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Professor Gilbor Miter Júnior

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2ª FASE DA OAB - DIREITO PENAL!
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PROFESSOR GILBOR MITER JÚNIOR!
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Whatsapp: (16) 99181-7138!
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Email: profgilbor@outlook.com!
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Redes Sociais: Facebook, Instagram, Youtube - Gilbor ou Professor Gilbor!
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BIBLIOGRAFIA!
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1. VADE MECUM PENAL - EDITORA LETRAMENTO - GEOVANE MORAES (ou qualquer
Vade Mecum ATUALIZADO)!
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2. APOSTILA DO PROFESSOR GILBOR MITER JÚNIOR!
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3. QUALQUER DOUTRINA/SINOPSE ATUALIZADA DE DIREITO PENAL E DIREITO
PROCESSUAL PENAL!
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INTRODUÇÃO!
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→ CONFIANÇA NO PROFESSOR!!!!
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→ ASSIDUIDADE!!!!
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→ PRESSUPOSTO QUE O CANDIDATO NÃO SABE NADA!!!!
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O QUE MAIS REPROVA UM CANDIDATO!
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1. O candidato não acredita no Professor!
2. A prática é diferente da OAB!
3. O aluno só assiste aula!
4. O aluno não faz ou não entrega as atividades para a correção!
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QUANTAS PEÇAS E QUANTAS QUESTÕES? 1 Peça e 4 questões com a) e b)!
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#MAS QUAL A MAIS IMPORTANTE, A PEÇA OU AS QUESTÕES?!
R: Nenhuma, pois ambas valem 5,0 pontos. !
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Professor Gilbor Miter Júnior
#Por qual devo começar?!
R:!
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1º Questões (ler NO MÍNIMO 3 vezes!!!) (reservar as 2 horas iniciais para as questões)!
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2ª Peça (ler NO MÍNIMO 3 vezes!!!) (reservar as 3 horas finais para a peça)!
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O CANDIDATO SEMPRE DEVE BUSCAR A MELHORA PARA O RÉU? Na peça quase sempre
deve-se buscar defender o réu, ou seja, o melhor para ele, salvo se a peça for Queixa-Crime ou
peças a serem elaboradas como Assistente de Acusação. Nas questões deve-se atentar para o
que o examinador está perguntando: se qual o crime, por exemplo, ou qual a tese defensiva, por
exemplo, e nem sempre o melhor para o réu.!
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PONTOS IMPORTANTES PARA A PROVA

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1. Letra Legível (procure escrever com mais calma, sem correria)!
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2. Não abreviar expressões!
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3. Se errar alguma palavra: utilize parênteses na palavra que errou, com um pequeno risco +
vírgula + digo + vírgula e continue escrevendo (ex.: o réu merece ser (condenado), digo,
absolvido…).!
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4. Não inventar nomes, números etc.. Se não tiver a informação coloque três pontinhos: … (Ex.:
Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da … Vara Criminal da Comarca de … Estado
de …!
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DIREITO PENAL - PARTE GERAL - TESES!
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EFICÁCIA DA LEI PENAL (NO TEMPO, NO ESPAÇO E QUANTO ÀS PESSOAS)!

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1. EFICÁCIA DA LEI PENAL NO TEMPO!
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No tópico eficácia da lei penal no tempo estudaremos 2 pontos: 1º) quando o
crime é considerado praticado; 2º) 5 fenômenos da sucessão da lei penal no tempo.!
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→ QUANDO O CRIME É CONSIDERADO PRATICADO?!
R: no momento da ação ou da omissão, ainda que outro seja o momento do
resultado. Assim, Tício desfere um tiro em Caio no dia 01/10/2018, mas Caio só vem a
morrer em 10/10/2018, considera-se PRATICADO o crime no dia 01/10/2018 e
CONSUMADO no dia 10/10/2018 (vide art. 4º do CP).!
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→ 5 FENÔMENOS DA SUCESSÃO DA LEI PENAL NO TEMPO!
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1. Novatio Legis Incriminadora (nova lei que incrimina): trata-se de uma lei
que cria uma nova figura criminosa, ou seja, um novo crime. E em razão do art. 5º, inciso
XL, da CF, bem como do artigo 1º do CP, a lei não retroagirá para alcançar os fatos
passados (Ex.: o art. 311-A foi inserido no CP em 2011, e somente a partir daí é aplicado).!
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2. Novatio Legis In Pejus (nova lei que prejudica): trata-se de uma lei que
traz um prejuízo ao réu (ela não cria crime, mas sim um prejuízo, como por exemplo uma
pena maior, uma causa de aumento, uma qualificadora etc). E em razão do art. 5º, inciso
XL, da CF, bem como do artigo 1º do CP, a lei não retroagirá para alcançar os fatos
passados.!
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ATENÇÃO: se estiver diante de crime continuado ou crime permanente (ex:
sequestro, transporte ou depósito de drogas, vários furtos em continuidade delitiva) e
houver alteração da lei no meio da conduta (enquanto o crime estiver sendo praticado),
será aplicada a lei que estiver vigente no momento da cessação da permanência ou da
continuidade delitiva, ou seja, no momento da consumação. !
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Ex.: A vítima é sequestrada no dia 01/10/2018, quando vigia a lei que trazia a
pena de reclusão de 1 a 3 anos. A vítima fora libertada apenas em 10/10/2018, quando já
vigia a “novatio legis in pejus”, que trouxe a pena de 2 a 5 anos para o sequestro. Nesse
caso, mesmo que a nova lei seja mais grave, ela será aplicada, pois ela é a que está
vigente no momento da consumação do sequestro (que ocorre quando se devolve a
liberdade à vítima, e não quando se retira).!
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3. Novatio Legis In Mellius (nova lei que melhora): Trata-se de uma uma lei
que traz um benefício ao réu (ex: uma pena menor, uma causa de diminuição de pena
etc.). E em razão do art. 5º, inciso XL, da CF, essa lei retroagirá para alcançar fatos
passados, mesmo que a sentença já tenha transitado em julgado, já que beneficiará o
réu (vide p.ú do art. 2º do CP).!
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#Qual juiz aplicará a nova lei?!
R: Depende! Se a lei surgir durante o processo de conhecimento, será o Juiz
do processo de conhecimento. Mas se surgir após o trânsito em julgado, será o Juiz do
processo de execução (vide S. 611 do STF).!
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#É possível combinar leis? Ou seja, é possível que o juiz pegue uma parte
de uma lei e outra parte de outra lei e aplique ao caso?!
R: Não! Vide S. 501 do STJ.!
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4. Abolitio Criminis (extinção do crime): trata-se de uma lei que abole o
crime, ou seja, que extingue o crime. Isto é, o crime deixa de existir (ex.: adultério - art.
240 do CP). E em razão do art. 5º, inciso XL, da CF, essa lei retroagirá para alcançar
fatos passados, mesmo que a sentença já tenha transitado em julgado, já que
beneficiará o réu (vide o caput do art. 2º do CP).!
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ATENÇÃO: a abolitio criminis apaga os efeitos penais (reincidência), mas os
extrapenais permanecem. Ou seja, após a abolitio criminis, se for cometido outro crime,
não haverá reincidência, mas será possível o ajuizamento de ação indenizatório em face
do agente do crime extinto.!
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5. Princípio da Continuidade Normativo Típica: diferentemente da abolitio
criminis, em que há a supressão formal (revogação do artigo) e material (revogação da
conduta criminosa) da infração, nesse princípio há apenas a supressão formal (revogação
do artigo). A L. 12.015/09 revogou o delito de Atentado Violento ao Pudor (art. 214 do CP),
mas essa conduta não deixou de ser criminosa, migrando para o artigo 213 do CP, ou
seja, virou estupro. Nesse caso, a alteração foi benéfica. !
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(OAB XVIII) No dia 10 de fevereiro de 2012, João foi condenado pela
prática do delito de quadrilha armada, previsto no Art. 288, parágrafo
único, do Código Penal. Considerando as particularidades do caso
concreto, sua pena foi fixada no máximo de 06 anos de reclusão, eis que
duplicada a pena base por força da quadrilha ser armada. A decisão
transitou em julgado. Enquanto cumpria pena, entrou em vigor a Lei nº
12.850/2013, que alterou o artigo pelo qual João fora condenado. Apesar
da sanção em abstrato, excluídas as causas de aumento, ter permanecido
a mesma (reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos), o aumento de pena pelo
fato da associação ser armada passou a ser de até a metade e não mais
do dobro. Procurado pela família de João, responda aos itens a seguir.!
A) O que a defesa técnica poderia requerer em favor dele? (Valor: 0,65)!
B) Qual o juízo competente para a formulação desse requerimento? (Valor:
0,60)!
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2. EFICÁCIA DA LEI PENAL NO ESPAÇO!
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Nesse tópico, estudamos a aplicação da lei penal no território brasileiro. E para
tanto, necessário saber o que é território brasileiro.!
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→ O que vem a ser espaço ou território brasileiro?

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Trata-se do Espaço Físico (para fins penais, solo, mar até 12 milhas marítimas
e ar com o espaço aéreo correspondente ao mar) + Espaço Jurídico (embarcações e
aeronaves)!
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Caso se depare com alguma questão de embarcação e aeronave, siga o
macete abaixo, questionando:!
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1. A embarcação/aeronave é PÚBLICA? Se a resposta for positiva, aplica-se
o Princípio da Bandeira, ou seja, a lei aplicável será a da bandeira da embarcação/
aeronave (do país em que for a embarcação). Mas se não for pública…!
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2. A embarcação/aeronave é PRIVADA? ESTÁ A SERVIÇO DO GOVERNO?
Se estiver a serviço do governo recebe o mesmo tratamento da embarcação/aeronave
pública.!
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3. A EMBARCAÇÃO é PRIVADA E NÃO ESTÁ A SERVIÇO DO GOVERNO?
MAS ELA ESTÁ EM ALTO MAR? Se é privada e está em alto mar, aplica-se o Princípio
da Bandeira, ou seja, aplica-se a lei do país da embarcação.!
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Ex.: Dentro de um navio brasileiro da marinha (portanto público) na China,
um alemão mata um irlandês. Quem julga? Será o Brasil, pois o navio é público brasileiro!
Se fosse privado, mas estivesse a serviço do Brasil, também seria o Brasil, pois recebe
o tratamento de público. Se fosse privado e não estivesse a serviço do Brasil, mas tivesse
em alto mar, também seria o Brasil, já que se aplica o princípio da bandeira (se tivesse em
outro país, o outro país é quem julgará).!
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→ T E R R I T O R I A L I D A D E v s . E X T R AT E R R I T O R I A L I D A D E v s .
INTRATERRITORIALIDADE!
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X TERRITORIALIDADE EXTRATERRITORIALID INTRATERRITORIALID
ADE ADE

LUGAR DO CRIME Brasil Exterior Brasil

LEI APLICÁVEL Brasileira Brasileira Estrangeira

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→ EXTRATERRITORIALIDADE!
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1. Incondicionada (art. 7º, I e §1º): não depende de qualquer condição; será o
Brasil quem julgará no casos das alíneas “a”, “b”, “c” e “d” do inciso I do artigo 7º do CP.
Vale ressaltar que se outro país julgar em razão do princípio da territorialidade (deles), o
Brasil poderá processar e julgar novamente, nos termos do §1º do art. 7º do CP, diante da
soberania nacional que excepciona o princípio do ne bis in idem. !
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2. Condicionada (art. 7º, II e §2º): depende de 5 condições, simultâneas, para
que o Brasil julgue. As circunstâncias estão nas alíneas “a”, “b”, “c”, “d” e “e” do inciso II,
§2º, do art. 7º do CP. Nesse caso, importante destacar que vigora o princípio do ne bis in
idem, ou seja, se foi processado lá fora não pode ser processado no Brasil novamente (e
vice-versa). !
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3. Hipercondicionada (art. 7º, §3º): só é possível falar em extraterritorialidade
hipercondicionada se:!
a) crime cometido no estrangeiro;!
b) crime cometido por estrangeiro (agente); e!
c) crime cometido contra brasileiro (vítima)!
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Obs.: lembrar do caso do Jean Charles → Jean Charles de Menezes foi um
brasileiro (condição c) que ficou conhecido após ser assassinado pela SCO19, unidade
armada da Scotland Yard (condição b), dentro de um trem do metrô de Londres (condição
a). Os policiais supostamente o confundiram com Hamdi Adus Isaac suspeito de tentar
fazer um fracassado atentado a bomba no metrô.!
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Vale ressaltar que essa espécie de extraterritorialidade é chamada de
HIPERcondiconada por ter muitas condições, ou seja, as 5 condições da condicionada e
mais 2 do §3º do art. 7º do CP:!
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a) não foi pedida ou foi negada a extradição;!
b) houve requisição do Ministro da Justiça.!
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Importante lembrar que no caso Jean Charles os policiais não foram julgados
pelo Brasil, já que a 1ª condição (entrar em território nacional) não foi preenchida.!
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ATENÇÃO: em se tratando de extraterritorialidade CONDICIONADA ou
HIPERCONDICONADA, TODAS as condições devem ser preenchidas, simultaneamente
(e não alternativamente).!
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3. EFICÁCIA DA LEI PENAL QUANTO ÀS PESSOAS!
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→ IMUNIDADES!
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Imunidade é uma proteção do cargo (e não da pessoa), para que as pessoas
que os ocupam possam exercer as suas funções de maneira livre, mas dentro da lei.!
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1. Imunidade Diplomática: trata-se da proteção do DIPLOMATA. Se um
diplomata americano comete um crime no Brasil, quem o julgará será os E.U.A
(Intraterritorialidade), não importando se o crime tem relação com as suas funções.
Lembrando que a imunidade também atinge a família do diplomata.!
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#Essa imunidade também atinge o Cônsul, que protege interesses
privados (ao contrário do diplomata que representa o país)?!
R: atinge o cônsul apenas se o crime tiver nexo de causalidade com a sua
função, ou seja, for cometido em decorrência da sua função de cônsul. Caso contrário,
será julgado pelo país onde foi cometido o crime.!
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2. Imunidade Parlamentar (Congresso Nacional)!
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a) Material: trata-se da proteção dos parlamentares quanto às palavras,
opiniões e votos por ele proferidas (caput do art. 53 da CF). Lembrando que tais palavras,
opiniões e votos devem ter relação com a função exercida; caso contrário, os
parlamentares responderão pelo crime.!
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b) Formal: se divide em:!
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i) Quanto ao Foro (FORO RESTRITO - AP 937 STF): os parlamentares
federais que cometerem crimes DURANTE O MANDATO (da expedição do diploma até o
término do mandato) e EM RAZÃO DO MANDATO serão julgados pelo STF (§1º do art.
53 da CF). Ou seja, se cometerem um furto de automóvel, tráfico de drogas ou outro
crime sem nexo com as suas funções serão julgados pela Justiça de 1º grau.!
Vale ressaltar que se renunciarem ao mandato, o processo “desce” para a 1ª
instância, salvo se já estiver em fase de julgamento (se já encerrada a instrução de
julgamento e já publicado o despacho para a apresentação de memoriais). !
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ii) Quanto ao Processo: se os parlamentares cometerem crimes DURANTE O
MANDATO E EM RAZÃO DA FUNÇÃO, o STF, após o recebimento da denúncia, deverá
submeter o processo à Casa respectiva (Senado ou Câmara, a depender do parlamentar)

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para que essa autorize, por maioria absoluta, o prosseguimento do feito (§3º do art. 53 da
CF). Se suspender o feito, suspende-se também a prescrição (§5º do art. 53 da CF)!
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iii) Quanto à Prisão: deputados e senadores só podem ser presos quando do
trânsito em julgado OU em flagrante de crime inafiançável (§2º do art. 53 da CF). Ou
seja, em regra, não se admite a prisão provisória (preventiva ou temporária) de
parlamentar federal. Ocorre que o STF, excepcionalmente, autorizou a prisão no caso do
Senador Delcídio Amaral dos Santos. Atenção, então, para as provas. Se perguntar a
regra: somente em flagrante de crime inafiançável. Se trouxer a exceção, será possível
em último caso para a manutenção da ordem pública. !
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iv) Quanto à condição de testemunha: toda pessoa é obrigada a
testemunhar (art. 202 do CPP), até mesmo os parlamentares federais. Ocorre que eles
poderão se negar a testemunhar sobre informações recebidas ou prestadas em razão do
exercício do mandato, nem sobre as pessoas que lhes confiaram ou deles receberam
informações (§6º do art. 53 da CF).!
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#Essas imunidades podem ser suspensas?!
R: Por atos praticados dentro do CN, não. Mas por atos praticados fora,
durante o estado de sítio, poderão ser suspensas por 2/3 da respectiva Casa.!
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#E os parlamentares estaduais?!
R: possuem as mesmas imunidades dos federais, salvo no tocante ao foro,
pois ao invés do STF, são julgados pelo TJ, TRF ou TRE, a depender do crime (art. 27 da
CF).!
#E os vereadores?!
R: possuem apenas as imunidades materiais (art. 29, inciso VIII, da CF).!
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→ QUESTÕES IMPORTANTES!
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#Quem julga os parlamentares federais no caso de crime doloso contra a
vida?!
R: STF se tiver relação com a função, pois a própria CF se excepciona.!
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#E os parlamentares estaduais?!
R: TJ, TRF ou TRE, a depender do delito, se tiver relação com a função, pois a
própria CF se excepciona.!
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#E os vereadores?!
R: Tribunal do Júri.!
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→ Passando para o Executivo…!
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#Quem julga o Presidente que comete crime comum? !
R: STF (art. 102, I, “b” da CF)!
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#E crime político?!
R: Senado Federal (52, I, da CF). Lembrando que a Câmara autoriza por 2/3 o
processo de impeachment (art. 51, I, da CF) e o Senado, então, Julga, sob a
presidência do presidente do STF.!
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#Quem julga o Governador que comete crime comum? !
R: STJ (art. 105, I, “a”, da CF)!
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#E crime político?!
R: Assembléia Legislativa (pois não há sistema bicameral no âmbito estadual).!
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#Quem julga o prefeito que comete crime comum? !
R: 2º grau (art. 29, X, da CF)!
#E se for improbidade administrativa?!
R: por não ser crime, 1º grau (foro por prerrogativa de função é válido somente
para crimes).!
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→ Passando para o Judiciário…!
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#Quem julga o Juiz e o Promotor que cometem crime?!
R: Tribunal a que está vinculado.!
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#Mas e se o Juiz ou Promotor estiverem aposentados?!
R: embora os Juízes e Promotores gozem da vitaliciedade (art. 95, I, da CF),
por não ocuparem mais os cargos quando aposentados, perdem o foro, pois a
prerrogativa é do cargo e não da pessoa.!
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TEORIA GERAL DO DELITO!
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#O que é Crime?
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FATO TÍPICO

CRIME ILÍCITO

CULPÁVEL
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Obs.: Adota-se, então, a Teoria Tripartite (3 elementos)
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#Por que o menor não comete CRIME?
R: Em razão da falta de Culpabilidade (art. 27 do CP). A imputabilidade, que
está dentro da culpabilidade, é excluída e, portanto, se exclui, também, a culpabilidade
do menor. Se o Ministério Público DENUNCIAR o menor (e não representar), deve-se
alegar a absolvição pela falta de inimputabilidade (art. 27 do CP) e, por consequência, a
falta de culpabilidade).
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ATENÇÃO: PUNIBILIDADE não é elemento do crime, mas sim pressuposto da
pena. A pessoa pode cometer crime, mas não ser punida, a exemplo da prescrição (art.
107, IV, do CP).
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(OAB XXIII) José Barbosa, nascido em 11/03/1998, caminhava para casa
após sair da faculdade, às 11h da manhã, no dia 07/03/2016, quando se
deparou com Daniel, ex-namorado de sua atual companheira, conversando
com esta. Em razão de ciúmes, retirou a faca que trazia na mochila e
aplicou numerosas facadas no peito de Daniel, com a intenção de matá-lo.
Daniel recebeu pronto atendimento médico, foi encaminhado para um
hospital de Niterói, mas faleceu 05 dias após os golpes de faca. Já no dia
08/03/2016, policiais militares, informados sobre o fato ocorrido no dia
anterior, comparecem à residência de José Barbosa, já que um dos agentes
da lei era seu vizinho. Apesar de não ter ninguém em casa, a janela estava
aberta, e os policiais puderam ver seu interior, verificando que havia uma
faca suja de sangue escondida junto ao sofá. Diante disso, para evitar que
José Barbosa desaparecesse com a arma utilizada, ingressaram no imóvel e
apreenderam a arma branca, que foi devidamente apresentada pela
autoridade policial. Com base na prova produzida a partir da apreensão da
faca, o Ministério Público oferece denúncia em face de José Barbosa,
imputando-lhe a prática do crime de homicídio consumado. Considerando a
situação narrada, na condição de advogado(a) de José Barbosa, responda
aos itens a seguir.
A) Qual argumento a ser apresentado pela defesa técnica do denunciado
para combater a prova decorrente da apreensão da faca? Justifique.
(Valor: 0,65)
B) Existe argumento de direito material a ser apresentado em favor de
José Barbosa para evitar o prosseguimento da ação penal? Justifique.
(Valor: 0,60)
Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar suas respostas. A mera citação
ou transcrição do dispositivo legal não confere pontuação.
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→ Vamos estudar agora cada elemento do crime (FT, IL e C)…

CONDUTA

RESULTADO

FATO TÍPICO NEXO DE CAUSALIDADE

TIPICIDADE
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Obs.: conforme acima, o Fato Típico é composto por conduta, resultado, nexo
de causalidade e tipicidade. Ou seja, devem estar presentes os 4 elementos para se falar
em fato atípico. Faltando 1 elemento, o fato será atípico (ATENÇÃO: só haverá alegação
de atipicidade se faltar os 4 elementos do FATO TÍPICO. Se estiver diante de Legítima
Defesa, Estado de Necessidade…não se fala em fato atípico. 

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• Dentro de Conduta (1º elemento do FT): conduta é toda ação ou
omissão, dolosa ou culposa, que gera um resultado.

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Assim, passamos a analisar a omissão (própria e imprópria)

!
! ! Omissão Imprópria (com
Omissão Própria (sem
dever de agir) dever de agir

O agente não tem o dever de agir (é O agente tem o dever de agir


qualquer um do povo) (médico, policia, segurança, dono do
parque, da casa noturna etc.)
!Art. 135 (LER!) !Art. 13, §2º, “a”, “b” e “c” (LER!)
O agente responde por omissão de O agente responde pelo resultado
socorro (homicídio, estupro etc.)

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O artigo 135 é doloso Nesse caso, o agente pode responder


pelo resultado doloso (se devia e
podia evitar o resultado - tinha uma
opção e decidiu não salvar) ou
culposo (se apenas devia, mas não
podia evitar o resultado naquele
determinado momento - não tinha a
opção, por exemplo, não estava no
local ou estava de costas.)

!
ATENÇÃO: o agente não responde pelo CRIME DE OMISSÃO IMPRÓPRIA! NÃO
EXISTE TAL CRIME! Ele responde pelo resultado (homicídio, lesão, estupro, roubo etc.)
doloso ou culposo (no culposo só se houver previsão no tipo legal).
!
(OAB X) Erika e Ana Paula, jovens universitárias, resolvem passar o dia em
uma praia paradisíaca e, de difícil acesso (feito através de uma trilha),
bastante deserta e isolada, tão isolada que não há qualquer
estabelecimento comercial no local e nem mesmo sinal de telefonia
celular. As jovens chegam bastante cedo e, ao chegarem, percebem que
além delas há somente um salva-vidas na praia. Ana Paula decide dar um
mergulho no mar, que estava bastante calmo naquele dia. Erika, por sua
vez, sem saber nadar, decide puxar assunto com o salva-vidas, Wilson, pois
o achou muito bonito. Durante a conversa, Erika e Wilson percebem que
têm vários interesses em comum e ficam encantados um pelo outro.
Ocorre que, nesse intervalo de tempo, Wilson percebe que Ana Paula está
se afogando. Instigado por Erika, Wilson decide não efetuar o salvamento,
que era perfeitamente possível. Ana Paula, então, acaba morrendo
afogada. Nesse sentido, atento(a) apenas ao caso narrado, indique a
responsabilidade jurídico-penal de Erika e Wilson. (Valor: 1,25)
!
• Ainda dentro de conduta: Dolo e Culpa
!
DOLO (art. 18, I) CULPA (art. 18, II)

Requisitos
! !Requisitos
1. Consciência; e 1. Inobservância de um der de
2. Vontade cuidado
2. Resultado danoso involuntário
3. P R E V I S I B I L I D A D E ( s e n ã o
houver previsibilidade não
haverá crime - ex.: mendigo
que pula na frente do carro
que trafegava na velocidade
permitida na rodovia; o
condutor não responderá)

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Professor Gilbor Miter Júnior

!Espécies !Espécies
! 1. Dolo Direto (intenção) ! 1. C u l p aprópria (é a culpa
2. D o l o I n d i r e t o ( a s s u m i u o comum) vs. Imprópria (art. 20,
resultado) §1º, parte final)
2. Culpa Inconsciente (é a culpa
comum) vs. Consciente (se
aproxima muito do dolo, pois o
agente prevê o resultado, mas
espera que ele não aconteça,
não aceitando se ele acontecer
- ex.: atirador de facas do
circo, se matar a pessoa, em
tese, responde por homicídio
culposo, pois embora tenha
previsto o resultado, não o
aceitou)
! X
!Modalidades
! 1. Imprudência (é um agir)
2. Negligência (é um não agir)
3. Imperícia (é a falta de aptidão
técnica - ligada à profissão)
!ATENÇÃO: essa diferença é
muito importante, pois se o MP
colocar na denúncia
imprudência e for negligência,
deverá ser alegada a rejeição
da denúncia (art. 395, I, do CPP,
já que não observado o art. 41
do CPP)

!
!
→ EXCLUSÃO DE DOLO E CULPA: Erro de Tipo Invencível
!
!
O Erro de Tipo INVENCÍVEL exclui o dolo e a culpa, ou seja, o fato é atípico
(art. 20 do CP), ensejando a absolvição.
!
!
#MAS QUAL A DIFERENÇA ENTRE ERRO DE TIPO E ERRO DE PROIBIÇÃO?
R:
!
!
!
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!
Erro de Tipo vs. Erro de Proibição

ERRO DE PROIBIÇÃO (art.


ERRO DE TIPO (art. 20) 21)

!O agente NÃO SABE o que faz !O agente SABE o que faz, MAS PENSA QUE
NÃO É PROIBIDO

!O agente erra na ELEMENTAR do tipo X


legal

!Exemplos !Exemplo
! 1. Da caça: O agente sai para caçar ! 1. Do Holandês (usa droga - pequena
com o amigo, às 05h, escuro, e quantidade - pensando poder usar,
atira para matar o animal, mas já que no seu país pode)
acaba matando o amigo, que se 2. Índio não integrado na sociedade
encontrava atrás da moita; que caça um animal que está
2. D o F u r t o : o a g e n t e , proibida a caça, em razão de sua
equivocadamente, pega o celular extinção
em cima da mesa do bar, em que
se encontrava várias pessoas,
pensando ser o seu, mas não era
(a princípio responde por furto,
mas diante do erro invencível
(celular igual) não responderá por
atipicidade, pois errou na
elementar "alheia)
3. Do Estupro: o agente que comete
ato libidinoso com menor de 14,
não sabendo da idade, pode ser
absolvido, dependendo das
condições do caso concreto
(vítima com porte físico de 18
anos; vítima que falou que tinha
mais de 14), por erro de tipo
invencível

!Espécies !Espécie
! 1. Primário ! 1. Primário
a) I n v e n c í v e l ( t o d a p e s s o a a) I n v e n c í v e l ( t o d a p e s s o a
cometeria o mesmo erro, cometeria o mesmo erro,
excluindo dolo e culpa) excluindo a culpabilidade)
b) Vencível (nem toda pessoa b) Vencível (nem toda pessoa
cometeria o mesmo erro, a cometeria o mesmo erro, a
exemplo do homem médio, exemplo do homem médio,
excluindo apenas o dolo e apenas diminuindo a pena)
permitindo a punição culposa)

13
Professor Gilbor Miter Júnior
!
(OAB XIV) Felipe, com 18 anos de idade, em um bar com outros amigos,
conheceu Ana, linda jovem, por quem se encantou. Após um bate-papo
informal e troca de beijos, decidiram ir para um local mais reservado.
Nesse local trocaram carícias, e Ana, de forma voluntária, praticou sexo
oral e vaginal com Felipe. Depois da noite juntos, ambos foram para suas
residências, tendo antes trocado telefones e contatos nas redes sociais. No
dia seguinte, Felipe, ao acessar a página de Ana na rede social, descobre
que, apesar da aparência adulta, esta possui apenas 13 (treze) anos de
idade, tendo Felipe ficado em choque com essa constatação. O seu medo
foi corroborado com a chegada da notícia, em sua residência, da denúncia
movida por parte do Ministério Público Estadual, pois o pai de Ana, ao
descobrir o ocorrido, procurou a autoridade policial, narrando o fato. Por
Ana ser inimputável e contar, à época dos fatos, com 13 (treze) anos de
idade, o Ministério Público Estadual denunciou Felipe pela prática de dois
crimes de estupro de vulnerável, previsto no artigo 217- A, na forma do
artigo 69, ambos do Código Penal. O Parquet requereu o início de
cumprimento de pena no regime fechado, com base no artigo 2º, § 1º, da
lei 8.072/90, e o reconhecimento da agravante da embriaguez
preordenada, prevista no artigo 61, II, alínea l, do CP. O processo teve
início e prosseguimento na XX Vara Criminal da cidade de Vitória, no
Estado do Espírito Santo, local de residência do réu. Felipe, por ser réu
primário, ter bons antecedentes e residência fixa, respondeu ao processo
em liberdade. Na audiência de instrução e julgamento, a vítima afirmou
que aquela foi a sua primeira noite, mas que tinha o hábito de fugir de
casa com as amigas para frequentar bares de adultos. As testemunhas de
acusação afirmaram que não viram os fatos e que não sabiam das fugas de
Ana para sair com as amigas. As testemunhas de defesa, amigos de Felipe,
disseram que o comportamento e a vestimenta da Ana eram incompatíveis
com uma menina de 13 (treze) anos e que qualquer pessoa acreditaria ser
uma pessoa maior de 14 (quatorze) anos, e que Felipe não estava
embriagado quando conheceu Ana. O réu, em seu interrogatório, disse que
se interessou por Ana, por ser muito bonita e por estar bem vestida. Disse
que não perguntou a sua idade, pois acreditou que no local somente
pudessem frequentar pessoas maiores de 18 (dezoito) anos. Corroborou
que praticaram o sexo oral e vaginal na mesma oportunidade, de forma
espontânea e voluntária por ambos. A prova pericial atestou que a menor
não era virgem, mas não pôde afirmar que aquele ato sexual foi o primeiro
da vítima, pois a perícia foi realizada longos meses após o ato sexual. O
Ministério Público pugnou pela condenação de Felipe nos termos da
denúncia. A defesa de Felipe foi intimada no dia 10 de abril de 2014
(quinta-feira). Responda:
a) Qual a peça cabível? Fundamente. (0,6)
b) Qual a tese absolutória a ser alegada em favor de Felipe? Fundamente.
(0,65
!
14
Professor Gilbor Miter Júnior

(OAB XXII) Em inquérito policial, Antônio é indiciado pela prática de crime
de estupro de vulnerável, figurando como vítima Joana, filha da grande
amiga da Promotora de Justiça Carla, que, inclusive, aconselhou a família
sobre como agir diante do ocorrido. Segundo consta do inquérito, Antônio
encontrou Joana durante uma festa de música eletrônica e, após conversa
em que Joan a afirmara que cursava a Faculdade de Direito, foram para um
motel onde mantiveram relações sexuais, vindo Antônio, posteriormente, a
tomar conhecimento de que Joana tinha apenas 13 anos de idade.
Recebido o inquérito concluído, Carla oferece denúncia em face de
Antônio, imputando-lhe a prática do crime previsto no Art. 217-A do
Código Penal, ressaltando a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal no
sentido de que, para a configuração do delito, não se deve analisar o
passado da vítima, bastando que a mesma seja menor de 14 anos.
Considerando a situação narrada, na condição de advogado(a) de Antônio,
responda aos itens a seguir.
A) Existe alguma medida a ser apresentada pela defesa técnica para
impedir Carla de participar do processo? Justifique. (Valor: 0,60)
B) Qual a principal alegação defensiva de direito material a ser
apresentada em busca da absolvição do denunciado? Justifique.(Valor:
0,65)
!
→ Aproveitando o tópico de Erro de Tipo, existe também o erro de tipo
SECUNDÁRIO, que não exclui a responsabilidade do agente (vai responder pelo crime)!
!
São espécies de erro de tipo SECUNDÁRIO:
!
1. Quanto ao objeto: o agente responde pelo resultado ocorrido (e não
pretendido). Sujeito quer furtar um relógio de ouro, mas acaba um furtando relógio
dourado, de latão, pensando ser de ouro. Responderá pelo relógio de latão (resultado
ocorrido), podendo, inclusive, ser aplicado o princípio da insignificância, ou até o furto
privilegiado (art. 155, §2º, do Código Penal).
!
2) Quanto à pessoa: o agente responde pelo resultado pretendido (e não
ocorrido) (art. 20, §3º, do Código Penal). Fulano quer matar Beltrano e atira nele, que
cai e morre. Quando Fulano aproxima, verifica que a pessoa caída não era Beltrano, e
sim o irmão gêmeo deste, Sicrano. Responderá pela morte de Beltrano (vítima
pretendida).
!
3. Quanto à execução (aberratio ictus): o agente responde pelo resultado
pretendido (e não ocorrido) (art. 73 do Código Penal). Fulano quer matar Beltrano e

15
Professor Gilbor Miter Júnior
atira nele, porém, erra o alvo, acertando Sicrano que estava ao lado de Beltrano.
Fulano responderá pela morte de Beltrano (vítima pretendida).
!
ATENÇÃO: no erro na pessoa, o agente acerta o alvo, mas quando vai
conferir, não é a pessoa pretendida. No erro na execução o agente erra o alvo,
acertando pessoa diversa.
!
4. Quanto ao Crime (aberratio criminis): o agente responde pelo resultado
ocorrido culposo (art. 74 do Código Penal). Diferentemente do erro quanto à pessoa e o
erro quanto à execução, em que se pretende acertar uma pessoa e acerta outra pessoa
(pessoa → pessoa), no erro quanto ao crime o agente quer acertar um objeto e acerta
uma pessoa (objeto → pessoa), respondendo pelo crime contra a pessoa, na modalidade
culposa. Ex.: Fulano quer acertar o vidro do carro de Beltrano, mas este abre a janela e
acaba acertando Beltrano, matando-o. Fulano responderá por homicídio culposo.
!
#E SE ACONTECER OS DOIS RESULTADOS?
R: Haverá concurso formal (art. 70 do Código Penal). ATENÇÃO!!! Não é
concurso material, e sim concurso formal (vide arts. 74, 73 e 70).
!
Passamos agora para o 2º elemento do FT:
!
• Resultado:


Todo crime tem, ao menos, um resultado jurídico, tendo em vista que a


missão do Direito Penal é proteger bens jurídicos.
!
Ocorre que, no crime impossível, não há a possibilidade de consumação (de se
atingir o resultado). Sendo assim, o crime será impossível por ABSOLUTA
IMPROPRIEDADE DO OBJETO ou por ABSOLUTA INEFICÁCIA DO MEIO.
Absoluta impropriedade do objeto ocorre quando o próprio objeto do crime
não existe (ex. 1: atirar no cadáver (não há pessoa, não há vida); ex. 2: tentar matar o
feto e a mulher não está grávida).
Absoluta ineficácia do meio ocorre quando o instrumento do crime não é
eficaz para atingir o resultado (ex. 1: a arma não dispara; ex. 2: o veneno para matar
não tem princípio ativo; ex. 3: o remédio para aborto não tem o princípio ativo).
!
Obs.: O STJ, na Súmula 567, entendeu que o sistema de monitoramento
eletrônico (câmeras de segurança), por si só, não configura crime impossível por
16
Professor Gilbor Miter Júnior
absoluta ineficácia do meio, haja vista que o agente pode conseguir consumar o crime
(ex.: câmeras de segurança, por si só, não impedem que alguém subtraia produto do
supermercado; a pessoa pessoa pode sair correndo, razão pela qual o crime não é
impossível só pela existência das câmeras de segurança).
!
ATENÇÃO: tanto a impropriedade como a ineficácia têm que ser ABSOLUTAS,
pois se relativas configurará tentativa (ex.: se a perícia atesta que a arma não disparou,
mas se o agente puxasse o gatilho mais 2 vezes a arma dispararia - poderá responder por
tentativa de homicídio).
!
(OAB XXVIII) Túlio, nascido em 01/01/1996, primário, começa a namorar
Joaquina, jovem que recém completou 15 anos. Logo após o início do
namoro, ainda muito apaixonado, é surpreendido pela informação de que
Joaquina estaria grávida de seu ex-namorado, o adolescente João, com
quem mantivera relações sexuais. Joaquina demonstra toda a sua
preocupação com a reação de seus pais diante desta gravidez quando tão
jovem e, em desespero, solicita ajuda de Túlio para realizar um aborto.
Diante disso, no dia 03/01/2014, em Porto Alegre, Túlio adquire remédio
abortivo cuja venda era proibida sem prescrição médica e o entrega para a
namorada, que, de imediato, passa a fazer uso dele. Joaquina, então,
expele algo não identificado pela vagina, que ela acredita ser o feto. Os
pais presenciam os fatos e levam a filha imediatamente ao hospital; em
seguida, comparecem à Delegacia e narram o ocorrido. No hospital, foi
informado pelos médicos que, na verdade, Joaquina possuía um cisto, mas
nunca estivera grávida, e o que fora expelido não era um feto. Após
investigação, no dia 20/01/2014, Túlio vem a ser denunciado pelo crime do
Art. 126, caput, c/c. o Art. 14, inciso II, ambos do Código Penal, perante o
juízo do Tribunal do Júri da Comarca de Porto Alegre/RS, não sendo
oferecido qualquer instituto despenalizador, apesar do reclamo defensivo.
A inicial acusatória foi recebida em 22/01/2014. Durante a instrução da
primeira fase do procedimento especial, são ouvidas as testemunhas e
Joaquina, assim como interrogado o réu, todos confirmando o ocorrido. As
partes apresentaram alegações finais orais, e o juiz determinou a
conclusão do feito para decisão. Antes de ser proferida decisão, mas após
manifestação das partes em alegações finais, foram juntados aos autos o
boletim de atendimento médico de Joaquina, no qual consta a informação
de que ela não estivera grávida no momento dos fatos, a Folha de
Antecedentes Criminais de Túlio sem outras anotações e um exame de
corpo de delito, que indicava que o remédio utilizado não causara lesões
na adolescente. Com a juntada da documentação, de imediato, sem a
adoção de qualquer medida, o magistrado proferiu decisão de pronúncia
nos termos da denúncia, sendo publicada na mesma data, qual seja, 18 de
junho de 2018, segunda-feira, ocasião em que as partes foram intimadas.
Considerando apenas as informações narradas, na condição de advogado(a)
de Túlio, responda:

17
Professor Gilbor Miter Júnior
a) Qual a peça cabível? Fundamente. (0,6)
b) Qual a tese absolutória a ser alegada em favor de Túlio? Fundamente.
(0,65)
!
Passamos, agora, para o 3º elemento do Fato Típico:
!
• Nexo de Causalidade
!
Nexo de Causalidade é a ligação da conduta ao resultado, ou seja, o
resultado só aconteceu por causa da conduta do agente.
!
Caso não fique comprovado que a morte decorreu da conduta da pessoa, não
há nexo causal e, por consequência, não há responsabilização pela morte (podendo
haver por tentativa no caso de concausas, conforme veremos a seguir).
!
#O que são concausas?
R: Trata-se da ocorrência de concurso de causas, isto é, duas ou mais causas
que contribuem para o resultado.
!
• Dentro de nexo de causalidade: Concausas!

! !
C O N C A U S A A B S O L U TA M E N T E C O N C A U S A R E L AT I VA M E N T E
INDEPENDENTE INDEPENDENTE

!Uma causa não depende da outra !Uma causa depende da outra (tem
ligação com a outra)
Exemplo do veneno: “A” ministra veneno Exemplo da ambulância: “A” dá um tiro
na sopa da esposa, com intenção de em “B”. “B” é levado ao hospital, mas no
matá-la. Porém, quando a esposa está caminho a ambulância colide com um
tomando a sopa, um bandido entra e dá posto e “B” morre em razão da colisão (e
um tiro na espoa, matando-a. O Laudo não do tiro). Há ligação entre as causas,
constata que a esposa morreu em razão pois se não fosse o tiro, “B” não estaria
do tiro e não do veneno (na questão o na ambulância e não teria morrido.
laudo vai aparecer). Ora, o veneno não Calma, já já analisaremos por qual crime
tem relação com o tiro, por isso se trata “A” responderá!
d e u m a c a u s a A B S O L U TA M E N T E
independente. Calma, já já analisaremos
por qual crime “A” responderá!

18
Professor Gilbor Miter Júnior
Ou seja, na questão ou peça, a primeira coisa que se deve fazer é analisar se é
ABSOLUTAMENTE independente ou RELATIVAMENTE independente, e só depois analisar a
responsabilidade conforme as concausas.
!
!
- Concausa ABSOLUTAMENTE independente (aproveitando o exemplo da
veneno na sopa e do tiro acima) (importante mencionar que o laudo pericial atestará
a razão do resultado).
!
!
! !C A U S A !
E F E T I VA ( q u e CAUSA CONCORRENTE (a
ESPÉCIES
levou ao resultado) outra causa)
Preexistente (a causa que Ministrar veneno Tiro
leva ao resultado vem ( a g e n t e r e s p o n d e p o r ( a g e n t e r e s p o n d e p o r
antes) consumado) tentativa)
!
Concomitante (a causa que Ministrar veneno Tiro
leva ao resultado vem ( a g e n t e r e s p o n d e p o r O agente que acertou a
junto com a outra causa) consumado) vítima no mesmo momento
! em que o princípio ativo
do veneno estava fazendo
efeito responde por
tentativa) (o laudo vai
trazer tal condição)
Superveniente (a causa Tiro Ministrar veneno
que leva ao resultado vem (o agente responde por (o agente responde por
depois) consumado) tentado)

!
!
ATENÇÃO: note que o agente responsável pela causa concorrente (a que não
matou efetivamente, responderá por tentativa). Se o MP denunciar por consumado,
deverá a defesa, no caso concreto, buscar a tentativa (p.ú. do art. 14 do CP).
!
!
!
!
!
!
!
19
Professor Gilbor Miter Júnior
!
!
- Concausa RELATIVAMENTE independente
!
! !C A U S A !
E F E T I VA ( q u e CAUSA CONCORRENTE (a
ESPÉCIES
levou ao resultado) outra causa)
Preexistente (a causa que Hemofilia Facada
leva ao resultado vem “A” possui hemofilia. “B” - Se “B” tem intenção de
antes) dá uma facada em “A”, matar e sabe da
!! que morre em razão da
hemofilia.
hemofilia: responde por
consumado;
! - Se “B” não sabe da
hemofilia, não tem
intenção de matar e dá
um golpe em uma REGIÃO
NÃO LETAL, “B” poderá
responder por lesão
corporal seguida de morte
(MP vai denunciar por
homicídio; alegar lesão).
Concomitante (a causa Ataque cardíaco (sem Tiro
que leva ao resultado vem histórico) “A” responde por
junto com a outra causa) “A” quer matar “B” e homicídio consumado, pois
!! defere um tiro em sua
direção, mas “B” morre
queria matar “B”.

em razão do ataque
cardíaco.
Superveniente (a causa Acidente de ambulância Tiro
que leva ao resultado vem “A” dá um tiro em “B”. "A" responderá pelos atos
depois) “B” é levado ao hospital, até então praticados:
!! mas no caminho acontece
um acidente de trânsito e
- Se queria matar “B” e
desferiu um tiro em região
morre em razão do legal, responderá por
acidente. tentativa de homicídio
Quem causou o acidente - Se não queria matar “B”,
responderá por homicídio desferindo um tiro no pé,
culposo ou doloso, a por exemplo, responderá
depender da situação. apenas por lesão corporal

(VIDE ART. 13, §1º, do CP)

!


Vamos agora ao 4º elemento do Fato Típico
!
• Tipicidade: há duas espécies de tipicidade:

!
!
20
Professor Gilbor Miter Júnior
!
!
! !Tipicidade Material
Tipicidade Formal

Ajuste do fato à norma (analisa-se o Relevância da Conduta (Princípio da


fato que a agente cometeu e Insignificância): toda conduta deve
conclui-se se há um crime no CP ou ser relevante, causar um resultado
não; se há, cometeu fato típico; se relevante, pois se não for/causar o
não há, não cometeu fato típico e fato será atípico.
deverá ser requerida a sua Obs. 1: o princípio da insignificância
absolvição pela atipicidade (ex.: não se aplica aos crimes violentos
FURTO USO - que é o famoso “pegar (aplica-se ao furto, mas não se aplica
emprestado” não é crime previsto no ao roubo).
CP e, portanto, não há tipicidade). Obs. 2: Não há um valor certo e
Lembrando que não existe “ROUBO determinado. Para a aplicação, deve-
DE USO”, ou seja, será crime. se analisar a condição financeira da
VÍTIMA (R$100,00 para uma pessoa
que ganha um salário mínimo não há
princípio da insignificância, mas R
$100,00 para um Hipermercado, há.
Obs. 3: vide S. 599 do STJ (não se
aplica aos crimes contra a
Administração Pública - ex.:
peculato, corrupção etc.).

!
(OAB XVII) Daniel, nascido em 02 de abril de 1990, é filho de Rita,
empregada doméstica que trabalha na residência da família Souza. Ao
tomar conhecimento, por meio de sua mãe, que os donos da residência
estariam viajando para comemorar a virada de ano, vai até o local, no dia
02 de janeiro de 2010, e subtrai o veículo automotor dos patrões de sua
genitora, pois queria fazer um passeio com sua namorada. Desde o início,
contudo, pretende apenas utilizar o carro para fazer um passeio pelo
quarteirão e, depois, após encher o tanque de gasolina novamente,
devolvê-lo no mesmo local de onde o subtraiu, evitando ser descoberto
pelos proprietários. Ocorre que, quando foi concluir seu plano, já na
entrada da garagem para devolver o automóvel no mesmo lugar em que o
havia subtraído, foi surpreendido por policiais militares, que, sem
ingressar na residência, perguntaram sobre a propriedade do bem. Ao
analisarem as câmeras de segurança da residência, fornecidas pelo próprio
Daniel, perceberam os agentes da lei que ele havia retirado o carro sem
autorização do verdadeiro proprietário. Foi, então, Daniel denunciado pela
prática do crime de furto simples, destacando o Ministério Público que
deixava de oferecer proposta de suspensão condicional do processo por
não estarem preenchidos os requisitos do Art. 89 da Lei nº 9.099/95, tendo
em vista que Daniel responde a outra ação penal pela prática do crime de
porte de arma de fogo. Em 18 de março de 2010, a denúncia foi recebida
pelo juízo competente, qual seja, da 1ª Vara Criminal da Comarca de
Florianópolis. Os fatos acima descritos são integralmente confirmados
21
Professor Gilbor Miter Júnior
durante a instrução, sendo certo que Daniel respondeu ao processo em
liberdade. Foram ouvidos os policiais militares como testemunhas de
acusação, e o acusado foi interrogado, confessando que, de fato, utilizou o
veículo sem autorização, mas que sua intenção era devolvê-lo, tanto que
foi preso quando ingressava na garagem dos proprietários do automóvel.
Após, foi juntada a Folha de Antecedentes Criminais de Daniel, que
ostentava apenas aquele processo pelo porte de arma de fogo, que não
tivera proferida sentença até o momento, o laudo de avaliação indireta do
automóvel e o vídeo da câmera de segurança da residência. O Ministério
Público, em sua manifestação derradeira, requereu a condenação nos
termos da denúncia. A defesa de Daniel é intimada em 17 de julho de
2015, sexta feira. Com base nas informações acima expostas e naquelas
que podem ser inferidas do caso concreto, redija a peça cabível, excluída
a possibilidade de habeas corpus, no último dia do prazo para interposição,
sustentando todas as teses jurídicas pertinentes.
a) Qual a peça cabível? Fundamente (0,6)
b) Qual a tese absolutória? Fundamente. (0,65)
!
!
ILICITUDE (2º SUBSTRATO DO CRIME)
!
→ CAUSAS EXCLUDENTES DA ILICITUDE
!
Nesse caso, o sujeito cometerá o fato típico, porém estará acobertado por
uma excludente da ilicitude, o que ensejará, também, a sua absolvição (CUIDADO: não
se pode falar que nesse caso o fato é atípico; nesse caso alega-se a excludente da
ilicitude, que também ensejará a absolvição).
Estão previstas no art. 23 do CP (+ 24 e 25). Contudo, esse rol não é taxativo,
uma vez que as hipóteses de aborto permitido do artigo 128 do Código Penal também
excluem a ilicitude.
As excludentes do art. 23 do CP são:
!
Estado de Necessidade (EN)
Legítima Defesa (LD)
Estrito Cumprimento do Dever Legal (ECDL)
Exercício Regular do Direito (ERD)
!
!
22
Professor Gilbor Miter Júnior
!
Abaixo estudaremos todas as hipóteses. Mas lembre-se desde já: Numa
segunda fase, não basta você alegar que o agente está sob EN, LD, ECDL ou ERD. Deve-se
alegar isso + todos os requisitos de cada excludente, ou seja, argumentar todos os
requisitos, como veremos abaixo.
!
1. Estado de Necessidade
!
Trata-se de uma excludente de ilicitude em que o agente, diante de um risco
atual (1º requisito), não causado por ele dolosamente (2º requisito), decide sacrificar um
bem jurídico, de igual ou menor valor deles para um de igual ou maior valor (3º requisito
- razoabilidade/proporcionalidade), sendo aquele sacrifício o único meio para se salvar,
ou seja, não havendo outro modo de evitar tal sacrifício (4º requisito):
!
“Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para
salvar de perigo ATUAL, QUE NÃO PROVOCOU POR SUA VONTADE, NEM
PODIA DE OUTRO MODO EVITAR, direito próprio ou alheio, CUJO
SACRIFÍCIO, NAS CIRCUNSTÂNCIAS, NÃO ERA RAZOÁVEL EXIGIR-SE (Redação
dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
!
Ex.: em um naufrágio, é possível uma pessoa matar a outra para ficar com a
única bóia do navio.
!
Ex.: furto famélico - é lícito furtar o NECESSÁRIO PARA A SOBREVIVÊNCIA
(ex.: alimento necessário e remédio) para salvar-se ou salvar terceiro. ATENÇÃO: isso
não se confunde com o princípio da insignificância aplicado no furto, pois aí exclui a
tipicidade (fato atípico). Já no furto famélico o que se exclui é a ilicitude, e é só o
necessário para a sobrevivência (ex.: para o agente que furta uma lata de cerveja deve-
se alegar o princípio da insignificância, pois a lata de cerveja não é necessária para a
sobrevivência; já um pacote de arroz, feijão e macarrão deve-se alegar o Estado de
Necessidade).
!
ATENÇÃO: Na 2ª fase, numa peça em que uma mãe furtou 2 pacotes de
macarrão, no valor de R$18,00, para saciar a fome do filho, a FGV considerou as duas
teses: Estado de Necessidade pelo Furto Famélico e Princípio da Insignificância pelo
valor, já que foi trazido tanto o alimento necessário como o valor do alimento. Quem
alegou as 2 teses recebeu maior pontuação. Quem alegou somente uma, recebeu menor
pontuação (o espelho de correção trouxe as duas).
!
!
23
Professor Gilbor Miter Júnior
!
Observação: Só alegue 2 teses para cada ponto, quando realmente couber as
duas teses. Coloque, sempre, a palavra SUBSIDIARIAMENTE na segunda tese. Não despeje
todas as teses que você acha que cabe, pois o legislador pode deduzir que você não tem
conhecimento específico sobre o caso (o que na minha opinião não poderia ser
justificado, mas enfim, FGV é FGV!).
!
→ Com relação aos parágrafos do art. 24, importante se lembrar que:
!
Art. 24. § 1º - Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever
legal de enfrentar o perigo (excepcionalmente é possível: quando o perigo
não comporta enfrentamento - ex.: 10 integrantes da quadrilha entra em
um Banco, fortemente armada; o segurança, embora tenha o dever de
agir, poderá alegar EN, já que o perigo não comporta enfrentamento,
tendo em vista que ele está sozinho e tem uma arma de pequeno
potencial ofensivo comparada com a dos assaltantes).
!
Art. 24. § 2º - Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito
ameaçado, a pena poderá ser reduzida de um a dois terços (se o bem
sacrificado for de maior valor que salvado, só há redução de pena)
!
2. Legítima Defesa
!
Trata-se de uma excludente da ilicitude que possibilita o agente responder
uma agressão INJUSTA (1º requisito), atual ou iminente (2º requisito - entrando o
iminente), desde que o faça usando dos MEIOS NECESSÁRIOS (3º requisito), de forma
MODERADA (4º requisito):
!
“Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos
meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu
ou de outrem”.
!
Vale lembrar que aquele que está armado, e está sendo atacado por outrem
com um facão, está autorizado a atirar, uma vez que a sua vida também está em risco.
Não é exigido que ele pare a briga, vá até a sua casa, pegue um facão, volte, e aí sim
responda à agressão. Lembre-se: é o meio necessário que a pessoa tem no momento da
agressão para se defender.
!
24
Professor Gilbor Miter Júnior
ATENÇÃO PARA O EXCESSO: se o agredido, cessada a agressão, continua a
agredir o agressor originário, ele responderá pelo excesso, ou seja, pelo crime causado.
E mais, o agredido originário, nesse caso, passa a ser agressor, e o agressor originário
passa a ser agredido, podendo esse último (agressor originário) alegar legítima defesa
contra o agredido originário. Ex.: Caio dá um soco em Tício. Tício dá um soco em Caio e
cessa a agressão, pois Caio cai. Tício, não contente, sobe em Caio e começa a desferir
vários e vários golpes. Caio, que está armado, e para se defender, pode responder a
agressão (com um pedaço de pau, faca ou revólver - meios que tem naquele momento).
!
Se ainda persiste alguma dúvida entre EN ou LD, lembre-se: no EN não há
agressão injusta, mas sim JUSTA. Se uma pessoa mata a outra, ela mata de forma justa,
respondendo a uma agressão justa. Já na LD, sempre haverá uma agressão INJUSTA, ou
seja, uma pessoa ataca injustamente a outra, e essa se defende da agressão injusta.
!
#ATAQUE ANIMAL (cachorro, por exemplo) CONFIGURA EN OU LD?

R: CUIDADO! Questão recorrente tanto na 1ª quanto na 2ª fase da OAB:
1) se o animal ataca por sua própria natureza (por seu instinto): EN
2) se o animal ataca por induzimento do dono: LD
!
(OAB XXIV) Pablo, que possui quatro condenações pela prática de crimes
com violência ou grave ameaça à pessoa, estava no quintal de sua
residência brincando com seu filho, quando ingressa em seu terreno um
cachorro sem coleira. O animal adota um comportamento agressivo e
começa a tentar atacar a criança de 05 anos, que brincava no quintal com
o pai. Diante disso, Pablo pega um pedaço de pau que estava no chão e
desfere forte golpe na cabeça no cachorro, vindo o animal a falecer. No
momento seguinte, chega ao local o dono do cachorro, que, inconformado
com a morte deste, chama a polícia, que realiza a prisão em flagrante de
Pablo pela prática do crime do Art. 32 da Lei nº 9.605/98. Os fatos acima
descritos são integralmente confirmados no inquérito pelas testemunhas.
Considerando que Pablo é multirreincidente na prática de crimes graves, o
Ministério Público se manifesta pela conversão do flagrante em preventiva,
afirmando o risco à ordem pública pela reiteração delitiva. Considerando
as informações narradas, na condição de advogado(a) de Pablo, que deverá
se manifestar antes da decisão do magistrado quanto ao requerimento do
Ministério Público, responda aos itens a seguir.
A) Qual pedido deverá ser formulado pela defesa de Pablo para evitar o
acolhimento da manifestação pela conversão da prisão em flagrante em
preventiva? Justifique. (Valor: 0,60)
B) Sendo oferecida denúncia, qual argumento de direito material poderá
ser apresentado em busca da absolvição de Pablo? Justifique. (Valor: 0,65)
!
25
Professor Gilbor Miter Júnior
!
!
#O QUE VEM A SER LEGÍTIMA DEFESA PUTATIVA
R: Trata-se da LD imaginária, ou seja, o agente acha que está em LD, mas não
está. Se o erro é sobre a circunstância fática, a Teoria Limitada da Culpabilidade
(adotada) entende que se trata de Erro de Tipo; se invencível exclui dolo e culpa e o
fato será atípico (embora o art. 20, parágrafo 1º, do CP disponha ser o agente isento de
pena, não é, pois o fato é atípico).
Ex.: Caio ameaça seu vizinho Tício, gritando que se ele colocar os pés na rua,
a mulher dele poderá encomendar o seu caixão. Tício, que precisa trabalhar, sai, mas
passa a andar armado. Voltando para casa, às 00h, se depara, em um beco escuro,
isolado, com Caio. Caio coloca a mão no bolso. Tício, pensando se tratar de uma arma,
saca a sua arma e desfere um tiro contra Caio, ceifando a sua vida. Quando Tício chega
perto do corpo e vai analisar o que Caio ia tirar do bolso, se depara com um celular.
Tício agiu em legítima defesa putativa, pois imaginou que Caio atiraria contra ele e, já
que a situação era plenamente justificável (ameaça concreta, 00h e local isolado), Tício
não responderá, pois o fato é atípico, nos termos do art. 20, §1º, primeira parte, do CP.
(o artigo fala em isenção de pena, mas para a Teoria da Culpabilidade Limitada, trata-se
de erro sobre a circunstância fática, e já que invencível exclui o fato típico). Se a
situação não fosse plenamente justificável (ameaça abstrata, frágil, 12h, local com
várias pessoas), Tício responderia por homicídio culposo, nos termos do art. 20, §1º,
parte final, do CP (trata-se da culpa imprópria, única modalidade que admite tentativa).
!
!
3. ESTRITO CUMPRIMENTO DO DEVER LEGAL (a ação é obrigatória)
!
Excludente da ilicitude atrelada com o funcionalismo público, ou seja, o
funcionário público age, muitas vezes comentado um crime, mas age autorizado e
acobertado por uma lei.
Ex.: Policial que para efetuar a prisão em flagrante de um agente criminoso
que está resistindo à prisão, emprega força física e acaba cometendo lesões leves no
agente criminoso. O Policial não responderá por ECDL.
!
ATENÇÃO: o particular, quando exerce função pública, ou cumpri dever
imposto na lei, também age em Estrito Cumprimento do Dever Legal (ex.: jurado e
mesário) (ex.: advogado que se recusa a depor sobre fatos que tomou conhecimento no
exercício de sua função).
!
ATENÇÃO: se o agente criminoso saca uma arma e atira no policial, o policial
pode repelir a injusta agressão e atirar no agente, alegando LD e não ECDL.

26
Professor Gilbor Miter Júnior
!
4. EXERCÍCIO REGULAR DO DIREITO (a ação é facultativa)
!
Trata-se do exercício de um direito regulado em lei, atrasado com o particular
em geral.
!
Ex.: prisão facultativa do art. 302 do CPP (todos PODEM realizar a prisão em
flagrante de alguém, até mesmo o particular, alegando ERD).
!
Ex.: Lesões desportivas (no MMA, se um lutador acerta um soco em outro
lutador, dentro das normas do esporte, e esse morre, o agressor não responderá por
qualquer crime, pois está acobertado pelo ERD - ATENÇÃO: se acaba a luta e há o golpe
e a morte, o lutador responderá, pois está agindo fora das regras, ou seja, está
exercendo IRREGULARMENTE um direito, e não REGULARMENTE) (Lembrar do caso do
Mike Tyson vs. Evander Holyfield - nas regras brasileiras, responde por lesão corporal).
!
Ex.: Ofendículos enquanto não acionados - aparatos para a defesa do
patrimônio (cerca elétrica, cacos de vidros no muro, pregos no muro,
cachorro e etc.) (ATENÇÃO: o aparato deve ser proporcional, ou seja, não
apto a causar a morte instantânea da pessoa, pois se for desproporcional, o
dono do imóvel responderá). (ATENÇÃO: se o ofendículo for acionado - ou
seja, se alguém pular o muro e for atingido pela cerca elétrica -, deve-se
alegar, conforme doutrina predominante (já caiu na OAB), Legítima Defesa
Preordenada, e não ERD.

!
CULPABILIDADE (3º SUBSTRATO DO CRIME)
!
A culpabilidade, como 3º substrato do crime, também exclui o crime e enseja
a absolvição (não causa atipicidade; não causa excludente da ilicitude; trata-se de
hipótese de absolvição por excludente da própria CULPABILIDADE) (ou seja, o fato é
típico, ilícito mas não Culpável).
!
!
→ São ELEMENTOS da Culpabilidade:
!
!
27
Professor Gilbor Miter Júnior
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!
1. Imputabilidade: 18 anos na data do fato e capacidade.
!
2. Exigibilidade de conduta diversa: para ser crime, deve ser exigível que a
pessoa aja de modo diverso (ex.: se a pessoa sem mais sem menos matou a outra,
ela responderá por crime, porque era exigido que ela não agisse assim, ou seja,
agisse de modo diverso, isto é, não matando) (agora, se o agente rouba um banco
porque o mandante iria matar toda a sua família, o agente não responderá pelo
roubo (mas só o mandante), pois não era razoável exigir que ele não roubasse, já que
a sua família morreria, ou seja, é compreensível que ele roube, pois está agindo em
coação moral irresistível, que exclui a Exigibilidade de Conduta Diversa).
!
3. Potencial conhecimento da ilicitude: para responsabilizar uma pessoa,
ela deve ter consciência de o que ela está praticando é crime, caso contrário ela não
responderá, como é o caso do erro de proibição (índio não civilizado ou não
integrado que caça animal que não sabe estar em extinção).
!
Ou seja, para um agente ser culpável ele deve ser imputável, deve ser
exigido que ele aja de modo diverso e que ele tenha potencial consciência da conduta
criminosa, caso contrário ele não será culpável e, por consequência, será absolvido,
embora possa ter praticado um fato típico e ilícito.
!
→ E são hipóteses que EXCLUEM os elementos acima da culpabilidade:
!
1. INIMputabilidade: que se dá pela:
!
a) Menoridade (art. 27)
b) Doença mental (art. 26) (97 e 98)
c) Embriaguez Involuntária Completa (art. 28)


!
a) Pela menoridade: basta o agente ter menos de 18 anos na data do fato
(critério biológico - basta a idade, ou seja, a biologia da pessoa). Se ele tiver menos de
18 anos e o MP denunciar, deve ser requerida a sua absolvição pela inimputabilidade
(art. 27 do CP), que exclui a culpabilidade (lembrando não há absolvição SUMÁRIA por
inimputabilidade, nos termos do art. 397, II, parte final, do CPP, bem como nos termos
do art. 415, parágrafo único, do CPP, caso não seja a única tese, pois se for é possível).

28
Professor Gilbor Miter Júnior
!
b) Pela doença mental: não basta ter a doença; é preciso ter a doença e ser
INTEIRAMENTE incapaz de entender o caráter ilícito (critério biopsicológico) ou de se
autodeterminar (art. 26). Comprovado por meio de perícia que essa incapacidade era ao
tempo do fato, o processo prosseguirá (art. 151 do CPP), e deverá ser alegada a sua
INIMPUTABILIDADE, a fim de que, ao final, em sentença, ele seja absolvido e aplicada a
respectiva Medida de Segurança (é a chamada ABSOLVIÇÃO IMPRÓPRIA, pois não absolve
e coloca na rua, mas absolve e aplica uma sanção). É o que dispõe o art. 26, caput, do
CP c.c. arts. 96 e 97 do CP).
!
ATENÇÃO: se o agente NÃO FOR INTEIRAMENTE INCAPAZ, ele será o SEMI-
IMPUTÁVEL, e não será absolvido, mas sim condenado e aplicada a redução de pena (art.
26, parágrafo único, do CP). É possível, a depender da incapacidade, pleitear ao juiz a
substituição da pena privativa de liberdade em medida de segurança, nos termos do art.
98 do CP.
!
c) Pela embriaguez: não é toda embriaguez que exclui a imputabilidade, mas
sim a INVOLUNTÁRIA e COMPLETA (ou seja, aquela que forçaram a pessoa a beber,
deixando-a completamente embriagada - ex.: trote forçado de faculdade; “boa noite
Cinderela”; aponta uma arma para a pessoa e forçar ela a beber - nesses casos, os
crimes praticados posteriormente pelo embriagado, não serão a eles imputados, desde
que provada, por laudo, a embriaguez INVOLUNTÁRIA E COMPLETA - art. 28, §1º do CP)
(lembrando se a embriaguez for involuntária mas INCOMPLETA, haverá apenas redução
de pena - art. 28, §2º, do CP).
!
Obs. 1: somente a embriaguez INVOLUNTÁRIA e COMPLETA é que exclui a
imputabilidade (a dolosa não exclui; a culposa não exclui; a preordenada não exclui,
mas sim agrava a pena, desde que o agente beba PARA criar coragem e cometer crime -
art. 61, II, “l”, do CP).
!
Obs. 2: existe a hipótese da embriaguez PATOLÓGICA (doentia). É o alcoólatra.
Essa hipótese pode excluir a imputabilidade, mas não pela embriaguez em si, mas sim
pela DOENÇA MENTAL, configurando a hipótese do art. 26 (e não 28).
!
Obs. 3: na embriaguez INVOLUNTÁRIA E COMPLETA há absolvição PRÓPRIA (ou
seja, não há Medida de Segurança). Na PATOLÓGICA, se for o caso, haverá absolvição
imprópria, com aplicação da MS, pois se trata de hipótese de doença mental.
!
!
!
29
Professor Gilbor Miter Júnior
!
2. INExigibilidade de Conduta Diversa
!
a) Coação MORAL irresistível: o agente comete o delito, mas coação
PSICOLÓGICA de outrem (ex.: o agente rouba um Banco porque o mandante está
ameaçando a sua família. Ex.: o agente transporta drogas porque foi ameaçado pelo
chefe do tráfico).
!
Obs. 1: a coação deve ser MORAL (se for física exclui a conduta e, portanto,
gera fato atípico).
Obs. 2: a coação deve ser irresistível, a ponto de ninguém conseguir resistir
(se for coação resistível vai apenas atenuar a pena - art. 65, III, “c”, do CP - ex.:
ameaça abstrata, de uma mera criança, sem arma).
!
b) Obediência Hierárquica: hipótese de hierarquia (mais atrelada ao
funcionalismo público). Se o superior hierárquico dá uma ordem ao subordinado, e essa
ordem é MANIFESTAMENTE ILEGAL (ou seja, só de receber a ordem o subordinado já sabe
se tratar de uma ordem ilegal), os dois responderão pelo crime (ex.: dá uma ordem de
tortura, de abuso de autoridade - os dois responderão). Porém, se a ordem NÃO FOR
MANIFESTAMENTE ILEGAL (o subordinado fica com dúvida, por exemplo, se o agente
criminoso está ou não em situação de flagrância, mas mesmo assim cumpre a ordem de
prisão do superior), responde apenas o superior hierárquico.
!
c) Causas Supralegais: não se encontram na lei, mas sim na doutrina e
jurisprudência. Caso não haja nenhuma hipótese anterior de exclusão do crime, é
possível alegar causa supralegal de INEXIGIBILIDADE de conduta diversa (ex.: preso muito
perigoso sai da cadeia falando que vai matar determinado advogado que não conseguiu o
libertar anteriormente; o advogado, com receio, vai e mata o preso perigoso - a
depender do caso, será possível tal alegação - lembrando que não é possível alegar
legítima defesa, pois essa só é possível nos casos de agressão atual ou iminente, e não
futura).
!
3. AUSÊNCIA de potencial conhecimento da ilicitude (art. 21): lembrando
que o elemento da culpabilidade é o próprio potencial conhecimento da ilicitude, o que
o exclui é a AUSÊNCIA de potencial conhecimento da ilicitude.
!
Trata-se da hipótese de Erro de Proibição, já estudada. Mas somente para
lembrar, no erro de proibição o agente sabe o que está fazendo, mas desconhece a
ilicitude da sua conduta (pensa que pode agir naquelas circunstâncias, pois pensa que

30
Professor Gilbor Miter Júnior
não será considerado crime). Ex.: holandês que usa maconha no Brasil, pensando que
pode, já que lá no seu país é permitido.
!
Obs. 1: se o agente não sabe o que está fazendo, deverá ser alegado o ERRO
DE TIPO (ex.: senhora de 70 anos que planta determinada semente não sabendo se tratar
de maconha - se ela sabe e pensa que pode em pequena quantidade para fins
terapêuticos é possível, a depender do caso, alegar erro de proibição, pois ela sabe que
é maconha).
!
Obs. 2: se o erro for invencível deve ser alegada a excludente da
culpabilidade AUSÊNCIA de potencial conhecimento da ilicitude. Se for vencível deve-se
alegar a causa de diminuição de pena (vide art. 21 do CP).
!
Obs. 3: SUBSIDIARIAMENTE, é possível alegar a atenuante do desconhecimento
da lei, prevista no art. 65, II, do Código Penal.
!
!
PUNIBILIDADE
!
ATENÇÃO: não é substrato do crime, mas sim pressuposto do PENA.
!
“Art. 107 - Extingue-se a punibilidade: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de
11.7.1984)
I - pela morte do agente
II - pela anistia, graça ou indulto
III - pela retroatividade de lei que não mais considera o fato como criminoso
(abolitio)
IV - pela prescrição, decadência ou perempção (estudada a seguir)
V - pela renúncia do direito de queixa ou pelo perdão aceito, nos crimes de ação
privada (diferenças - arts. 49 a 59 do CPP)
VI - pela retratação do agente, nos casos em que a lei a admite (art. 143 do CP)
VII - (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005)
VIII - (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005)
IX - pelo perdão judicial, nos casos previstos em lei” (previsão expressa) (crime
culposo) (reincidência? - art. 120 do CP)

!
!
31
Professor Gilbor Miter Júnior
!
Observações:

!
1. Morte do agente: a pena não passa da pessoa do condenado, mas os
efeitos (reparação do dano) podem atingir os filhos - art. 91, I, do CP)
!
2. Anistia, Graça e Indulto (“espécies de perdão político”)

ANISTIA GRAÇA INDULTO

Concedida por LEI (Congresso Concedida por DECRETO pelo Concedida por DECRETO pelo
Nacional) Presidente) Presidente)

Benefício GERAL Benefício INDIVIDUAL Benefício GERAL

Extinguem os efeitos PENAIS Não extingue efeitos da pena, Não extingue efeitos da pena,
mas apenas CESSA A mas apenas CESSA A
EXECUÇÃO EXECUÇÃO

NÃO cabe em CRIMES NÃO cabe em CRIMES NÃO cabe em CRIMES


HEDIONDOS (art. 2º, inciso I, da HEDIONDOS (art. 2º, inciso I, da HEDIONDOS (art. 2º, inciso I, da
L. 8.072/90) (Ler quais crimes são L. 8.072/90) (Ler quais crimes são L. 8.072/90) (Ler quais crimes são
hediondos - art. 1º da L. 8.072/90) hediondos - art. 1º da L. 8.072/90) hediondos - art. 1º da L. 8.072/90)

! 3. Abolitio Criminis (art. 2º, caput, do CP): não gera reincidência, pois apaga os
efeitos penais, mas o extrapenais permanecem.
!!
4. Prescrição (material próprio)
!5. Renúncia (ato unilateral e antes da Ação Penal) e Perdão (ato bilateral e depois
da Ação Penal)
!6. Retratação do Agente: trata-se do “voltar atrás”, ou seja, o agente se arrepende
(vide arts. 143 e 342, §2º, ambos do CP.
!7. Perdão Judicial: Vide artigos 121, §5º do CP + art. 120 do CP + S. 18 do STJ


!!
ITER CRIMINIS
!
O ITER CRIMINIS é o caminho percorrido pelo crime. Possui 4 fases:
a) Cogitação (pensar em cometer um crime)
b) Preparação (começar a preparar o crime)
c) Execução (executar o crime - ato anterior que já coloque em risco
o bem jurídico)
d) Consumação (chegar ao resultado, salvo nos crimes formais, em
que a ação já consuma o delito - ex.: corrupção passiva,
32
Professor Gilbor Miter Júnior
concussão, extorsão etc.) (se não chegar ao resultado, o agente
responderá, em regra, por tentativa - art. 14 e 15 do CP) (se
impossível chegar ao resultado - crime impossível - art. 17 do CP)
!
Obs. 1: se o crime não chega a ser tentado, não há responsabilização alguma:
!
“Art. 31 do CP. - O ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio, salvo
disposição expressa em contrário, não são puníveis, se o crime não chega,
pelo menos, a ser tentado”.
!
Obs. 2: na fase de cogitação não há punição.
!
Obs. 3: na fase de preparação, EM REGRA, não há punição, salvo, por
exemplo, nos crimes de Associação:

ASSOCIAÇÃO PARA O ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA


TRÁFICO DE DROGAS (art. 35 (Quadrilha ou Banco) (art. 288 (art. 1º, §1º, da L. 12.850/13)
da L. 11.343/06) do CP)

2 ou + pessoas 3 ou + pessoas! 4 ou + pessoas!


Obs.: se não for 3 pessoas, não Obs.: se for 2 ou 3, não pode ser
pode ser Associação (pode ser Organização Criminosa
apenas concurso de pessoas)

Finalidade: cometer o tráfico Finalidade: cometer CRIMES Finalidade: cometer crimes


apenados até 4 anos, em regra apenados acima de 4 anos.!
(contravenção não entra, ou seja, Obs.: não há organização
associar para cometer criminosa no crime de furto
contravenção penal responde simples, pois a pena é até 4 anos
somente pela contravenção) (se o MP denunciar, deve ser
pleiteada a absolvição ou,
subsidiariamente, a
desclassificação para a
Associação)

PODE haver estrutura e PODE haver estrutura e DEVE haver estrutura e


organização organização organização

Obs. 4: Na fase de execução do crime é que se nasce a possibilidade de


punição.
!
→ DENTRO DE ITER CRIMINIS: TENTATIVA
!
A tentativa pode ser simples ou qualificada.
!
33
Professor Gilbor Miter Júnior
a) Tentativa Simples (art. 14, II e parágrafo único): o agente não consuma
o crime por circunstâncias ALHEIAS a sua vontade. Nesse caso, haverá
diminuição de pena (quanto mais próximo se chega da consumação, menos
diminui) (ex.: é o cachorro que late; é o dono que chega; é a polícia que
chega)
!
b) vs. Tentativa Qualificada (art. 15): o agente não consuma o crime porque
ele não quer, ou seja, por circunstâncias PRÓPRIAS. Nesse caso, o agente
responderá pelos atos até então praticados até o determinado momento
em que ele para de executar o crime, podendo ser tentativa, lesão,
violação de domicílio. São espécies de tentativa qualificada:
!
i) Desistência Voluntária: o agente não esgota todos os atos executórios
(arma com 6 tiros, dispara 3, e para de executar o crime) (responde pelos
atos até então praticados)
!
ii) Arrependimento Eficaz: o agente ESGOTA os atos executórios (arma com 6
tiros e dispara os 6) e pratica algum ato comprovando o seu
arrependimento (leva o agente para o hospital e o salva) (responde pelos
atos até então praticados)
!
Obs. 1: nos dois casos o agente não consuma o crime; se consumar e depois
se arrepender, será o caso do arrependimento posterior do art. 16 do CP, em seguida
estudado.
!
Obs. 2: embora desistência voluntária e arrependimento eficaz seja estudado
dentro da tentativa, nem sempre o agente responderá por tentativa. A FGV, por
exemplo, já trouxe vários casos em que o agente responderia por lesão corporal, haja
vista que o golpe foi em uma região NÃO LETAL. Ex.: o agente, mesmo com a intenção
de matar, desfere uma facada na vítima, não sendo suficiente para matá-la; ocorre que,
pensando em Deus, para de executar o crime, deixando de efetuar o golpe final; nesse
caso, configurada a desistência voluntária, pois o agente poderia dar mais facada (não
esgotou, portanto, os meios executórios), respondendo, então, pelos atos até então
praticados, isto é, lesão corporal (mesmo que o agente queria matar, a única facada não
seria suficiente, conforme trazido no exemplo, razão pela qual não responderá por
tentativa).
!
#E o Arrependimento Posterior?
R: se difere da desistência voluntária e do arrependimento eficaz, pois nestes
o resultado não chega a ocorrer. No arrependimento posterior, o resultado ocorre, e o
agente se arrepende posteriormente à consumação.
34
Professor Gilbor Miter Júnior
Ex.: furto de TV e, passado algum tempo, o agente devolve.
!
Obs. 1: de acordo com o art. 16 do CP, o arrependimento posterior só poderá
ser alegado em crimes:
1) NÃO VIOLENTOS e SEM GRAVE AMEAÇA;
2) ATÉ O RECEBIMENTO DA DENÚNCIA
!
Obs. 2: o arrependimento posterior não enseja a absolvição; configura causa
de diminuição de pena (para a redução, deve-se levar em consideração o momento da
reparação e o recebimento da denúncia - quanto mais rápida a devolução mais alta deve
ser a diminuição de pena; quanto mais próxima do recebimento da denúncia menos
diminui).
!
→ Situações ESPECIAIS de reparação do dano (em que ensejará a extinção
da punibilidade)
!
1. Peculato Culposo (art. 312, §3º) (e somente no culposo)
- Até a SENTENÇA: extinção da punibilidade
- Após a SENTENÇA: redução de pena
!
2. Estelionato mediante emissão de cheque sem fundo (S. 554 do STF)
- Até o RECEBIMENTO DA DENÚNCIA: extinção da punibilidade (obsta o
prosseguimento da ação)
!
Obs. 1: no caso de cheque sem fundo, o pagamento até o recebimento da
denúncia enseja a extinção da punibilidade (S. 554 do STF). No caso de cheque falso, o
pagamento até o recebimento da denúncia enseja diminuição de pena (art. 16 do CP).
Note que são situações diferentes (cheque verdadeiro mas sem fundos vs. cheque falso)
(os dois são crimes de estelionato, mas a emissão de cheque sem fundos é espécie de
estelionato especial do art. 171, VI, do CP)
!
Obs. 2: no caso de emissão de cheque sem fundo, deve ser comprovada a má-
fé do agente (dolo/fraude). Não comprovada, não haverá crime (fato atípico).
!
Obs. 3: a competência para processo e julgamento no caso de emissão dolosa
de cheque sem fundo é o local da agência bancária (S. 521 do STF). ATENÇÃO: se for

35
Professor Gilbor Miter Júnior
cheque falso, configura estelionato comum, e a competência será do local da obtenção
da vantagem ilícita.
!
(OAB XXVI) Em 03 de outubro de 2016, na cidade de Campos, no Estado do
Rio de Janeiro, Lauro, 33 anos, que é obcecado por Maria, estagiária de
uma outra empresa que está situada no mesmo prédio em que fica o seu
local de trabalho, não mais aceitando a rejeição dela, decidiu que a
obrigaria a manter relações sexuais com ele, independentemente da sua
concordância. Confiante em sua decisão, resolveu adquirir arma de fogo de
uso permitido, considerando que tinha autorização para tanto, e a
registrou, tornando-a regular. Precisando que alguém o substituísse no
local do trabalho no dia do crime, narrou sua intenção criminosa para José,
melhor amigo com quem trabalha, assegurando-lhe que comprou a arma
exclusivamente para ameaçar Maria a manter com ele conjunção carnal,
mas que não a lesionaria de forma alguma. Ainda esclareceu a José, que
alugara um quarto em um hotel e comprara uma mordaça para evitar que
Maria gritasse e os fatos fossem descobertos. Quando Lauro saía de casa,
em seu carro, para encontrar Maria, foi surpreendido por viatura da Polícia
Militar, que havia sido alertada por José sobre o crime prestes a acontecer,
sendo efetuada a prisão de Lauro em flagrante. Em sede policial, Maria foi
ouvida, afirmando, apesar de não apresentar documentos, que tinha 17
anos e que Lauro sempre manteve comportamento estranho com ela, razão
pela qual tinha interesse em ver o autor dos fatos responsabilizado
criminalmente. Após receber os autos e considerando que o detido possuía
autorização para portar arma de fogo, o Ministério Público denunciou
Lauro apenas pela prática do crime de estupro qualificado, previsto no Art.
213, §1º c/c Art. 14, inciso II, c/c Art. 61, inciso II, alínea f, todos do
Código Penal. O processo teve regular prosseguimento, mas, em razão da
demora para realização da instrução, Lauro foi colocado em liberdade. Na
audiência de instrução e julgamento, a vítima Maria foi ouvida, confirmou
suas declarações em sede policial, disse que tinha 17 anos, apesar de ter
esquecido seu documento de identificação para confirmar, apenas
apresentando cópia de sua matrícula escolar, sem indicar data de
nascimento, para demonstrar que, de fato, era Maria. José foi ouvido e
também confirmou os fatos narrados na denúncia, assim como os policiais.
O réu não estava presente na audiência por não ter sido intimado e, apesar
de seu advogado ter-se mostrado inconformado com tal fato, o ato foi
realizado, porque o interrogatório seria feito em outra data. Na segunda
audiência, Lauro foi ouvido, confirmando integralmente os fatos narrados
na denúncia, mas demonstrou não ter conhecimento sobre as declarações
das testemunhas e da vítima na primeira audiência. Na mesma ocasião, foi,
ainda, juntado o laudo de exame do material apreendido, o laudo da arma
de fogo demonstrando o potencial lesivo e a Folha de Antecedentes
Criminais, sem outras anotações. Encaminhados os autos para o Ministério
Público, foi apresentada manifestação requerendo condenação nos termos
da denúncia. Em seguida, a defesa técnica de Lauro foi intimada, em 04 de
setembro de 2018, terça-feira, sendo quarta-feira dia útil em todo o país,
36
Professor Gilbor Miter Júnior
para apresentação da medida cabível. Considerando apenas as informações
narradas, na condição de advogado(a) de Lauro, responda:
a) Qual a peça cabível e qual a data final? Fundamente. (0,6)
b) Qual a tese absolutória a ser alegada em favor de Lauro? Fundamente.
(0,65)
!
(OAB XXII) Desejando comprar um novo carro, Leonardo, jovem com 19
anos, decidiu praticar um crime de roubo em um estabelecimento
comercial, com a intenção de subtrair o dinheiro constante do caixa.
Narrou o plano criminoso para Roberto, seu vizinho, mas este se recusou a
contribuir. Leonardo decidiu, então, praticar o delito sozinho. Dirigiu-se ao
estabelecimento comercial, nele ingressou e, no momento em que restava
apenas um cliente, simulou portar arma de fogo e o ameaçou de morte, o
que fez com ele saísse, já que a intenção de Leonardo era apenas a de
subtrair bens do estabelecimento. Leonardo, em seguida, consegue acesso
ao caixa onde fica guardado o dinheiro, mas, antes de subtrair qualquer
quantia, verifica que o único funcionário que estava trabalhando no
horário era um senhor que utilizava cadeiras de rodas. Arrependido, antes
mesmo de ser notada sua presença pelo funcionário, deixa o local sem
nada subtrair, mas, já do lado de fora da loja, é surpreendido por policiais
militares. Estes realizam a abordagem, verificam que não havia qualquer
arma com Leonardo e esclarecem que Roberto narrara o plano criminoso
do vizinho para a Polícia. Tomando conhecimento dos fatos, o Ministério
Público requereu a conversão da prisão em flagrante em preventiva e
denunciou Leonardo como incurso nas sanções penais do Art. 157, § 2º,
inciso I, c/c o Art. 14, inciso II, ambos do Código Penal. Após decisão do
magistrado competente, qual seja, o da 1ª Vara Criminal de Belo
Horizonte/MG, de conversão da prisão e recebimento da denúncia, o
processo teve seu prosseguimento regular. O homem que fora ameaçado
nunca foi ouvido em juízo, pois não foi localizado, e, na data dos fatos,
demonstrou não ter interesse em ver Leonardo responsabilizado. Em seu
interrogatório, Leonardo confirma integralmente os fatos, inclusive
destacando que se arrependeu do crime que pretendia praticar. Constavam
no processo a Folha de Antecedentes Criminais do acusado sem qualquer
anotação e a Folha de Antecedentes Infracionais, ostentando uma
representação pela prática de ato infracional análogo ao crime de tráfico,
com decisão definitiva de procedência da ação socioeducativa. O
magistrado concedeu prazo para as partes se manifestarem em alegações
finais por memoriais. O Ministério Público requereu a condenação nos
termos da denúncia. O advogado de Leonardo, contudo, renunciou aos
poderes, razão pela qual, de imediato, o magistrado abriu vista para a
Defensoria Pública apresentar alegações finais. Em sentença, o juiz julgou
procedente a pretensão punitiva estatal. No momento de fixar a pena-
base, reconheceu a existência de maus antecedentes em razão da
representação julgada procedente em face de Leonardo enquanto era
inimputável, aumentando a pena em 06 meses de reclusão. Não foram
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Professor Gilbor Miter Júnior
reconhecidas agravantes ou atenuantes. Na terceira fase, incrementou o
magistrado em 1/3 a pena, justificando ser desnecessária a apreensão de
arma de fogo, bastando a simulação de porte do material diante do temor
causado à vítima. Com a redução de 1/3 pela modalidade tentada, a pena
final ficou acomodada em 4 (quatro) anos de reclusão. O regime inicial de
cumprimento de pena foi o fechado, justificando o magistrado que o crime
de roubo é extremamente grave e que atemoriza os cidadãos de Belo
Horizonte todos os dias. Intimado, o Ministério Público apenas tomou
ciência da decisão. A irmã de Leonardo o procura para, na condição de
advogado, adotar as medidas cabíveis. Constituída nos autos, a intimação
da sentença pela defesa ocorreu em 08 de maio de 2017, segunda-feira,
sendo terça-feira dia útil em todo o país. Com base nas informações
expostas acima e naquelas que podem ser inferidas do caso concreto,
responda:
a) Qual a peça cabível e qual o prazo final? Fundamente. (0,6)
b) Qual a tese absolutória a ser alegada em favor de Leonardo?
Fundamente. (0,65)
!
CONCURSO DE PESSOAS (art. 29)!

!
!
→ Requisitos
!
1. Pluralidade de pessoas
2. Relevância das condutas
3. Identidade das infrações (mesma infração)
4. Liame subjetivo (ajuste - prévio ou não).
!
Ou seja, para se falar em Concurso de pessoas, em regra, é necessário o
ajuste prévio entre os agentes (a combinação entre eles). Assim, em regra, se não tiver
combinação, não haverá concurso de pessoas.
!
ATENÇÃO: embora não tenha ajuste prévio, se uma pessoa se aproveita da
conduta da outra, haverá concurso de pessoas.
!
Ex.: “A” escuta “B” e “C” combinando o furto de uma residência em que “A”
trabalha. “A”, então, sem qualquer ajuste com “B” e “C”, deixa a porta destrancada e
entreaberta para “B” e “C”, que se aproveitam da situação. Nesse caso, “A”
responderá, mas na condição de partícipe, pois não executou o crime.
!
→ Diferença entre Autor e Partícipe
!
- Autor: aquele que realiza o verbo do crime (regra)
- Partícipe: aquele que não realiza o verbo do crime, mas participa de
alguma forma: ou induzindo, ou instigando ou auxiliando materialmente (emprestando
a arma, o carro, etc.).
38
Professor Gilbor Miter Júnior
!
→ Responsabilização
!
Todos que concorrem pelo mesmo crime, respondem todos por ele (Teoria
Monista). Exceção: Teoria Pluralista - aquele que realiza manobras abortivas COM o
consentimento da gestante, responde pelo art. 126 e a gestante pelo art. 124).
!
ATENÇÃO: se o namorado apenas induz a namorada a fazer aborto, ela
responde pelo art. 124 e ele responde por participação do art. 124 (a diferença está na
prática dos atos executórios.
!
→ Cooperação dolosamente distinta
!
Aquele que quis participar de crime menos grave, responde por ele (art. 29,
§2º), podendo ter a pena do crime menos grave aumentada se o crime mais grave for
previsível.
!
Ex.: “A” convida “B” para furtar a casa da patroa de “A”, que viajaria na
semana, conforme ela havia lhe informado. “A” e “B” se dirigem até a residência.
Chegando lá, “A” fica fora da residência para alertar “B” se a polícia chegar. “B”
adentra a residência e comete o furto e também o estupro, pois a patroa de “A” decidiu
não viajar, mas sequer avisou “A”. Nesse caso, “B” responderá por furto + estupro, em
concurso material (estudado a seguir). “A” responderá pelo crime menos grave, ou seja,
aquele que queria praticar, qual seja, furto, sem a causa de aumento, haja vista que o
crime de estupro não era previsível, já que “A” imaginava que a sua patroa não estava
em casa.
!
ATENÇÃO: o MP pode denunciar pelo mais grave, razão pela qual deve-se
alegar o art. 29, §2º, do CP.
!
!
CONCURSO DE CRIMES (sempre + de 1 crime)!

!
1. Concurso Material (art. 69)!

MAIS de 1 ação + MAIS de 1 crime: critério da somatória, ou seja, somam-se


as penas. !

Ex.: “A” e “B” combinam de furtar a casa de “C”. Porém, quando consumam o
furto, decidem também estuprar a vítima. Ou seja, 2 ações e 2 crimes (concurso material).!

2. Concurso Formal (art. 70)!

1 ação + MAIS de 1 crime: REGRA, critério da exasperação, ou seja,


considera-se o crime mais grave, ou 1 deles se todos forem da mesma gravidade, e
aumenta-se a pena de 1/6 até 1/2 (a depender da quantidade de crimes, ou seja, se for 2
crimes, aumenta de 1/6, 3 crimes, aumenta de 1/5 e assim por diante) (cuidado que a
FGV coloca que na ocorrência de 2 crimes o juiz aumentou de 1/2, razão pela qual deve
ser pleiteada a redução do aumento de 1/2 para 1/6). !

39
Professor Gilbor Miter Júnior
Ex.: Caio atirou em Tício e o matou, mas a bala atravessou o corpo deste e
também matou Mévio, que passava atrás de Tício. Nesse caso, o juiz deve considerar a
pena do homicídio doloso e aumentar de 1/6.!

Ex.: o STJ vem considerando como concurso formal próprio (aumento de 1/6
até 1/2), a roubo dentro do coletivo (a várias pessoas). !

Exceção 1 (concurso formal impróprio): se o concurso formal foi impróprio


(o agente tinha dolo único - unidade de desígnios) deve-se somar as penas (art. 70, parte
final, do CP).!

Ex.: Caio tinha dolo de matar Tício e também dolo de matar Mévio. Nesse
caso, embora esteja configurado o concurso formal (impróprio), o juiz deve somar as duas
penas.!

Exceção 2 (concurso material benéfico): sempre que se somar as penas e o


resultado for menor do que se tivesse aumentado a pena do crime mais grave de 1/6 a
1/2, deve-se preferir a soma (ou seja, se a soma for melhor para o acusado, prefere-se a
soma). !

Ex.: Caio atirou em Tício e o matou, mas a bala atravessou o corpo deste e
causou lesão corporal em Mévio, que passava atrás de Tício. Nesse caso, se o juiz
considerar a pena do homicídio doloso e aumentar de 1/6 (6 + 1/6), chega-se ao total de 7
anos. Porém, se somar a pena do homicídio doloso (6 anos) com a pena da lesão
corporal culposa (2 meses - §6º do art. 129 do CP), chega-se ao resultado de 6 anos e 2
meses, ou seja, nesse caso, somar é melhor do que aumentar, então o juiz deve preferir a
soma (no exemplo foi considerada a pena mínima de cada delito, pois o juiz parte da
aplicação da pena mínima).!

!
3. Crime Continuado (art. 71)!

Trata-se da ocorrência de 2 ou mais crimes nas mesmas circunstâncias de


tempo (até 30 dias), lugar (na mesma comarca ou comarca contíguas/vizinhas) e modo de
execução (mesmo crimes, não podendo ser crimes diferentes). O Juiz deve adotar o
critério da exasperação de 1/6 a 2/3 (de acordo com a quantidade de crimes), salvo no
caso de concurso material benéfico (em que deve se preferir a soma). !

Obs. 1: no caso de várias ações em um mesmo contexto fático (3 atos


libidinosos diversos no mesmo contexto), trata-se de apenas de 1 crime (e não crime
continuado). Se a FGV trouxer que o Juiz reconheceu a continuidade delitiva, deve-se
pleitear, nesse caso, o reconhecimento de crime único. !

Obs. 2: é possível aplicar a continuidade delitiva em crimes contra a pessoa,


nos termos do parágrafo único do art. 71 (a S. 605 está superada por tal diapositivo do
Código Penal).!

!
(OAB XXVII) Em cumprimento de mandado de busca e apreensão, o oficial
de justiça Jorge compareceu ao local de trabalho de Lucas, sendo
encontradas, no interior do imóvel, duas armas de fogo de calibre .38,

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Professor Gilbor Miter Júnior
calibre esse considerado de uso permitido, devidamente municiadas,
ambas com numeração suprimida. Em razão disso, Lucas foi preso em
flagrante e denunciado pela prática de dois crimes previstos no Art. 16,
caput, da Lei 10.826/2003, em concurso material, sendo narrado que
“Lucas, de forma livre e consciente, guardava, em seu local de trabalho,
duas armas de fogo de calibre restrito, devidamente municiadas”. Após a
instrução, em que os fatos foram confirmados, foi juntado o laudo
confirmando o calibre .38 das armas de fogo, a capacidade de efetuar
disparos, bem como que ambas tinham a numeração suprimida. As partes
apresentaram alegações finais, e o magistrado, em sentença,
considerando o teor do laudo, condenou Lucas pela prática de dois
crimes previstos no Art. 16, parágrafo único, inciso IV, da Lei nº
10.826/2003, em concurso formal. Intimada a defesa técnica da sentença
condenatória, responda, na condição de advogado(a) de Lucas, aos itens
a seguir.!

A) Qual o argumento de direito processual a ser apresentado em busca da


desconstituição da sentença condenatória? Justifique. (Valor: 0,65)!

B) Reconhecida a validade da sentença em segundo grau, qual o


argumento de direito material a ser apresentado para questionar o mérito
da sentença condenatória e, consequentemente, a pena aplicada?
Justifique. (Valor: 0,60) !

!
!
APLICAÇÃO DA PENA!

!
→ Art. 68: Critério Trifásico (Nelson Hungria)!

!
1ª Fase (art. 59)!

2ª Fase (arts. 61/65)!

3ª Fase (estão na parte geral e na parte especial)!

!
Obs.: o juiz não termina a aplicação da pena quando da 3ª Fase.!

- 4ª Fase (regime prisional - art. 33)!

- 5ª Fase (substituição da PPL em PRD - art. 44)!

- 6ª Fase (sursi penal - art. 77)



!
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Professor Gilbor Miter Júnior
Obs. 1: na 1ª fase da aplicação da pena, o juiz não pode reconhecer como
maus antecedentes inquéritos penais e ações penais em andamento (S. 444 do STJ). Ou
seja, mesmo que o agente tenha 4 inquéritos e 4 processos em andamento, o juiz não
pode reconhecer nenhum dos inquéritos e processos como maus antecedentes, em razão
do princípio da presunção de inocência. !

Obs. 2: o juiz não pode criar aumentos abstratos, a exemplo de aumentar a


pena por ser o crime muito grave, pois estará desrespeitando o princípio da legalidade,
constante do art. 1º do CP. Ou seja, ele só deve aumentar se tiver disposição expressa
(pedir o afastamento caso o juiz tenha aplicado o aumento abstrato) (isso vale nas 3 fases
de aplicação da pena). !

Obs. 3: na 2ª fase da aplicação da pena, a FGV vem cobrando muito a


atenuante da idade (art. 65, I, do CP) e as agravantes da gravidez (art. 61, II, h, do CP) e
da embriaguez preoordenada (em que o agente bebe para criar coragem e cometer o
crime - art. 61, II, l, do CP). !

ATENÇÃO 1: na 2ª fase, o juiz deve respeitar os limites mínimo e máximo das


penas cominadas no artigo, não podendo superar (art. 59, II, do CP e S. 231 do STJ). O
Juiz só pode superar os limites na 3ª fase da aplicação da pena (causas de aumento e de
diminuição).!

ATENÇÃO 2: na peça, procurar aplicar as atenuantes e afastar as agravantes.!

Obs. 4: a causa de aumento do roubo à mão armada (art. 157, §2º-A, do CP)
só se aplica se o agente estiver portando arma DE FOGO. Arma branca (faca, estilete
etc.) configura apenas roubo simples. !

Obs. 5: na fixação do regime inicial prisional, o juiz deve respeitar as Súmulas


269 e 440 do STJ, 718 e 719 do STF e a inconstitucionalidade (mutação constitucional)
do art. 2º, §1º, da L. 8.072/90 (não é porque o agente cometeu crime hediondo que ele
tem que iniciar no regime fechado; o juiz deve respeitar os limites do art. 33 do CP).!

Obs. 6: para haver substituição da PPL em PRD, o juiz deve seguir o art. 44 do
CP. No caso da lei de drogas, é perfeitamente possível a substituição, pois a vedação do
§4º do art. 33 da L. 11.343/06 foi declarada inconstitucional.!

ATENÇÃO: é possível a substituição da PPL em PRD para o reincidente,


desde que não haja reincidência específica (mesmos crimes), conforme §3º do art. 44 do
CP.!

Obs. 7: para chegar ao SURSI PENAL (art. 77), o juiz não pode ter aplicado a
substituição do art. 44. Se aplicou, a sentença acaba nesse ponto. Se não aplicou, o juiz
pode conceder o SURSI PENAL (ou seja, é um benefício subsidiário: só se aplica se não
couber a substituição da PPL em PRD).!

ATENÇÃO: SURSI PENAL é diferente de SURSI PROCESSUAL. !

- Sursi Penal: art. 77 do CP (trata-se da suspensão da pena)!


- Sursi Processual: art. 89 da L. 9.099/95 (trata-se da suspensão do processo
A TODOS OS CRIMES que tenham pena mínima até 1 ano) (ATENÇÃO PARA A
SÚMULA 723 do STF).

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