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Direito Penal

CASO 4
As leis no caso em apreço são leis temporárias/emergenciais, entretanto, tais leis podem não
possuir uma data de vigência definida. Segundo o artigo 2, n°3 as leis penais temporárias são
ultra-ativas, significa que se o facto foi praticado durante o seu período de vigências, mesmo
que depois surja uma lei comum favorável ao agente, continuaremos a praticar a lei temporária
ou de emergência. Aquela razão que presidia a lei de emergência continua a manter-se, e se
assim não fosse, as leis de emergência seriam letra morta.
A característica da ultra-atividade acontece quase sempre, mas pode acontecer uma sucessão de
leis de emergência, onde poderemos aplicar uma lei mais favorável ao agente. Se tivermos
várias leis de emergência que se seguem e se versarem sobre a mesma situação de
excecionalidade, poderemos aplicar o artigo 2°, n°4, poderemos aplicar retroativamente a lei
penal mais favorável ao agente. O grande desafio é saber se a situação de excecionalidade se
mantem ou se alterou.
No caso em específico temos duas leis emergenciais, cuja ratio é evitar que alguém engane um
terceiro durante a troca da moeda de escudo para euro. A emergência, de anormalidade social, é
a mesma (o quê mantem-se). Assim, podemos afirmar que há uma sucessão de leis temporárias
ou de emergência, aplicar-se-á então o artigo 2°, n°4 do CP que dita que apliquemos a lei mais
favorável.
Entretanto, L1 previa a proteção a favor do patrimônio; contudo, na L2 o bem jurídico protegido
é a construção europeia, tratando-se de um bem jurídico diferente. Eis a questão: quando se
altera o bem jurídico protegido pela norma, resta saber se aqui houve uma descriminalização. A
conduta é a mesma, o facto criminoso continua a ser o mesmo. Há uma continuidade do ilícito,
só muda o fundamento, mas a conduta não muda. Do patrimônio da vítima passamos a proteção
da construção europeia.
Se as leis versassem sobre fatualidades distintas, aplicaríamos L1 segundo o artigo 2°, n°3.

CASO 5
Só há uma verdadeira sucessão de leis quando versarem sobre o mesmo facto, é que se não for a
mesma fatualidade, não há sucessão. O caso levanta justamente esse questionamento, no sentido
de procurar saber se estamos perante uma sucessão ou não. O problema do caso é que em
questão a L3 é uma lei de direito contra-ordenacional. Ou seja, há uma profunda divisão
doutrinal quando há uma descriminalização, mas que passa há haver uma contraordenação no
lugar do crime.
Há dois grandes setores da doutrina que se defrontam: a primeira posição, diz-nos o seguinte,
sempre que ocorra a descriminalização com a criação de uma contraordenação, verifica-se um
vazio legal, porque em primeiro lugar deixou o facto de ser constituído crime e igualmente
deixou de ser punido, mas também não pode ser punido enquanto contraordenação, assim,
segundo o princípio da legalidade, não poderíamos punir aquela conduta (artigo 2°, n°2 do CP e
2° do RGCO). No momento da prática da conduta o agente esperava ser punido. Em casos de
injustiça material, Figueiredo Dias, sustenta que devemos aplicar a lei mais favorável – no caso,
a lei contra-ordenacional.
A primeira posição deixamos de ter justiça material, mas a segunda teoria vai no sentido da
justiça material. O professor Mario Monte defende a aplicação da lei mais favorável invocando
a unidade sistêmica e a complementaridade intrassistêmica entre o direito penal e o direito
contra-ordenacional, ou seja, para o professor Mario Monte há aqui uma continuidade do ilícito:
muito possivelmente aquela conduta não é axiologicamente neutra, havendo um bem jurídico
carente de tutela penal (cf. sistema global de justiça penal).
Há queda de chuva já é uma alteração da situação de excecionalidade. De L1 para L2 há uma
alteração da situação de excecionalidade.
Vamos aplicar L1.
- Introdução a aplicação da lei no espaço.
Se em relação a aplicação a lei no tempo nos começávamos sempre pela análise do tempus
delite, agora, vamos começar sempre os nossos casos pela análise do locus delite – também
conhecido como a sede do delito. Vamos ao artigo 7° do CP, que nos diz “o facto considera-se
praticado tanto no local que... como naquele em que o resultado típico estiver produzido”, ou
seja, temos aqui um critério bilateral (enquanto na lei do tempo temos um critério unilateral):
em especifico o local da prática e o critério da produção do crime (chamamos isso de critério do
princípio da ubiquidade.
Aqui o objetivo é impedir o conflito negativo de jurisdições: imaginemos que A dispara sobre
B, e este vem a morrer na fronteira entre Portugal-Espanha. Ora, para evitar esse conflito
negativo de jurisdições, que nos encontramos no artigo 7° o critério bilateral, é por isso motivo
que encontramos nele o princípio da ubiquidade. Se considerarmos que o facto é praticado em
território português, vamos aplicar o princípio geral previsto no artigo 4° do CP. O artigo 5° do
CP compreende um conjunto de exceções ao princípio da territorialidade.
Temos que seguir a ordem de aplicação destes princípios, ora, em bom rigor, o princípio da
convencionalidade é o primeiro, em segundo é o princípio da proteção dos interesses nacionais,
e o princípio da nacionalidade (tanto ativa como passiva), terceiro princípio é a extensão do
princípio da nacionalidade, princípio da universalidade, princípio da administração supletiva da
justiça penal.

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