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LEI PENAL NO TEMPO

“Art. 2°. Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime,
cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória.
Parágrafo único - A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos
fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado.”

1. CONSIDERAÇÕES
Princípio do tempus regit actum - A lei aplicável à repressão da prática do crime é a lei vigente ao
tempo de sua execução. Isso é uma garantia para o cidadão.
Observação:
Preceito primário da norma: É o tipo penal
Preceito secundário da norma: É a pena.

2. PRINCÍPIOS DA LEI PENAL NO TEMPO


2.1. Irretroatividade da lei penal: É a regra
2.2. Retroatividade da lei mais benigna: É a exceção
CF, art. 5°, XL.
E o que deve ser entendido por lei penal mais benigna? Lei que descriminaliza, ou que
altera o preceito secundário da norma, ou lei que prevê progressão de regime, etc.
OBS: Lei processual: não se submete ao princípio da retroatividade em benefício do agente. Nos
termos no art. 2° do CPP, a norma de caráter processual terá incidência imediata a todos os processos
em andamento, pouco importando se o crime foi cometido antes ou após sua entrada em vigor ou se a
inovação é ou não mais benéfica.
Leis processuais não se aplicam ao princípio da retroatividade em benefício do agente. Norma
de caráter processual terá incidência IMEDIATA.

3. CONFLITO DE LEIS NO TEMPO


A regra é a atividade da lei penal no período de sua vigência. A extra-atividade é exceção a essa
regra, que tem aplicação quando no conflito intertemporal se fizer presente uma norma penal mais
benéfica.
São espécies dessa extra-atividade: A retroatividade e a ultratividade.
Ultratividade: Quando a lei revogada for mais benéfica ela terá ultratividade, aplicando-se ao
fato cometido durante a sua vigência, mesmo havendo outra lei em vigor;
Retroatividade: Se a lei revogadora for a mais benigna, esta será aplicada retroativamente.
As prováveis hipóteses de choques entre a lei nova e a anterior são as seguintes:
a) Abolitio criminis: Caput do art 2. É uma abolição do crime por uma lei posterior ao fato. A
conduta deixa de ser crime.
b) Novatio legis incriminadora: Uma nova lei que criminaliza uma conduta antes não
tipificada.
c) Novatio legis in pejus: Uma nova lei que piora de alguma forma para o criminoso.
d) Novatio legis in mellius:  Uma nova lei que melhora de alguma forma para o criminoso
OBS: Lex mitior (nova lei que de qualquer modo beneficia o réu) durante o período da vacatio legis –
aplica-se retroativamente ou não? Vai depender do juiz, quem estiver insatisfeito que recorra. Há a
ideia de que uma lei em vacatio legis ainda não é lei e consequentemente não pode retroagir e há a
ideia de que uma lei em vacatio já pode vigorar se esta beneficiar o réu. Lex gravior (nova lei mais
prejudicial ao réu)
4. LEI INTERMEDIÁRIA E CONJUGAÇÃO DE LEIS
Lei intermediária: Lei 1 > Lei 2 > Lei 3
Suponha que o fato ocorreu na vigência da lei 1, e o preceito secundário da norma (pena) determina
a reclusão de 5 a 8 anos. Uma lei 2 (intermediária) revoga a lei 1 (abolitio criminis ou atribui uma
pena menor para a conduta) mas vigora por pouco tempo, pois em seguida, uma lei 3 revoga a lei 2
e atribuindo pena detenção de 1 a 3 anos. Qual lei será aplicada? 
Resposta: A lei 2. Pois mesmo tendo permanecido pouco tempo em vigor é a mais favorável
ao réu. Lembrando que o fato ocorreu enquanto a lei 1 estava em vigor.
Conjugação de leis:
Pode o judiciário (juiz) adotar somente as partes benéficas de uma lei 1 e as partes benéficas de
uma lei 2?
Resposta: NÃO PODE. Dessa forma o judiciário estaria criando uma lei 3. E o judiciário não
pode legislar, mesmo que indiretamente.

LEIS DE VIGÊNCIA TEMPORÁRIA: LEIS EXCEPCIONAIS E TEMPORÁRIAS


Art. 3º. A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou
cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência.
1. ESPÉCIES DE LEIS DE VIGÊNCIA TEMPORÁRIA
Comportam duas espécies:
a) Lei excepcional: é feita para vigorar em períodos anormais, como guerra, calamidades etc.
Sua duração coincide com a do período anormal (dura enquanto durar a guerra, a
calamidade etc.).
Ex: durante o estado de calamidade pública decretado em uma localidade devastada por
alguma catástrofe, pode-se aumentar as penas dos crimes contra o patrimônio para buscar
evitar os saques.
b) Lei temporária: é a feita para vigorar em um período de tempo previamente fixado pelo
legislador. Traz em seu bojo a data da cessação de sua vigência. É uma lei que desde a sua
entrada em vigor está marcada para morrer (dotada de auto-revogação).

OBS: A diferenca entre as duas especies de lei é que na lei excepcional nao tem como prever
o seu tempo de vigencia, este vai coincidir enquanto durar o periodo de anormalidade.
Enquanto na lei temporaria, ja se define o exato periodo de vigencia da lei. Ambas da dotadas
de AUTREVOGACAO.

2. CARACTERÍSTICAS
As leis de vigência temporária têm as seguintes características:
a) São auto-revogáveis
b) São ultrativas
QUESTÃO (NUCCI): A ultratividade das leis intermitentes, prevista no art. 3° do CP, estaria ferindo o
disposto no art. 5°, XL, da CF, que determina a retroatividade de toda Lei Penal benéfica?

3. HIPÓTESE DE RETROATIVIDADE DE LEI POSTERIOR


Resposta: Lei temporária posterior com pena mais rígida ou menos rígida só retroagirá para lei
temporária anterior se no próprio texto da lei vier esta afirmação. Mesmo que in Bonam Partem, só
retroagirá para beneficiar o réu se no texto da lei temporária 2 vier especificando.    
4. RETROATIVIDADE E LEIS PENAIS EM BRANCO
Leis penais em branco são as de conteúdo incompleto, vago, lacunoso, que necessitam ser
complementadas por outras normas jurídicas, geralmente de natureza extrapenal. A norma
fundamental permanece, com seu preceito sui generis e sua sanção. As mudanças ocorrem, de regra,
na norma complementar.
É o caso da exclusão de uma substância entorpecente da relação administrativa do Ministério
da Saúde ou a redução de um preço constante em uma tabela oficial (Capez).
Conforme Soler, só influi a variação da norma complementar quando importe verdadeira
alteração da figura abstrata do Direito Penal, e não mera circunstância que, na realidade, deixa
subsistente a norma.
Assim, as leis penais em branco não são revogadas em conseqüência da revogação de seus
complementos. Tornam-se apenas temporariamente inaplicáveis por carecerem de elemento
indispensável à configuração da tipicidade.
Capez trata deste assunto (retroatividade do complemento da norma penal em branco) da
seguinte forma:
a) quando o complemento da norma penal em branco também for lei, a sua revogação
retroagirá em benefício do agente, tornando atípico o fato cometido. Ex: modificação da lei civil,
excluindo um determinado impedimento do rol do art. 1521, Ia VII, do CC, repercute sobre a conduta
descrita no art. 237 do CP (contrair casamento com violação a impedimento dirimente), extinguindo a
punibilidade do agente. Neste caso, a alteração da lei complementadora altera a própria estrutura da
figura típica, pois demonstra que o agente não violou impedimento algum.
b) quando o complemento for ato normativo infralegal, a supressão somente repercutirá
sobre a conduta quando a norma complementar não tiver sido editada numa situação de
temporariedade ou de excepcionalidade.
Exemplos em sala: Se o complemento tiver o fator tempo como critério (ex: tabela de preços
a ser aplicada durante um período), um outro complemento futuro não se aplica ao fato ilícito
ocorrido anteriormente no período no primeiro complemento. Se o complemento não tiver
tempo, se for de caráter permanente (ex: ministério da saúde declara que uma determinada
droga deixa de ser ilícita) ele retroagirá e os fatos ocorridos durante a vigência do
complemento anterior, deixarão de ser ilícitos.

TEMPO DO CRIME (ART. 4°)

Art. 4° Considera-se praticado o crime no momento da ação ou da omissão, ainda que outro seja o
resultado.
1. TEORIAS
Existem 3 teorias sobre o tempo/momento do crime.
a) teoria da atividade: considera praticado o delito no momento da conduta (ação ou
omissão), não importando o instante do resultado;
b) teoria do resultado: o crime é praticado no momento da produção do resultado.
c) teoria da ubiqüidade ou mista: considera praticado o crime no momento da conduta ou no
momento do resultado.
Conforme demonstrado pelo art. 4°, CP, adotamos a teoria da ATIVIDADE.

2. TEMPO DO CRIME NAS INFRAÇÕES PENAIS PERMAMENTES E CONTINUADAS


Súmula 711, STF: “A lei penal mais grave, aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se
a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência”.
Exemplo: Em um crime de sequestro, por exemplo, o tempo que durar o sequestro será o
tempo do crime. Se durante o sequestro, entrar em vigor uma lei mais benéfica, ela será
aplicada, pois entra na regra geral (in bonam partem). O que a súmula cria é uma exceção: Se
a nova lei que entrou em vigor durante o sequestro for mais rígida, ela será aplicada, fugindo
da regra geral (in bonam partem), será uma exceção pois não beneficia o réu.

ESTUDO DIRIGIDO
1. Em que consiste o princípio do “tempus regit actum”?
2. Como se chama o fenômeno pelo qual a lei regula todas as situações ocorridas durante a sua
vigência?
3. O que é extra-atividade da Lei Penal, e quais as suas espécies?
4. A lei penal é retroativa (ver art. 5º, XL)?
5. Em que consiste a abolitio criminis, novatio legis in pejus, novatio legis in mellius e novatio legis
incriminadora?
6. Pode haver combinação de leis para favorecer o agente?
7. Aplica-se retroativamente lex mitior durante o período da vacatio legis?
8. Em que consistem as leis de vigência temporária? Quais suas espécies e características?
9. A ultratividade das leis intermitentes, prevista no art. 3º, do CP, estaria ferindo o disposto no art. 5º,
XL, da CF, que determina a retroatividade de toda lei penal benéfica?
10. O complemento de uma lei penal em branco poderá retroagir?
11. Explique as teorias sobre o tempo do crime e indique a dotada pelo CP brasileiro.
12. Analise a aplicação da Súmula 711 do STF nos crimes continuados e permanentes.

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