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o Nº1
Diz respeito ás finalidades das penas e medidas de segurança. A ideia
distinta é a seguinte: as penas têm um pressuposto como culpa, as
medidas de segurança têm como pressuposto a perigosidade criminal.
Quanto ás finalidades, as penas visam a proteção de bens jurídicos e a
reintegração do agente na sociedade. A proteção de bens jurídicos
reconduz-se á doutrina da prevenção geral positiva ou de integração. O
que significa dizer que uma pena tem uma finalidade preventiva? A
pena é aplicada tendo em vista evitar o cumprimento futuro de crimes.
Esta ideia pode subdividir-se em prevenção geral ou especial. Qual
a diferença?
Pode dirigir-se concretamente ao agente que cometeu o facto
(especial) ou a toda a sociedade (geral).
o Nº2
Temos aqui consagrado a culpa como limite máximo da pena. Além disso,
a culpa é um pressuposto da pena, o que significa que, entre nós, a culpa
tem essas duas funções em relação á pena. É pressuposto porque não há
pena sem culpa e é limite máximo da pena.
Mariana Fernandes
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o Nº3
Uma pena para ser principal tem que ter duas características. São elas:
A pena de multa pode aparecer num tipo legal de crime como pena de
multa alternativa ou como pena de multa autónoma. Como é que ela
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Quanto ás pessoas coletivas, só há duas penas principais, que são nos termos
do art.90º-A/1 CP, multa e dissolução. A pena de multa está prevista no art.90º-
B e a de dissolução no art.90º-F.
É muito menos eficaz para quem tem muito, quem tem pouco sente
muito mais – há aqui um problema de desigualdade.
Surge assim o sistema dos dias de multa, dividido em três operações:
1ª operação: determinação dos dias de multa – art.47º/1 – mínimo: 10
dias; máximo: 360 dias.
2ª operação: fixação do quantitativo diário – art.47º/2 – mínimo: 5€;
máximo: 500€.
3ª operação: fixação do prazo e condições de pagamento.
Nota: artigo 90º- B/5 – para as pessoas coletivas o limite mínimo é de100€
e o máximo de 10.000€.
TIPOS:
A. Penas de substituição em sentido próprio:
- Têm natureza não privativa da liberdade ou não detentiva;
- Supõe a prévia determinação de uma pena principal de prisão;
São elas:
art.45º - pena de multa (substitui penas de prisão até 1 ano);
art.46º - pena de proibição do exercício de profissão, função ou atividade
(substitui penas de prisão até 3 anos);
art.50º e ss - pena de suspensão da execução da pena de prisão (substitui
penas de prisão até 5 anos);
art.58º e 59º - pena de prestação de trabalho a favor da comunidade
(substitui penas de prisão até 2 anos).
o Penas acessórias
Podemos ter numa mesma sentença uma pena principal, uma pena de
substituição e uma pena acessória.
Aparecem previstas quer na parte geral (66º, 67º, 69º, 69º-B e 69º-C) – são
aplicadas ao tipo de crime a que são referenciadas, quer na parte especial do
CP (152º/4 e 6, 154º-A, 246º, 346º e 388º-A) – passiveis de aplicação a qualquer
crime.
Nota: no artigo 65ºCP, remeter para o artigo 30º/4 CRP – onde está prevista a regra da
não automaticidade da regra das penas, ou seja, o efeito da pena não é automático,
ele resulta de uma decisão do juiz.
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Estes pressupostos são cumulativos, ou seja, para que estejamos perante uma
pena acessório é necessário que estejam previstos todos estes pressupostos.
2. Quanto aos limites, estas duas normas preveem limites muito elevados
(2 a 20 anos). Com limites desta natureza, a certa altura, deixa de ter
justificação politico-criminal, deixa de ter sentido.
3. Nº2 de cada uma das normas – casos em que a vitima é menor – o
legislador redige estes números de uma forma que parece indiciar
automaticidade. Não parece que é o juiz a decidir se se aplica ou
não a pena acessória, parece que é de aplicação automática –
viola-se o principio constitucional e legal (30º/4CRP e 65ºCP).
O que é que o juiz faz nesta operação? Decidir qual o tipo legal de crime que
se aplica ao caso, sendo que esse tipo pode ser fundamental, privilegiado ou
qualificado. Se o tipo nos dá os dois limites (mínimo e máximo) tudo bem; se não
dá temos que ir á parte geral.
(4) regime dos jovens adultos - DL 401/82, de 23 setembro – até aos 21, entre os
16 e os 21, esta idade á data do facto praticado é merecedora de uma
atenuação de pena.
Artigo 71º/1:
Nota: referir sempre estes critérios e modelo e explica-lo, ainda que de forma breve.
Pena aplicável – refere-se á moldura penal. VS. Pena concreta ou aplicada – resulta de uma
operação de determinação dentro da moldura.
Determinar – fixar uma pena. Nunca escolher, porque uma escolha dá opções concretas, o que
não acontece aqui. VS. Escolher – escolhe-se entre opções e quando é que o legislador nos dá
opções? Quando é possível em função da pena principal já determinada, escolher uma pena de
substituição; quando se escolha entres as penas principais (pena de prisão ou pena de multa);
quando temos que escolher uma pena acessória de entre um elenco de penas.
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CASO PRÁTICO 1:
Art.203º/1: com pena de prisão ou pena de multa. Logo, tendo uma alternativa,
a primeira operação é a escolha da pena, art.70º CP, ou seja, o critério da
escolha da pena de prisão são as finalidades da punição. Isto remete-nos para
o art.40º/1 CP – finalidades preventivas (geral e especial positiva).
Nov de 2015: cumpre 1 ano de pena de prisão (C1), ou seja, de nov de 2015 a
jan de 2018 houve transito em julgado da sentença;
Mas porque que se pune mais? Qual o fundamento? A pena anterior não foi
suficientemente advertente para o crime e, por isso, é especialmente
censurável, há maior censura, logo maior culpa. A ideia do legislador é que há
uma maior censura e o agente denota maior culpa e por isso deve agravar-se
a moldura. Mas isto não chega para classificar o agente como reincidente.
Ser reincidente em DP, não é o mesmo que no senso comum, porque não
significa repetir, há muitos requisitos.
• FORMAL:
1. DOLO: os dois crimes (anterior e reiterado) têm que ser dolosos: o crime é
doloso porque o legislador o prevê como doloso e não porque o agente
atua com dolo, assim, em regra, o crime é doloso, só não o é quando o
legislador prevê como tal (13º).
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No nosso caso, o problema não se põe porque não se passaram 5 anos, por isso,
não prescreveu visto que o prazo para tal é 5 anos.
Imagine-se que o crime 2 foi em nov 2018 e o crime 1 foi praticado em jan de
2012: assim já passaram 5 anos e 10 meses e por isso segundo o 75º/2 primeira
parte não puníamos com reincidência, contudo a segunda parte deste
preceito diz que não se pode considerar para os 5 anos o tempo que o agente
tenha estado a cumprir pena de prisão e, por isso, não passaram os 5 anos e
como tal, a reincidência não prescreveu no caso em analise.
• MATERIAL:
A 2ª operação – note-se o artigo 76º/1 1ª parte– o limite máximo nos três anos
permanece inalterado; ao mínimo eleva-se de 1/3 – calcular 1/3 e somar (1/3
de 1 mês (30 dias) = 10 dias) – limite mínimo passa a ser 1 mês e 10 dias – 40 dias,
- moldura passa a ser de 40 dias a 3 anos.
4ª operação – temos que calcular qual é a agravação e temos que definir qual
o limite dessa agravação. Isto é uma operação imposta pela lei.
Artigo 76º/1 2ª parte – “a agravação não pode exceder a medida da pena mais
grave aplicada nas condenações anteriores “. Como se calcula a agravação?
3ª operação – 1ºoperação – 2 anos e seis meses – 2 anos = 6 meses. A
agravação, no nosso caso é de 6 meses (em quanto é que este agente é mais
punido por ter desrespeitado condenação ou condenações anteriores).
De quanto foi a pena aplicada na condenação anterior? 1 ano. A agravação
que nós fizemos neste caso respeita o limite? Sim.
limite da agravação – estar-se-ia a permitir que um passado que até pode ser
de pouca relevância influenciasse de forma desproporcional a pena atual – o
que não pode ser – assim se uma condenação anterior foi menor servirá de
limite à condenação atual (exatamente porque a condenação atual, tendo em
conta a reincidência, tem que ser proporcional).
CASO PRÁTICO 2:
Crime de dano – 212º e crime de ofensas à integridade física – 143º.
Situação que se reconduz ao concurso de crimes.
No caso de concurso nunca há reincidência porque não há trânsito em julgado
da condenação, ambos os crimes são julgados em simultâneo.
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cabidas a cada crime – não vou ficcionar nada. Vou obter penas
para cada crime e partindo dessas vou contruir uma pena única,
conjunta. Como é que isto se pode fazer? 3 métodos:
i. Princípio da exasperação – imagine-se o crime 1 com
moldura 8 a 16 anos; crime 2 – moldura 1 mês a 3 anos – se
o princípio fosse este tem por base a pena aplicável –
moldura mais grave. O juiz vai atender à moldura mais
grave (8-16).
ii. Princípio da absorção – tem por base a pena aplicável mais
grave imagine-se que para um crime chega-se à pena de
12 anos e ao outro à pena de 3 anos – a pena mais grave
absorve a pena mais leve.
Desconsideram a autonomia de cada crime.
iii. Princípio do cúmulo jurídico – sistema de pena única, mas
pena única que não desconsidera a autonomia de cada
crime, pelo contrário, é uma pena única conjunta,
considera todos os crimes e penas que entram para a pena
conjunta – mas não aplica como pena única conjunta a
pena aplicada mais grave; é um sistema específico da
determinação da pena única conjunta segundo o método
do cúmulo jurídico que consiste em:
(vejam-se as operações)
1) Determinação da pena concreta cabida a cada crime, de acordo com
os critérios gerais do artigo 71º.
2) Construção da moldura do concurso à luz das regras do artigo 77º/2.
3) Determinação da pena única conjunta dentro da moldura do concurso
segundo os critérios gerais do artigo 71º/1, conjugados com o critério
especial previsto no artigo 77º/1 2ª parte.
4) Operação de escolha da pena de substituição (escolha da pena que se
faz de acordo com os critérios do artigo 70º) que será realizada apenas
se a pena única conjunta admitir a aplicação de uma pena de
substituição.
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No nosso caso:
1º operação:
Crime 1 – 212º
1 – a nossa primeira operação seria escolha da pena – supomos que as
exigências de prevenção não nos dão outra alternativa que não seja aplicar
pena de prisão.
2 – 1 mês a 3 anos – o artigo 212º só nos dá o limite máximo vamos buscar o limite
ao artigo 41º/1.
3 – 2 anos de prisão.
(se isto não fosse um caso de concurso – o juiz deveria fundamentar sempre
mesmo que decidisse não substituir a pena de prisão – aqui não interessa,
porque isto não é pena que vai ser cumprida pelo agente, é uma pena parcelar
que vai entrar para a pena única conjunta – só se pode equacionar a
substituição no final quando se tiver a pena única conjunta).
Crime 2 – 143º.
1 – operação de escolha da pena em 1º lugar – imagine-se também pena de
prisão.
2 – moldura será igual – 1 mês e 3 anos.
3 – 2 anos (71º/1/2).
juiz neste momento vai considerar culpa e prevenção mas à luz do critério
especial – a especialidade do critério está na expressão “em conjunto” – o juiz
aqui já só está a valorar isso em conjunto – neste momento vai averiguar-se se
há carreira criminosa, ligação entre os factos, etc – e pode concluir-se que
haverá uma agravação da pena porque existem maiores exigências de
prevenção, ou pelo contrário verifica que não há qualquer ligação entre os
factos. Esta avaliação em conjunto far-me-á subir ou descer na moldura. Mas a
especialidade do critério está em avaliar em conjunto.
Imagine-se que no nosso caso temos uma pena única conjunta de 3 anos.
C2:
1) 70º - pena de multa
2) 47º - 10 dias a 360 dias.
3) 71º/1 e 2 – 100 dias
Nota – o que vier a ser determinado em termos de quantitativo diário será o
mesmo para os dois crimes – a situação económica do agente é a situação
económica do agente.
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4ª operação: 47º/2 – (5 euros a 50) - 25 euros. O nosso agente irá cumprir uma
pena de multa de 130 dias à razão de 25 euros por dia sendo que terá que
pagar 3250 euros.
Aqui dever-se-ia considerar ainda a possibilidade de substituição da pena de
multa – artigo 60º - admoestação.
3ª QUESTÃO DO CASO:
O tempo de prisão representa muito mais do que o tempo de multa, pelo que
não podemos somar alhos com bugalhos. O art.77º ajuda na segunda parte do
seu nº1, na tentativa de não violar o princípio da proibição da dupla valoração.
Para podermos somar o tempo de multa com o tempo de prisão, temos que
converter o tempo de multa em tempo de prisão, através do critério do
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art.49º/1, que diz que devemos reduzir o tempo de multa (120), em 2/3, para
passarmos a ter 80 dias de pena de prisão. Agora já podemos somar.
Imaginando que depois desta etapa optamos por uma pena única conjunta
de 1ano e um mês, neste ponto, tenho que decidir se o agente deve cumprir
uma pena principal ou uma pena de substituição.
Vamos começar sempre por aquilo que aconteceu primeiro: crime 1- ofensa a
integridade física grave, crime 2- art. 212º, crime 3-art.143º. Estamos agora a
julgar pelo crime 2 e 3, na medida em que o crime 1 já foi julgado e transitado
em julgado com uma pena de 1 ano. Podemos estar aqui perante um caso de
reincidência, desde que se cumpram os requisitos do art.75º. Mas note-se que
só pode haver reincidência entre os 2 crimes de ofensa à integridade física,
porque somente é que tem natureza análoga face ao crime anteriormente
praticado. Sabemos que temos que determinar, através das regras do
concurso, a pena única conjunta, porque existe outro crime. O que vamos fazer
primeiro é determinar as penas parcelares, mas numa das penas parcelares tem
que ser considerada a questão da reincidência. A partir daí, todas as outras
operações são iguais ao que já analisamos anteriormente noutros casos.
crime de dano: vamos escolher pena de prisão, e vamos a partir dai ter uma
moldura de 1mes a 3anos, vamos fazer funcionar os critérios do art.71º/1 e com
isso vamos escolher, por exemplo, 2 anos.
CASO PRÁTICO 3:
Vai ser um terceiro tribunal (não é tribunal de composição diferente) que vai
pegar nas penas parcelares 8 anos e 6 anos, e vai construir a moldura de
concurso, que é a pena mais grave -8 anos- de mínimo, e 14 anos, ou seja, a
cumulação das 2, como máximo. Como pena única escolhemos 10 anos. Mas
de certeza que ele nesta altura já esta a cumprir a pena parcelar de 8 anos,
pelo que temos que fazer um desconto com base no art.81º.
No caso concreto estamos perante uma pena única conjunta, supondo aqui
que é de 12 anos de pena única conjunta. Quando é que pode sair em
liberdade condicional? A metade, ou seja, aos 6 anos e pelo menos 6 meses de
cumprimento efetivo da pena – juízo de prognose favorável que se funda nas
exigências do art.61º/2/a) – prevenção especial positiva e b) – prevenção geral
positiva.
Neste caso, se ele sair a meio da pena ele está em liberdade condicional no
máximo 5 anos, extinguindo-se o tempo que falta da pena. Aos 8 anos de
cumprimento da pena de prisão tem de ser avaliado o consentimento, mínimo
de 6 meses e o juízo de prognose (menos exigente), porque nos obriga a avaliar
o art.71º/2CP. Se sair aos 2/3 da pena, a liberdade condicional duraria 4 anos.
Só há avaliação da liberdade condicional nos 5/6 quando a pena for superior
a 6 anos. Neste caso estamos perante 12 anos e aqui só é necessário o
consentimento, é por isso que aos 5/6 a liberdade condicional é obrigatória
para o juiz. Neste caso, a liberdade condicional teria uma duração de 2 anos.
3. Suponha agora que C vem a ser condenado numa pena de prisão efetiva
de dez anos, mas que esteve dois anos em prisão preventiva. Ao fim de
quanto tempo de cumprimento da pena de prisão poderá ser concedida
a liberdade condicional?
Primeiro temos que fazer o desconto há luz do art.80º/1. Onde é que desconto?
No todo da pena ou na metade? No meio da pena. Ou seja, a Dra. Maria João
defende que será deste modo: 10 x ½ = 3 anos; 5 anos – 2 anos = 3 anos. E não
desta forma: 10-2= 8 anos; ½ x 8 anos = 4 anos, ora 4+2= 6 anos. Esta última
hipótese iria penalizar o agente que já tivesse estado em prisão preventiva e
não se pode admitir isso.
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Ainda que uma das penas não admita a liberdade condicional a 5/6 não
interessa porque que releva são as duas penas em conjunto – art.63º/3CP. No
fundo tratamos duas penas como se fosse apenas uma.
CASO PRÁTICO 4:
RESOLUÇÃO:
Estamos perante um caso de conhecimento superveniente do concurso. Se está
a cumprir a pena de 5 anos, quer dizer que a decisão dos crimes de furto e de
integridade física grave já transitou em julgado. Deste modo, em dezembro de
2018, o que o tribunal pode fazer é determinar a pena parcelar em relação ao
crime de extorsão. Já não podemos determinar a pena parcelar para o crime
que agora é conhecido e anexá-la aos outros porque a condenação dos outros
crimes já transitou em julgado – não podemos determinar a pena única
conjunta aqui porque já uma. A novidade aqui é que o terceiro tribunal antes
de determinar a pena única conjunta “nova”, tem que se anular a pena única
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o INSTITUTO DO DESCONTO
Quais são os critérios do desconto? São eles:
1. Critério legal de desconto que resulta da lei: presente nos arts.80º/1 e 2;
81º/1 (desconto por inteiro) e 2 (quando as penas anteriormente têm
natureza ou são de espécie diferente – subjetividade do julgador:
depende da sensibilidade do julgador e das circunstâncias de cada
caso); e 82º (não abordamos este).
CASO PRÁTICO 5:
Em fevereiro de 2016, o A cometeu o crime de homicídio qualificado (132ºCP).
Em janeiro do ano seguinte foi julgado e condenado a 22 anos de prisão. Não
se conformando coma decisão, dela interpôs recurso. Em março de 2017,
cometeu outro crime de homicídio qualificado. Em outubro transitou em julgado
a condenação pelo primeiro crime, tendo o tribunal superior mantido a mesma
pena. A está hoje a ser julgado pelo segundo crime de homicídio. Determine a
pena aplicável a A.
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RESOLUÇÃO:
Temos que ver se o crime é reincidente. Não se cumpre o principio da
reincidência. Se não é reincidência é o quê? Concurso também não é porque
no momento em que ele é julgado pelo crime 1, ele só tinha praticado esse
crime. Também não é um crime continuado porque ele cometeu dois crimes,
embora da mesma espécie, são dois crimes diferentes (ex.: A é bancário e decide
que quer tirar 10.000€ ao banco, mas fá-lo por várias vezes, tira hoje 1.000€, outra vez
1.000€. Se tirar 10 vezes 1000€ são 10 crimes. Mas consideramos que isto é apenas um
crime de furto. Não devemos punir essa pessoa por 10 crimes de furto, ele apenas fez
um furto qualificado, a execução é que foi diferente).
Estamos então perante o quê? Isto é uma situação especifica discutida pela
doutrina e jurisprudência em que o segundo crime é praticado num momento
temporal muito especifico (entre a condenação do crime e o transito em
julgado). Neste momento temporal é praticado um segundo crime. Qual é o
marco decisivo para decidirmos meter ou não este crime no concurso? Se
optarmos pela posição da Dra. Maria João Antunes, só entra para o concurso
os crimes que tiverem sido praticados até á condenação. Na generalidade da
jurisprudência – Acórdão de Fixação da Jurisprudência – quando há situações
semelhantes resolvidas em tribunais superiores de forma completamente
distinta. O STJ fixa jurisprudência. Neste caso, temos o Acórdão 9/2016 que fixa
jurisprudência no sentido de que o momento decisivo é o do trânsito em julgado
e se o crime é praticado antes deste momento então entra para o concurso.
o PENAS DE SUBSTITUIÇÃO
Qual é o critério de escolha da pena? Vimos que o art.70º contem esse critério,
por sua vez, o que está no art.71º já são os critérios de determinação da pena.
Relativamente ao art.70º, este prevê o principio de preferência pelas sanções
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de carater não detentivo, mas esse não é o critério de escolha da pena, esse é
um principio orientador. O critério são finalidades da punição (finalidades
exclusivamente preventivas), previstos no art.40º/1. A culpa nunca entra em
consideração quando estamos a escolher, só entra apenas quando estamos a
determinar.
Esta ideia de que escolhemos a pena com base nas finalidades preventivas,
não está exclusivamente prevista pelo legislador. No art.46º/1 temos uma “pena
de carater não preventivo, sempre que o tribunal concluir que se realizam de
forma adequada para satisfazer as finalidades preventivas do caso”. O mesmo
acontece no art.50º/1 e 60º/2.
Nota: fazer remissão do art.70º/1 para estes artigos (a titulo de exemplo) que
concretizam a ideia de escolha da pena.
CASO PRÁTICO 6:
o LIBERDADE CONDICIONAL
Estamos perante uma pena única conjunta. Quando é que pode sair em
liberdade condicional? A metade, ou seja, aos 6 anos. E porque é que é assim?
Porque em cada um dos momentos há diferentes requisitos para aplicar e
permitir ou não a concessão da liberdade condicional. No caso prático temos
que referir as possibilidades em todos os momentos, não apenas no primeiro.
Vamos imaginar que estamos perante uma pena de 3 anos de prisão. Quando
é que pode sair em liberdade condicional?
Pode sair depois de 1 ano e meio
3. Suponha agora que C vem a ser condenado numa pena de prisão efetiva de
dez anos, mas que esteve dois anos em prisão preventiva. Ao fim de quanto
tempo de cumprimento da pena de prisão poderá ser concedida a liberdade
condicional?
CASO PRÁTICO 7
A, condenando a pena de 6 anos de prisão por crime de furto qualificado, (art.
204º CP), a metade da pena é concedida liberdade condicional que um ano
mais tarde vem a ser revogada.
assim por suspensão aqui lê-se liberdade condicional. Neste artigo estão
previstas várias possibilidades de consequências que são gradativas. No
entanto, não quer dizer que se fique por aí.
Art. 56º/1 CP: este artigo diz-nos quais as situações que podem dar origem à
revogação da liberdade condicional:
“1 - A suspensão da execução da pena de prisão é revogada sempre que,
no seu decurso, o condenado:
a) Infringir grosseira ou repetidamente os deveres ou regras de conduta
impostos ou o plano de reinserção social;
b) Cometer crime pelo qual venha a ser condenado, e revelar que as
finalidades que estavam na base da suspensão não puderam, por meio
dela, ser alcançadas.”
Art. 56º/2º CP: as consequências estão previstas aqui.
5) Art. 57º CP – quando não há revogação da liberdade condicional aplica-se
este artigo.
No nosso caso, quando a pena é revogada ainda tem dois anos de pena para
cumprir. Ele teve 3 anos presos, 1 ano em liberdade condicional que conta para
efeitos de cumprimento da pena. Por isso, quando a liberdade condicional é
revogada e ele volta para a prisão ele tem de cumprir dois anos. A questão que
se põe agora é se ele tem de cumprir estes dois anos na íntegra – art. 54º/3 CP.
Assim, a estes dois anos que lhe falta cumprir vão ser tratados como uma pena
nova. Logo, a meio dos dois anos vamos fazer a avalição da liberdade
condicional novamente ao abrigo do art. 61º/2 CP.
CASO PRÁTICO 8
A é condenado a uma pena de prisão de 8 anos (art. 213º CP)
É concedida liberdade condicional a meio da pena e após um ano a liberdade
condicional comete um crime qualificado (art. 204º/2 CP), relativamente ao
qual vem a ser condenado por uma pena de 6 anos de prisão.
Quando é que pode sair em liberdade condicional?
Em primeiro ele tinha uma pena de 8 anos, sai aos 4 anos em liberdade
condicional e está 1 ano em liberdade condicional. No entanto praticou outro
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o MEDIDAS DE SEGURANÇA
Pressuposto
Regra basilar que resulta do art. 92º/1 CP: a medida de segurança dura
enquanto durar a perigosidade do agente. Esta regra é comum a todas
medidas de segurança. No entanto há dois limites:
1. Limite mínimo: não há limite mínimo em todos os casos – art. 91º/2 CP:
pode haver limite mínimo: “quando o facto praticado pelo inimputável
corresponder a crime contra as pessoas ou a crime de perigo comum
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CASO PRÁTICO 9
O Tribunal decidiu condenar A pela prática de um crime por furto qualificado
previsto no art. 204/2º CP numa pena relativamente indeterminada de 4 a 12
anos. Suponha que é defensor do condenado e tem de explicar porque razão
lhe foi aplicada aquela pena, o modo como a mesma foi determinada, bem
como as regras de execução da dita sanção. O que lhe diria?
Quais os pressupostos?
Estão na lei, previstos nos arts. 83º; 84º e 86º CP. O que é comum a todas é que
são imputáveis perigosos.