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TEORIAS DE DETERMINAÇÃO DA PENA

Para determinar a medida da pena, é necessário aplicar o artigo 71º nº1 do CP. Este artigo defende que a
determinação da pena se relaciona com a culpa e com as exigências de prevenção geral e especial. Há várias
teorias quanto à forma como se relacionam a culpa e a prevenção geral e especial.

Teoria do Valor de Posição

Segundo esta teoria, a determinação da pena tem dois momentos, sendo que para o primeiro, de escolha da
pena, devem apenas ser consideradas a prevenção geral positiva e a prevenção especial positiva. No segundo
momento, de determinação concreta da pena, apenas deve ser considerada a culpa. Nesta teoria tem a
vantagem de não violar o princípio da proibição da dupla valoração, separando os momentos de
consideração da culpa e da prevenção. Esta teoria é criticada na medida que na determinação concreta da
pena não são consideradas as exigências de prevenção como regula o artigo 71º, e ainda porque essa
determinação feita com base apenas na culpa, poderia resultar numa pena desadequada do ponto de vista
da proteção do bem jurídico (prevenção geral) e da reintegração do agente na sociedade (prevenção
especial) – artigo 40º nº1.

Teoria da Pena da Culpa Exata

A medida da pena resulta da medida da culpa. Corresponde a uma medida exata. As medidas de prevenção
apenas são tidas no sentido do seu relevo dentro do conceito da culpa. Esta teoria é criticada porque a culpa
não é suscetível de se traduzir numa medida exata, e ainda porque não é compatível com o disposto no artigo
71º, uma vez que a prevenção não é tida em consideração.

Teoria da Moldura da Culpa/Espaço Liberdade

A medida da pena deve ser fixada através de uma moldura de culpa, em que tanto o limite mínimo como o
limite máximo se adequam a esta. A medida exata da pena seria fixada pelas necessidades de prevenção
especial positiva. Esta teoria é criticada uma vez que coloca em 2º plano as considerações de prevenção,
contrariando o artigo 40º, contraria ainda a conceção da pena como pressuposto e limite da pena e não
valoriza a necessidade de prevenção geral positiva.

Teoria da Moldura de Prevenção

Seguindo esta teoria, que está de acordo com o artigo 71° e que se aplica no nosso ordenamento jurídico, a
culpa é pressuposto e limite da pena, isto é, não pode haver pena sem culpa e a pena não pode ultrapassar
a medida da culpa. A prevenção geral positiva origina uma moldura de prevenção, cujo limite mínimo está
de acordo com as exigências mínimas da tutela do bem jurídico no caso concreto e o limite máximo dá o
ponto ótimo de tutela dos bens jurídicos.

Por sua vez, a prevenção especial positiva define a medida concreta da pena, determinada dentro da moldura
de prevenção geral e de acordo com as exigências de socialização do agente.

Uma vez que nem sempre é fácil determinar concretamente a pena de acordo com estes elementos, o artigo
71º nº2 elenca um conjunto de exemplos padrão que podem funcionar a favor ou contra o agente.

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REINCIDÊNCIA – TEORIA

A reincidência é uma circunstância modificativa.

As circunstâncias modificativas são factos/pressupostos que se aplicam, que não dizem respeito ao tipo de
ilícito, ao tipo de culpa ou a punibilidade em sentido próprio, mas contendem para a maior ou menor
gravidade do crime como um todo e tem relevância para a determinação da pena. Podem ser agravantes,
elevando os limites da moldura penal, ou atenuantes, reduzindo os limites da moldura penal. Podem ainda
ser gerais, aplicando-se a qualquer crime, ou específicos/especiais, aplicando-se apenas a certos tipos legais.

Por fim, as circunstâncias atenuantes podem ainda ser ope legis, ou seja, estão previstas na lei e aplicam-se
automaticamente, ou ope judicis, determinadas através de uma valoração ao caso concreto, aferida pelo juiz.

A reincidência é uma circunstância agravante, geral e ope judicis.

Quando existem circunstâncias atenuantes e circunstâncias agravantes, deve ter-se em consideração


primeiro as atenuantes e depois as agravantes. Contudo, quando existe reincidência, devido a especificidade
deste instituto, esta é considerada primeiro em relação às circunstâncias atenuantes.

A reincidência esta prevista nos artigos 75º e 76º CP.

O facto de a reincidência constituir uma agravante justifica-se por motivo de culpa mais agravada do agente,
uma vez que já foi condenado, mas insiste em atuar em desconformidade com a ordem jurídica e também
por exigências acrescidas de prevenção, uma vez que poderá existir indícios de maior perigosidade do agente.

Para que se verifique a reincidência tem de estar preenchidos determinados pressupostos formais e
materiais.

Pressupostos Formais:

• Prática de crimes dolosos – a reincidência apenas acontece quando os crimes praticados são dolosos.
Estes revelam uma atitude de maior indiferença do agente em relação ao dever ser jurídico penal.
• Os crimes tenham sido punidos com prisão efetiva superior a 6 meses – os crimes aferidos para a
verificação da reincidência tiveram pena de prisão efetiva ou de permanência na habitação superior
a 6 meses.
• Condenação do crime anterior transitada em julgado – para que se verifique reincidência, no
momento em que ocorre o novo crime, a sentença do primeiro tem de ter transitado em julgado.
• Entre a pratica do crime anterior e do novo crime não podem ter passado mais de 5 anos – apenas
há reincidência quando ambos os crimes são cometidos num intervalo de tempo de 5 anos. Se passar
mais do que 5 anos entre os crimes, não há reincidência. O tempo em que o arguido esta privado de
liberdade, em cumprimento de uma medida de coação, medida de segurança ou pena, não conta
para os 5 anos.

Pressuposto Material:

• Consiste na censura do agente por não ter respeitado a condenação anterior, ou seja, por ter
desrespeitado a advertência solene do tribunal. Este desrespeito constituiu um indicio de culpa
agravada pelo agente.

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• E necessário que exista uma conexão intima entre o crime anterior e o crime reiterado, que deve
considerar-se relevante do ponto de vista da culpa. Exige-se uma conexão entre os crimes que pode
afirmar-se relativamente a factos de natureza análoga segundo os bem jurídicos violados, os motivos,
a espécie e a forma de execução.

Determinação da pena quando existe reincidência

1. O tribunal determina a pena concreta que caberia ao agente, não tendo em conta a reincidência. Isto
e necessário para perceber se o crime será punido com pena superior a 6 meses e para permitir a
operação presente no artigo 76º nº1 CP.
2. Calcular a moldura da reincidência. Segundo o artigo 76º nº1, o limite mínimo e elevado a um terço.
Ou seja, e somado ao mínimo legal, um terço da sua duração. O limite máximo mantem-se.
3. O tribunal determina a moldura concreta da pena, dentro da moldura da reincidência. Esta
determinação e feita de acordo com o artigo 71º. Aqui, uma vez que com a reincidência a culpa do
agente e acrescida, a medida concreta a determinar será mais elevada do que a pena da primeira
operação.
4. Tribunal compara a medida concreta da pena com a reincidência e a medida da pena sem a
reincidência. Esta agravação não pode exceder a medida da pena mais grave aplicada nas
condenações anteriores. Se o crime cometido anteriormente tiver uma pena de 3 anos, a agravação
entre a pena sem reincidência e a pena com reincidência do crime posterior não pode ser superior a
3 anos. a agravação não pode ser superior a pena do primeiro crime (ou a pena mais grave, no caso
de serem vários crimes anteriores).

5. Mencionar a aferição da existência de pena de substituição de acordo com o artigo 70º.

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CONCURSO DE CRIMES - TEORIA

De acordo com o artigo 30º CP o número de crimes de um concurso de crimes determina-se pelo tipo de
crimes cometidos ou pelo número de vezes que o tipo de crime foi preenchido pela conduta do agente. No
nosso ordenamento jurídico há dois tipos de concurso: concurso de crimes efetivo e o concurso aparente
legal ou de normas.

No caso interessa apenas o concurso efetivo de crimes.

Para que se verifique uma situação de concurso de crimes é necessário que o agente tenha cometido mais
do que um crime, antes de qualquer um deles transitar em julgado.

Nos concursos de crimes há uma situação especial de determinação da pena.

Teoricamente, há vários sistemas/soluções para resolver a questão do concurso de pena.

• Sistema de acumulação material

Determina-se para cada delito a pena a aplicar e soma-se aritmeticamente as penas dos vários delitos.

Vantagens deste sistema:

• Há um integral cumprimento das exigências de culpa e prevenção. A soma de todos os crimes


exprime o grau de culpabilidade geral, podendo ter maior ou menor grau de consideração das
necessidades de prevenção.
• Há um integral cumprimento da prevenção geral positiva, uma vez que mais crimes criam maior
alarme social, e a soma da totalidade das penas expressa essa prevenção.

Desvantagens:

• Coloca em causa o principio da socialização ou ressocialização do condenado. A soma aritmética das


penas pode implica penas de prisão muito elevadas, e até perpétuas, o que contraria a nossa CRP,
nomeadamente o artigo 30º nº1.
• Desrespeito pelo princípio da culpa. A culpa do agente pode não ser aferível através da soma
aritmética das penas.
• Graves problemas relativos a prevenção especial positiva, uma vez que penas muito elevadas podem
levar a que não haja qualquer hipótese de socializar o agente.
• Dificuldades na execução da pena. O sistema de acumulação material pode levantar diversos
problemas em termos de execução da pena, nomeadamente devido a diferenciação das penas, a
possibilidade de execução condicional de algumas, etc.

Sistema de pena única / pena de concurso

Estes sistemas rejeitam o processo de soma de penas, substituindo-o por um processo de pena única, com a
necessária valorização dos seus aspetos socializadores, de humanidade, procurando evitar as penas
perpétuas e resolver problemas de execução inerente ao sistema de acumulação material.

Dentro desta teoria, existem duas modalidades de pena:

Ø Sistema de pena unitária – os crimes concorrentes perdem a sua autonomia. Os crimes concorrentes
são analisados como se tratassem apenas de um só e o juiz faz funcionar os critérios da culpa e da
prevenção para efeitos de determinação da pena.
Neste sistema, perde-se a segurança e a certeza, uma vez que leva a um grande arbítrio.
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Aqui há o risco de passarmos de um direito penal de facto para um direito penal do agente.
Critica-se a impossibilidade de recurso relativamente a cada infração. O recurso estaria assegurado,
só que apenas em relação a cada circunstancia e a sua valoração no âmbito da pena aplicada ao
agente.
Ø Sistema da pena conjunta – tem em consideração cada uma das infrações penais, determinando a
sua especifica pena para depois estabelecer uma pena única resultante. Esta pena única não resulta
da soma aritmética de todas as penas, mas de uma valoração autónoma global que leva à pena final
aplicada ao delinquente.

Esta teoria tem dois subsistemas:

1. Subsistema da absorção pura – o aplicador devera averiguar qual o crime a que será aplicado a pena
mais grave e, deste modo, apenas aplicar esta ao agente em causa.

Segundo este sistema, o juiz olha para a factualidade cometida e vai apenas punir o agente pelo crime mais
grave que este praticou.

Críticas:

• Esta teoria constitui um incentivo à prática de delitos, na medida que independentemente do


número e dos crimes praticados, o delinquente apenas será punido com a pena mais grave aplicada
aos delitos praticados.
• Há um obvio desequilíbrio entre as necessidades de prevenção geral e de socialização, dando
demasiado valor a ideia de socialização do delinquente, em detrimento das necessidades de
prevenção geral.

2. Subsistema da exasperação – a punição do concurso de crimes será realizada em função da moldura


penal do crime mais grave, devendo a pena concreta ser agravada por força da pluralidade de crimes.

Aqui, o juiz vai olhar para a moldura penal mais grave e fazer funcionar os restantes crimes como fatores de
agravação.

Críticas:

• Desequilíbrio entre a ponderação das necessidades preventivas gerais e as finalidades de prevenção


especial positiva.

Sistema do o. j. Português – SISTEMA PENA ÚNICA ATRAVES CÚMULO JURIDICO

O nosso ordenamento jurídico adota um sistema de pena única realizado através de um cúmulo jurídico.

As regras do concurso de crimes estão presentes no artigo 77º CP.

Neste sistema são considerados, em conjunto, os factos e a personalidade do agente.

O processo de determinação da pena, através deste sistema tem 3 momentos. O primeiro consiste na
determinação da pena concreta aplicada a cada um dos crimes isoladamente considerados, através do
processo de determinação de pena previsto no artigo 71º. Quanto às fases de determinação desta pena,
apenas se realiza a determinação da pena aplicável e da pena aplicada, não se aplicando aqui a fase da
escolha da pena.

No segundo momento, o julgado constrói a moldura penal do concurso, sendo que tem como limite máximo
a soma das penas aplicáveis aos vários crimes, sem ultrapassar os 25 anos, tratando-se de pena de prisão e
os 900 dias, em caso de pena de multa.
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Depois de determinada a moldura da pena conjunta do concurso, o tribunal determina a pena concreta a
aplicar, de acordo com o artigo 71º e ainda com o artigo 77º nº1, parte final. Assim, considera-se os factos e
também a personalidade do agente. Esta consideração permite o respeito pelo princípio da proibição da
dupla valoração e ainda permite aferir a carreira criminosa do delinquente, no sentido de perceber se há
uma habitualidade na pratica de crimes ou se e apenas um agente pluriocasional que por circunstâncias da
vida praticou crimes sem ligação entre si. A habitualidade na pratica de crimes implica uma maior
necessidade de prevenção.

Quanto ao conjunto de crimes e ao sistema de pena única realizada através de um cumulo jurídico, importa
referir as situações em que as penas parcelares são de espécie diferente. Ou seja, quando dos crimes
individualmente considerados resulta penas de prisão e penas de multa. Relativamente a forma como se
consideram estas penas, há divergência doutrinal.

Maria João Antunes defende que a pena de multa de converte em pena de prisão do artigo 49º nº1 CP, sendo
que o sujeito pode pagar a multa a todo o tempo. Convertendo a multa em pena de prisão, chegamos a uma
pena final unitária que respeita as exigências do artigo 77º nº3.

Outros autores, incluindo o prof. Conde Monteiro defendem que e necessário manter a diferente natureza
das penas na pena única final, criando-se um cumulo jurídico autónomo para penas de multa e outro cumulo
jurídico para a pena de prisão.

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CONCURSO DE CRIMES – PRÁTICA

No nosso ordenamento jurídico existe a figura do concurso de crimes. Concurso de crimes, previsto no artigo
77º, consiste na prática de mais do que um crime, antes de qualquer um deles transitar em julgado.

De acordo com o artigo 30º CP, o número de crimes num concurso determina-se pelo número de crimes
cometidos ou pelo numero de vezes que o tipo de crime foi preenchido pela conduta do agente. No nosso
ordenamento jurídico há dois tipos de concurso: concurso de crime efetivo e concurso aparente legal ou de
normas.

No caso interessa apenas o concurso efetivo de crimes.

Nos concursos de crimes há uma situação especial de determinação da pena. Teoricamente, há vários
sistemas e modalidades de resolução de casos de concurso de crimes, designadamente: sistema de
acumulação material, sistema de pena única, sendo que esta se divide em sistema de pena unitária e sistema
de pena conjunta. Este último ainda se subdivide em subsistema da absorção pura e subsistema de
agravação.

No nosso ordenamento jurídico, no artigo 77º nº1, está consagrada a teoria da pena única realizada através
de um cúmulo jurídico. Assim, a primeira operação a realizar para determinar a pena concreta do concurso
de crimes é determinar a pena concreta de cada um dos crimes isoladamente considerados.

Para isso, aplicamos 2 das três fases de determinação da pena. A última fase não se aplica, uma vez que a
aferição da pena de substituição apenas acontece em relação à pena final do concurso.

Assim, relativamente aos vários crimes, vamos determinar a pena aplicável e de seguida, a pena
concretamente aplicada.

Para aferir a pena aplicável, importa referir o princípio nullum crime sine lege e o facto de os crimes, assim
os as respetivas penas, para serem considerados como tal, têm de estar tipificados na lei.

Aqui e ainda necessário ter em consideração a existência ou não de circunstâncias modificativas. As


circunstâncias modificativas são factos/pressupostos que não dizem respeito ao tipo de delito, ao tipo de
culpa ou à punibilidade em sentido próprio, mas que contendem para uma maior ou menor gravidade do
crime como um todo, e têm relevância para a determinação da pena.

Assim, os tipos legais de crime dão a moldura pena aplicável. Depois disto, é necessário verificar a pena
aplicada e para tal, de acordo com os artigos 40º, 71º nº1, é necessário ter em consideração a culpa e as
necessidades de prevenção.

Existem diversas teorias relativas à forma como estes elementos podem determinar a pena aplicável,
nomeadamente a teoria do valor de posição, a teoria da culpa exata, a teoria da moldura da pena e a teoria
da moldura de prevenção. As duas últimas teorias são as mais aceites, sendo que no nosso ordenamento
jurídico se aplica a teoria da moldura de prevenção, de acordo com o artigo 71º.

De acordo com esta, a culpa é o limite e pressuposto da pena, ou seja, não há pena sem culpa e a pena não
pode ultrapassar a medida da culpa.

A prevenção geral positiva origina uma moldura de prevenção da pena, cujo limite mínimo esta de acordo
com as exigências mínimas de tutela do bem jurídico no caso concreto e o limite máximo corresponde ao
ponto ótimo de tutela de bens jurídicos.

Por sua vez, a prevenção especial positiva define a medida concreta da pena determinada dentro dessa
moldura de prevenção e de acordo com as exigências de socialização, do agente. Alem disto, devem ainda
ser utilizados os elementos presentes no artigo 71º nº2, que podem funcionar a favor ou contra o agente e
que ajudam na determinação concreta da pena.
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Seguindo estes passos, nos diversos crimes, concluímos que para o crime X a pena é X, para o crime Y, a pena
é Y, etc.

Depois de determinadas as penas individuais dos crimes em concurso, é necessário construir a moldura do
concurso. As regras para tal construção encontram-se no artigo 77º nº2. De acordo com este, o limite mínimo
é definido pela pena máxima aplicada aos crimes individualmente. O limite máximo é a soma das penas de
todos os crimes, não podendo exceder os 25 anos na pena de prisão e os 900 dias na pena de multa.

Depois de determinada a moldura da pena conjunta do concurso, o tribunal determina a pena concreta do
concurso de acordo com o artigo 71º e com o artigo 77º nº1, parte final. Assim, considera-se os factos e
também a personalidade do agente. Esta consideração permite o respeito pelo principio da proibição da
dupla valoração e aina permite aferir se há uma habitualidade na pratica de crimes, ou se é apenas um agente
pluriocasional que por circunstancias da vida praticou crimes sem ligação entre si.

A habitualidade na pratica de crimes implica uma maior necessidade de prevenção.

Ponderados os critérios do artigo 71º e 77º n1, obtemos a medida concreta do concurso.

O ultimo momento é o da substituição da pena de acordo com os critérios gerais que já conhecemos,
previstos no artigo 71º-

Quanto o concurso de crimes, não se pode deixar de referir as situações em que as penas parcelares são de
espécie diferente, ou seja, quando nos crimes individualmente considerados se aplicam penas de prisão e
penas de multa.

Relativamente à forma como se consideram estas penas, há divergência na doutrina. Maria João Antunes
defende que a pena de multa se converte em pena de prisão, de acordo com o artigo 49º nº1 CP, sendo que
o sujeito pode pagar a multa a todo o tempo. Convertendo a pena de multa em pena de prisão, chegamos a
uma pena final unitária que respeita as exigências do artigo 77º nº3.

Outros autores, como Conde Monteiro, defendem que é necessário manter a diferente natureza das penas
na pena única final, criando-se um cumulo jurídico autónomo para penas de multa e outro cumulo jurídico
para a pena de prisão.

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REINCIDÊNCIA - PRÁTICA

O caso apresentado trata de reincidência. A reincidência é uma circunstância modificativa. As circunstâncias


modificativas são factos/pressupostos que se aplicam e que não dizem respeito ao tipo de ilícito, ao tipo de
culpa ou à punibilidade em sentido próprio, mas contendem para maior ou menor gravidade do crime como
um todo, e tem relevância para a determinação da pena.

Podem ser agravantes, elevando os limites da moldura penal, ou atenuantes, diminuindo esses limites.
Podem ainda ser especiais, ou seja, aplicáveis a tipos legais específicos, ou gerais, aplicáveis a qualquer tipo
legal.

Por fim podem ser ope legis, aplicando-se automaticamente por força de lei, ou ope judicis, estando
dependentes de um juízo valorativo por parte do juiz.

A reincidência é uma circunstância agravante, geral e ope judicis.

Nos casos em que existem circunstâncias atenuantes e agravantes, são tidas em consideração primeiro as
atenuantes e depois as agravantes. Contudo, quando há reincidência e circunstâncias atenuantes, é esta que
é considerada primeiro.

A reincidência está presente nos artigo 75º e 76º do CP e acontece quando há mais do que um crime realizado
pelo agente sem que entre estes exista uma decisão condenatória.

O facto de a reincidência constituir uma agravante justifica-se por motivos de culpa mais agravada, uma vez
que o agente já foi condenado, mas não respeitou a solene advertência do juiz, incita na condenação, e insiste
em atuar em desconformidade com o ordenamento jurídico. Alem disso, também se justifica por exigências
acrescidas de prevenção, uma vez que poderá existir indícios de maior perigosidade do agente.

Para que se verifique a existência de reincidência, é necessário que estejam preenchidos requisitos formais
e requisitos materiais.

Nos requisitos formais temos a exigência de os crimes serem dolosos (não podem ocorrer por negligencia) e
têm de ser punidos com pena efetiva superior a 6 meses.

Alem disto, tem de haver o transito em julgado da factualidade praticada e entre ambos os crimes não pode
ter ocorrido mais do que 5 anos, sendo que o tempo que o agente esteve privado de liberdade como
consequência de uma condenação, não é contado nestes 5 anos. Nesse período, a contagem do tempo
suspende-se.

O pressuposto material consiste num juízo de censura do agente por não ter respeitado a solene advertência
do tribunal incita na condenação anterior. Para tal, é necessário que haja uma conexão intíma entre os
crimes. Esta conexão afere-se valorando os bens jurídicos violados, os motivos, a forma e o modo de
execução.

Depois de preenchidos os pressupostos e confirmada a existência de reincidência, é necessário o cálculo da


medida concreta da pena. Para tal começamos num primeiro momento a determinar a pena sem
reincidência.

Para concretizar esta determinação, é necessário seguir os 3 passos de determinação da pena concreta.

Quanto ao primeiro passo, de determinação da pena aplicável, no nosso ordenamento jurídico vigora o
princípio nullum crimen sine lege, por isso, todos os tipos legais de crime, assim como as respetivas molduras
de pena estão tipificadas. Assim, a moldura penal aplicave é X.

Passando para a 2ª fase de determinação da pena concretamente aplicada, é necessário tem em


consideração a culpa e as exigências de prevenção, de acordo com os artigos 40 e 70º nº1. Existem varias

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teorias relativas à forma como estes elementos podem determinar a pena aplicável, nomeadamente a teoria
do valor de posição, a teoria da culpa exata, a teoria da moldura da culpa e a teoria da moldura de prevenção.

As últimas duas teorias são as mais aceites no nosso ordenamento jurídico, sendo que iremos aplicar a teoria
da moldura de prevenção.

Esta teoria, que está de acordo com o artigo 71º, a culpa é pressuposto e limite da pena, isto é, não pode
haver pena sem culpa e a pena não pode ultrapassar a medida da culpa. A prevenção geral positiva origina
uma moldura de prevenção, em que o limite mínimo está de acordo com as exigências mínimas de tutela do
bem jurídico no caso concreto e o limite máximo dá o ponto ótimo de tutela dos bens jurídicos.

Por sua vez, a prevenção especial positiva define a medida concreta da pena determinada dentro da moldura
de prevenção e de acordo com as exigências de socialização do agente.

Alem disto, devem ainda ser utilizados os elementos presentes no artigo 71º nº2, que podem funcionar a
favor ou contra o agente, e que ajudam a determinar a medida concreta da pena.

Por último, há a ase de escolha da pena, em que o juiz afere se não existe uma pena de substituição a ser
aplicada.

Assim, a pena final sem reincidência é X. Esta apuração é importante, porque nos dá a certeza que o
pressuposto de 6 meses de prisão efetiva está preenchido e permite-nos num momento posterior do cálculo
da pena de reincidência, aferir a agravação existente.

Depois de calculada a pena sem reincidência, importa agora calcular a moldura da reincidência (2º
momento). Para tal, o limite mínimo da moldura é elevado em 1/3, e o limite máximo fica inalterado.

No 3º momento, o tribunal determina a medida concreta da pena, dentro da moldura de reincidência. Esta
determinação é feita de acordo com o artigo 71º. Uma vez que o agente não respeita a solene advertência
do tribunal, incita na condenação anterior, este tem uma culpa agravada e uma maior necessidade de
prevenção, o que leva, naturalmente a uma pena concreta mais elevada. Assim, a medida concreta da pena
com reincidência é X.

Por fim, num 4º momento é necessário comparar a pena concreta sem a reincidência e a pena concreta com
reincidência, uma vez que de acordo com o artigo 76º nº1, última parte, a agravação entre uma pena e outra
não pode ser superior à pena do 1º crime praticado (ou a pena mais grave dos crimes anteriormente
praticados, caso seja mais do que um).

Para terminar, teríamos a aferição da existência de pena de substituição de acordo com o artigo 70º.

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