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UNIVERSIDADE CATÓLICA PORTUGUESA

Consequências Jurídicas do Crime


Resumos

Maria Teresa Reis Rodrigues dos Santos


340118108

Faculdade de Direito | Escola do Porto


Abril, 2020
UNIVERSIDADE CATÓLICA PORTUGUESA

Consequências Jurídicas do Crime


Resumos

Maria Teresa Reis Rodrigues dos Santos


340118108

Faculdade de Direito | Escola do Porto


Abril, 2020
Consequências Jurídicas do Crime
Maria Reis Santos

Índice

Lista de siglas e abreviaturas Pág. 5

Introdução Pág. 6

Sistema sancionatório Pág. 7

Penas Pág. 11

Determinação da medida concreta da pena de prisão Pág. 17

Casos especiais de determinação da pena Pág. 23

Penas acessórias Pág. 31

Penas de substituição Pág. 32

Execução da pena de prisão Pág. 34

Pena relativamente indeterminada Pág. 37

Medidas de segurança Pág. 40

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Consequências Jurídicas do Crime
Maria Reis Santos

Lista de siglas e abreviaturas

CP Código Penal.

Art(s). Artigo(s).

Ss. Seguintes.

CRP Constituição da República Portuguesa.

N.º Número(s).

Pp(s) Princípio(s).

Al(s). Alínea(s).

DP Direito Penal.

EUA Estados Unidos da América.

CPP Código de Processo Penal.

MP Ministério Público.

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Consequências Jurídicas do Crime
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Introdução

Direito Penal – É um conjunto de normas que têm como objetivo ligar a) comportamentos
a b) sanções/consequências.

a) Os comportamentos podem ser ativos ou omissivos e negligentes ou dolosos.


b) As reações jurídico-penais/sanções podem ser:
• Penas (art. 40.º/1 CP) – A pena, em caso algum, pode ultrapassar a medida
da culpa, ou seja, a pena é inerente à culpa do agente, sendo que a culpa
limita a medida da pena. Podem ser:
o Privativas da liberdade.
o Não privativas da liberdade.
• Medidas de segurança (art. 40.º/3 CP) – Tem de ter sido praticado um
facto típico e ilícito e pressupõe a perigosidade do agente. Podem ser:
o Privativas da liberdade.
o Não privativas da liberdade.

NOTA: Para que possamos falar em crime temos de ter um facto desvalioso típico, ilícito
e culposo. No caso da imputabilidade, o agente atua sem culpa, pelo que nunca poderemos
falar de crime e, consequentemente, não se poderá aplicar uma pena, mas uma medida de
segurança.

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Sistema Sancionatório (arts. 40.º a 112.º-A CP)

Caraterísticas

• Recusa da pena de morte desde 1867.


• A proibição das penas perpétuas (arts. 24.º/2 30.º CRP) tem como base o pp da
dignidade da pessoa humana e a finalidade das penas: proteção de BJs e reinserção
do indivíduo na sociedade.
• Proibição de medidas de segurança de duração ilimitada. No entanto, existe
aqui uma grande divergência na doutrina, admitindo-se a possibilidade de haver
medidas de segurança perpétuas para indivíduos de perigosidade elevada.
• Pp da preferência pelas reações penais não privativas da liberdade (art. 70.º
CP) sempre que as necessidades preventivas fiquem satisfeitas com a pena não
privativa da liberdade (Ex.: Art. 143.º CP). Desta forma, considera-se as penas
privativas da liberdade como ultima ratio.
• Sistema puramente preventivo:
o Teorias absolutas – Finalidades ético-retributivas: A pena é uma
compensação pelo mal que foi praticado, mas não há qualquer finalidade
preventiva autónoma aplicada às penas. Estas teorias são rejeitadas no nosso
país.
o Teorias relativas:
a) Prevenção geral – Visa atuar sobre todos os membros da comunidade.
b) Prevenção especial – Visa atuar sobre o delinquente.
o NOTA: Para Figueiredo Dias, o art. 40.º CP apenas contempla as prevenções
positivas da pena. No entanto, para Taipa de Carvalho, as 4 modalidades
estão presentes (positivas e negativas).
• Tendencialmente monista ou monista prático – Não permite a aplicação de uma
pena e de uma medida de segurança a um agente por um só crime (Ex.: Pena de
prisão e internamento psiquiátrico).
o ≠ Sistema dualista – Permite a aplicação de uma pena e de uma medida de
segurança a um agente por um só facto.
o No entanto, existe uma figura da pena relativamente indeterminada que,
embora formalmente seja uma pena, materialmente é uma pena e uma
medida de segurança (Ex.: Indivíduo que provoca fogos – Prevê-se a pena

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de prisão e o internamento no intervalo de tempo mais propício a


incêndios).
o De salientar que é possível aplicar uma pena e uma medida de segurança
não privativas da liberdade em simultâneo (Ex.: Cassação do título de
condução).

Princípios de Política Criminal

Pp da legalidade (art. 29.º CRP) – Não existem crimes nem sanções criminais sem uma
lei prévia, escrita, estrita, certa e determinada.

Pp da referência constitucional – Tem de existir uma congruência/compatibilidade


entre os valores constitucionalmente protegidos e os BJs tutelados penalmente. Desta
forma, o DP acaba por ser uma consagração constitucional.

Pp da proibição do excesso (art. 18.º/2 CRP) – A intervenção jurídico-penal só deve ser


utilizada quando seja absolutamente necessária e na medida adequada. As sanções penais
têm de ser proporcionais em relação aos comportamentos praticados pelo agente (pp da
proporcionalidade e da adequação). Também nas medidas de segurança deve ser aplicado
o pp da proporcionalidade.

Pp da culpa – Só se justifica a intervenção jurídico-penal e a aplicação de sanções se


existir culpa. No entanto, esta culpa deve ser encarada numa conceção unilateral da culpa,
ou seja, não pode existir pena sem culpa e a culpa não leva, necessariamente, à aplicação
de uma pena (art. 74.º CP). Neste sentido, não pode a pena, em caso algum, ultrapassar a
medida da culpa (a culpa é o limite máximo da pena).

Pp da solidariedade – Relacionado com a prevenção especial positiva: ideia de que o


Estado deve criar as condições necessárias para a reintegração do agente na sociedade.
Desta forma, trata-se de dar oportunidade de frequentar programas de formação
profissional, regressar aos estudos, etc. Isto só acontece desde que haja vontade por parte
do indivíduo (se o indivíduo não quiser ser reintegrado, não pode ser obrigado) – arts. 2.º
e 30.º CRP este último estabelece limites temporais às penas (uma pena longa não ajuda
à prevenção especial positiva).

Pp da preferência pelas reações não detentivas/privativas da liberdade – Sempre que


o juiz tiver liberdade de escolha entre uma reação detentiva e não detentiva deve escolher

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a segunda, se esta for suficiente para conferir as necessidades preventivas gerais no caso
concreto (arts. 70.º penas, 40.º/1 e 98.º medidas de segurança CP decorrem dos arts. 18.º e
27.º CRP proibição do excesso, ou seja, a privação da liberdade só deve ocorrer se outras
medidas se mostrarem insuficientes).

Pp da intransmissibilidade da responsabilidade penal – Não é possível transmitir a


responsabilidade penal para outro (art. 30.º/3 CRP). Para além disso, se o agente falece
no decurso do processo penal, a responsabilidade não passa para os herdeiros (arts. 127.º
e 128.º CRP). Este pp era discutido no art. 11.º CP: há quem defenda que estamos perante
um desvio constitucional:

• Responsabilidade de uma pessoa coletiva – O art. 11.º/2 CP exige que tenha sido
cometido um crime aí enunciado.
• Art. 11.º/9 CP O que está a ser transmitido não é uma responsabilidade penal, mas
civil – Trata-se de um pagamento de uma multa que a pessoa coletiva era
responsável. A doutrina maioritária defende que a norma é inconstitucional se a
pessoa coletiva não tem património para pagar a multa, pelo que a responsabilidade
criminal se deve extinguir.
• Crimes de favorecimento pessoal (art. 367.º/2 CP) – Incorre num crime quem ajudar
alguém a cumprir uma pena/multa.

Pp de não automaticidade dos efeitos das penas (arts. 30.º/4 CRP e 65.º/1 CP) – A
aplicação de uma pena não pode ter como consequência automática e imediata a perda de
direitos civis, políticos, laborais, etc. (Ex.: Art. 69.º/al. b) CP Alguém que pratica um
crime sexual e exerce funções que envolve o contacto regular com menores, o agente
passa a estar proibido de realizar essa profissão). Tem de ser ponderado no caso concreto
e perceber se faz sentido ou não proibir a pessoa de exercer determinada função. De
salientar que o art. 69.º/2 CP leva à aplicação de uma pena acessória quase automática,
devendo a sua aplicação ser ponderada pelo juiz, caso contrário será inconstitucional (art.
30.º/4 CP).

Pp da manutenção da titularidade de direitos fundamentais mesmo no caso de


cumprimento de uma pena de prisão – Mesmo uma pessoa que esteja a cumprir uma
pena de prisão, mantém os direitos fundamentais compatíveis com essa situação (Ex.:
Acesso à educação, emprego).

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Consequências Jurídicas do Crime
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Pp vitimológico (não é um pp de política criminal, mas tem vindo a ter um entendimento forte)
– Traduz-se na necessidade de conferir maior importância à vítima no processo penal e
no próprio DP. Habitualmente, a vítima é deixada de lado quando estamos a aplicar o DP,
este implica uma relação de ius puniendi entre o Estado e o indivíduo. Nesta lógica, a
vítima é, em pp, deixada de fora. No entanto, em Portugal, a vítima tem ganho
importância através do estatuto da vítima que veio alterar o CP (vítima + assistente). Para
além disso, este pp vem introduzir a vítima, tornando-a relevante em vários aspetos:

• O Estado tem de incriminar determinados comportamentos, atribuindo sanções se


esses comportamentos forem praticados. No entanto, poderá haver um
agravamento das sanções por necessidade da vítima.
• Dar à vítima a possibilidade de chegar a um acordo com o agressor e, com isso,
extinguir o processo penal: mediação penal. É possível utilizar em Portugal em
crimes de gravidade baixa (Ex.: Furtos, ofensas à gravidade física simples). A
vítima encontra-se com o mediador e este tenta que as partes cheguem a um
acordo (que pode ir desde um pedido de desculpas até ao pagamento de uma
indemnização), havendo acordo, extingue-se o processo penal. Normalmente, este
é o processo preferencial das vítimas por não terem de se expor tanto.

Direito Penitenciário

Qual a ratio do pp da legalidade? Segurança jurídica + prevenção geral, quer numa


vertente negativa (intimidação geral: teoria da coação psicológica), quer numa vertente
positiva (reafirmação da validade da norma e da consciência da fundamentalidade dos
valores em causa + reforço na confiança das normas: pacificação da comunidade).

Quais os corolários do pp da legalidade?

• Pp da não retroatividade da lei penal desfavorável (art. 2.º CP).


• Proibição da analogia in malem partem, embora seja permitida a analogia in
bonan partem (favorável ao arguido) – art. 29.º CRP.

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Penas

Tipos de Penas

Principais – São fixadas pelo juiz independentemente da existência de qualquer outra


pena. São penas que se aplicam de forma autónoma, não se tendo em consideração
qualquer outra pena. Não se pode aplicar cumulativamente penas principais.

• Pessoa singular:
o Pena de prisão (art. 41.º CP e lei 115/2009) – Duração mínima de 1 mês e
máxima de 20 anos e, excecionalmente, 25.
o Pena de multa (art. 47.º CP) – É fixada em dias, sendo o limite mínimo de
10 e o máximo de 370 dias e o valor pode ir de 5 a 500€ por dia.
• Pessoa coletiva:
o Pena de multa (distingue-se das anteriores) – Art. 90.º-A/1 CP.
o Pena de dissolução (art. 90.º-A/1 CP).

Substitutivas – Penas aplicadas no lugar das penas principais (Ex.: Art. 45.º CP). A pena
de multa tanto pode ser pena principal como substitutiva.

Acessórias – São aplicadas cumulativamente com uma pena principal ou substitutiva


(Ex.: Arts. 66.º a 69.º CP). Também estão espalhadas na parte especial do CP (Ex.: Arts.
152.º/4 crime de violência doméstica; 154.º/al. a) crime de stalking CP).

Caraterísticas da Pena de Prisão

Nos nossos dias, as penas têm por objeto a liberdade ou o património da pessoa.
Antigamente, tínhamos, também, a vida e o próprio corpo da pessoa (Ex.: Pena de morte;
chicotadas; apedrejamento).

Temporária – Limites (art. 41.º/1 CP): de 1 mês a 20 anos e, excecionalmente pode


atingir os 25 (art. 41.º/2 CP).

• Há um tipo legal de crime que prevê uma moldura que atinja esse limite máximo
(Ex.: Art. 132.º CP; crime de terrorismo).
• Situação de concurso de crimes (art. 30.º CP) – A soma das penas parcelares pode
atingir esse limite máximo (art. 77.º CP): Ex.: Agente que comete 3 crimes de

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homicídio simples, se o juiz aplicar uma pena de 10 anos em cada um, o limite
mínimo será 10 e o máximo 25 (porque não pode ultrapassar os 25 anos).
• Penas relativamente indeterminadas (art. 83.º e ss. CP) – Natureza híbrida/mista
por se tratar de uma pena e uma medida de segurança porque depende da culpa e
da perigosidade do agente. Pode levar a que se atinja este limite máximo
(estabelece o travão dos 25 anos) – art. 83.º/2 CP. Também aparece na parte
especial do CP (art. 274.º CP).
• Nada obsta a que uma pessoa passe toda a sua vida (adulta) num estabelecimento
prisional. Este limite é imposto a uma pena (crime singular ou em concurso de
crimes), mas se dentro da prisão o agente pratica outro(s) crime(s), pode passar o
resto da sua vida no estabelecimento prisional porque é iniciado um novo processo
penal, sendo aplicada outra pena distinta da primeira.
• Outra exceção em que poderá ser aplicado o limite máximo dos 25 anos é no caso
previsto no art. 132.º/1 CP.
• Para além dos 25 anos, existem outros limites máximos da pena de prisão.
Classificação das penas de prisão consoante a sua moldura:
o Curta duração – Não ultrapassam 1 ano. Há penas substitutivas que só são
aplicáveis em relação a penas de curta duração. Importância prática:
a) A substituição da prisão por uma pena de multa só pode ter lugar
quando a pena de prisão não ultrapasse 1 ano (art. 45.º/1 CP).
b) Dispensa de pena (art. 74.º CP) – Conceito unilateral de culpa: a pessoa
é culpada, mas pode não ser punida quando tem uma moldura que não
ultrapassa os 6 meses.
o Média duração – Não ultrapassam os 5 anos. Importância prática:
a) Referência ao nível das modalidades de execução da pena de prisão
(art. 50.º CP) – A suspensão de pena de prisão só é possível numa
medida não superior a 5 anos.
b) Regime de permanência de habitação só é aplicado numa pena não
superior a 2 anos (art. 43.º CP).
c) Prestação de trabalho a favor da comunidade só é possível quando o
agente é punido com uma pena de prisão não superior a 2 anos (art.
58.º CP).
o Longa duração – Superiores a 5 anos.

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Única – Não há vais modalidades de prisão.

Simples – Não associamos à aplicação da pena de prisão efeitos jurídicos automáticos ou


necessários, a não ser a alteração do registo criminal. Neste sentido, deixamos de ter
certos efeitos do séc. XIX: perda de direitos civis e políticos (Ex.: perda de títulos
imobiliários como consequência automática da pena de prisão).

Vantagem – Responde adequadamente à culpa da criminalidade mais grave e às


necessidades de prevenção.

Desvantagens

• Incompatibilidade prática entre a pena de prisão e a prevenção especial positiva.


• Serve para a ressocialização do agente, mas na prática serve exatamente para o
oposto porque os reclusos estão cada vez mais fora da sociedade, contribuindo
para a sua estigmatização, tornando a sua ressocialização mais difícil.
• A simples privação da liberdade é suficiente para levar ao corte de relações
profissionais, sociais e familiares, o que contribui para a não reintegração do
agente na sociedade.
• Manter alguém privado da liberdade é algo bastante oneroso para o Estado porque
implica recursos humanos e materiais que implicam grandes custos (Ex.:
Pagamento da alimentação, construção dos estabelecimentos prisionais). O que
também pode justificar a falta de manutenção das prisões.
• Quando o juiz está a determinar a medida da pena de prisão, em regra, não tem
em conta os efeitos que essa pena vai ter na personalidade do próprio agente, tal
como a sensibilidade do condenado para a sua privação da liberdade. Isto significa
que a privação da liberdade por 30 dias pode ter efeitos muito mais intensos do
que outro que é preso 1 ano. Isto implicaria pareceres técnicos de psiquiatria.
• Este número alargado de desvantagens ajuda a explicar o surgimento de outras
penas, como a pena de multa (forma alternativa), cuja aplicação permite aplicar
penas não privativas da liberdade.

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Pena de Multa

As penas de multa servem maioritariamente para os casos de criminalidade leve ou


de grave intensidade (de curta ou média duração). No entanto, não servem para os casos
de criminalidade mais elevada (Ex.: Homicídio simples).

Portugal foi pioneiro a adotar o modelo de dias de multa, de forma a evitar injustiças
relativas (arts. 47.º CP e 13.º CRP). Este não leva à previsão de uma quantia fixa no tipo
legal, mas assenta num número de dias aos quais vai estar associado um quantitativo
diário (modelo escandinavo).

Art. 143.º CP 2 penas principais: pena de prisão e multa; articulado com o art. 47.º
CP (determinação da pena de multa):
• Limite mínimo de 10 dias.
• Limite máximo de 360 dias. No entanto, há casos em que o limite máximo
pode ser, excecionalmente, superior.
Art. 47.º/2 CP quantitativo diário (quantia diária para cada dia de multa):
• Limite mínimo de 5€.
• Limite máximo de 500€.

Torna-se necessário que esta pena seja legalmente conformada e concretamente


aplicada de forma a permitir a plena realização das finalidades das penas (art. 40.º/1 CP),
daí a existência de limites máximos e mínimos suficientemente afastados para que a
determinação concreta da pena possa fazer dela uma pena com eficácia político-criminal.
Isto porque pensar numa multa típica violava o pp da culpa do agente e da intervenção
mínima.

É preciso, também, atender ao facto que nem toda a gente tem as mesmas
capacidades financeiras. A multa mínima será de 50€ (10 dias x 5€). A situação
económica e os encargos pessoais são os critérios determinantes na determinação do
quantitativo diário (arts. 70.º/1 e 40.º/1 CP opta-se entre pena de prisão e de multa). Neste
sentido, o juiz pode autorizar o pagamento dentro de um determinado prazo (que não
exceda 1 ano) ou determinar o pagamento em prestações (art. 47.º /3 CP). Podendo, ainda,
o condenado requerer o cumprimento da pena em dias de trabalho (art. 48.º CP). Para
além disso, pode-se converter os dias de multa em prisão subsidiária e de esta ficar
suspensa, caso se prove que o condenado não tem meios para pagar a multa (art. 49.º/3
CP).
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Tal como as penas privativas de liberdade, a multa não pode ser transmitida para
outras pessoas que não o próprio agente, sob pena de crime de favorecimento pessoal.

A multa assume várias naturezas:

• Pode ser uma pena principal (Ex.: Art. 143.º CP).


• É uma pena alternativa à pena de prisão (Ex.: Arts. 137.º, 203.º, 143.º CP) – Regra.
• Pode ser uma multa autónoma (fenómeno raro) – A pena de multa é a única pena
prevista no tipo legal de crime (arts. 268.º/3 e 4 e 366.º/2 CP).
• A multa pode ser complementar.
NOTA: A pena complementar não é admitida no nosso CP, apesar de haver
alguma legislação extravagante que a permite.

Furto qualificado (art. 204.º CP) – Pena de prisão de 5 anos ou pena de multa até 600
dias, ultrapassando o limite máximo de 360 dias.

O concurso de crimes pode ter lugar numa pena de prisão ou de multa (art. 77.º/2 CP
não pode ultrapassar os 900 dias). No caso das pessoas coletivas podemos ter limites
superiores:

• Cada mês de prisão corresponde a 10 dias de multa (art. 90.º-B/2 CP).


• Cada dia de multa corresponde entre 100 e 10.000€ (art. 90.º-B/5 CP).
• Tráfico de pessoas (art. 160.º CP) – Máximo 12 anos x 12 meses = 144 dias x 10
= 1440 dias de multa.
Os 12 anos podem passar para 16 x 12 meses = 192 x 10 = 1920 dias de multa x
10.000 = 192 000 000€.

Responsabilidade jurídico-criminal de pessoas coletivas (arts. 11.º e 90.º-A e ss. CP)

Alguém que viola um menor no nome e interesse de uma pessoa coletiva, poderá a
pessoa coletiva ser condenada pela violação? Sim (art. 11.º/2 CP) – A constituição da
moldura sancionatória é feita a partir do art. 164.º CP (3-10 anos). Se a criança tiver 13
anos (art. 177.º/7 CP) leva à gradação em metade dos limites mínimos e máximos: 4 anos
e 6 meses até 15 anos (15 x 12 meses = 180 dias x 10 = 1 800 dias de multa.

Embora a regra seja que só as pessoas singulares são suscetíveis de serem


responsabilizadas criminalmente, o art. 11.º/1/parte inicial CP introduz 2 exceções a esta

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regra: o disposto nos números 2 e ss. do mesmo art. e os casos especialmente previstos
na lei. Desta forma, o primeiro passo reside em verificar se o tipo legal em causa consta
da lista taxativa de crimes constante no art. 11.º/2 CP. De seguida, é necessário que o
crime haja sido cometido em nome e no interesse coletivo por pessoas que nelas ocupem
uma posição de liderança ou por quem aja sob a autoridade das pessoas referidas, em
virtude de uma violação dos deveres de vigilância ou controlo que lhes incumbem (art.
11.º/2/als. a) e b) CP). Entende-se que ocupa uma posição de liderança os órgãos e
representantes da pessoa coletiva e quem nela tiver autoridade para exercer o controlo da
atividade (art. 11.º/4 CP).

Quanto às penas aplicáveis, é evidente que a pena de prisão não pode ser aplicável
às pessoas coletivas. Regime sancionatório: arts. 90.º-A e ss. CP. Tendo como penas
principais a pena de multa (art. 90.º-B CP) e de dissolução (art. 90.º-F CP), bem como
penas acessórias aí elencadas.

A pena de multa aplicável às pessoas coletivas tem como referência a pena de prisão
prevista para as pessoas singulares: cada mês de prisão corresponde a 10 dias de multa
(art. 90.º-B/2 CP). Quanto ao quantitativo diário: o limite mínimo será 100€ e o limite
máximo 10.000€ (art. 90.º-B/5 CP), sendo que o tribunal deve ter em consideração a
situação económica e financeira da pessoa coletiva e dos seus encargos com os
trabalhadores. Também aqui o tribunal pode autorizar o pagamento num prazo máximo
de 1 ano ou em prestações, a serem pagas na totalidade até 2 anos após a data do trânsito
em julgado (arts. 90.º-B/5 e 47.º/3 CP). Findo o prazo ou faltando o pagamento de uma
das prestações sem que o pagamento esteja efetuado, o património da pessoa coletiva é
executado (arts. 90.º-B/6 e 47.º/5 CP). Para além disso, as pessoas que ocupem uma
posição de liderança são subsidiariamente responsáveis pelo pagamento das multas a que
a pessoa coletiva for condenada (art. 11.º/9 CP).

É de salientar que a responsabilidade das pessoas coletivas não exclui a


responsabilidade individual dos respetivos agentes, nem depende da responsabilização
destes (art. 11.º/7 CP).

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Desvantagens

• Produz efeitos mais gravosos naquelas pessoas que detém menos património.
Apesar disto, o nosso CP permite um certo ajuste tendo em conta o património da
pessoa em causa (art. 47.º/2 CP).
• Ao pagar uma multa, a pessoa fica com menos rendimento/património disponível.
• O pagamento de uma multa pode ter um efeito criminógeno (potenciador da
prática de novos crimes) – Ex.: A comete um crime de furto, porque não tem
rendimentos e depois tem de pagar uma multa, podendo recorrer ao furto
novamente.
• Terá menos eficácia preventiva, sobretudo se olharmos para a finalidade
preventiva negativa da pena (a pena de prisão será mais intimidante do que a pena
de multa).
• Sensibilidade da pena de multa a fenómenos de inflação – Possibilidade que um
montante da pena de multa tem de ser afetado por fenómenos inflacionistas. Desta
forma, diminui-se a eficácia preventiva (art. 47.º/2 consagra os valores mínimos
e máximos da pena de multa, mas remeter os valores para uma portaria facilitaria
a atualização de valores). No entanto, no espaço europeu, a inflação está
minimamente controlada.

Vantagens

• O cumprimento de uma pena de multa não leva à cessação dos laços familiares,
profissionais e sociais entre o condenado e a comunidade (não há qualquer quebra
de ligação).
• Maior flexibilidade no pagamento da pena de multa. Enquanto uma pena de prisão
não dá para ser cumprida às prestações, com a pena de multa isto é possível (art.
47.º/2 CP).
• Diminuição de casos de pena de prisão.
• Por um lado, a pessoa não vai para o estabelecimento prisional, não gastando
recursos humanos e monetários e, por outro, paga uma pena de multa enchendo
os bolsos do Estado.

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Determinação da medida concreta da pena de prisão

Esta tarefa incumbe a duas entidades: o legislador e o julgador. Isto porque o


legislador define as molduras abstratas dos crimes (limite mínimo e máximo dentro do
qual o juiz se vai movimentar), as circunstâncias modificativas agravantes ou atenuantes
e os critérios de escolha e de mensuração (determinação concreta) da pena a aplicar (Ex.:
Art. 71.º CP). Já o julgador tem de avaliar a culpa e a prevenção à luz desses critérios
definidos pelo legislador. É de salientar que estes critérios são altamente subjetivos (não
existem tabelas da medida da culpa como acontece nos EUA).

A atuação do legislador é insuficiente porque é necessário um julgador que


proceda à determinação da medida concreta da pena a partir dos critérios definidos no art.
71.º CP e tem de escolher a espécie de pena que deve ser aplicada, fazendo um trabalho
complementar.

No caso de ser apenas o legislador, estaríamos a julgar uma situação concreta e


estaria em causa uma violação do pp da igualdade por não se dar um tratamento
diferenciado àqueles que têm uma situação diferente e do pp da culpa porque não haveria
julgador para avaliar a medida da culpa.

No caso de ser apenas o julgador, estaria na mão deste o pp da legalidade. Assim,


teria de definir as sanções porque não haveria qualquer previsão legal.

Investigação da moldura penal (procura da moldura abstrata)

• Escolha do tipo legal de crime que está em causa (nem sempre o tipo legal dá os
limites) – Ex.: Art. 143.º CP pena de prisão entre 1 mês (art. 41.º CP) até 3 anos
ou pena de multa (como este art. não estabelece limites temos de ver o art. 47.º
CP que estabelece o período entre 10 e 360 dias).
• Avaliar se existem circunstâncias modificativas, ou seja, situações agravantes ou
atenuantes (que vão alterar a própria moldura abstrata). Estas indicam uma maior
ou menor gravidade do crime.
o Agravantes – Aquelas circunstâncias que elevam o limite mínimo e/ou
máximo da moldura abstrata (Ex.: Art. 75.º CP reincidência).
o Atenuante – Aquela que vai diminuir o limite mínimo e/ou máximo da
moldura abstrata (Ex.: Art. 72.º CP).

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o Comuns – Aplicam-se em relação a todos os crimes (parte geral do CP) –


Ex.: Reincidência.
o Específicas (parte especial do CP) – Aplicam-se em relação a um conjunto
específico de crimes – Ex.: Corrupção.
o Pode ser aplicada mais do que uma circunstância modificativa, tendo de
ser aplicadas sucessivamente.
o No entanto, se estivermos perante uma situação agravante ou atenuante,
primeiro aplica-se a agravante e só depois a atenuante, exceto quando a
circunstância modificativa agravante é a reincidência. Nesses casos,
aplica-se primeiro a atenuante – Ex.: A tem 17 anos e tentou matar B, a
moldura abstrata aplicada seria de 8 a 16 anos, mas o art. 73.º CP reduz
1/3 o limite máximo (10 anos) e reduzimos 1/5 o limite mínimo (1 ano e 6
meses).

Investigação e determinação da medida concreta da pena (medida judicial/individual)

Para determinar a pena concreta devemos ter em conta os pps da dignidade da pessoa
humana (art. 1.º CRP), da necessidade (mínima restrição de direitos), da
proporcionalidade e da adequação (art. 18.º/2 CRP).

Dentro da moldura, escolher qual a medida concreta da pena (dentro dos limites
previstos), sendo que o caso tem de ser avaliado em função da culpa do agente e
prevenção (art. 71.º/1 CP).

A culpa do agente vai funcionar como limite inultrapassável (art. 40.º/2 CP): conceção
unívoca – Limite máximo a partir do qual as necessidades preventivas não vão poder
atuar. Desta forma, a culpa é pressuposto (sem culpa não existe pena) e limite máximo da
pena. Por culpa entende-se que não há pena sem culpa, mas pode haver culpa sem pena.
Como é possível articular culpa e prevenção dentro de uma moldura abstrata para
chegar a uma medida concreta?

Teoria de valor de posição/emprego – A culpa e a prevenção vão ter campos de atuação


diferentes. A culpa vai ser utilizada para a tarefa de determinação concreta da medida da
pena dentro da moldura. A partir da prevenção o juiz escolhe a espécie de pena. Esta
teoria não é adotada em Portugal, quanto muito será parcialmente aceite (o art. 70.º CP
remete implicitamente para o art. 40.º/1 CP: o critério que deve ser utilizado pelo julgador

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Consequências Jurídicas do Crime
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é exclusivamente preventivo). Isto porque uma pena determinada só com base na culpa
pode ser uma pena justa, mas não uma pena necessária do ponto de vista de proteção do
BJ e da reintegração do agente na sociedade. Para além disso, segundo o art. 71.º/1 CP a
medida da pena é definida em função da culpa e das exigências de prevenção.

Teoria da culpa exata – A medida concreta da pena é dada pela culpa. Não há qualquer
importância dada à prevenção (teoria ético-retributiva). Esta teoria é rejeitada por não ser
concedida qualquer importância à prevenção. Para além disso, é praticamente impossível
definirmos a culpa do agente num ponto exato.

Teoria da moldura da culpa/do espaço de liberdade (utilizada na Alemanha) – A


medida da pena deve ser dada essencialmente através da medida da culpa: determina o
limite mínimo e máximo. Dentro desta sub moldura, o juiz utiliza a prevenção especial
positiva (ressocialização) para estabelecer um ponto exato da pena, levando a uma medida
concreta da pena. Em situações excecionais, a prevenção especial positiva pode levar a
situações em que a pena pode ser menor que o limite mínimo.

Conceção preventivo-ética – A prevenção especial dá-nos o quantum concreto da pena,


mas há uma divergência quanto à prevenção geral:

• Posição de Figueiredo Dias (posição maioritária) – Dentro da moldura abstrata,


deve ser definido um limite mínimo e máximo de acordo com a prevenção geral
positiva, que tem como limite máximo a medida ótima de tutela de bens jurídicos:
ponto dentro da moldura abstrata onde as necessidades da sociedade ficam
satisfeitas de uma forma mais cabal. Abaixo desta medida ótima há outros pontos
em que a prevenção geral positiva ainda está satisfeita. O limite mínimo será o
limite mínimo de defesa do ordenamento jurídico. Tem de se dizer onde se situa
o limite máximo definido pela culpa, que não pode ser ultrapassado. A prevenção
especial positiva vai dar a medida concreta da pena dentro da prevenção geral
positiva.
• Posição de Taipa de Carvalho – Tradicionalmente, na parte inicial do art. 40.º
CP está prevista a prevenção geral positiva (proteção de BJs) e a parte final refere-
se à prevenção especial positiva. Aqui há uma confusão entre fins do DP e os fins
das penas e das medidas de segurança. O DP é um instrumento social que serve
para proteger bens jurídicos. Isto significa que no art. 40.º CP só está
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Consequências Jurídicas do Crime
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expressamente previsto uma finalidade das penas e das medidas de segurança:


prevenção especial positiva. Os fins das penas e as próprias penas são
instrumentos que o DP utiliza para cumprir a sua finalidade última.
o Fins imediatos/últimos – Fins das penas, nomeadamente, a prevenção
especial positiva.
o Fins mediatos – Proteção de BJs através dos fins das penas.
No entanto, entende-se que as finalidades a ter em consideração são 4: prevenção
especial positiva e negativa e prevenção geral positiva e negativa. Para Taipa, a
prevenção geral já está espelhada na moldura legal (qualquer ponto escolhido
dentro desta satisfaz as necessidades de prevenção geral) e a culpa traça o limite
máximo da moldura. Depois, temos de estabelecer uma moldura da prevenção,
onde o limite mínimo corresponde sempre ao limite mínimo da moldura abstrata.
Assim, dá-se mais ênfase às necessidades de prevenção especial, que funcionam
para determinar o montante exato da pena.
Taipa de Carvalho introduz as prevenções negativas. O legislador já definiu qual
o limite mínimo indispensável de pena para reforçarmos a confiança dos cidadãos.

Como se quantifica a prevenção e a culpa? Através de fatores de medida da pena que


podem ser agravantes ou atenuantes. A doutrina chama a este conjunto de fatores o
substrato da medida da pena. O art. 71.º CP tem uma lista não exaustiva de fatores de
medida da pena. Para além disso, o tribunal não pode, na determinação da medida
concreta da pena, tomar em consideração fatores que já fazem parte da medida legal de
crime (Ex.: Art. 72.º CP).

• Fatores relativos à execução do facto (modo como o facto foi praticado: se é mais
ou menos censurável) – art. 71.º/als. a) e e) CP):
o Vão ajudar a quantificar quer a culpa, quer a prevenção.
o Grau de ilicitude do facto.
• Fatores relacionados com a personalidade do agente (art. 71.º/als. b) e f) CP).
• Fatores ligados à conduta do agente antes e depois do crime (art. 71.º/al. e)/parte
final CP).

NOTA: A prevenção geral positiva consiste no restabelecimento da confiança da


sociedade, enquanto a negativa é de dissuasão de potenciais infratores. Já a prevenção

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Consequências Jurídicas do Crime
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especial positiva consiste na reintegração do condenado na sociedade, enquanto a


negativa é de dissuasão da prática de futuros crimes.

Escolha da espécie de pena (pressupostos do art. 131.º CP) - REINCIDÊNCIA

Circunstâncias modificativas (art. 75.º CP reincidência). A reincidência tem pressupostos


formais (art. 75.º/1 e 2 CP) e um pressuposto material (art. 75.º/1 CP):

• Formais – Ter cometido um crime doloso ao qual seja aplicável uma pena de
prisão superior a 6 meses; já ter sido condenado por sentença transitada em
julgado por um crime doloso com pena superior a 6 meses de prisão efetiva e não
podem ter decorrido mais de 5 anos entre a prática do crime anterior e a do novo
crime, prescrevendo a reincidência se for ultrapassado esse tempo. No entanto,
não conta o tempo em que a pessoa esteve privada da liberdade (art. 75.º/2/parte
inicial CP),
• Material – A pena anterior não ter servido de suficiente advertência para que não
cometesse mais crimes.
• Há dois tipos de reincidência:
o Específica/própria/homogénea – O mesmo crime que é praticado mais do
que uma vez.
o Genérica/imprópria/heterogénea – Estão em causa crimes distintos (contra
o património e contra a integridade física podem estar ligados por a vítima
ser a mesma ou as intenções serem as mesmas) – Ex.: A rouba o telemóvel
de B e noutra altura dá-lhe um soco.
• Efeitos (art. 76.º CP) – A reincidência é uma circunstância modificativa agravante
que agrava o limite mínimo a 1/3, mas a agravação não pode ultrapassar a medida
das penas aplicadas anteriormente:
o Calcular a medida da pena sem a reincidência (arts. 131.º, 1.º e 18 CRP e
40.º e 71.º CP) – Ex.: A moldura era de 8 a 16 anos e a pena concreta
seria de 12 (com a medida da culpa, que pode variar de acordo com a
colaboração, demonstração de arrependimento, etc.).
o Determinar a moldura da reincidência – O limite máximo será o limite
previsto na lei para o respetivo crime, e o limite mínimo é o limite mínimo
legalmente previsto para o tipo elevado a 1/3 (converter em meses e elevar

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Consequências Jurídicas do Crime
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a 1/3) – Ex.: Numa moldura de 8 a 16 anos, o limite mínimo é agravado


em 2 anos e 6 meses (10 anos e 6 meses).
o Determinar a medida concreta da pena com a reincidência (art. 71.º CP) –
14 anos.
o Comparar a medida sem e com reincidência e verificar se a diferença é ou
não superior à medida da pena mais grave aplicada em penas anteriores
(art. 76.º/1/2.ª parte CP) – A diferença era de 2 anos, porque sem a
reincidência a pena aplicada era de 12 anos. Neste caso, a medida
aplicada anteriormente foram 16 anos de pena de prisão efetiva. Assim,
os 14 anos, apesar de agravados por reincidência não ultrapassam os 16
anos da pena anterior.

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Consequências Jurídicas do Crime
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Casos especiais de determinação da pena

Concurso de crimes

Acontece quando o agente pratica vários crimes ou mais do que uma vez o mesmo crime
antes de transitar em julgado a condenação por qualquer um deles (art. 30.º CP).

Concurso efetivo

• Real – O agente, através de várias condutas, preenche o mesmo tipo legal de crime
pelo menos 2 vezes ou tipos legais de crime diferentes.
o Homogéneo – Disparar várias vezes (várias condutas geraram o mesmo
tipo legal de crime).
o Heterogéneo – Dispara várias vezes e mata pessoas, mas também destrói
veículos (várias condutas geram tipos legais distintos).
• Ideal – O agente, através de uma só conduta, pratica várias vezes o mesmo crime
ou pratica crimes diferentes.
o Homogéneo – Colocar um explosivo no centro de uma cidade e a
consequência ser a morte de várias pessoas (uma conduta gera um tipo
legal de crime).
o Heterogéneo – Colocar um explosivo no centro de uma cidade e a
consequência ser a morte de várias pessoas e a destruição de veículos
(uma conduta gera tipos legais distintos).
• Homogéneo – Quanto temos a prática múltipla do mesmo tipo legal de crime.
• Heterogéneo – Prática de crimes distintos.

O art. 30.º/1 CP apenas prevê o concurso heterogéneo e homogéneo (arts. 77.º e 78.º
CP) – Ex.: A pratica 2 crimes de homicídio: é um concurso homogéneo. Se já houve
transito em julgado não falamos em concurso de crimes, mas em reincidência se
estiverem verificados os pressupostos.

Concurso aparente – Há um tipo legal que abrange outros e, como tal, a pessoa vai ser
punida pelo crime mais grave (Ex.: Furto e ofensas à integridade física: roubo).

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Consequências Jurídicas do Crime
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Havendo duas vítimas, questiona-se se há um ou 2 crimes (divergência doutrinal e


jurisprudencial) – Ex.: 1 atropelamento, 2 vítimas. Por um lado, havendo um único
desvalor de ação (violação do dever de cuidado), um único juízo de censura, há quem
defenda a unidade criminosa, sob pena de violação do pp da culpa. No entanto, há quem
entenda tratar-se de 2 crimes, não se violando o pp da culpa, pois era previsível que da
violação do dever de cuidado pudessem resultar danos para várias pessoas. Para além
disso, há posições intermédias, distinguindo consoante a negligência seja consciente ou
inconsciente ou consoante as vítimas se situem na esfera de domínio do agente ou não
(ou na mesma comunidade de perigo ou não).

No caso de concurso de crimes, a pena é determinada pelo:

• Sistema de acumulação material – Determina a medida concreta da pena para


cada um dos crimes e soma as penas (16 + 16 = 32 aproveitamento o ex. dos 2 crimes
de homicídio), sendo cumpridas sucessivamente se tiverem a mesma natureza ou
simultaneamente, se tal for possível. Este sistema não é seguido em Portugal
porque:
o As penas têm uma finalidade de prevenção especial positiva e essa
finalidade deixa de ser cumprida se for aplicada um sistema deste género,
que leva à aplicação de penas de prisão excessivas.
o Efetiva transformação da espécie de pena, que é aplicada ao sujeito (Ex.:
Pena de prisão de duração limitada que passa a ser uma pena de prisão
perpétua).
• Sistema de pena unitária – O juiz, perante a multiplicidade de crimes, vai
ficcionar a prática de um crime único e os vários crimes vão surgir como fatores
de medida da pena (agravar ou atenuar a pena). Este sistema também não é
utilizado porque se aproxima mais do DP do agente do que do DP do facto, porque
o juiz se foca maioritariamente na personalidade do sujeito, em vez dos factos
praticados. Em Portugal a sanção decorre do facto e não da ação desvaliosa.
• Sistema de pena conjunta – A medida da pena decorre da combinação das penas
parcelares ou das molduras abstratas previstas para cada um dos crimes. Em
Portugal é aplicado um sistema de pena conjunta por cúmulo jurídico (art. 77.º
CP é condenado numa única pena).
• Para chegar à pena concreta é preciso: determinar a medida concreta da pena
de cada um dos crimes e construir a moldura de concurso – o limite mínimo é a

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Consequências Jurídicas do Crime
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pena concreta mais elevada e o limite máximo é dado pela soma das penas
concretas (art. 77.º/2 CP). Dentro da moldura do concurso escolhe-se a medida
concreta da pena conjunta (art. 77.º/1/parte final CP) de acordo com a globalidade
dos factos e a personalidade do agente. Por fim, é preciso saber se se aplicam
penas substitutivas ou penas acessórias – Ex.: A comete 3 crimes de furto simples.
É punido com pena de 1 ano; 1 ano e 6 meses e 3 anos de prisão. A moldura do
concurso é a pena concreta mais elevada, por isso, 3 anos (mínimo) e 5 anos e 6
meses (máximo).

Importa referir o art. 78.º CP que aborda o conhecimento superveniente de um crime


que deveria estar incluído no concurso, mas o tribunal só descobriu depois de a pena única
estar completa. Para saber se um crime deve ou não integrar o concurso de crimes temos
de verificar o momento em que esse crime novo foi praticado:

• Depois de uma decisão transitada em julgado (art. 78.º/1 CP) – O momento


importante é o da condenação da pena única. Neste caso, seriam aplicáveis as
regras do concurso de crimes (art. 77.º CP).
• Se o crime tiver sido praticado antes da condenação da pena única deve passar a
haver uma nova moldura do concurso.
• Se o crime foi praticado entre a condenação e o transito em julgado ou depois
deste, não temos de determinar novamente a moldura do concurso, o que exclui
os crimes praticados entre a condenação e o transito em julgado da mesma.

A jurisprudência adota posições distintas, embora não vinculativas: o momento


temporal a ter em conta é o transito em julgado da primeira condenação (ac. 9/2016 STJ),
o que resulta de uma interpretação não literal do art. 78.º CP.

Crime continuado (art. 79.º CP)

São próximos do concurso de crimes. No entanto, aqui a pessoa só vai ser punida por
um crime apenas (art. 30.º/2 e 3 CP). O crime continuado é uma ficção legal, porque o
legislador considera haver apenas um crime, quando o agente pratica vários tipos de crime
que tutelem o mesmo BJ ou várias vezes o mesmo crime, embora o modus operandi tenha
sido idêntico (Ex.: Funcionário de caixa que trabalha no hipermercado, não havendo
controlo rigoroso da caixa, retira da caixa 30€ todos os dias durante 2 anos. Segundo o

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Consequências Jurídicas do Crime
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concurso de crimes era punido 24x pelo mesmo crime. Por isso, faz mais sentido aplicar
a figura do crime continuado, considerando-se que estes comportamentos vão redundar
num comportamento homogéneo que se prolonga no longo do tempo). Já o art. 30.º CP
trata das duas figuras (n.º 1, 2 e 3).

O crime continuado surgiu como a ratio de evitar penas demasiado severas,


desproporcionadas, além da razão processual (promoção da economia processual).

Em tudo o que diga respeito a bens eminentemente pessoais, não se pode aplicar esta
figura (Ex.: Autodeterminação sexual, integridade física) – art. 30.º/3 CP.

O crime continuado é punido com a pena aplicável à conduta mais grave que integra
a continuação (art. 79.º/1 CP). Assim, os crimes praticados naquele mesmo contexto
espácio-temporal não necessitarão de outro processo, pois toda a unidade criminosa estará
abrangida por aquela decisão. Contudo, se, depois da condenação transitada em julgado,
for conhecida uma conduta mais grave que integre a continuação, a pena que lhe for
aplicável substitui a anterior (art. 79.º/2 CP).

Apesar de a pessoa ter praticado um comportamento 20x, sendo a moldura idêntica


em todos os crimes: há sempre alguma diferenciação quando os crimes são ligeiramente
diferentes e, por isso, terão molduras diferentes.

Desconto (arts. 80.º a 82.º CP)

Tem como função a diminuição do período temporal da prisão. O tempo de


privação que tenha acontecido no âmbito de medidas processuais, durante a fase
processual, vai ser descontado no tempo de prisão em que a pessoa tenha sido condenada.
Mesmo que esta privação da liberdade tenha sido aplicada num processo, vão poder ser
descontadas noutro processo diferente, se este acabar primeiro do que o processo onde
foram aplicadas as medidas. Esta figura relaciona-se com a prevenção especial positiva
(ressocialização do agente) para evitar um prolongamento excessivo da privação da
liberdade.

Se a pessoa for condenada em pena de multa (art. 80.º/2 CP), aplica-se o rácio de
1 dia de privação de liberdade que equivale a 1 dia de pena de multa (Ex.: 400 dias de
pena de multa - 365 que passou em privação = 35 multiplicado pelo quantitativo diário

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Consequências Jurídicas do Crime
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de multa. Se A passou 1 ano em prisão preventiva, vai ver esse ano descontado na prisão
efetiva, no caso de ser condenado).

Não obstante o silêncio da lei, as medidas processuais devem ser descontadas na


medida de segurança de internamento, bem como nas penas de substituição que venham
a ser importas, por inteiro ou fazendo o desconto que parecer equitativo, consoante os
casos.

Outras modalidades:

• A LA impõe uma moldura penal de 8 a 16 anos e a pena concreta é 6 anos. surge


uma LN cuja pena é 7 anos. Reduz o tempo que já cumpriu (art. 81.º CP). Isto
significa que o desconto também acontece quando temos uma pena transitada em
julgado e há uma substituição da pena.
• É descontado o tempo já cumprido pelos mesmos factos no estrangeiro (art. 82.º
CP).

Atenuação especial da pena

É uma circunstância modificativa atenuante porque tem como efeito a diminuição da


moldura abstrata da sanção aplicável ao crime. Pode assumir diferentes naturezas:

• Cláusula geral de atenuação especial da pena (art. 72.º CP).


• Crimes omissivos (art. 10.º/3 CP).
• Erro sobre a ilicitude (art. 17.º/2 CP) – No caso de o erro ser censurável.
• Arts. 23.º/2, 27.º/2, 33.º/1 e 35.º/2 CP.
• Art. 206.º/2 CP restituição/reparação.

O art. 72.º CP é como uma válvula de segurança do sistema para casos excecionais
em que a moldura legal se revele desajustada ao caso concreto.

A atenuação pode ser obrigatória (Ex.: Arts. 23.º/2 quando alguém comete o crime na
forma tentada e a tentativa é punível, será punível com a pena aplicada ao crime
consumado com uma atenuação especial da pena e 27.º/2 CP alguém é punido por ser
cúmplice de um crime: a pena aplicada é a mesma fixada para o autor, mas
especialmente atenuada) ou facultativa (Ex.: Arts. 10.º/3 a pena pode ser especialmente
atenuada e 33.º/1 CP o facto é ilícito, mas a pena pode ser especialmente atenuada).

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Consequências Jurídicas do Crime
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Efeitos (art. 73.º/1 CP)

a) O limite máximo da pena de prisão é reduzido em 1/3 (retira-se 1/3).


b) O limite mínimo em 1/5 (fica 1/5), se for inferior a 3 anos. Não esquecer que o
limite mínimo legal da pena de prisão é de 1 mês.
c) Se estiver em causa uma pena de multa, o limite máximo é reduzido de 1/3 e o
limite mínimo é reduzido ao mínimo legal: 10 dias (art. 47.º/1 CP).

A atenuação especial da pena vai depender das circunstâncias do caso concreto. Pode
acontecer que haja aplicação da atenuação especial da pena obrigatória, mas
conjuntamente com isso o tribunal pode tentar verificar se se aplica, também, o art. 72.º/1
e 2 CP.

Dispensa de pena (art. 74.º CP)

Esta figura corresponde a uma situação onde há uma declaração de culpa do


agente, mas apesar dessa declaração, não há aplicação de pena. O agente pratica uma ação
ilícita, mas não se aplica uma pena. Porquê?

• Natureza bagatelar do comportamento – A diminuta gravidade do comportamento


que o agente praticou (pressupostos formais do art. 74.º CP).
• Necessidade de aplicação da pena e finalidade da pena – Se se justifica ou não
aplicar uma pena visto que as exigências preventivas (geral e especial positiva)
são baixas (arts. 40.º/1 e 74.º/1/al. c) CP).

O art. 74.º CP demonstra que não há uma relação biunívoca entre pena e culpa. Se é
certo que toda a pena pressupõe culpa, nem sempre a existência de culpa leva à aplicação
de uma pena (Ex.: Art. 186.º CP crime de injúria).

Pressupostos

a) Só é possível dispensar o réu se a ilicitude do ato e a culpa do agente forem


diminutas.
b) O dano tem de ser reparado.
c) À dispensa de pena se não opuserem razões de prevenção.

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Consequências Jurídicas do Crime
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A dispensa de pena pode ocorrer da aplicação direta do art. 74.º CP, mas há outras
normas que preveem este regime (art. 35.º/2 CP estado de necessidade desculpante). Na parte
especial podemos encontrar o art. 143.º/3/al. a) CP que prevê dispensa de pena quando há
lesões físicas provocadas mutuamente, sem saber quem agiu em primeiro lugar.

Quando se aplica dispensa de pena, é preciso verificar se os pressupostos do art. em


causa estão preenchidos, mas também verificar se estão preenchidos os pressupostos do
art. 74.º/3 CP.

Arquivamento em caso de dispensa de pena (art. 280.º CPP) – O MP pode, com


acordo do juiz de instrução criminar, arquivar o processo se o art. 74.º CP estiver
preenchido, em vez de acusar o arguido.

Escolha da pena

Fases da determinação da pena

1. Determinação da moldura abstrata.


2. Determinação da medida concreta da pena de acordo com as teorias de Figueiredo
Dias e Taipa de Carvalho.
3. Escolha de pena (pode ser a primeira fase quanto os tipos legais de crime preveem,
em alternativa, pena de prisão e pena de multa).

O art. 70.º CP é o critério que deve ser seguido quando está em causa a tarefa de
determinação da espécie de pena (o legislador dá preferência às penas não privativas da
liberdade: o art. 50.º CP sustenta esta ideia). Este art. refere-se à prevenção geral e
especial. Se houver mais do que uma pena compatível com a prevenção geral, o julgador
deve usar a prevenção especial positiva como critério.

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Consequências Jurídicas do Crime
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Penas acessórias (arts. 65.º e ss. CP e 30.º/4 CRP)

• Proibição do exercício de função (art. 66.º CP).


• Suspensão do exercício de função (art. 67.º CP).
• Proibição de conduzir veículos com motor (art. 69.º CP).
• Proibição de contacto com a vítima e/ou do uso e porte de armas; obrigação de
frequência de programas específicos de prevenção da violência doméstica (art.
152.º/4 CP).
• Incapacidade para eleger PR, deputados ao Parlamento Europeu, à AR, às
Assembleias Legislativas das RA e os titulares dos órgãos das Autarquias Locais,
para ser eleito como tal ou para ser jurado (arts. 246.º e 346.º CP).

As penas acessórias são verdadeiras penas, ligando-se, necessariamente, à culpa do


agente, justificando-se de um ponto de vista preventivo. Devem ser determinadas
concretamente em função dos critérios gerais de determinação da medida da pena (art.
71.º CP), a partir de uma moldura que estabelece o limite máximo e mínimo.

Quem violar as imposições, proibições ou interdições impostas por sentença criminal


a título de pena acessória não privativa da liberdade é punido com pena de prisão até 2
anos ou pena de multa até 240 dias (art. 353.º CP).

Estas penas não têm efeitos automáticos (arts. 30.º/5 CRP e 65.º/2 CP), pelo que a
aplicação de uma pena acessória supõe uma pena principal e que a lei preveja a
possibilidade de pena acessória. Assim, o juiz determina concretamente de acordo com o
grau de culpa do agente e as necessidades de prevenção dentro da moldura penal.

• O art. 69.º CP impõe a aplicação da pena acessória de inibição de conduzir. No


entanto, o Tribunal Constitucional já se pronunciou no sentido de a norma não ser
inconstitucional, por caber ao juiz a determinação da pena concreta.

É de salientar que o art. 66 CP é subsidiário relativamente ao art. 100.º CP. Isto


significa que se estiverem preenchidos os pressupostos da medida de segurança já não se
aplica a pena acessória.

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Consequências Jurídicas do Crime
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Penas de substituição

As penas de substituição têm por base a ideia de que a pena de prisão deve ser a
ultima ratio e elas podem substituir penas de prisão ou penas de multa.

Depois da medida da pena ter sido determinada, importa determinar a espécie de


pena.

• Em sentido próprio – São aquelas que substituem a pena de prisão, mas não são
detentivas (Ex.: Pena suspensa). Em regra, não são privativas de liberdade e vão
pressupor a determinação prévia da medida concreta da pena de prisão que foi
determinada pelo juiz, sendo aplicadas e executadas no lugar desta. O seu objetivo
genérico é evitar a pena de prisão e os seus efeitos – Ex.: Arts. 45.º CP e 489.º e
ss. CPP pena de multa; 46.º proibição de exercício de profissão, função ou atividade;
50.º suspensão da execução das penas de prisão; e 58.º prestação de trabalho a favor da
comunidade CP. Estas penas contem determinadas caraterísticas fundamentais:
o Têm uma medida concreta. Por isso, o juiz tem de determinar numa pena
concreta (art. 71.º CP) o tempo da pena de substituição. Contudo, há uma
exceção: prestação de trabalho à comunidade (art. 58.º CP), porque a
duração decorre das regras de conversão (art. 58.º/3 CP).
o Consequências do incumprimento (art. 50.º CP) – Não sendo cumprida
a pena de substituição tem de ser cumprida a pena de prisão (arts. 56.º/2 e
49.º CP). A partir de 2007, esta regra passou a ter uma aplicação
excecional (Ex.: Arts. 59.º/2 e 46.º/3 e 5 CP no caso de o condenado não
cumprir a pena de substituição, o tribunal revoga esta pena e ordena o
cumprimento da pena de prisão inicialmente previsto, descontando deste
período o tempo da pena de substituição).
• Penas de substituição detentivas – Regime de permanência na habitação (art.
43.º CP).
• Pena de admoestação – Distingue-se da pena substitutiva em sentido próprio,
porque não pressupõe uma medida concreta da pena de prisão. É uma censura que
vem substituir uma pena de multa e não uma pena de prisão (art. 60.º/4 CP). Ao
lado desta figura surge a figura da substituição da multa por trabalho (arts. 48.º/2
e 58.º/3 CP), mas para esta exige-se a concordância do condenado. Para além
disso, só se pode substituir por trabalho as penas concretas não superiores a 2

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Consequências Jurídicas do Crime
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anos, podendo o condenado estar sujeito a certas regras de conduta (art. 58.º/6
CP).

Se as penas de substituição não forem cumpridas no processo sumaríssimo, não se


pode aplicar uma pena de prisão porque o regime não prevê isso (art. 353.º CP). Isto traz
alguma incoerência ao sistema penal, visto que se for no processo comum, o condenado
cumpre prisão subsidiária.

O art. 45.º CP prevê a aplicação da pena de prisão substituída por pena de multa. Se
a multa não for paga, o condenado tem de cumprir a pena de prisão.

Poderá substituir-se a pena de multa por trabalho (art. 48.º CP), sendo que se o
condenado não cumprir culposamente os dias de trabalho, pode suspender-se e fica sujeito
a prisão subsidiária (art. 49.º/4 CP).

Outra possibilidade seria a conversão da multa não paga em prisão subsidiária (art.
49.º CP), sendo esta suspensa se a razão do não pagamento da multa não for imputável
ao agente. Desta forma, este ficaria sujeito a deveres ou regras de conduta. Se estes não
forem cumpridos executa-se a prisão subsidiária pelo tempo correspondente reduzido a
2/3. Se os deveres ou regras de conduta forem cumpridos, a pena é declarada extinta.
Posto isto, o juiz determinará um período de suspensão entre 1 a 3 anos, atendendo às
finalidades preventivas e à culpa do agente.

33
Consequências Jurídicas do Crime
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Execução da pena de prisão

As finalidades são a de prevenção da prática de crimes e a segurança da sociedade


(art. 42.º/1 CP).

Em primeiro lugar, o objetivo da execução da pena de prisão é diminuir os efeitos


criminógenos aproximando a vida na prisão da vida cá fora (trabalho, ensino, etc.). O
segundo objetivo é garantir que o recluso é titular de direitos fundamentais.

A pena de prisão só deve ser aplicada se mais nenhuma pena for suficiente para
satisfazer as medidas preventivas (ultima ratio).

Regime da permanência na habitação

O regime de permanência na habitação é uma modalidade da execução (art. 43.º


CP). Este regime é permitido quando estão em causa penas de prisão não superiores a 2
anos. O condenado permanece na sua habitação, mas é controlado remotamente nos
termos da lei 33/2010. Esta modalidade depende de consentimento do condenado, assim
como os maiores de 16 anos que vivem com o condenado (art. 4.º lei 33/2010).

Este regime é aplicável quando o juiz entenda que não é possível substituir a pena
de prisão por outra pena substitutiva em sentido próprio. O regime da permanência na
habitação (art. 43.º CP) não se pode confundir com a obrigação de permanência na
habitação (art. 201.º CP). Além disso, o regime de permanência na habitação não é
aplicável nos casos do art. 49.º CP porque não serve as mesmas finalidades.

Contudo, o art. 43.º CP é aplicável quando a pena, não superior a 2 anos, e depois
a substitui por uma pena de substituição em sentido próprio. Nestes casos, o
incumprimento do pagamento da multa ou da conduta, pode levar à permanência na
habitação. Este art. só pode ser aplicado se as finalidades da execução da pena se prisão
forem cumpridas (art. 42.º CP).

O regime de permanência na habitação permite saídas do condenado (art. 43.º/3


CP) para formação profissional ou estudos deste. Para além disso, o art, 11.º lei 33/2010
prevê a ausência da habitação e a possibilidade de recorrer a meios de vigilância móveis.
Para beneficiar deste regime, o agente pode estar sujeito a algumas obrigações de conduta
(art. 44.º/2 CP).

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Consequências Jurídicas do Crime
Maria Reis Santos

Liberdade condicional (arts. 61.º e ss. CP e 173.º e ss. lei 115/2009)

A liberdade condicional é um incidente de execução da pena de prisão, sendo que


a sua aplicação depende sempre do consentimento do condenado (art. 61.º/1 CP). E a sua
duração não pode ultrapassar o tempo da pena que ainda falta cumprir (art. 61.º/5 CP),
que se justifica político-criminalmente à luz da finalidade preventivo-especial de
reintegração do agente na sociedade e do pp da necessidade da tutela dos BJs (art. 40.º/1
CP). É de salientar que a liberdade condicional tem como pressuposto o cumprimento
mínimo de 6 meses de pena de prisão (art. 61.º/2 CP). Ainda que, por defeito do desconto
da prisão preventiva ou da obrigação de permanência na habitação, esteja preenchida
metade da pena, é de exigir o cumprimento mínimo destes 6 meses de prisão.

Tem ainda, como pressuposto formal o cumprimento de metade da pena de prisão


(art. 61.º/2 CP). Posto isto, para o efeito de ser concedida liberdade condicional deve
descontar-se na metade da pena em que o agente foi condenado o tempo que esteve detido,
preso preventivamente ou em obrigação de permanência na habitação (art. 80.º/1 CP).

Os pressupostos materiais da liberdade condicional resultam do art. 61.º/2/als. a)


e b) CP: o juízo de prognose favorável faz-se a partir dos elementos enumerados, que
funcionam como índice de ressocialização e de um comportamento futuro sem o
cometimento de crimes, sendo de particular relevância a evolução da personalidade
durante a execução da pena de prisão.

Uma vez verificados os pressupostos, o tribunal tem o poder-dever de conceder a


liberdade condicional. Para além disso, o tribunal coloca o condenado a prisão em
liberdade condicional quando se encontrem cumpridos 2/3 da pena e no mínimo 6 meses,
desde que verificados os pressupostos materiais da al. a) (art. 61.º/3 CP). No entanto, a
liberdade condicional é obrigatoriamente concedida quando estiverem cumpridos 5/6 da
pena de prisão, tratando-se de uma pena superior a 6 anos (art. 61.º/4 CP). Neste caso,
não depende de qualquer pressuposto além do consentimento do condenado, promovendo
a transição entre a vida na prisão e a vida em liberdade.

A liberdade condicional terá uma duração igual ao tempo de prisão que falte
cumprir, mas nunca superior a 5 anos. Atingido este limite máximo considera-se extinto
o excedente da pena (art. 61.º/5 CP).

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Consequências Jurídicas do Crime
Maria Reis Santos

Regime (art. 64.º CP)

A liberdade condicional pode ficar condicionada pela imposição de regras de


conduta (art. 52.º/1 CP) ou pelo acompanhamento do regime de prova (art. 53.º CP)
assente no plano individual de reinserção social (art. 54.º CP).

Durante o período da liberdade condicional, o libertado, culposamente, deixa de


cumprir as regras de conduta impostas ou não corresponde ao plano de reinserção social,
podendo o tribunal fazer uma solene advertência, exigir garantias de cumprimento de
obrigações que condicionam a liberdade condicional ou impor novas regras de conduta
ou novas exigência no plano de reinserção social. Se o condenado infringir de forma
grosseira e repetidamente as regras de conduta, pode ter mesmo lugar a revogação da
liberdade condicional (arts. 56.º/1/al. a) e 64.º/1 CP). É também revogada a liberdade
condicional se o condenado cometer crime pelo qual venha a ser condenado e revelar que
as finalidades que estavam na base da libertação não puderam, por meio dela, ser
alcançadas (arts. 56.º/1/al. b) e 64.º/1 CP).

A revogação da liberdade condicional determina a execução da pena de prisão


ainda não cumprida, podendo ter lugar relativamente à pena de prisão que vier a ser
cumprida a concessão de nova liberdade condicional (art. 64.º/2 e 3 CP).

Decorrido o período de liberdade condicional, a pena é declarada extinta se não


houver motivos que possam conduzir à revogação (art. 57.º/1 CP).

Quando à liberdade condicional em caso de execução sucessiva de várias penas


(art. 63.º CP) percebemos que a execução da pena que deva ser cumprida em primeiro
lugar é interrompida, sucedendo-lhe a execução da pena que deva ser executada a seguir.
Assim, o tribunal deve decidir sobre a liberdade condicional no momento em que o possa
fazer, de forma simultânea relativamente à totalidade das penas.

Se o condenado não tiver beneficiado da liberdade condicional e se a soma das


penas que devam ser cumpridas sucessivamente exceder 6 anos de prisão, o tribunal
coloca o condenado em liberdade condicional, logo que se encontrem cumpridos 5/6 da
soma das penas e o condenado dê o seu consentimento (art. 63.º/3 CP).

No entanto, este regime de execução sucessiva de várias penas não é aplicável


quando a execução da pena de prisão resultar de revogação da liberdade condicional (art.
63.º/4 CP).

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Maria Reis Santos

Pena relativamente indeterminada (arts. 83.º a 90.º CP)

A pena relativamente indeterminada pretende ser uma resposta à delinquência


especialmente perigosa (prevalece sobre a reincidência): delinquência por tendência e
delinquência ligada ao abuso de álcool e estupefacientes. Encontra justificação político-
criminal numa acentuada inclinação para o crime por parte do agente.

A pena relativamente indeterminada é uma sanção de natureza mista:

• É executada como pena até ao momento em que se mostrar cumprida a pena que
concretamente caberia ao crime
• É executada como medida de segurança a partir deste momento e até ao seu limite
máximo.

No âmbito da delinquência por tendência grave são pressupostos da aplicação de


uma pena relativamente indeterminada: o agente que pratique um crime doloso a que
deveria aplicar-se concretamente prisão efetiva por mais de 2 anos, tendo cometido
anteriormente 2 ou mais crimes dolosos, a cada um dos quais tenha sido ou seja aplicada
prisão efetiva por mais de 2 anos, sempre que a avaliação conjunta dos factos praticados
e a personalidade do agente revelem uma acentuada inclinação para o crime que ainda
persista no momento da condenação (art. 83.º/1 CP), sendo tidos em conta os factos
julgados em país estrangeiro (art. 83.º/4 CP).

Relativamente à delinquência por tendência menos grave: art. 84.º/1 CP.

É de salientar que a pena relativamente indeterminada não exige a condenação pelos


crimes anteriormente praticados, bastando-se com a sua prática. Para além disso, esta
figura prevalece sobre a reincidência (art. 76.º/2 CP).

Prevê-se o prazo de prescrição da tendência, na medida em que qualquer crime deixa


de ser tomado em conta, quando entre a sua prática e a do crime seguinte tiverem
decorrido mais de 5 anos, não sendo computado neste prazo o período durante o qual o
agente cumpriu medida processual, pena de prisão ou medida de segurança privativas da
liberdade (art. 83.º/3 CP).

Dada a natureza mista a pena relativamente indeterminada, é de exigir o respeito pelo


pp da proporcionalidade (art. 40.º/3 CPP).

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Consequências Jurídicas do Crime
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Em relação aos limites de duração aplicam-se os arts. 83.º/2 e 84.º/2 CP para os


delinquentes por tendência grave e para os delinquentes por tendência menos grave,
respetivamente.

Em razão da idade do agente, há uma atenuação do regime da pena relativamente


indeterminada (art. 85.º CP): os arts. 83.º e 84.º CP só são aplicáveis se o agente tiver
cumprido prisão no mínimo de 1 ano. Nestas hipóteses, o limite máximo da pena
relativamente indeterminada corresponde a um acréscimo de 4 ou 2 anos à prisão que
caberia ao crime concretamente cometido. O prazo de prescrição da tendência é de 3 anos
nos casos de delinquência grave.

Alcoólicos e equiparados (arts. 86.º e ss. CP) – Execução da pena: art. 89.º/1 e 2 CP.
Orientação da execução da pena: art. 87.º e 88.º CP.

O tempo de pena relativamente indeterminada que o condenado deve efetivamente


cumprir nunca é fixado na decisão condenatória. É determinado já na fase de execução,
uma vez cumprido o limite mínimo legalmente fixado em função da medida da pena que
ao crime caberia. O tempo da pena efetivamente cumprido é determinado quer a partir de
regras de execução da pena de prisão, que funcionarão até ao momento em que se mostrar
cumprida a pena que concretamente caberia ao crime cometido, que segundo as regras de
execução da medida de segurança de internamento, a partir deste momento e até ao limite
máximo da pena relativamente indeterminada.

Até ao momento em que se mostrou cumprida a pena que concretamente caberia ao


crime cometido, pode ser concedida liberdade condicional ao condenado. É colocado em
liberdade condicional quando se encontrar cumprido o limite mínimo da pena
relativamente indeterminada (2/3 da pena de prisão que concretamente caberia ao crime),
se nisso consentir, se se encontrarem cumpridos, no mínimo, 6 meses de prisão e se estiver
preenchido o requisito do art. 61.º/2/al. a) CP (arts. 61.º/1 e 3 e 90.º/1 CP).

A liberdade condicional tem duração igual ao tempo que faltar para atingir o limite
máximo da pena, mas não será nunca superior a 5 anos (art. 90.º/2 CP). Na prática, desta
regra de duração poderá resultar que seja ultrapassada a pena que concretamente caberia
ao crime cometido, caso em que a pena relativamente indeterminada continuará a ser
executada como pena (desvio à regra de que a pena relativamente indeterminada é
executada como medida de segurança a partir daquele momento). Se a liberdade
condicional não for concedida, atingindo o limite mínimo da pena relativamente

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Consequências Jurídicas do Crime
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indeterminada, há renovação anual da instância até se mostrar cumprida a pena que


concretamente caberia ao crime cometido (regime das medidas de segurança – art. 90.º/3
CP). Isto significa que a medida de segurança cessa quando cessar a perigosidade. No
entanto, se o condenado não tiver sido libertado antes (por não ter cessado a sua
perigosidade), será libertado quando se atingir o limite máximo da pena relativamente
indeterminada.

É durante a execução que é determinado o tempo de prisão efetivamente cumprido


pelo condenado.

Quando se mostrar cumprida a pena que concretamente caberia ao crime cometido, o


condenado poderá ser libertado por aplicação de regras de execução da medida de
segurança de internamento ou porque foi atingido, entretanto, o limite máximo da pena
relativamente indeterminada.

A causa justificativa de libertação do condenado pode ser apreciada a todo o tempo,


havendo apreciação obrigatória, independentemente de requerimento, decorridos 2 anos
sobre o momento em que se mostrar cumprida a pena que concretamente caberia ao crime
ou sobre a decisão que tiver mantido a execução da sanção (art. 90.º/3, 92.º/1 e 93.º/1 CP).

O condenado é colocado em liberdade para prova, sendo aplicáveis as regras gerais


deste incidente de execução da medida de segurança de internamento (art. 90.º/3, 94.º e
95.º CP), se da revisão da situação do condenado resultar que há razões para esperar que
a finalidade da sanção possa ser alcançada em meio aberto (art. 93.º/1 e 2 CP).

Se o condenado em pena relativamente indeterminada atingir o limite máximo da


sanção, é libertado logo que atinja tal limite, ainda que subsista a perigosidade criminal.
Diferentemente do que sucede em matéria de medida de segurança, não há lugar a
prorrogação da sanção (art. 92.º/3 CP).

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Consequências Jurídicas do Crime
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Medidas de segurança

A medida de segurança surge como resposta à especial perigosidade de


delinquentes especialmente perigosos e de delinquentes de imputabilidade diminuída,
relativamente aos quais a pena é insuficiente do ponto de vista preventivo-especial; e
como resposta, ainda, à especial perigosidade de delinquentes inimputáveis, em razão de
anomalia psíquica, em relação aos quais a pena é inadequada.

Foi a escolha positiva que propôs a trilogia: determinismo, perigosidade, medidas


de segurança. O fim último da medida de segurança é a proteção dos BJ-criminais e o
pressuposto da sua aplicação é a perigosidade criminal do agente.

Surgidas, indiscutivelmente, para fazer face a exigências preventivo-especiais, é


hoje discutível se as medidas de segurança prosseguem também uma finalidade de
prevenção geral positiva, designadamente a de internamento de agente inimputável em
razão de anomalia psíquica (art. 91.º CP).

Por um lado, o art. 40.º/1 CP não distingue, do ponto de vista das finalidades, as
penas das medidas de segurança. Por outro lado, o art. 91.º/2 CP passou a dispor que,
quando o facto praticado pelo inimputável corresponder a crime contra pessoas ou a crime
de perigo comum puníveis com pena superior a 5 anos, o internamento tem a duração
mínima de 3 anos, salvo se a libertação se revelar compatível com a defesa da ordem
jurídica e da paz social.

A aplicação de medida de segurança está subordinada ao pp jurídico-


constitucional da proibição de excesso, da proporcionalidade em sentido amplo, em
matéria de limitações de direitos fundamentais. Uma tal aplicação pressupõe o respeito
pelos pps da necessidade, subsidiariedade e proporcionalidade em sentido estrito.

Para além disso, existem outros pps de aproximação das medidas de segurança às
penas: da legalidade (arts. 29.º CRP e 1.º CP), do ilícito típico (arts. 29.º CRP e 91.º/1
CP), da proporcionalidade em sentido amplo e, em especial, da proporcionalidade em
sentido estrito (arts. 18.º/2 CRP e 40.º/3 e 91.º/1 CP) e da proibição de medida de
segurança com caráter perpétuo ou de duração ilimitada ou indefinida (arts. 30.º/1 CRP e
91.º/2 CP).

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Consequências Jurídicas do Crime
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Medidas de segurança não privativas da liberdade

• Interdição de atividades (art. 100.º CP).


• Cassação do título e interdição da concessão do título de condução de veículo com
motor (art. 101.º CP).
• Aplicação de regras de conduta (art. 102.º CP)

Prevê-se ainda, embora só aplicável a delinquentes inimputáveis por anomalia


psíquica, a medida de segurança de suspensão de execução do internamento (art. 98.º CP).

Medida de segurança de internamento (art. 91.º/1 CP)

Pressupostos:

• Prática de um facto ilícito típico.


• Declaração de inimputabilidade (art. 20.º CP).
• Juízo de prognose desfavorável quanto à perigosidade criminal do agente.
• É necessário observar o pp da proporcionalidade – A medida de segurança só pode
ser aplicada se for proporcionada à gravidade do facto e à perigosidade do agente.

Ao pressuposto irrenunciável da perigosidade criminal do agente liga-se a finalidade


preventivo-especial da medida de segurança de internamento, sem prejuízo de esta sanção
participar, ainda que de forma não autónoma, na função de proteção de BJs. Assim, não
é imposta ao agente inimputável qualquer medida de segurança relativamente ao qual, no
momento da condenação, não possa ser afirmado o fundado receio de que venha a cometer
outros factos da mesma espécie, ainda que o art. 91.º/2 CP fosse aplicável a quem é
declarado inimputável. Por isto se explica que ao inimputável que cometa os crimes
previstos no art. 274.º CP seja aplicada a medida de segurança de internamento
intermitente e coincidente com os meses de maior risco de ocorrência de fogos.

De resto, não há verdadeiramente a violação de uma norma não havendo


consequentemente de reafirmar a sua validade, quando o facto ilícito típico é praticado
por quem é depois considerado inimputável por anomalia psíquica (art. 20.º/1 CP).

Duração do internamento: art. 92.º/2 CP. Exceção: art. 92.º/3 CP.

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Consequências Jurídicas do Crime
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Há casos em que o internamento tem um limite mínimo de duração (art. 91.º/2 CP): 3
anos. Por outro lado, este art. é aplicável apenas quando o agente tenha sido declarado
inimputável (art. 20.º/2 e 3 CP), por nestas hipóteses se fazerem sentir de forma autónoma
as exigências de prevenção geral positiva. Levanta-se a questão de saber se no período
mínimo de duração é descontada medida processual que internado tenha sofrido
anteriormente (art. 80.º/1 CP aplicado por analogia?).

Salvaguardados os caos em que é aplicável o art. 91.º/2 CP, o internamento finda


quando o tribunal verificar que cessou o estado de perigosidade criminal que lhe deu
origem (art. 92.º/1 CP). Esta causa justificativa da cessação do internamento pode ser
apreciada a todo o tempo, se for invocada. No entanto, é obrigatoriamente revista a
situação do internado, independentemente de requerimento, decorridos 2 anos sobre o
início do internamento ou sobre a decisão que a tiver mantido (art. 93.º/1 CP).

O internamento findará, ainda, pelo decurso do tempo, atingida a duração máxima do


internamento, salvaguardados os casos previstos no art. 92.º/3 CP. Esta disposição é
questionável por permitir, na prática, que o internamento possa ser perpétuo.

Liberdade para prova (art. 94.º CP)

Vale para situações em que há alterações do estado de perigosidade do internado.


Esta subsiste ao estado de perigosidade criminal cumprindo, assim, a finalidade
preventivo-especial da sanção ser alcançada em liberdade (meio aberto).

Reexame da medida de internamento (art. 96.º CP) – O tribunal poderá


confirmar a medida decretada, se se mantiver o estado de perigosidade e não for caso de
suspensão da execução do internamento; suspender a execução da medida decretada, se
for razoavelmente de esperar que com a suspensão se alcança a finalidade da medida (art.
98.º CP); ou revogar a medida decretada se entretanto tiver cessado o estado de
perigosidade criminal que lhes deu origem (art. 92.º/1 CP).

Prescrição da medida de segurança: art. 124.º/1 CP.

A medida de segurança de internamento é executada antes da pena de prisão a que


o agente tiver sido condenado, sendo a duração da medida de segurança descontada na
duração da pena de prisão (art. 99.º/1 CP). O agente é colocado em liberdade condicional
se, efetuado o desconto, se encontrar cumprido o tempo correspondente a metade da pena
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Consequências Jurídicas do Crime
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e a libertação se revelar compatível com a defesa na ordem jurídica e paz social (art. 99.º/2
CP).

A decisão de suspensão da execução do internamento (art. 98.º CP) impõe ao


agente regras de conduta (arts. 52.º e 98.º/3 CP).

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