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Mariana Fernandes

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DIREITO PENAL III – AULAS PRÁTICAS (Ana Pais)

ART.40º CP- é uma norma fulcral:

o Nº1
 Diz respeito ás finalidades das penas e medidas de segurança. A ideia
distinta é a seguinte: as penas têm um pressuposto como culpa, as
medidas de segurança têm como pressuposto a perigosidade criminal.
 Quanto ás finalidades, as penas visam a proteção de bens jurídicos e a
reintegração do agente na sociedade. A proteção de bens jurídicos
reconduz-se á doutrina da prevenção geral positiva ou de integração. O
que significa dizer que uma pena tem uma finalidade preventiva? A
pena é aplicada tendo em vista evitar o cumprimento futuro de crimes.
Esta ideia pode subdividir-se em prevenção geral ou especial. Qual
a diferença?
Pode dirigir-se concretamente ao agente que cometeu o facto
(especial) ou a toda a sociedade (geral).

Dentro da prevenção geral há uma subdivisão:


- Negativa (ou de intimidação) - ideia de utilizar a pena como um
exemplo, mostrar a toda a comunidade o que pode acontecer se
cometerem aquele crime; no entanto, não é esta a opção acolhida pelo
nosso CP, uma vez que esta opção leva a uma agravação das penas
que não termina nunca;
- Positiva (ou de integração) - esta é a opção acolhida no nosso
ordenamento penal. Defende que a pena deve ser aplicada tendo em
vista evitar o cometimento futuro de crimes por parte de toda a
comunidade, para reafirmar a confiança comunitária na validade e
eficácia da norma violada com a prática do crime. Esta teoria reconduz-
se á previsão do art.40º/1/primeira parte porque os bens jurídicos são
protegidos pelo direito penal através de normas incriminadoras e, sendo
estas postas em causa quando é praticado um crime, a pena servirá
para repor a vigência das mesmas.
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“Estabilização contra fáctica” - estabilizar a norma contra factos


criminosos. Então é necessário estabilizá-la apesar do facto praticado.

E também dentro da especial há essa subdivisão:


- Negativa (ou de inoculização) – evitar o cumprimento futuro de crimes
por parte do agente. A prevenção da reincidência é a ideia da
prevenção especial negativa. Inoculizar significa tornar inoculo, ou seja,
tornar inofensiva, neutral. A ideia de tornar o agente inofensivo era uma
ideia de que o agente é um doente social e, portanto, deve ter um
tratamento – doutrina das batas brancas.
- Positiva (ou de socialização) – tem em vista evitar o cometimento futuro
de crimes por parte do próprio delinquente (por isso se chama também
prevenção da reincidência), procurando atingir este objetivo através de
uma execução da pena orientada para a reintegração do agente na
sociedade (40º/1/segunda parte CP).

 Quanto ás penas, a finalidade primária é a finalidade da prevenção


geral positiva.
A finalidade secundaria é a finalidade da prevenção especial positiva.

 Quanto ás medidas de segurança, estas visam a mesma coisa que as


penas, mas do ponto de vista diferente. A ideia é a perigosidade e isto
liga-se ao receio de que o agente venha a cometer factos da mesma
espécie (art.91º/1/in fine CP). A finalidade primária passa a ser a
prevenção especial positiva e a finalidade secundária passa a ser a
finalidade da prevenção geral positiva.

o Nº2

Temos aqui consagrado a culpa como limite máximo da pena. Além disso,
a culpa é um pressuposto da pena, o que significa que, entre nós, a culpa
tem essas duas funções em relação á pena. É pressuposto porque não há
pena sem culpa e é limite máximo da pena.
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Entre nós, vale o principio da culpa na sua vertente unilateral (principio da


unilateralidade da culpa), segundo o qual não há pena sem culpa, mas
pode haver culpa sem pena, uma vez que há um instituto – instituto da
dispensa de pena (art.74ºCP) – o agente é condenado, é proferida uma
sentença condenatória, mas se verificados os requisitos deste artigo não é
aplicada a pena. Por isso é que podemos dizer que a pena entre nós não é
fundamento (porque se fosse fundamento, sempre que houvesse culpa,
havia pena) nem medida da pena (porque se a culpa apontar no sentido
da aplicação de dois anos de prisão significa que a pena não pode ficar
acima dos dois anos, mas pode ficar abaixo).

o Nº3

Está aqui previsto o principio da proporcionalidade das medidas de


segurança. Este principio está para as medidas de segurança como o
principio da culpa está para as penas. Este principio diz o que vai ser
determinante para a duração da medida de segurança. Esta, tem que ser
proporcional á gravidade do facto e á perigosidade do agente. Nas
medidas de segurança não lemos a palavra “crime”, porque não se pode
dizer que fora cometido um crime, uma vez que estamos a lidar com
inimputáveis- estamos aqui perante um “facto típico ilícito” (ou seja, se se
reconduz ou não a uma norma incriminadora).

o Penas Principais (aplicadas às pessoas singulares) - são a

pena de prisão e a pena de multa.

Uma pena para ser principal tem que ter duas características. São elas:

1- Estar prevista no tipo legal de crime.


2- Ser aplicada pelo juiz na sentença independentemente de qualquer
outra.

 A pena de multa pode aparecer num tipo legal de crime como pena de
multa alternativa ou como pena de multa autónoma. Como é que ela
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aparece a maior parte das vezes? Como pena de multa alternativa á


pena de prisão. Desde logo porque esse é um dos principio essenciais do
nosso sistema sancionatório – principio da preferência pelas sanções não
privativas da liberdade. Este principio reconduz-se ao art.70ºCP e tem
assento constitucional, pois decorre do art.18º/2 CRP. Além disso, funda-
se na ideia de que a pena de prisão constitui a ultima ratio da politica
criminal. Isto não significa que se aplique sempre a multa, sempre que
esta apareça como alternativa á prisão. Apenas falamos de uma
tendência de preferência. A pena de multa aparece como pena
autónoma sempre que é a única prevista como tipo legal de crime. No
CP é raro isto acontecer, pois é mais comum em leis extravagantes (ex.:
art.250º/1 CP).
A pena de multa deixou de aparecer como pena principal
complementar, ou seja, entre nós a pena de multa principal ou aparece
como alternativa ou autónoma, mas já não como complementar. A
multa é cumprida através de uma prestação pecuniária. Ora, era um
contrassenso que a pessoa fosse presa e ainda tivesse que efetuar uma
prestação pecuniária, uma vez que a pessoa se encontra impedida de
realizar o seu trabalho, segundo o qual aufere os seus rendimentos para
pagar a multa.

NOTA: O capitulo VI do CP refere-se ás pessoas coletivas no art.90º-A (remeter


para o art.11º CP). Esta alteração fora introduzida em 2011. As pessoas coletivas
respondem criminalmente dentro do CP desde 2007, apenas. Mas mesmo assim,
não é responsabilidade das pessoas coletivas por todos os crimes previstos no
CP. No art.11º/2 CP estão explanados os crimes pelos quais as pessoas coletivas
podem ser responsabilizadas.

Quanto ás pessoas coletivas, só há duas penas principais, que são nos termos
do art.90º-A/1 CP, multa e dissolução. A pena de multa está prevista no art.90º-
B e a de dissolução no art.90º-F.

Quanto á pena de prisão, é uma pena:

 Única: não há atualmente formas diversificadas de prisão.


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 Simples: a condenação em pena de prisão não implica outros efeitos


jurídicos automáticos que vão para além da sua própria execução. (Ex.:
não é por estar privada da liberdade que a pessoa perde o direito de
votar)
 Com duração limitada ou definida: desde logo há limites legais mínimos
e máximos para a pena de prisão e dentro desses limites definidos pelo
legislador a sua duração concreta vai ser determinada pelo juiz
(sentença condenatória).
Quais os limites que o legislador impõe?
Art.41ºCP – nº1 (situação regra): limite mínimo de 1 mês e limite máximo
de 20 anos;
nº2 (exceção): limite máximo são 20 anos, mas nos casos
especificamente previstos na lei (na parte geral - situação do concurso
de crimes – 77º/2 CP; situação de pena relativamente indeterminada –
83º/2, 84º/2 e 86º/2 CP; na parte especial – situação do homicídio
qualificado – 132ºCP) pode ir até 25 anos;
Nº3: em caso algum podemos exceder os 25 anos por cada pena,
atenção. Quanto ao limite mínimo de 1 mês não há nenhuma exceção
nem desvio, apesar do que se refere no art.49º CP. Este artigo diz respeito
a situações quando o condenado não cumpre a pena de multa e
quando isto acontece converte-se a pena de multa em pena de prisão
para constranger o condenado a cumprir a pena de multa. Não é uma
exceção ao limite mínimo porque isto não é uma pena de prisão.
Isto não significa que não possamos classificar as penas de prisão como
o fazemos, através de 3 categorias:

- Penas de curta duração: penas até 1 ano;


- Penas de média duração: penas de 1 até 5 anos;
- Penas de longa duração: penas maiores de 5 anos;

Quanto á pena de multa, pode aparecer no tipo legal de crime como


alternativa ou autónoma. Qual a critica que se pode dirigir a esta pena?
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É muito menos eficaz para quem tem muito, quem tem pouco sente
muito mais – há aqui um problema de desigualdade.
Surge assim o sistema dos dias de multa, dividido em três operações:
1ª operação: determinação dos dias de multa – art.47º/1 – mínimo: 10
dias; máximo: 360 dias.
2ª operação: fixação do quantitativo diário – art.47º/2 – mínimo: 5€;
máximo: 500€.
3ª operação: fixação do prazo e condições de pagamento.

Nota: artigo 90º- B/5 – para as pessoas coletivas o limite mínimo é de100€
e o máximo de 10.000€.

Vantagens da pena de multa:

o Diminuição de custos para o Estado;


o Diminuição das taxas de ocupação das penitenciárias;

Natureza pessoalíssima da pena de multa: a pena de multa não é um direito de


crédito. Se outra pessoa pagar a pena de multa pelo condenado, isso não vai
afetar o condenado em si, e a pena de multa não tem a finalidade que devia
ter – finalidade preventiva.

127ºCP – nº1: a responsabilidade criminal extingue-se com a morte porque não


há aqui um direito de crédito.

Porque é que se fala que a pena de multa é “pessoalíssima”?

1. Não pode ser paga por um terceiro;


2. Não pode responder pelo pagamento a herança (art.127º/1);
3. Não pode ser objeto de contrato de seguro;
4. O seu pagamento não se pode efetivar por via de doação ou outro
negócio afim.

O incumprimento de tudo isto dá lugar à prática de um crime – crime de


favorecimento pessoal (367º/2 CP). Tudo isto se funda no principio da
intransmissibilidade da responsabilidade criminal (30º/3 CRP).
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o Penas de substituição – características:


i. São aplicadas em vez da pena principal;
ii. Supõe a previa determinação da medida concreta da pena principal;

 TIPOS:
A. Penas de substituição em sentido próprio:
- Têm natureza não privativa da liberdade ou não detentiva;
- Supõe a prévia determinação de uma pena principal de prisão;
São elas:
 art.45º - pena de multa (substitui penas de prisão até 1 ano);
 art.46º - pena de proibição do exercício de profissão, função ou atividade
(substitui penas de prisão até 3 anos);
 art.50º e ss - pena de suspensão da execução da pena de prisão (substitui
penas de prisão até 5 anos);
 art.58º e 59º - pena de prestação de trabalho a favor da comunidade
(substitui penas de prisão até 2 anos).

B. Pena de substituição da pena de multa principal:


 Admoestação – art.60º (Nota: este artigo não se confunde com o art.48º - é
uma forma de pagamento da pena de multa).

Característica: supõe a prévia determinação da pena de multa


principal.
O que é uma admoestação? Um sermão pelo juiz na audiência
do julgamento.
Se é uma repreenda do juiz ao condenado, como é que isto se
compatibiliza com o direito ao recurso? Para haver uma
compatibilização, em nome do principio “ne bis idem” previsto no
art.29º/5 CRP, é necessário que se desista do recurso ou que se
espere pela decisão.
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C. Penas de substituição em sentido impróprio - Lei 94/2017 (já não


estão previstas no Código):
Características:
1. Natureza privativa da liberdade;
2. Supunham a prévia determinação de uma pena principal de prisão.

Que penas eram estas?

 Prisão por dias livres – prisão de fim de semana; a pessoa passava


48h no estabelecimento penitenciário.
 Regime de semidetenção – a pessoa trabalhava durante o dia e
ia dormir á cadeia.
 Regime de permanência na habitação - privação de liberdade no
domicilio acompanhado de vigilância eletrónica.

Esta lei eliminou as duas primeiras, mas manteve o regime de


permanência na habitação no art.43º e 44º, não como pena de
substituição, mas como forma de execução da pena de prisão.

o Penas acessórias

São penas que se aplicam conjuntamente com a pena principal ou de


substituição.

Podemos ter numa mesma sentença uma pena principal, uma pena de
substituição e uma pena acessória.

Aparecem previstas quer na parte geral (66º, 67º, 69º, 69º-B e 69º-C) – são
aplicadas ao tipo de crime a que são referenciadas, quer na parte especial do
CP (152º/4 e 6, 154º-A, 246º, 346º e 388º-A) – passiveis de aplicação a qualquer
crime.

Nota: no artigo 65ºCP, remeter para o artigo 30º/4 CRP – onde está prevista a regra da
não automaticidade da regra das penas, ou seja, o efeito da pena não é automático,
ele resulta de uma decisão do juiz.
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 Pressupostos para que possamos estar perante uma pena acessória e


não um mero efeito da pena:
1. É necessário que, primeiro, a pena tenha como pressuposto a culpa do
agente;
2. A pena tem de ser referida ao facto concretamente praticado pelo
agente;
3. A pena é limitada no tempo, no sentido em que é fixada pelo juiz entre
um limite mínimo e um limite máximo fornecidos pelo legislador.
4. As penas acessórias cumprem uma função complementar no sentido em
que a sua aplicação se justifica por existirem específicas exigências de
prevenção no caso concreto que importa acautelar.
 Art.152ºCP- exemplo do crime de violência doméstica.

Estes pressupostos são cumulativos, ou seja, para que estejamos perante uma
pena acessório é necessário que estejam previstos todos estes pressupostos.

 ARTIGO 69º-A – não é uma verdadeira pena acessória na ótica da Dr.ª


Maria João Antunes. Qual foi a ideia do legislador ao trazer esta norma
para o CP? Por razões de economia processual e celeridade, prevê-se a
possibilidade de o agente ficar inibido de entrar como herdeiro para a
sucessão.
Esta não é uma verdadeira pena acessória na medida em que não está
limitada no tempo, não pressupõe a culpa do agente e não se aplica
por ter como objetivo finalidades preventivas. Estamos então perante um
efeito de condenação, não um efeito automático.

 ARTIGO 69º-B e 69º-C - ambas se destinam á aplicação de penas


acessórias a crimes de natureza sexual.
Criticas:
1. Estas normas, fazendo sentido, não fazem sentido na parte geral,
porque a parte geral aplica-se a qualquer tipo legal de crime e assim
sendo, estas penas deviam estar na parte dos crimes sexuais (parte
especial) como estavam antes de 2015.
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2. Quanto aos limites, estas duas normas preveem limites muito elevados
(2 a 20 anos). Com limites desta natureza, a certa altura, deixa de ter
justificação politico-criminal, deixa de ter sentido.
3. Nº2 de cada uma das normas – casos em que a vitima é menor – o
legislador redige estes números de uma forma que parece indiciar
automaticidade. Não parece que é o juiz a decidir se se aplica ou
não a pena acessória, parece que é de aplicação automática –
viola-se o principio constitucional e legal (30º/4CRP e 65ºCP).

o PROBLEMA DA DETERMINAÇÃO DA MEDIDA DA PENA:

As fases ou operações de determinação da pena são três:

1ª fase - operação de determinação da moldura penal aplicável: o juiz investiga


e determina a moldura penal aplicável ao caso concreto, ou seja, o que se
busca aqui é a medida legal ou abstrata da pena (pena aplicável).

O que é que o juiz faz nesta operação? Decidir qual o tipo legal de crime que
se aplica ao caso, sendo que esse tipo pode ser fundamental, privilegiado ou
qualificado. Se o tipo nos dá os dois limites (mínimo e máximo) tudo bem; se não
dá temos que ir á parte geral.

Quanto ás circunstâncias modificativas – são pressupostos ou conjuntos de


pressupostos que não contendem com o tipo de ilícito nem com o tipo de culpa,
mas que contendem antes com o facto compreendido como um todo e que
produzem alterações na moldura legal aumentando ou diminuindo os limites
desta. Se aumentam pelo menos um dos limites da moldura são circunstâncias
modificativas agravantes; se diminuem um ou ambos os limites, diz-se
circunstância modificativa atenuante. Se se aplica a qualquer tipo de crime, a
circunstância modificativa é geral ou genérica; diz-se especial ou especifica se
se aplica a um determinado tipo legal de crime.

Exemplos: (1) a tentativa - consiste numa circunstância modificativa atenuante


e geral, uma vez que está prevista na parte geral e é aplicada a qualquer tipo
legal de crime (art.23º/2 CP).
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Quais os critérios para atenuar a pena? Remetemos para o art.73ºCP.

(2) a cumplicidade – quando há pluralidade de agentes, estes ou são autores


ou não são – são cúmplices (art.26ºCP). O artigo 27º/2 diz que a pena do
cúmplice é a do autor especialmente atenuada, de acordo com os critérios do
art.73ºCP.

(3) a omissão (art.10º/3) - a pena pode ser especialmente atenuante.

(4) regime dos jovens adultos - DL 401/82, de 23 setembro – até aos 21, entre os
16 e os 21, esta idade á data do facto praticado é merecedora de uma
atenuação de pena.

(5) circunstância modificativa agravante geral (a única prevista no CP) –


reincidência (75º e 76º CP)

Numa mesma situação se tivermos mais do que uma circunstância modificativa,


temos que distinguir:

o Circunstâncias modificativas da mesma natureza (todas atenuantes ou


todas agravantes) - segue-se o chamado sistema do funcionamento
sucessivo;
o Circunstâncias modificativas de natureza diferente – há que distinguir a
situação regra- primeiro agrava-se, depois atenua-se - e a situação de
exceção – vale no caso da reincidência, em que primeiro funcionam as
circunstâncias atenuantes e só depois a reincidência. Porquê? Porque o
instituto da reincidência tem um requisito – pena de prisão efetiva
superior a 6 meses, então primeiro tenho que atenuar porque posso
atenuar de tal forma que já não seja possível cumprir o requisito e deste
modo, já não existe um verdadeiro instituto.

Onde estão previstos os critérios de determinação da medida da pena?

Artigo 71º/1:

Nota: referir sempre estes critérios e modelo e explica-lo, ainda que de forma breve.

Os critérios de determinação da medida da pena previsto no at.71º/1 são a


culpa e as exigências de prevenção. Estes critérios relacionam-se de acordo
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com a teoria da moldura da prevenção que é a mais consentânea com uma


leitura conjugada dos artigos 71º e 40º do CP.

Esta teoria assenta nas seguintes premissas:

1ª começamos por considerar as exigências da prevenção geral positiva e


definimos aquela que seria a pena ideal se só fossem consideradas estas
exigências – este constitui o chamado ponto ótimo de tutela dos bens jurídicos.
A prevenção geral positiva dar-nos-á também indicação do quantum de pena
abaixo do qual se frustrariam por completo a expetativa comunitária, ou seja,
abaixo do qual não se cumpririam as exigências preventivo-gerais – este
constitui o chamado limiar mínimo de proteção do ordenamento jurídico. A
definição destes dois pontos permite formar dentro da moldura legal a
chamada moldura da prevenção que mais não é, hoje, do que uma moldura
de prevenção geral positiva dentro da qual a pena há-de ser fixada.

2ª dentro daquela moldura de prevenção geral, haverá que considerar o


critério da culpa que funcionará sempre e só como limite máximo da pena
conforme exposto no art.40º2 CP.

3ª no intervalo definido pela moldura da prevenção geral limitada pela culpa


irão intervir as exigências de prevenção especial positiva como critério de
determinação que em ultima análise, irá fixar o quantum exato de pena.

No art.71º/2 estão explanados os fatores de medida da pena que servem para


densificar/avaliar os critérios tanto a culpa como a prevenção e como tal, estes
fatores dizem-se ambivalentes porque o mesmo fator pode relevar quer para a
avaliação da culpa como para a avaliação das exigências da prevenção.
Contudo, esta ambivalência pode ser dupla, ou seja, os fatores podem ser
duplamente ambivalentes. Isto significa que o mesmo fator pode ter um efeito
agravante quando considerado ao nível da culpa e um efeito atenuante
quando considerado ao nível da prevenção e vice-versa.

No entanto, há um fator excecional previsto na alínea e) – “posterior a este” –


ele não pode relevar para efeitos de avaliação da culpa.
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No art.71º/2 CP – sublinhar “não fazendo parte do tipo de crime” – leva-nos para


o principio da proibição da dupla valoração. Este principio significa que o
julgador não pode valorar mais do que uma vez a mesma circunstancia,
genericamente. Mas este principio tem dois níveis relevantes e o que está aqui
em causa é apenas um deles. Num primeiro nível, significa que o juiz não pode
valorar uma circunstância que já tenha sido valorada pelo legislador no tipo
legal de crime – é este nível que está expresso neste artigo. Num segundo nível,
é o próprio juiz que noa pode valorar a mesma circunstancia duas vezes.
Quando é que isto acontece? Há 3 situações que vamos estudar em que há
este perigo: na determinação da pena de multa, na reincidência e no concurso
de crimes.

2ª fase - operação da determinação da medida concreta da pena: o juiz dentro


da moldura encontrada na operação anterior, vai determinar a medida
concreta da pena, ou seja, fixa o quantum de pena que vai ser aplicada ao
agente (pena aplicada ou pena concreta).

3ª fase - operação de escolha da pena: há ainda uma operação em que o


julgador escolhe a pena que vai ser efetivamente cumprida pelo agente, mas
esta é uma operação meramente eventual, porque pode nem sequer se
verificar, e a acontecer pode verificar-se em momentos cronologicamente
distintos: pode verificar-se logo no 1º momento nos casos em que o tipo legal de
crime prevê em alternativa pena de prisão ou pena de multa; pode verificar-se
num ultimo momento sempre que o juiz decida aplicar em concreto uma pena
principal que admita substituição e decidia substitui-la em que, terá que
escolher a pena de substituição.

Notas – conceitos rigorosos que são importantes no Direito Penal:

Pena aplicável – refere-se á moldura penal. VS. Pena concreta ou aplicada – resulta de uma
operação de determinação dentro da moldura.

Determinar – fixar uma pena. Nunca escolher, porque uma escolha dá opções concretas, o que
não acontece aqui. VS. Escolher – escolhe-se entre opções e quando é que o legislador nos dá
opções? Quando é possível em função da pena principal já determinada, escolher uma pena de
substituição; quando se escolha entres as penas principais (pena de prisão ou pena de multa);
quando temos que escolher uma pena acessória de entre um elenco de penas.
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CASO PRÁTICO 1:

A praticou um crime de furto simples (artigo 203.º do CP) em janeiro de 2018 e


está hoje a ser julgado.

1- Qual o critério de escolha da pena?

Art.203º/1: com pena de prisão ou pena de multa. Logo, tendo uma alternativa,
a primeira operação é a escolha da pena, art.70º CP, ou seja, o critério da
escolha da pena de prisão são as finalidades da punição. Isto remete-nos para
o art.40º/1 CP – finalidades preventivas (geral e especial positiva).

2- Suponha que o juiz escolheu aplicar pena de prisão.

2.1- Como se procede à determinação da medida concreta da pena?

1) determinação da moldura penal (1 mês a 3 anos)

2) determinação da medida concreta (art.71º/1 e 2): culpa e prevenção (falar


da teoria da moldura da prevenção)

Se a pena for inferior a 5 anos, é possível admitir pena de substituição. Se o juiz


não optar pela substituição tem que fundamentar a decisão (dever de
fundamentação negativa), se ele decidir substituir então voltamos à escolha da
pena, mas desta vez da pena de substituição (art.70º - prevenção).

- E se B tivesse sido apenas cúmplice do crime e tivesse, à data da prática dos


factos, 19 anos de idade?

Há duas circunstâncias modificativas atenuantes: jovens e cumplicidade. Como


são da mesma natureza, vamos ao art.73º e aplicamos o funcionamento
sucessivo. De o limite máximo for 3 anos, 1/3 corresponde a 1 ano, ou seja, reduzir
“de um terço” significa tirar então 1 ano, ou seja, ficamos com o máximo de 2
anos. Quanto ao mínimo ficamos na mesma, 1 mês (art.73º/1/a e b).

Agora vamos à 2ª circunstância atenuante e voltamos ao art.73º, quanto ao


mínimo permanece 1 mês, quanto ao máximo temos que reduzir de um terço.
Como 2 anos = 24 meses, 24 x 1/3 = 8 meses, subtraímos os 8 meses dos 24 inicias
e ficamos com um máximo de 16 meses.
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3- Como se determinaria a pena principal caso o juiz tivesse escolhido a


pena de multa?

1- Suponha que B tinha cumprido já um ano de prisão pela prática, em


novembro de 2015, de um crime de abuso de confiança (artigo 205.º do
CP). Tal circunstância assume algum relevo na determinação da pena de
prisão a que o arguido vai agora ser condenado?

Jan de 2018: cometeu o crime de furto (C2);

Nov de 2018: está hoje a ser julgado;

Nov de 2015: cumpre 1 ano de pena de prisão (C1), ou seja, de nov de 2015 a
jan de 2018 houve transito em julgado da sentença;

O passado criminoso tem relevo na determinação da pena?

Isto só releva no instituto da reincidência;

o REINCIDÊNCIA: Circunstância modificativa agravante geral (75º e 76º


CP).

Mas porque que se pune mais? Qual o fundamento? A pena anterior não foi
suficientemente advertente para o crime e, por isso, é especialmente
censurável, há maior censura, logo maior culpa. A ideia do legislador é que há
uma maior censura e o agente denota maior culpa e por isso deve agravar-se
a moldura. Mas isto não chega para classificar o agente como reincidente.

Ser reincidente em DP, não é o mesmo que no senso comum, porque não
significa repetir, há muitos requisitos.

PRESSUPOSTOS DA REINCIDÊNCIA (75ºCP):

• FORMAL:

1. DOLO: os dois crimes (anterior e reiterado) têm que ser dolosos: o crime é
doloso porque o legislador o prevê como doloso e não porque o agente
atua com dolo, assim, em regra, o crime é doloso, só não o é quando o
legislador prevê como tal (13º).
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2. PUNIDOS COM PENA DE PISÃO EFETIVA SUPERIOR A 6 MESES:(aplica-se aos


dois crimes) efetiva- 75º/4 a pena principal de prisão NÃO pode ter sido
substituída; NÃO se exige o cumprimento "como se demonstra pela
previsão do 75º/4" bastando a condenação em prisão efetiva.
3. CONDENAÇÃO TRANSITADA EM JULGADO: por um crime anterior no
passado, significa isto, que tendencialmente (porque há recursos
extraordinários) a decisão condenatória tornou-se imutável na ordem
jurídica, simboliza estabilidade na ordem jurídica este transito em julgado.
4. PRESCRIÇÃO DA REINCIDÊNCIA (75º/2): quanto tempo mediou entre um
crime e outro? O tempo conta-se entre a prática dos crimes.

No nosso caso, o problema não se põe porque não se passaram 5 anos, por isso,
não prescreveu visto que o prazo para tal é 5 anos.

Imagine-se que o crime 2 foi em nov 2018 e o crime 1 foi praticado em jan de
2012: assim já passaram 5 anos e 10 meses e por isso segundo o 75º/2 primeira
parte não puníamos com reincidência, contudo a segunda parte deste
preceito diz que não se pode considerar para os 5 anos o tempo que o agente
tenha estado a cumprir pena de prisão e, por isso, não passaram os 5 anos e
como tal, a reincidência não prescreveu no caso em analise.

• MATERIAL:

1. CONEXÃO ÍNTIMA ENTRE OS CRIMES (75º/1 ultima parte "se de acordo....")


por exemplo, pratica burla e depois um crime de natureza sexual não há
conexão porque o bem jurídico não é o mesmo, mas se for coação
sexual e violação já teríamos conexão intima entre uns crimes e só assim
existe um desrespeito pela advertência do crime.

No caso em análise, há conexão nos crimes, no furto há subtração e no abuso


de confiança não.

OPERAÇÕES DE DETERMINAÇÃO DA PENA EM CASO DE REINCIDÊNCIA:

1ª operação: Determinação da pena como se o agente não fosse reincidente-


operação duplamente instrumental porque serve para 2 efeitos/objetivos:

a) verificação do requisito formal da pena de prisão efetiva superior a 6 meses;


Mariana Fernandes
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b) permite o cálculo da agravação que se fará na 4ªoperação;

2ª operação: Determinação da moldura da reincidência ao abrigo do art.76º/1:


a moldura prevista no tipo só é alterada no seu limite mínimo.

3ª operação: Determinação da pena considerando já a reincidência.

4ª operação: Cálculo da agravação (pena da 3ª operação menos a pena da


1ª operação) para respeitar o limite legal referido no art.76º/1/segunda parte.

Aplicação destas operações ao caso concreto:

A 1ª operação implica fazer uma determinação da pena como se o agente


não fosse reincidente – duplamente instrumental, tem dois prepósitos, porque,
na verdade é uma ficção jurídica – 1) aferir se se preenche ou não os requisitos
do artigo 75º/ 2) permitir o cálculo da agravação.

Dentro da moldura artigo 203º (1 mês a 3 anos) - vamos passar para a


determinação da pena aplicável – 71º/1 e nº2 – atribui-se, por exemplo 2 anos.

A 2ª operação – note-se o artigo 76º/1 1ª parte– o limite máximo nos três anos
permanece inalterado; ao mínimo eleva-se de 1/3 – calcular 1/3 e somar (1/3
de 1 mês (30 dias) = 10 dias) – limite mínimo passa a ser 1 mês e 10 dias – 40 dias,
- moldura passa a ser de 40 dias a 3 anos.

3ª operação - Dentro da moldura já agravada vamos determinar a pena tendo


em conta que o agente é reincidente – nesta operação a pena a que vamos
chegar será mais elevada que na 1º operação. Critérios do artigo 71º/1 e
número 2 – o problema que poderia colocar-se (mas não se coloca) é o de
saber se aqui não há uma valoração dupla? Não estamos a violar o Princípio
da proibição da dupla valoração? Porque na 1º operação já consideramos os
mesmos critérios e agora vamos considerar novamente. 1ª operação é uma
operação meramente instrumental – serve para vermos se respeitamos um
requisito e depois para calcular a agravação; mas mais do que isso – nós aqui
Mariana Fernandes
2018/2019
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nesta operação estamos a avaliar o grau de desrespeito, a intensidade da


culpa – o grau de desrespeito manifestado pelo agente que é reincidente.
Nota: a consideração na 3ª operação dos critérios gerais de determinação da
pena a que já se atendeu na 1ª operação não implica a violação do princípio
da proibição da dupla valoração desde logo porque neste momento há um
fator de medida da pena que assume particular relevo e que tem a ver com o
grau de desrespeito pela condenação, condenações anteriores. Assim, quando
se valora o grau ou intensidade de violação de um dever não se corre o risco
de desrespeitar aquele princípio.

No nosso caso – 2 anos e seis meses é a pena adequada à prevenção e à culpa.

4ª operação – temos que calcular qual é a agravação e temos que definir qual
o limite dessa agravação. Isto é uma operação imposta pela lei.
Artigo 76º/1 2ª parte – “a agravação não pode exceder a medida da pena mais
grave aplicada nas condenações anteriores “. Como se calcula a agravação?
3ª operação – 1ºoperação – 2 anos e seis meses – 2 anos = 6 meses. A
agravação, no nosso caso é de 6 meses (em quanto é que este agente é mais
punido por ter desrespeitado condenação ou condenações anteriores).
De quanto foi a pena aplicada na condenação anterior? 1 ano. A agravação
que nós fizemos neste caso respeita o limite? Sim.

Imagine-se que teríamos chegado à pena sem reincidência um ano; e na


segunda operação a 2 anos e seis meses. Iríamos ter uma agravação de 1 ano
e seis meses – ultrapassa o limite de 1 ano.
Se violarmos o limite com a pena a que chegamos temos que a corrigir –
adaptar a pena da reincidência para ela respeitar o limite – assim mudaríamos
por exemplo a pena de reincidência para 2 anos – assim 2 – 1 = 1 já estaria
correto.
Limite Absoluto – não pode ser ultrapassado em caso algum, não há variáveis a
considerar.
Qual é o fundamento disto? O que motiva a obrigação de respeitar o limite dado
pela condenação anterior? Razões de proporcionalidade. Se não se tivesse o
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limite da agravação – estar-se-ia a permitir que um passado que até pode ser
de pouca relevância influenciasse de forma desproporcional a pena atual – o
que não pode ser – assim se uma condenação anterior foi menor servirá de
limite à condenação atual (exatamente porque a condenação atual, tendo em
conta a reincidência, tem que ser proporcional).

Note-se que se este instituto não estivesse formalmente previsto poderíamos


chegar à mesma solução. O que me ajuda a valorar mais ou menos os critérios
da culpa e da prevenção (71º/1) são os fatores do número 2. Note-se a alínea
e) e f) “falta de preparação para manter uma conduta lícita “ – estes dois
fatores de valoração são coincidentes com este instituto de reincidência – se
este instituto não estivesse formalmente previsto, o juiz poderia chegar à mesma
solução atendendo a estes dois fatores – ao fazer funcionar os critérios à luz dos
fatores do número 2 – acabaríamos por ter mais culpa, mais prevenção e a
pena era mais grave na mesma. Distinga circunstâncias modificativas de fatores
de medida da pena (pergunta exame) – atuam de forma diferente – as
circunstâncias – atuam ao nível da pena aplicável – atuam ou agravam os
limites da moldura nos termos que o legislador define; os fatores – são previstos
no 71º/2 numa lista exemplificativa – servem para avaliar a culpa e a
prevenção, os critérios do número 1 – isto significa que atuam ao nível da
determinação da medida concreta de pena – atuam já dentro da moldura (a
moldura já está definida, atuam na determinação da pena aplicada) – estes
fatores podem ser duplamente ambivalentes. Quem decide que fator agrava a
culpa, em que medida – é o julgador, toda a valoração dos fatores está nas
mãos dos julgador (sem nenhuma medida legal de atenuação ou agravação
como acontece no caso das circunstâncias modificativas).

CASO PRÁTICO 2:
Crime de dano – 212º e crime de ofensas à integridade física – 143º.
Situação que se reconduz ao concurso de crimes.
No caso de concurso nunca há reincidência porque não há trânsito em julgado
da condenação, ambos os crimes são julgados em simultâneo.
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O requisito que distingue em última análise o instituto da reincidência e do


concurso é o trânsito em julgado da condenação. É o marco temporal decisivo
para se decidir qual é o instituto que se vai convocar para a determinação da
pena.
Artigo 30º/1 – pode tratar-se de vários tipos de crime diferente – como o nosso
caso; ou pode ser várias vezes preenchido o mesmo tipo (por exemplo 2 crimes
de ofensa à integridade física).

Quais são os sistemas possíveis de determinação da pena em caso de


concurso?

1) Sistema da acumulação material – acumulam-se as duas penas. Há dois


crimes, há duas penas. Significa determinar as penas cabidas a cada
crime e cumpri-las – se tiver a mesma natureza cumpre sucessivamente
se, não tiver a mesma natureza e for possível (por exemplo uma pena de
prisão e uma pena de multa) aí pode cumprir simultaneamente. Este não
é um sistema que vigore entre nós. Note-se que este sistema pode
redundar na prisão perpétua (algo que o nosso sistema pretende evitar –
CRP); mais críticas: há dois problemas face às finalidades das penas
impostas pelo código e face a outro critério – o juízo de culpa deixa de
ter a função de limitar a pena, porque a pena não é única, são várias –
não se consegue cumprir a função que o princípio da culpa assume –
40º/2. Onde está a prevenção especial positiva? A ressocialização?
Problema de não permitir uma consideração adequada, real da
finalidade da prevenção especial positiva.
2) Sistema de pena única (alternativa ao sistema de acumulação material)
– pena única para todos os crimes. Pena única como?
a. 1ª alternativa – sistema de pena unitária – no sentido em que a
pena unitária é basicamente uma ficção jurídica. Por exemplo
tenho 5 crimes – vou ficcionar uma pena que cria uma ficção
jurídica que estes crimes são só um.
b. 2ª alternativa – sistema de pena única conjunta – vamos conseguir
chegar a uma pena única, mas a partir das várias penas concretas
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cabidas a cada crime – não vou ficcionar nada. Vou obter penas
para cada crime e partindo dessas vou contruir uma pena única,
conjunta. Como é que isto se pode fazer? 3 métodos:
i. Princípio da exasperação – imagine-se o crime 1 com
moldura 8 a 16 anos; crime 2 – moldura 1 mês a 3 anos – se
o princípio fosse este tem por base a pena aplicável –
moldura mais grave. O juiz vai atender à moldura mais
grave (8-16).
ii. Princípio da absorção – tem por base a pena aplicável mais
grave imagine-se que para um crime chega-se à pena de
12 anos e ao outro à pena de 3 anos – a pena mais grave
absorve a pena mais leve.
Desconsideram a autonomia de cada crime.
iii. Princípio do cúmulo jurídico – sistema de pena única, mas
pena única que não desconsidera a autonomia de cada
crime, pelo contrário, é uma pena única conjunta,
considera todos os crimes e penas que entram para a pena
conjunta – mas não aplica como pena única conjunta a
pena aplicada mais grave; é um sistema específico da
determinação da pena única conjunta segundo o método
do cúmulo jurídico que consiste em:
(vejam-se as operações)
1) Determinação da pena concreta cabida a cada crime, de acordo com
os critérios gerais do artigo 71º.
2) Construção da moldura do concurso à luz das regras do artigo 77º/2.
3) Determinação da pena única conjunta dentro da moldura do concurso
segundo os critérios gerais do artigo 71º/1, conjugados com o critério
especial previsto no artigo 77º/1 2ª parte.
4) Operação de escolha da pena de substituição (escolha da pena que se
faz de acordo com os critérios do artigo 70º) que será realizada apenas
se a pena única conjunta admitir a aplicação de uma pena de
substituição.
Mariana Fernandes
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No nosso caso:

1º operação:
Crime 1 – 212º
1 – a nossa primeira operação seria escolha da pena – supomos que as
exigências de prevenção não nos dão outra alternativa que não seja aplicar
pena de prisão.
2 – 1 mês a 3 anos – o artigo 212º só nos dá o limite máximo vamos buscar o limite
ao artigo 41º/1.
3 – 2 anos de prisão.
(se isto não fosse um caso de concurso – o juiz deveria fundamentar sempre
mesmo que decidisse não substituir a pena de prisão – aqui não interessa,
porque isto não é pena que vai ser cumprida pelo agente, é uma pena parcelar
que vai entrar para a pena única conjunta – só se pode equacionar a
substituição no final quando se tiver a pena única conjunta).
Crime 2 – 143º.
1 – operação de escolha da pena em 1º lugar – imagine-se também pena de
prisão.
2 – moldura será igual – 1 mês e 3 anos.
3 – 2 anos (71º/1/2).

Temos a determinação das penas parcelares


C1 – dois anos de prisão, C2 – 2 anos de prisão.

2ª operação 77º/2 – 2 anos a 4 anos. A soma faz-se e aplica-se ao limite máximo


– até atingir os 25 anos (o limite máximo da moldura do concurso nunca pode
passar dos 25 anos mesmo que a soma das penas aplicadas aos vários crimes
seja superior).

3ª operação - note-se que estamos perante penas autónomas parcelares em


relação às quais já foram valorados os critérios do artigo 71º/1 – podemos correr
o risco aqui nesta operação de haver uma violação do princípio da proibição
da dupla valoração – o que permite não considerar isso é o 77º/1 2ª parte – o
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juiz neste momento vai considerar culpa e prevenção mas à luz do critério
especial – a especialidade do critério está na expressão “em conjunto” – o juiz
aqui já só está a valorar isso em conjunto – neste momento vai averiguar-se se
há carreira criminosa, ligação entre os factos, etc – e pode concluir-se que
haverá uma agravação da pena porque existem maiores exigências de
prevenção, ou pelo contrário verifica que não há qualquer ligação entre os
factos. Esta avaliação em conjunto far-me-á subir ou descer na moldura. Mas a
especialidade do critério está em avaliar em conjunto.

Imagine-se que no nosso caso temos uma pena única conjunta de 3 anos.

4ª operação – a escolha da pena (operação eventual) faz à luz do artigo 70º.


No nosso caso admite-se substituição (inferior a 5 anos) – fundamentação.

2ª QUESTÃO DO CASO PRÁTICO:

Temos que ver o que mudaríamos se estivesse em causa a aplicação de pena


de multa principal aos crimes em análise.
1ª operação:
C1:
1) – 70º - pena de multa.
2) 47º - 10 dias a 360 dias (moldura).
3) 71º/1 e 2 – 60 dias. (não vamos determinar o quantitativo diário porque
não vou mandar pagar esta pena agora, não interessa para já estou a
determinar a pena parcelar que irá entrar para a pena única conjunta).

C2:
1) 70º - pena de multa
2) 47º - 10 dias a 360 dias.
3) 71º/1 e 2 – 100 dias
Nota – o que vier a ser determinado em termos de quantitativo diário será o
mesmo para os dois crimes – a situação económica do agente é a situação
económica do agente.
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2ª operação: 100- 160 dias – 77º/2

3ª operação: Pena única conjunta – 130 dias. 71º/1 e 2 e 77º/1 2ª parte.

4ª operação: 47º/2 – (5 euros a 50) - 25 euros. O nosso agente irá cumprir uma
pena de multa de 130 dias à razão de 25 euros por dia sendo que terá que
pagar 3250 euros.
Aqui dever-se-ia considerar ainda a possibilidade de substituição da pena de
multa – artigo 60º - admoestação.

Ainda possibilidade de o agente não conseguir pagar a pena de multa – limiar


de subsistência – possibilidade acima vista.

3ª QUESTÃO DO CASO:

O problema que temos em mãos é que temos penas parcelares de natureza


diferentes – as duas hipóteses até aqui são as mais simples – são da mesma
natureza (todas de prisão ou de multa).

Temos dois problemas quando temos penas parcelares de natureza diferentes:


1) Como é que se vão somar, conjugar? Não são grandezas que possam
ser somadas sem mais.
2) Problema de ter que interpretar uma norma estranha – artigo 77º/3: o que
é que significa dizer que a diferente natureza se mantém na pena única?
Antes de termos esta formulação, havia um problema maior que dizia
que quando as penas parcelares tivessem uma natureza diferente,
acumulavam-se, o que fazia com que o agente saísse prejudicado.

O tempo de prisão representa muito mais do que o tempo de multa, pelo que
não podemos somar alhos com bugalhos. O art.77º ajuda na segunda parte do
seu nº1, na tentativa de não violar o princípio da proibição da dupla valoração.

Para podermos somar o tempo de multa com o tempo de prisão, temos que
converter o tempo de multa em tempo de prisão, através do critério do
Mariana Fernandes
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art.49º/1, que diz que devemos reduzir o tempo de multa (120), em 2/3, para
passarmos a ter 80 dias de pena de prisão. Agora já podemos somar.
Imaginando que depois desta etapa optamos por uma pena única conjunta
de 1ano e um mês, neste ponto, tenho que decidir se o agente deve cumprir
uma pena principal ou uma pena de substituição.

Veja-se o art.77º/3, quando se diz que as penas as penas são sempre


autónomas, e entram depois para o sistema de pena única através da
conversão do art.49º/1. Mas se o condenado preferir pagar a pena de multa e
cumprir pena de prisão, pode legitimamente fazê-lo.

No fundo, quando as penas parcelares forem de diferente natureza, vale o


disposto no art.77º/3. Desta norma resulta que:

 haverá sempre que determinar uma pena única conjunta, segundo os


mesmos critérios do art.77º/1/2, ou seja, esta norma afasta claramente a
ideia de que havendo penas parcelares de diferente natureza, se aplica
o sistema da acumulação material. Contudo, para a determinação da
pena única neste caso, será necessário, antes de construir a moldura de
concurso, converter os dias de multa em tempo de prisão, o que se fará
convocando o critério de conversão disponibilizado pelo código no
art.49º/1;
 apesar da determinação da pena única conjunta, as penas parcelares
mantêm a sua autonomia, e nessa medida, este artigo refere que
mantém a sua diferente natureza, o que se pretende com esta expressão
é clarificar que é dada ao condenado a possibilidade de optar por, em
vez de cumprir a pena única conjunta, pagar a pena parcelar de multa
e evitar que esta se repercuta na pena do concurso;

4. Suponha agora que constava do registo criminal do arguido a condenação


em um ano de prisão efetiva pela prática, em janeiro de 2012, de um crime de
ofensa à integridade física grave (artigo 144.º do CP).
Mariana Fernandes
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Vamos começar sempre por aquilo que aconteceu primeiro: crime 1- ofensa a
integridade física grave, crime 2- art. 212º, crime 3-art.143º. Estamos agora a
julgar pelo crime 2 e 3, na medida em que o crime 1 já foi julgado e transitado
em julgado com uma pena de 1 ano. Podemos estar aqui perante um caso de
reincidência, desde que se cumpram os requisitos do art.75º. Mas note-se que
só pode haver reincidência entre os 2 crimes de ofensa à integridade física,
porque somente é que tem natureza análoga face ao crime anteriormente
praticado. Sabemos que temos que determinar, através das regras do
concurso, a pena única conjunta, porque existe outro crime. O que vamos fazer
primeiro é determinar as penas parcelares, mas numa das penas parcelares tem
que ser considerada a questão da reincidência. A partir daí, todas as outras
operações são iguais ao que já analisamos anteriormente noutros casos.

1ª operação: determinação das penas parcelares

crime de dano: vamos escolher pena de prisão, e vamos a partir dai ter uma
moldura de 1mes a 3anos, vamos fazer funcionar os critérios do art.71º/1 e com
isso vamos escolher, por exemplo, 2 anos.

Crime de ofensa a integridade física- recorre-se ao art.75º. A pena anterior era


de um 1 ano, a pena agravada é também um ano.

2ª operação: Determinação da moldura do concurso art.77º/2

3ª operação: Determinação da pena única conjunta art.77º/1- 3 anos

4ª operação: Determinação sobre se se aplica a pena de substituição ou a


principal

CASO PRÁTICO 3:

Em janeiro de 2017, C praticou um crime de roubo (artigo 210.º, n.º 2, do CP),


tendo sido condenado, em novembro desse ano, numa pena de oito anos de
prisão, que começou de imediato a cumprir. Chega hoje ao conhecimento do
Mariana Fernandes
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tribunal que C havia praticado também, em fevereiro de 2017, um crime de


violação (artigo 164.º, n.º 1, do CP).

1. Determine a pena a aplicar a C.

Se começou de imediato a cumprir é porque o crime já transitou em julgado,


pelo que temos que averiguar da pena do crime de violação. Não se trata de
reincidência porque são crimes de natureza diferente, e porque o segundo
crime foi praticado antes do transito em julgado.

Se tivesse sido conhecido o crime de violação aquando do julgamento do


crime 1, teria havido uma pena conjunta. Nestes casos, através do art.78º, o
legislador previu que há situações em que o concurso não foi conhecido
quando devia ter sido, mas era uma situação de concurso pelo que agora a
situação será corrigida, aplicando as regras do concurso agora.

Note-se que o concurso não é superveniente, o conhecimento do concurso é


que é superveniente.

O legislador acautelou a hipótese do concurso de crime não ser conhecido


atempadamente. O art.78º esta por isso previsto para colmatar as deficiências
do sistema de administração da justiça penal porque o agente cometeu mais
do que um crime, mas o tribunal, no momento do julgamento, não teve
conhecimento de todos os crimes que ele praticou. Há por isso 2 pressupostos
do conhecimento superveniente do concurso, primeiro tem que haver uma
condenação transitada em julgado, e segundo, tem que existir um
conhecimento superveniente da prática de outro ou outros crimes, antes dessa
condenação. A solução do art.78º preconiza que o julgador corrija aquela
deficiência e aplique agora a pena única conjunta que devia ter sido aplicada
aquando da primeira operação. Contudo, o art.78º/2 exige que todas as
condenações pelos crimes em concurso transitem em julgado, por isso, o
segundo tribunal, que conhece superveniente mente o concurso, limitar-se-á a
determinar a pena do crime ou crimes agora conhecidos. Só mais tarde quando
também essa condenação transitar em julgado, é que vira a ser determinada
a pena única conjunta por um terceiro tribunal que irá basear-se nas penas
Mariana Fernandes
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parcelares determinada pelos outros 2 tribunais cuja condenação já transitou


em julgado.

Determinação da pena do crime 2:

Pena de prisão de 3 a 10 anos: escolhemos 6 anos para que não haja


substituição.

Vai ser um terceiro tribunal (não é tribunal de composição diferente) que vai
pegar nas penas parcelares 8 anos e 6 anos, e vai construir a moldura de
concurso, que é a pena mais grave -8 anos- de mínimo, e 14 anos, ou seja, a
cumulação das 2, como máximo. Como pena única escolhemos 10 anos. Mas
de certeza que ele nesta altura já esta a cumprir a pena parcelar de 8 anos,
pelo que temos que fazer um desconto com base no art.81º.

O art.78º/3- tudo o que vier agarrado as penas parcelares, mantém-se agarrado


as penas conjuntas.

Nota: Remeter do art.78º/2 para o art.472ºCPP.

2. Quando poderá o condenado sair em liberdade condicional?

O que é a liberdade condicional? É um incidente de execução da pena de


prisão. Há duas normas que provam esta afirmação. São elas o art.61/1 –
consentimento do condenado, é o único requisito que nunca se dispensa; e o
art.61º/5 – a duração da liberdade condicional depende da duração da pena
de prisão que o condenado estava a cumprir.

No caso concreto estamos perante uma pena única conjunta, supondo aqui
que é de 12 anos de pena única conjunta. Quando é que pode sair em
liberdade condicional? A metade, ou seja, aos 6 anos e pelo menos 6 meses de
cumprimento efetivo da pena – juízo de prognose favorável que se funda nas
exigências do art.61º/2/a) – prevenção especial positiva e b) – prevenção geral
positiva.

E porque é que assim é? Porque em cada um dos momentos há diferentes


requisitos para aplicar e permitir ou não a concessão da liberdade condicional.
Mariana Fernandes
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No caso prático temos que referir as possibilidades em todos os momentos, não


apenas do primeiro.

Neste caso, se ele sair a meio da pena ele está em liberdade condicional no
máximo 5 anos, extinguindo-se o tempo que falta da pena. Aos 8 anos de
cumprimento da pena de prisão tem de ser avaliado o consentimento, mínimo
de 6 meses e o juízo de prognose (menos exigente), porque nos obriga a avaliar
o art.71º/2CP. Se sair aos 2/3 da pena, a liberdade condicional duraria 4 anos.
Só há avaliação da liberdade condicional nos 5/6 quando a pena for superior
a 6 anos. Neste caso estamos perante 12 anos e aqui só é necessário o
consentimento, é por isso que aos 5/6 a liberdade condicional é obrigatória
para o juiz. Neste caso, a liberdade condicional teria uma duração de 2 anos.

Há que articular o código penal com o código de execução de penas. A partir


dos 6 anos se não for concedida a liberdade condicionada, vai ter que ser
renovada a instância anualmente.

No caso de estarmos perante uma pena de 3 anos, pode sair em liberdade


condicional no 1 anos e meio (metade da pena + 6 meses). Se sai, sai. Se não
sai, faz-se a renovação anual quando há tempo para isso, quando não há não
se faz. No nosso caso não havia porque 2/3 de 3 anos é 2 e só restariam 6 meses,
o que não é suficiente.

3. Suponha agora que C vem a ser condenado numa pena de prisão efetiva
de dez anos, mas que esteve dois anos em prisão preventiva. Ao fim de
quanto tempo de cumprimento da pena de prisão poderá ser concedida
a liberdade condicional?

Primeiro temos que fazer o desconto há luz do art.80º/1. Onde é que desconto?
No todo da pena ou na metade? No meio da pena. Ou seja, a Dra. Maria João
defende que será deste modo: 10 x ½ = 3 anos; 5 anos – 2 anos = 3 anos. E não
desta forma: 10-2= 8 anos; ½ x 8 anos = 4 anos, ora 4+2= 6 anos. Esta última
hipótese iria penalizar o agente que já tivesse estado em prisão preventiva e
não se pode admitir isso.
Mariana Fernandes
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NOTA: remetendo para o caso prático 5 - no caso de execução sucessiva de


penas - art.63º - deve-se achar o primeiro momento em relação á primeira pena:
1/2 x 22 anos = 11 anos - aos 11 anos não há avaliação nenhuma e começa de
imediato a cumprir a segunda pena que é de 20 anos, poderá começar a
usufruir da liberdade condicional? Ao fim de 10 anos, e aqui é que se faz uma
avaliação de liberdade condicional. Ele já cumpriu 11+10=21 anos e aqui é que
se vai avaliar a liberdade condicional a meio da pena. Na prática estamos a
tratar de duas penas como se fossem só 1, porque estas duas penas são 42 anos
e metade de 42 são 21 anos.

Ainda que uma das penas não admita a liberdade condicional a 5/6 não
interessa porque que releva são as duas penas em conjunto – art.63º/3CP. No
fundo tratamos duas penas como se fosse apenas uma.

CASO PRÁTICO 4:

Em janeiro de 2016, A praticou um crime de furto (203ºCP) e em fevereiro, o


crime de ofensa á integridade física grave (144ºCP) e em março um crime de
extorsão (223ºCP). Em setembro de 2017, a foi condenado a uma pena conjunta
de 5 anos pela pratica dos crimes de furto (a que correspondeu uma pena
parcelar de 2 anos) e de ofensa á integridade física grave (a que correspondeu
a uma pena parcelar de 4 anos), que começou de imediato a cumprir. Em
dezembro de 2018, o tribunal vai julgá-lo pela prática do crime de extorsão de
que, entretanto, se teve conhecimento. Quid iuris.

RESOLUÇÃO:
Estamos perante um caso de conhecimento superveniente do concurso. Se está
a cumprir a pena de 5 anos, quer dizer que a decisão dos crimes de furto e de
integridade física grave já transitou em julgado. Deste modo, em dezembro de
2018, o que o tribunal pode fazer é determinar a pena parcelar em relação ao
crime de extorsão. Já não podemos determinar a pena parcelar para o crime
que agora é conhecido e anexá-la aos outros porque a condenação dos outros
crimes já transitou em julgado – não podemos determinar a pena única
conjunta aqui porque já uma. A novidade aqui é que o terceiro tribunal antes
de determinar a pena única conjunta “nova”, tem que se anular a pena única
Mariana Fernandes
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conjunta que já há (feita pelo primeiro tribunal) para se determinar a “nova”.


Ele vai considerar as penas parcelares determinadas pelo primeiro tribunal, vai
só anular a pena única conjunta.
 Moldura do crime de extorsão – 1 mês a 5 anos (71º/1) - 2 anos (78º/2)
 472º CPP – o terceiro tribunal reabre a audiência e vai:
1º anular a pena única conjunta que estava determinada pelo primeiro
tribunal;
2º penas parcelares que não vai determinar porque já estavam
determinadas no julgamento do crime 1 e 2 e do 3 (c1- 2 anos; c2- 4 anos;
c3- 2 anos)
3º determinar a pena única conjunta: 4 anos – 8 anos (71º/1 + 77º/1, in
fine) = 6 anos
4º temos que fazer o desconto agora: o tempo de cumprimento de pena
teria que ser descontado na pena única conjunta de 6 anos – através do
instituto do desconto – 80º, 81º e 82º - aqui estamos perante o art.81º/1CP
(desconto de penas noutras penas – caso do desconto superveniente do
concurso)

o INSTITUTO DO DESCONTO
Quais são os critérios do desconto? São eles:
1. Critério legal de desconto que resulta da lei: presente nos arts.80º/1 e 2;
81º/1 (desconto por inteiro) e 2 (quando as penas anteriormente têm
natureza ou são de espécie diferente – subjetividade do julgador:
depende da sensibilidade do julgador e das circunstâncias de cada
caso); e 82º (não abordamos este).

CASO PRÁTICO 5:
Em fevereiro de 2016, o A cometeu o crime de homicídio qualificado (132ºCP).
Em janeiro do ano seguinte foi julgado e condenado a 22 anos de prisão. Não
se conformando coma decisão, dela interpôs recurso. Em março de 2017,
cometeu outro crime de homicídio qualificado. Em outubro transitou em julgado
a condenação pelo primeiro crime, tendo o tribunal superior mantido a mesma
pena. A está hoje a ser julgado pelo segundo crime de homicídio. Determine a
pena aplicável a A.
Mariana Fernandes
2018/2019
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RESOLUÇÃO:
Temos que ver se o crime é reincidente. Não se cumpre o principio da
reincidência. Se não é reincidência é o quê? Concurso também não é porque
no momento em que ele é julgado pelo crime 1, ele só tinha praticado esse
crime. Também não é um crime continuado porque ele cometeu dois crimes,
embora da mesma espécie, são dois crimes diferentes (ex.: A é bancário e decide
que quer tirar 10.000€ ao banco, mas fá-lo por várias vezes, tira hoje 1.000€, outra vez
1.000€. Se tirar 10 vezes 1000€ são 10 crimes. Mas consideramos que isto é apenas um
crime de furto. Não devemos punir essa pessoa por 10 crimes de furto, ele apenas fez
um furto qualificado, a execução é que foi diferente).

Estamos então perante o quê? Isto é uma situação especifica discutida pela
doutrina e jurisprudência em que o segundo crime é praticado num momento
temporal muito especifico (entre a condenação do crime e o transito em
julgado). Neste momento temporal é praticado um segundo crime. Qual é o
marco decisivo para decidirmos meter ou não este crime no concurso? Se
optarmos pela posição da Dra. Maria João Antunes, só entra para o concurso
os crimes que tiverem sido praticados até á condenação. Na generalidade da
jurisprudência – Acórdão de Fixação da Jurisprudência – quando há situações
semelhantes resolvidas em tribunais superiores de forma completamente
distinta. O STJ fixa jurisprudência. Neste caso, temos o Acórdão 9/2016 que fixa
jurisprudência no sentido de que o momento decisivo é o do trânsito em julgado
e se o crime é praticado antes deste momento então entra para o concurso.

! No caso especifico da prática de um segundo crime entre a condenação e

o trânsito em julgado da condenação por um crime anterior discute-se na


doutrina e na jurisprudência se é possível ou não aplicar um instituto previsto no
art.78ºCP e determinar uma pena única conjunta. A posição de Maria João
Antunes na senda de Figueiredo Dias vai no sentido de considerar como marco
temporal relevante o momento em que é proferida a condenação em 1ª
instância e não o momento do trânsito em julgado. Assim quando no art.78º/1
se diz “anteriormente àquela condenação”, o que releva para esta autora é o
momento em que a condenação é proferida. Isto significará que seguindo esta
Mariana Fernandes
2018/2019
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posição, o caso não será tratado como uma situação de conhecimento


superveniente do concurso, ou seja, não será aplicada uma pena única
conjunta. Se o agente cometer crimes depois da condenação, mas antes do
trânsito em julgado dessa condenação, temos um caso de execução sucessiva
de penas. Há dois argumentos principais a favor deste entendimento. São eles:
1º a razão de ser do próprio art.78º que é uma norma que existe para corrigir
falhas na justiça, o que no caso não se verifica porque no momento do primeiro
julgamento, o crime em causa ainda não tinha sido praticado.
2º criação de um período de impunidade. O entendimento inverso que
considera relevante para este efeito o momento do transito em julgado, permite
criar um período de impunidade para o agente entre o momento de
condenação e o momento do transito em julgado.

Contudo, o entendimento do STJ, vai no sentido contrário e encontra-se


expresso do Acórdão de Fixação de Jurisprudência 9/2016, publicado no DR a
9/6/2016. Desta decisão consta a fixação de jurisprudência nos seguintes termos
“o momento temporal a ter em conta para a verificação dos pressupostos do
concurso de crimes, com conhecimento superveniente, é o do trânsito em
julgado da primeira condenação por qualquer dos crimes em concurso”.
(Nota: no caso prático, este tem que ser resolvido de acordo com o Acórdão, mas valoriza-se a resposta se
mencionarmos a posição da Dra. Maria João Antunes).

Aplicando o critério do Acórdão no nosso caso prático, aplicamos o art.78º/1,


isso significa que vamos julgar o crime 2. A moldura penal é de 12 a 25 anos. De
acordo com o art.71º/1, determinamos uma pena de 20 anos. Considerando a
posição da Dra. ficávamos assim – execução sucessiva de penas.
Considerando a do STJ, teríamos que aguardar o trânsito em julgado e teríamos
que recorrer a um segundo tribunal para calcular as penas parcelares e a um
terceiro tribunal para determinar a pena única conjunta. C1= 22 anos; C2= 20
anos; 22 anos – 25 anos; 71º/1 + 77º/1, in fine = 25 anos.

o PENAS DE SUBSTITUIÇÃO
Qual é o critério de escolha da pena? Vimos que o art.70º contem esse critério,
por sua vez, o que está no art.71º já são os critérios de determinação da pena.
Relativamente ao art.70º, este prevê o principio de preferência pelas sanções
Mariana Fernandes
2018/2019
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de carater não detentivo, mas esse não é o critério de escolha da pena, esse é
um principio orientador. O critério são finalidades da punição (finalidades
exclusivamente preventivas), previstos no art.40º/1. A culpa nunca entra em
consideração quando estamos a escolher, só entra apenas quando estamos a
determinar.
Esta ideia de que escolhemos a pena com base nas finalidades preventivas,
não está exclusivamente prevista pelo legislador. No art.46º/1 temos uma “pena
de carater não preventivo, sempre que o tribunal concluir que se realizam de
forma adequada para satisfazer as finalidades preventivas do caso”. O mesmo
acontece no art.50º/1 e 60º/2.

Nota: fazer remissão do art.70º/1 para estes artigos (a titulo de exemplo) que
concretizam a ideia de escolha da pena.

Quando pode acontecer a operação de escolha da pena?

Na primeira quando temos a opção de escolher entre pena de prisão e pena


de multa (quando o tipo legal de crime o permite) – operação da escolha da
pena principal; e na última quando temos a possibilidade de escolher uma
pena de substituição ou não (só quando a pena principal foi determinada em
medida que o permite – prisão não superior a 5 anos; pena de multa não
superior a 240 dias).

CASO PRÁTICO 6:

O juiz condenou o senhor A pela prática de um crime de furto de uso de veiculo


(art.208º) numa pena de 10 meses de prisão que decide depois substituir por
pena de multa.

 O que é que justifica que o juiz na primeira operação escolha pena de


prisão e na última pena de multa?

Caso escolha pena de prisão há um leque muito maior de penas de substituição


aplicáveis; e é distinto o regime de execução da pena de multa principal face
ao regime de execução da pena de multa de substituição, nomeadamente em
caso de incumprimento – razão prática. Não são as finalidades de punição que
Mariana Fernandes
2018/2019
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mudam uma vez que o agente é o mesmo. A avalização das finalidades


preventivas é diferente no primeiro momento em relação ao ultimo momento.
É diferente porque no primeiro momento a avaliação faz-se á luz de um critério
de conveniência ou adequação. A pergunta é “qual a pena mais
adequada/conveniente para este caso?”. Quando avaliamos as finalidades
num último momento temos um critério de necessidade. A pergunta já é: “é
estritamente necessária a pena privativa da liberdade?” – razão teórica.

 Determinação da pena de multa

A questão aqui é a seguinte: a determinação da pena de multa de substituição


muda alguma coisa em relação á pena de multa principal? O sistema dos dias
de multa para a determinação de pena de multa principal é aplicável ás penas
de multa de substituição por remissão do art.45º para o art.47º. Determino dias
a partir de uma moldura. É irrelevante o que está no tipo legal de crime, porque
essa moldura refere-se á pena de multa principal. Aqui estamos a determinar
uma pena de multa de substituição que se faz de forma autónoma, logo a
moldura é a que está no art.47º por remissão do art.45º. Qual é então a moldura
de que partimos? 10 a 360 dias.

IMPORTANTE: A determinação da medida de pena de substituição, de acordo


com a atual formulação do Código, faz-se sempre de forma autónoma, ou seja,
não depende nem está condicionada pela determinação da pena principal. Há
apenas uma exceção a considerar relacionada com a pena de prestação de
trabalho a favor da comunidade conforme previsto no art.58º/3CP.

REGRA DA DETERMINAÇÃO - para determinar a pena de multa de substituição:

1) determinamos o número de dia (de 10 a 360 dias);


2) através dos critérios gerais de culpa e prevenção determinamos 200 dias
de multa (71ºCP);
3) determinamos o quantitativo diário de 10€ porque atendemos á situação
económica do condenado (2000€ de multa para pagar);
4) agora é a fixação das condições de pagamento – prazo diferido,
pagamento em prestações, pagamento em horas de trabalho;

REGRA DO INCUMPRIMENTO - e se não pagar? 45º/2 e 56º/2CP – a regra em caso


de incumprimento da pena de substituição é a de que o condenado terá que
Mariana Fernandes
2018/2019
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cumprir a pena principal prevista na sentença condenatória. Neste caso


concreto, se não pagar os 2000€, irá cumprir a pena de prisão.

o LIBERDADE CONDICIONAL

É um incidente de execução da pena de prisão. Há duas normas que provam


esta afirmação. Elas estão previstas no art. 61º CP:
 Art. 61º/1 CP: consentimento do condenado – único requisito que nunca
se dispensa;
 Art. 61º/5 CP: a duração da liberdade condicional depende da duração
da pena de prisão que o condenado estava a cumprir.

NOTA: REMISSÃO PARA O CASO PRÁTICO 3, PERGUNTA 2 E 3

2. Quando poderá o condenado sair em liberdade condicional?

Estamos perante uma pena única conjunta. Quando é que pode sair em
liberdade condicional? A metade, ou seja, aos 6 anos. E porque é que é assim?
Porque em cada um dos momentos há diferentes requisitos para aplicar e
permitir ou não a concessão da liberdade condicional. No caso prático temos
que referir as possibilidades em todos os momentos, não apenas no primeiro.
Vamos imaginar que estamos perante uma pena de 3 anos de prisão. Quando
é que pode sair em liberdade condicional?
Pode sair depois de 1 ano e meio

3. Suponha agora que C vem a ser condenado numa pena de prisão efetiva de
dez anos, mas que esteve dois anos em prisão preventiva. Ao fim de quanto
tempo de cumprimento da pena de prisão poderá ser concedida a liberdade
condicional?

Em primeiro temos de fazer o desconto ao abrigo do art. 80º/1 CP. Quando é


que fazemos o desconto? A meio da pena. Ou seja, 10 x ½ = 5 anos. 5 anos – 2
anos (de prisão preventiva) = 3 anos. Logo, a pessoa pode sair após 3 anos.
Mariana Fernandes
2018/2019
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Nota: remetendo para o caso prático 5: no caso de execução sucessiva de


penas – art. 63º CP – deve-se achar o primeiro momento em relação à primeira
pena: ½ x22 anos = 11 anos, aos 11 anos não há avaliação nenhuma e começa
de imediato a cumprir a segunda pena que é de 20 anos, poderá começar a
usufruir da liberdade condicional? Ao fim de 10 anos, e aqui é que se faz uma
avaliação da liberdade condicional. Ele já cumpriu 11+10=21 anos e aqui é que
se vai avaliar a liberdade condicional a meio da pena. Na prática estamos a
tratar de duas penas como se fossem só 1, porque estas duas penas são 42 anos
e metade de 42 são 21 anos.
Ainda que uma das penas não admita a liberdade condicional a 5/6 não
interessa porque o que revela são as duas penas em conjunto – art. 63º/3 CP.

CASO PRÁTICO 7
A, condenando a pena de 6 anos de prisão por crime de furto qualificado, (art.
204º CP), a metade da pena é concedida liberdade condicional que um ano
mais tarde vem a ser revogada.

Ou seja, cumpriu 3 anos e esteve em liberdade condicional durante 1 ano.

 O que é que pode fundamentar a revogação da liberdade condicional?

Art. 64º CP que nos remete para:


1) o art. 52º CP, sendo que este último artigo está inserido no capítulo de
suspensão da execução da pena. No entanto, não há uma convergência
destes institutos. É uma simples remissão, uma vez que a liberdade
condicional pode ser revogada tendo em conta a conduta prevista no art.
52º CP e o legislador não se quis repetir.
2) 53º CP – quem sai em liberdade condicional também está sujeito a regime
de prova;
3) 54º CP – reinserção social;
4) 55º/a) /c) CP e 56º CP – art. 55º CP: situações em que o condenado não
cumpre aquela presunção: “Falta de cumprimento das condições da
suspensão”. Temos de olhar para a norma num ponto de vista remissivo,
Mariana Fernandes
2018/2019
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assim por suspensão aqui lê-se liberdade condicional. Neste artigo estão
previstas várias possibilidades de consequências que são gradativas. No
entanto, não quer dizer que se fique por aí.
Art. 56º/1 CP: este artigo diz-nos quais as situações que podem dar origem à
revogação da liberdade condicional:
“1 - A suspensão da execução da pena de prisão é revogada sempre que,
no seu decurso, o condenado:
a) Infringir grosseira ou repetidamente os deveres ou regras de conduta
impostos ou o plano de reinserção social;
b) Cometer crime pelo qual venha a ser condenado, e revelar que as
finalidades que estavam na base da suspensão não puderam, por meio
dela, ser alcançadas.”
Art. 56º/2º CP: as consequências estão previstas aqui.
5) Art. 57º CP – quando não há revogação da liberdade condicional aplica-se
este artigo.

No nosso caso, quando a pena é revogada ainda tem dois anos de pena para
cumprir. Ele teve 3 anos presos, 1 ano em liberdade condicional que conta para
efeitos de cumprimento da pena. Por isso, quando a liberdade condicional é
revogada e ele volta para a prisão ele tem de cumprir dois anos. A questão que
se põe agora é se ele tem de cumprir estes dois anos na íntegra – art. 54º/3 CP.
Assim, a estes dois anos que lhe falta cumprir vão ser tratados como uma pena
nova. Logo, a meio dos dois anos vamos fazer a avalição da liberdade
condicional novamente ao abrigo do art. 61º/2 CP.

CASO PRÁTICO 8
A é condenado a uma pena de prisão de 8 anos (art. 213º CP)
É concedida liberdade condicional a meio da pena e após um ano a liberdade
condicional comete um crime qualificado (art. 204º/2 CP), relativamente ao
qual vem a ser condenado por uma pena de 6 anos de prisão.
Quando é que pode sair em liberdade condicional?

Em primeiro ele tinha uma pena de 8 anos, sai aos 4 anos em liberdade
condicional e está 1 ano em liberdade condicional. No entanto praticou outro
Mariana Fernandes
2018/2019
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crime. Assim, há lugar à renovação da liberdade condicional. Isto significa que


da pena 1 ele tem ainda de cumprir 3 anos. Porém, é condenado pelo crime 2
a 6 anos. Questão de cumprimento sucessivo das penas.
É necessário ir ao art. 63º CP, que consagra o instituto da “liberdade condicional
em caso de execução sucessiva de várias penas”, sendo que aqui é de salientar
o nº4 do artigo, que exclui a aplicação dessa norma nestas situações: “O
disposto nos números anteriores não é aplicável ao caso em que a execução
da pena resultar de revogação da liberdade condicional.”. Assim fazemos tudo
como se o art. não existisse. Logo, a meio dos 3 anos vai haver uma avaliação
para a liberdade condicional.
O que é que o legislador quer com o art. 63º/4 CP? Se houve revogação da
liberdade condicional não deve ser concedido o art. 63º CP uma vez que este
regime é menos oneroso.

Nota: nas lições trata-se o regime de permanência na habitação, mas não


vamos falar dele aqui. Mas com a alteração ao CP de 2017, ele não existe como
pena de substituição, sendo uma forma de execução da pena de prisão. Não
é um incidente porque, dependendo das hipóteses, pode desde logo ser
decidido na sentença condenatória que a pena vai ser cumprida pelo regime
de permanência na habitação. Ter em atenção o acórdão que está no infor.

o EXECUÇÃO DA PENA DE MULTA


 Pagamento voluntário

O pagamento voluntário da multa pode ser por:


1. Dinheiro 489º CPP
2. Dias de trabalho – a requerimento do condenado,
art. 48º CP que remete para o art. 490º CPP.

E quando o condenado não paga voluntariamente?


Em primeiro recorre-se ao pagamento coercivo, nos termos do art. 491º CPP e o
art. 49º/1 CP admite a possibilidade do pagamento coercivo. Isto vale quer a
multa pena seja de substituição ou principal. A partir daqui é necessário fazer
esta distinção. E se estivermos perante um condenado que não pagou
voluntariamente e não tem bens para o pagamento coercivo, o que fazemos?
Mariana Fernandes
2018/2019
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Temos de distinguir as situações em que o não pagamento lhe é imputável ou


não imputável:

Razões não imputáveis ao condenado: por exemplo ficou desempregado e,


portanto, não tem património. O CP encontra aqui uma solução para quem
não cumpre, não porque não quer, mas porque não pode – art. 49º/3 CP:
suspende a prisão subsidiária que seria aplicada e decide-se por regras de
conduta ou de caráter económico-financeiro. Esta solução é aplicável à pena
de multa principal por aplicação direta do art. 49º/3 CP e à pena de multa de
substituição por remissão do art. 45º/2, 2ª parte.

Razões imputáveis ao condenado: é necessário fazer uma distinção entre pena


de multa principal e de substituição.

Pena de multa principal Pena de multa de substituição


Prisão subsidiária – temos de Cumpre a pena de prisão principal
converter os dias de multa em prisão, determinada na sentença – art. 45º/2,
reduzidos a 2/3 (art. 49º/1 CP). 1ª parte CP
Nota: a prisão subsidiária não é uma
pena, é sim uma sanção de
constrangimento ao pagamento. Nunca
dizer pena.
Pode evitar ir preso? SIM. Como? Pode evitar ir preso? NÃO. Acórdão
Pagando! Isto resulta da lei, art. 49º/2 de fixação da jurisprudência 12/2013
CP, 491º-A CPP. Quando aplico um de 18 de setembro.
constrangimento o meu objetivo é
que ele pague, logo se pagar não vai
preso.
E se pagou só uma parte da pena de E se pagou só uma parte da pena de
multa? A multa parcialmente paga multa? É indiferente. Não se repercute
repercute-se no tempo de prisão no tempo da pena de prisão
subsidiária, art. 49º/2 CP principal.
Mariana Fernandes
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Não se aplica o regime de É aplicável o regime de permanência


permanência na habitação, nem a na habitação (art. 43º/1/c) CP) e
liberdade condicional. Aqui não é também a liberdade condicional.
uma pena de prisão, logo não se Pelo simples facto de estarmos aqui
aplicam os seus institutos. perante uma pena de prisão.

o MEDIDAS DE SEGURANÇA

 Pressuposto

Há uma distinção fundamental entre pena e medida de segurança - o


pressuposto:
PENA: CULPA DO AGENTE
MEDIDA: PERIGOSIDADE CRIMINAL – art. 91º CP: “fundado receio de que venha
a cometer outros factos da mesma espécie”.
Advertência a propósito do pressuposto: eu posso aplicar medidas de
segurança a quem tem culpa. Muitas vezes há a ideia de que as medidas de
segurança são para os inimputáveis, no entanto esta ideia é só parcialmente
verdade uma vez que que também vão ser aplicadas a imputáveis.

 Quais são os tipos de medidas de segurança previstas no CP?

1) Privativas da liberdade: internamento de inimputáveis por anomalia


psíquica – arts. 91º e ss CP.
2) Não privativas da liberdade: previstas nos arts. 100º e 101º CP.

 Princípios fundamentais em matéria de medidas de segurança

1. Princípio do ilícito típico: só é possível aplicar uma medida de segurança


a quem já tenha cumprido um facto típico e ilícito. Não se preenche o
patamar da culpa porque as medidas de segurança são aplicáveis a
inimputáveis (sem culpa), logo não se fala em crime. Este princípio é uma
Mariana Fernandes
2018/2019
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chamada de atenção para a impossibilidade de aplicação de medidas


de segurança antes da prática do facto.

2. Princípio da proporcionalidade das medidas de segurança: art. 40º/3 CP


– este princípio está para as medidas de segurança, como a culpa está
para as penas. Este princípio significa que as medidas de segurança têm
de ser proporcionais tendo em conta:
(2) A gravidade do facto;
(3) Perigosidade do agente.

o MEDIDA DE SEGURANÇA DE INTERNAMENTO

Pressupostos - arts. 91º e ss.:


1) Pressuposto comum a qualquer medida de segurança: perigosidade
criminal;
2) Prática do facto típico e ilícito;
3) Declaração de inimputabilidade à luz do art. 20 CP. Isto significa uma
avaliação que extravasa o universo jurídico. Isto vale também para os
casos de imputabilidade inibida.
Qual o momento para declaramos a inimputabilidade?
O momento para a avaliação da inimputabilidade é o momento da prática do
facto. A perigosidade criminal é reportada ao momento presente.

Questões feitas em oral de melhoria: quando a pessoa era inimputável no momento de


prática do facto, mas já não é perigoso no momento? Não há sanção para aplicar.

Duração da medida de segurança de internamento?

Regra basilar que resulta do art. 92º/1 CP: a medida de segurança dura
enquanto durar a perigosidade do agente. Esta regra é comum a todas
medidas de segurança. No entanto há dois limites:

1. Limite mínimo: não há limite mínimo em todos os casos – art. 91º/2 CP:
pode haver limite mínimo: “quando o facto praticado pelo inimputável
corresponder a crime contra as pessoas ou a crime de perigo comum
Mariana Fernandes
2018/2019
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puníveis com pena de prisão superior a 5 anos, o internamento tem a


duração mínima de 3 anos”, e mesmo assim pode não haver limite mínimo
quando: “a libertação se revelar compatível com a defesa da ordem
jurídica e da paz social.”
A medida de segurança de internamento dura, em regra, enquanto durar
a perigosidade do agente. Contudo, o art. 91º/2 CP estabelece para
alguns casos uma duração mínima do internamento. Esse limite temporal
(tal como o limite máximo) deverá constar da decisão que decreta o
internamento (art. 501º CPP). Porém, esta duração mínima de 3 anos
também só valerá “se a libertação não se revelar compatível com a
defesa da ordem jurídica e da paz social”. Esta formulação da lei
reconduz-se às exigências de prevenção geral o que nos faz questionar
sobre as finalidades desta medida de segurança. Autores como
Figueiredo Dias defendem que as medidas de segurança também
participam, a título autónomo, da função de prevenção geral positiva.
Aliás, o próprio art. 40º/1 CP não distingue entre penas e medidas de
segurança quando indica as finalidades de prevenção geral e de
prevenção especial. Pelo contrário, Maria João Antunes entende que nas
medidas de segurança a função de prevenção geral não releva de
forma autónoma, concordo assim com (?), quando este defende que as
expetativas da comunidade quanto à validade da norma violada não
são postas em causa da mesma forma quando o facto é praticado por
um inimputável porque a sociedade não se identifica com esse
comportamento. Para este autor o que estava em causa na anterior
formulação do art. 91º/2 CP (não tinha o “salvo se”) era uma presunção
de perigosidade do agente. Em 1995 foi acrescentada ao art. 91º/2 a sua
última parte (a partir do “salvo se”) o que, para parte da doutrina, veio
dar razão à posição de Figueiredo Dias pela consagração expressa de
uma ideia de prevenção geral. Maria João Antunes continuo porém a
defender a mesma tese interpretando o art. 91º/2 CP de forma diferente
daqueles autores no sentido de que o disposto neste artigo vale
exclusivamente para o agente declarado inimputável nos termos do art.
20º/2 CP, ou seja, os casos de inimputabilidade diminuída. Para a autora,
serão estes os únicos casos que as exigências de prevenção geral
Mariana Fernandes
2018/2019
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relevam de forma autónoma.

2. Limite máximo: há sempre. Art. 92º/2 CP: o limite máximo é coincidente


com o limite máximo da pena correspondente ao tipo de crime
cometido. Mas pode não cessar no limite máximo. Qual é a exceção? A
que está prevista no art. 92º/3 CP: “Se o facto praticado pelo inimputável
corresponder a crime punível com pena superior a 8 anos e o perigo de
novos factos da mesma espécie for de tal modo grave que desaconselhe
a libertação, o internamento pode ser prorrogado por períodos sucessivos
de 2 anos até se verificar a situação prevista no n.º 1.” Isto significa que o
internamento pode ser para a vida. Se a CRP diz no art. 30º/1 que não
pode haver penas de duração ilimitada nem de natureza perpetua,
senão admitisse esta exceção estaríamos perante uma norma
inconstitucional. Esta possibilidade é aberta no art. 30º/2 CRP, com limites
especiais: 1- avaliação periódicas e 2- decisão judicial.

Execução da medida de segurança de internamento (vamos falar por alto, é


necessário estudar mais pormenorizadamente):
1. Instituto da revisão – art. 93º CP – tem lugar no decurso do
internamento. Verifica-se que o tratamento funcionou e já não é
perigosa;
2. Instituo do reexame – art. 96º CP – análise feita logo no início. É feito
para antes de começar a executar se se mantém ou não os
pressupostos.
3. Instituo da liberdade para prova: art. 94º CP – incidente de execução
da medida de segurança de internamento. Está para a medida como
a liberdade condicional está para a pena de prisão. Quem aprecia é
o tribunal de execução de penas. Art. 95º CP. Alguém que sai em
liberdade para prova é perigoso? Se ele sai em liberdade para prova
é porque ele ainda é perigoso, é possível alcançar as finalidades da
medida cá fora. Se tivesse cessado a perigosidade ele saía pura e
simplesmente.
Mariana Fernandes
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4. Instituto de suspensão de execução do internamento: art. 98º CP -


medida de segurança de substituição, que é aplicada pelo tribunal da
condenação.
(Já saiu em exame esta distinção)

o PENA RELATIVAMENTE INDETERMINADA

CASO PRÁTICO 9
O Tribunal decidiu condenar A pela prática de um crime por furto qualificado
previsto no art. 204/2º CP numa pena relativamente indeterminada de 4 a 12
anos. Suponha que é defensor do condenado e tem de explicar porque razão
lhe foi aplicada aquela pena, o modo como a mesma foi determinada, bem
como as regras de execução da dita sanção. O que lhe diria?

A pena relativamente indeterminada está regulada nos arts. 83º e ss CP.

Esta sanção tem particular relevância no quadro sistema sancionatório


português porque torna o nosso sistema só tendencialmente monista.
Qual é que é a ideia do monismo e dualismo?
O sistema português é monista porque ao mesmo agente pela prática do
mesmo facto não admite a aplicação de uma pena e de uma medida de
segurança ambas privativas da liberdade (por exemplo, pena de prisão e
cassação da carta de condução). O art. 99º CP: “1 - A medida de internamento
é executada antes da pena de prisão a que o agente tiver sido condenado e
nesta descontada.” parece contrariar o que foi dito. Isto significa que o art. 99º
CP prevê o chamado sistema do vicariato na execução que não contraria a
qualificação do nosso sistema como monista nos termos referidos porque essa
norma regula uma situação em que ao mesmo agente são aplicadas uma
pena e uma medida de segurança privativas da liberdade, mas por factos
diferentes.
O nosso sistema, porém, não é totalmente monista, mas só tendencialmente
monista em virtude da existência de uma sanção de natureza mista que se
designa pena relativamente indeterminada. Esta sanção é mista porque em
parte se executa de acordo com as regras de execução da pena de prisão e
Mariana Fernandes
2018/2019
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noutra parte se executa de acordo com as regras de execução da pena de


internamento, a prova de afirmação consta do art. 90º CP.

 Para que é que existe a pena relativamente indeterminada? (razão)

Trata-se de saber o que é que se faz aos imputáveis especialmente perigosos.


Assim, a pena relativamente indeterminada é aplicada aos chamados
delinquentes por tendência:
1- Art. 83º CP – delinquentes por tendência grave;
2- Art. 84º CP – delinquentes por tendência menos grave;
3- Art. 86º CP – alcoólicos e equiparados (art. 88º CP).
A medida de segurança não era aplicável porque eles não são inimputáveis,
mas a pena é manifestamente insuficiente.

 Quais os pressupostos?

Estão na lei, previstos nos arts. 83º; 84º e 86º CP. O que é comum a todas é que
são imputáveis perigosos.

 Como é que se determina? (modo como foi determinada)

Contrariamente às penas (x anos), aqui temos de x a y anos. Ou seja, não é


determinada num quantum exato. As duas únicas coisas que um condenado
sabe é que no mínimo tem 4 anos, e num máximo 12, nunca mais, nunca menos.

No caso prático a pena relativamente indeterminada já está determinada.


Temos de explicar como é que ela foi determinada, a partir do art. 83º/2 CP: “A
pena relativamente indeterminada tem um mínimo correspondente a dois
terços da pena de prisão que concretamente caberia ao crime cometido e um
máximo correspondente a esta pena acrescida de 6 anos, sem exceder 25 anos
no total”.
Mariana Fernandes
2018/2019
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Em primeiro temos que determinar a pena concreta que caberia ao crime


cometido, como senão fosse uma pena relativamente indeterminada. No nosso
caso, a pena concreta foi de 6 anos, pelo art. 71º/1 CP.
Posteriormente, esta pena concreta de 6 anos deu lugar a uma pena
relativamente indeterminada de 4 anos (que é 2/3 de 6) a 12 anos (pena
acrescida a 6 anos).

 Como é que se executa a pena relativamente indeterminada? (regras de


execução)

A pena relativamente indeterminada como sanção mista que é executa-se de


acordo com as remissões feitas pelo art. 90º CP para as normas relativas à
execução da pena de prisão e à execução de medida de segurança de
internamento.

 Regras até se mostrar cumprida a pena concreta que caberia ao crime:


1- Pode ser concedida liberdade condicional;
2- Essa liberdade condicional é avaliada pela 1ª vez quando estiver
cumprido o limite mínimo da pena relativamente indeterminada o qual
corresponde a 2/3 da pena de prisão que concretamente caberia ao
crime. Ocorrendo os 2/3 essa avaliação será feita de acordo com os
requisitos do art. 61º/3 CP (art. 90º/1 CP);
3- Se for concedida, a liberdade condicional terá a duração referida no art.
90º/2 CP, o que significa que em certos casos pode mesmo ser
ultrapassada a pena concretamente caberia ao crime e a pena
relativamente indeterminada continuar a ser executada como uma
pena (situação desvio), art. 90º/2 CP.
4- Se a liberdade condicional não for concedida aos 2/3 haverá lugar a
renovação anual da instância até se mostrar cumprida a pena concreta
a nível de crime (art. 180º Código de Execução de Penas), ou seja,
verifica-se que não há lugar a concessão de liberdade condicional
obrigatória, uma vez que não há remissão do art. 90º para o 61º/4 CP;
Mariana Fernandes
2018/2019
48

5- Quanto à concessão da liberdade condicional será sempre possível


impor regras de conduta ou mesmo um plano de readaptação social
(art. 90º/1 CP para o aer. 64º CP)

 Regras depois de se mostrar cumprida a pena que caberia ao crime:


1- O condenado sairá em liberdade se cessar a sua perigosidade (art. 90º/3
CP remete para o 92º/1 CP);
2- Se se mantiver a perigosidade pode sair em liberdade para prova (art.
90º/3º CP remete para o 94º e 95º);
3- Seja ou não perigoso, uma vez atingido o limite máximo da pena
relativamente indeterminada será o condenado sempre libertado
porque na pena relativamente indeterminada não há lugar à
prerrogação da sanção (o art. 90º CP não remete para o art. 92º/3 CP).

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