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Eficácia das leis penais temporárias e

excepcionais.

O artigo 3° do nosso Código Penal, referindo-se a essas leis,


deixa claro que: "A lei excepcional ou temporária, embora
decorrido o período de sua duração ou cessadas as
circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado
durante a sua vigência."

A lei penal excepcional ou temporária, conforme o art. 3º


do Código Penal Brasileiro, é aquela em que, embora decorrido o
período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a
determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência.

Essas espécies de lei têm ultra atividade, ou seja, aplicam-se ao


fato cometido sob sua vigência, mesmo depois de revogadas pelo
decurso do tempo ou pela superação do estado excepcional.

No direito penal, aplica-se o princípio da irretroatividade da lei,


salvo para beneficiar o réu.

Isso significa que, se alguém comete um crime que tem uma


pena X e lei posterior Y torna a pena para esse crime mais branda
ou descriminaliza o fato, o réu será julgado pela lei posterior.

Da mesma forma, se ele comete um fato que lei posterior vem a


tornar crime mais grave, será julgado pela lei antiga, de forma que
terá sempre o benefício da lei que lhe é mais favorável.
A lei temporária e excepcional é a exceção a essa regra, pois,
se assim não fosse, não teria a eficácia esperada, já que nesse
caso os agentes saberiam que seriam beneficiados de qualquer
forma pelo fim de sua vigência.

Exemplo: É criada uma lei temporária que define como crime fumar
cigarro por 30 dias. Passam-se os 30 dias e a vigência dessa lei
termina. As pessoas que fumaram no tempo da vigência da lei
responderão pelo crime.

LEIS TEMPORÁRIAS: As temporárias são aquelas leis com


vigência previamente estipulada pelo legislador,

LEIS EXCEPCIONAIS: As leis excepcionais são aquelas


promulgadas em casos de calamidade pública, guerras, revoluções,
epidemias, pandemia etc..

A lei excepcional é revogada pela cessação das


circunstâncias que a determinaram, e as temporárias, pelo decurso
do tempo de sua duração, ocorrendo, nas duas hipóteses, a auto
revogação da lei.

Embora autorrevogáveis, aplicam-se aos fatos ocorridos


durante sua vigência.

Ex: Durante a calamidade, por causa de pandemia, a lei


prevê como crime " aquele não permanecer na residência".
Almir realiza a conduta punível saindo de casa. No transcorrer
do processo, termina a pandemia e o “lockdown”, ocorrendo,
assim, a auto revogação da lei penal excepcional. Neste caso
por ser a lei excepcional, embora cessadas as circunstâncias
que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua
vigência e Almir será punido porque, na época da pandemia
saiu de casa. É ultra ativa. Será então punido.
Repetindo: As Leis Temporárias e Excepcionais são
Autorrevogáveis e Ultrativas.

Autorrevogáveis: Essas leis revogam-se automaticamente ao


término do período (se for temporária) ou da Circunstância (se for
excepcional).

Ultrativas: Essas leis serão aplicadas aos fatos praticados durante


a sua vigência, mesmo que já a tenha perdido. Ou seja, os efeitos
das leis temporárias ou excepcionais não se extinguem com elas.

TEORIAS DA LEI PENAL NO TEMPO.

TEMPO DO CRIME

Art. 4º - Considera-se praticado o crime no momento da


ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado

Existem algumas teorias que tratam do assunto:

Teoria da atividade, que fixa o tempo do crime no momento em


que o agente executa a conduta criminosa (ação ou omissão). É,
justamente, o momento da prática da ação ou omissão.
Exemplo, o estelionato. Em princípio, aplica-se a lei vigente ao
tempo em que o agente induz alguém em erro, mediante artifício,
ardil, ou qualquer outro meio fraudulento (momento da ação), sendo
desnecessária a análise da norma em vigor quando, de fato, obtém
a vantagem ilícita em prejuízo alheio.

Teoria do resultado para esta teoria o tempo do delito é,


justamente, o momento da produção do resultado. Para essa teoria,
o que importa é o momento da produção do resultado (morte, no
caso de homicídio) e não o momento da prática dos atos
executórios (ação).
Teoria mista (ou da ubiquidade), sendo o tempo do crime tanto o
momento da ação quanto do resultado. No crime de homicídio,
portanto, o tempo do crime seria tanto o momento da prática da
ação quanto o momento da produção do resultado.

Todavia, o artigo 4° determina que:

"Considera-se praticado o crime no momento da ação ou


omissão, ainda que outro seja o momento do resultado".

O Código Penal Brasileiro adotou a teoria da atividade, pois


no momento da conduta que o agente manifesta sua vontade de
agir de maneira contrária ao ordenamento jurídico.

É nesse momento que o sujeito demonstra a vontade de


concretizar os elementos do tipo, sobre que recai o juízo de
reprovabilidade.

Assim, se uma pessoa comete atira em uma pessoa uma


hora antes de completar 18 anos, e esse a falecer um dia depois
dele completar a maioridade penal (18 anos).

De acordo com a teoria da atividade, o homicídio foi cometido


antes do agente alcançar a maioridade penal, quando, ainda, era
inimputável (ou seja, o agente não podia entender o caráter ilícito
do fato, nem determinar-se de acordo com esse entendimento).

Deste modo, não responderá pelo crime, não se aplicará o


juízo de reprovabilidade, ou seja, ele não será considerado
culpável. (poderá somente responder na vara da Infância ou
Juventude, mas não como adulto).
Crime permanente: a conduta criminosa se arrasta no tempo por
vontade do agente. Ex: é o cárcere privado, posto que enquanto o
agente mantiver a vítima presa, o crime de cárcere privado (art. 148
do CP) estará ocorrendo.

Se a lei penal for alterada, durante a execução do crime


permanente, aplica-se a lei nova, nos termos da Súmula 711 do
STF que reza: “A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado
ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da
continuidade ou da permanência”.

Crime continuado: o agente, valendo-se das mesmas condições


de tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes pratica
vários crimes da mesma espécie (art. 71 do CP). Caso a lei penal
seja alterada, durante a execução dos vários crimes em
continuidade delitiva, aplica-se a lei nova, nos termos da Súmula
711 do STF.

Antinomias: é o conflito aparente de normas. Possível que, no


momento da prática do crime, exista dúvida sobre qual norma penal
deve ser aplicada, posto que factível que existam duas ou mais
normas penais vigentes ao tempo do crime que, aparentemente,
podem ser aplicadas para reger o caso concreto.

Conflito Aparente de Normas Penais

O conflito aparente de normas penais ocorre quando há


duas ou mais normas incriminadoras descrevendo o mesmo fato.

Sendo assim, existe o conflito, pois mais de uma norma


pretende regular o fato, mas é aparente, porque, apenas uma
norma é aplicada à hipótese.

Para reconhecer o conflito aparente de normas de existir:

1) a unidade do fato
2) pluralidade de normas
3) aparente aplicação de todas as normas
4) efetiva aplicação de apenas uma delas

PRINCÍPIOS QUE SOLUCIONAM O CONFLITO


APARENTE DE NORMAS

Através da aplicação dos “princípios que solucionam o


conflito aparente de normas”, é possível obter a solução ao caso
concreto, pois tais princípios afastam as normas incidentes e indica
as normas penais que devem ser aplicadas à situação, afastando
as demais, e, com isso evitando o chamando bis in idem.

1. PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE: a lei penal especial prevalece


sobre a geral.

De acordo com o brocardo jurídico lex specialis derrogat


generali (lei especial derroga a lei geral), a lei de natureza geral,
por abranger ou compreender um todo, é aplicada tão-somente
quando uma norma de caráter mais específico sobre determinada
matéria não se verificar no ordenamento jurídico.

Assim, desde que todos os requisitos do tipo geral estejam


presentes no tipo especial, e que ambas as leis estejam vigendo
naquele momento da aplicação, estará o intérprete apto para
empregar a lei especial à conduta do agente.

Ex: O Código Penal Militar, que é uma lei especial, prevalece sobre
o Código Penal, que é uma lei geral (art. 12 CP).
2. PRINCÍPIO DA SUBSIDIARIEDADE: a norma incriminadora
mais ampla prevalece sobre a de menor abrangência.

Também é chamada é Lex primaria derrogat subsidiariae.


Isto porque é possível que uma norma penal incriminadora
contenha, em sua descrição legal, elementos que, isoladamente,
são considerados crimes.

Ex: o delito de roubo (art. 157 do CP) prevê, em sua descrição


típica, a grave ameaça. Sucede que a ameaça, isoladamente, é
considerada crime (art. 147 do CP). Se o agente ameaçar para
subtrair coisa alheia móvel, prevalece o crime de roubo porque é
mais amplo em comparação com a ameaça, que tem menor
abrangência.

3. PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO: o FATO MAIS ABRANGENTE,


que é desejado pelo agente, absorve o fato considerado mero meio
de execução.

O princípio da consunção está diretamente relacionado com a


absorção de um delito por outro. Ou seja, existe uma relação de fins
e meios (um delito é o meio para que se chegue ao outro) ou
mesmo de necessidade (um crime é uma fase para o outro, sendo
necessária sua execução para que se pratique o segundo tipo
penal).

Crime-meio e crime-fim: O agente pratica um crime-meio apenas


para que possa atingir outra finalidade. Um exemplo trazido pelo
autor Rogerio Greco é o do indivíduo que localiza um cheque em
branco na rua. Para que consiga praticar o estelionato utilizando
essa folha de cheques (crime-fim), deve o agente primeiro praticar
um crime de falso (preenchendo e assinando falsamente a folha),
que será o crime-meio.

Outro exemplo: para subtrair objetos que estão no interior de


uma casa, mister a prévia invasão da casa. Note-se que a invasão
da casa, por si só, é crime de violação de domicílio (art. 150 do CP);
contudo, a invasão da casa é meio de execução do crime de furto,
que é um fato mais abrangente e querido pelo agente.

Assim, ao invés de punir o agente por dois crimes, será


punido apenas por furto porque a violação do domicílio foi o meio de
execução do furto e por isso será por ele absorvido.

A consunção pode ocorrer de algumas formas:

a). crime progressivo: para o agente alcançar o resultado final


mais grave, necessário produzir um resultado inicial menos grave.

Essa hipótese é caracterizada por uma violação crescente do bem


jurídico, embora o agente já tivesse a intenção desde o início de
alcançar o resultado mais gravoso da conduta. Temos o chamado
crime de passagem obrigatória.

Ex.: crime de homicídio. Para matar alguém, necessariamente o


agente irá perpetrar lesões corporais na vítima, sendo esse delito
considerado como o crime de passagem.

b). progressão criminosa: o agente pretende produzir um


resultado menos lesivo, mas no curso do iter criminis resolve
praticar delito mais grave.

Esta hipótese é bastante parecida com a anterior, diferenciando-se


apenas pela mudança de ideia do agente durante a execução da
conduta (ou seja, o agente substitui seu dolo inicial). Ele começa
com a intenção de praticar um delito e depois acaba se
convencendo a praticar outro!

Ex.: é o que ocorre no caso de um agente que inicialmente quer


apenas lesionar a vítima, mas que, após começar a agredi-la,
decide matá-la. Veja que aqui houve uma mudança no dolo do
agente, ao contrário do crime progressivo, no qual o agente
desejava o resultado desde o começo!

c) fato posterior não punível (post factum impunível): em alguns


casos, ocorrerá a consunção, pois ocorreu um crime posterior que
causou lesão ao mesmo bem jurídico que já havia anteriormente
sido atacado e à mesma vítima. Essa última hipótese fica bem mais
clara com um exemplo. Ex: agente que furta um bem e depois
decide destruí-lo (crime de dano). Responderá apenas pelo furto, e
o fato posterior (o crime de dano) será considerado como não
punível.

d) Fato anterior (“ante factum”) não punível


“Sempre que um fato anterior menos grave for praticado como
meio necessário para a realização de outro mais grave, ficará por
este absorvido.

Exemplo: O agente falsifica uma carteira de identidade e com ela


comete um estelionato. Responde pelos dois crimes, pois o
documento falsificado poderá ser usado em inúmeras outras
fraudes. Se, contudo, falsificasse a assinatura de um fólio de
cheque e o passasse a um comerciante, só responderia pelo
estelionato, pois não poderia usar aquela folha falsa em nenhuma
outra fraude. O que se crítica é que o falso, crime mais grave não
poderia ser absorvido pelo estelionato. Aplicou-se, entretanto, no
caso, a progressão criminosa, na modalidade fato anterior não
punível.

4. PRINCÍPIO DA ALTERNATIVIDADE: o tipo penal pode prever


várias condutas consideradas criminosas, mas o agente será
punido uma única vez, ainda que realizar os vários verbos do
mesmo tipo penal.
Entende-se pelo princípio da alternatividade aquele que se
volta à solução de conflitos surgidos em face de crimes de ação
múltipla, que são aqueles em que o tipo penal expõe vários núcleos,
correspondendo cada um desses núcleos a uma conduta.

Aqui temos um tipo penal chamado de misto alternativo (cuja


conduta possui várias formas, ou seja, vários verbos). Nesses
casos, mesmo que o agente pratique vários dos núcleos em um
mesmo contexto, responderá por apenas um crime!

É exemplo de crime de ação múltipla o crime de receptação,


conforme o art. 180, caput, do Código Penal in, verbis:

"Art. 180. Adquirir, receber, transportar, conduzir ou


ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser
produto de crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a
adquira, receba ou oculte."

Apesar das inúmeras modalidades de ações praticadas no


crime acima transcrito, é preciso que exista nexo de causalidade
entre elas e que sejam praticadas no mesmo contexto fático. Nesse
caso, o agente será punido apenas por uma das modalidades
descritas no tipo. Caso contrário, haverá tantos crimes quantas
forem as condutas praticadas. Assim, ainda que o agente pratique
as três condutas, será punido apenas por um delito.

BIBLIOGRAFIA

BITTENCOURT, C. R. Tratado de Direito Penal I 26. ed. São Paulo:


Saraiva, 2024

CAPEZ, Fernando , Curso de Direito Penal I, Editora Saraiva, São Paulo,


2024,( e-book)

GONÇALVES, Victor Eduardo, R. e Pedro Lenza. Esquematizado - Direito


Penal - Parte Geral. Disponível em: Minha Biblioteca, (13ª edição). Editora
Saraiva, 2024.

MASSON, Cleber, Direito Penal: Parte Geral(Volume 1). 2023. ( e-book)

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