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Revisão Turbo | 38º Exame de Ordem

Direito Penal

DIREITO PENAL
PROF. ARNALDO QUARESMA
PROF. NIDAL AHMAD

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Revisão Turbo | 38º Exame de Ordem
Direito Penal

Queridos alunos,

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Direito Penal

1. Abolitio Criminis (art. 2º CP)

Ocorre a chamada abolitio criminis quando a lei nova deixa de considerar crime fato que
anteriormente era considerado ilícito penal. A nova lei, demonstrando não haver mais, por parte
do Estado, interesse na punição do autor de determinado fato, retroage para alcançá-lo.
A abolitio criminis, além de conduzir à extinção da punibilidade, apaga todos os efeitos
penais da sentença condenatória, permanecendo, no entanto, íntegros seus efeitos na esfera
extrapenal.
Assim, o agente condenado definitivamente em 2004 pelo crime de sedução (art. 217 do
CP abolido pela Lei nº 11.106/2005) não será considerado reincidente, se praticar novo crime. A
vítima, todavia, poderá exigir indenização na esfera cível.

Resolva a questão a seguir:

1) FGV - 2018 - OAB – 26º Exame de Ordem Unificado - Primeira Fase


Jorge foi condenado, definitivamente, pela prática de determinado crime, e se encontrava em
cumprimento dessa pena. Ao mesmo tempo, João respondia a uma ação penal pela prática de crime
idêntico ao cometido por Jorge. Durante o cumprimento da pena por Jorge e da submissão ao processo
por João, foi publicada e entrou em vigência uma lei que deixou de considerar as condutas dos dois como
criminosas. Ao tomarem conhecimento da vigência da lei nova, João e Jorge o procuram, como advogado,
para a adoção das medidas cabíveis. Com base nas informações narradas, como advogado de João e
de Jorge, você deverá esclarecer que

A) não poderá buscar a extinção da punibilidade de Jorge em razão de a sentença condenatória já ter
transitado em julgado, mas poderá buscar a de João, que continuará sendo considerado primário e de
bons antecedentes.
B) poderá buscar a extinção da punibilidade dos dois, fazendo cessar todos os efeitos civis e penais da
condenação de Jorge, inclusive não podendo ser considerada para fins de reincidência ou maus
antecedentes.
C) poderá buscar a extinção da punibilidade dos dois, fazendo cessar todos os efeitos penais da
condenação de Jorge, mas não os extrapenais.
D) não poderá buscar a extinção da punibilidade dos dois, tendo em vista que os fatos foram praticados
anteriormente à edição da lei.

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2. Crime Permanente, Crime Continuado e Aplicação da Lei


Penal (Súmula 711 do STF)

Aplica-se a lei nova durante a atividade executória do CRIME PERMANENTE, ainda que
seja prejudicial ao réu, já que a cada momento da atividade criminosa está presente a vontade
do agente.
Da mesma forma, sendo o CRIME CONTINUADO uma ficção, considerando que uma
série de crimes constitui um único delito para a finalidade de aplicação da pena, o agente
responde pelo que praticou em qualquer fase da execução do crime continuado. Portanto, se
uma lei penal nova tiver vigência durante a continuidade delitiva, deverá ser aplicada ao caso,
prejudicando ou beneficiando.

Súm. 711 do STF: A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime
permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência.

Resolva a questão a seguir:

2) FGV - 2017 - OAB – 24º Exame de Ordem Unificado - Primeira Fase


Bárbara, nascida em 23 de janeiro de 1999, no dia 15 de janeiro de 2017, decide sequestrar Felipe, por
dez dias, para puni-lo pelo fim do relacionamento amoroso. No dia 16 de janeiro de 2017, efetivamente
restringe a liberdade do ex-namorado, trancando-o em uma casa e mantendo consigo a única chave do
imóvel. Nove dias após a restrição da liberdade, a polícia toma conhecimento dos fatos e consegue libertar
Felipe, não tendo, assim, se realizado, em razão de circunstâncias alheias, a restrição da liberdade por
dez dias pretendida por Bárbara. Considerando que, no dia 23 de janeiro de 2017, entrou em vigor nova
lei, mais gravosa, alterando a sanção penal prevista para o delito de sequestro simples, passando a pena
a ser de 01 a 05 anos de reclusão e não mais de 01 a 03 anos, o Ministério Público ofereceu denúncia
em face de Bárbara, imputando-lhe a prática do crime do Art. 148 do Código Penal (Sequestro e Cárcere
Privado), na forma da legislação mais recente, ou seja, aplicando-se, em caso de condenação, pena de
01 a 05 anos de reclusão. Diante da situação hipotética narrada, é correto afirmar que o advogado de
Bárbara, de acordo com a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, deverá pleitear

A) a aplicação do instituto da suspensão condicional do processo.


B) a aplicação da lei anterior mais benéfica, ou seja, a aplicação da pena entre o patamar de 01 a 03 anos
de reclusão.
C) o reconhecimento da inimputabilidade da acusada, em razão da idade.
D) o reconhecimento do crime em sua modalidade tentada.

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3. Lei Temporária e Lei Excepcional (art. 3º do CP)

Leis excepcionais: são feitas para durar enquanto um estado anormal ocorrer. Cessa a
sua vigência ao mesmo tempo que a situação excepcional também terminar. Portanto, são
aquelas promulgadas em caso de calamidade pública, guerras, revoluções, cataclismos,
epidemias etc.
Leis temporárias: são as editadas com período determinado de duração, portanto,
dotadas de autorrevogação. É feita para vigorar em um período de tempo previamente fixado
pelo legislador. Traz em seu bojo a data do início e da cessação de sua vigência. É uma lei que,
desde a sua entrada em vigor, está marcada para morrer.
Reúnem duas características:
Autorrevogabilidade: em regra, uma lei somente pode ser revogada por outra lei,
posterior, que a revogue expressamente, que seja com ela incompatível ou que regule
integralmente a matéria nela tratada. As leis de vigência temporária e excepcional constituem
exceção a esse princípio, visto que perdem sua vigência automaticamente, sem que outra lei as
revogue.
Ultratividade: significa que uma lei revogada continua gerando efeitos. É o caso da lei
temporária e da lei excepcional, que continuarão gerando efeitos em relação aos fatos praticados
durante sua vigência, mesmo após revogadas.

4. Tempo do Crime (art. 4º do CP)

Em relação ao tempo do crime, o Código Penal adotou a teoria da atividade, segundo a


qual se reputa praticado o delito no momento da conduta, não importando o instante do resultado.
Assim, se um adolescente com 17 anos, 11 meses e 29 dias efetuar disparo de arma de fogo
contra a vítima, que vem a falecer cinco dias depois (quando já terá adquirido a maioridade),
responderá conforme as normas do ECA, diante da teoria da atividade que rege o tempo do
crime.

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Resolva a questão a seguir:

3) FGV - 2018 - OAB – 27º Exame de Ordem Unificado - Primeira Fase


No dia 05/03/2015, Vinícius, 71 anos, insatisfeito e com ciúmes em relação à forma de dançar de sua
esposa, Clara, 30 anos mais nova, efetua disparos de arma de fogo contra ela, com a intenção de matar.
Arrependido, após acertar dois disparos no peito da esposa, Vinícius a leva para o hospital, onde ela ficou
em coma por uma semana. No dia 12/03/2015, porém, Clara veio a falecer, em razão das lesões causadas
pelos disparos da arma de fogo. Ao tomar conhecimento dos fatos, o Ministério Público ofereceu denúncia
em face de Vinícius, imputando-lhe a prática do crime previsto no Art. 121, § 2º, inciso VI, do Código
Penal, uma vez que, em 09/03/2015, foi publicada a Lei nº 13.104, que previu a qualificadora antes
mencionada, pelo fato de o crime ter sido praticado contra a mulher por razão de ser ela do gênero
feminino. Durante a instrução da 1ª fase do procedimento do Tribunal do Júri, antes da pronúncia, todos
os fatos são confirmados, pugnando o Ministério Público pela pronúncia nos termos da denúncia. Em
seguida, os autos são encaminhados ao(a) advogado(a) de Vinícius para manifestação. Considerando
apenas as informações narradas, o(a) advogado(a) de Vinicius poderá, no momento da manifestação
para a qual foi intimado, pugnar pelo imediato

A) reconhecimento do arrependimento eficaz.


B) afastamento da qualificadora do homicídio.
C) reconhecimento da desistência voluntária.
D) reconhecimento da causa de diminuição de pena da tentativa.

5. Territorialidade (art. 5º do CP)

Pelo princípio da territorialidade, aplicam-se as leis brasileiras aos delitos cometidos


dentro do território nacional. Esta é uma regra geral, que advém do conceito de soberania, ou
seja, a cada Estado cabe decidir e aplicar as leis pertinentes aos acontecimentos dentro do seu
território.
Nos termos do art. 5o, § 1o, do CP, há duas situações de território brasileiro por
equiparação:
a) embarcações e aeronaves brasileiras de natureza pública ou a serviço do governo
brasileiro onde estiverem;
b) embarcações e aeronaves brasileiras, de propriedade privada, que estiverem
navegando em alto-mar ou sobrevoando águas internacionais.

Os navios estrangeiros em águas territoriais brasileiras, desde que públicos, não são
considerados parte do nosso território. Em face disso, os crimes neles cometidos devem ser
julgados de acordo com a lei da bandeira que ostentam. Se, entretanto, são de natureza privada,
aplica-se a lei brasileira (art. 5o, § 2o, do CP).

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6. Lugar do Crime (art. 6º do CP)

O Código Penal adotou a teoria da ubiquidade ou mista, segundo a qual é lugar do


crime tanto onde houve a conduta quanto o local onde se deu o resultado.
Assim, na hipótese de o agente, que se encontra na cidade brasileira de Santana do
Livramento-RS, efetuar disparos contra a vítima que se encontra na cidade de Rivera, em
solo uruguaio, separada por uma rua do Município brasileiro, vindo este a falecer, aplica -se
a lei penal brasileira, já que os atos executórios do crime foram praticados em território
brasileiro, embora o resultado tenha sido produzido em país estrangeiro.

7. Relevância da Omissão: Crimes Omissivos (art. 13, § 2º,


do CP)

O crime omissivo configura-se quando o agente deixa de fazer aquilo que poderia e
deveria fazer, que estaria obrigado em virtude de lei.
Os crimes omissivos podem ser próprios ou impróprios (ou comissivos por omissão).

7.1. Crimes omissivos próprios


São aqueles em que há um tipo penal específico descrevendo a conduta omissiva. O
verbo nuclear do tipo descreve uma conduta omissiva. Nesse caso, o crime consiste em o sujeito
amoldar a sua conduta ao tipo legal que descreve uma conduta omissiva. Em síntese, o agente
será responsabilizado por não cumprir o dever de agir contido implicitamente na norma
incriminadora.
Exemplo: crime de omissão de socorro.

Art. 135. Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à
criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em
grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública:
Pena – detenção, de um a seis meses, ou multa.
Parágrafo único. A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal de
natureza grave, e triplicada, se resulta a morte.

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7.2. Crimes omissivos impróprios ou comissivos por omissão (art. 13,


§ 2o, do CP)
Têm a finalidade de impedir a ocorrência de determinado evento, desde que,
evidentemente, seja possível agir.
Para que alguém responda por crime comissivo por omissão é preciso que tenha o dever
jurídico de impedir o resultado, previsto no art. 13, § 2o, do CP:
a) Ter por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância:
Nesse caso, por expressa imposição da lei, o agente estará obrigado a agir para evitar o
resultado. Assim, se o agente se omitir, ou seja, deixar de agir, quando lhe era possível,
responderá pelo resultado gerado. Ex.: mãe que deixa de alimentar o filho, que, por conta da sua
negligência, acaba morrendo por inanição. Essa mãe deverá responder pelo resultado gerado,
qual seja, homicídio culposo. Se, de outro lado, a mãe desejou a morte do filho ou assumiu o
risco de produzi-la, responderá por homicídio doloso.
b) De outra forma, assumir a responsabilidade de impedir o resultado:
Aqui a obrigação de agir para evitar o resultado não decorre de lei, mas do fato de o agente
ter assumido a responsabilidade de impedi-lo. Ex.: babá que, por negligência, deixa de cumprir
corretamente sua obrigação de cuidar da criança, que acaba caindo na piscina e, por isso, morre
afogada. Nesse caso, responderá pelo resultado gerado, qual seja, homicídio culposo. Se, de
outro lado, desejou a morte da criança ou assumiu o risco de produzi-la, responderá por
homicídio doloso.
c) Com o comportamento anterior, criar o risco da ocorrência do resultado:
Nesta hipótese, o sujeito, com o comportamento anterior, cria situação de perigo para
bens jurídicos alheios penalmente tutelados, de sorte que, tendo criado o risco, fica obrigado a
evitar que ele se degenere ou desenvolva para o dano ou lesão. Ex.: aluno veterano, por ocasião
de um trote acadêmico, sabendo que a vítima não sabe nadar, joga o incauto calouro na piscina.
Nesse caso, contrai o dever jurídico de agir para evitar o resultado, sob pena de responder por
homicídio.

Resolva a questão a seguir:

4) FGV - 2019 - OAB – 28º Exame de Ordem Unificado - Primeira Fase


David, em dia de sol, levou sua filha, Vivi, de 03 anos, para a piscina do clube. Enquanto a filha brincava
na piscina infantil, David precisou ir ao banheiro, solicitando, então, que sua amiga Carla, que estava no

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local, ficasse atenta para que nada de mal ocorresse com Vivi. Carla se comprometeu a cuidar da filha
de David. Naquele momento, Vitor assumiu o posto de salva-vidas da piscina. Carla, que sempre fora
apaixonada por Vitor, começou a conversar com ele e ambos ficam de costas para a piscina, não
atentando para as crianças que lá estavam. Vivi começa a brincar com o filtro da piscina e acaba sofrendo
uma sucção que a deixa embaixo da água por tempo suficiente para causar seu afogamento. David vê
quando o ato acontece através de pequena janela no banheiro do local, mas o fecho da porta fica
emperrado e ele não consegue sair. Vitor e Carla não veem o ato de afogamento da criança porque
estavam de costas para a piscina conversando. Diante do resultado morte, David, Carla e Vitor ficam
preocupados com sua responsabilização penal e procuram um advogado, esclarecendo que nenhum
deles adotou comportamento positivo para gerar o resultado.
Considerando as informações narradas, o advogado deverá esclarecer que:

A) Carla e Vitor, apenas, poderão responder por homicídio culposo, já que podiam atuar e possuíam
obrigação de agir na situação.
B) David, apenas, poderá responder por homicídio culposo, já que era o único com dever legal de agir
por ser pai da criança.
C) David, Carla, Vitor poderão responder por homicídio culposo, já que os três tinham o dever de agir.
D) Vitor, apenas, poderá responder pelo crime de omissão de socorro.

8. Tentativa (Art. 14 do CP)

Nos termos do art. 14, II, do CP, para caracterizar ao menos crime tentado, deve o agente
passar pelos atos preparatórios e dar início à execução do delito, que, por razões alheias à
sua vontade, não alcance a consumação.

*Para todos verem: esquema.

Início da execução do delito

Não consumação por


circunstâncias alheias à
vontade

Se o crime for tentado, a pena do crime na modalidade consumada será reduzida de 1/3
a 2/3, nos termos do artigo 14, parágrafo único, do CP, mediante o seguinte critério: Quanto mais
próximo da consumação, menor será a redução (1/3); quanto mais distante da consumação,
maior será a redução (2/3).

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9. Desistência Voluntária e Arrependimento Eficaz

Art. 15, do Código Penal


O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução ou impede que o
resultado se produza, só responde pelos atos já praticados.

*Para todos verem: esquema.

Início da execução do delito

Não consumação por vontade


própria

9.1. Desistência voluntária


• O sujeito inicia a execução do delito, mas interrompe os atos executórios;
• Não esgota a sua potencialidade lesiva;
• Tomemos como exemplo a conduta do agente que, com a intenção homicida, desfere
um disparo de arma de fogo contra a vítima, acertando-a em região não letal. Podendo
prosseguir, já que tinha mais cinco balas no revólver, o agente resolve, por vontade
própria, não efetuar mais disparos, deixando a vítima sobreviver.

9.2. Arrependimento eficaz


• Antes da consumação possui uma postura ativa para impedir o resultado;
• Esgota a sua potencialidade lesiva;
• Exemplo: agente que, com a intenção homicida, após efetuar disparos de arma de
fogo contra a vítima, utilizando todas as balas do revólver, arrepende-se e, adotando
postura ativa, leva a vítima até o hospital, que, submetida a intervenção cirúrgica
exitosa, acaba sobrevivendo.

9.3. Efeitos
• Nos exemplos acima, o agente responderá pelo crime de lesão corporal (leve, grave
ou gravíssima, conforme o caso);
• Jamais o sujeito responderá por tentativa;

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• Responde pelos atos até então praticados;


• Se não for eficaz o arrependimento, ou seja, se o resultado se produzir, o sujeito
responderá pelo delito na modalidade consumada.

10. Arrependimento Posterior

Art. 16, do Código Penal


Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano ou
restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do
agente, a pena será reduzida de um a dois terços.

• Incide depois da consumação do delito;


• É causa de diminuição da pena de 1/3 a 2/3.

10.1. Requisitos
*Para todos verem: esquema.

Crimes praticados sem violência ou grave ameaça.

Restituição da coisa ou reparação do dano que provocou.

Até o recebimento da denúncia ou queixa-crime.

Assim, se o agente subtraiu uma TV do seu local de trabalho e, ao chegar em casa com
a coisa subtraída, é convencido pela esposa a devolvê-la, o que efetivamente vem a fazer no dia
seguinte, mesmo quando o fato já havia sido registrado na delegacia, haverá arrependimento
posterior, com reflexo na dosimetria da pena.
Se o crime for praticado com violência ou grave ameaça, ou, se praticado sem violência
ou grave ameaça, mas a reparação do dano ou restituição da coisa aconteceu depois do
recebimento da denúncia, incidirá a atenuante do artigo 65, III, “b”, do CP.

Resolva a questão a seguir:

5) FGV - 2019 - OAB – 29º Exame de Ordem Unificado - Primeira Fase


Durante a madrugada, Lucas ingressou em uma residência e subtraiu um computador. Quando se
preparava para sair da residência, ainda dentro da casa, foi surpreendido pela chegada do proprietário.

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Assustado, ele o empurrou e conseguiu fugir com a coisa subtraída. Na manhã seguinte, arrependeu-se
e resolveu devolver a coisa subtraída ao legítimo dono, o que efetivamente veio a ocorrer. O proprietário,
revoltado com a conduta anterior de Lucas, compareceu em sede policial e narrou o ocorrido. Intimado
pelo Delegado para comparecer em sede policial, Lucas, preocupado com uma possível
responsabilização penal, procura o advogado da família e solicita esclarecimentos sobre a sua situação
jurídica, reiterando que já no dia seguinte devolvera o bem subtraído. Na ocasião da assistência jurídica,
o(a) advogado(a) deverá informar a Lucas que poderá ser reconhecido(a)

A) a desistência voluntária, havendo exclusão da tipicidade de sua conduta.


B) o arrependimento eficaz, respondendo o agente apenas pelos atos até então praticados.
C) o arrependimento posterior, não sendo afastada a tipicidade da conduta, mas gerando aplicação de
causa de diminuição de pena.
D) a atenuante da reparação do dano, apenas, não sendo, porém, afastada a tipicidade da conduta.

11. Crime Impossível

Art. 17, do Código Penal.


Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por absoluta
impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime.

*Para todos verem: esquema.

Instrumento

Ineficácia absoluta do
meio

Modo de execução
Crime impossível

Coisa ou pessoa sobre a


Impropriedade absoluta
qual recai a conduta do
do objeto
sujeito

O crime impossível por ineficácia absoluta do meio guarda relação com o meio de
execução ou instrumento utilizado pelo agente, que, por sua natureza, será incapaz de produzir
qualquer resultado, ou seja, jamais alcançará a consumação do delito. É o caso do agente que,
pretendendo matar a vítima, usa como meio executório arma completamente defeituosa, que
jamais efetuaria qualquer disparo.
O crime impossível pela impropriedade absoluta do objeto guarda relação com o
objeto material, compreendendo a pessoa ou coisa sobre o qual recai a conduta do agente.
Tomemos como exemplo a conduta do agente que, pretendendo matar a vítima, desfere vários

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disparos de arma de fogo contra o seu corpo, verificando-se, após, que, ao receber os disparos,
já se encontrava morta, em decorrência de ter sofrido, momentos antes, fulminante ataque
cardíaco. Evidente, neste caso, a impropriedade absoluta do objeto, diante da impossibilidade
de ceifar a vida de pessoa que já estava morta.
Neste caso, o fato é atípico.
Se a ineficácia ou impropriedade for relativa, o sujeito vai responder pela tentativa.

Resolva a questão a seguir:

6) FGV - 2019 - OAB – 30° Exame de Ordem Unificado - Primeira Fase


Mário trabalhava como jardineiro na casa de uma família rica, sendo tratado por todos como um
funcionário exemplar, com livre acesso a toda a residência, em razão da confiança estabelecida. Certo
dia, enfrentando dificuldades financeiras, Mário resolveu utilizar o cartão bancário de seu patrão, Joaquim,
e, tendo conhecimento da respectiva senha, promoveu o saque da quantia de R$ 1.000,00 (mil reais).
Joaquim, ao ser comunicado pelo sistema eletrônico do banco sobre o saque feito em sua conta, efetuou
o bloqueio do cartão e encerrou sua conta. Sem saber que o cartão se encontrava bloqueado e a conta
encerrada, Mário tentou novo saque no dia seguinte, não obtendo êxito. De posse das filmagens das
câmeras de segurança do banco, Mário foi identificado como o autor dos fatos, tendo admitido a prática
delitiva.
Preocupado com as consequências jurídicas de seus atos, Mário procurou você, como advogado(a), para
esclarecimentos em relação à tipificação de sua conduta. Considerando as informações expostas, sob o
ponto de vista técnico, você, como advogado(a) de Mário, deverá esclarecer que sua conduta configura

A) os crimes de furto simples consumado e de furto simples tentado, na forma continuada.


B) os crimes de furto qualificado pelo abuso de confiança consumado e de furto qualificado pelo abuso
de confiança tentado, na forma continuada.
C) um crime de furto qualificado pelo abuso de confiança consumado, apenas.
D) os crimes de furto qualificado pelo abuso de confiança consumado e de furto qualificado pelo abuso
de confiança tentado, em concurso material.

12. Erro de Tipo Essencial x Erro De Proibição

12.1. Erro de tipo Essencial – Art. 20, “caput”, CP

Art. 20, do Código Penal


O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite a
punição por crime culposo, se previsto em lei.

O erro de tipo essencial é aquele que repercute na própria tipificação da conduta do


agente, pois, se não tivesse a falsa percepção da realidade, o agente não teria praticado o fato
típico, ou, pelo menos, não nas circunstâncias que envolveram o contexto fático.

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O erro de tipo essencial pode ser:


a) Invencível, inevitável, escusável:
É aquele erro em que qualquer pessoa, nas mesmas circunstâncias, incorreria. É o erro
inevitável, desculpável ou escusável, que não poderia ser evitado, mesmo por uma pessoa
cautelosa e prudente.
Tomemos como exemplo a conduta de uma estudante que deixa seu celular carregando
na tomada da sala de aula e sai para comprar café na cantina do local. Quando retorna, retira
um celular da tomada que, na verdade, não era o seu aparelho, mas de sua colega, que havia
colocado um celular idêntico para carregar em substituição ao da estudante. Nesse caso, há
evidente erro de tipo, pois a estudante, por conta da falsa percepção da realidade (supôs ser seu
o celular, já que idêntico), errou em relação ao elemento “alheio” do tipo que define o crime de
furto. E, trata-se de erro de tipo invencível, porque qualquer pessoa, nas circunstâncias,
consideraria que era o seu telefone celular que estava carregando na tomada em que havia
deixado.
O erro de tipo invencível, inevitável ou escusável exclui o dolo e a culpa. Sendo a conduta
elemento do fato típico, a ausência de dolo ou culpa leva à atipicidade da conduta.
b) Vencível, evitável ou inescusável:
É aquele erro em que uma pessoa mais cautelosa e prudente, nas mesmas circunstâncias,
não incorreria. É o erro evitável, indesculpável ou inescusável, que uma pessoa cautelosa e
prudente teria evitado. Assim, se o fato for punido sob a forma culposa, o agente responderá por
crime culposo. Quando o tipo, entretanto, não admitir essa modalidade, a consequência será
inexoravelmente a exclusão do crime, já que configurará fato atípico.
No exemplo do caçador que praticava a caça em mata próxima à zona urbana, onde havia
circulação de pessoas, o agente responderá pelo crime de homicídio culposo, já que se trata de
erro de tipo vencível.

12.2. Erro de proibição

Art. 21, do Código Penal


O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável,
isenta de pena; se evitável, poderá diminuí-la de um sexto a um terço.
Parágrafo único - Considera-se evitável o erro se o agente atua ou se omite sem a
consciência da ilicitude do fato, quando lhe era possível, nas circunstâncias, ter ou atingir
essa consciência.

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Nesse caso, o erro recai sobre a ilicitude do fato.


O sujeito sabe o que está fazendo, mas falta potencial consciência de que a conduta é
ilícita.
O erro de proibição escusável, inevitável ou invencível ocorre quando o erro sobre a
ilicitude do fato é impossível de ser evitado, valendo-se o ser humano da sua diligência ordinária.
Ex.: um telejornal de alcance nacional informa, de forma equivocada, a aprovação da lei que
autoriza a eutanásia de doentes em estágio terminal. Não havendo nenhuma razão para duvidar
da veracidade da notícia, o agente dirige-se até o hospital e desliga os aparelhos que mantinham
vivo um ente querido, que se encontrava sofrendo com a doença que o acometia e em estágio
terminal, causando-lhe a morte. Praticou fato típico e ilícito, mas lhe faltou potencial consciência
da ilicitude, incidindo o erro de proibição inevitável, cuja consequência será a exclusão da
culpabilidade.
O erro de proibição inescusável ou evitável ocorre quando o erro sobre a ilicitude do
fato que não se justifica, pois, se tivesse havido um mínimo de empenho em se informar, o agente
poderia ter tido conhecimento da realidade. O critério de aferição do erro de proibição
inescusável, vencível ou evitável encontra-se no parágrafo único do art. 21 do CP, segundo o
qual “considera-se evitável o erro se o agente atua ou se omite sem a consciência da ilicitude do
fato, quando lhe era possível, nas circunstâncias, ter ou atingir essa consciência”. Tratando-se
de erro de proibição evitável, permanece hígida a culpabilidade do agente, sendo, no entanto,
causa de diminuição da pena de um sexto a um terço.

Resolva a questão a seguir:

7) FGV - 2017 - OAB – 22º Exame de Ordem Unificado - Primeira Fase


Tony, a pedido de um colega, está transportando uma caixa com cápsulas que acredita ser de remédios,
sem ter conhecimento que estas, na verdade, continham Cloridrato de Cocaína em seu interior. Por outro
lado, José transporta em seu veículo 50g de Cannabis Sativa L. (maconha), pois acreditava que poderia
ter pequena quantidade do material em sua posse para fins medicinais. Ambos foram abordados por
policiais e, diante da apreensão das drogas, denunciados pela prática do crime de tráfico de
entorpecentes. Considerando apenas as informações narradas, o advogado de Tony e José deverá alegar
em favor dos clientes, respectivamente, a ocorrência de

A) erro de tipo, nos dois casos.


B) erro de proibição, nos dois casos.
C) erro de tipo e erro de proibição.
D) erro de proibição e erro de tipo.

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13. Erro Sobre a Pessoa (art. 20, § 3º, do CP)

Art. 20, § 3º, do Código Penal


O erro quanto à pessoa contra a qual o crime é praticado não isenta de pena. Não se
consideram, neste caso, as condições ou qualidades da vítima, senão as da pessoa contra
quem o agente queria praticar o crime.

*Para todos verem: esquema.

Pretende atingir
Erro na Atinge pessoa
determinada
identificação diversa
pessoa

• Consideram-se as condições ou qualidades da vítima pretendida. Ignora-se as


condições da vítima efetivamente atingida;
• Consideremos, por exemplo, a hipótese do filho desalmado que, pretendendo matar seu
pai, realiza disparos de arma de fogo contra o homem que estava na varanda da
residência do genitor, causando a morte deste. O filho, então, deixa o local satisfeito,
por acreditar ter concluído seu intento delitivo, mas vem a descobrir que matara um
amigo de seu pai, que contava com 65 anos de idade, que, de costas, era com ele
parecido;
• Nesse caso, nos termos do art. 20, § 3o, do CP, consideram-se as condições e
qualidades da vítima pretendida. Logo, o filho desalmado responderá pelo crime de
homicídio, com a incidência da agravante de ter praticado crime contra ascendente,
prevista no art. 61, II, e, 1a parte, do CP.

14. Erro na Execução (art. 73 do CP)

Art. 73, do Código Penal


Quando, por acidente ou erro no uso dos meios de execução, o agente, ao invés de atingir
a pessoa que pretendia ofender, atinge pessoa diversa, responde como se tivesse
praticado o crime contra aquela, atendendo-se ao disposto no § 3º do art. 20 deste Código.
No caso de ser também atingida a pessoa que o agente pretendia ofender, aplica-se a
regra do art. 70 deste Código.

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*Para todos verem: esquema.

Pretende atingir Erro nos meios


Atinge pessoa
determinada de execução
diversa
pessoa ou acidente

A aberratio ictus pode ocorrer quando, por acidente, o agente, em vez de atingir a pessoa
pretendida, atinge pessoa diversa. Suponhamos, nesse caso, que o agente pretende matar
Wilson, deixando na sua mesa de trabalho uma xícara de café contendo veneno. Todavia, quem
toma o café é Pedro, que acaba falecendo.
Pode ocorrer também quando, por erro nos meios de execução, o agente, em vez de
atingir a pessoa pretendida, atinge pessoa diversa. Ex.: agente pretendendo matar Wilson,
visualiza a vítima, tendo-a como certa, faz a mira e efetua o disparo, mas, no entanto, erra o alvo
pretendido, atingindo pessoa diversa, que se encontrava próxima ao local.
A consequência jurídica da conduta do agente encontra-se retratada no art. 73, 1a parte,
do CP, que faz expressa remissão ao art. 20, § 3o, do CP. Ou seja, na hipótese de erro na
execução, deve-se observar o disposto no art. 20, § 3o, segundo o qual, embora tenha atingido
pessoa diversa, o agente deve receber tratamento penal considerando-se as condições ou
qualidades da pessoa pretendida (vítima virtual), desprezando-se as condições pessoais da
vítima efetivamente atingida.
Na aberratio ictus com resultado duplo, o agente, além de atingir a vítima pretendida,
atinge também pessoa diversa. Nesse caso, com uma única ação, o agente produz mais de um
resultado: atinge a pessoa pretendida e também pessoa diversa. Por essa razão, o art. 73, 2 a
parte, do CP faz expressa remissão ao art. 70 do CP, devendo ser aplicada a regra do concurso
formal de crimes.

15. Resultado Diverso do Pretendido (art. 74 do CP)

Art. 74, do Código Penal


Fora dos casos do artigo anterior, quando, por acidente ou erro na execução do crime,
sobrevém resultado diverso do pretendido, o agente responde por culpa, se o fato é
previsto como crime culposo; se ocorre também o resultado pretendido, aplica-se a regra
do art. 70 deste Código.

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*Para todos verem: esquema.

Acidente ou erro
Pretende atingir Atinge bem jurídico
nos meios de
um bem jurídico diverso
execução

Aberratio criminis, o agente pretende ofender determinado bem jurídico, mas, por acidente
ou erro na execução, acaba produzindo resultado diverso do pretendido. Na verdade, o agente
pretendia praticar um crime, mas acaba praticando crime diverso do pretendido.
Na aberratio criminis com unidade simples, o agente somente atinge o bem jurídico diverso
do pretendido. Ou seja, o agente quer atingir uma coisa e atinge uma pessoa.
Nesse caso, o agente responde pelo resultado produzido a título de culpa, se o fato é
previsto como crime culposo.
Assim, se o agente, pretendendo atingir o veículo do desafeto, com o intuito de praticar o
crime dano, por erro na execução, não atingir o objeto, mas somente uma pessoa que se
encontrava próxima ao local, responderá por lesão corporal culposa (art. 129, § 6o, do CP), se
resultar lesão corporal; ou por homicídio culposo (art. 121, § 3o, do CP), se resultar morte.
Na aberratio criminis com resultado duplo, o agente, além de praticar o crime pretendido,
também acaba produzindo um resultado diverso do pretendido. Ou seja, com uma ação ou
omissão, acaba provocando dois resultados. Nesse caso, como expressamente prevê a parte
final do art. 74 do CP, aplica-se a regra do concurso formal de crimes (art. 70 do CP),
considerando-se a pena do crime mais grave aumentada de um sexto até metade, de acordo
com o número de resultados diversos produzidos.

Resolva a questão a seguir:

8) FGV - 2019 - OAB – 30º Exame de Ordem Unificado - Primeira Fase


Regina dá à luz seu primeiro filho, Davi. Logo após realizado o parto, ela, sob influência do estado
puerperal, comparece ao berçário da maternidade, no intuito de matar Davi. No entanto, pensando tratar-
se de seu filho, ela, com uma corda, asfixia Bruno, filho recém-nascido do casal Marta e Rogério,
causando-lhe a morte. Descobertos os fatos, Regina é denunciada pelo crime de homicídio qualificado
pela asfixia com causa de aumento de pena pela idade da vítima.
Diante dos fatos acima narrados, o(a) advogado(a) de Regina, em alegações finais da primeira fase do
procedimento do Tribunal do Júri, deverá requerer

A) o afastamento da qualificadora, devendo Regina responder pelo crime de homicídio simples com causa
de aumento, diante do erro de tipo.
B) a desclassificação para o crime de infanticídio, diante do erro sobre a pessoa, não podendo ser
reconhecida a agravante pelo fato de quem se pretendia atingir ser descendente da agente.

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C) a desclassificação para o crime de infanticídio, diante do erro na execução (aberratio ictus), podendo
ser reconhecida a agravante de o crime ser contra descendente, já que são consideradas as
características de quem se pretendia atingir.
D) a desclassificação para o crime de infanticídio, diante do erro sobre a pessoa, podendo ser reconhecida
a agravante de o crime ser contra descendente, já que são consideradas as características de quem se
pretendia atingir.

16. Coação Moral Irresistível e Obediência Hierárquica

Art. 22, do Código Penal


Se o fato é cometido sob coação irresistível ou em estrita obediência a ordem, não
manifestamente ilegal, de superior hierárquico, só é punível o autor da coação ou da
ordem.

16.1. Coação moral irresistível


Na coação moral, o agente coator, para alcançar o resultado desejado, emprega grave
ameaça contra o coagido, que, por medo de suportar um mal grave contra si ou contra outrem,
acaba realizando a conduta criminosa exigida. A coação empregada pelo agente vicia a vontade
do coagido, retirando-lhe a exigência de se comportar de modo diferente. Nesse caso, em
relação ao coagido, incide a causa de exclusão da culpabilidade decorrente da inexigibilidade de
conduta diversa.
Ex.: se o sujeito é coagido a assinar um documento falso, responde pelo crime de falsidade
o autor da coação. O coato não responde pelo crime, uma vez que sobre o fato incide a causa
de exclusão da culpabilidade. Assim, quando o sujeito comete o fato típico e antijurídico sob
coação moral irresistível, não há culpabilidade em face da inexigibilidade de outra conduta (não
é reprovável o comportamento). A culpabilidade desloca-se da figura do coato para a do coator.
Convém sinalar que, se o sujeito pratica o fato sob coação física irresistível, não praticará
crime por ausência de conduta. Trata-se de causa excludente da tipicidade.

16.2. Obediência hierárquica


Obediência hierárquica decorre da conduta do subordinado que, por força de ordem não
manifestamente ilegal emanada por superior hierárquico, pratica fato típico e ilícito.
A ordem não manifestamente ilegal é aquela que revela aparente legalidade, mas que, na
realidade, é contrária ao direito. O subordinado, por força da ordem emanada do superior

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hierárquico, realiza a conduta que lhe foi ordenada, considerando-a lícita, quando, na realidade,
constitui fato típico e ilícito.
Tomemos como exemplo a hipótese de um Delegado de Polícia que determina a um
inspetor de polícia recém-empossado na instituição que conduza um desafeto até a Delegacia,
sem nenhuma razão plausível para isso. Desconhecendo os motivos do superior hierárquico, o
subordinado cumpre estritamente a ordem. Nesse caso, o subordinado não será
responsabilizado criminalmente, já que incide em seu favor a causa excludente de culpabilidade.
O crime de abuso de autoridade deve ser atribuído exclusivamente ao autor da ordem.

17. Excludentes de Ilicitude (art. 23 CP)

Art. 23, do Código Penal


Não há crime quando o agente pratica o fato. (exclusão de ilicitude)
I - em estado de necessidade;
II - em legítima defesa;
III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito
Parágrafo único - O agente, em qualquer das hipóteses deste artigo, responderá pelo
excesso doloso ou culposo. (excesso punível)

*Para todos verem: esquema.

Estado de necessidade

Legítima defesa
Exclusão da ilicitude
Art. 23 do CP
Estrito cumprimento de
um dever legal

Exercício regular de um
direito

18. Estado de Necessidade (art. 24 CP)

Art. 24 do Código Penal


Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual,
que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou
alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se.

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§ 1º - Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de enfrentar o
perigo.
§ 2º - Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito ameaçado, a pena poderá ser
reduzida de um a dois terços.

*Para todos verem: esquema.

Se salvar de - Ação humana


- Evento da natureza
Fato típico situação de - Comportamento
perigo animal

Comportamento animal: É considerado estado de necessidade quando o animal ataca


por instinto. Quando o animal for instigado por alguém para atacar, será considerada legítima
defesa.
Quem, por sua vontade, provocou a situação de perigo, não poderá alegar estado de
necessidade.
A conduta tem que ser inevitável para cessar o perigo. Se existir outro modo menos
lesivo de evitar o perigo, não poderá alegar estado de necessidade.
Critério de proporcionalidade: O bem protegido deve ser de igual ou maior valor que o
bem sacrificado.
Aquele que tem o dever legal de enfrentar o perigo, não poderá alegar estado de
necessidade.

19. Legítima Defesa (art. 25 CP)

Art. 25, do Código Penal


Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários,
repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.

Parágrafo único - Observados os requisitos previstos no caput deste artigo, considera-se


também em legítima defesa o agente de segurança pública que repele agressão ou risco
de agressão a vítima mantida refém durante a prática de crimes.

*Para todos verem: esquema.

Repelir uma
Fato típico Atual ou iminente
injusta agressão

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Critério de proporcionalidade:
• Meio necessário e suficiente para fazer cessar a agressão;
• Uso moderado desse meio.

Novidade do Pacote Anticrime: legítima defesa do Agente de Segurança Pública


• Observados os requisitos do caput;
• Crime com vítima refém.

20. Estrito Cumprimento do Dever Legal x Exercício


Regular do Direito

*Para todos verem: tabela comparativa.

Estrito cumprimento de um dever


Exercício regular de um direito
legal

• Agente público; • Cidadão comum;


• Fato típico; • Fato típico;
• Cumprimento de um dever imposto • Exercício regular de um direito.
pela lei.

Resolva a questão a seguir:

9) FGV - 2022 - OAB – 36º Exame de Ordem Unificado - Primeira Fase


Tainá, legalmente autorizada a pilotar barcos, foi realizar um passeio de veleiro com sua amiga Raquel.
Devido a uma mudança climática repentina, o veleiro virou e começou a afundar. Tainá e Raquel
nadaram, desesperadamente, em direção a um tronco de árvore que flutuava no mar.
Apesar de grande, o tronco não era grande o suficiente para suportar as duas amigas ao mesmo tempo.
Percebendo isso, Raquel subiu no tronco e deixou Tainá afundar, como único meio de salvar a
própria vida. A perícia concluiu que a morte de Tainá se deu por afogamento.
A partir do caso relatado, assinale a opção que indica a natureza da conduta praticada por Raquel.

A) Raquel deverá responder pelo crime de omissão de socorro.


B) Raquel agiu em legítima defesa, causa excludente de ilicitude.
C) Raquel deverá responder pelo crime de homicídio consumado.
D) Raquel agiu em estado de necessidade, causa excludente de ilicitude.

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21. Inimputabilidade pela Doença Mental ou


Desenvolvimento Mental Incompleto ou Retardado

Art. 26, do Código Penal


É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto
ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o
caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.

21.1. Critério biopsicológico


• Desenvolvimento mental incompleto ou retardado;
• Inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito da sua conduta.

21.2. Natureza jurídica da sentença


• Sentença absolutória imprópria, com imposição de medida de segurança.

*Para todos verem: esquema.

Internação
Medida de
segurança
Tratamento
ambulatorial

Art. 97, do Código Penal


Se o agente for inimputável, o juiz determinará sua internação (art. 26). Se, todavia, o fato
previsto como crime for punível com detenção, poderá o juiz submetê-lo a tratamento
ambulatorial.

O tempo de duração da medida de segurança será a pena máxima cominada ao delito,


segundo se extrai da Súmula 527 STJ.

Resolva a questão a seguir:

10) FGV - 2019 - OAB – 30º Exame de Ordem Unificado - Primeira Fase
Durante ação penal em que Guilherme figura como denunciado pela prática do crime de abandono de
incapaz (Pena: detenção, de 6 meses a 3 anos), foi instaurado incidente de insanidade mental do
acusado, constatando o laudo que Guilherme era, na data dos fatos (e permanecia até aquele momento),
inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato, em razão de doença mental. Não foi indicado,

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porém, qual seria o tratamento adequado para Guilherme. Durante a instrução, os fatos imputados na
denúncia são confirmados, assim como a autoria e a materialidade delitiva. Considerando apenas as
informações expostas, com base nas previsões do Código Penal, no momento das alegações finais, a
defesa técnica de Guilherme, sob o ponto de vista técnico, deverá requerer

A) a absolvição imprópria, com aplicação de medida de segurança de tratamento ambulatorial, podendo


a sentença ser considerada para fins de reincidência no futuro.
B) a absolvição própria, sem aplicação de qualquer sanção, considerando a ausência de culpabilidade.
C) a absolvição imprópria, com aplicação de medida de segurança de tratamento ambulatorial, não sendo
a sentença considerada posteriormente para fins de reincidência.
D) a absolvição imprópria, com aplicação de medida de segurança de internação pelo prazo máximo de
02 anos, não sendo a sentença considerada posteriormente para fins de reincidência.

22. Embriaguez Completa e Acidental

Art. 28, § 1º, do Código Penal


É isento de pena o agente que, por embriaguez completa, proveniente de caso fortuito ou
força maior, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o
caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.

• Completa: em decorrência da embriaguez, o sujeito será inteiramente incapaz de


compreender o caráter ilícito da conduta;
• Acidental: caso fortuito ou força maior.

No caso fortuito, o sujeito desconhece o efeito inebriante da substância que ingere, ou


quando, desconhecendo uma particular condição fisiológica, ingere substância que possui álcool
(ou substância análoga), ficando embriagado. É o caso do agente que está tomando determinado
medicamento e ingere bebida alcóolica. A conjugação do medicamento e da bebida alcoólica
potencializa o metabolismo do agente, a ponto de deixá-lo embriagado. É também o caso do
agente que ingere determinada bebida sem saber que nela foi colocada uma substância capaz
de lhe retirar os sentidos, deixando-o embriagado, como, por exemplo, o chamado “boa noite
cinderela”.
É o caso, ainda, do agente que ingeriu, sem saber, bebida alcoólica, pensando tratar-se
de medicamento que costumava guardar em uma garrafa, e perdeu totalmente sua capacidade
de entendimento e de autodeterminação. Em seguida, entrou em uma farmácia e praticou um
furto. Nesse caso, será isento de pena, por estar configurada a sua inimputabilidade.

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Na força maior, o agente é obrigado a ingerir bebida alcoólica. Não desejando se


embriagar nem de se exceder culposamente, o agente é forçado a ingerir bebida alcoólica. É o
caso, por exemplo, do trote acadêmico de péssimo gosto em que os veteranos obrigam, forçam
os calouros a ingerirem bebida alcoólica.

22.1. Natureza jurídica da sentença


• Sentença absolutória própria.

Resolva a questão a seguir:

11) FGV - 2021 - OAB – 33º Exame de Ordem Unificado - Primeira Fase
Após o expediente, Márcio saiu com seus colegas de trabalho para comemorar o sucesso das vendas
naquele mês e sua escolha como melhor funcionário do período. Ao chegarem ao bar, Márcio entregou
a chave de seu carro aos colegas, alertando-os que iria beber até se embriagar e cair. Após cumprir a
promessa feita aos colegas, Márcio, completamente alterado, se dirigiu até o caixa do bar para pagar sua
conta. Devido a divergências quanto à quantidade de bebida consumida, Márcio iniciou uma forte
discussão com o atendente do estabelecimento e arremessou a garrafa de cerveja que segurava em sua
direção, acertando a cabeça do funcionário e causando-lhe ferimentos de natureza grave. Preocupado
com as consequências jurídicas de seu ato, Márcio o(a) procura, na condição de advogado(a), para
assistência técnica.
Considerando apenas as informações expostas, sob o ponto de vista técnico, você, como advogado(a),
deverá esclarecer que a conduta praticada por Márcio configura

A) crime de lesão corporal grave, diante da embriaguez culposa, podendo ser reconhecida causa de
diminuição de pena, já que a embriaguez era completa.
B) conduta típica e ilícita, mas não culpável, diante da embriaguez culposa, afastando a culpabilidade do
agente.
C) crime de lesão corporal grave, com reconhecimento de agravante, diante da embriaguez preordenada.
D) crime de lesão corporal grave, diante da embriaguez voluntária.

23. Concurso de Pessoas

Art. 29 do Código Penal


Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na
medida de sua culpabilidade.

23.1. Conceito
• Duas ou mais pessoas contribuem para prática de um crime.

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*Para todos verem: tabela comparativa.

Autor Partícipe
• Quem executa a ação descrita no • Quem contribui de qualquer modo
verbo nuclear do tipo. para a prática delituosa, sem executar
a ação descrita no verbo nuclear do
tipo.
• Induz, instiga ou auxilia o autor.
• É acessória a conduta do autor - o
autor precisa, ao menos, tentar praticar
o delito.

Art. 31 do Código Penal


O ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio, salvo disposição expressa em contrário,
não são puníveis, se o crime não chega, pelo menos, a ser tentado.

23.2. Requisitos do concurso de pessoas


a) Pluralidade de condutas:
Trata-se de requisito elementar do concurso de pessoas: a concorrência de mais de uma
pessoa na execução de uma infração penal.
Assim, para que haja concurso de pessoas, exige-se que cada um dos agentes tenha
realizado ao menos uma conduta relevante. Pode ser em coautoria, em que há duas condutas
principais; ou autoria e participação, em que há uma conduta principal e outra acessória,
praticadas, respectivamente, por autor e partícipe.
b) Relevância causal das condutas:
Para justificar a punição de duas ou mais pessoas em concurso, afigura-se necessário
que a conduta do agente tenha efetivamente contribuído, ainda que minimamente, para a
produção do resultado.
Em outras palavras, se a conduta não tem relevância causal, isto é, se não contribuiu em
nada para a produção do resultado, não pode ser considerada integrante do concurso de
pessoas.
Imaginemos que a empregada doméstica de uma residência, profundamente irritada por
ter sido ofendida pela patroa, observa que há uma movimentação suspeita no lado externo da
casa, concluindo que era alguém observando o local para praticar o delito de furto. Para facilitar
o sucesso da subtração, a empregada deixa aberta a porta da frente da residência. Durante a
empreitada criminosa, sem saber que a porta da frente se encontrava destrancada, o agente de

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atitude suspeita arrombou a porta dos fundos, ingressou na residência, e subtraiu diversos
objetos. Diante desse quadro fático, a empregada doméstica não deverá responder por qualquer
infração penal, uma vez que a sua contribuição foi absolutamente irrelevante para o sucesso da
subtração.
c) Do liame subjetivo e normativo (vínculo subjetivo e normativo entre os
participantes):
Exige-se homogeneidade de elemento subjetivo-normativo. Significa que autor e partícipe
devem agir com o mesmo elemento subjetivo (dolo + dolo) ou normativo (culpa + culpa).
Os agentes devem atuar conscientes de que participam de crime comum, ainda que não
tenha havido acordo prévio de vontades. A ausência desse elemento psicológico inviabiliza o
concurso de pessoas, ensejando condutas isoladas e autônomas.
Ex.: uma empregada doméstica, percebendo a presença de um ladrão, para vingar-se do
patrão, deliberadamente deixa a porta aberta, facilitando a prática do furto. Há participação, e,
não obstante, o ladrão desconhecia a colaboração da empregada. Por consequência, a
empregada também responderá pelo crime de furto.
d) Identidade de infração para todos os participantes:
Nos termos do art. 29 do CP, todos que concorrem para o crime respondem pelo mesmo
delito.
Ex.: alguém planeja a realização da conduta típica, ao executá-la, enquanto um desvia a
atenção da vítima, outro lhe subtrai os pertences e ainda um terceiro encarrega-se de evadir-se
do local com o produto do furto. É uma exemplar divisão de trabalho constituída de várias
atividades, convergentes, contudo, a um mesmo objetivo típico: subtração de coisa alheia móvel.
Respondem todos por um único tipo penal, qual seja, furto.

23.3. Participação de menor importância

Art. 29 do Código Penal


§ 1º - Se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de um sexto
a um terço.

A participação de menor importância caracteriza-se, pois, pela mínima contribuição para


a produção do resultado. A conduta do agente efetivamente influencia na causa do resultado,
mas com reduzida relevância.

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23.4. Cooperação dolosamente distinta

Art. 29 do Código Penal


§ 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada
a pena deste; essa pena será aumentada até metade, na hipótese de ter sido previsível o
resultado mais grave.

O agente que desejava praticar um delito, sem a condição de prever a concretização de


crime mais grave, deve responder pelo que pretendeu fazer, não se podendo a ele imputar outra
conduta indesejada, sob pena de se estar tratando de responsabilidade objetiva.
Ex.: “A” determina a “B” que espanque “C”. “B” mata “C”. Segundo o art. 29, § 2o, “A”
responde por crime de lesão corporal, cuja pena deve ser aumentada até metade se a morte da
vítima lhe era previsível.

23.5. Circunstâncias incomunicáveis

Art. 30 do Código Penal


Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando
elementares do crime.

O art. 30 do CP determina que as circunstâncias e as condições de caráter pessoal não


se comunicam, salvo quando elementares do crime.
Via de regra, as circunstâncias e condições pessoais relacionadas a um dos agentes não
se comunica aos outros que contribuíram para a prática delituosa.
Todavia, há determinadas circunstâncias ou condições pessoais que compõem, integram
o tipo penal, figurando, no caso, como verdadeira elementar no tipo penal. Nesse caso, quando
também constituem o tipo penal, ou seja, figuram como elementares do tipo penal, as
circunstâncias ou condições pessoais relacionadas a um dos sujeitos se comunicam aos demais
coautores ou partícipes.
Ex.: “A”, funcionário público, comete um crime de peculato (art. 312), com a participação
de “B”, não funcionário público. A condição pessoal (funcionário público) é elementar do crime
de peculato, comunicando-se, portanto, ao agente que não é funcionário público. Logo, os dois
respondem por crime de peculato.
De outro lado, as circunstâncias objetivas alcançam o partícipe ou coautor se, sem haver
praticado o fato que as constitui, integraram o dolo ou culpa.

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Ex.: “A” instiga “B” a praticar homicídio contra “C”. “B”, para a execução do crime, emprega
asfixia. O partícipe não responde por homicídio qualificado (art. 121, § 2o, III, 4a figura), a não ser
que o meio de execução empregado pelo autor principal tenha ingressado na esfera de seu
conhecimento.

Resolva a questão a seguir:

12) FGV - 2022 - OAB – 36º Exame de Ordem Unificado - Primeira Fase
Túlio e Alfredo combinaram de praticar um roubo contra uma joalheria. Os dois ingressam na loja, e
Alfredo, com o emprego de arma de fogo, exige que Fernanda, a vendedora, abra a vitrine e entregue os
objetos expostos.
Enquanto Alfredo vasculha as gavetas da frente da loja, Túlio ingressa nos fundos do estabelecimento
com Fernanda, em busca de joias mais valiosas, momento em que decide levá-la ao banheiro e,
então, mantém com Fernanda conjunção carnal. Após, Túlio e Alfredo fogem com as mercadorias.
Em relação às condutas praticadas por Túlio e Alfredo, assinale a afirmativa correta.

A) Túlio e Alfredo responderão por roubo duplamente circunstanciado, pelo concurso de pessoas e
emprego de arma de fogo, e pelo delito de estupro, em concurso material.
B) Túlio responderá por roubo circunstanciado pelo concurso de pessoas e estupro; Alfredo responderá
por roubo duplamente circunstanciado, pelo concurso de pessoas e emprego de arma de fogo.
C) Alfredo e Túlio responderão por roubo circunstanciado pelo concurso de pessoas e emprego de arma
de fogo; Túlio também responderá por estupro, em concurso material.
D) Túlio e Alfredo responderão por roubo circunstanciado pelo concurso de pessoas e emprego de arma
de fogo; Túlio responderá por estupro, ao passo que Alfredo responderá por participação de menor
importância no delito de estupro.

24. Concurso Material de Crimes

Art. 69 do Código Penal


Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes,
idênticos ou não, aplicam-se cumulativamente as penas privativas de liberdade em que
haja incorrido. No caso de aplicação cumulativa de penas de reclusão e de detenção,
executa-se primeiro aquela.

Ocorre o concurso material, também chamado de real, quando o agente, mediante mais
de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não (art. 69, caput, do CP).
Há, pois, pluralidade de condutas e pluralidade de resultados.
Na hipótese de crimes conexos apurados na mesma ação penal, a soma das penas, pelo
concurso material, será realizada na própria sentença, após a adoção do critério trifásico para
cada um dos delitos. Ex.: o agente pratica o crime de estupro (art. 213 do CP) e, para assegurar

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a sua impunidade, mata, na sequência, a vítima (art. 121, § 2º, V, do CP). Imaginemos que o juiz
fixe, em relação ao delito de estupro, a pena de 8 (oito) anos; e em relação ao crime de homicídio
qualificado, a pena de 20 (vinte) anos. Ao final, verificando-se tratar de concurso material de
crimes, o Magistrado aplicará o sistema do cúmulo material, somando as penas, alcançando a
pena definitiva de 28 anos.

25. Concurso Formal de Crimes

Art. 70 do Código Penal


Quando o agente, mediante uma só ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes,
idênticos ou não, aplicasse-lhe a mais grave das penas cabíveis ou, se iguais, somente
uma delas, mas aumentada, em qualquer caso, de um sexto até metade. As penas
aplicam-se, entretanto, cumulativamente, se a ação ou omissão é dolosa e os crimes
concorrentes resultam de desígnios autônomos, consoante o disposto no artigo anterior.

25.1. Conceito
Ocorre o concurso formal (ou ideal) quando o agente, mediante uma só ação ou omissão,
pratica dois ou mais crimes (art. 70, caput, do CP). Há unidade de conduta e pluralidade de
crimes.
A unidade de conduta concretiza-se quando os atos são realizados no mesmo contexto
espacial e temporal, não exigindo, necessariamente, ato único. De fato, pode haver unidade de
conduta mesmo quando fracionada em vários atos, por exemplo, agente que subtrai objetos
pertencentes a pessoas distintas, no mesmo contexto fático.
O Superior Tribunal de Justiça tem entendido que, praticado o crime de roubo em um
mesmo contexto fático, mediante uma só ação, contra vítimas diferentes, tem-se configurado o
concurso formal de crimes.

25.2. Concurso formal perfeito e concurso formal imperfeito


O concurso formal perfeito, ou próprio, está previsto na primeira parte do art. 70 do
CP. Ocorre quando o agente pratica duas ou mais infrações penais por meio de uma única
conduta. Resulta de um único desígnio. O agente, de um só impulso volitivo, dá causa a dois ou
mais resultados, sem desígnios autônomos em relação a cada um dos resultados.

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Direito Penal

Desígnio autônomo caracteriza-se pelo fato de o agente pretender, mediante uma única
conduta, atingir dois ou mais resultados. Ou seja, o agente, mediante uma ação ou omissão, age
com consciência e vontade em relação a cada um deles, considerados isoladamente.
Assim, se, por exemplo, o agente, na condução de veículo automotor, atropela e causa a
morte de uma pessoa e lesão corporal em outra, pratica crime de homicídio culposo na condução
de veículo automotor (art. 302 do CTB), em concurso formal perfeito, já que não tinha desígnios
autônomos em relação a cada um dos resultados.
No concurso formal imperfeito, ou impróprio, o agente, mediante uma ação ou omissão,
pretende, de forma consciente e voluntária, o resultado em relação a cada um dos crimes.
Ex.: o agente provoca fogo em uma residência com a intenção de matar todos os
moradores. O agente tem desígnios autônomos (intenção de matar) em relação a cada um dos
moradores da residência.
A expressão “desígnios autônomos” abrange tanto o dolo direto quanto o dolo eventual.
Assim, haverá concurso formal imperfeito, por exemplo, entre o delito de homicídio doloso com
dolo direto e outro com dolo eventual.

25.3. Aplicação da pena no concurso formal


Em relação ao concurso formal perfeito, ou próprio, o Código Penal adotou o sistema
de exasperação da pena. Aplica-se a pena do crime mais grave ou, se iguais, somente uma
delas, mas aumentada, em qualquer caso, de um sexto até metade.
No concurso formal imperfeito, ou impróprio, por conta do maior grau de reprovabilidade
da conduta do agente, visando a não beneficiar agente que agiu com desígnios autônomos em
relação a cada resultado, as penas devem ser somadas, adotando-se o critério do cúmulo
material, nos termos do art. 70, caput, 2a parte, do CP.

*Para todos verem: tabela comparativa.

Concurso formal perfeito Concurso formal imperfeito

• Sem desígnios autônomos; • Desígnios autônomos;


• Exasperação da pena; • Cúmulo material.
• Pena do crime mais grave e aumenta
de 1/6 até 1/2.

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26. Crime Continuado

Art. 71 do Código Penal


Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes
da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras
semelhantes, devem os subsequentes ser havidos como continuação do primeiro,
aplicasse-lhe a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas,
aumentada, em qualquer caso, de um sexto a dois terços.

26.1. Conceito
Ocorre o crime continuado quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão,
pratica dois ou mais crimes da mesma espécie, devendo os subsequentes, pelas condições de
tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes, ser havidos como continuação do
primeiro.

26.2. Requisitos
Para a incidência das regras do crime continuado é preciso verificar a presença de
requisitos dispostos no art. 71 do CP, consistentes: a) na pluralidade de condutas; b) na
pluralidade de crimes da mesma espécie; c) nas mesmas condições de tempo, lugar, maneira
de execução e outras semelhantes.

26.3. Crime continuado específico

Art. 71 do Código Penal


Parágrafo único - Nos crimes dolosos, contra vítimas diferentes, cometidos com violência
ou grave ameaça à pessoa, poderá o juiz, considerando a culpabilidade, os antecedentes,
a conduta social e a personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias,
aumentar a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, até o
triplo, observadas as regras do parágrafo único do art. 70 e do art. 75 deste Código.

27. Concurso Material Benéfico

Art. 70 do Código Penal


Parágrafo único - Não poderá a pena exceder a que seria cabível pela regra do art. 69
deste Código.

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Se da aplicação da regra da exasperação da pena, no concurso formal, a pena tornar-se


superior à que resultaria se somadas, deve-se adotar o critério do cúmulo material, porque, nesse
caso, será mais benéfico (art. 70, par. ún., do CP).
Ex.: suponha-se que o agente tenha praticado um homicídio simples (art. 121 do CP –
pena de 6 a 20 anos) e uma lesão corporal leve (art. 129, caput, do CP – pena de 3 meses a 1
ano), em concurso formal. Aplicado o critério da exasperação da pena, considerando-se a pena
do crime mais agrave, acrescido de 1/6, resultaria na pena de 7 (sete) anos.
Se aplicada a pena considerando-se o critério do cúmulo material, considerando-se a pena
aplicada para crime de homicídio simples (6 anos) e lesão corporal leve (3 meses), a pena
definitiva ficaria em 6 (seis) anos e 3 (três) meses. Essa seria a pena a ser aplicada, já que a
aplicação do critério do concurso material é mais benéfico.
Em face disso, a pena a ser aplicada não pode ser superior à que seria cominada se fosse
caso de concurso material, aplicando-se, nesse caso, o disposto no art. 70, par. ún., do CP.

Resolva a questão a seguir:

13) FGV - 2021 - OAB – 33º Exame de Ordem Unificado - Primeira Fase
Félix, com dolo de matar seus vizinhos Lucas e Mário, detona uma granada na varanda da casa desses,
que ali conversavam tranquilamente, obtendo o resultado desejado. Os fatos são descobertos pelo
Ministério Público, que denuncia Félix por dois crimes autônomos de homicídio, em concurso material.
Após regular procedimento, o Tribunal do Júri condenou o réu pelos dois crimes imputados e o
magistrado, ao aplicar a pena, reconheceu o concurso material. Diante da sentença publicada, Félix
indaga, reservadamente, se sua conduta efetivamente configuraria concurso material de dois crimes de
homicídio dolosos. Na ocasião, o(a) advogado(a) do réu, sob o ponto de vista técnico, deverá esclarecer
ao seu cliente que sua conduta configura dois crimes autônomos de homicídio,

A) em concurso material, sendo necessária a soma das penas aplicadas para cada um dos delitos.
B) devendo ser reconhecida a forma continuada e, consequentemente, aplicada a regra da exasperação
de uma das penas e não do cúmulo material.
C) devendo ser reconhecido o concurso formal próprio e, consequentemente, aplicada a regra da
exasperação de uma das penas e não do cúmulo material.
D) devendo ser reconhecido o concurso formal impróprio, o que também imporia a regra da soma das
penas aplicadas.

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28. Crimes Contra a Vida: Homicídio, Auxílio ao Suicídio e


Infanticídio

28.1. Homicídio

Art. 121 do Código Penal


Matar alguém.
Pena - reclusão, de seis a vinte anos.

*Para todos verem: esquema.

Qualquer
Sujeito ativo
pessoa
Crime
bicomum
Qualquer
Sujeito passivo
pessoa

a) Características importantes
• Crime de Livre Execução: o legislador não condiciona a prática do homicídio,
podendo ser praticado por qualquer meio apto a produzir o resultado morte. Entretanto, a
depender da forma executória empregada pelo agente, pode ser qualificado, como, por exemplo,
nos incisos III (meio cruel), IV (recurso que dificultou a defesa da vítima) e VIII (arma de fogo de
uso proibido ou restrito) do parágrafo 2 do artigo 121.
• Crime Comissivo: normalmente é um crime comissivo, pois exige que o agente atue
de forma positiva, mas nada impede o reconhecimento da omissão imprópria, nos termos do
artigo 13, parágrafo 2 do CP.
• Crime material: somente se consuma com a produção de um resultado naturalístico,
qual seja, a morte da vítima (cessação da atividade encefálica).

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b) Observações importantes:
• Homicídio simples (art. 121 caput): o homicídio simples se dá por exclusão, ou seja,
quando não presente nenhuma circunstância qualificadora prevista no parágrafo 2. Via de regra
não é considerado crime hediondo, somente se for praticado mediante atividade típica de grupo
de extermínio.
• Homicídio Privilegiado (art. 121, parágrafo 1º CP): o artigo 121, § 1º, do Código
Penal, descreve o homicídio privilegiado como o fato de o sujeito cometer o delito impelido por
motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida
a injusta provocação da vítima. Neste caso, o juiz pode reduzir a pena de 1/6 a 1/3.
• Homicídio Qualificado (art. 121, parágrafo 2º CP): é o homicídio praticado com
circunstâncias legais que integram o tipo penal incriminador, alterando para mais a faixa de
fixação da pena. Dizem respeito aos motivos determinantes do crime e aos meios e modos de
execução, reveladores de maior periculosidade ou extraordinário grau de perversidade do
agente. Portanto, da pena de reclusão de 06 a 20 anos, prevista para o homicídio simples, passa-
se ao mínimo de 12 e ao máximo de 30 para a figura qualificada. Tentado ou consumado, o
homicídio doloso qualificado é crime hediondo, nos termos do artigo 1º, inciso I, da Lei nº
8.072/90.
• Feminicídio: a partir da edição da Lei nº 13.104/2015, o crime de homicídio passou
a ser qualificado também se praticado contra a mulher por razões da condição de sexo feminino.
Nos termos do artigo 121, parágrafo 2º-A, o legislador considera que há razões de
condição de sexo feminino quando o crime envolve:

I - violência doméstica e familiar;


II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher.

Para o STJ a qualificadora do feminicídio pode ser cumulada com o motivo torpe ou fútil
sem que haja bis in idem.
• Lei nº 14.344/2022: com o advento da lei Henry Borel (Lei 14344 de 2022) o homicídio
praticado contra menor de 14 anos passou a ser qualificado, nos termos do artigo 121, parágrafo
2, inciso IX do CP.
Ademais, o artigo 121, parágrafo 2ºB (incluído também pela Lei Henry Borel) elenca
causas de aumento de pena específicas, quais sejam:

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I - 1/3 (um terço) até a metade se a vítima é pessoa com deficiência ou com doença que
implique o aumento de sua vulnerabilidade;
II - 2/3 (dois terços) se o autor é ascendente, padrasto ou madrasta, tio, irmão, cônjuge,
companheiro, tutor, curador, preceptor ou empregador da vítima ou por qualquer outro
título tiver autoridade sobre ela.

28.2. Induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio ou automutilação

Art. 122, do CP. Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou a praticar automutilação ou


prestar-lhe auxílio material para que o faça:
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos.
§ 1º Se da automutilação ou da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza
grave ou gravíssima, nos termos dos §§ 1º e 2º do art. 129 deste Código:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos.
§ 2º Se o suicídio se consuma ou se da automutilação resulta morte:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.
§ 3º A pena é duplicada:
I - se o crime é praticado por motivo egoístico, torpe ou fútil;
II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência.
§ 4º A pena é aumentada até o dobro se a conduta é realizada por meio da rede de
computadores, de rede social ou transmitida em tempo real.
§ 5º Aumenta-se a pena em metade se o agente é líder ou coordenador de grupo ou de
rede virtual.
§ 6º Se o crime de que trata o § 1º deste artigo resulta em lesão corporal de natureza
gravíssima e é cometido contra menor de 14 (quatorze) anos ou contra quem, por
enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do
ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência, responde o agente
pelo crime descrito no § 2º do art. 129 deste Código.
§ 7º Se o crime de que trata o § 2º deste artigo é cometido contra menor de 14 (quatorze)
anos ou contra quem não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que,
por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência, responde o agente pelo crime de
homicídio, nos termos do art. 121 deste Código.

a) Conceito de suicídio: é a morte voluntária, que resulta, direta ou indiretamente, de


um ato positivo ou negativo, realizado pela própria vítima, a qual sabia dever produzir este
resultado. O Código Penal leva em conta o ato da vítima, que vem a destruir a própria vida.
Observação especial: se o ato de destruição é praticado pelo próprio agente haverá o
crime de homicídio. Da mesma forma se não houver voluntariedade (vítima induzida a erro ou
obrigada a se matar) haverá o crime de homicídio.
b) Automutilação: a autolesão não é punida. O que constitui crime é a conduta de
induzir, instigar ou auxiliar a vítima a se automutilar, ou seja, de causar lesões em si própria.
c) Ação nuclear: trata-se de um tipo misto alternativo (crime de ação múltipla ou de
conteúdo variado).
Induzir significa dar a ideia a quem não possui, inspirar, incutir. Portanto, nessa primeira
conduta, o agente sugere à vítima que dê fim à sua vida ou se automutile. Instigar é fomentar

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uma ideia já existente. Trata-se, pois, do agente que estimula a ideia que alguém anda
manifestando. Já o Auxílio é a forma mais concreta e ativa de agir, pois significa dar apoio
material ao ato suicida. Exemplo: o agente fornece a arma utilizada para a vítima dar fim à sua
vida ou se automutilar.
d) Figuras típicas qualificadas:

Art. 122, §1º, do CP. Se da automutilação ou da tentativa de suicídio resulta lesão corporal
de natureza grave ou gravíssima, nos termos dos §§ 1º e 2º do art. 129 deste Código:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos.
§2º Se o suicídio se consuma ou se da automutilação resulta morte:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.

e) Formas majoradas (art. 122, parágrafo 3º):


• Se o crime é praticado por motivo egoístico
Motivo egoístico é o excessivo apego a si mesmo, o que evidencia o desprezo pela vida
alheia, desde que algum benefício concreto advenha ao agente. Logicamente, merece maior
punição. Exemplo: É o caso, por exemplo, de o sujeito induzir a vítima a suicidar-se para ficar
com a herança.

• Se a vítima é menor
Em segundo lugar, a pena é majorada quando a vítima é menor. Qual a idade para efeito
da majorante?
Se a vítima é maior de 18 anos, aplica-se o “caput” do artigo 122.
Se a vítima é menor de 14 anos, há crime de HOMICÍDIO.
A majorante só é aplicável quando a vítima tem idade entre 14 e 18 anos.

• Tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência


A terceira majorante prevê a hipótese de a vítima ter diminuída, por qualquer causa, a
capacidade de resistência, como enfermidade física ou mental, idade avançada. Ex.: induzir ao
suicídio vítima embriagada.
Por fim, é de ressaltar que o suicida com RESISTÊNCIA NULA, pelos abalos ou situações
supramencionadas, incluindo-se a idade inferior a 14 anos, haverá o emprego das regras
especiais estabelecidas nos parágrafos 6º e 7º do CP.

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f) Pacto de morte: é possível que duas ou mais pessoas promovam um pacto de morte,
deliberando morrer ao mesmo tempo.
Se cada uma das pessoas ingerir veneno, de per si, por exemplo, aquela que sobreviver
responderá por participação em suicídio, tendo por sujeito passivo a outra.
Se uma delas ministrar diretamente o veneno na outra, a que sobreviver responderá por
homicídio. Em síntese, os atos executórios contra a própria vida devem partir exclusivamente da
vítima.

28.3. Infanticídio

Art. 123 do Código Penal


Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo após.
Pena - detenção, de dois a seis anos.

Princípio da especialidade:
*Para todos verem: esquema.

Sujeito passivo Próprio filho

Sujeito ativo Mãe

Influência do estado
Elemento subjetivo
puerperal (perícia)

Durante o parto ou
Elemento temporal
logo após

Marco inicial: início do parto (eliminação da vida humana durante o parto ou logo após).
Antes do início do parto: aborto.
Atenção ao erro sobre a pessoa: art. 20, §3º, do CP.

29. Lesão Corporal

Art. 129 do Código Penal


Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem.
Pena - detenção, de três meses a um ano.

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Na lesão corporal o agente atua com animus laedendi, ou seja, age com a intenção de
produzir uma lesão corporal na vítima. Assim sendo, o agente não tem intenção de matar nem
assume o risco de produzir o resultado morte, pois, em tal caso, responderia pelo crime de
homicídio.
a) Lesão corporal dolosa: lesão corporal dolosa, regra geral, varia de acordo com o grau
da lesão corporal, podendo ser simples (exclusão), grave (parágrafo 1º), gravíssima (parágrafo
2º) ou seguida de morte (parágrafo 3º).
Atenção:
• Lesão corporal grave

Art. 129 do Código Penal


§ 1º Se resulta:
I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias;
II - perigo de vida;
III - debilidade permanente de membro, sentido ou função;
IV - aceleração de parto:
Pena - reclusão, de um a cinco anos.

• Lesão corporal gravíssima

Art. 129 do Código Penal


§ 2° Se resulta:
I - Incapacidade permanente para o trabalho;II - enfermidade incurável;
III - perda ou inutilização do membro, sentido ou função;
IV - deformidade permanente;
V - aborto:
Pena - reclusão, de dois a oito anos.Seguida de morte:

• Lesão corporal seguida de morte

Art. 129 do Código Penal


§ 3° Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quis o resultado,
nem assumiu o risco de produzi-lo:
Pena - reclusão, de quatro a doze anos.

A lesão corporal seguida de morte possui natureza preterdolosa, ou seja, deve o agente
agir com dolo em relação à conduta inicial (lesão corporal) e culpa em relação ao resultado morte.
Trata-se de crime expressamente subsidiário, somente podendo ser reconhecido na
impossibilidade do homicídio (se o agente agiu com dolo direto ou dolo eventual em relação ao
resultado morte).

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b) Lesão corporal culposa: a lesão corporal culposa não varia de acordo com a
intensidade, sempre será culposa (se agindo com negligência, imprudência ou imperícia).

Art. 129 do Código Penal


§ 6° Se a lesão é culposa:
Pena - detenção, de dois meses a um ano.

c) Lesão corporal especial (art. 129, parágrafo 13):

Art. 129 do Código Penal


§ 13. Se a lesão for praticada contra a mulher, por razões da condição do sexo feminino,
nos termos do § 2º-A do art. 121 deste Código:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro anos).

d) Lesão corporal funcional: é crime hediondo em se tratando de lesão corporal


gravíssima ou seguida de morte.

Art. 129 do Código Penal


§ 12. Se a lesão for praticada contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da
Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança
Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge,
companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição, a
pena é aumentada de um a dois terços.

30. Crimes Contra a Honra

*Para todos verem: esquema.

Reputação
Calúnia e
Honra objetiva social do
difamação
indivíduo
Bem jurídico:
honra
Imagem pessoal
Honra subjetiva perante ele Injúria
mesmo

30.1. Calúnia (art. 138 CP)


Imputação falsa de fato definido como crime. Tem certeza de que está imputando um
crime a um inocente. O fato precisa ser um CRIME. Via de regra, cabe exceção da verdade. Só
não caberá exceção da verdade nos casos previstos no parágrafo 3º do artigo 138.

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30.2. Injúria (art. 140 CP)


Imputação de uma qualidade negativa. A injúria, quando cometida por escrito, admite a
tentativa; quando por meio verbal, não.
Nos termos do artigo 140, parágrafo 2 do CP se a injúria consiste em violência ou vias de
fato, que, por sua natureza ou pelo meio empregado, se considerem aviltantes haverá a injúria
real com pena de detenção de três meses a um ano, e multa, além da pena correspondente à
violência.
Por sua vez, nos termos do artigo 140, parágrafo 3º CP (já com a redação atualizada pela
lei 14532 de 2023) se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a religião ou à
condição de pessoa idosa ou com deficiência haverá a injúria qualificada com pena de reclusão,
de 1 a 3 anos e multa.
Quando o agente se dirige a uma pessoa de determinada raça, insultando-a com
argumentos ou palavras de conteúdo pejorativo, responderá por injúria racial, nos termos do
artigo 2º A da lei 7716 de 1989, com pena de reclusão de 2 a 5 anos e multa não podendo alegar
que houve uma injúria simples, tampouco uma mera exposição do pensamento (como dizer que
todo “judeu é corrupto” ou que “negros são desonestos”), uma vez que não há limite para tal
liberdade.
Assim, quem simplesmente dirigir a terceiro palavras referentes à “raça”, “cor”, “etnia” ou
“procedência nacional”, com o intuito de ofender, responderá por injúria racial nos termos do
dispositivo legal citado. Ademais, vale destacar que, nos termos do parágrafo único do artigo 2ºA
da Lei nº 7716/1989 a pena será aumentada de metade se o crime for praticado mediante o
concurso de duas ou mais pessoas.

30.3. Difamação (art. 139 CP)


Imputação de um fato ofensivo à reputação do indivíduo (que não é crime). Pode ser
contravenção penal. Via de rega, não cabe exceção da verdade. Caberá exceção da verdade se
a ofensa for dirigida a funcionário público no exercício das funções.
Causas de aumento de pena:

Art. 141 do Código Penal


As penas cominadas neste Capítulo aumentam-se de um terço, se qualquer dos crimes é
cometido.
I - contra o Presidente da República, ou contra chefe de governo estrangeiro;

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II.- contra funcionário público, em razão de suas funções, ou contra os Presidentes do Senado
Federal, da Câmara dos Deputados ou do Supremo Tribunal Federal;
III.- na presença de várias pessoas, ou por meio que facilite a divulgação da calúnia, da
difamação ou dainjúria.
IV.– contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos ou portadora de deficiência, exceto no caso
de injúria.

Retratação:

Art. 143 do Código Penal


O querelado que, antes da sentença, se retrata cabalmente da calúnia ou da difamação,
fica isento de pena.
Parágrafo único - Nos casos em que o querelado tenha praticado a calúnia ou a difamação
utilizando-se de meios de comunicação, a retratação dar-se-á, se assimdesejar o ofendido,
pelos mesmos meios em que se praticou a ofensa.

Ação penal:

Art. 145 do Código Penal


Nos crimes previstos neste Capítulo somente se procede mediante queixa, salvo quando,no
caso do art. 140, § 2º, da violência resulta lesão corporal.
Parágrafo único - Procede-se mediante requisição do Ministro da Justiça, no caso do inciso
I do caput do art. 141 deste Código, e mediante representação do ofendido, no casodo
inciso II do mesmo artigo, bem como no caso do § 3º do art. 140 deste Código.

Conforme se extrai do art. 145 do CP, nos crimes contra a honra, a regra é a de ação
penal privada da vítima ou do seu representante legal. Todavia, resultando lesão física na vítima
(injúria real com lesão corporal), apura-se o crime mediante ação penal pública incondicionada.
No entanto, com o advento da Lei no 9.099/1995, alguns autores entendem que se trata de ação
penal pública condicionada à representação, já que é a prevista para os crimes de lesão corporal
leve.
Será penal pública condicionada à representação no caso de o delito ser cometido contra
funcionário público, no exercício das funções (art. 141, II), e condicionada à requisição do
Ministro da Justiça no caso do inciso I do art. 141 (contra o Presidente da República ou Chefe
de Governo Estrangeiro).
Convém ressaltar a Súm. no 714 do STF:

Súmula 714 do STF. É concorrente a legitimidade do ofendido, mediante queixa, e do


ministério público, condicionada à representação do ofendido, para a ação penal por crime
contra a honra deservidor público em razão do exercício de suas funções.

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Por último, vale destacar que a injúria qualificada do parágrafo 3º do artigo 140 será de
ação penal pública condicionada à representação enquanto a injúria racial (art. 2ºA da lei 7716
de 1989) será de ação penal pública incondicionada.

31. Crimes Contra o Patrimônio

31.1. Furto
• Ação nuclear é subtrair, que significa tirar, retirar de outrem bem móvel, sem a sua
permissão com o fim de assenhoreamento definitivo. A subtração implica sempre a retirada do
bem sem o consentimento do possuidor ou proprietário;
• Agente não tem a posse anterior do bem e inverte a posse;
• É indispensável que o agente tenha a intenção de possuir a coisa alheia móvel,
submetendo-a ao seu poder, isto é, de não devolver o bem, de forma alguma. É o chamado
animus rem sibii habendi;
• Assim, se ele o subtrai apenas para uso transitório e depois o devolve no mesmo
estado, não haverá a configuração do tipo penal. Cuida-se na hipótese de mero furto de uso, que
não constitui crime, pela ausência do ânimo de assenhoreamento definitivo do bem;
• Se o sujeito restituir o objeto subtraído até o recebimento da denúncia, pode incidir o
instituto do arrependimento posterior, previsto no artigo 16 do Código Penal, que constitui causa
de diminuição da pena. Em outras palavras, o agente será processado pelo delito, mas, se
condenado, poderá ter a pena reduzida de 1/3 a 2/3;
• Não existe na modalidade culposa;
• Para os nossos Tribunais Superiores (STF/STJ), para o furto atingir a consumação
basta a subtração da coisa, ou seja, a inversão da posse, ainda que por curto espaço de tempo
e em seguida a perseguição do agente, sendo prescindível a posse mansa e pacífica ou
desvigiada. Neste sentido temos a súmula 582 do STJ (referente ao roubo mas aplicável por
analogia ao crime de furto), o RESP 1524450/RJ, o AgRg no ARESP 1.546.170/SO de
26/11/2019 do STJ e o HC 135674 de 27/09/2016 da 2° turma do STF.

Veja o esquema na página a seguir...

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*Para todos verem: esquema.

RETIRA DA
INVERSÃO DA
CONSUMAÇÃO DISPONIBILIDADE
POSSE
VÍTIMA

Art. 155 do Código Penal


Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
§ 1º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é praticado durante o repouso noturno.
§ 2º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir
a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente
a pena de multa.
§ 3º - Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor
econômico.
(Furto qualificado)
§ 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é cometido:
I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa;
II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza;
III - com emprego de chave falsa;
IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas.
§ 4º-A A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, se houver emprego de
explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum.
§ 4º-B. A pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa, se o furto mediante
fraude é cometido por meio de dispositivo eletrônico ou informático, conectado ou não à
rede de computadores, com ou sem a violação de mecanismo de segurança ou a utilização
de programa malicioso, ou por qualquer outro meio fraudulento análogo.
§ 4º-C. A pena prevista no § 4º-B deste artigo, considerada a relevância do resultado
gravoso:
I – aumenta-se de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime é praticado mediante a
utilização de servidor mantido fora do território nacional;
II – aumenta-se de 1/3 (um terço) ao dobro, se o crime é praticado contra idoso ou
vulnerável.
§ 5º - A pena é de reclusão de três a oito anos, se a subtração for de veículo automotor
que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior.
§ 6º A pena é de reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos se a subtração for de semovente
domesticável de produção, ainda que abatido ou dividido em partes no local da subtração.
§ 7º A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, se a subtração for de
substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibilitem sua
fabricação, montagem ou emprego.

31.2. Apropriação indébita

Art. 168 do Código Penal


Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem a posse ou a detenção.
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
§ 1º - A pena é aumentada de um terço, quando o agente recebeu a coisa:
I - em depósito necessário;
II - na qualidade de tutor, curador, síndico, liquidatário, inventariante, testamenteiro ou
depositário judicial;
III - em razão de ofício, emprego ou profissão.

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*Para todos verem: esquema.

POSSE DO
OBJETO É
DESVIGIADA
APROPRIAÇÃO POSSE
INDÉBITA AMBOS
APROPRIAR-SE
DE OBJETO INICIAMENTE
LÍCITOS
DETENÇÃO

O pressuposto do crime de apropriação indébita é a anterior posse lícita da coisa alheia,


da qual o agente se apropria indevidamente. A posse, que deve preexistir ao crime, deve ser
exercida pelo agente em nome alheio, isto é, em nome de outrem.
O núcleo do tipo é o verbo “apropriar-se”, que significa fazer sua a coisa alheia. Tendo o
sujeito a posse ou a detenção do objeto material, em dado momento faz mudar o título da posse
ou da detenção, comportando-se como se dono fosse.
A apropriação pode ser classificada em:
*Para todos verem: esquema.

1º) Apropriação indébita propriamente dita

• Ocorre quando o sujeito realiza ato demonstrativo de que inverteu o título da


posse, como a venda, doação, consumo, penhor, ocultação, etc.

2º) Negativa de restituição

• Neste caso, o sujeito afirma claramente ao ofendido que não irá devolver o
objeto material.

31.3. Roubo

Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou
violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade
de resistência:
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
§ 1º - Na mesma pena incorre quem, logo depois de subtraída a coisa, emprega violência
contra pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade do crime ou a detenção
da coisa para si ou para terceiro.
§ 2º A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até metade:
I – (revogado);
II - se há o concurso de duas ou mais pessoas;

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III - se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal


circunstância.
IV - se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro
Estado ou para o exterior;
V - se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade.
VI – se a subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou
isoladamente, possibilitem sua fabricação, montagem ou emprego.
VII - se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma branca;
§ 2º-A A pena aumenta-se de 2/3 (dois terços):
I – se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma de fogo;
II – se há destruição ou rompimento de obstáculo mediante o emprego de explosivo ou de
artefato análogo que cause perigo comum.
§ 2º-B. Se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma de fogo de uso
restrito ou proibido, aplica-se em dobro a pena prevista no caput deste artigo.
§ 3º Se da violência resulta:
I – lesão corporal grave, a pena é de reclusão de 7 (sete) a 18 (dezoito) anos, e multa;
II – morte, a pena é de reclusão de 20 (vinte) a 30 (trinta) anos, e multa.

*Para todos verem: esquema.

Redução da
Violência Grave ameaça capacidade de
resistência

Ação nuclear: a ação nuclear do tipo, identicamente ao furto, consubstancia-se no verbo


subtrair, que significa tirar, retirar, de outrem, no caso bem móvel. Agora, contudo, estamos
diante de um crime mais grave que o furto, na medida em que a subtração é realizada mediante
o emprego de grave ameaça ou violência contra a pessoa, ou por qualquer outro meio que reduza
a capacidade de resistência da vítima.
São os seguintes os meios executórios do crime de roubo:
a) Violência física (vis corporalis): violência física à pessoa consiste no emprego de
força contra o corpo da vítima. Para caracterizar essa violência do tipo básico de roubo é
suficiente que ocorra lesão corporal leve ou simples vias de fato, na medida em que a lesão
grave ou morte qualifica o crime.
b) Grave ameaça: ameaça grave (violência moral) é aquela capaz de atemorizar a vítima,
viciando sua vontade e impossibilitando sua capacidade de resistência. A grave ameaça objetiva
criar na vítima o fundado receio de iminente e grave mal, físico ou moral, tanto a si quanto as
pessoas que lhes são caras. É irrelevante a justiça ou injustiça do mal ameaçado, na medida em
que, utilizada para a prática de crime, torna-se antijurídica.

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c) Qualquer outro meio que reduza à impossibilidade de resistência: cuida-se da


violência imprópria, consistente em outro meio que não constitua violência física ou grave
ameaça, como, por exemplo, fazer a vítima ingerir bebida alcoólica, narcóticos, soníferos ou
hipnotizá-la.
O destinatário da violência ou grave ameaça não precisa ser o mesmo que irá sofrer a
diminuição patrimonial. Exemplo: Agente que emprega violência contra o gerente de
estabelecimento comercial para subtrair os bens da loja em questão. Haverá um crime de roubo
e não concurso de crimes.

Espécies de roubo:
a) Roubo próprio (157, caput, do CP): no roubo próprio a violência ou grave ameaça (ou
a redução da impossibilidade de defesa) são praticados contra a pessoa para a subtração da
coisa. Os meios violentos são empregados antes ou durante a execução da subtração.
b) Roubo impróprio: ocorre quando o sujeito, logo depois de subtraída a coisa, emprega
violência contra a pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade do crime ou a
detenção da coisa para ele ou para terceiro (§ 1º). São exemplos típicos de roubo impróprio
aquele em que o sujeito ativo, já se retirando do portão com a res furtiva, alcançando pela vítima,
abate-a (assegurando a detenção), ou, então, já na rua, constata que deixou um documento no
local, que o identificará, e, retornando para apanhá-lo, agride o morador que o estava apanhando
(garantindo a impunidade).
Em outros termos, “logo depois” de subtraída a coisa não admite decurso de tempo entre
a subtração e o emprego da violência, ou seja, o modus violento somente é caracterizador do
roubo se for utilizado até a consumação do furto que o agente pretendia praticar (posse tranquila
da res, sem a vigilância). Superado esse momento, o crime está consumado e,
consequentemente, não pode sofrer qualquer alteração; portanto, eventual violência empregada
constituirá crime autônomo (lesão corporal, por exemplo), em concurso com furto consumado.

*Para todos verem: tabela comparativo.

Roubo Próprio (artigo 157 caput) Roubo Impróprio (artigo 157, § 1°)
Admite violência ou grave ameaça (violência Somente admite a violência ou grave
própria) ou violência imprópria (diminuição ameaça (violência própria).
da capacidade de resistência).
A violência ou grave ameaça é empregada A violência ou a grave ameaça é empregada

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antes ou durante a subtração. após a subtração.


A violência ou a grave ameaça é empregada A violência ou grave ameaça é empregada
como meio para subtrair o bem para si ou para assegurar a impunidade ou a detenção
para terceiro. da coisa para si ou para terceiro.

Consumação e tentativa: nos termos da Súmula 582 do STJ, “Consuma-se o crime de


roubo com a inversão da posse do bem mediante emprego de violência ou grave ameaça, ainda
que por breve tempo e em seguida à perseguição imediata ao agente e recuperação da coisa
roubada, sendo prescindível a posse mansa e pacífica ou desvigiada”.

31.4. Estelionato
*Para todos verem: esquema.

Obter

Vantagem
indevida
ESTELIONATO
(art. 171, CP)
Prejuízo da vítima
Induzir
Fraude
Manter Erro

a) Ação nuclear: consiste em induzir ou manter alguém em erro, mediante o emprego de


artifício, ardil, ou qualquer meio fraudulento, a fim de obter, para si ou para outrem, vantagem
ilícita em prejuízo alheio.
A característica primordial do estelionato é a fraude: engodo empregado pelo sujeito para
induzir ou manter a vítima em erro, com o fim de obter um indevido proveito patrimonial.
O meio de execução deve ser apto a enganar a vítima. Tratando-se de meio grotesco, que
facilmente demonstra a intenção fraudulenta, não há nem tentativa, por atipicidade do fato.
b) Tipicidade objetiva e subjetiva: segundo a doutrina no estelionato há a necessidade
do binômio: vantagem ilícita + prejuízo alheio.

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Desta feita, não haverá estelionato se o agente não obtém uma vantagem ilícita ou se
obtém uma vantagem ilícita, mas não há o prejuízo alheio. Se a vantagem for lícita haverá o
delito do artigo 345 do CP.
Ademais, vale destacar que no estelionato, o agente utiliza a fraude para induzir a vítima
em erro (o agente planta o erro na cabeça da vítima) ou mantém a vítima em erro (a vítima já
está em erro e o agente impede que ela descubra verdade.
Desta feita, tanto o silêncio como a mentira podem servir como meios para induzir ou
manter a vítima em erro fazendo com que ela entregue a vantagem indevida ao agente. Por
exemplo, o agente está devendo R$ 1000,00 para a vítima, sendo que ela se confunde e tem
certeza que o agente já pagou, mas ainda não houve o pagamento. Se este agente silenciar ou
mentir haverá estelionato, pois a vítima está sendo mantida em erro.
c) Consumação e tentativa: trata-se de crime material. Consuma-se com a obtenção da
vantagem ilícita indevida, em prejuízo alheio, ou seja, quando o agente aufere o proveito
econômico, causando dano à vítima. Via de regra, esses resultados ocorrem simultaneamente.
Há, assim, ao mesmo tempo, a obtenção de proveito pelo estelionatário e o prejuízo da vítima.
A tentativa é perfeitamente possível, por exemplo, no caso em que o agente por
circunstâncias alheias à sua vontade não consiga obter o prejuízo em detrimento da vítima.
Considerações importantes!
• Falsidade documental como fraude para a prática do estelionato:
Imagine que o agente pratique uma falsidade documental (falsidade de documento
público, particular ou ideológica) como meio para induzir ou manter a vítima em erro e desta
forma obter a vantagem ilícita e causar prejuízo alheio. Exemplo: O agente falsifica um cheque
para comprar em determinada rede de estabelecimentos comerciais.
O STJ, na Súmula 17, entende pela absorção do delito de falso pelo estelionato, desde
que não haja mais potencialidade lesiva.
d) Fraude no pagamento por meio de cheque (art. 171, parágrafo 2°, inciso VI do CP):
se o indivíduo emite um cheque na certeza de que tem fundos disponíveis para o devido
pagamento pelo banco, quando na realidade não há qualquer numerário depositado na agência
bancária, não se pode falar em ilícito criminal, ante a ausência de má-fé.
O que a lei penal pune é o pagamento fraudulento. Nesse sentido é o teor da Súmula 246
do STF: “comprovado não ter havido fraude, não se configura o crime de emissão de cheque
sem fundos”.

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Segundo o art. 4º, § 1º, da Lei 7.357/85, a existência de fundos disponíveis é verificada
no momento da apresentação do cheque para pagamento. Destarte, o crime se consuma no
momento e no local em que o banco sacado recusa o pagamento, pois só nesse momento ocorre
o prejuízo (trata-se de crime material).
Esse é o teor da Súmula 521 do STF: “O foro competente para o processo e julgamento
dos crimes de estelionato, sob a modalidade da emissão dolosa de cheque sem provisão de
fundos, é o do local onde se deu a recusa do pagamento pelo sacado”.
Entretanto, podemos destacar que diante das alterações promovidas pela Lei 14.155
de 2021 essa súmula perdeu o objeto, uma vez que no parágrafo 4º do artigo 70 do CPP o
juízo competente será o do domicílio da vítima.
Arrependendo-se o agente antes da apresentação do título pelo beneficiário no banco
sacado, e depositando o numerário necessário para cobrir a quantia constante do cheque, haverá
arrependimento eficaz, não respondendo ele por crime algum.
Se, por outro lado, o agente arrepender-se somente após a consumação do crime, ou
seja, após a recusa do pagamento pelo banco sacado, incidirá a Súmula 554 do STF: “O
pagamento de cheque emitido sem provisão de fundos, após o recebimento da denúncia, não
obsta ao prosseguimento da ação penal”.
Assim, o pagamento do cheque antes do recebimento da denúncia extingue a punibilidade
do agente.
e) Lei nº 14.155/2021: cumpre ressaltar que a lei 14155/2021, a qual entrou em vigor em
27 de maio de 2021 acrescentou os parágrafos 2°-A e 2°-B:

§ 2º-A. A pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa, se a fraude é cometida


com a utilização de informações fornecidas pela vítima ou por terceiro induzido a erro por
meio de redes sociais, contatos telefônicos ou envio de correio eletrônico fraudulento, ou
por qualquer outro meio fraudulento análogo.
§ 2º-B. A pena prevista no § 2º-A deste artigo, considerada a relevância do resultado
gravoso, aumenta-se de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime é praticado mediante
a utilização de servidor mantido fora do território nacional.

f) Ação penal (art. 171, parágrafo 5° do CP): com o advento da lei 13964/19, a qual
incluiu o parágrafo 5° no artigo 171 do CP, o qual dispõe que a regra da ação penal no crime de
estelionato será pública condicionada à representação, com exceção nos casos em que a
administração pública (direta ou indireta), criança ou adolescente, pessoa com deficiência mental

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ou maior de 70 anos de idade ou incapaz forem vítimas, hipóteses em que a ação penal será
pública e incondicionada.

Art. 171 do Código Penal


Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou
mantendo alguémem erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, de quinhentos mil réis a dez contos de réis.
§ 1º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor o prejuízo, o juiz pode aplicar a
pena conforme o disposto no art. 155, § 2º.
§ 2º - Nas mesmas penas incorre quem:
I - vende, permuta, dá em pagamento, em locação ou em garantia coisa alheia como
própria;
II - vende, permuta, dá em pagamento ou em garantia coisa própria inalienável, gravada
de ônus ou litigiosa, ou imóvel que prometeu vender a terceiro, mediante pagamento em
prestações, silenciando sobre qualquer dessas circunstâncias;
III - defrauda, mediante alienação não consentida pelo credor ou por outro modo, a
garantia pignoratícia, quando tem a posse do objeto empenhado;
IV - defrauda substância, qualidade ou quantidade de coisa que deve entregar a alguém;
(Fraude para recebimento de indenização ou valor de seguro)
V - destrói, total ou parcialmente, ou oculta coisa própria, ou lesa o próprio corpo ou a
saúde, ou agrava as consequências da lesão ou doença, com o intuito de haver
indenização ou valor de seguro;
(Fraude no pagamento por meio de cheque)
VI - emite cheque, sem suficiente provisão de fundos em poder do sacado, ou lhe frustra
o pagamento.
(Fraude eletrônica)
§ 2º-A. A pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa, se a fraude é cometida
com a utilização de informações fornecidas pela vítima ou por terceiro induzido a erro por
meio de redes sociais, contatos telefônicos ou envio de correio eletrônico fraudulento, ou
por qualquer outro meio fraudulento análogo.
§ 2º-B. A pena prevista no § 2º-A deste artigo, considerada a relevância do resultado
gravoso, aumenta-se de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime é praticado mediante
a utilização de servidor mantido fora do território nacional.
§ 3º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é cometido em detrimento de entidade
de direito público ou de instituto de economia popular, assistência social ou beneficência.
(Estelionato contra idoso ou vulnerável)
§ 4º A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) ao dobro, se o crime é cometido contra idoso
ou vulnerável, considerada a relevância do resultado gravoso.
§ 5º Somente se procede mediante representação, salvo se a vítima for:
I - a Administração Pública, direta ou indireta;
II - criança ou adolescente;
III - pessoa com deficiência mental; ou
IV - maior de 70 (setenta) anos de idade ou incapaz.

31.5. Roubos hediondos

Art. 157 do Código Penal


§ 2º A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até metade:
V - se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade.
§ 2º-A A pena aumenta-se de 2/3 (dois terços):
I – se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma de fogo;
§ 2º-B. Se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma de fogo de uso
restritoou proibido, aplica-se em dobro a pena prevista no caput deste artigo.

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§ 3º Se da violência resulta:
I – lesão corporal grave, a pena é de reclusão de 7 (sete) a 18 (dezoito) anos, e multa;II –
morte, a pena é de reclusão de 20 (vinte) a 30 (trinta) anos, e multa.
II – morte, a pena é de reclusão de 20 (vinte) a 30 (trinta) anos, e multa.

Súmula 603 do STF: “A competência para o processo e julgamento de latrocínio é do juiz


singular e não do Tribunal do Júri.”

Súmula 610 do STF: “Há crime de latrocínio, quando o homicídio se consuma, ainda que
não realize o agente a subtração de bens da vítima”.

31.6. Furto hediondo

Art. 155 do Código Penal


§ 4º-A A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, se houver emprego de
explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum.

Resolva a questão a seguir:

14) FGV - 2023 - OAB – 37° Exame de Ordem Unificado - Primeira Fase
Eduardo trabalha como porteiro do condomínio, e possui um primo, de nome Ygor, envolvido em vários
crimes. A semelhança entre ambos sempre foi notória.
Certa noite, após Eduardo se ausentar da portaria para colocar as lixeiras do prédio na rua, Ygor,
aproveitando-se dos traços físicos muito parecidos com os do seu primo, também vestido com um
uniforme idêntico, ingressa no edifício e subtrai vários pacotes endereçados aos moradores. Alguns
moradores viram a movimentação, mas pensaram que se tratava de Eduardo arrumando e conferindo os
pacotes.
Baseando-se no caso hipotético, Ygor cometeu

A) furto qualificado mediante fraude.


B) estelionato.
C) falsa identidade.
D) furto qualificado por abuso de confiança.

Resolva a questão a seguir:

15) FGV - 2023 - OAB – 37° Exame de Ordem Unificado - Primeira Fase
Silvio, mediante emprego da ameaça de “esquartejá-la com sua espada”, arrancou o cordão de ouro do
pescoço de Ana.
Após tal subtração, Silvio foi perseguido por policiais militares, que lograram prendê-lo em flagrante delito
e recuperar o bem subtraído da vítima.
É correto afirmar que Silvio cometeu crime de

A) extorsão tentada.
B) roubo tentado.
C) roubo impróprio.
D) roubo consumado.

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32. Crimes Contra a Dignidade Sexual

32.1. Ação penal

Art. 225 do Código Penal


Nos crimes definidos nos Capítulos I e II deste Título, procede-se mediante ação penal
pública incondicionada.

32.2. Causas de aumento de pena

Art. 226 do Código Penal


A pena é aumentada:
I – de quarta parte, se o crime é cometido com o concurso de 2 (duas) ou mais pessoas;
II - de metade, se o agente é ascendente, padrasto ou madrasta, tio, irmão, cônjuge,
companheiro, tutor, curador, preceptor ou empregador da vítima ou por qualquer outro título
tiverautoridade sobre ela;
III – revogado;
IV - de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime é praticado:
a) mediante concurso de 2 (dois) ou mais agentes;
b) para controlar o comportamento social ou sexual da vítima.

32.3. Estupro

Art. 213 do Código Penal


Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a
praticar oupermitir que com ele se pratique outro ato libidinoso:
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos. Constranger alguém a ter conjunção carnal
ou atolibidinoso diverso.

*Para todos verem: esquema.

Qualquer
Sujeito ativo
pessoa
Crime
bicomum
Qualquer
Sujeito passivo
pessoa

Tipo penal misto alternativo: desta feita, se o agente no mesmo contexto fático praticar
ato libidinoso diverso e conjunção carnal mediante violência ou grave ameaça contra a mesma
vítima haverá apenas um crime de estupro e não concurso de crimes.

53
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Prescindibilidade do contato físico entre o agente e a vítima: pode-se falar em crime


de estupro mesmo que não haja contato físico.
• Estupro qualificado:

Art. 213 do Código Penal


§ 1º Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou se a vítima é
menor de 18(dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos:
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos.
§ 2º Se da conduta resulta morte:
Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.

32.4. Estupro de vulnerável

Art. 217-A do Código Penal


Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos:
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos.
§ 5º As penas previstas no caput e nos §§ 1º, 3º e 4º deste artigo aplicam-se
independentemente do consentimento da vítima ou do fato de ela ter mantido relações
sexuais anteriormente ao crime.

Ter conjunção carnal ou praticar ato libidinoso diverso com menor de 14 anos (ainda que
não haja violência, ainda que haja o consentimento da vítima). Neste sentido vale destacar que
nos termos da súmula 593 do STF e do parágrafo 5 do artigo 217-a do CP a presunção de
vulnerabilidade será absoluta.
Outras pessoas consideradas vulneráveis:

Art. 217-A do Código Penal


§ 1º Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com alguém
que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para
a prática do ato, ouque, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência.

Atenção especial: deve o agente ter ciência da condição de vulnerabilidade da vítima.


caso o agente erra sobre tal condição, como por exemplo, acreditar que está mantendo relação
sexual com alguém maior de 18 anos quando na verdade tinha menos de 14 anos poderá alegar
o erro de tipo, tornando o fato atípico (erro de tipo).

Resolva a questão a seguir:

16) FGV - 2023 - OAB – 37º Exame de Ordem Unificado - Primeira Fase
Antônio, de 49 anos, manteve numerosas relações sexuais consensuais com Miriam, à época com 13
anos, que tinha experiência sexual anterior, durante o namoro entre eles. Antônio tinha conhecimento da
idade de Miriam. Sobre o caso, assinale a afirmativa correta.

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A) Antônio cometeu conduta típica, ilícita e culpável.


B) Antônio cometeu conduta ilícita e culpável, mas não típica.
C) Antônio cometeu conduta típica e culpável, mas não ilícita.
D) Antônio cometeu conduta típica e ilícita, mas não culpável.

Resolva a questão a seguir:

17) FGV - 2022 - OAB – 36º Exame de Ordem Unificado - Primeira Fase
Robson, diretor-presidente da Sociedade Empresária RX Empreendimentos, telefona para sua secretária
Camila e solicita que ela compareça à sua sala. Ao ingressar no recinto, Camila é convidada para sentar
ao lado de Robson no sofá, pois ele estaria precisando conversar com ela.
Apesar de achar estranho o procedimento, Camila se senta ao lado de seu chefe. Durante a conversa,
Robson afirma que estaria interessado nela e a convida para ir a um motel. Camila recusa o convite e,
ato contínuo, Robson afirma que se ela não aceitar, nem precisa retornar ao trabalho no dia seguinte,
pois estaria demitida.
Camila, desesperada, sai da sala de seu chefe, pega sua bolsa e vai até a Delegacia Policial do bairro
para registrar o fato. Diante das informações apresentadas, é correto afirmar que a conduta praticada por
Robson se amolda ao crime de

A) tentativa de assédio sexual (Art. 216-A), não chegando o crime a ser consumado na medida em que
se trata de crime material, exigindo a produção do resultado, o que não ocorreu na hipótese;
B) assédio sexual consumado, uma vez que o delito é formal, ocorrendo a sua consumação
independentemente da obtenção da vantagem sexual pretendida;
C) fato atípico, uma vez que a conduta praticada por Robson configura mero ato preparatório do crime de
assédio sexual, sendo certo que os atos preparatórios não são puníveis;
D) importunação sexual (Art. 215-A), uma vez que Robson praticou, contra a vontade de Camila, ato
visando à satisfação de sua lascívia.

Resolva a questão a seguir:

18) FGV - 2022 - OAB – 35º Exame de Ordem Unificado - Primeira Fase
No dia 31/12/2020, na casa da genitora da vítima, Fausto, com 39 anos, enquanto conversava com Ana
Vitória, de 12 anos de idade, sem violência ou grave ameaça à pessoa, passava as mãos nos seios e
nádegas da adolescente, conduta flagrada pela mãe da menor, que imediatamente acionou a polícia,
sendo Fausto preso em flagrante.
Preocupada com eventual represália e tendo interesse em ver o autor do fato punido, em especial porque
sabe que Fausto cumpre pena em livramento condicional por condenação com trânsito em julgado pelo
crime de latrocínio, a família de Ana Vitória procura você, na condição de advogado(a), para
esclarecimento sobre a conduta praticada.
Por ocasião da consulta jurídica, deverá ser esclarecido que o crime em tese praticado por Fausto é o de

A) estupro de vulnerável (Art. 217-A do CP), não fazendo jus Fausto, em caso de eventual condenação,
a novo livramento condicional.
B) importunação sexual (Art. 215-A do CP), não fazendo jus Fausto, em caso de eventual condenação, a
novo livramento condicional.
C) estupro de vulnerável (Art. 217-A do CP), podendo Fausto, em caso de condenação, após cumprimento
de determinado tempo de pena e observados os requisitos subjetivos, obter novo livramento condicional.
D) importunação sexual (Art. 215-A do CP), podendo Fausto, em caso de condenação, após cumprimento
de determinado tempo de pena e observados os requisitos subjetivos, obter novo livramento condicional.

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Direito Penal

33. Crimes Contra a Fé Pública

33.1. Conceito de Fé Pública


A Fé Pública que pode ser entendida como a presunção de legitimidade e de veracidade
que os documentos e os procedimentos públicos possuem, ou seja, basicamente a crença de
que os documentos e procedimentos públicos são verdadeiros e estão em consonância com a
lei.

33.2. Princípio da Insignificância


Os Tribunais Superiores, diante da relevância do bem jurídico em questão e da
impossibilidade de se atribuir um valor de natureza econômica, costumam não aplicar o princípio
da insignificância, uma vez que o bem jurídico protegido envolve a credibilidade, a confiança das
pessoas e a preservação da fé pública na moeda, nos papéis públicos, nos documentos,
certames de interesse público dentre outros.
Entretanto, de forma excepcional, o STJ já aplicou o princípio em questão diante de
circunstâncias excepcionais e verificadas:

PENAL. PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO


ESPECIAL. CRIME CONTRA A FÉ PÚBLICA. ART. 304 DO CÓDIGO PENAL.
USO DE DOCUMENTO FALSO (ATESTADO MÉDICO). APLICABILIDADE DO
PRINCÍPIO DA BAGATELA. EXCEPCIONALIDADE VERIFICADA. MÍNIMA
OFENSIVIDADE DA CONDUTA E INEXPRESSIVIDADE DA LESÃO JURÍDICA.
SUFICIÊNCIA DAS SANÇÕES PREVISTAS NA LEI TRABALHISTA. PRECEDENTES.
AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.
1. A decisão agravada está pautada na excepcionalidade ao entendimento desta Corte no
sentido da impossibilidade de aplicação do princípio da bagatela aos crimes contra a fé
pública.
2. No caso, o dolo da recorrente, em apresentar atestado médico falso para afastamento
do trabalho por 8 dias, revela, de plano, "a mínima ofensividade da conduta do agente, a
nenhuma periculosidade social da ação, o reduzidíssimo grau de reprovabilidade do
comportamento e a inexpressividade da lesão jurídica provocada", a demonstrar a
atipicidade material da conduta e afastar a incidência do direito penal, sendo suficientes
as sanções previstas na Lei trabalhista.
3. Agravo regimental desprovido. (AgRg no AREsp 1816993/BA, Rel. Ministro JOEL ILAN
PACIORNIK, QUINTA TURMA, julgado em 16/11/2021, DJe 19/11/2021)

33.3. Inexistência de Crimes Culposos


Os crimes contra a fé pública são exclusivamente dolosos, não havendo previsão de
modalidade culposa.

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Direito Penal

Observação especial:
Há tipos penais contra a fé pública que além do dolo exigem uma finalidade especial do
agente, tais como o crime de fraudes em certames de interesse público (art. 311-a), falsidade
ideológica (art. 299 CP) e falsa identidade (art. 307 CP).

33.4. Incriminação Autônoma de Atos Preparatórios


O Legislador, no artigo 291 e no artigo 294, incrimina, de forma autônoma, atos
preparatórios de outros crimes:

Petrechos para falsificação de moeda


Art. 291 - Fabricar, adquirir, fornecer, a título oneroso ou gratuito, possuir ou guardar
maquinismo, aparelho, instrumento ou qualquer objeto destinado à falsificação de moeda:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.

Petrechos de falsificação (papéis públicos)


Art. 294 - Fabricar, adquirir, fornecer, possuir ou guardar objeto especialmente destinado
à falsificação de qualquer dos papéis referidos no artigo anterior:
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.

33.5. Maioria de Crimes Comuns


Podemos destacar que a maioria dos crimes contra a fé pública são crimes de natureza
comum, ou seja, o legislador não exige qualidade especial do agente. Entretanto, em diversos
dispositivos, o legislador prevê causas de aumento de pena para funcionários públicos:

Art. 295 - Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do cargo,


aumenta-se a pena de sexta parte.

Art. 296, § 2º - Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do


cargo, aumenta-se a pena de sexta parte.

Art. 297, § 1º - Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do


cargo, aumenta-se a pena de sexta parte.

Art. 299, parágrafo único - Se o agente é funcionário público, e comete o crime


prevalecendo-se do cargo, ou se a falsificação ou alteração é de assentamento de registro
civil, aumenta-se a pena de sexta parte.

Art. 311-A, § 3º - Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se o fato é cometido por funcionário
público.

33.6. Crimes Próprios


Em determinados tipos penais o legislador exige qualidade especial do sujeito ativo.
Exemplos:

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Direito Penal

• art. 289, parágrafo 3° do CP;


• falso reconhecimento de firma ou letra (art. 300, do CP);
• certidão ou atestado ideologicamente falso (art. 301, do CP);
• falsidade de atestado médico (art. 302, do CP).

33.7. Conduta Nuclear (falsificar)


Em diversos tipos penais o legislador pune a conduta do agente que falsifica (confere
aparência enganadora) fabricando ou alterando determinando objeto.
Exemplos:
• art. 289 (moeda falsa);
• art. 293 (papéis públicos);
• art. 296 (selo ou sinal público);
• art. 297 (documento público);
• art. 298 (documento particular);
• art. 301, parágrafo 1° (atestado ou certidão);
• art. 306 (marca ou sinal empregado pelo poder público no contraste de metal precioso
ou na fiscalização alfandegária).

33.8. Exigência da Imitatio Veri


É a aptidão do objeto falsificado para enganar, ou seja, é a semelhança com o produto
original. Assim sendo se a falsificação for grosseira não haverá lesão à fé pública, podendo
subsistir outros crimes como o estelionato por exemplo.

Súmula nº 73 do STJ: a utilização de papel-moeda grosseiramente falsificado configura,


em tese, o crime de estelionato, da competência da justiça estadual

33.9. Principais Crimes Contra a Fé Pública


a) Falsificação de Documento Público (art. 297):
Este artigo trata da falsidade material, ou seja, aquela que diz respeito à forma do
documento. As ações nucleares se consubstanciam nos verbos:

Veja o esquema na página a seguir...

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*Para todos verem: esquema.

Falsificar • Significa formar, criar um novo documento.

• Significa modificar um documento que já existe. O documento


Alterar
é verdadeiro e o agente substitui seu conteúdo.
k

O crime consuma-se com a falsificação ou alteração do documento, sendo prescindível o


uso efetivo deste.
A tentativa é possível, pois há um iter criminis que pode ser fracionado. A tentativa ocorrerá
se, por exemplo, o agente, estando no início do processo de formação da escritura pública falsa,
tendo preenchido apenas algumas linhas, é surpreendido por terceiro. Nessa hipótese, não
ocorreu ainda a contrafação total do documento, portanto o crime reputa-se tentado.
Aplica-se a súmula 17 do STJ: “Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais
potencialidade lesiva, é por este absorvido”. Trata-se da aplicação da regra de que o crime-fim
absorve o crime-meio.

b) Falsificação de Documento Particular (art. 298):


Também se trata de falsidade material, ou seja, aquela que diz respeito à forma do
documento.
A consumação e a tentativa, neste crime, funcionam da mesma forma como no crime de
Falsificação de Documento Público.

*Para todos verem: esquema.

• Significa formar, criar um novo documento. Ex.: o agente se aproveita do


Falsificar espaço em branco entre o conteúdo da carta e a assinatura para inserir
confissão de dívida, "criando" um novo documento.

• Significa modificar o documento. Na hipótese o documento é verdadeiro, e


Alterar o agente substitui seu conteúdo, isto é, frases, palavras que alterem sua
essência, incidindo, portanto, sobre aspectos relevantes do documento.

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c) Falsidade Ideológica:
Diferentemente dos delitos precedentes, estamos agora diante da chamada falsidade
ideológica, aquela em que o documento é formalmente perfeito, sendo, no entanto, FALSA A
IDEIA NELE CONTIDA. O sujeito tem legitimidade para emitir o documento, mas acaba por
inserir-lhe um conteúdo sem correspondência com a realidade dos fatos.

*Para todos verem: esquema.

Omitir: deixar de inserir ou


não mencionar.

Falsidade Inserir: colocar ou


Ideológica introduzir.

Fazer inserir: proporcionar


que se introduza.

Ex.: Assim, uma escritura lavrada pelo funcionário do Cartório de Registro de Imóveis é
formalmente perfeita, pois a ele incumbe formar o instrumento público. Entretanto, se essa escrita
encerrar declarações falsas prestadas pelo particular, haverá o crime de falsidade ideológica.

*Para todos verem: esquema.

Elementos Normativos do Tipo

• “Dele deveria constar” é expressão indicativa de um juízo valorativo jurídico, pertinente ao conteúdo
esperado do documento. Ex. em uma carteira de habilitação, espera-se que conste, quando for o
caso, que o motorista precisa usar óculos para dirigir. Se houver omissão desse dado relevante,
trata-se de declaração que dele devia constar.

Sujeitos do Delito

• Trata-se de crime comum. Qualquer pessoa pode praticá-lo. Caso seja funcionário público, incidirá
a causa de aumento de pena prevista no parágrafo único do artigo.

Consumação e Tentativa

•Consuma-se com a omissão ou a inserção da declaração falsa ou diversa da que deveria constar.
Trata-se de crime formal; prescinde-se, portanto, da ocorrência efetiva do dano, bastando a
capacidade de lesar terceiro.

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Direito Penal

d) Uso de documento falso:

Art. 304 do Código Penal


Fazer uso de qualquer dos papéis falsificados ou alterados, a que se referem os arts. 297 a
302.
Pena - a cominada à falsificação ou à alteração.

Súmula 546 do STJ: A competência para processar e julgar o crime de uso de documento
falso é firmada em razão da entidade ou órgão ao qual foi apresentado o documento
público, não importando a qualificação do órgão expedidor.

Resolva a questão a seguir:

19) FGV - 2022 - OAB – 36º Exame de Ordem Unificado - Primeira Fase
Américo é torcedor fanático de um grande clube brasileiro, que disputa todos os principais campeonatos
nacionais e internacionais. Américo recebeu a notícia de que seu clube iria jogar uma partida no estádio
de sua cidade, porém, ao tentar adquirir os ingressos, descobriu que estes já haviam se esgotado. André,
seu vizinho, torcedor do time rival, sempre incomodado com os gritos de comemoração que Américo
soltava em dias de jogo, resolveu se vingar, oferecendo ingressos falsos para Américo. Sem saber da
falsidade, Américo aceitou a oferta, porém, no momento da concretização do pagamento, percebeu, por
sua acurada expertise no tema ingressos de futebol, que os ingressos eram falsos.
Com base na situação hipotética, é correto afirmar que a conduta de André corresponde ao crime de

A) “cambismo”, do Estatuto do Torcedor, na modalidade tentada.


B) falsificação de documento público.
C) estelionato, na modalidade tentada.
D) uso de documento falso.

34. Crimes Contra a Administração Pública

34.1. Introdução
Os crimes contra a administração pública se encontram tipificados no Código Penal a partir
do artigo 312, constando do Título XI da parte especial e se dividem em 6 capítulos, quais sejam:

Capítulo I - Crimes praticados por funcionário público contra a administração em geral


(artigos 312 ao 327 do CP);
Capítulo II - Crimes praticados por particular contra a administração em geral (artigos 328
ao 337-a do CP);
Capítulo II/A - Crimes praticados por particular contra a administração pública estrangeira
(artigos. 337-b, 337-c e 337-d do CP);
Capítulo II/B - Crimes em licitações e contratos administrativos (artigos. 337-E ao 337-P
do CP);
Capítulo III – Crimes contra a administração da justiça (artigos 338 ao 359 do CP);
Capítulo IV – Crimes contra as finanças públicas (artigos 359-a ao 359-h do CP).

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Direito Penal

34.2. Súmula 599 do STJ


A súmula 599 do STJ, diante da especificidade do bem jurídico moralidade administrativa
e da dificuldade de se precisar um valor, veda a aplicação do princípio da insignificância aos
crimes contra a administração pública.
A exceção diz respeito ao crime de descaminho, previsto no artigo 334 do CP, no qual STF
e STJ reconhecem a insignificância para valores até R$ 20.000,00.

34.3. Conceito de Funcionário Público


Tendo em vista o fato de o funcionário público ostentar a condição de sujeito ativo nos
crimes definidos no Capítulo I, é de suma importância definir o conceito de funcionário público
para fins penais.
Neste sentido, o legislador, no artigo 327 do CP, definiu o conceito de funcionário público
para fins penais, havendo um verdadeiro caso de interpretação autêntica. Assim sendo, para fins
penais, adotamos um conceito amplo de funcionário público, podendo ser enquadrado em tal
definição todo aquele que exerce cargo, emprego ou função pública, ainda que transitoriamente
e sem remuneração, abarcando, por exemplo, os estagiários, trabalhadores voluntários,
servidores comissionados, temporários, etc.
Mister ressaltar que no ano de 2000 entrou em vigor a lei 9983 que alargou ainda mais o
conceito de funcionário público ao tratar do funcionário por equiparação, abrangendo, por
exemplo, o funcionário terceirizado:

§ 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em


entidade paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou
conveniada para a execução de atividade típica da Administração Pública.
§ 2º - A pena será aumentada da terça parte quando os autores dos crimes previstos neste
Capítulo forem ocupantes de cargos em comissão ou de função de direção ou
assessoramento de órgão da administração direta, sociedade de economia mista,
empresa pública ou fundação instituída pelo poder público.

Veja o esquema na página a seguir...

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*Para todos verem: esquema.

Para os efeitos penais, é quem, embora


transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo,
emprego ou função pública.
Funcionário Público

Equipara-se a funcionário público quem exerce


cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, e
quem trabalha para a empresa
contratada/conveniada para prestrar serviço público.

Aumenta-se a pena do crime quando os autores


forem ocupantes de cargos em comissão ou de
funação de direção/assessoramento de órgão da
admin. direta, SEM, empresa pública ou fundação
pública.

Observação especial:
Possibilidade de extensão do conceito de funcionário público ao particular que concorreu
para o crime praticado pelo funcionário:
A discussão em questão, por exemplo, pode ser aplicada no caso de um funcionário
público que, em concurso de pessoas com um particular (coautor/partícipe), pratica o crime de
peculato-furto previsto no artigo 312, parágrafo 1°, subtraindo bens de determinada repartição
pública. Neste caso, esse particular responderá pelo crime de peculato-furto (possibilidade de
extensão do conceito) ou somente pelo crime de furto (impossibilidade de extensão do conceito)?
Para responder o questionamento acima, temos que utilizar o artigo 30 do CP, o qual
dispõe que as circunstâncias elementares de caráter subjetiva se comunicam ao outro agente.
Desta feita, podemos considerar a condição de funcionário público uma elementar (pois interfere
diretamente na tipificação) e subjetiva (pois diz respeito ao agente criminoso). Neste sentido,
poderemos ter duas situações:
• Se o particular conhece ou tem condições de conhecer a condição de funcionário
público do outro agente tal circunstância, nos termos do artigo 30 do CP, será
comunicada, respondendo então pelo delito de peculato-furto;
• Se o particular não sabe e nem tem condições de saber dessa circunstância não
haverá a comunicação, pois o Direito Penal não compactua com responsabilização
penal objetiva, devendo o particular responder somente pelo delito de furto.

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34.4. Crimes Funcionais Próprios X Crimes Funcionais Impróprios


Os crimes funcionais, ou seja, praticados por funcionário público são crimes próprios, uma
vez que exigem uma qualidade especial do sujeito ativo que é se enquadrar no conceito de
funcionário público (327, caput ou 327, parágrafo 1°). A doutrina classifica os crimes funcionais
em próprios ou propriamente ditos e crimes funcionais impróprios ou impropriamente ditos:

i) Crimes funcionais próprios – são aqueles que, se retirada a condição de funcionário


público do sujeito ativo, haverá uma atipicidade absoluta, como, por exemplo, no crime de
prevaricação, previsto no artigo 319 do CP;
ii) Crimes funcionais impróprios – são aqueles que, se retirada a condição de funcionário
público, haverá uma atipicidade relativa, como, por exemplo, no crime de peculato,
previsto no artigo 312 do CP.

*Para todos verem: esquema.

Crimes funcionais próprios ou Crimes funcionais impróprios


propriamente ditos ou impropriamente ditos
(atipicidade absoluta) (atipicidade elativa)

Quando, faltando a
Quando, faltando a qualidade de servidor do
qualidade de servidor do agente, o fato deixa de ser
agente, o fato deixa de ser crime funcional, mas
crime. permanece crime, há
atipicidade relativa.

Ex: peculato passa a ser


Ex: prevariação.
furto.

34.5. Principais crimes praticados por funcionário público contra a


administração pública em geral
a) Peculato – Art. 312, do CP
O peculato próprio, na realidade, constitui uma apropriação indébita, só que praticada por
funcionário público com violação do dever funcional. Antes de ser uma ação lesiva aos interesses
patrimoniais da Administração Pública, é principalmente uma ação que fere a moralidade
administrativa, em virtude de quebra do dever funcional.

64
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Direito Penal

• Peculato-apropriação (artigo 312, “caput”, 1° parte do CP):


É o denominado peculato próprio.
A ação nuclear típica consubstancia-se no verbo apropriar. Assim como no crime de
apropriação indébita, o agente tem a posse (ou detenção) lícita do bem móvel, público ou
particular, e inverte esse título, pois passa a comportar-se como se dono fosse, isto é, consome-
o, aliena-o.
Exemplo: Servidor que tem em sua posse um notebook funcional e assina um termo de
responsabilidade do aparelho em questão. Após determinado tempo vende esse notebook a
terceiro.
• Peculato-desvio (artigo 312, “caput”, 2° parte do CP):
É o denominado peculato próprio. Está previsto na segunda parte do caput do art. 312:
“ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio”.
O agente tem a posse da coisa e lhe dá destinação diversa da exigida por lei, agindo em
proveito próprio ou de terceiro.
Ex. Servidor do Cartório que utiliza de R$ 1.000,00 que estão aprendidos no cofre e
empresta essa importância a alguém, devolvendo os mil reais depois mas ficando com os juros.
Observação importante: Não confundir peculato-desvio com o peculato-uso que é fato
atípico, uma vez que no peculato de uso há o ânimo de temporariedade com a intenção de
posterior restituição de determinado bem infungível, por exemplo, no caso do policial que se
utiliza da viatura para levar o seu filho ao colégio.
• Sujeitos do delito:
Trata-se de crime próprio. Somente o funcionário público (art. 327, caput) e as pessoas a
ele equiparadas legalmente (art. 327, §§1º e 2º) podem praticar o delito de peculato.
A condição especial funcionário público, como elementar do crime de peculato, comunica-
se ao particular que eventualmente concorra, na condição de coautor ou partícipe, para a prática
do crime, nos termos da previsão do art. 30 do CP. Portanto, é perfeitamente possível o concurso
de pessoas, dada a comunicabilidade da elementar do crime (art. 30).

Veja o esquema na página a seguir...

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*Para todos verem: esquema.

Se comporta como
dono
Apropriação

Posse legítima

Peculato

• Peculato-furto (artigo 312, parágrafo 1º do CP):


É o denominado peculato impróprio.
Estamos agora diante de um crime de furto, só que praticado por funcionário público, o
qual se vale dessa qualidade para cometê-lo. Aqui o agente não tem a posse ou detenção do
bem como no peculato-apropriação ou desvio, mas se vale da facilidade que lhe proporciona a
qualidade de funcionário público para realizar a subtração.

*Para todos verem: esquema.

Peculato-Furto (art. 312, §1º)

Não tem a posse anterior

Facilidade que cargo lhe proporciona

• Peculato culposo (artigo 312, parágrafo 2° do CP):


O funcionário para ser punido insere-se na figura do garante, prevista no art. 13, § 2º.
Assim, tem ele o dever de agir, impedindo o resultado de ação delituosa de outrem. Não o
fazendo, responde por peculato culposo.
Extinção da punibilidade no peculato culposo – Art. 312, § 3º.
Deve ser completa e não exclui eventual sanção administrativa contra o funcionário.
A extinção da punibilidade somente aproveita o funcionário, autor do peculato culposo.
Consoante a segunda parte do § 3º, no crime culposo, se a reparação do dano é posterior
à sentença irrecorrível, isto é, transitada em julgado, haverá a redução de metade da pena
imposta.

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b) Concussão (Artigo 316 do CP)


• Ação nuclear:
A ação nuclear consubstancia-se no verbo exigir, isto é, ordenar, reivindicar, impor como
obrigação.
A vítima cede às exigências formuladas pelo agente ante o temor de represálias
relacionadas ao exercício da função pública por ele exercida.
Assim, não é necessária a promessa da causação de um mal determinado; basta o temor
que autoridade inspira.
Ex. carcereiro que exige dinheiro dos presos sob sua custódia. Na hipótese, o simples fato
de os presos encontrarem-se sob a guarda daquele gera neles o temor de eventuais represálias.
Contudo, não pratica esse delito, mas o de extorsão ou roubo, por exemplo, o policial
militar que exige vantagem indevida da vítima utilizando-se de violência, ou ameaçando-a
gravemente de sequestrar seu filho.
• Consumação e tentativa:
Trata-se de crime formal.
A consumação ocorre com a mera exigência da vantagem indevida, independentemente
de sua efetiva obtenção. Se esta sobrevém, há mero exaurimento do crime.
É possível a tentativa, tendo em vista em que o crime é plurissubsistente, ou seja, admite
o fracionamento em mais de um ato executório.

c) Excesso de exação – Artigo 316, parágrafos 1° e 2° do CP


• Modalidades:
São duas as modalidades previstas:
Exigência indevida: Aqui a exigência do tributo ou contribuição social é indevida
(elemento normativo do tipo), isto é, não há autorização legal para sua cobrança, ou seu valor já
foi quitado pela vítima, ou então se refere a quantia excedente à fixada por lei.
Cobrança vexatória ou gravosa não autorizada em lei (excesso no modo de exação
ou exação fiscal vexatória): Ao contrário da modalidade criminosa precedente, aqui a exigência
de tributo ou contribuição social é devida, mas a cobrança se faz com o emprego de meio gravoso
ou vexatório para o devedor, o qual não é autorizado por lei.

67
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Direito Penal

• Consumação e tentativa:
Exigência indevida: Aqui o delito se consuma no momento em que é feita a exigência do
tributo ou contribuição social. Trata-se de crime formal, portanto a consumação independe do
efetivo pagamento do tributo ou contribuição social pela vítima. A tentativa é possível. Ex. carta
contendo a exigência de vantagem, a qual é interceptada antes de chegar ao conhecimento da
vítima.
Cobrança vexatória ou gravosa: Consuma-se com o emprego do meio vexatório ou
gravoso na cobrança do tributo ou contribuição social, independentemente de seu efetivo
recebimento. A tentativa é possível.
• Excesso de exação – forma qualificada – Art. 316, § 2º
Nessa modalidade mais gravosa do crime de excesso de exação, pune-se o funcionário
público que, em vez de recolher o tributo ou contribuição social, indevidamente exigido (§1º),
para os cofres públicos, desvia-o em proveito próprio ou alheio.

d) Corrupção Passiva – Artigo 317 do Código Penal


• Ação nuclear:
Trata-se de crime de ação múltipla. Três são as condutas típicas previstas:
1) Solicitar: pedir, manifestar que deseja algo. Não há o emprego de qualquer ameaça
explícita ou implícita. O funcionário solicita vantagem, e a vítima cede por deliberada vontade.
2) Receber: aceitar, entrar na posse. Significa obter, direta ou indiretamente, para si ou
para outrem, vantagem indevida.
Aqui a proposta parte de terceiros e a ela adere o funcionário, ou seja, o agente não só
aceita a proposta como recebe a vantagem indevida. Ao contrário da primeira modalidade, é
condição essencial para sua existência que haja a anterior configuração do crime de corrupção
ativa, isto é, o oferecimento de vantagem indevida (art. 333). Sem essa oferta pelo particular,
não há como falar em recebimento de vantagem.
3) Aceitar a promessa de recebê-la: Nessa modalidade típica basta que o funcionário
concorde com o recebimento da vantagem. Não há o efetivo recebimento dela. Deve haver
necessariamente uma proposta formulada por terceiros, à qual adere o funcionário, mediante a
aceitação de receber a vantagem.

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Direito Penal

• Classificação:
Corrupção passiva própria: o funcionário, em troca de alguma vantagem, pratica ou
deixa de praticar ato de ofício para beneficiar alguém. O ato a ser praticado pode ser ilegítimo,
ilícito ou injusto. É a chamada corrupção própria. Exemplo: o funcionário do cartório criminal
solicita indevida vantagem econômica para suprimir documentos do processo judicial.
Corrupção passiva imprópria: também configura o crime a prática de ato legítimo, lícito,
justo. É a chamada corrupção passiva imprópria. Exemplo: Oficial de justiça solicita vantagem
econômica ao advogado, a fim de dar prioridade ao cumprimento do mandado judicial expedido
em processo em que aquele atua.
• Sujeitos do delito:
Trata-se de crime próprio. Portanto, o delito só pode ser cometido por funcionário público
em razão da função (ainda que esteja fora dela ou antes de assumi-la). Nada impede, contudo,
a participação do particular, ou de outro funcionário, mediante induzimento, instigação ou auxílio.
O particular que oferece ou promete vantagem indevida ao funcionário público responde
pelo delito de corrupção ativa (art. 333) e não pela participação no crime em estudo. Trata-se de
exceção à regra prevista no artigo 29 do CP.
• Consumação e tentativa:
Trata-se de crime formal. Portanto, a consumação ocorre com o ato de solicitar, receber
ou aceitar a promessa de vantagem indevida. A corrupção passiva consuma-se
instantaneamente, isto é, com a simples solicitação da vantagem indevida, recebimento desta
ou com a aceitação da mera promessa daquela.
O tipo penal não exige que o funcionário pratique ou se abstenha da prática do ato
funcional. Se isso suceder, haverá mero exaurimento do crime, o qual constitui condição de maior
punibilidade (causa de aumento de pena prevista no § 1º do art. 317).
A tentativa é de difícil ocorrência, mas não é impossível. Basta que haja um iter criminis a
ser cindido. Ex. solicitação feita por carta, a qual é interceptada pelo chefe de repartição.
• Causa de aumento de pena – Art. 317, § 1º:
Eleva-se em 1/3 a pena do agente que, em razão da vantagem recebida ou prometida,
efetivamente retarda (atrasa ou procrastina) ou deixa de praticar (não leva a efeito) ato de ofício
que lhe competia desempenhar ou termina praticando o ato, mas desrespeitando o dever
funcional. É o que a doutrina classifica de corrupção exaurida.

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• Figura privilegiada – Art. 317, § 2º:


Trata-se de conduta de menor gravidade, na medida em que o agente pratica, deixa de
praticar ou retarda o ato de ofício, não em virtude do recebimento de vantagem indevida, mas
cedendo a pedido ou influência de outrem, isto é, para satisfazer interesse de terceiros ou para
agradar ou bajular pessoas influentes.

e) Prevaricação – Art. 319, do CP


• Elementos do tipo/ação nuclear/objeto material:
Retardar: É atrasar, adiar, protelar, procrastinar, não praticar o ato de ofício dentro do
prazo estabelecido (crime omissivo). Exemplo: Servidor que, devendo expedir alvará de soltura,
por não simpatizar com o advogado, deixa de fazê-lo com a brevidade que a medida exige.
Deixar de praticar: trata-se de mais uma modalidade omissiva do crime em estudo. Aqui,
no entanto, ao contrário da conduta precedente, há o ânimo definitivo de não praticar o ato de
ofício.
Praticar (contra disposição expressa de lei): cuida-se aqui de conduta comissiva, em que
o agente efetivamente executa o ato, só que de forma contrária à lei. O interesse pessoal é
qualquer proveito, vantagem, podendo ser patrimonial ou moral. Quanto ao interesse patrimonial,
importa distinguir algumas situações:
1) se o ato praticado, retardado ou omitido tiver sido objeto de acordo anterior entre o
funcionário e o particular, visando aquele indevida vantagem, o crime passará a ser outro:
corrupção passiva;
2) se houver, anteriormente à prática ou omissão do ato, a exigência de vantagem indevida
pelo funcionário público, haverá o crime de concussão.

Quanto ao sentimento pessoal podemos destacar que se manifesta em suas mais


variadas formas, tais como amor, paixão emoção ou ódio.

Resolva a questão a seguir:

20) FGV - 2022 - OAB – 35º Exame de Ordem Unificado - Primeira Fase
Para satisfazer sentimento pessoal, já que tinha grande relação de amizade com Joana, Alan, na condição
de funcionário público, deixou de praticar ato de ofício em benefício da amiga. O supervisor de Alan,
todavia, identificou o ocorrido e praticou o ato que Alan havia omitido, informando os fatos em
procedimento administrativo próprio.

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Após a conclusão do procedimento administrativo, o Ministério Público denunciou Alan pelo crime de
corrupção passiva consumado, destacando que a vantagem obtida poderia ser de qualquer natureza para
tipificação do delito.
Confirmados os fatos durante a instrução, caberá à defesa técnica de Alan pleitear sob o ponto de vista
técnico, no momento das alegações finais,

A) o reconhecimento da tentativa em relação ao crime de corrupção passiva.


B) a desclassificação para o crime de prevaricação, na forma tentada
C) a desclassificação para o crime de prevaricação, na forma consumada.
D) o reconhecimento da prática do crime de condescendência criminosa, na forma consumada.

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21) FGV - 2021 - OAB – 32º Exame de Ordem Unificado - Primeira Fase
Paulo e Júlia viajaram para Portugal, em novembro de 2019, em comemoração ao aniversário de um ano de
casamento. Na cidade de Lisboa, dentro do quarto do hotel, por ciúmes da esposa que teria olhado para terceira
pessoa durante o jantar, Paulo veio a agredi-la, causando-lhe lesões leves reconhecidas no laudo próprio. Com a
intervenção de funcionários do hotel que ouviram os gritos da vítima, Paulo acabou encaminhado para Delegacia,
sendo liberado mediante o pagamento de fiança e autorizado seu retorno ao Brasil. Paulo, na semana seguinte,
retornou para o Brasil, sem que houvesse qualquer ação penal em seu desfavor em Portugal, enquanto Júlia
permaneceu em Lisboa. Ciente de que o fato já era do conhecimento das autoridades brasileiras e preocupado com
sua situação jurídica no país, Paulo procura você, na condição de advogado(a), para obter sua orientação.
Considerando apenas as informações narradas, você, como advogado(a), deve esclarecer que a lei brasileira

A) não poderá ser aplicada, tendo em vista que houve prisão em flagrante em Portugal e em razão da vedação
do bis in idem.
B) poderá ser aplicada diante do retorno de Paulo ao Brasil, independentemente do retorno de Júlia e de sua
manifestação de vontade sobre o interesse de ver o autor responsabilizado criminalmente.
C) poderá ser aplicada, desde que Júlia retorne ao país e ofereça representação no prazo decadencial de seis
meses.
D) poderá ser aplicada, ainda que Paulo venha a ser denunciado e absolvido pela justiça de Portugal.

22) FGV - 2013 - OAB – 12º Exame de Ordem Unificado - Primeira Fase
Wilson, competente professor de uma autoescola, guia seu carro por uma avenida à beira-mar. No banco do carona
está sua noiva, Ivana. No meio do percurso, Wilson e Ivana começam a discutir: a moça reclama da alta velocidade
empreendida. Assustada, Ivana grita com Wilson, dizendo que, se ele continuasse naquela velocidade, poderia
facilmente perder o controle do carro e atropelar alguém. Wilson, por sua vez, responde que Ivana deveria deixar
de ser medrosa e que nada aconteceria, pois se sua profissão era ensinar os outros a dirigir, ninguém poderia ser
mais competente do que ele na condução de um veículo. Todavia, ao fazer uma curva, o automóvel derrapa na
areia trazida para o asfalto por conta dos ventos do litoral, o carro fica desgovernado e acaba ocorrendo o
atropelamento de uma pessoa que passava pelo local. A vítima do atropelamento falece instantaneamente. Wilson
e Ivana sofrem pequenas escoriações. Cumpre destacar que a perícia feita no local constatou excesso de
velocidade. Nesse sentido, com base no caso narrado, é correto afirmar que, em relação à vítima do atropelamento,
Wilson agiu com

A) dolo direto.
B) dolo eventual.
C) culpa consciente.
D) culpa inconsciente.

23) FGV - 2022 - OAB – 35º Exame de Ordem Unificado - Primeira Fase
Paulo foi condenado, com trânsito em julgado pela prática do crime de lesão corporal grave, à pena de 1 ano e oito
meses de reclusão, tendo o trânsito ocorrido em 14 de abril de 2016. Uma vez que preenchia os requisitos legais, o
magistrado houve, por bem, conceder a ele o benefício da suspensão condicional da pena pelo período de 2 anos.
Por ter cumprido todas as condições impostas, teve sua pena extinta em 18 de abril de 2018. No dia 15 de maio de
2021, Paulo foi preso pela prática do crime de roubo.
Diante do caso narrado, caso Paulo venha a ser condenado pela prática do crime de roubo, deverá ser considerado

A) reincidente, na medida em que, uma vez condenado com trânsito em julgado, o agente não recupera a
primariedade.
B) reincidente, em razão de não ter passado o prazo desde a extinção da pena pelo crime anterior.
C) primário, em razão de ter cumprido o prazo para a recuperação de primariedade.
D) primário, em razão de a reincidência exigir a prática do mesmo tipo penal, o que não ocorreu no caso de
Paulo.

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24) FGV - 2018 - OAB – 27° Exame de Ordem Unificado - Primeira Fase
Cátia procura você, na condição de advogado(a), para que esclareça as consequências jurídicas que poderão advir
do comportamento de seu filho, Marlon, pessoa primária e de bons antecedentes, que agrediu a ex-namorada ao
encontrá-la em um restaurante com um colega de trabalho, causando-lhe lesão corporal de natureza leve. Na
oportunidade, você, como advogado(a), deverá esclarecer que:

A) o início da ação penal depende de representação da vítima, que terá o prazo de seis meses da descoberta
da autoria para adotar as medidas cabíveis.
B) no caso de condenação, em razão de ser Marlon primário e de bons antecedentes, poderá a pena privativa
de liberdade ser substituída por restritiva de direitos.
C) em razão de o agressor e a vítima não estarem mais namorando quando ocorreu o fato, não será aplicada
a Lei nº 11.340/06, mas, ainda assim, não será possível a transação penal ou a suspensão condicional do
processo.
D) no caso de condenação, por ser Marlon primário e de bons antecedentes, mostra-se possível a aplicação
do sursis da pena.

25) FGV - 2019 - OAB – 28º Exame de Ordem Unificado - Primeira Fase
Fabrício cumpria pena em livramento condicional, em razão de condenação pela prática de crime de lesão corporal
grave. Em 10 de janeiro de 2018, quando restavam 06 meses de pena a serem cumpridos, ele descobre que foi
novamente condenado, definitivamente, por crime de furto que teria praticado antes dos fatos que justificaram sua
condenação pelo crime de lesão. A pena aplicada em razão da nova condenação foi de 02 anos e 06 meses de
pena privativa de liberdade em regime inicial semiaberto. Apesar disso, somente procura seu(sua) advogado(a) em
05 de agosto de 2018, esclarecendo o ocorrido. Ao consultar os autos do processo de execução, o(a) advogado(a)
verifica que, de fato, existe a nova condenação, mas que, até o momento, não houve revogação ou suspensão do
livramento condicional. Considerando apenas as informações narradas, o(a) advogado(a) de Fabrício, de acordo
com a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, deverá esclarecer que

A) poderá haver a revogação do livramento condicional, tendo em vista que a nova condenação por crime
doloso, aplicada pena privativa de liberdade, é causa de revogação obrigatória do benefício.
B) não poderá haver a revogação do livramento condicional, tendo em vista que a nova condenação é apenas
prevista como causa de revogação facultativa do benefício e não houve suspensão durante o período de
prova.
C) não poderá haver a revogação do livramento condicional, tendo em vista que a nova condenação não é
prevista em lei como causa de revogação do livramento condicional, já que o fato que a justificou é anterior
àquele que gerou a condenação em que cumpre o benefício.
D) não poderá haver a revogação do livramento condicional, pois ultrapassado o período de prova, ainda que
a nova condenação seja prevista no Código Penal como causa de revogação obrigatória do benefício

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Gabaritos das questões:

1–C 2–A 3–B 4–A 5–D 6–C 7–C

8–B 9–D 10 – C 11 – D 12 – C 13 – D 14 – A

15 – D 16 – A 17 – B 18 – A 19 – C 20 – C 21 – B

22 – C 23 – C 24 – D 25 – D

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