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Leiam atentamente o caso abaixo e, com fundamento na legislação, na jurisprudência e

na literatura jurídica, respondam às questões que seguem (2,0 para cada questão):

Dodó tem 26 anos e é natural de João pessoa. Mora em Maceió desde os 18 anos e se
envolveu, desde a adolescência, em vários pequenos golpes, com o propósito de
financiar as drogas que consumia. Todavia, acabou se envolvendo com o tráfico de
drogas e foi condenado a 10 anos de reclusão em regime fechado e multa, após ser
flagrado com 2 kg de crack. Passou a cumprir pena no Presídio de Segurança Máxima 1.
Nunca trabalhou, mas estudou por 1 ano, durante o cumprimento da pena. Dodó tinha
um bom comportamento carcerário e, quando completou o tempo exato de
cumprimento, previsto na Lei de Execução Penal, para a configuração do requisito
objetivo, passou para o regime semiaberto e, diante da inexistência de Colônia Agrícola
ou Industrial, recebeu prisão domiciliar, com monitoração eletrônica. Em liberdade,
Dodó acabou se envolvendo novamente com traficantes, já que voltou rapidamente para
as drogas. Nas redes do tráfico de drogas, envolveu-se em um homicídio qualificado,
sendo condenado a 14 anos de reclusão em regime fechado. O juiz de execução
determinou a regressão de regime e foi feita a unificação das penas. O retorno à prisão
alterou completamente o comportamento de Dodó, que passou a se envolver em
confusões diárias, com diversos registros de indisciplina por péssimo comportamento
carcerário. Quando completou 2/3 da pena unificada, requereu livramento condicional,
o que foi indeferido, por ausência dos requisitos subjetivos. Também requereu nova
progressão de regime, que foi igualmente indeferida. Dodó seguiu, então, teve um surto
psicótico e foi imediatamente transferido para o Centro Psiquiátrico Judiciário Pedro
Marinho Suruagy, onde foi submetido a exame para averiguação de superveniência de
doença mental. Diante de sua frágil condição financeira e da condição de adoecimento
mental, não pagou a pena de multa dentro do prazo legal.
a) Quais as consequências da segunda condenação para Dodó? Pode ele ter permanecido
em regime semiaberto?
b) Com a nova condenação, poderá Dodó receber nova progressão de regime? Em caso
positivo, expliquem os requisitos alcançados; em caso negativo, analisem quando teria a
possibilidade de ter deferido o pedido.
No presente caso Dodó continua tendo direito a nova progressão de regime mesmo
após a reincidência e a prática do homicídio e segundo a Leiº 8.072:

Art. 2º Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de


entorpecentes e drogas afins e o terrorismo são insuscetíveis de:

§ 2º A progressão de regime, no caso dos condenados aos crimes previstos


neste artigo, dar-se-á após o cumprimento de 2/5 (dois quintos) da pena, se o
apenado for primário, e de 3/5 (três quintos), se reincidente.

Contudo o pacote anticrime modificou as regras e ele cometeu um homicídio


qualificado e antes desse homicídio, tráfico de drogas, ambos considerados crimes
hediondos, então o pacote anticrime passa a exigir que haja o cumprimento de 70%
(setenta por cento) da pena, se o apenado for reincidente na prática de crime hediondo
ou equiparado com resultado de morte, para que seja possível progressão de regime. E
como houve resultado específico, não é possível aplicar a analogia conforme a
jurisprudência do STJ - RESP 1910240 / MG 2020/0326002

1-O Supremo Tribunal Federal, no julgamento do ARE n. 1.327.963/SP, em


reafirmação da jurisprudência e sob o regime da repercussão geral, firmou a
seguinte tese: “Tendo em vista a legalidade e a taxatividade da norma penal
(art. 5º, XXXIX, CF), a alteração Promovida pela Lei 13.964/2019 no art. 112
da LEP não autoriza a incidência do percentual de 60% (inc.VII) aos
condenados reincidentes não específicos para o fim de progressão de regime.
Diante da omissão legislativa, impõe-se a analogia in bonam partem, para
aplicação, inclusive retroativa, do inciso V do artigo 112 da LEP (lapso
temporal de 40%) ao condenado por crime hediondo ou equiparado sem
resultado morte reincidente não específico.” (Tema n.1.169/STF.)

2-No caso, o acórdão proferido pelo Superior Tribunal de Justiça está em


sintonia com a orientação firmada Pelo Pretório Excelso sob o regime da
repercussão geral.

3-Recurso extraordinário a que se nega seguimento, nos termos do art. 1.030,


I, a, do Código de Processo Civil

c) Considerando o disposto na LEP, há possibilidade de concessão de livramento


condicional a Dodó após a segunda condenação? Em caso positivo, expliquem os
requisitos alcançados; em caso negativo, analisem quando teria a possibilidade de ter
deferido o pedido.
De acordo com o disposto no art. 112, inciso VIII, o livramento condicional é
vedado a aqueles que são reincidentes em crimes hediondos ou equiparados, com
resultado morte. Então não há possibilidade de concessão de livramento condicional a
Dodó, visto que, após a primeira condenação por crime hediondo (tráfico de drogas),
Dodó reincidiu com novo crime hediondo, desta vez resultando em morte (homicídio
qualificado).
Sobre a possibilidade de se ter deferido o pedido de livramento condicional para
Dodó, poderia ocorrer se o crime hediondo cometido não tivesse como resultado morte.
Nesse caso, Dodó poderia cumprir 60% da sua pena em regime fechado e, após o tempo
cumprido, haveria a progressão de sua pena, podendo chegar à concessão de livramento
condicional.
d) Quais os possíveis impactos, na execução da pena, do laudo de exame psiquiátrico
realizado em Dodó?

O Código Penal (CP), em seu Art. 41, trata da hipótese de superveniência de


doença mental, na qual o condenado a quem sobrevém doença mental será recolhido a
hospital de custódia. O Art. 108 Lei de Execuções Penais prescreve o mesmo
tratamento. Assim, Dodó, após surto psicótico, foi adequadamente transferido para o
Centro Psiquiátrico Judiciário Pedro Marinho Suruagy.
Nesta situação, a Lei de Execuções Penais (LEP), em seu Art. 183, prevê a
possibilidade de o Juiz determinar a substituição da pena por medida de segurança e,
conforme Art. 184, essa medida de segurança tanto pode ser o tratamento ambulatorial
quanto a internação, conforme análise da perícia médica (MASSON, 2017).
Entretanto, há de se considerar duas hipóteses para o caso de Dodó. A primeira é
de a enfermidade não ser duradoura, contexto no qual ele permaneceria no hospital pelo
tempo de sua cura e retornaria, em seguida, para a unidade prisional de origem, nos
termos do art. 41 do Código Penal e 108 da LEP. Já a segunda possibilidade envolve ter,
a doença, um caráter permanente, situação na qual caberia ao juiz converter a pena em
medida de segurança, aplicando o que preceitua Art. 183 da LEP.
Sendo o caso de conversão em medida de segurança, conforme fixou o STJ, esta
não poderá perdurar por mais tempo do que o previsto na sentença condenatória de
Dodó:
AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. EXECUÇÃO PENAL.
SUPERVENIÊNCIA DE PERTURBAÇÃO DA SAÚDE MENTAL. MEDIDA DE
SEGURANÇA SUBSTITUTIVA. INTERNAÇÃO EM HOSPITAL
PSIQUIÁTRICO. RECURSO NÃO PROVIDO.

Consolidou-se nesta Superior Corte de Justiça entendimento no sentido de que a


medida de segurança prevista no art. 183 da Lei de Execução Penal é aplicada
quando, no curso da execução da pena privativa de liberdade, sobrevier doença
mental ou perturbação da saúde mental, ocasião em que a sanção é substituída pela
medida de segurança, que deve perdurar pelo período de cumprimento da
reprimenda imposta na sentença penal condenatória, sob pena de ofensa à coisa
julgada. AgRg no HC 531438 / GO 12/05/2020.

Referências:
MASSON, Cleber. Direito Penal: Parte Geral. 11ª ed. V 1. Rio de Janeiro: Ed.
Método, 2017; p.968.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. AgRg no HC 531438 / GO – Agravo
Regimental No Habeas Corpus 2019/0264754-5. Impetrante: Suzana Ferreira Da
Silva e outros. Impetrado: Tribunal de Justiça de Goiás. Relator: Min. Reynaldo Soares
da Fonseca, 12 de maio de 2020. Ementa. Disponível em:
https://processo.stj.jus.br/processo/pesquisa/?
src=1.1.3&plicação=processos.ea&tipoPesquisa=tipoPesquisaGenerica&num_registro=
201902647545.

e) Quais os efeitos do não pagamento da pena de multa aplicada a Dodó para a


concessão dos benefícios pleiteados?
Segundo a redação conferida ao art. 51 do Código Penal pela Lei 7.209/84, o não
pagamento voluntário da multa acarretava a sua conversão em pena privativa de
liberdade. Contudo, com o advento da Lei nº 9.268/96 não mais se admitiu a conversão,
encarando-se a multa não paga como dívida de valor, aplicando-se-lhe as normas da
legislação relativa à dívida ativa da Fazenda Pública, inclusive no que concerne às
causas interruptivas e suspensivas da prescrição (art. 51, CP).
A exceção admissível ao dever de pagar a multa é a impossibilidade econômica absoluta
de fazê-lo, é possível a progressão se o sentenciado, veraz e comprovadamente,
demonstrar sua absoluta insolvabilidade. Absoluta insolvabilidade que o impossibilite
até mesmo de efetuar o pagamento parcelado da quantia devida, como autorizado pelo
art. 50 do Código Penal (“o juiz pode permitir que o pagamento se realize em parcelas
mensais”).

Execução Penal. Agravo Regimental. Inadimplemento deliberado


da pena de multa. Progressão de regime. Impossibilidade. 1. O
inadimplemento deliberado da pena de multa cumulativamente
aplicada ao sentenciado impede a progressão no regime prisional.
2. Tal regra somente é excepcionada pela comprovação da
absoluta impossibilidade econômica do apenado em pagar a
multa, ainda que parceladamente. 3. Agravo regimental
desprovido.
(STF – ProgReg-AgR EP: 12 DF – DISTRITO FEDERAL
XXXXX-28.2013.1.00.0000, Relator: Min. ROBERTO
BARROSO, Data de Julgamento: 08/04/2015, Tribunal Pleno,
Data de Publicação: DJe-111 11-06-2015)

EMENTA: AGRAVO EM EXECUÇÃO – REVOGAÇÃO DO


LIVRAMENTO CONDICIONAL PELO INADIMPLEMENTO
DA PENA DE MULTA – IMPOSSIBILIDADE. A lei não exige o
pagamento da pena de multa para que seja concedido o benefício
do livramento condicional. (TJ-MG – AGEPN:
XXXXX40051999001 MG, Relator: Flávio Leite, Data de
Julgamento: 16/06/2020, Data de Publicação: 26/06/2020)

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