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Disciplina: HERMENÊUTICA E ANÁLISE DE JURISPRUDÊNCIA

Professora: Me Samantha Stacciarini

2021. 2 – Noturno - Entrega escrita e apresentação no 9ª (última aula – 17.09)

AVALIAÇÃO 2 – Nota (0 à 10) -` Com consulta` - Grupos de 4 a 5 pessoas –

((Sendo 0 - 8 nota trabalho escrito e 0 - 2 nota para a apresentação oral - para o grupo).

Acadêmicos (as): Camila Máyra Lyra Dalagnolli


Acadêmicos (as): Kelvin Wesllen Venske
Acadêmicos (as): Pedro Henrique de Pinho
Acadêmicos (as): Waldir da Silva Neto

De acordo com a decisão judicial “ PESQUISADA” ,  os alunos devem:

1) Identificar e explicar quais foram as fases da hermenêutica jurídica clássica


aplicadas durante o raciocínio interpretativo da decisão (3,00 pontos )

(Resposta em comentários abaixo)

2) Verificar a ocorrência de algum critério utilizado para solucionar alguma


“antinomia” jurídica (hierárquico ou cronológico ou especialidade) OU de
“integração” do direito (analogia, costumes, princípios) e explicar a sua
aplicação; ( 1,50 ponto )

Resposta:

Verifica-se a ocorrência dos critérios cronológicos e integração do direito na


forma da analogia, contudo, a analogia no Direito Penal só é admitida quando for para
beneficiar o réu, ou seja, in bonam partem.
No caso estudado, nos traz que era firmado o entendimento no sentido de que, na
legislação de regência, mostrava-se irrelevante que a reincidência seja específica em
crime hediondo para a aplicação da fração de 3/5 na progressão de regime, pois não deve
haver distinção entre as condenações anteriores.
Tal entendimento era fundamentado na Lei de Crimes Hediondos, em especial no
§ 2º do art. 2º da Lei n. 8.072/1990:
Art. 2º Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de
entorpecentes e drogas afins e o terrorismo são insuscetíveis de:
§ 2º A progressão de regime, no caso dos condenados pelos crimes
previstos neste artigo, dar-se-á após o cumprimento de 2/5 (dois
quintos) da pena, se o apenado for primário, e de 3/5 (três quintos), se
reincidente, observado o disposto nos §§ 3º e 4º do art. 112 da Lei nº
7.210, de 11 de julho de 1984 (Lei de Execução Penal). (Redação
dada pela Lei nº 13.769, de 2018).

Ocorre que, com o advento da Lei n. 13.964/2019 (Pacote Anticrime), os


requisitos objetivos para a progressão de regime foram levemente alterados revogando
os citados anteriormente, conforme a nova redação do art. 112 da Lei de Execução
Penal, no que interessa:

Art. 112. A pena privativa de liberdade será executada em forma


progressiva com a transferência para regime menos rigoroso, a ser
determinada pelo juiz, quando o preso tiver cumprido ao menos:
(Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019).
VII - 60% (sessenta por cento) da pena, se o apenado for reincidente na
prática de crime hediondo ou equiparado; (Incluído pela Lei nº 13.964,
de 2019).

Nesse ponto de vista pode se dizer que foi utilizado o critério cronológico, porém,
ainda foi feita uma analogia entre a norma revogada e a mais nova, constatando, assim,
que o § 2º do art. 2º da Lei n. 8.072/1990 não diferenciava a reincidência específica da
genérica para o cumprimento de 3/5 da pena para fins de progressão de regime, ao
contrário da nova redação do inciso VII do art. 112 da LEP.
Nessa linha de entendimento, a situação prevista no inciso VII do art. 112 da
LEP refere-se aos casos de reincidência de crimes hediondos em geral, deixando o
Pacote Anticrime de tratar sobre a situação característica do paciente condenado por
crime hediondo e reincidente não específico.
Assim, em razão da omissão legal, não há como aplicar de forma extensiva e
prejudicial ao paciente o percentual de 60% que trata sobre a reincidência em crime
hediondo ou equiparado. Ao contrário, merece na hipótese o uso da analogia in bonam
partem para fixar o percentual de 40% previsto no inciso V do art. 112, relativo ao
primário e ao condenado por crime hediondo ou equiparado.

3) Examinar se nesta decisão ocorreu alguma manifestação de Precedentes ou de


Súmulas? Por quê? Justifique sua resposta; ( 0,50 ponto )
(Resposta em comentários abaixo)

4) Diante do desenvolvimento judicial, descreva qual foi o raciocínio alcançado no


resultado interpretativo (declarativo ou restritivo ou extensivo) encontrado para
solucionar o caso e explique o motivo); (1,00 ponto)

Resposta:

In caso, verifica-se que ao fundamentar seu voto o Relator vai além da letra fria da
lei, utilizando interpretação extensiva, quando a lei carece de amplitude, ou seja, diz
menos do que deveria dizer, devendo o intérprete verificar qual os reais limites da
norma.

5) De acordo com as diretrizes do artigo 489 do CPC/2015, nos seus parágrafos 1o


(incisos, I ao IV, e dos parágrafos 2o e 3o, nesta decisão o julgador
“fundamentou” de acordo com quais dispositivos legais? Explique como isso
ocorreu usando um ou dois incisos ou parágrafos do art. 489 CPC especificados;
(1,00 ponto)

Resposta:

O julgador se fundamenta no Art. 489 do CPC/2015 § 2º, onde no referido caso há


dispositivos legais que determinam levar constrangimento ilegal, possível de
deferimento do pedido. Como também omissão legal. Ou seja, na colisão entre normas,
o julgador deverá justificar o objeto, assim fará de acordo com o artigo que informamos,
para conceder liminarmente o Habeas Corpus.

6) Descreva a utilização da “Política Jurídica” nesta decisão, sob o viés social e na


humanização do Direito para a sua efetiva aplicação. (1,00 ponto )

Resposta:

Os magistrados, desembargadores e advogados, bem como os estudantes de direito


devem estar sempre em busca do bem comum, do justo, jamais se confundir com a soma
por desejos particulares ou interesses de pequeno grupo. Ao aplicar o Direito, todas as
pessoas envolvidas devem olhar com um olhar mais humanizado para que se está
discutindo. Na maioria das vezes as normas uma solução para dirimir a controvérsia,
mas será que essa solução é a mais acertada, vai conseguir resolver da melhor forma
possível o problema?

No Habeas Corpus apresentado, o julgador apenas aplica o que a Lei mencionada


em questão anterior, ou seja, na colisão de normas, o julgador devera justificar o objeto e
neste caso foi passível de deferimento do pedido.

Vale lembrar que muitas vezes apenas aplicar o que a lei diz, não é sinônimo de
justiça. E aplicar o direito com viés social e de humanização é fundamental nos dias
atuais, pois a sociedade se encontra hoje em um momento que está muito mecanizado.

Portanto é fundamental a Política Jurídica, pois esta tem compromisso fundamental


com a mudança e transformação social como um todo, em busca da harmonia do bem
comum.

O autor Osvaldo Ferreira de Melo diz que: “A política social é o elo entre a ação
humana e a persecução de uma forma de adequação da norma vigente nos anseios do
cidadão, transformando-a num elemento útil e positivado, afeto às necessidades e
interesse sociais”

Link:
https://processo.stj.jus.br/processo/dj/documento/mediado/?
tipo_documento=documento&componente=MON&sequencial=127047539&tipo_docu
mento=documento&num_registro=202101454644&data=20210518&formato=PDF

Ementa:
AGRAVO EM EXECUÇÃO – DECISÃO QUE HOMOLOGOU CÁLCULO DE
PENAS NO QUAL FOI APLICADO PERCENTUAL DE 40% PARA A
PROGRESSÃO DE REGIME DO AGRAVADO, À LUZ DAS ALTERAÇÕES
PROMOVIDAS PELA LEI13.964/19 (“PACOTE ANTICRIME”) NA LEI 7.210/84
(LEI DE EXECUÇÃO PENAL) – RECURSO MINISTERIAL – PEDIDO DE
APLICAÇÃO DO PERCENTUAL DE 60%, NOS TERMOS DO ART. 112, VII, DA
LEI 7.210/84 – ALEGAÇÃO DE QUE TAL DISPOSITIVO NÃO EXIGE
REINCIDÊNCIA ESPECÍFICA EM CRIMES HEDIONDOS OU EQUIPARADOS –
ACOLHIMENTO – CONSONÂNCIA COM A JURISPRUDÊNCIA ANTERIOR À
REVOGAÇÃO DO ART. 2º, §2º, DA LEI 8.072/90– INTERPRETAÇÃO
TELEOLÓGICA (FINALÍSTICA) SOBRE A ATUAL REDAÇÃO DO ART. 112 DA
LEI 7.210/84 – OBJETIVO PRIMORDIAL DO “PACOTE ANTICRIME” FOI O DE
TORNAR MAIS RIGOROSO O TRATAMENTO PENAL,NOTADAMENTE
QUANTO AOS CRIMES MAIS GRAVES – NOVEL REDAÇÃO DO ART. 112 DA
LEI 7.210/84 NÃO EMPREGOU A EXPRESSÃO “REINCIDENTE ESPECÍFICO” –
APLICAÇÃO DOS PERCENTUAIS DE PROGRESSÃO PREVISTOS PARA OS
PRIMÁRIOS AOS REINCIDENTES COMUNS VIOLARIA O PRINCÍPIO DA
PROPORCIONALIDADE – PRECEDENTES RECENTES DESTA C. CÂMARA –
RECURSO PROVIDO.

Inteiro Teor:

HABEAS CORPUS Nº 666231 - SP (2021/0145464-4)


RELATOR: MINISTRO OLINDO MENEZES (DESEMBARGADOR
CONVOCADO DO TRF 1ª REGIÃO)

IMPETRANTE: DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO


ADVOGADOS: ALANDESON DE JESUS VIDAL - SP168644
DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO
IMPETRADO: TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
PACIENTE: THIAGO GUILHERME VIEIRA DA SILVA (PRESO)
INTERES.: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO

DECISÃO

Trata-se de habeas corpus, com pedido liminar, impetrado em face de


acórdão assim ementado (fl. 43):
Agravo em execução – Decisão que homologou cálculo de penas no
qual foi aplicado percentual de 40% para a progressão de regime do
agravado, à luz das alterações promovidas pela Lei13.964/19
(“Pacote Anticrime”) na Lei 7.210/84 (Lei de Execução Penal) –
Recurso ministerial – Pedido de aplicação do percentual de 60%, nos
termos do art. 112, VII, da Lei 7.210/84 – Alegação de que tal
dispositivo não exige reincidência específica em crimes hediondos ou
equiparados – Acolhimento – Consonância com a jurisprudência
anterior à revogação do art. 2º, §2º, da Lei 8.072/90– Interpretação
teleológica (finalística) sobre a atual redação do art. 112 da Lei
7.210/84 – Objetivo primordial do “Pacote Anticrime” foi o de tornar
mais rigoroso o tratamento penal, notadamente quanto aos crimes
mais graves – Novel redação do art. 112 da Lei 7.210/84 não
empregou a expressão “reincidente específico” – Aplicação dos
percentuais de progressão previstos para os primários aos
reincidentes comuns violaria o princípio da proporcionalidade –
Precedentes recentes desta C. Câmara – Recurso provido.

Consta dos autos que o Tribunal de origem, em sede de agravo em


execução, retificou o cálculo de penas para fins de progressão de regime, para
constar a fração de 3/5 (60%) para obtenção do benefício.
Daí o presente writ, em que a defesa sustenta dever incidir, no caso, a
previsão mais benéfica da nova redação do art. 112, inciso V, da LEP, uma vez
que, embora seja reincidente, não é reincidente específico.
Portanto requer, inclusive liminarmente, a retificação do cálculo de pena.
Não havendo divergência da matéria no órgão colegiado, admissível seu
exame in limine pelo relator, nos termos do art.34, XVIII e XX, do RISTJ.

O Tribunal de Justiça assim dispôs sobre a controvérsia (fls. 45-46):

A meu ver, a aplicação de tais incisos não exige que haja reincidência
específica em crimes hediondos ou equiparados, por várias razões:(a) antes
do advento do “Pacote Anticrime”, a jurisprudência não exigia
reincidência específica para a aplicação da fração de 3/5 (três quintos),
prevista no revogado artigo 2º, §2º, da Lei8.072/90 (vide STJ, HC
427.803/PR);(b) deve ser feita interpretação teleológica(finalística) sobre a
atual redação do artigo 112 da Lei de Execução Penal, levando-se em conta
que o objetivo primordial da Lei 13.964/19 ( “Pacote Anticrime”) foi o de
tornar mais rigoroso o tratamento penal, notadamente quanto aos crimes
mais graves;(c) a novel redação do artigo 112 da Lei de Execução Penal
não empregou a expressão “reincidente específico”, diferentemente do que
já fez o legislador em outras ocasiões (vide, por exemplo, o artigo 83, V, do
Código Penal);(d)caso se entenda que os incisos VII e VIII do artigo 112 da
Lei de Execução Penal abrangem apenas a reincidência específica, seriam
aplicados aos reincidentes comuns os mesmos percentuais de progressão
previstos para os primários, o que caracterizaria flagrante violação ao
princípio da proporcionalidade.

Como se vê, o Tribunal local entendeu que, a despeito da alteração


promovida pela Lei 13.964/19 no art. 112 da Lei de Execuções Penais, uma
interpretação finalística impõe maior lapso temporal, pois o Pacote Anticrime
objetivou endurecer o tratamento penal; aliado a isto, a lei não utilizou a
expressão "reincidente específico". Por fim, aponta que não pode ser deferido a
reincidentes o mesmo tratamento que a condenados primários.
Importa destacar que, "Firmou-se nesta Superior Corte de Justiça
entendimento no sentido de que, nos termos da legislação de regência, mostra-se
irrelevante que a reincidência seja específica em crime hediondo para a aplicação
da fração de 3/5 na progressão de regime, pois não deve haver distinção entre as
condenações anteriores (se por crime comum ou por delito hediondo)" (AgRg no
HC n. 494.404/MS, Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA
TURMA, DJe 20/5/2019)" (AgRg no HC 521.434/SP, Rel. Ministro
SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 01/10/2019, DJe
08/10/2019).
Tal entendimento era fundamentado na Lei de Crimes Hediondos, em
especial no revogado § 2º do art. 2º da Lei n. 8.072/1990: "A progressão de
regime, no caso dos condenados pelos crimes previstos neste artigo, dar-se-á
após o cumprimento de 2/5 (dois quintos) da pena, se o apenado for primário, e
de 3/5 (três quintos), se reincidente, observado o disposto nos §§ 3º e 4º do art.
112 da Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984 "(Lei de Execução Penal).
Ocorre que, com o advento da Lei n. 13.964/2019 (Pacote Anticrime), os
requisitos objetivos para a progressão de regime foram levemente alterados,
conforme a nova redação do art. 112 da Lei de Execução Penal, no que interessa:
Art. 112. A pena privativa de liberdade será executada em forma
progressiva com a transferência para regime menos rigoroso, a ser
determinada pelo juiz, quando o preso tiver cumprido ao menos: (Redação
dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
[...]
V - 40% (quarenta por cento) da pena, se o apenado for condenado pela
prática de crime hediondo ou equiparado, se for primário; (Incluído pela
Lei nº 13.964, de 2019)
VI - 50% (cinquenta por cento) da pena, se o apenado for: (Incluído pela
Lei nº 13.964, de 2019)
a) condenado pela prática de crime hediondo ou equiparado, com resultado
morte, se for primário, vedado o livramento condicional; (Incluído pela Lei
nº 13.964, de 2019)
b) condenado por exercer o comando, individual ou coletivo, de
organização criminosa estruturada para a prática de crime hediondo ou
equiparado; ou (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
c) condenado pela prática do crime de constituição de milícia privada;
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
VII - 60% (sessenta por cento) da pena, se o apenado for reincidente na
prática de crime hediondo ou equiparado; (Incluído pela Lei nº 13.964,
de 2019)

Constata-se, assim, que o § 2º do art. 2º da Lei n. 8.072/1990 não


diferenciava a reincidência específica da genérica para o cumprimento de 3/5 da
pena para fins de progressão de regime, ao contrário da nova redação do inciso
VII do art. 112 da LEP.
Nessa linha de entendimento, a situação prevista no inciso VII do art. 112
da LEP refere-se aos casos de reincidência de crimes hediondos em geral,
deixando o Pacote Anticrime de tratar sobre a situação característica do paciente
(condenado por crime hediondo e reincidente não específico, conforme consta do
acórdão à fl. 39).
Assim, em razão da omissão legal, não há como aplicar de forma
extensiva e prejudicial ao paciente o percentual de 60% que trata sobre a
reincidência em crime hediondo ou equiparado. Ao contrário, merece na hipótese
o uso da analogia in bonam partem para fixar o percentual de 40% previsto no
inciso V do art. 112, relativo ao primário e ao condenado por crime hediondo ou
equiparado.
O referido entendimento foi acatado pela Sexta Turma do Superior
Tribunal de Justiça que, no julgamento do HC 581.315/PR, concluído em
6/10/2020, e por unanimidade de votos, concedeu a ordem de habeas corpus
(DJe 16/10/2020).
Há, portanto, constrangimento ilegal passível do deferimento do pedido.
Ante o exposto, concedo liminarmente o habeas corpus para restabelecer a
decisão de primeiro grau que aplicou ao paciente o percentual de 40% para
progressão de regime, salvo se cometida falta grave.

Comunique-se.
Publique-se.
Intimem-se.

Brasília, 14 de maio de 2021.

OLINDO MENEZES (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TRF 1ª


REGIÃO)
Relator

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