há-de ser encontrada dentro de
uma moldura de prevenção geral positiva e que
será definida e concretamente estabelecida em
função de exigências de prevenção especial,
nomeadamente de prevenção especial positiva ou
de socialização; a pena, por outro lado, não pode
ultrapassar em caso algum a medida da culpa.
Adianta que “é o próprio conceito de prevenção
geral de que se parte – protecção de bens jurídicos
alcançada mediante a tutela das expectativas
comunitárias na manutenção (e no reforço) da
validade da norma jurídica violada - que justifica
que se fale  de uma moldura de prevenção.
Proporcional à gravidade do facto ilícito, a
prevenção não pode ser alcançada numa medida
exacta, uma vez que a gravidade do facto ilícito é
aferida em função do abalo daquelas expectativas
sentido pela comunidade. A satisfação das
exigências de prevenção terá certamente um
limite definido pela medida da pena que a
comunidade entende necessária à tutela das suas
expectativas na validade das normas jurídicas: o
limite máximo da pena. Que constituirá, do mesmo
passo, o ponto óptimo de realização das
necessidades preventivas da comunidade, que não
pode ser excedido em nome de considerações de
qualquer tipo, ainda quando se situe abaixo do
limite máximo consentido pela culpa. Mas, abaixo
daquela medida (óptima) de pena (da prevenção),
outras haverá que a comunidade entende que são
ainda suficientes para proteger as suas
expectativas na validade das normas - até ao que 
considere que é o limite do necessário para
assegurar a protecção dessas expectativas. Aqui
residirá o limite mínimo da pena que visa assegurar
a finalidade de prevenção geral”.
      Apresenta três proposições em jeito de
conclusões e da seguinte forma sintética:

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“Em primeiro lugar, a medida da pena é fornecida


pela medida de necessidade de tutela de bens
jurídicos, isto é, pelas exigências de prevenção
geral positiva (moldura de prevenção). Depois, no
âmbito desta moldura, a medida concreta da pena
é encontrada em função das necessidades de
prevenção especial de socialização do agente ou,
sendo estas inexistentes, das necessidades de
intimidação e de segurança individuais.
Finalmente, a culpa não fornece a medida da pena,
mas indica o limite máximo da pena que em caso
algum pode ser ultrapassado em nome de
exigências preventivas”.
       E finaliza, afirmando: “É este o único
entendimento consentâneo com as finalidades da
aplicação da pena: tutela de bens jurídicos e, na
medida do possível, a reinserção do agente na
comunidade, e não compensar ou retribuir a culpa.
Esta é, todavia, pressuposto e limite daquela
aplicação, directamente imposta pelo respeito
devido à eminente dignidade da pessoa do
delinquente”.
       Uma síntese destas posições sobre os fins das
penas foi feita no acórdão de 10-04-1996, processo
n.º 12/96, CJSTJ 1996, tomo 2, pág. 168, nos
seguintes termos: “ O modelo de determinação da
medida da pena no sistema jurídico-penal
português comete à culpa a função de determinar
o limite máximo e inultrapassável da pena, mas
disso já cuidou, em primeira mão, o legislador,
quando estabeleceu a moldura punitiva. Acontece,
porém, que outras exigências concorrem naquele
modelo: a prevenção geral (dita de integração) que
tem por função fornecer uma moldura de
prevenção, cujo limite é dado, no máximo, pela
medida óptima de tutela dos bens jurídicos -
dentro do que é consentido pela culpa - e, no
mínimo, fornecido pelas exigências irrenunciáveis
de defesa do ordenamento jurídico. Cabe à
prevenção especial a função de encontrar o
quantum exacto da pena, dentro dessa função,
rectius, moldura de prevenção que melhor sirva as
exigências de socialização (ou, em casos
particulares) de advertência ou de segurança”.
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        Ainda do mesmo relator, e a propósito de caso


de tráfico de estupefacientes, diz-se no acórdão
de 08-10-1997, processo n.º 356/97-3.ª, in Sumários
de Acórdãos, Gabinete de Assessoria do STJ, n.º 14,
volume II, págs. 133/4: «As “exigências de
prevenção” variam em função do tipo de
criminalidade de que se trata. Na criminalidade
relacionada com o tráfico de estupefacientes, com
todo o seu cortejo de lesão de bens jurídicos muito
relevantes, a carecerem de adequada protecção
pelo direito penal - além do efeito propulsor de
outras formas de criminalidade, nomeadamente
contra as pessoas e contra o património, a que, a
justo título, se tem chamado de “flagelo social”  -
são de considerar as particulares exigências de
prevenção, tanto geral como especial».
        Uma outra formulação, em síntese, na esteira
de Figueiredo Dias, “As consequências jurídicas do
crime 1993”, § 301 e ss., é a que consta dos
acórdãos do STJ de 17-09-1997, processo n.º
624/97; de 01-10-1997, processo n.º 673/97; de 08-
10-1997, processo n.º 874/97; de 15-10-1997,
processo n.º 589/97, sendo os três últimos
publicados in Sumários de Acórdãos do Gabinete
de Assessoria do STJ, n.º 14, Outubro de 1997, II
volume, págs. 125, 134 e 145, e de 20-05-1998,
processo n.º 370/98, este publicado na CJSTJ
1998, tomo 2, pág. 205 e no BMJ n.º 477, pág. 124,
todos da 3.ª Secção e do mesmo relator, nos
seguintes termos: “A defesa da ordem jurídico-
penal, tal como é interiorizada pela consciência
colectiva (prevenção geral positiva ou de
integração), é a finalidade primeira, que se
prossegue, no quadro da moldura penal abstracta,
entre o mínimo, em concreto, imprescindível à
estabilização das expectativas comunitárias na
validade da norma violada e o máximo que a culpa
do agente consente; entre esses limites,
satisfazem-se, quanto possível, as necessidades
da prevenção especial positiva ou de socialização.
       Ou seja, devendo ter um sentido
eminentemente pedagógico e ressocializador, as
penas são aplicadas com a finalidade primordial de
restabelecer a confiança colectiva na validade da
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norma violada, abalada pela prática do crime, e, em


última análise, na eficácia do próprio sistema
jurídico-penal”. No sentido deste último segmento,
ver do mesmo relator, os acórdãos de 08-10-1997,
processo n.º 976/97 e de 17-12-1997, processo n.º
1186/97, in Sumários de Acórdãos, n.º 14, pág. 132 e
n.º s 15/16, Novembro/Dezembro 1997, pág. 214.   
       A intervenção do Supremo Tribunal de Justiça
em sede de concretização da medida da pena, ou
melhor, do controle da proporcionalidade no
respeitante à fixação concreta da pena, tem de ser
necessariamente parcimoniosa, porque não
ilimitada, sendo entendido de forma uniforme e
reiterada que “no recurso de revista pode sindicar-
se a decisão de determinação da medida da pena,
quer quanto à correcção das operações de
determinação ou do procedimento, à indicação dos
factores que devam considerar-se irrelevantes ou
inadmissíveis, à falta de indicação de factores
relevantes, ao desconhecimento pelo tribunal ou à
errada aplicação dos princípios gerais de
determinação, quer quanto à questão do limite da
moldura da culpa, bem como a forma de actuação
dos fins das penas no quadro da prevenção, mas já
não a determinação, dentro daqueles parâmetros,
do quantum exacto da pena, salvo perante a
violação das regras da experiência, ou a
desproporção da quantificação efectuada”- cfr.
acórdãos de  09-11-2000, processo n.º 2693/00-5.ª;
de 23-11-2000, processo n.º 2766/00 – 5.ª; de 30-11-
2000, processo n.º 2808/00-5.ª; de 28-06-2001,
processos n.ºs 1674/01-5.ª, 1169/01-5.ª e 1552/01-
5.ª; de 30-08-2001, processo n.º 2806/01-5.ª; de 15-
11-2001, processo n.º 2622/01 – 5.ª; de 06-12-2001,
processo n.º 3340/01-5.ª; de 17-01-2002, processo
2132/01-5.ª; de 09-05-2002, processo n.º 628/02-
5.ª, CJSTJ 2002, tomo 2, pág. 193; de 16-05-2002,
processo n.º 585/02 – 5.ª; de 23-05-2002, processo
n.º 1205/02 – 5.ª; de 26-09-2002, processo n.º
2360/02 – 5.ª; de 14-11-2002, processo n.º 3316/02 –
5.ª; de 30-10-2003, CJSTJ 2003, tomo 3, pág. 208;
de 11-12-2003, processo n.º 3399/03 – 5.ª; de 04-
03-2004, processo n.º 456/04 – 5.ª, in CJSTJ 2004,
tomo1, pág. 220; de 11-11-2004, processo n.º
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3182/04 – 5.ª; de 23-06-2005, processo n.º 2047/05


- 5.ª; de 12-07-2005, processo n.º 2521/05 – 5.ª; de
03-11-2005, processo n.º 2993/05 - 5ª; de 07-12-
2005 e de 15-12-2005, CJSTJ 2005, tomo 3, págs.
229 e 235; de 29-03-2006, CJSTJ 2006, tomo 1,
pág. 225; de 15-11-2006, processo n.º 2555/06 – 3.ª;
de 14-02-2007, processo n.º 249/07 – 3.ª; de 08-03-
2007, processo n.º 4590/06 – 5.ª; de 12-04-2007,
processo n.º 1228/07 – 5.ª; de 19-04-2007, processo
n.º 445/07 – 5.ª; de 10-05-2007, processo n.º
1500/07 – 5.ª; de 14-06-2007, processo n.º 1580/07-
5.ª, CJSTJ 2007, tomo 2, pág. 220; de 04-07-2007,
processo n.º 1775/07 – 3.ª; de 05-07-2007, processo
n.º 1766/07-5.ª, CJSTJ 2007, tomo 2, pág. 242; de
17-10-2007, processo n.º 3321/07 – 3.ª; de 10-01-
2008, processo n.º 907/07 – 5.ª; de 16-01-2008,
processo n.º 4571/07 – 3.ª; de 20-02-2008,
processos n.ºs 4639/07 – 3.ª e 4832/07-3.ª; de 05-
03-2008, processo n.º 437/08 – 3.ª; de 02-04-2008,
processo n.º 4730/07 – 3.ª; de 03-04-2008,
processo n.º 3228/07 – 5.ª; de 09-04-2008,
processo n.º 1491/07 – 5.ª e processo n.º 999/08-3.ª;
de 17-04-2008, processos n.ºs 677/08 e 1013/08,
ambos desta secção; de 30-04-2008, processo n.º
4723/07 – 3.ª; de 21-05-2008, processos n.ºs 414/08
e 1224/08, da 5.ª secção; de 29-05-2008, processo
n.º 1001/08 – 5.ª; de 03-09-2008, no processo n.º
3982/07-3.ª; de 10-09-2008, processo n.º 2506/08
– 3.ª; de 08-10-2008, nos processos n.ºs 2878/08,
3068/08 e 3174/08, todos da 3.ª secção; de 15-10-
2008, processo n.º 1964/08 – 3.ª; de 29-10-2008,
processo n.º 1309/08-3.ª; de 21-01-2009, processo
n.º 2387/08-3.ª; de 27-05-2009, processo n.º
484/09-3.ª; de 18-06-2009, processo n.º
8523/06.1TDLSB-3.ª; de 1-10-2009, processo n.º
185/06.2SULSB.L1.S1-3.ª; de 25-11-2009, processo
n.º 220/02.3GCSJM.P1.S1-3.ª; de 03-12-2009,
processo n.º 136/08.0TBBGC.P1.S1-3.ª; de 28-04-
2010, processo n.º 126/07.0PCPRT.S1-3.ª.
Na determinação da medida concreta da pena deve
o Tribunal, em conformidade com o disposto no
artigo 71.°, n.º 2, do Código Penal, atender a todas
as circunstâncias que deponham a favor ou contra
o agente, abstendo-se no entanto de considerar
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aquelas que já fazem parte do tipo de crime


cometido.
O limite mínimo da pena a aplicar é assim
determinado pelas razões de prevenção geral que
no caso se façam sentir; o limite máximo pela
culpa do agente revelada no facto; e servindo as
razões de prevenção especial para encontrar,
dentro daqueles limites, o quantum de pena a
aplicar – cfr. Jorge de Figueiredo Dias, in Direito
Penal Português, As Consequências Jurídicas do
Crime, 1993, Editorial Notícias, págs. 227 e ss..
Na graduação da pena deve olhar-se para as
funções de prevenção geral e especial das penas,
mas sem perder de vista a culpa do agente, ou
como diz o acórdão de 22-09-2004, processo n.º
1636/04-3.ª, in ASTJ, n.º 83: “a pena, no mínimo,
deve corresponder às exigências e necessidades
de prevenção geral, de modo a que a sociedade
continue a acreditar na validade da norma punitiva;
no máximo, não deve exceder a medida da culpa,
sob pena de degradar a condição e dignidade
humana do agente; e, em concreto, situando-se
entre aquele mínimo e este máximo, deve ser
individualizada no quantum necessário e suficiente
para assegurar a reintegração do agente na
sociedade, com respeito pelo mínimo ético a todos
exigível”.
Ou, como expressivamente se diz no acórdão deste
STJ de 16-01-2008, processo n.º 4565/07 - 3.ª: «A
norma do art. 40.º do CP condensa em três
proposições fundamentais o programa político-
criminal sobre a função e os fins das penas: a)
protecção de bens jurídicos; b) a socialização do
agente do crime; c) constituir a culpa o limite da
pena mas não o seu fundamento.
            O modelo do C P é de prevenção: a pena é
determinada pela necessidade de protecção de
bens jurídicos e não de retribuição da culpa e do
facto. A fórmula impositiva do art. 40.º determina,
por isso, que os critérios do art. 71.º e os diversos
elementos de construção da medida da pena que
prevê sejam interpretados e aplicados em
correspondência com o programa assumido na
disposição sobre as finalidades da punição.
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        O modelo de prevenção acolhido – porque de


protecção de bens jurídicos – estabelece que a
pena deve ser encontrada numa moldura de
prevenção geral positiva, e concretamente
estabelecida também em função das exigências de
prevenção especial ou de socialização, não
podendo, porém, na feição utilitarista preventiva,
ultrapassar em caso algum a medida da culpa.
      Dentro desta medida de prevenção (protecção
óptima e protecção mínima – limite superior e
limite inferior da moldura penal), o juiz, face à
ponderação do caso concreto e em função das
necessidades que se lhe apresentem, fixará o
quantum concretamente adequado de protecção,
conjugando-o a partir daí com as exigências de
prevenção especial em relação ao agente
(prevenção da reincidência), sem poder ultrapassar
a medida da culpa.
        Nesta dimensão das finalidades da punição e
da determinação em concreto da pena, as
circunstâncias e critérios do art. 71.º do CP devem
contribuir tanto para co-determinar a medida
adequada à finalidade de prevenção geral (a
natureza e o grau de ilicitude do facto impõe maior
ou menor conteúdo de prevenção geral, conforme
tenham provocado maior ou menor sentimento
comunitário de afectação dos valores), como para
definir o nível e a premência das exigências de
prevenção especial (as circunstâncias pessoais do
agente, a idade, a confissão, o arrependimento), ao
mesmo tempo que também transmitem indicações
externas e objectivas para apreciar e avaliar a
culpa do agente.»
      Revertendo ao caso concreto.
      Neste particular, ter-se-ão em conta as
concretizações dos critérios legais estabelecidas
pela decisão recorrida, que recolheu os elementos
necessários e suficientes para o efeito e teve em
vista os parâmetros legais a observar.
      O tráfico de estupefacientes é um crime de
consequências gravíssimas para a sociedade e por
isso, o legislador o sancionou com penas pesadas.
       O acórdão recorrido sobre a determinação da
medida da pena, a fls. 362 a 364, discorreu do
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seguinte modo:
         «Tendo em atenção:
          Por um lado, a ilicitude do facto (de natureza
elevada já que se trata de crime de tráfico de
estupefacientes materializado numa actividade de
transporte internacional de estupefacientes), a
culpa da arguida que actuou com dolo directo, o
comportamento anterior da arguida, nunca
censurada em Tribunal.
Por outro lado, a qualidade e a quantidade da droga
apreendida à arguida (2996,51 gramas de cocaína),
a confissão da arguida, as circunstâncias que
rodearam a prática do crime e as condições socio-
económicas e pessoais da arguida à data da
prática dos factos.
A que acrescem exigências de prevenção geral,
porquanto, se tratam de infracções que exigem
uma resposta institucional intensa e eficaz,
sobretudo de carácter preventivo, sendo certo que
a arguida não tem antecedentes criminais.
Com o consentimento e conhecimento da arguida,
foi-lhe facilitado o caminho na qualidade de
correio.
O facto de a arguida ser um “correio” não atenua a
culpa da mesma, já que o transporte da droga a
troco de remuneração pecuniária é tão ou mais
grave do que a sua venda directa - cfr. neste
sentido douto acórdão do S.T.J., de 19/02/97,
proferido no Processo n° 1049/96.
Conhecidas as penas cominadas nos tipos legais
de crime em análise impõe-se, em primeiro lugar, a
determinação da natureza da pena a aplicar.
Dentro da filosofia subjacente ao sistema punitivo
actualmente em vigor (artigo 70°, do CP.), resulta
claro que o recurso às penas privativas da
liberdade só será legítimo quando, face às
circunstâncias do caso, se não mostrem
adequadas as reacções penais não detentivas, o
que sucederá no caso de estas não serem
suficientes para promover a recuperação social do
delinquente e satisfazer as exigências de
reprovação e de prevenção do crime.
Consagrou-se deste modo, por via legislativa, o
carácter excepcional ou subsidiário da prisão, isto
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é, a prevalência de formas de punição de carácter


educativo sobre tipos de punição de natureza
expiatória.
Temos, em resumo, que o julgador deve dar
sempre preferência à pena não privativa da
liberdade desde que esta realize de forma
adequada e suficiente as finalidades da punição,
traduzidas na protecção de bens jurídicos e na
reintegração do agente na sociedade.
No entanto, por todo o exposto, somos de parecer
que o caso concreto exige cuidados especiais, na
medida em que este tipo de crimes são actividades
criminosas de difícil controlo, consubstanciadas
no recrutamento, pelas redes internacionais
criminosas, de indivíduos com dificuldades na vida,
a nível familiar e económico ou que, pura e
simplesmente, se prestem a exercer tal actividade.
Conforme doutamente foi decidido por acórdão do
venerando S.T.J., proferido em 01/04/2008, no
processo n° 1742/08-5, com grande interesse para
a caracterização da figura do “correio” e respectiva
punição: “1- O chamado “correio de droga” é uma
peça importante no mercado de estupefacientes.
E através dele que, a determinado nível claro está,
se processa a circulação dos estupefacientes
sendo, por conseguinte, peça relevante no acesso
às drogas pela generalidade dos consumidores. E
ele que assume um papel intermédio no circuito de
distribuição contribuindo de forma determinante
para a difusão alargada de drogas tal como hoje ela
se faz. Os chamados “grande e médio traficantes”
precisam de montar o seu circuito de distribuição
para levar a cabo o seu objectivo e dele fazem
parte, não sendo dispensáveis, tanto os “correios”
como os “dealers de rua”.
2- Sem embargo de, no domínio da culpa, a sua
posição poder ser muito mais diversificada, ao
nível da ilicitude não se afigura correcta a ideia que
se pretende ver aceite pelo chamado senso
comum de que o “correio”" ou mesmo o “dealer de
rua” são sempre figuras secundárias no negócio
dos estupefacientes.
3- A suspensão da execução da pena nos casos de
tráfico comum e de tráfico agravado de
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estupefacientes, em que não se verifiquem razões


muito ponderosas, que no caso se não postulam,
seria atentatória da necessidade estratégica
nacional e internacional de combate a esse tipo de
crime, faria desacreditar as expectativas
comunitárias na validade da norma jurídica violada
e não serviria os imperativos de prevenção geral.
Por tudo isto, porque certamente, não se pretende
com as recentes alterações legislativas que
Portugal se torne numa “porta” aberta ao transito
de produtos estupefacientes, com as necessárias
consequências a nível de facilitação de tráfico e
sobretudo, do consumo dos mesmos, decide-se
ser de aplicar pena de prisão que, conquanto seja
próxima do seu mínimo legal, se fixe acima de tal
mínimo legal.
Relativamente à sua conduta posterior ao crime, a
mesma deverá ser tomada em consideração, na
medida em que, ao admitir a prática dos factos,
parece ter interiorizado o desvalor da sua conduta.
Importa, então, optar pela aplicação à arguida de
pena de prisão que, fixando-se próximo do seu
limite mínimo, reflicta e seja apta a tutelar todos os
circunstancialismos referidos.
Por estas razões, atentas todas estas
circunstâncias e o grau de culpa da arguida,
atendendo ainda às demais situações pessoais e
económicas da arguida, entendemos adequado
condenar a mesma, numa pena prisão de cinco
anos e seis meses pelo crime de tráfico de
estupefacientes p. e p. pelo artigo 21°, n° 1, do
Dec.-Lei n° 15/93, de 22/01».
       Vejamos se, no caso em apreço, é de manter ou
reduzir a pena aplicada pelo crime de tráfico de
estupefacientes, cometido pela recorrente.
      Sendo um dos fins da pena a tutela dos bens
jurídicos, nos termos do artigo 40.º do Código
Penal, há que olhar ao bem jurídico em causa neste
tipo de crime.
      No que toca ao bem jurídico protegido, como é
consabido, para além de estarmos perante um
crime de perigo abstracto, noutra perspectiva,
estamos face a um crime pluriofensivo.

      Com efeito, o normativo incriminador do tráfico


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de estupefacientes tutela uma multiplicidade de


bens jurídicos, designadamente de carácter
pessoal - a vida, a integridade física e a liberdade
dos virtuais consumidores - visando ainda a
protecção da vida em sociedade, o bem-estar da
sociedade, a saúde da comunidade (na medida em
que o tráfico dificulta a inserção social dos
consumidores e possui comprovados efeitos
criminógenos), embora todos eles se possam
reconduzir a um bem geral - a saúde pública -
pressupondo apenas a perigosidade da acção para
tais bens, não se exigindo a verificação concreta
desse perigo - ver acórdão do Tribunal
Constitucional n.º 426/91, de 06-11-1991, in DR, II
Série, n.º 78, de 02-04-1992 e BMJ n.º  411, pág. 56
(seguido de perto pelo acórdão do TC n.º 441/94, de
07-06-1994, in DR, II Série, nº 249, de 27-10-1994),
onde se afirma: “O escopo do legislador é evitar a
degradação e a destruição de seres humanos,
provocadas pelo consumo de estupefacientes, que
o respectivo tráfico indiscutivelmente potencia” –
cfr. ainda sobre o tema, a propósito do concurso -
real - do crime de tráfico e de associação
criminosa, seguindo o citado acórdão n.º 426/91, o
acórdão do mesmo Tribunal, n.º 102/99, de 10-02-
1999, processo n.º 1103/98-3.ª secção, publicado in
DR, II Série, n.º 77, de 01-04-1999, pág. 4843 e no
BMJ n.º 484, pág. 119.  

       Já no preâmbulo da supra referida Convenção


Única de 1961 Sobre os Estupefacientes se referia a
preocupação com a saúde física e moral da
humanidade, reconhecendo a toxicomania como
um grave mal para o indivíduo, constituindo um
perigo social e económico para a humanidade.

       No preâmbulo do Decreto-Lei n.º 420/70, de 3


de Setembro, referia-se terem-se presentes os
perigos que o consumo de estupefacientes
comportava para a saúde física e moral dos
indivíduos e a sua não rara interpenetração com
fenómenos de delinquência.

       E no preâmbulo do Decreto-Lei n.º 430/83, de


13-12, que efectuou a adaptação do direito interno
ao constante daquela Convenção de 1961 e da
Convenção sobre as Substâncias Psicotrópicas de
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1971, fazia-se referência a um relatório recente de


um organismo especializado das Nações Unidas,
onde se dizia: “A luta contra o abuso de drogas é
antes de mais e sobretudo um combate contra a
degradação e a destruição de seres humanos. A
toxicomania priva ainda a sociedade do contributo
que os consumidores de drogas poderiam trazer à
comunidade de que fazem parte. O custo social e
económico do abuso das drogas é, pois,
exorbitante, em particular se se atentar nos cri
Provimento parcial mes e violências que origina e
na erosão de valores que provoca”.

       E no mesmo preâmbulo assinalava-se ainda,


que “Na verdade, também pelo lado do consumo,
isto é, da prática cada vez mais frequente de
delitos por consumidores de droga, se vem
notando outro elo de ligação com a criminalidade
em geral”.

      Quanto ao modo de actuação da recorrente há a


considerar que estamos perante uma actuação
isolada, um único acto de transporte de
estupefaciente.
       A intervenção da arguida limitou-se ao mero
transporte da cocaína da Venezuela para Portugal.
       No que respeita à natureza e qualidade do
produto estupefaciente em causa, o produto
transportado era cocaína. 
       Trata-se de substância que se encontra
prevista na Tabela I-B, anexa ao Decreto-Lei n.º
15/93, considerada droga dura, com elevado grau
de danosidade, sendo, pois, a qualidade da
substância transportada reveladora de
considerável ilicitude dentro daquelas que
caracterizam o tipo legal.
       Na verdade, sendo certo que o Decreto-Lei n.º
15/93 não adere totalmente à distinção entre
drogas duras e drogas leves, não deixa de no
preâmbulo referir uma certa gradação de
perigosidade das substâncias, dando um passo
nesse sentido com o reordenamento em novas
tabelas e dai extraindo efeitos no tocante às
sanções, e de afirmar que “A gradação das penas
aplicáveis ao tráfico, tendo em conta a real
perigosidade das respectivas drogas afigura-se
https://jurisprudencia.pt/acordao/129906/ 38/51
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ser a posição mais compatível com a ideia de


proporcionalidade”, havendo, pois, que atender à
inserção de cada droga nas tabelas anexas, o que
constitui indicativo da respectiva gradação, pois a
organização e colocação nas tabelas segue, como
princípio, o critério da sua periculosidade
intrínseca e social.
       Por outro lado, de acordo com Relatório de 11-
05-1992, aprovado pela Comissão de Inquérito,
criada por decisão do Parlamento Europeu de 24-
01-1991, sobre a proliferação, nos países da
Comunidade Europeia, do crime organizado ligado
ao tráfico de droga, in Sub Judice, n.º 3, 1992, pág.
95, a heroína é classificada como droga ultra dura e
a cocaína como droga dura.
       Sobre a distinção entre drogas leves e duras
refere a citada Estratégia Nacional de 1999, a págs.
88: «É hoje evidente que as drogas não são todas
iguais nos seus efeitos para a saúde e nas
consequências sociais do seu consumo (…),
devendo ter-se em atenção o grau de perigosidade
inerente ao consumo das diferentes drogas, sem
prejuízo do reconhecimento e divulgação dos
efeito nefastos de todas as drogas».

       Será de atender ainda à quantidade elevada de


cocaína apreendida à recorrente, o que releva para
aferição de uma visão global do facto, pela
perigosidade que envolve, no caso atingindo
2.996,51 gramas, que possibilitariam a preparação
de 14982 doses.
       Por outro lado, a cocaína em questão destinava-
se a ser introduzida no mercado europeu, sendo
que a recorrente se tinha comprometido a efectuar
o transporte do produto mediante promessa de
pagamento de quantia não apurada (ponto de facto
provado n.º 16).
       O dolo da arguida foi directo e intenso, bem
sabendo que a sua conduta era proibida e punida
por lei, mas, não obstante, quis a realização do
facto típico - a efectivação remunerada do
transporte.
       A ter em conta as condições pessoais,
profissionais e sócio-económicas da recorrente,
narradas no ponto de factos provados n.º 22 e
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devidamente ponderadas e valoradas no acórdão


recorrido.
       Releva o motivo por que a recorrente se dispôs
a efectuar o transporte e que foi o de angariar
dinheiro para suprir as suas dificuldades
económicas sentidas em Espanha onde sempre
viveu.
       No que tange a motivações da conduta tem-se,
pois, por certo estar presente a obtenção de
vantagem patrimonial. A recorrente tinha a
promessa de contraprestação retributiva da
actividade de transporte, correspondendo a um
salário, não a uma comparticipação no negócio.
       As razões e necessidades de prevenção geral
positiva ou de integração -  que satisfaz a
necessidade comunitária de afirmação ou mesmo
reforço da norma jurídica violada, dando corpo à
vertente da protecção de bens jurídicos, finalidade
primeira da punição - são muito elevadas, fazendo-
se especialmente sentir neste tipo de infracção,
tendo em conta o bem jurídico violado no crime em
questão – a saúde pública - e impostas pela
frequência do fenómeno e do conhecido alarme
social e insegurança que estes crimes em geral
causam e das conhecidas consequências para a
comunidade a nível de saúde pública e efeitos
colaterais, justificando resposta punitiva firme.
       Na verdade, há que ter em atenção as grandes
necessidades de prevenção geral numa sociedade
assolada pelo fenómeno do tráfico de droga, que a
juzante gera outro tipo de criminalidade, mas
inteiramente relacionada com esta, senão mesmo
por ela determinada, pois é das leis do mercado
que os bens têm um preço de aquisição e quando
escasseia o meio para sua obtenção muitas
poderão ser as formas de alcançar o necessário e
imprescindível poder aquisitivo, em vista da
satisfação das necessidades geradas pela
toxicodependência e como é sabido uma dessas
formas mais comum é a prática de roubos,
havendo que dar satisfação ao sentimento de
justiça da comunidade.
       Neste segmento, em sede de prevenção,
procura-se alcançar a neutralização dos efeitos
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negativos da prática do crime.


    Como expende Figueiredo Dias em O sistema
sancionatório do Direito Penal Português inserto
em Estudos em Homenagem ao Prof. Doutor
Eduardo Correia, I, pág. 815, “A prevenção geral
assume o primeiro lugar como finalidade da pena.
Prevenção geral, porém, não como prevenção
negativa, de intimidação do delinquente e de
outros potenciais criminosos, mas como
prevenção positiva, de integração e de reforço da
consciência jurídica comunitária e do seu
sentimento de segurança face à violação da norma
ocorrida; numa palavra, como estabilização das
expectativas comunitárias na validade e na
vigência da norma infringida”.   
       Como se expressou o acórdão do STJ de 04-07-
1996, CJSTJ 1996, tomo 2, pág. 225, com o recurso
à prevenção geral procurou dar-se satisfação à
necessidade comunitária da punição do caso
concreto, tendo-se em consideração, de igual
modo a premência da tutela dos respectivos bens
jurídicos. 
       As necessidades de prevenção especial
avaliam-se em função da necessidade de
prevenção de reincidência.
    Como refere Américo Taipa de Carvalho, a
propósito de prevenção da reincidência, in Liber
Discipulorum para Jorge Figueiredo Dias, Coimbra
Editora, 2003, pág. 325, trata-se de dissuasão
necessária para reforçar no delinquente o
sentimento da necessidade de se auto-
ressocializar, ou seja, de não reincidir.
       Estamos perante mais um caso de “correios de
droga”, cujo número, como é público, não pára de
crescer nos últimos anos, sendo por isso, as
exigências de prevenção geral elevadas e
prementes.
       Conforme se refere no acórdão deste Supremo
Tribunal, proferido no processo n.º 1750/05, de 19-
05-2005, publicado no site http://www.dgsi.pt
“Sem a participação de correios de droga não seria
viável o tráfico nesses moldes e sendo, é certo, as
pessoas que nisso incorrem elos relativamente
enfraquecidos da normal cadeia desde a produção
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à distribuição e venda de estupefacientes, os actos


que praticam tornam-se essenciais e não podem,
por isso, ser descurados, sob pena de preterição,
desde logo, dos interesses da defesa social” – cfr.,
a propósito, o que consta dos acórdãos do STJ de
13-01-2011, processo n.º 369/09.1JELSB.L1.S1 e de
15-03-2012, processo n.º 535/10.7JELSB.S1-3.ª,
ambos citados no infra referido acórdão de 18 de
Abril de 2012.
      Estando-se face a “correio de droga”, atender-
se-á aos padrões sancionatórios vigentes neste
Supremo Tribunal para tais transportadores, e para
ter em conta apenas os mais recentes, vejam-se os
acórdãos de 29-05-2007, processo n.º 1419/07-3.ª;
de 12-07-2007, processo n.º 438/07-5.ª; de 05-09-
2007, processo n.º 2051/07-3.ª; de 20-09-2007,
processo n.º 2704/07-5.ª; de 27-09-2007, processo
n.º 3282/07-5.ª; de 17-10-2007, processo n.º
3314/07-3.ª;
de 28-11-2007, processo n.º 3253/07-3.ª (em 06-10-
2006, cidadão marroquino, transportando em
automóvel, a partir de Sevilha, 27.510,4 gramas de
anfetamina na forma pastosa; 1.817,5 gramas de
anfetaminas em pó e 13.621, pastilhas de MDMA;
confirmada pena de 6 anos de prisão);
de 05-12-2007, processo n.º 3406/07-3.ª
(transporte do Brasil, São Paulo, de 4.012 gramas
de cocaína - sancionado o correio, com pena de
cinco anos e dois meses de prisão);
de 19-12-2007, processo n.º 3206/07-3.ª;
de 16-01-2008, processo n.º 4565/07-3.ª (arguida de
nacionalidade coreana desembarca no aeroporto
de Lisboa, proveniente da Guiné Bissau, trazendo
consigo no interior de uma mala, cocaína com o
peso líquido de 3051, 977 gramas – aplicada pena de
5 anos de prisão e não de 7 de prisão, como
decidiram as instâncias, mas afastada a
suspensão);
de 16-01-2008, processo n.º 4728/07-3.ª (holandês
desembarca no aeroporto Sá Carneiro, proveniente
do Rio de Janeiro, e com destino à Holanda,
trazendo 2986, 305 gramas de cocaína - 5 anos e 6
meses de prisão);

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de 23-01-2008, processo n.º 4555/07-3.ª (arguido


desembarca no aeroporto de Lisboa, proveniente
do Rio de Janeiro, com destino a Málaga, trazendo
consigo, cocaína, com o peso líquido total de
7879,72 gramas - 6 anos e 3 meses de prisão);
de 23-01-2008, processo n.º 4567/07-3.ª
(venezuelano desembarca no aeroporto de Lisboa,
proveniente de Caracas, trazendo consigo,
impregnada em 44 peças de roupa,  cocaína, com
grau de pureza de 14,6 e com o peso total bruto de
13940 gramas - 5 anos de prisão, sendo afastada a
suspensão);
de 31-01-2008, processo n.º 4554/07-5.ª (arguido
desembarca no aeroporto Sá Carneiro, proveniente
de São Paulo, transportando cocaína, com o peso
líquido de 1988, 604, gramas, pretendendo viajar
até Itália, onde iria entregar o produto – pena de 5
anos e 3 meses de prisão);
de 20-02-2008, processo n.º 295/08-3.ª
(transporte de 2.185,33 gramas de cocaína;
procedência Caracas; detecção no aeroporto Sá
Carneiro (Maia); destino Bruxelas; 1.ª instância - 6
anos de prisão; STJ - 5 anos, afastando-se a
suspensão);

de 26-03-2008, processo n.º 305/08-3.ª


(transporte por venezuelano, desembarcado no
aeroporto de Lisboa, proveniente de Caracas, com
destino a Itália, trazendo no  aparelho digestivo um
número indeterminado de invólucros, em forma de
bolota, contendo cocaína, com o peso líquido de
707, 453 gramas. Considerado que a quantidade
não atenua acentuadamente a ilicitude do facto,
embora possa reflectir-se na medida concreta da
pena, e assim aplicada é a pena de 4 anos e 3
meses de prisão em vez da de 5 anos fixada na 1.
instância);

de 9-04-2008, processo n.º 825/08-5.ª (espanhol


transportando do Brasil, por Portugal,  com destino
a Espanha, 1.387,852 gramas de cocaína,
transformada em 140 botões cosidos em 6 
casacos – mantida a pena de  5 anos de prisão e
afastada a suspensão da execução);

de 17-04-2008, processo n.º 806/08-5.ª (caso de


transporte por holandês, da Venezuela com destino
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a Holanda, desembarcado no Aeroporto de Lisboa,


transportando na mala de mão 21 cabides com
1.427, 380 gramas de cocaína - confirmada a pena
de 5 anos de prisão efectiva aplicada pela Relação,
em vez da pena de 5 anos, suspensa na execução
decretada pela 1.ª instância);

de 07-05-2008, processo n.º 1409/08-3.ª 


(transporte de Buenos Aires e após, de Madrid em
autocarro, com destino a Lisboa, de 47 embalagens
de cocaína, com o peso líquido de 2.357,638
gramas - mantida a pena de 5 anos e 3 meses de
prisão);

de 08-05-2008, processo n.º 1134/08-5.ª (cidadã


cabo-verdiana desembarca na gare do Oriente, em
Lisboa, proveniente do Senegal – via Madrid,
trazendo cocaína, com o peso líquido de 2.975,070
gramas – na 1. instância foi aplicada a pena de 5
anos de prisão, suspensa na execução, com regime
de prova, suspensão revogada no Tribunal da
Relação e ora aplicada pena de 4 anos de prisão
efectiva);     
de 04-06-2008, processo n.º 1521/08-3.ª
(transporte de São Paulo com desembarque no
Aeroporto Sá Carneiro, na Maia, trazendo nas
malas de porão, cocaína com o peso líquido de
9.942,920 gramas de cocaína – aplicada e
confirmada a pena de 7 anos de prisão);
de 05-06-2008, processo n.º 4569/07-5.ª (cidadão
venezuelano desembarca no Aeroporto de  Lisboa,
proveniente de Caracas e com destino a Madrid,
trazendo duas placas, contendo, respectivamente,
3kg e 797,170 gramas de cocaína – aplicada a pena
de 5 anos e 6 meses de prisão);
de 05-06-2008, processo n.º 1123/08-5.ª (cidadão
italiano desembarca no Aeroporto Sá Carneiro, na
Maia, proveniente de São Paulo, e com destino a
Lisboa, trazendo consigo cocaína com o peso
bruto de 13.659 g e líquido de 12. 009, 040 gramas –
aplicada a pena de 7 anos e 4 meses de prisão); 
de 05-06-2008, processo n.º 1142/08-5.ª (cidadão
venezuelano desembarca no Aeroporto de  Lisboa,
proveniente de Caracas e com destino a Madrid,
trazendo consigo, dentro do organismo, 55
embalagens contendo cocaína, com o peso total de
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384,677 gramas – aplicada e confirmada a pena de


5 anos e 6 meses de prisão);

de 10-07-2008, processo n.º 1217/08-3.ª (transporte


aéreo proveniente de Caracas, em que o arguido
desembarca no Aeroporto de Lisboa, trazendo
cocaína com o peso global de 8.364,400 kg,
dissimulada em 3 latas de conserva - reduzida para
4 anos de prisão, a pena de 5 anos e 6 meses de
prisão, mas afastada a suspensão da execução da
pena);
de 03-09-2008, processo n.º 1973/08-3.ª (cidadão
brasileiro desembarca no Aeroporto de Lisboa,
proveniente de Porto Seguro, Brasil, trazendo
6.067, 877 gramas de cocaína – mantida a pena de 5
anos e 6 meses, fixada na 1.ª instância);
de 04-09-2008, processo n.º 2378/08-5.ª
(transporte da América Latina de 211,630 gramas
de cocaína – mantida a pena de 5 anos e 3 meses
de prisão fixada na 1.ª instância);
de 11-09-2008, processo n.º 2155708-5.ª (arguida
detida no Aeroporto de Lisboa procedente do
Brasil, tendo como destino final Espanha, que
transportava numa mochila várias embalagens de
cocaína, com o peso líquido de 3.114, 777 gramas -
mantida a pena de 5 anos e 3 meses de prisão
fixada na 1.ª instância);
de 16-09-2008, processo n.º 2382/08-3.ª (cidadão
venezuelano desembarca no Aeroporto de  Lisboa,
proveniente de Caracas e com destino a
Amesterdão, transportando no interior do
organismo, 114 invólucros, em forma de bolota,
contendo cocaína, com o peso líquido total de
1.705,634 gramas – confirmada pena de 5 anos de
prisão aplicada pela Relação);

de 22-10-2008, processo n.º 2838/08-3.ª


(transporte de Brasília, com desembarque no
Aeroporto de Lisboa, em trânsito para Londres,
transportando 14 embalagens contendo cocaína,
com o peso líquido de 4.593,86 gramas – mantida a
pena de 6 anos de prisão);

de 23-10-2008, processo n.º 2813/08-5.ª (cidadã


malaia desembarca no Aeroporto da Maia,
proveniente do Rio de Janeiro, transportando
3.962, 06 gramas de cocaína – reduzida para 5 anos
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e 6 meses de prisão a pena de 6 anos);

de 29-10-2008, processo n.º 2848/07- 3.ª (cidadão


venezuelano transporta de Caracas,
desembarcando no Aeroporto de Lisboa, 6. 306,05
gramas de cocaína - pena de 5 anos e 6 meses de
prisão mantida);   
de 12-11-2008, processo n.º 3171/08-3.ª (transporte
aéreo do Brasil para a Europa de cerca de 2 kg de
cocaína - afastada a aplicação de suspensão da
execução);
de 13-11-2008, processo n.º 115/08 - 5.ª (arguido
residente em Cabo Verde desembarca no
Aeroporto de Lisboa, proveniente de São Paulo,
Brasil, em trânsito para a cidade do Sal, Cabo
Verde, trazendo consigo, dissimulada na mala de
mão e nas de porão que transportava, 12.331,5
gramas (peso bruto) de cocaína – mantida pena de
7 anos de prisão fixada na 1.ª instância e
confirmada pela Relação);  
de 13-11-2008, processo n.º 3267/08 - 5.ª (arguida
portuguesa, residente em Portugal,  desembarca
no Aeroporto da Maia, proveniente do Rio de
Janeiro, Brasil, trazendo consigo, dissimulada no
interior da mala de porão que transportava, e
dissimulados no interior de frascos de champô e
no meio de peças de vestuário, 6.837,432 gramas
de cocaína – reduzida a pena de 7 anos de prisão
fixada na 1.ª instância para 6 anos);
de 25-02-2009, processo n.º 97/09-3.ª (caso de
arguido, natural de Granada, que efectuou
transporte marítimo desde a Venezuela com
destino a Espanha, tendo atracado na marina de
Lagos a embarcação que tripulava, na qual se
encontravam dissimuladas 202 embalagens de
cocaína, com o peso de cerca de 235 Kg – 9 anos de
prisão);
de 23-04-2009, processo n.º 558/09-5.ª
(transportador, desembarcado no Aeroporto de
Lisboa, proveniente da República Dominicana,
trazendo em mala de viagem 11.672,066 gramas de
cocaína – confirmada a pena de 6 anos de prisão);   
de 14-05-2009, processo n.º 46/08.0ADLSB.S1-3.º
(transporte por arguido de nacionalidade
espanhola, desembarcado no Aeroporto de Lisboa,
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proveniente de Rio de Janeiro, no interior de mala


de porão, de 17 embalagens próprias para
cosméticos, contendo cocaína, com o peso líquido
de 3.968, 17 gramas – confirmada a pena de 5 anos
e 6 meses de prisão);
de 18-06-2009, processo n.º 368/08.0JELSB.S1-3.ª
(arguido português, desembarcado no Aeroporto
de Lisboa, proveniente de Dakar, trazendo consigo,
dissimuladas junto ao corpo duas embalagens,
contendo cocaína, com o peso líquido de 2.931,285
gramas – confirmada a pena de 5 anos e 6 meses
de prisão);
de 15-07-2009, processo n.º 51/08.7ADLSB-3.ª
(transporte por cidadão espanhol, desembarcado
no Aeroporto de Lisboa, proveniente do Brasil e
com destino final a Bilbao, trazendo no fundo falso
de uma mala 4.605 gramas de cocaína –
considerada adequada a pena de 5 anos e não a de
6 anos de prisão, como decidira a 1.ª instância) ;
de 15-10-2009, processo n.º 24/09.2JELSB.S1-5.ª
(transporte vindo do exterior da comunidade de
2507,870 gramas de cocaína dissimulada em cinta
calção – confirmada pena de 5 anos e 6 meses de
prisão); 
de 10-02-2010, processo n.º 67/09.6JELSB.L1.S1-
3.ª (transporte por cidadã nacional de Cabo Verde,
no interior de uma mala, de 4.090,116 gramas de
cocaína, proveniente do Natal-Brasil, com destino
a Bissau, e desembarcada em Lisboa – confirmada
a pena de cinco anos e seis meses de prisão);
de 10-02-2010, processo n.º  217/09.2JELSB.S1-3.ª
(tem-se por adequada a pena de 4 anos e 9 meses
de prisão a arguido de nacionalidade brasileira,
desembarcado no aeroporto de Lisboa,
proveniente de São Paulo – Brasil, trazendo
consigo no interior de uma mala,  cocaína, com o
peso líquido total de 2907,562 gramas); 
de 25-02-2010, processo n.º 137/09.0JELSB.S1-5.ª
(arguido de nacionalidade portuguesa, residente
na Holanda, desembarcado no Aeroporto de
Lisboa, proveniente de Salvador, Brasil, e em
trânsito para Amesterdão, transportando numa
mala de porão 3.116,400 gramas de cocaína –

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reduzida a pena de 5 anos e 6 meses para 5 anos de


prisão, tida por suficiente, mas necessária);
de 11-03-2010, processo n.º 100/09.1JELSB.L1.S1-
5.ª (arguido de nacionalidade brasileira, solteiro,
com 4 filhos e sem antecedentes criminais que, no
âmbito de um transporte como correio de droga,
desembarcou no Aeroporto de Lisboa,  proveniente
de Brasília, e com destino a Amsterdão,
transportando no organismo  96 embalagens de
cocaína, com o peso líquido de 846, 462 g. (tida por
suficiente a pena de 4 anos de prisão, e não a de 5
anos e 6 meses, imposta  na 1.ª instância);
de 25-03-2010, processo n.º 312/09.8JELSB.S1-3.ª
(caso de transporte por cidadão brasileiro de
2.891,19 gramas de cocaína, proveniente de
Caracas, e desembarcado no Aeroporto de Lisboa
– confirmada a pena de 5 anos e 2 meses de
prisão);
de 15-04-2010, processo n.º 7/09.2ABPRT.P1.S1-3.ª
(transporte de cocaína com o peso líquido de
1.690,83 gramas, feita por arguido de
nacionalidade canadiana, que desembarcou no
Aeroporto Sá Carneiro, proveniente de São Paulo,
Brasil, em trânsito para a Holanda – tida por
suficiente, mas necessária, a pena de 5 anos de
prisão, ao invés da de 6 anos de prisão imposta na
1.ª instância);    
de 12-05-2010, processo n.º 5/09.6ABPRT.P1.S1-5.ª
(desembarque no Porto, proveniente de Caracas e
com destino a Londres, com transporte de 4.041,55
gramas de cocaína - reduzida para 5 anos a pena de
5 anos e 10 meses de prisão);
de 09-06-2010, processo n.º 294/09.6JELSB.L1.S1
– 3.ª (transporte de cocaína, com o peso líquido de
3.415 gramas, do Brasil para Portugal – aplicada a
pena de 4 anos e 6 meses de prisão, e não a pena
de 5 anos e 6 meses fixada em primeira instância);
de 09-06-2010, processo  n.º 449/09.3JELSB.S1-3.ª
(cidadão brasileiro desembarca no Aeroporto de
Lisboa, procedente de Brasília, em trânsito para
Bruxelas, transportando numa mala quatro
embalagens, contendo 4.785,300 gramas de
cocaína – confirmada a pena de 5 anos e 3 meses
de prisão);  
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de 05-01-2011, processo n.º 448/09.5JELSB.L1.S1-


3.ª (em causa transporte feito por três arguidos
brasileiros, em 17-10-2009, de 16.522,612, de
6.937,192 e de 7.701,814 gramas de cocaína,
proveniente de Brasília, sendo os arguidos
condenados em 7 anos, o primeiro, e os restantes,
em 5 anos e 6 meses de prisão);
de 13-01-2011, processo n.º 369/09.1JELSB-3.ª
(cidadão brasileiro transporta, com o peso líquido
de 2.633,394 gramas de cocaína de São Salvador
para Lisboa – reduzida para 4 anos e 6 meses de
prisão a pena da 1.ª instância de 5 anos e 6 meses,
mas afastando a suspensão da execução da pena);
de 29-06-2011, processo n.º 1878/10.5JAPRT.S1-3.ª
(cidadão brasileiro, desembarcado em 14-11-2010,
no Aeroporto Sá Carneiro, Maia, transportando de
Salvador/Brasil, com destino a Barcelona, 2.121, 819
gramas de cocaína – reduzida a pena de 5 anos e 6
meses para 5 anos de prisão);
de 08-03-2012, processo n.º 325/11.0JAPRT.P1.S1-
5.ª (em causa transporte de cerca de 10 kgs. de
cocaína, foi confirmada uma pena de 7 anos de
prisão);
de 18-04-2012, processo n.º 144/11.3JELSB.L1.S1-
3.ª (situação de dois cidadãos de nacionalidade
holandesa, desembarcados no Aeroporto de
Lisboa, provenientes de São Salvador, Brasil,
preparando-se para embarcar para Bruxelas: nas
malas do arguido A encontravam-se 22
embalagens de cocaína com o peso líquido de
24.237,600 gramas, dissimuladas no meio de um
edredão, e nas malas do arguido B, dissimuladas do
mesmo modo, estavam 23 embalagens de cocaína,
com o peso líquido de 25.188,070 gramas, sendo
reduzidas as penas de 9 para 8 anos de prisão).   
     Podem ver-se ainda os acórdãos de 15-09-2010,
06-01-2011, 16-03-2011, de 05-05-2011 e de 12-01-
2012, proferidos nos processos n.ºs
1977/09.6JAPRT.S1-3.ª, 395/10.8PJAPRT.5.ª,
187/10.4JELSB.S1-5.ª (neste com atenuação
especial da pena), 229/10.LELSB.S1-5.ª e
72/11.2JELSB.S1-5.ª
     Tendo em conta os padrões jurisprudenciais
usados em outras decisões impõe-se uma
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intervenção correctiva no sentido de ligeira


redução da medida da pena aplicada, e assim,
tendo em consideração a primariedade da arguida
e as suas condições pessoais e familiares, a pena
imposta é reduzida para quatro anos e dez meses
de prisão.

      A arguida não defende a suspensão da execução


da pena de prisão aplicada.
      A pena de prisão, ora fixada em medida não
superior a cinco anos, deve ser suspensa na
execução se, atendendo à personalidade do
agente, às condições da sua vida, à sua conduta
anterior e posterior ao crime e às circunstâncias
deste, concluir que a simples censura do facto e a
ameaça da prisão realizam de forma adequada e
suficiente as finalidades da punição. 
      A pena ora imposta, se bem que reduzida,
ficando em medida que confere a possibilidade de
suspensão da execução da pena de prisão, não
será suspensa.
       A jurisprudência deste Supremo Tribunal, em
casos semelhantes, vai no sentido de que
condutas idênticas à do recorrente, devem ser
punidas com pena de prisão efectiva, atentas as
elevadíssimas necessidades de prevenção (cfr.,
entre outros, o acórdão deste STJ, de 15.11.2007 in
www.dgsi.pt/jstj, onde se refere expressamente
que “…o combate ao tráfico de droga em que
Portugal internacionalmente se comprometeu
impõe que não seja suspensa a execução da pena
nos casos de tráfico comum e de tráfico agravado
de estupefacientes, em que não se verifiquem
razões muito ponderosas, que no caso se não
postulam, seria atentatória da necessidade
estratégica nacional e internacional de combate a
esse tipo de crime, faria desacreditar as
expectativas comunitárias na validade da norma
jurídica violada e não serviria os imperativos de
prevenção geral”.
      Como se vê dos acórdãos de 15-07-2009,
processo n.º 51/08.7ADLSB-3.ª, de 10-02-2010,
processo n.º 217/09.2JELSB.S1 e de 13-01-2011,
processo n.º 369/09.1JELSB-3.ª secção, a natureza
do crime com as fortes exigências de prevenção
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geral que determina, não permite que a simples


ameaça da prisão assegure, de forma adequada e
suficiente, as finalidades da punição,
designadamente as exigentes finalidades de
prevenção geral. 
      Aliás, em todos os casos supra citados em que
foi aplicada pena igual ou inferior a 5 anos de
prisão, foram no sentido de aplicação de prisão
efectiva e em dois dos casos supra apontados foi
mantida a revogação decretada pela Relação da
suspensão da prisão (acórdãos de 17-04-2008 e de
08-05-2008, nos processos n.º s 806/08 e 1134/08).
      Assim, a pena ora fixada não será suspensa.

Decisão
Pelo exposto, acordam no Supremo Tribunal de
Justiça em julgar parcialmente procedente o
recurso interposto pela arguida AA, alterando o
acórdão recorrido, no que respeita à medida da
pena aplicada, que é reduzida para quatro anos e
dez meses de prisão, mantendo-se o acórdão
recorrido no demais.
            Sem custas, atento o provimento parcial do
recurso. 
Consigna-se que foi observado o disposto no
artigo 94.º, n.º 2, do Código de Processo Penal.

Lisboa, 2 de Maio de 2012

Raul Borges (relator)

Henriques Gaspar

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