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DO TEMPO E DO LUGAR DO CRIME

TEMPO DO CRIME – PRINCÍPIO DA EXTRA-ATIVIDADE DA LEI PENAL

Para que possamos bem entender o princípio da extra-atividade da lei


penal se faz importante conhecermos quando se considera um crime como
praticado.

1 – TEMPO DO CRIME: é o momento em que se considera praticado o crime. Três


teorias disputam o tratamento da matéria:

a) Teoria da atividade: por essa teoria considera-se o tempo do crime o


momento da ação ou omissão.
b) Teoria do resultado: para essa teoria o tempo do crime será quando da
ocorrência de seu resultado.

c) Teoria mista ou da ubiquidade: para essa teoria o tempo do crime tanto


será o da ação ou omissão com da ocorrência do resultado.

Ressalta-se que nosso Código Penal adotou a teoria a atividade, assim


se considera o crime praticado no momento da ação ou omissão.

Art. 4º - Considera-se praticado o crime no momento da ação


ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado.

Assim, por exemplo, se “A” atira e “B” em maio/2012 e este só vem a


óbito 6 meses depois (novembro/2012), considera-se o crime realizado em
maio/2012.

O relevo de conhecer-se o tempo do crime encontra-se no fato de


determinarmos por meio dele a lei que será aplicada ao delito.

Ex. o art. 109, VI, do CP, que regula a prescrição.


Art. 109. A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença
final, salvo o disposto no § 1o do art. 110 deste Código, regula-
se pelo máximo da pena privativa de liberdade cominada ao
crime, verificando-se: (Redação dada pela Lei nº 12.234, de
2010).
I - em vinte anos, se o máximo da pena é superior a doze;
II - em dezesseis anos, se o máximo da pena é superior a oito
anos e não excede a doze;
III - em doze anos, se o máximo da pena é superior a quatro
anos e não excede a oito;
IV - em oito anos, se o máximo da pena é superior a dois anos
e não excede a quatro;
V - em quatro anos, se o máximo da pena é igual a um ano ou,
sendo superior, não excede a dois;
VI - em dois anos, se o máximo da pena é inferior a um ano.
VI - em 3 (três) anos, se o máximo da pena é inferior a 1 (um)
ano. (Redação dada pela Lei nº 12.234, de 2010).

Anteriormente a maio de 2010, os delitos com pena inferior a 1 ano


prescreviam em 2 anos, após a edição da Lei 12.234/2010 (maio de 2010),
passaram a prescrever em 3 anos.

Portanto, os delitos praticados até a publicação da referida Lei


(maio/2010), continuam sendo regidos pela redação original do art. 109, mesmo que
o resultado tenha ocorrido posteriormente a aquela data.

Assim, a lei penal, excepcionando o princípio da irretroatividade da lei,


segue o chamado Princípio da extra-atividade.

2 – PRINCÍPIO DA EXTRA-ATIVIDADE DA LEI PENAL: é a capacidade que tem a


lei penal de se movimentar no tempo regulando fatos ocorridos durante a sua
vigência, mesmo após ter sido revogada, assim como de retroagir no tempo, a fim
de regular situações ocorridas anteriormente a sua vigência.

Este princípio é gênero que contém duas espécies:

a) Ultra-ativida: é a capacidade da lei penal já revogada continuar a regular


fatos ocorridos durante a sua vigência.
b) Retroatividade: é a capacidade de lei penal posterior retroagir no tempo para
regular fatos ocorridos antes de sua vigência.

3.1 – NOVATIO LEGIS IN MELLIUS e NOVATIO LEGIS IN PEGIUS

Sublinhe-se, por oportuno, a regra constitucional prevista no inciso XL,


do art. 5º, CF, verbis:

XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu.


Segundo o Parágrafo Único do art. 2º do CP, in verbis:

Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior
deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a
execução e os efeitos penais da sentença condenatória.

Parágrafo único – A lei posterior, que de qualquer modo


favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que
decididos por sentença condenatória transitada em julgado.

Dessa feita, podemos chegar à conclusão que só é possível a


aplicação do princípio da retroatividade da lei penal quando a lei posterior for mais
benéfica ao réu.

Importante salientar em relação aos crimes permanentes e continuados


que por força da Súmula 711 do STF deverá ser aplicada a lei vigente a época da
cessação desses delitos.

Súmula 711, STF: A lei penal mais grave aplica-se ao crime


continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é
anterior à cessação da continuidade ou da permanência.

Exceção: não ocorrerá a retroatividade quando tratar-se de crimes continuados ou


permanentes.

Crime continuado: - art. 71, CP -. “Quando o agente, mediante mais de uma ação
ou omissão, pratica dois ou mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de
tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes”.

Ex. vários roubos a postos de gasolina, sempre efetuados por dois motoqueiros, em
uma só moto, e com procedimentos semelhantes, com intervalo médio entre eles de
uma semana.

Crime permanente: quando a ação ou omissão prolonga-se no tempo. Ex. extorsão


mediante sequestro.

3.2 – ABOLITIO CRIMINIS

Nos termos do art. 1º do CP: “Ninguém pode ser punido por fato que lei
posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os
efeitos penais da sentença condenatória”.
Diante disso, é possível concluir-se que havendo revogação de um
delito (descriminalização), àqueles que se encontram sofrendo a persecução penal,
seja na fase inquisitória, judiciária ou de execução penal serão beneficiados,
apagando-se, inclusive, todos os efeitos de uma condenação, exceto o cível.

3.3 – LEIS TEMPORÁRIAS E EXCEPCIONAIS

Leis temporárias: são aquelas que já trazem a data da expiração de sua vigência.

Leis excepcionais: são leis editadas para regular fatos determinado e fora do normal.
Embora não tragam data da expiração de sua vigência, sua eficácia apenas dura
enquanto perdurar o fato a qual regula. (estado de sítio, guerra).

Com relação a estas espécies de leis, prevê o art. 3º do CP:

Art. 3º - A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o


período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a
determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência.

Nos termos do artigo supracitado, não haverá que se falar em


retroatividade da lei quanto à persecução penal se der por delitos tipificados por
estas espécies de lei.

Dessa forma, a existência de lei posterior as temporárias e


excepcionais, por mais benéficas que possam ser ao réu, não irão ultra-agir. Desse
modo, os delitos praticados sob a égide de tais leis continuaram a serem regulados
por elas, mesmo após sua revogação.

LUGAR DO CRIME – PRINCÍPIO DA TERRITORIALIDADE

1 – LUGAR DO CRIME: é o local onde se considera o crime praticado. Três teorias


disputam o tratamento da matéria:

d) Teoria da atividade: por essa teoria considera-se o crime praticado no local


da ação ou omissão.
e) Teoria do resultado: para essa teoria o crime será considerado praticado no
local da produção de seu resultado.
f) Teoria mista ou da ubiquidade: para essa teoria considera-se o crime
praticado tanto no local que ocorreu a ação ou omissão como no da produção
do resultado.

Nosso Código Penal adotou por seu art. 6º a teoria da ubiquidade.


Dessa forma, considera-se praticado o crime tanto no local de ação ou da omissão,
quanto no local em que o resultado venha a ocorrer posteriormente.

Art. 6º - Considera-se praticado o crime no lugar em que


ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como
onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado.

A importância do estudo do local do crime reside na determinação da


competência territorial, ou seja, o juízo competente para processar e julgar o delito, e
resolve questões controvertidas como os dos crimes praticados a distância.

2 –TERRITORIALIDADE: é a regra de aplicação da lei brasileira aos delitos


cometidos no território nacional, sem prejuízo de tratados, convenções e de regras
de direito internacional.

Art. 5º - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções,


tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no
território nacional

Este princípio também estabelece extensões do território nacional,


previstas nos §§ 1º e 2º do artigo 5º do CP, retro transcrito:

§ 1º - Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do


território nacional as embarcações e aeronaves brasileiras, de
natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer
que se encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações
brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se
achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou
em alto-mar.

Dele podemos extrair que:

c) As embarcações e aeronaves brasileiras de natureza pública ou a serviço do


governo brasileiro, onde que se encontrem;
d) As embarcações e aeronaves brasileiras, mercantes ou privadas que se
achem em alto-mar ou espaço aéreo correspondente (estas expressões
significam que estão em lugar que não pertence a nenhum Estado).

§ 2º - É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados


a bordo de aeronaves ou embarcações estrangeiras de
propriedade privada, achando-se aquelas em pouso no
território nacional ou em vôo no espaço aéreo correspondente,
e estas em porto ou mar territorial do Brasil.

Do § 2º, podemos extrair que a lei brasileira também é aplicada aos


crimes praticados a bordo de aeronaves e embarcações estrangeiras de propriedade
privada que estejam no território nacional (espaço aéreo ou mar territorial, aeroporto
ou porto).

3 – EXTRATERRITORIALIDADE

Oposto do princípio da territorialidade, este princípio preocupa-se com


a aplicação da lei penal brasileira aos crimes cometidos fora de nosso território,
prevê o art. 7, do CP, verbis:
Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro:
(incondicionada)
I - os crimes:
a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República;
b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de
Estado, de Território, de Município, de empresa pública, sociedade de
economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público;
c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço;
d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil;
§ 1º - Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo a lei brasileira,
ainda que absolvido ou condenado no estrangeiro.
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(condicionada)
II - os crimes:
a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir;
b) praticados por brasileiro;
c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de
propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam
julgados.

OBS: para o caso de genocídio, o tribunal competente para processar e julgar o


delito é o Tribunal Penal Internacional, consoante o § 4º, do art. 5º da CF, “§ 4º O
Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal Internacional a cuja criação tenha
manifestado adesão”.

§ 2º - Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depende do


concurso das seguintes condições:
a) entrar o agente no território nacional;
b) ser o fato punível também no país em que foi praticado;
c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a
extradição;
d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a
pena;
e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não
estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável.

OBS: esses requisitos são cumulativos

OBS: se o agente for condenado no exterior cumprindo pena, está será computada
no computo da pena aplicada no Brasil, nos termos do art. 8º do CP: “Art. 8º - A
pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime,
quando diversas, ou nela é computada, quando idênticas”.

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(hipercondicionada)
§ 3º - A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro
contra brasileiro fora do Brasil, se, reunidas as condições previstas no
parágrafo anterior:
a) não foi pedida ou foi negada a extradição;
b) houve requisição do Ministro da Justiça.

OBS: O princípio da extraterritorialidade não será aplicado as contravenções penais


(art. 2° do Decreto-Lei n. 3.688/41

Princípios:

Princípio da Defesa, Real ou da Proteção: (art. 7°, I , “a”, “b”, “c”) aplica-se a lei
nacional a bem jurídico lesado independente da nacionalidade do agente ou do lugar
do crime.

Princípio da Justiça Universal ou Universalidade: (art. 7°, I, “d” e II, “a”) O Estado
tem o direito de punir qualquer crime, seja qual for a nacionalidade do autor e da
vítima, desde que quem praticou esteja dentro do território nacional.

Princípio da Nacionalidade Ativa: (II, “b”) Crimes cometidos por brasileiros no


exterior.

Princípio da Nacionalidade Passiva (§3°) Crimes cometidos por estrangeiros


contra brasileiros fora do Brasil.
Princípio da Representação ou da Bandeira (II, “c”) Crimes cometidos em aeronaves e
embarcações mercantes e/ou privadas brasileiras, no estrangeiro, desde que não punidos no
estrangeiro

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