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PROGRESSÃO DA PENA

UniFBV
Disciplina: Direito Penal / Teoria da Pena
Professor: Wagner Arandas
Aluna: Lyssandra Maria Eloy da H. Teti
RA: 2010812299

Recife, 2020
INTRODUÇÃO

A pena ao ser aplicada, ao longo dos anos, não possuía em sua execução
aspectos humanos, uma vez que não havia proporcionalidade entre os atos
praticados e as penas aplicadas. Com o tempo criaram-se os sistemas
penitenciários, dando assim mais humanidade no cumprimento da pena dos
condenados, considerando que a partir desse momento observava-se uma das
finalidades da pena, que é a de ressocializar o indivíduo para que o mesmo
pudesse ser reinserido na sociedade em que vivia.

Atualmente existem as seguintes espécies de pena: as penas privativas de


liberdade, as penas restritivas de direitos e a pena pecuniária (multa). As penas
privativas de liberdade, previstas na Constituição Federal e no Código Penal
Brasileiro, se dividem em detenção, reclusão e prisão simples. A detenção e a
reclusão são aplicadas quando praticado crimes e a prisão simples, é decorrente
da prática de contravenções penais.

A progressão de regime é uma forma de valorizar e incentivar o progresso do


reeducando até que chegue a etapa final da reinserção social, a qual decorre,
naturalmente, da individualização executória. Por sua vez, essa individualização
executória é consequência da aplicação do princípio constitucional da
individualização da pena.

Na legislação penal brasileira vigente, os regimes de cumprimento de pena


existentes são o regime fechado, semiaberto e o aberto, conforme disposto no
artigo 33 do Código Penal. De acordo com o artigo 110 da Lei de Execução Penal
(LEP), o regime inicial para o cumprimento da pena deverá ser especificado na
sentença condenatória, observando o total da pena aplicada, primeiro requisito
a ser analisado para determinar o regime inicial para o cumprimento da pena,
previsto. Esse requisito, como também os outros estão disciplinados no Código
Penal e em diversas Leis especiais.

PROGRESSÃO DO REGIME PRISIONAL

O pacote anticrimes foi publicada em 24/12/2019, entrando em vigor decorridos


30 dias da sua publicação, de modo que o prazo de vacatio legis encerrou-se
em 22/01/2020, entrando em vigor no dia subsequente. Esse curto prazo de
vacatio foi altamente criticado pelos operadores do Direito, uma vez que o
assunto é de grande complexidade.

Com o advento da Lei 13.964/2019, ocorreram diversas mudanças substanciais


no Direito, de modo a instituir novos parâmetros para a progressão de regime
que passa agora a ser calculada por meio de percentuais.

No Brasil, o sistema adotado pelo legislador no art. 112 da LEP é o sistema


progressivo, em que o agente passa do sistema mais rigoroso para o menos
rigoroso. Esse sistema só é adotado em caso de pena privativa de liberdade,
sendo tal progressão matéria jurisdicional, determinada obrigatoriamente pelo
juiz, que será sempre motivada e precedida de manifestação do Ministério
Público e do defensor, sendo vedada a "progressão per saltum" que é o pulo de
progressões, do fechado para o aberto, devendo-se necessariamente passar
pelo regime intermediário semiaberto, de acordo com a Súmula 491, STJ.

São necessários dois requisitos cumulativos para a avaliação e concessão do


benefício de progressão de regime, sendo estes os requisitos objetivo (referente
ao tempo) e subjetivo (referente ao mérito). Assim, o merecimento à concessão
da progressão de regime será analisado no caso concreto.

O requisito objetivo está de forma expressa na Lei e o requisito subjetivo diz


respeito ao mérito do reeducando, analisando as condições pessoais do
condenado. Assim, será avaliado se o reeducando apresenta, após o
preenchimento do requisito objetivo, aspectos que possam apontar a adaptação
do apenado a um regime menos rigoroso que o atual.

Quanto ao requisito objetivo, trata-se do lapso temporal para a concessão da


progressão de regime, ou seja, tempo de pena cumprida, estabelecendo
padrões, mais condizentes com o princípio da proporcionalidade. Anteriormente,
a lei estabelecia de que era a fração de 1/6 da pena para os crimes comuns,
sejam os apenados reincidentes ou não e, para os crimes hediondos ou
equiparados, as frações estabelecidas passariam para 2/5 (40%) da pena, se
primário, e 3/5 (60%) da pena, na hipótese de reincidência.
Com o Pacote Anticrime foram estabelecidos percentuais gradativos, de acordo
com a condição pessoal do condenado, se é reincidente ou não, bem como se o
crime pelo qual está cumprindo a pena foi cometido com violência ou grave
ameaça à pessoa, para fins de cálculo do requisito objetivo para o direito à
progressão.

Nos casos em que os delitos cometidos não são considerados hediondos,


conforme o artigo 112 da LEP, os percentuais são os seguintes: (inciso I) 16%
(1/6) da pena, se o apenado for primário e o crime tiver sido cometido sem
violência à pessoa ou grave ameaça; (inciso II) 20% (1/5) da pena, se o apenado
for reincidente em crime cometido sem violência à pessoa ou grave ameaça;
(inciso III) 25% (1/4) da pena, se o apenado for primário e o crime tiver sido
cometido com violência à pessoa ou grave ameaça; (inciso IV) 30% (1/3) da
pena, se o apenado for reincidente em crime cometido com violência à pessoa
ou grave ameaça.

Na antiga legislação, em todos esses casos, a progressão seria calculada na


fração de 1/6 de pena, independentemente da reincidência ou do modus
operandi do delito. Significa dizer que, em relação aos crimes que não são
hediondos, há uma novatio legis in pejus e que os percentuais estabelecidos pela
nova redação do artigo 112 da LEP não podem ser aplicados retroativamente,
pois prejudicam o apenado.

Em relação aos crimes hediondos ou equiparados, houve também alteração,


agora o apenado deverá cumprir: (inciso V) 40% (2/5) da pena, se for primário;
(inciso VI, alínea “a”) 50% (1/2) da pena, se primário e o delito hediondo ou
equiparado tiver resultado morte; (inciso VI, alínea “b”) 50% (1/2) para o crime
de constituição de milícia privada; (inciso VI, alínea “c”) 50% (1/2) se o
condenado exercer o comando, individual ou coletivo, de organização criminosa
estruturada para a prática de crime hediondo ou equiparado; (inciso VII) 60%
(3/5) se o apenado for reincidente na prática de crime hediondo ou equiparado;
e (inciso VIII) 70% se o apenado for reincidente em crime hediondo ou
equiparado com resultado morte.

Os incisos VII e VIII, do art. 112 da LEP, são taxativos ao afirmar que as frações
de 60% e 70% incidirão nas hipóteses de reincidência específica, quando o
apenado for reincidente na prática de crime hediondo ou equiparado ou, quando
reincidente em crime hediondo ou equiparado com resultado morte. Em que
antes o artigo 2º, §2º da Lei nº 8.072/90 exigia apenas a reincidência simples
para aplicação da fração imposta anteriormente. Desta forma, em relação aos
apenados que foram condenados por crime hediondo mas que são reincidentes
em razão de crimes comuns, não há percentual previsto, já que os percentuais
de 60% e 70% se aplicam aos reincidentes específicos de crimes hediondos ou
equiparados, não podendo a interpretação ser extensiva, uma vez que seria
prejudicial ao apenado. Assim, o juiz deve integrar a norma aplicando a analogia
in bonam partem, aplicando as porcentagens de 40% ou 50%, na forma do artigo
112, incisos V e VI, alínea “a”, da LEP, a depender do caso.

Já em relação a mulher gestante ou que for mãe ou responsável por crianças ou


pessoas com deficiência, poderá progredir em 1/8 da pena desde que o crime
não tenha sido cometido com violência ou grave ameaça a pessoa, seja primária
e ostente bom comportamento carcerário, não tenha cometido o crime contra
seu filho ou dependente, bem como não tenha integrado organização criminosa.

Após a fase de cumprimento do lapso temporal (requisito objetivo), passa-se a


verificação subjetiva da progressão, esse requisito é avaliado pela disciplina do
reeducando, a qual é essencial na Unidade Prisional e para o convencimento do
Juiz da Execução Penal. O bom comportamento do reeducando, poderá ser
avaliado pelo atestado de conduta carcerária, feito pelo diretor do presídio, bem
como, quando necessário, por parecer específico da Comissão Técnica de
Classificação, nos casos em que for conveniente, para que se analise assim a
concessão da progressão de regime prisional.

O cometimento de falta grave durante a execução da pena privativa de liberdade


vai interromper o prazo para a obtenção da progressão no regime de
cumprimento da pena, caso em que o reinício da contagem do requisito objetivo
terá como base a pena remanescente.

Outra forma de avaliação do apenado para concessão de progressão de regime,


antes obrigatório e atualmente faculdade do Magistrado, é a realização do exame
criminológico. O exame criminológico pode ser realizado quando do ingresso do
reeducando na Unidade Prisional, em observância ao princípio da
individualização da pena, em que o objetivo do exame criminológico é a garantia
de que a individualização executória da pena será observada e a sua realização
dependerá de atos, fundamentados, do juiz da execução penal em casos
específicos, vez que nestes casos o atestado de conduta não supre a
necessidade de avaliar o progresso e o merecimento do condenado, de forma
concreta. A realização do exame criminológico dependerá de decisão motivada,
diante de sua não obrigatoriedade.

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