Você está na página 1de 64

DIREITO PENAL

Princípios
DIREITO PENAL – PARTE GERAL
O Direito Penal é dividido em duas partes: parte geral, que
trata de princípios gerais, de disposições aplicáveis a todos os
crimes e parte especial, que se inicia no artigo 121 do Código
Penal (com o crime de homicídio) e termina no artigo 359 (com
o tratamento dos crimes em espécie).
A parte geral do Direito Penal se inicia no artigo 1º e vai até o
artigo 120.
O Direito Penal não tem apenas início no Código Penal, mas,
sim, em doutrinas, jurisprudências e com princípios que são
analisados antes de entrar no Código Penal.
CONCEITO DE DIREITO PENAL
• Conjunto de normas, regras, princípios que
descrevem comportamentos reprováveis e
ameaçadores da ordem social, denominados
infrações criminais, e que tragam como
consequência a imposição de uma sanção penal.
No aspecto formal, as normas, regras e princípios.
No aspecto material, os comportamentos e a
ordem social no aspecto social.
TEORIA GERAL DO CRIME
• Infração Penal
O ordenamento jurídico brasileiro adota o sistema dualista ou binário ou
dicotômico da infração penal, dividindo-a em:
1) Crime (ou delito*)
2) Contravenção Penal, também chamada de (crime anão, delito liliputiano)
O delito possui diferentes interpretações. Há quem considere o delito como
sinônimo de infração penal. A maioria da doutrina entende de maneira
distinta, entende que o delito é sinônimo de crime, da espécie crime e não
de infração penal, como um todo.
A contravenção penal é chamada de crime anão, delito liliputiano: é uma
infração penal menor, com menos gravidade.
Infração Criminal
Crime vs Contravenção Penal
Lei de Introdução ao Código Penal
Art. 1º Considera-se crime a infração penal que a lei comina pena de reclusão ou
de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a
pena de multa; contravenção, a infração penal a que a lei comina, isoladamente,
pena de prisão simples ou de multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente.
Se a pena de um crime tiver a previsão de reclusão ou de detenção, está-se
diante de um crime. As contravenções penais podem estar previstas em prisão
simples, prisão simples ou multa, prisão simples e multa ou simplesmente, multa.
As contravenções penais nem sempre irão impor uma pena privativa de
liberdade.
Quem decide se a conduta ilícita é crime ou
contravenção?
O crime é mais grave porque impõe a reclusão. O
agente vai cumprir a pena em regime fechado,
aberto ou semiaberto. Na detenção, o agente vai
cumprir a pena em regime semiaberto ou aberto. A
prisão simples também pode ser cumprida em
regime aberto, só que sem rigor penitenciário. A
contravenção penal pode ter apenas a pena da
multa.
Trata-se de decisão do legislador. Será uma distinção feita
pelo próprio legislador. Uma infração penal que hoje é uma
contravenção poderá se transformar num crime se assim
decidir o legislador. Trata-se, portanto, de uma distinção
axiológica (de valor).
Ao longo dos tempos, condutas que eram crimes passaram a
ser contravenções penais e vice-versa, por exemplo, o porte de
arma de fogo: na década de 90, portar arma de fogo sem
autorização era uma contravenção penal e depois passou a ser
crime e se for porte de arma de uso restrito, constitui crime de
potencial poder ofensivo.
NORMA PENAL
É a que estabelece a conduta criminosa e a pena cominada a essa
conduta. A norma penal é dividida entre preceito primário e preceito
secundário.
Preceito Primário Vs Preceito Secundário
O preceito primário é a descrição da conduta delituosa e o preceito
secundário é a sanção penal.
Exemplo:
Código Penal
Art. 121. Matar alguém (preceito primário).
Pena – reclusão, de seis a vinte anos (preceito secundário).
FUNÇÕES DO DIREITO PENAL
1. Proteção de bens jurídicos
2. Garantia
Essa garantia é para o cidadão. O Direito Penal visa proteger a
sociedade como um todo.
O cidadão que vier a praticar uma conduta só pode ser punido se
a conduta praticada por ele estiver prevista como crime. A
garantia para o cidadão é de que o Estado não vai puni-lo sem
fundamento.
3. Instrumento de controle social
Na preservação da paz pública.
PRINCÍPIOS DE DIREITO
PENAL
Os princípios do Direito Penal são muitos e são sempre cobrados em
provas de concursos públicos, mesmo aquelas cujo edital não traga
essa matéria expressamente. Por isso, estudar os princípios é
fundamental.
Os princípios do Direito Penal se dividem em dois tipos:
• Princípios explícitos:
– São positivados no ordenamento jurídico, ou seja, são expressamente
previstos na lei ou na Constituição Federal.
• Princípios implícitos:
– São uma construção da doutrina e da jurisprudência, ou seja,
decorrem da interpretação da lei. A cada dia, a doutrina e a
jurisprudência criam novos princípios.
PRINCÍPIO DA RESERVA LEGAL OU DA ESTRITA LEGALIDADE
Alguns doutrinadores entendem esse princípio como sinônimo do
princípio da legalidade, entretanto, o entendimento que predomina é
que o princípio da legalidade é um gênero, que se divide em duas
modalidades:
• Princípio da estrita legalidade: cujo sinônimo é o princípio da
reserva legal; e
• Princípio da anterioridade.
Segundo o princípio da estrita legalidade, “nullum crimen nulla poena
sine lege”, ou seja, não há crime nem pena sem lei prévia. Não se
pode atribuir a alguém uma conduta criminosa se não houver uma lei
prevendo essa conduta como crime ou como contravenção penal.
• Origem:
Magna Carta Inglesa, de 1215 – Rei João Sem Terra.
• Fortalecimento:
Revolução Francesa, em 1789 – Declaração dos Direitos do
Homem e do Cidadão.
• Previsão constitucional e legal:
– CF/1988, Art. 5º, XXXIX – “não há crime sem lei anterior que
o defina, nem pena sem prévia cominação legal;”
– CP, Art. 1º – “Não há crime sem lei anterior que o defina. Não
há pena sem prévia cominação legal.”
Cláusula pétrea – Art. 60, § 4º, CF/1988:
“Não será objeto de deliberação a
proposta de emenda tendente a abolir:
(...) IV – os direitos e garantias
individuais.” Ou seja, o princípio da estrita
legalidade é enxergado como um
direito/garantia individual.
ATENÇÃO:
Somente lei ordinária ou
lei complementar pode
criar crimes ou agravar
penas.
É vedada a edição de medidas provisórias sobre
matéria relativa a Direito Penal (CF, art. 62, § 1º, I,
b) seja para prejudicar ou beneficiar o réu.
Entretanto, o STF tem admitido medidas
provisórias que versem sobre direito penal
favorável ao réu (RHC 117.566/SP, julgado em
24/09/2013).
Inadmissível que lei delegada verse sobre direito
penal.
Como decorrência deste princípio, não é permitida a analogia
in malam partem no Direito Penal, tampouco o uso de
costumes para criar infrações penais.
O princípio da estrita legalidade é igualmente aplicável às
contravenções penais (“crime” deve ser interpretado como
infração penal) e às medidas de segurança (“pena” deve ser
interpretado como sanção penal).
Também decorre do princípio da reserva legal o PRINCÍPIO DA
TAXATIVIDADE. Segundo este princípio, não basta somente
haver uma lei prevendo um crime, pois essa norma deve ser
específica. Ou seja, deve prever uma conduta específica e uma
pena específica.
PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE
O princípio da anterioridade encontra previsão no
mesmo dispositivo em que se encontra o princípio da
legalidade ou reserva legal.
Previsão constitucional e legal:
• CF/1988, Art. 5º, XXXIX – “não há crime sem lei
anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação
legal;”
• CP, Art. 1º – “Não há crime sem lei anterior que o
defina. Não há pena sem prévia cominação legal."
Assim, não basta que exista uma lei definindo uma
conduta como crime, pois ela deve ser anterior à prática
da conduta.
Se um sujeito pratica hoje uma conduta e somente
amanhã ela vem a ser considerada como um crime, não
pode esse sujeito ser punido por ela.
Percebe-se, dessa forma, que os princípios da
anterioridade e da legalidade são bastante próximos,
tanto que são previstos nos mesmos dispositivos legais e
formam, juntos, o princípio da legalidade em sentido
amplo.
Cláusula pétrea – Art. 60, § 4º,
CF/1988: “Não será objeto de
deliberação a proposta de
emenda tendente a abolir: (...) IV
– os direitos e garantias
individuais.”
PRINCÍPIO DA INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA
Previsão legal:
CF/1988, Art. 5º, XLVI – “a lei regulará a individualização da
pena e adotará, entre outras, as seguintes: a) privação ou
restrição da liberdade; b) perda de bens; c) multa; d) prestação
social alternativa; e) suspensão ou interdição de direitos;”
O princípio da individualização da pena significa que, a cada
conduta, será aplicada uma pena individualizada. Em que pese
existirem parâmetros para as penas, o quantitativo da pena
que será aplicada ao indivíduo dependerá de uma série de
situações.
Este princípio deve ser observado nos
seguintes planos:
• Plano legislativo – ao estabelecer as penas
em abstrato;
• Plano judicial – aplicação da lei ao fato
concreto; e
• Plano administrativo – execução da pena.
PRINCÍPIO DA PERSONALIDADE OU DA
INTRANSCENDÊNCIA
Previsão legal:
CF/1988, Art. 5º, XLV – “nenhuma pena passará da pessoa do
condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a
decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei,
estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o
limite do valor do patrimônio transferido;”
No plano penal, jamais alguém pode ser responsabilizado,
punido ou sofrer qualquer consequência em razão de um ato
praticado por outra pessoa.
Exemplo:
João matou uma pessoa e foi processado e julgado por essa conduta. Ficou
determinado que, pelo seu crime, João irá cumprir pena restritiva de liberdade de 10
anos e precisará pagar uma indenização à família da vítima no valor de R$
100.000,00.
Entretanto, no dia que João seria preso, ele resolve se matar. João tinha apenas um
carro como patrimônio, sendo esse veículo avaliado em R$ 50.000,00. Entretanto,
João possui um filho, que será o único herdeiro desse carro.
Nesse caso, ao saber da morte de João, a família da vítima acabou procurando a
Justiça para questionar o pagamento da indenização.
Apesar de o filho de João ser uma pessoa bastante rica, ele não poderá ser
condenado a pagar a indenização devida por seu falecido pai à família da vítima do
homicídio, entretanto, o valor desse carro deverá ser utilizado para pagar essa
indenização, pois trata-se de um bem patrimonial transferido pelo de cujus.
PRINCÍPIO DA ALTERIDADE
Criador: Claus Roxin.
Ninguém será punido por ofender somente bens jurídicos
próprios.
De acordo com esse princípio, se o agente pratica uma
conduta que venha a prejudicar somente bens jurídicos que lhe
pertençam, então não há crime.
Conforme o princípio da alteridade, para que haja crime, o
agente deve ofender bens jurídicos alheios.
Vale destacar: no Direito Penal, só há crime quando o sujeito
ativo atinge bens jurídicos alheios.
PRINCÍPIO DA INTERVENÇÃO MÍNIMA
Criado pela Declaração dos Direitos do Homem e do
Cidadão (1789).
O Direito Penal é a ultima ratio na proteção dos
direitos. Só deve atuar quando a criminalização de uma
conduta for indispensável para proteger bens e
interesses.
Subdivide-se em outros dois princípios:
1. Princípio da fragmentariedade;
2. Princípio da subsidiariedade.
PRINCÍPIO DA FRAGMENTARIEDADE
Nem todos os ilícitos configuram ilícitos penais.
Serão considerados ilícitos penais os que forem
previstos em lei e que atentam contra valores
fundamentais dos indivíduos e da sociedade.
Os ilícitos penais são apenas uma parte de todos os
ilícitos que podem ocorrer na vida em sociedade.
Somente em relação aos bens jurídicos mais relevantes
é que irá ocorrer a incriminação de uma conduta.
PRINCÍPIO DA SUBSIDIARIEDADE
Só será objeto do Direito Penal os ilícitos que não são
suficientemente repreendidos pelos demais ramos do
Direito e demais meios de controle estatal.
Em outras palavras, o Direito Penal é o último recurso a
ser lançado pelo Estado.
É possível dizer, portanto, que o Direito Penal é
subsidiário, pois a sanção penal só é imposta quando
não é possível repreender uma conduta por meio dos
demais ramos do Direito.
PRINCÍPIO DA OFENSIVIDADE OU LESIVIDADE
Não há que se falar em infração penal se a conduta não causar uma
lesão ao bem jurídico tutelado ou, ao menos, o perigo de lesão.
Espiritualização (desmaterialização ou liquefação) de bens
jurídicos no Direito Penal:
O Direito Penal passa a se antecipar e punir condutas perigosas que
têm potencial de gerar uma lesão futura. Ex.: crimes ambientais e
crimes de perigo abstrato.
Trata-se de uma exceção ao princípio da ofensividade ou lesividade.
Exemplo: porte ilegal de arma de fogo.
PRINCÍPIO DA RESPONSABILIDADE PENAL SUBJETIVA
A responsabilização penal depende de dolo ou culpa.
Não se admite no Direito Penal a responsabilidade objetiva. A
responsabilidade penal sempre será subjetiva, ou seja, é preciso a
caracterização do dolo ou da culpa na conduta de uma pessoa para que
ela possa ser responsabilizada penalmente.
O dolo pode ser direito ou eventual. Já a culpa pode advir de negligência,
imprudência ou imperícia do agente.
Existe uma exceção a esse princípio, que é o caso da rixa qualificada
(vide art. 137, § único, do CP). Nesse crime, todos os que participam da
rixa respondem pela lesão corporal grave ou da morte praticada pela
conduta de um dos rixosos. Trata-se de uma situação em que a
responsabilidade é objetiva.
PRINCÍPIO DA ADEQUAÇÃO SOCIAL
Conduta tipificada em lei, mas que não afronta o
sentimento de justiça da coletividade, seja pelos
costumes, cultura.
Exemplos: colocar brincos em uma criança recém-
nascida (lesão corporal), tatuagem (lesão corporal),
circuncisão (lesão corporal), dentre outros.
Natureza jurídica: Causa supralegal de exclusão da
tipicidade (material). Ex.: ato obsceno (art. 233, CP).
ATENÇÃO
Súmula n. 502, STJ: “Presentes a
materialidade e a autoria, afigura-se
típica, em relação ao crime previsto no
artigo 184, § 2º, do CP, a conduta de
expor à venda CDs e DVDs piratas”.
PRINCÍPIO DA ISONOMIA OU IGUALDADE
O Direito Penal se aplica a todos,
independentemente de nacionalidade, classe
social, etnia, sexo, idade ou condição.
Entretanto, esse princípio impõe tratamento
distinto para quem se encontra em posições
diferentes. Ex.: réu primário e réu reincidente/Lei
Maria da Penha (Lei n. 11.340/2006), que protege
de maneira diferente as mulheres.
PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA OU DA NÃO CULPA
CF/1988, Art. 5º, LVII – ninguém será considerado culpado até o
trânsito em julgado de sentença penal condenatória;
O agente só é considerado culpado quando transita em julgado a sua
sentença penal condenatória.
Existem discussões envolvendo as prisões preventivas e provisórias,
pois, no entendimento de alguns, elas desrespeitam o princípio da
presunção de inocência. Entretanto, essa tese não prosperou no
Direito Penal brasileiro.
O fato de ninguém ser considerado culpado até o trânsito em julgado
não significa que essa pessoa não possa ser presa.
Jurisprudência:
Súmula Vinculante n. 11: Só é lícito o uso de algemas
em casos de resistência e de fundado receio de fuga ou
de perigo à integridade física própria ou alheia, por
parte do preso ou de terceiros, justificada a
excepcionalidade por escrito, sob pena de
responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou
da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato
processual a que se refere, sem prejuízo da
responsabilidade civil do Estado.
“Em primeiro lugar, levem em conta o
princípio da não culpabilidade. (...) Manter o
acusado em audiência, com algema, sem que
demonstrada, ante práticas anteriores, a
periculosidade, significa colocar a defesa,
antecipadamente, em patamar inferior, não
bastasse a situação de todo degradante.” (HC
91.952, voto do rel. min. Marco Aurélio, DJE
de 19/12/2008).
“Em virtude do princípio constitucional da não
culpabilidade, a custódia acauteladora há de
ser tomada como exceção. Cumpre
interpretar os preceitos que a regem de forma
estrita, reservando-a a situações em que a
liberdade do acusado coloque em risco os
cidadãos ou a instrução penal.” (STF, HC
101537, Dje 14/11/2011)
PRINCÍPIO DO NE BIS IN IDEM
Proibição de dupla punição pelo mesmo fato. Também pode ser chamado
de princípio do no bis in idem.
O agente não pode ser processado, julgado e condenado mais de uma vez
pela mesma conduta, tampouco pode o mesmo fato ser considerado em
dois momentos distintos da dosimetria da pena.
Este princípio pode ser analisado sob três aspectos:
1. Processual – ninguém pode ser processado duas vezes pelo mesmo
fato;
2. Material – ninguém pode ser condenado duas vezes pelo mesmo fato; e
3. Execucional – ninguém pode sofrer execução penal duas vezes por
condenações relacionadas ao mesmo fato.
Exceção:
CP, Art. 8º A pena cumprida no estrangeiro atenua
a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime,
quando diversas, ou nela é computada, quando
idênticas.
O dispositivo acima se aplica aos casos de
extraterritorialidade incondicionada. Um exemplo é
o crime praticado contra a vida ou liberdade do
Presidente da República Federativa do Brasil.
ATENÇÃO
Súmula n. 241, STJ: “A reincidência penal não pode ser
considerada como circunstância agravante e,
simultaneamente, como circunstância judicial.”
Todavia, “inexiste bis in idem se a pena-base do paciente
foi aumentada por força dos maus antecedentes, fazendo-
se referência a determinadas condenações, e, na segunda
fase, incidiu a agravante da reincidência em decorrência de
outra condenação diversa.” (HC 359871/SP. Julgamento
em 27/09/2016).
Não caracteriza bis in idem:
1. A aplicação da agravante da reincidência (STF, RE
453.000/RS, 03/10/2013).
2. A condenação simultânea por roubo majorado pelo
emprego de arma de fogo e por associação
criminosa armada porque cada tipo penal visa à
proteção de bem jurídico específico (patrimônio e
paz pública, respectivamente), não havendo relação
de dependência entre elas. (STF, HC 113.413/SP,
12/11/2012).
3. A condenação de roubo circunstanciado pelo
concurso de agentes (art. 157, §2º, II) cumulada com
a condenação pelo crime de corrupção de menores
(art. 244-B, ECA), na situação em que um maior de
idade pratica o crime patrimonial em conluio com um
menor de idade.
São condutas autônomas e independentes, que
atingem bens jurídicos distintos (patrimônio e
formação moral do menor). (STJ, HC 362.726/SP,
Dje 06/09/2016)
PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA
Também conhecido por “criminalidade de bagatela” ou “infração
bagatelar própria”, foi incorporado ao Direito Penal por Claus Roxin, na
década de 1960, sob o fundamento de política criminal.
Obs.: A política criminal é uma espécie de crítica ao Direito posto, ou seja,
à norma penal.
Essa crítica abarca principalmente a aplicação da norma penal em
determinadas situações. Assim, a ideia do princípio da insignificância é
retirar a punição e dizer que determinada conduta não é um crime, visto
que não afeta um bem jurídico tutelado pelo Direito Penal.
Sustenta, este princípio, que o Estado não deve se valer do Direito Penal
quando a conduta não é capaz de lesar o bem jurídico tutelado pela norma
penal, ou, pelo menos, colocá-lo em perigo.
Tipicidade Formal vs Tipicidade Material
O crime é dividido em fato típico, ilícito e culpável.
Dentro do fato típico, tem-se a conduta, que gera um
resultado, sendo necessário o nexo causal entre essa
conduta e esse resultado.
Ex.: um crime de homicídio em que alguém atira e gera
o resultado morte em outra pessoa.
Esse resultado aconteceu pela conduta praticada pelo
agente, logo, há um nexo de causalidade entre essa
conduta e o resultado.
Dentro do fato típico, ainda há um quarto elemento: a
tipicidade. Para que haja um fato típico é necessário que a
conduta seja típica, ou seja, que esteja prevista em lei como
crime.
Nesse sentido, matar uma pessoa só é crime, pois essa
conduta está prevista no art. 121 do Código Penal como crime.
A tipicidade, por sua vez, se divide em formal e material.
A tipicidade formal se refere ao fato típico descrito na norma
penal. Haverá a tipicidade formal quando a conduta do agente
se adequa perfeitamente à norma penal.
Já a tipicidade material é a efetiva lesão ou perigo de lesão ao bem
jurídico tutelado pela norma penal.
A ideia do princípio da insignificância é que ele será aplicado
quando, na conduta do agente, não houver a tipicidade material.
O problema é que, para que exista a tipicidade material é preciso
que exista tanto a tipicidade formal quanto a tipicidade material.
Assim, aplicando a insignificância, é excluída a tipicidade material,
que exclui a tipicidade, que exclui o fato típico e exclui o crime em
si.
É por esse motivo que se diz que a natureza jurídica do princípio da
insignificância é de causa supralegal de exclusão da tipicidade.
CRITÉRIOS DOUTRINÁRIOS DO PRINCÍPIO DA
INSIGNIFICÂNCIA
1. Valor do bem:
• Econômico: é possível aplicar o princípio da
insignificância quando o bem atingido tem valor inferior
a 10% do salário mínimo; e
• Sentimental: a depender do caso, em que pese o
valor econômico do bem ser baixo, não será possível a
aplicação do princípio da insignificância em razão do
valor sentimental do bem para a vítima.
2. Condição econômica da vítima:
• Subtrair um pacote de arroz de um supermercado é
diferente de subtrair o mesmo pacote de arroz de uma
família que passa por necessidades.
3. Consequências do crime e modus operandi:
• A depender de como o agente praticou a conduta, não
há como se falar em princípio da insignificância. Ex.:
furto de um bem de baixo valor econômico que estava
dentro de um carro, sendo que o agente quebrou a
janela do veículo para realizar a subtração.
Requisitos objetivos adotados pela
Jurisprudência – Min. Celso de Mello (HC
84.412-0/SP – 29/06/2004 – STF):
a. mínima ofensividade da conduta;
b. nenhuma periculosidade social da ação;
c. reduzido grau de reprovabilidade do
comportamento; e
d. inexpressividade da lesão jurídica provocada.
Vários doutrinadores e até o próprio STF já tentaram distinguir esses
requisitos, mas sem sucesso.
A mínima ofensividade da conduta e a inexpressividade da lesão
jurídica provocada deixam entender que são a mesma coisa.
Já o requisito “nenhuma periculosidade social da ação” significa
ausência de violência ou ameaça. É por isso que o princípio da
insignificância não se aplica aos crimes de roubo ou extorsão.
Por fim, o reduzido grau de reprovabilidade do comportamento significa
que, a depender de quem pratica a conduta, o grau de reprovabilidade
do comportamento pode impedir a aplicação do princípio da
insignificância. Ex.: um juiz que pratica um furto não pode ser
beneficiado pela insignificância em razão de sua função como juiz.
Requisito Subjetivo (Perfil do Autor)
1. Criminoso habitual:
• O princípio da insignificância não pode ser um salvo-conduto
para o criminoso habitual.
Obs.: É preciso diferenciar a questão do princípio da
insignificância e do furto famélico, pois são institutos diferentes.
Se o agente furta algum produto alimentício para saciar a sua
fome, mesmo que não seja considerado insignificante, a
ilicitude dessa conduta pode ser excluída em razão do estado
de necessidade.
2. Militar:
Não se aplica o princípio da insignificância ao
militar em razão do perfil do autor. O mesmo
se aplica aos Delegados de Polícia, policiais
em geral, juízes, promotores etc.
Isso acontece, pois a reprovabilidade do
comportamento desses agentes é muito
maior
É possível a aplicação do princípio da
insignificância a reincidentes?
1ª Corrente: NÃO admite;
2ª Corrente: ADMITE – A reincidência não impede,
por si só, que o juiz da causa reconheça a
insignificância penal da conduta, à luz dos
elementos do caso concreto (Informativo 793 do
STF, HC 123108, julgado em 03/08/2015 e STF –
HC 155.920/MG – 27/04/2018).
O Delegado de Polícia pode aplicar o princípio
da insignificância diante de uma situação
flagrancial?
1ª Corrente: NÃO;
2ª Corrente: SIM.
Ambas as correntes são muito fortes e ainda não
há uma definição de qual delas deve ser adotada
em provas objetivas. Por esse motivo, esse
assunto dificilmente deve ser cobrado em prova.
APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA
Furto
Ao furto, aplica-se a insignificância. Entretanto, é importante observar:
1) Não se leva em consideração somente o valor da res furtiva. Deve
ser analisado o caso concreto.
2) STJ tem negado a aplicação do P princípio da insignificância quando
o valor do bem subtraído é superior a 10% do salário mínimo vigente à
época dos fatos. Se for abaixo desse valor, analisa-se o caso concreto
(STJ, AgRg no Resp 1.558.547/MG, 19/11/2015).
3) Furto com ingresso na residência da vítima – não aplicação em razão
da violação da intimidade (STF, HC 106.045, 19/06/2012).
Furto Noturno (art. 155, § 1º, CP)
Em regra, não se aplica o princípio da
insignificância – STJ, AgRG no AREsp
463.487/MT, 01/04/2014.
Restituição de Bens Furtados à Vítima
Não gera, por si só, a aplicação do princípio da
insignificância (STJ, HC 213.943/MT, 05/12/2013).
O agente, porém, terá a pena diminuída em razão
do arrependimento posterior (art. 16, CP).
Furto Qualificado
Em regra, não será aplicado o princípio da
insignificância.
Entretanto, é possível sua aplicação a
depender do caso concreto. (Info. 793 do
STF, HC 123108, julgado em 03/08/2015 e
STF - HC 155.920/MG – 27/04/2018).
Não se aplica o princípio da insignificância aos seguintes crimes:
1. Roubo, extorsão e demais crimes cometidos com violência ou grave ameaça (em
função da periculosidade social da ação).
2. Crimes previstos na lei de drogas (Lei n. 11.343/2006) – STJ, HC 240.258/SP,
06/08/2013.
3. Crimes contra a fé pública (ex.: moeda falsa e falsidade documental) – STJ, AgRG no
AREsp 558.790 e STF, HC 117638.
4. Crime de contrabando (art. 334-A, CP) – STJ, AgRG no Resp 1472745/PR,
01/09/2015.
5. Estelionato contra o INSS e o FGTS – STF HC 111918 e HC 110845.
6. Crimes relacionados a violência doméstica (Lei Maria da Penha, n. 11.340/2006):
Súmula n. 589 do STJ: “É inaplicável o princípio da insignificância nos crimes ou
contravenções penais praticados contra a mulher no âmbito das relações domésticas.”
7. Crimes contra a Administração Pública:
Súmula n. 599 do STJ: O princípio da insignificância
é inaplicável aos crimes contra a administração
pública. (Aprovada em 20/11/2017).
Obs.: O STF já admitiu, em algumas circunstâncias,
a aplicação do princípio da insignificância em crimes
contra a Administração Pública, contudo, para fins de
prova, o entendimento que prevalece é o do STJ.
Exceção: Crime de descaminho (art. 334, CP).
Aplica-se o princípio da insignificância aos seguintes crimes:
1. Crimes contra a ordem tributária (Lei n. 8.137/1990) e
descaminho (art. 334, CP) – valor pacífico no STJ e STF: Até R$
20.000,00.
2. Apropriação indébita previdenciária e sonegação de contribuição
previdenciária – STJ, AgRg no Resp 1348074/SP, 19/08/2014.
3. Crimes ambientais – A doutrina é contrária, mas a jurisprudência
admite a aplicação deste princípio, após uma rigorosa análise do
caso concreto. STJ, AgRg no AREsp 654.321/SC, 09/06/2015 e
STF HC 112563/SC, 21/08/2012.
A questão da posse e do porte de armas de fogo e munições
1. Não se aplica o princípio da insignificância à posse ou porte de arma
de fogo, seja de calibre permitido ou restrito e ainda que não
acompanhado de munição – Pacífico no STJ e STF.
2. No que concerne à posse ou porte de munições, desacompanhadas
de arma de fogo, tanto o STF quanto o STJ têm entendido que, a
depender do caso concreto e da quantidade de munições, é possível
aplicar o princípio da insignificância.
A favor da aplicação: STJ, REsp 1.735.871/AM, 12/06/2018; AgRg no
HC 439.593/MG, 01/02/2019 e STF, RHC 143449, 26/09/2017.
(Entendimento que prevalece para fins de prova)
Contra a aplicação: STF, HC 131.771/RJ, 19/10/2016.
É possível a aplicação do princípio
da insignificância aos atos
infracionais?
Sim. Tanto nos crimes quanto nos
atos infracionais é possível a
aplicação do princípio da
insignificância.

Você também pode gostar