Você está na página 1de 12

DIREITO PENAL

Parte Geral
LEI PENAL NO TEMPO e
TEMPO DO CRIME
INTRODUÇÃO

O Direito de Punir do Estado (jus puniendi) em abstrato do


Estado nasce com a criação e entrada em vigor da Lei Penal. Como
vimos na aula de princípios, o Direito Penal respeita os princípios da
Legalidade e da Anterioridade da Lei Penal. Para tanto, é necessária a
aprovação de uma lei penal mediante regular processo legislativo,
respeitado, também, o período de vacância (vacatio legis) para a
entrada em vigor da lei penal, e assim poder ser aplicada ao caso
concreto.
A posição majoritária da doutrina é no sentido de que NÃO é
possível aplicar qualquer lei penal antes de consumada sua
vacância, ou seja, antes de estar plenamente em vigor. Dessa forma,
a lei somente será aplicada após a sua entrada em vigor.

VACATIO LEGIS
LEI ENTRA EM
LEI APROVADA PUBLICAÇÃO (quando
SANCIONADA VIGOR
houver)

A título de curiosidade e complemento dos seus estudos, o art.


1º da Lei de Introdução as Normas do Direito Brasileiro (Decreto Lei
n. 4567/42), a lei entra em vigor 45 dias após a sua publicação, salvo
expressa previsão em sentido contrário.

ATENÇÃO: não se esqueça! A lei não produz efeitos no período da


vacatio legis, apenas após a entrada em vigor.

Para que uma lei deixe de produzir os seus efeitos, ela precisa ser
REVOGADA. A revogação retira a vigência da norma.
2

Via de regra, utilizamos a lei vigente na época da pratica da


infração penal, guiado pelo bordão do “tempus regit actum” (o
tempo rege o ato). Dessa forma, a lei para ser aplicada, via de regra,
deverá estar em vigor ANTES da prática da conduta.

Conforme falamos, essa é a regra, mas você já sabe que para


toda boa regra, existe uma exceção, que será a retroatividade da lei
benéfica, que analisaremos na sequência. Nos casos em que a lei for
aplicada para fatos ocorridos antes da sua vigência (isso será possível
quando ela for mais benéfica) ou que será aplicada mesmo após a sua
revogação (quando a nova lei não for benéfica), ocorrerá o que é
chamado de EXTRA-ATIVIDADE da lei penal.

EXTRA-ATIVIDADE

RETROATIVIDADE ULTRA-ATIVIDADE

a lei penal será aplicaada


a lei penal será aplicada
mesmo após ter sido
para fatos ocorridos ANTES
revogada ou cessado os
da sua vigência
seus efeitos
3

CONFLITO DE LEIS PENAIS NO TEMPO

Pode-se falar em conflito de leis penais no tempo quando duas


ou mais leis penais, que tratam do mesmo assunto de formas distintas,
sucedem uma à outra.
Nestes casos, surge o questionamento: qual lei deverá ser
aplicada ao fato? A lei vigente à época do cometimento do delito ou a
lei posterior que entrou em vigor?
Para saber qual sei vai ser aplicada, como regra, necessário
confirmar quando que o crime foi praticado (tempo do crime). São três
teorias que explicam o tempo do crime:

- TEORIA DA ATIVIDADE: considera-se praticado no MOMENTO DA


CONDUTA (ação ou omissão) ainda que em outro seja o resultado.

- TEORIA DO RESULTADO: considera praticado o crime no


MOMENTO DO RESULTADO.

- TEORIA MISTA OU DA UBIQUIDADE : entende praticado o crime


tanto no MOMENTO DA CONDUTA quanto no MOMENTO DO
RESULTADO.
4

O nosso Código Penal adota a TEORIA DA ATIVIDADE para


determinar o tempo do crime. Portanto, quando uma conduta penal é
praticada, em regra, deverá ser aplicada a lei vigente neste momento
(da conduta omissiva ou comissiva).

Neste sentido, dispõe o art. 4º do CP:

Art. 4º. Considera-se praticado o crime no momento da ação


ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado.

PRINCÍPIO DA LEGALIDADE

A Constituição Federal, bem como, o Código Penal, disciplina que:

Constituição Federal

Art. 5º (...) XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem
pena sem prévia cominação legal;

Código Penal

Art. 1º - Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem
prévia cominação legal.

Também há previsão no art. 9º da Convenção Americana dos


Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica) e art. 15 do
Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos.

A lei mencionada que pode tratar de Direito Penal é a lei em


sentido estrito, ou seja, não é possível a criação de tipos
5

sancionatórios por resoluções, medidas provisórias etc. Além disso,


essa lei precisa ser ANTERIOR a prática da conduta, essa é a regra.

A legalidade se desdobra em ANTERIORIDADE e RESERVA


LEGAL.

LEGALIDADE

RESERVA LEGAL ANTERIORIDADE

A lei mencionada que pode tratar


A lei deve estar vigente antes do
de Direito Penal é a lei em
sentido estrito, ou seja, não é momento da prática da conduta.
possível a criação de tipos Com isso, como regra a Lei Penal
não poderá retroagir, salvo se for
sancionatórios por resoluções,
mais benéfica ao réu.
medidas provisórias etc.

ATENÇAO: existe divergência quanto a Medida Provisória poder ou não legislar


em matéria Penal. Duas correntes se dividem, de um lado os que defende que não
é possível, diante do disposto pela Constituição Federal, e de outro, os que
entendem que pode, desde que o conteúdo trazido pela Medida Provisória seja
favorável ao réu. O Supremo Tribunal Federal defende a segunda corrente. STF,
RE 254.818-PR.

REGRA: vedação de edição de medidas provisórias sobre matéria de Direito Penal


– art. 62, §1º, I, b da CF

STJ: já se posicionou pela possibilidade quando o conteúdo for favorável ao réu.


6

somente lei ordinária ou complementar pode criar infrações


penais

abrange infrações penais (crimes e contravenções)

PRINCÍPIO DA
LEGALIDADE abrange determinação de sanções penais (penas e medidas
(Reserva Legal) de segurança)

veda legislar em matéria penal por meio de lei delegada,


medidas provisórias (*), resoluções, portarias, etc.

lei deve ser clara, objetiva. Vedação de conteúdo omisso,


sem precisão

Além disso, a lei precisa ser:

Lei estrita, advinda de um processo legislativo legal,


além disso, é proibido a analogia in malam partem
LEI ESTRITA
contra o réu.

Somente a lei estrita, positivada poderá criminalizar


condutas. Os costumes não criam infrações penais,
LEI ESCRITA
nem impõe sanções.

Taxatividade – as infrações penais devem ser de fácil


entendimento pela sociedade. Não é possível que
LEI CERTA
sejam criados tipos penais vagos e indeterminados.

Princípio da anterioridade – não se aplica, em regra,


a lei penal para fatos ocorridos antes da sua
LEI PRÉVIA
vigência.
7

A regra é que a lei penal seja IRRETROATIVA, ou seja, ela não


retroagirá, EXCETO quando for mais benéfica para o réu. Assim
dispõe o art. 2º, “caput” do CP:

Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior
deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a
execução e os efeitos penais da sentença condenatória.

Parágrafo único - A lei posterior, que de qualquer modo


favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que
decididos por sentença condenatória transitada em julgado.

A exceção legal que é feita, é se entrar em vigor uma lei menos


benéfica ao réu, hipótese em que será aplicada a lei revogada (mais
benéfica). Existem duas situações em que poderemos ter a lei penal
retroagindo: novatio legis in mellius e abolitio criminis. Ambas, mais
benéficas ao réu, retrogirão, e, pelo mesmo motivo, serão aplicáveis
a fatos ocorridos sob sua vigência, mas também aos fatos praticados
antes mesmo da sua entrada em vigor.

ABOLITIO CRIMINIS

A “abolitio criminis” se verifica quando é criada uma nova lei


penal que descriminaliza condutas, ou, ainda, suprime a
incriminação (deixa de considerar determinado fato como infração
penal). Um exemplo de “abolitio criminis” é a Lei n. 11.106/05, que
8

revogou os arts. 217 e 240 do CP, tornando atípicas duas condutas


que, até então eram consideradas crimes, quais sejam: sedução e
adultério.

IMPORTANTE! – A “abolitio criminis” é causa extintiva da


punibilidade (art. 107, III, do CP), de modo que, com a entrada em
vigor da nova lei que descriminaliza determinada conduta, o Estado
perde o direito de punir os indivíduos por aquele determinado fato.
Quando a “abolitio criminis” ocorrer ANTES do trânsito em julgado de
determinado crime, fica impedida a aplicação de TODOS os possíveis
efeitos de uma condenação penal. Se, porém, ocorrer DEPOIS do
trânsito em julgado de sentença penal condenatória, serão extintos
todos os efeitos PENAIS da condenação (mantendo-se, somente, os
efeitos extrapenais – arts. 91 e 92 do CP e art. 15, III, da CF).

NOVATIO LEGIS IN MELLIUS (LEX MITIOR)

Pode-se entender a “novatio legis in mellius” como sendo a nova


lei penal que, mantendo a conduta incriminadora, confere ao fato
tratamento mais brando, ampliando a esfera de liberdade individual.

Podemos citar como exemplos de tratamento benéfico: a


redução da pena prevista, a redução dos prazos prescricionais, a
concessão de regimes de cumprimento de pena mais brandos. Um
9

exemplo de “novatio legis in mellius” é a Lei n. 9.268/96, que proibiu


a conversão da pena de multa em prisão. Antes desta lei, aquele que
não pagasse a multa criminal poderia ser preso. Com seu advento, o
inadimplemento da pena de multa acarreta, tão somente, o
ajuizamento de uma ação de execução, sob pena de penhora de bens.

Também é possível que tenhamos novas leis, mas que são se


alguma forma mais severa para o acusado, por meio de uma “novatio
legis incriminadora”, ou “novatio legis in pejus”. No entanto, em ambas
as situações, por serem leis mais severas, serão aplicadas somente
aos fatos praticados após a sua entrava em vigor.

NOVATIO LEGIS INCRIMINADORA

Uma nova lei criminaliza uma conduta que antes era atípica –
(art. 218-C do CP – divulgação de estupro ou de cena de sexo ou de
pornografia – art. 147-A – Perseguição, etc

NOVATIO LEGIS IN PEJUS (LEX GRAVIOR)

Uma nova lei criminaliza uma conduta que antes era atípica –
(art. 218-C do CP – divulgação de estupro ou de cena de sexo ou de
10

pornografia – art. 147-A – Perseguição, etc). A irretroatividade é


absoluta.

IMPORTANTE! – CRIME CONTINUADO E CRIME PERMANENTE –


Se, durante a permanência ou continuidade delitiva entrar em vigor
nova lei, ainda que mais gravosa, ela SE APLICA A TODO O EVENTO,
ou seja, ao crime permanente e a todos os delitos cometidos em
continuidade delitiva.

Neste sentido – SÚMULA 711 DO STF: “A lei penal mais grave aplica-
se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é
anterior à cessação da continuidade ou da permanência.”

LEI EXCEPCIONAL E LEI TEMPORÁRIA

Assim dispõe o art. 3º do CP:

Art. 3º - A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o


período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a
determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência.
11

Lei excepcional é aquela elaborada para incidir sobre fatos


havidos durante determinadas circunstâncias excepcionais, tais como
crises econômicas, sociais, guerras, calamidades públicas, etc.

Já a lei temporária, por sua vez, é aquela elaborada com a


finalidade de incidir sobre fatos ocorridos apenas durante certo período
de tempo (por exemplo: Copa do Mundo).

Após terminada a situação excepcional ou o período de tempo


estipulados em lei, a lei continua em vigor, embora inapta a reger
novas situações.

Bora estudar pessoal!!!! Vamos juntos até a sua aprovação!

Você também pode gostar