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Introdução ao Direito

2º Frequência
Quais são as modalidades de revogação?
 Revogação expressa e tácita;
 Revogação simples e substitutiva;
 Revogação total ou parcial;
 Revogação global e individualizada.
1. Revogação expressa e tácita.
Revogação expressa – verifica-se quando a lei posterior declara que a revoga a
lei anterior.
Ex.: A lei Y contem um artigo onde se afirma que são revogados os artigos 20º a
25º da lei X.
Revogação tácita – verifica-se quando existe uma incompatibilidade entre a lei
posterior (revogatória) e a lei anterior (revogada), também denominada de
revogação por incompatibilidade.
Ex.: A lei Y dispõe que a nova taxa de IVA de um certo bem é de 13% e a lei
anterior, a lei X dispunha que a taxa de IVA desse mesmo bem era de 6%.
2. Revogação simples e substitutiva.
Revogação simples – verifica-se quando a LN se limita a declara a cessação da
vigência d alei anterior.
Ex.: a lei Y diz que a lei X se encontra revogada.
Revogação substitutiva – verifica-se quando a LN, além de fazer cessar a
vigência da lei anterior, também a substitui por um novo regime.
Ex.: a lei Y diz que fica revogada a lei X e estabelece um novo regime de
tributação de IVA.
3. Revogação total ou parcial.
Revogação total ou abrogação – verifica-se quando a lei anterior cessa
integralmente a sua eficácia.
Ex.: a lei Y revoga a lei X.
Revogação parcial ou derrogação – verifica-se quando so uma parte da lei
anterior perde a sua eficácia.
Ex.: a lei Y revoga o Art.20º da lei X.
4. Revogação global e individualizada.
Revogação global – verifica-se quando uma nova lei regula completamente
todo um ramo do direito (Art.7º, nº2 CC). A expressão “regular toda a matéria”
significa regular globalmente (não regular todas as matérias uma por uma, mas
antes fixar uma disciplina genérica).
Revogação individualizada – verifica-se quando uma LN revoga especificamente
uma parte da matéria.
Ex.: uma nova lei regula as formas de cessação do contrato de arrendamento.

As leis gerais e especiais:


 De acordo com o Art.7º CC – “lei geral não revoga lei especial, salvo se
outra for a intenção inequívoca do legislador”.
Ex.: a lei que altera o regime geral das formas de cessação dos
contratos, não pode alterar o regime especifico das formas de cessação
dos contratos de trabalho.
A não repristinação da lei revogada:
 Art.7º, nº4 CC afirma que “a revogação da lei revogatória não importa o
renascimento da lei que esta revogara”, ou seja, a perda da lei revogatória
não faz com que a lei que esta revogara volte a produzir efeitos, o que
significa dizer que não é permitida a repristinação.
1º Lei X -------- 2º Lei Y revoga a Lei X ---------- 3º Lei Z revoga a Lei Y.
NOTA: nada impede o legislador de aprovar uma lei repristinatória ou que essa
repristinação resulte da própria interpretação da lei.
Solução: O direito transitório.
O direito transitório é a disciplina que a própria LN oferece para a resolução do seu
conflito com a LA. Pode ser formal ou material.
 Formal: determina a lei (LA ou LN) que se aplica;
 Material: estabelece uma regulamentação própria que não coincide
com a disciplina da LA nem da LN.
Porém o direito transitório é também lacunoso.
Quais são as problemáticas da sucessão de leis?
As questões relacionadas com a aplicação da lei no tempo são distintas das
questões relativas à revogação.

Na revogação uma lei posterior faz cessar a vigência de uma lei anterior.
Na aplicação da lei no tempo, o problema a tratar é diverso. A existência de uma lei
que sucede a outra, ou que revoga a outra, pode suscitar questões mais completas ao
nível da determinação do âmbito de aplicação da lei antecedente e da lei consequente.

Critério geral: principio da não retroatividade.


Adota-se na nossa ordem jurídica como critério geral para resolver problemas de
sucessão de leis, o principio da não retroatividade da lei nova, o que significa, em
termos genérico, que a lei não dispõe para o passado.

O que significa a retroatividade?


Retroatividade: é uma lei retroativa se produz efeitos não só para o futuro, mas
também em relação a situações jurídicas verificadas no passado.
Quais são so graus de retroatividade?
Existem 4 graus de retroatividade:
 Retroatividade extrema – verifica-se quando a LN se aplica a todas as
situações com origem no passado, incluindo as definitivamente decididas
por sentença transitada em julgado;
Ex.: se a LA criminaliza o aborto e a LN de 2007, o despenaliza. Ana,
condenada a 2 anos de prisão em 2006 pela pratica de aborto, com a
aplicação retroativa da LN deve ser libertada, e deve cessar a execução da
sua pena.
 Retroatividade quase extrema – verifica-se quando a LN se aplica a todas as
situações com origem no passado, salvo as definitivamente decididas por
sentença transitada em julgado;
 Retroatividade agravada – verifica-se quando a LN se aplica a todas as
situações com origem no passado, mas salvaguarda os efeitos produzidos
por decisão judicial ou titulo equivalente;
 Retroatividade de grau mínimo ou retroatividade ordinária – verifica-se
quando a LN respeita todos os efeitos produzidos no passado, ou seja,
produzidos ao abrigo da LA, mas abrange os efeitos que se produzam na sua
vigência, ainda que com origem em situações geradas no passado.
NOTA: Consultar os exemplos presentes no PowerPoint.

Quais são so limites constitucionais de retroatividade?


 Art.29º, nº1 e nº3 CRP e Art.2º, nº1 Código Penal – “é proibida a
aplicação retroativa da lei que crie novos crimes ou medidas de
segurança ou que agrave penas ou medidas de segurança”.
 Art.103º, nº2 CRP – é proíba a aplicação retroativa da lei que crie
impostos.
 A lei não se pode aplicar retroativamente de molde a atacar uma
decisão judicial definitivamente transitada em julgado – Art.11º, CRP,
Art.2º CRP e Art.282º, nº3 CRP.
 ART.18º, Nº3 CRP – as leis restritivas de direitos, liberdades e garantias
não podem ter efeito retroativo.
E quais são os critérios específicos?
Em certas matérias e ramos do direito, o critério geral da não retroatividade da lei é
substituído por critérios particulares que permitem a aplicação retroativa das leis:
 Direito penal negativo – normas que descriminalizam ou reduzem as penas
aplicadas a certas condutas (Art.29º, nº4 CRP e Art.2º, nº2 CRP).
 Direito processual – aplicação imediata da lei processual (Art.136º CRP).
Qual é a posição do código civil?
 Regime supletivo geral: Art.12º CC
 Regimes supletivos especiais: Art.13º e Art.297º CC
Art.12º, nº1 CC:
1º parte – “a lei so dispõe para o futuro”, parte geral da não retroatividade.
2º parte – “ainda que lhe seja atribuída eficácia retroativa, presume-se que
ficam ressalvados os efeitos já produzidos pelos factos que a lei se destina a
regular”.
Art.12º, nº2 CC:
1º parte – “quando a lei dispõe sobre as condições de validade substancial ou
formal de quaisquer factos ou sobre os seus efeitos, entende-se, em caso de
duvida, que so visa factos novos”.

Aplica-se sempre a lei antiga de acordo com o que é dito no Art.12º, nº2, 1º
parte CC.
Art.13º - aplicação das leis no tempo. Leis interpretativas:
1. A lei interpretativa integra-se na lei interpretada, ficando salvos, porem,
os efeitos já produzidos pelo cumprimento da obrigação por sentença
passada em julgado, por transação, ainda que não homologada, ou por
actos de análogo natureza.
2. A desistência e a confissão não homologadas pelo tribunal podem ser
revogadas pelo desistente ou confitente a quem a lei interpretativa for
favorável.
A lei interpretativa realiza a interpretação autentica: o legislador interpreta uma lei
(LA) através duma nova lei (LN), sendo que é necessário satisfazer os seguintes
requisitos:
1. Tempo: a lei interpretativa (LN) deve ser posterior à lei interpretada (LA);
2. Finalidade: a lei interpretativa deve interpretar a LA, cuja solução, que oferece,
se apresenta controvertida ou incerta;
3. Fonte: a lei interpretativa não deve ser hierarquicamente inferior à lei
interpretada.
Retroatividade:
O seu sentido identifica-se com o da lei interpretada pois explicita o seu sentido e
afasta todos os outros sentidos possíveis, porém não pode atingir certos efeitos como:
1. Cumprimento duma obrigação: se A pagou a B 100 porque supunha dever esta
quantia nos termos da lei vigente então não pode repetir a diferença, caso,
posteriormente, uma lei interpretativa fixe o valor da divide em 50.
2. Por sentença passada em julgado: se a situação litigiosa está definitivamente
decidida, seria absurdo que pudesse ser reexaminada por efeito duma nova lei
(interpretativa). A aplicação dessa lei seria inconstitucional.
3. Por transação: se um litigio foi evitado ou terminou mediante reciprocas
concessões, a transação não pode ser afastada por uma lei que venha
interpretar diferentemente a lei que serviu de base à decisão das partes.
Lei confirmativa:
A lei confirmativa aligeira formalidade exigidas pela LA que se tornaram
demasiado pesadas, dispensa algum pressuposto que segundo a LA, condiciona a
eficácia de certos negócios...A lei confirmativa, por regra, não é retroativa.
Porém, devido à estabilidade e à segurança das relações jurídicas, o legislador
pode ter boas razoes para confirmar expressamente os atos anteriores e recorrer á
ideia de retroatividade no caso da LN ser mais favorável aos interesses do particular
sem prejuízo de terceiros.
Aplicação das leis no espaço (ou seja, no ordenamento jurídico):
 Direito internacional privado (a solução)
 Art.14º e 65º CC
 Principio – regra da territorialidade
 Situação privada plurilocalizada – diferentes potenciais leis aplicáveis
 Conexão mais estreita: lei pessoal, foro real, ordem pública...
 Reenvio/retorno.
Na organização atual da sociedade internacional encontramos uma pluralidade de
estados soberanos. A cada um destes estados corresponde um sistema jurídico, ou
seja, existe uma pluralidade de sistemas jurídicos estaduais (a esta pluralidade de
sistemas corresponde uma diversidade de regulação jurídica das mesmas situações de
vida).
Ex.: um sistema nacional proíba a conduta que outro permite; um sistema atribui
um direito que outro nega...
As situações da vida juridicamente relevantes podem inserir-se inteiramente numa
só sociedade estadual, sem qualquer contacto significativo com outras comunidades.
Ex.: 2 portugueses, residentes habitualmente em Portugal, celebram um contrato
para ser executivo em Portugal, que não tem outra conexão relevante com estados
estrangeiros ou mercados internacionais é puramente interna.
Esta situação está diretamente submetida ao direito material interno, não
suscitando qualquer problema de determinação do direito aplicável.

Contudo, hoje verifica-se uma crescente internacionalização das relações sociais,


fazendo com que os problemas de determinação do direito aplicável se tornam
prementes.
Ex.: Qual a lei reguladora dos direitos e deveres matrimoniais de 2 portugueses
residentes em Paris que celebraram casamento nesta cidade?

Em casos como estes, o órgão de aplicação do Direito tem de resolver uma questão
transnacional, tem antes de mais, de determinar o ordenamento a que há-de pedir a
solução do problema (1º).

Essa determinação pode ser decisiva quanto à solução do caso.

Ex: Por que direito apreciamos a validade do testamento de um súbdito do Reino


Unido, domiciliado em Portugal, com descendentes portugueses, e que deixa todos os
seus bens, situados em Inglaterra e em Portugal a um amigo?

Se for aplicável o Direito inglês o testamento é válido, porque este Direito


desconhece o instituto da legítima. Pelo contrário, a deixa será considerada inoficiosa
se a validade for apreciada pela lei portuguesa.

A regulação jurídica das situações transnacionais não coloca apenas o problema da


determinação do direito aplicável. Surge, assim, o problema da competência
internacional (2º).
Ex: Se uma sociedade sedeada em Portugal, que adquiriu um equipamento
industrial a uma sociedade sedeada na Alemanha, que lhe foi entregue na Alemanha,
pretende reclamar uma indemnização por defeitos do equipamento, haverá a acção de
ser proposta em tribunais portugueses? Ou há de ser proposta na Alemanha?
A regulamentação jurídica das situações transnacionais coloca ainda um terceiro
problema: o do reconhecimento de decisões estrangeiras (3º).

Este problema colocasse designadamente, quando o litígio é decidido por um


tribunal estrangeiro e se pretende que a decisão produza efeitos na ordem jurídico-
local. Trata-se de saber se a decisão estrangeira pode produzir efeitos na ordem
jurídica local e, em caso afirmativo, sob que condições.
Ex: Uma sociedade sediada no Canadá, que vendeu uma partida de madeira a uma
sociedade sedeada em Portugal, obtém de um tribunal canadiano uma sentença que
condena a sociedade portuguesa a pagar o preço em dívida acrescido de juros. A
sociedade portuguesa não cumpre voluntariamente a sentença e não tem bens no
Canadá. Será que a decisão canadiana pode ser executada em Portugal? Em caso
afirmativo, quais as condições e procedimentos para o seu reconhecimento?
Artigo 17º
(Reenvio para a lei de um terceiro Estado)
1. Se, porém, o direito internacional privado da lei referida pela norma de
conflitos portuguesa remeter para outra legislação e esta se considerar
competente para regular o caso, é o direito interno desta legislação que deve
ser aplicado.
2. Cessa o disposto no número anterior, se a lei referida pela norma de conflitos
portuguesa for a lei pessoal e o interessado residir habitualmente em território
português ou em país cujas normas de conflitos considerem competente o
direito interno do Estado da sua nacionalidade.
3. Ficam, todavia, unicamente sujeitos à regra do nº 1 os casos da tutela e
curatela, jurídicas patrimoniais entre os cônjuges, poder paternal, jurídicas
entre adoptante e adoptado e sucessão por morte, se a lei nacional indicada
pela norma de conflitos devolver para a lei da situação dos bens imóveis e esta
se considerar competente.
Artigo 18º
(Reenvio para a lei portuguesa)
1. Se o direito internacional privado da lei designada pela norma de conflitos
devolver para o direito interno português, é este o direito aplicável.
2. Quando, porém, se trate de matéria compreendida no estatuto pessoal, a lei
portuguesa só é aplicável se o interessado tiver em território português a sua
residência habitual ou se a lei do país desta residência considerar igualmente
competente o direito interno português.
Interpretação da lei
O Direito manifesta-se através de regras jurídicas, sendo que através da
interpretação da lei se irá determinar o sentido da regra de modo a solucionar o caso
concreto ou a situação da vida com que o aplicador do direito se depara.
Fala-se em interpretação em termos amplos que abrange todas as modalidades de
determinação da regra jurídica, onde se incluem:
 Interpretação em sentido estrito (determinação do sentido da regra) – consiste
na determinação do sentido da regra que decorre da fonte, de forma a poder
resolver o caso em concreto.
 Integração de lacunas (preenchimento do vazio jurídico, depois de se concluir
pela vida da interpretação que não existe regras na fonte) – os autores incluem
aqui outras modalidades de determinação de regras, que não cabem no
conceito de interpretação, porque ultrapassam a letra da lei.
 Art. 8º, 9º, 10º, 11º e 13º CC
Modalidades de interpretação de acordo com 3 critérios:
 Jurídicas da fonte e valor (1)
 Jurídicas do objetivo ou fim da interpretação (2)
 Jurídicas do resultado da interpretação (3)
1. Modalidade de interpretação quanto à fonte e valor:
 Interpretação autêntica – pressupõe a verificação de 2 requisito:
 A interpretação deve ser feita por uma nova norma (A Lei
Interpretativa, Art. 13º CC) – dirige-se a fixar o sentido na norma
anterior e tem um valor igual ou superior ao da norma interpretada.
Ex: uma lei da AR dispõe que “quem conduzir sob o efeito de substâncias
psicotrópicas deve ser punido com coima”. Norma interpretativa – uma
lei da AR ou um decreto-lei do Governo dispõe que “devem incluir
também os medicamentos no conceito de substâncias psicotrópicas”.
 A interpretação autentica é vinculativa para todos os aplicadores do
direito, ainda que esteja errada.
 Interpretação oficial – deve ser feita por uma norma de valor inferior ao da
norma interpretada.
Ex: norma interpretada – uma lei da AR dispõe que “quem conduzir sob o efeito
de substâncias psicotrópicas deve ser punido com coima”. Norma interpretativa
– um despacho do Ministério da Administração Interna dispõe que “devem-se
incluir também os medicamentos no conceito de substâncias psicotrópicas”.
 Não tem eficácia externa devido ao Art.112º, nº5 CRP pois através deste
preceito resultam as leis de valor inferior que não podem alterar ou
contradizer o sentido normativo das leis hierarquicamente superiores. A
interpretação, devido a isso, não tem efeito vinculativo para outros
(tribunais/particulares), tendo apenas eficácia interna, ou seja, vincula
nos termos da obediência hierárquica (obriga somente os agentes
administrativos subordinados à entidade que fez a interpretação oficial).
 Interpretação judicial – é feita pelos tribunais no âmbito de um processo. Tem
valor vinculativo apenas no processo em si, fora do processo, pode apenas
persuadir pela força e exatidão dos argumentos (invocação de jurisprudência)
 Interpretação doutrinal – é feita por juristas ou jurisconsultos foram das
condições das situações anteriores. Não tem força vinculativas ou coerência
mas pode persuadir devido ao prestigio do intérprete ou da coerência lógica de
argumentação.
 Interpretação particular – é feita por qualquer cidadão comum, não jurista (Art.
6º CC). Não tem qualquer força vinculativa.
2. Modalidade de interpretação quanto ao critério do objetivo ou fim da
interpretação:
Este jurídicas decorre de correntes doutrinárias de interpretação que surgiram
no século XIX, através das quais se pretendia saber as finalidades da interpretação:
Quando estamos a interpretar que sentido da lei pretendemos obter?
 Teses subjetivista, objetivista e mistas
 Teses historicista e atualista
 Teses subjetivista:
Elaborada pela escola haver representada por Savingny e Heck no início do século
XIX, tem como objetivo determinar o pensamento do legislador ou “mens legislatoris”,
ou seja, a vontade da pessoa concreta que fez a lei.
Vantagens: maior certeza e segurança, porque existe um sentido possível da lei, o
sentido dado pelo legislador.
Desvantagens: dificuldades em determinar, nos tempos de hoje, a vontade
concreta do legislador, porque as leis resultam de órgãos colegiais.
 Teses objetivista:
Defendida por Radbruck no final do século XX, tem por objetivo determinar o
sentido intrínseco da lei, desligado da vontade e quem fez “é como se a lei ganhasse
vida própria”. Está em causa determinar a “mens legis” (espírito da lei).
Vantagens: maior adaptação às exigências de justiça e a necessidades do caso
concreto.
Desvantagens: falta de unanimidade quanto à determinação do sentido da lei.
 Teses mista ou da síntese:
Sustentada por Larenz e Engisch no início do séc. XX. De acordo com esta teoria,
pretende-se acolher os aspetos relevantes das teses subjetivista e objetivista.
Assim, a determinação do sentido da lei tem por base a consideração não só do
lexto legal, mas também da própria “mens legislatoris”, pois é necessário conhecer a
decisão do legislador e os fundamentos em que se apoia, para se acomodar e adaptar
a lei ao presente.
 Tese historicista:
De acordo com esta tese, visa-se determinar o sentido da lei no momento da sua
criação e entrada em vigor.
Vantagens: maior certeza e segurança, dado que se determina o sentido da lei no
âmbito das circunstâncias da sua criação.
Desvantagens: não atende ao WaveráWer de durabilidade das leis. As leis são feitas
para vigorarem apenas um ou dois anos, e por vezes o sentido inicial da sua feitura não
se coaduna com as mudanças sociais que entretanto possam ter ocorrido.
 Tese atualista:
De acordo com esta tese, visa-se determinar o sentido da lei no momento da sua
interpretação.
Vantagens: maior adaptação às exigências da vida, dado que se interpreta à luz das
exigências atuais da lei que pode ter, por exemplo, 30 anos. Impede que tenham de se
estar sempre a fazer novas leis.
Desvantagens: pode levar a situações de arbítrio e à aplicação de leis a casos que
não se compadecem com tal solução – desfasamento da realidade.
Posição do legislador portugues – Art.9º CC
O legislador português parece não se ter querido comprometer nem com a tese
objetivista, nem com a tese subjetivista – “pensamento legislativo” – art.o 9.o/1 CC –
não adota o pensamento do legislador (subjetivismo), nem pensamento da lei
(objetivista). No entanto, dá alguns indícios de um e de outro:
 Indícios objetivistas: “a partir dos textos” (Art. 9º, nº1 CC); “na letra da lei um
mínimo de correspondência” (Art.9º, nº2 CC)
 Indícios subjetivistas: “a interpretação não deve cingir-se à letra da lei” (Art. 9º,
nº1CC), “circunstância em que a lei foi elaborada” (Art. 9º, nº2 CC)
 Posição doutrinária:
Santos Justo e Pires de Lima/Antunes Varela entendem que o CC acolhe uma teoria
mista, pois embora o sentido da lei não se identifique com a mens legislatoris, a
verdade é que também não a dispensa, por isso, a interpretação “é o resultado de um
processo que considera os momentos objetivos e subjetivos”.
Marcelo Rebelo de Sousa/Sofia Galvão e Oliveira Ascensão têm uma posição
objetivista, porque defendem que a “lei deve valer uma vez integrada na ordem
social”, verificando-se um apagamento do legislador após o ato de criação normativa.
Sandra Lopes Luís, e nós seguimos, entende que o Art. 9º CC acolhe uma tese
objetivista mitigada, porque embora atenda predominantemente ao sentido da lei in
se, não deixa igualmente de considerar os elementos históricos da interpretação, que
são essenciais a uma interpretação subjetivista.
Tese atualista e historicista: o acolhimento da tese historicista decorre da
expressão “circunstâncias em que a lei foi elaborada” e o acolhimento da tese atualista
decorre da expressão “...condições específicas do tempo em que a lei é aplicada”. (Art.
9º, nº1 CC).
A doutrina tem defendido uma conotação atualista prevalecente, porque esta não é
incompatível com a consideração das circunstâncias do tempo de criação da lei para o
efeito de determinar o seu sentido.
3. Modalidade de interpretação quanto ao critério dos resultados da
interpretação:
Este jurídicas está diretamente dependente da relação entre os vários elementos da
interpretação, por isso, urge primeiramente determinar os elementos da interpretação
de que o aplicador do Direito se pode socorrer.
Os elementos da interpretação – são os meios para se determinar o sentido real dos
textos legais.
 Elemento literal ou gramatical – “corpo” da lei, são as palavras que a lei
exprime. Constitui o ponto de partida da interpretação jurídica e desempenha 2
funções:
Negativa: afasta a interpretação eu não tenha um base de apoio na letra da lei.
Positiva: privilegia sucessivamente, de entre os vários significados possíveis, o
técnico-jurídico, o especial e o fixado pelo uso geral da linguagem.
Occasio legis: é jurídico-social que rodeou a feitura da lei, que o intérprete não
deve desconsiderar.
 Elemento lógico ou espírito da lei – “ alma” da lei
 Elemento literal – é composto pelas palavras pelas quais a lei se exprime, cujo
sentido é determinado por regras gramaticais. Ponto de partida....mas é um
elemento frágil, porque muitas vezes as palavras são vagas e equívocas.
 Elemento lógico – são todas as circunstanciais que ultrapassam a letra da lei, e
que nos podem auxiliar a perceber o seu sentido.
A. Elemento histórico:
Trabalhos preparatórios – incluem todos os anteprojetos, projetos e atos que
registam as discussões nas comissões e plenários, que são relevantes para estabelecer
o sentido da lei e a vontade do legislador.
Precedentes normativos – são as normas nacionais e estrangeiras vigentes por
altura da formação da lei e que influenciaram a sua feitura.
Occasio legis – são as circunstâncias históricas, políticas e jurídicas que rodearam a
feitura da lei, e que o intérprete não deve desconsiderar
B. Elemento sistemático – consiste no facto de a interpretação de uma norma
implicar o conhecimento das normas afins, pois a ordem jurídica tem uma
unidade e coerência que sevem ser salvaguardadas. As normas jurídicas
relacionam-se por:
1. Subordinação: é a relação entre uma norma e os princípios gerais do
sistema jurídico, cujo conhecimento auxilia o seu esclarecimento;
2. Conexão: é a relação entre normas contiguas que formam o contexto da
norma;
3. Analogia: é a relação entre preceitos semelhantes que integram outros
institutos. As normas contiguas chamam-se “lugares paralelos”.
Ex: Art. 1273º CC e 216 CC (benfeitorias)
C. Elemento teleológico ou racional – constitui a razão-de-ser, o fim ou o objeto
prático que a lei se propor a atingir, revela a valoração ou ponderação dos
diversos interesses que a norma jurídica disciplina sendo o intérprete um
colaborador do legislador. Consiste na finalidade ou necessidade que se
pretende satisfazer com a feitura de uma determinada lei, e que implica a
ponderação dos interesses que determinam o seu conteúdo.
Os elementos da interpretação do Art.9ºCC:
 Elemento literal – “não deve cingir-se à letra da lei”; “reconstituir a
partir dos textos”, etc
 Elemento histórico – “circunstâncias em que a lei foi elaborada”
 Elemento sistemático – “unidade do sistema jurídico”
 Elemento teleológico – “condições específicas do tempo em que a lei é
aplicada”, Art. 9º, nº3 e Art. 9º, nº1 CC
Apenas com a consideração destes elementos se pode verdadeiramente interpretar
uma lei. Da relação entre a letra da lei e o espírito da lei resultam diferentes
modalidades de interpretação – modalidades de interpretação quando ao resultado.
 Modalidades de interpretação quanto ao resultado:
 Interpretação extensiva e restritiva
 Interpretação abrogante
 Interpretação enunciativa
 Interpretação corretiva
 Interpretação declarativa
Verifica-se quando o espírito da lei, determinado pelos elementos lógicos, coincide
perfeitamente com o significado das suas palavras, não havendo desarmonia entre a
letra e o espírito da lei: o legislador disse X, e era precisamente X que queria dizer.
Problema:
Expressões pluri-significativas
Interpretação declarativa lata
Interpretação declarativa restrita
Interpretação declarativa média (significado comum)
1. Interpretação extensiva e restritiva
Estas modalidades de interpretação ocorrem quando, da análise da relação entre o
elemento lógico e o literal, se apura que existe uma desarmonia entre a letra e o
espírito da lei, isto porque o legislador não foi feliz nas expressões que usou.
Nestes casos, o intérprete está autorizado a fazer uma retificação do sentido literal,
por consideração do elemento lógico, que se deve situar ainda dentro dos significados
literais possíveis (Art.9º, nº2 CC).
2. Interpretação extensiva e restritiva
Interpretação extensiva – quando o legislador disse menos do que queria dizer – o
sentido literal é mais estrito que o sentido real – e o intérprete deve estender a letra
da lei, em função dos elementos lógicos de interpretação.
Ex: Art. 877º CC (bisavós)
Interpretação restritiva – verifica-se quando o legislador disse mais do que queria
dizer – o sentido literal é mais amplo que o sentido real – e o intérprete deve limitar a
letra da lei, em função dos elementos lógicos da interpretação.
Ex: Art. 282º, nº1 CC (estado mental – negativo ou frágil)
3. Interpretação abrogante
É aquela em que o intérprete reconhece que o sentido da lei é indecifrável, ou seja,
que é impossível determinar o seu conteúdo, isto porque existe uma contradição
insanável entre o espírito e a letra da lei – ele não mata a regra, apenas verifica que ela
está morta”.
Modalidades
 Interpretação abrogante lógica – incongruência insanável dos preceitos
interpretados – “não pode ser assim”
 Interpretação abrogante valorativa – os valores subjacentes às disposições em
causa forem incompatíveis entre si – “não deve ser assim”
A interpretação abrogante lógica tem WaveráWer excecional no direito português,
ocorre em casos muito raros porque o intérprete está sujeito ao princípio do
aproveitamento das leis (Art.9º, nº3 CC) e, como tal, tem o dever de descobrir-lhe
sempre um sentido útil.
Pode verificar-se em 3 casos:
 Quando se conclui que um artigo é carecido de qualquer sentido – Ex: se o
art.o 66.o/1 CC tivesse a seguinte redação “a personalidade adquire-se no
momento do nascimento completo e com a morte”.
 Quando uma lei remete para um regime jurídico que não existe.
 Quando as leis apresentam disposições contraditórias, sem que se possa
falar de revogação, porque tal discordância ocorre entre preceitos que
entraram em vigor ao mesmo tempo.

Ex: se o Art. 68º, nº1 CC dispusesse que “a personalidade cessa com a vida” seria
incompatível com o Art. 66º que dispõe que “ a personalidade adquire-se nmomento
do nascimento completo e com vida”.
A interpretação abrogante valorativa na doutrina – Oliveira Ascensão considera
inadmissível, em Portugal, a interpretação abrogante valorativa. Se o legislador pôs
simultaneamente em vigor duas regras, a valoração do intérprete não se pode
substituir à do legislador, preferindo uma ou considerando as duas liquidadas.

A interpretação abrogante, nos casos de incompatibilidade de preceitos, não traduz


uma revogação da lei, porque não existe lei, só existe uma aparência da lei (as suas
palavras repugnam o espírito)...Por isso, estamos diante situações de
incompatibilidade simultânea e não sucessiva (nesta última a norma posterior revoga
a anterior). Há quem considere a interpretação abrogante como “interpretação
restritiva levada às últimas consequências”, pois tanto se restringe a letra que ela
desaparece.
 Interpretação enunciativa:
É aquela em que o intérprete deduz dum preceito uma regra que nele apenas está
virtualmente contida, usando para tal certas inferências ou argumentos lógico-
jurídicos. Da regra X, o espírito da lei permite retirar a regra Y (uma nova regra sem
correspondência na letra da lei, mas implicitamente manifestada).
4 argumentos lógico-jurídicos:
 “A minori ad maius” – a lei que proíbe o menos, também proíbe o mais. Se uma
lei proíbe aos menores de 21 anos a administração de bens imóveis, é possível
inferir que a venda dos mesmos lhes está vedada”
 “A maiori ad minus” – a lei que permite o mais, também permite o menos (se
uma lei permite a venda de um certo bem, é possível inferir a possibilidade de
empréstimo desse mesmo bem).
 “A contrario” – da disciplina excecional estabelecida para certo caso, deduz-se
um princípio regra oposto para os casos não abrangidos pela norma excecional
(da lei que concede o direito de voto aos cidadãos estrangeiros, com residência
em certo país por um período superior a 5 anos, é possível inferir a regra de que
os cidadãos estrangeiros, com residência em certo país por um período igual ou
inferior a 5 anos, não têm direito de voto)
 “A legitimidade dos fins, justifica os meios” – a lei que permite ou proíbe o fim,
permite ou proíbe o meio (se uma lei permite a caça, é possível inferir a
legalidade da venda de caçadeiras a essa mesma classe de pessoas).
 Interpretação corretiva:
A interpretação corretiva verifica-se quando o sentido real da lei é afastado,
modificado ou corrigido pelo intérprete, com fundamento em injustiça ou
inoportunidade. Atende à ideia de que o legislador não teria querido aquela norma se
tivesse previsto o seu resultado.
Atualmente o CC não parece admitir a interpretação corretiva na ordem jurídica
portuguesa.
Quanto à doutrina, tem sido acolhida a sua admissibilidade nos casos em que o
sentido da lei contraria o direito natural, havendo ainda abertura às situações de
inoportunidade.
Integração de Lacunas
O que é uma lacuna?
Entende-se por lacuna a ausência duma norma jurídica que permita resolver uma
situação da vida social que reclama uma solução jurídica.
O sentido ou conteúdo de uma lei verifica-se através da interpretação. Passando
agora para o preenchimento das lacunas, ou seja, a atividade de resolver omissões ou
vazios em domínios que o Direito deveria reger.
 Preceitos do CC: Art. 8º, nº1, 10º e 11º CC.
Lacuna jurídica – a lacuna jurídica existe quando se verifica a ausência de uma regra
jurídica para reger certa matéria, que deve ser prevista e regulada pelo Direito.
Devem-se verificar 2 requisitos simultaneamente para aferir a existência de uma
lacuna:
 Inexistência de disciplina jurídica ou vazio jurídico;
 Imprescindibilidade dessa disciplina.
Espécies de lacunas:
 Lacunas voluntárias – a falta da disciplina decorre da vontade do legislador, que
propositadamente não quis resolver a questão e deixou-a para a
jurisprudência.
Ex: eutanásia
 Lacunas involuntárias – o legislador não previu a situação, por isso, não
elaborou a lei.
 Lacunas iniciais – surgem na altura em que o legislador legisla.
 Lacunas posteriores – decorrem de novas questões que aparecem por motivos
da evolução técnica ou económica (ex: contrato de compra e venda por
internet).
 Lacunas de previsão – resultam da falta de previsão de uma certa situação de
facto.
 Lacunas de estatuição – resultam da inexistência de consequências a que o
Direito faz corresponder a verificação de certa situação de facto (ex: quando se
afirma que haverá um certo prazo para a prática de um ato, mas se esquece de
indicar a forma de determinar tal prazo).
 Lacunas da lei – surgem ao nível do direito legislado (manifestas/ocultas/de
colisão).
 Lacunas do Direito – verificam-se ao nível mais amplo do ordenamento jurídico
(não regulamentação de novas áreas do Direito Administrativo Especial)
Artigo 8º
(Obrigação de julgar e dever de obediência à lei)
1. O tribunal não pode abster-se de julgar, invocando a falta ou obscuridade da lei
ou alegando dúvida insanável acerca dos factos em litígio.
O preenchimento do vazio jurídico é um processo normativo, pois implica o
preenchimento de uma “regra” (numa perspetiva geral e abstrata) para solucionar um
caso concreto. Para além disso, é também um processo precário – pressupõe a
permanência da lacuna após a integração.
Os processos de integração: temos processos intra-sistemáticos e extra-
sistemáticos.
 Intra-sistemáticos – nestes processos a solução do caso faz-se tomando por
base o sistema de normas vigentes.
 Analogia legis: pressupõe o recurso a uma regra determinada
normalmente legal.
 Analogia iuris: pressupõe o recurso a um principio jurídico determinado.
 Norma que o intérprete criaria: a resolução do caso apela ao espirito
geral do sistema.
 Extra-sistemáticos – nestes processos a solução do caso funda-se noutros
critérios
 Normativos: verificam-se quando o legislador emite uma norma para
preencher a lacuna.
 Discriminatórios: verificam-se quando o legislador dá à Administração a
possibilidade de optar entre duas soluções igualmente possíveis, de
acordo com a melhor prossecução do interesse público.
 Equitativos – verificam-se quando o juiz não decide segundo uma
norma, mas segundo as circunstâncias do caso concreto, isto é, o juiz
não pretende criar uma norma, procurando uma solução adequada a
todos os casos daquela índole, mas procurando uma solução que seja
adequada à luz do princípio da justiça.
O regime da personalidade jurídica
Sujeitos de direito são suscetíveis de serem titulares de direitos e obrigações, de
serem titulares de relações jurídicas.
 São sujeitos de direito as pessoas, singulares e coletivas.
 A personalidade jurídica traduz-se na aptidão para ser titular/sujeito
autónomo de relações jurídicas.

 A personalidade jurídica é inerente a capacidade jurídica ou capacidade de


gozo de direitos.
Artigo 67º CC
1. As pessoas podem ser sujeitas de quaisquer relações jurídicas, salvo
disposição legal em contrário, nisto consiste a sua capacidade jurídica”.
Fala-se em personalidade para referir a qualidade ou condição jurídica do ente em
causa assim como se fala também na capacidade para referir a aptidão para ser titular
de um círculo, maior ou menor de capacidade, segundo certas circunstâncias ou
situações, sendo-se sempre pessoa seja qual for a medida da capacidade.

Distinta da noção de capacidade jurídica é a da capacidade de exercício de direitos


– capacidade de agir
É adequado para atuar juridicamente, exercendo direitos ou cumprindo deveres,
adquirindo direitos ou assumindo obrigações, por ato próprio e exclusivo ou mediante
um representante voluntário ou procurador, ou seja, um representante escolhido pelo
próprio representado.
A pessoa, dotada da capacidade de exercício de direitos, age pessoalmente, ou seja,
não carece de ser substituída, na prática dos atos que movimentam a sua esfera
jurídica, por um representante legal e age autonomamente, i.é, não carece de
consentimento de outra.
A capacidade de exercício de direitos é reconhecida aos indivíduos que atingem a
maioridade (Art.130º CC)
Se esta capacidade falta – incapacidade de exercício de direitos (pode ser genérica
ou específica) consoante a sua referencia, ou seja, se é referente aos atos jurídicos em
geral ou a alguns em especial. Contudo, a incapacidade de exercício de direitos pode
ser suprida, por exemplo: pela representação legal.
Regra geral: capacidade jurídica (Art.67º CC)
Restrições (casos de incapacidade jurídica de gozo):
 Incapacidades nupciais - impedimentos dirimentes absolutos e impedimentos
dirimentes relativos: Art.1601º e 1602º CC
 Incapacidade de testar dos menores não emancipados e dos maiores
acompanhados (art.2189º CC)
 Incapacidade para perfilhar dos menores de 16 anos, dos maiores
acompanhados com restrições ao exercício de direitos pessoais ou forem
afetados por perturbação mental notória no momento da perfilhação (Art.
1850º CC)
 As doações, quando feitas a determinadas pessoas, são nulas, tal como, aliás,
as disposições testamentárias nas mesmas condições (Art. 953º e 2192º a
2198º CC)
Indisponibilidade relativa – incapacidade de gozo relativa: a restrição não resulta da
consideração de uma qualidade do disponente em si.
Determinação da capacidade:
 Quanto às pessoas coletivas: admitida a teoria organicista, pode afirmar se
possuírem as pessoas coletivas plena capacidade de exercício

A capacidade de exercício das pessoas coletivas só sofrerá restrições


quando, excecionalmente, estiverem privadas dos seus órgãos (ex.: morte dos
administradores).
 Quanto às pessoas singulares: em princípio todas as pessoas
singulares têm capacidade de exercício de direitos.
Esta regra resulta não do Art.67º CC, que se refere à capacidade de gozo ou
capacidade jurídica, mas dos artigos 130º (efeitos da maioridade) e 133º (efeitos da
emancipação).
As incapacidades são fixadas na lei para os menores e maiores acompanhados
(Art.122º e 156º CC).
Incapacidades de exercício no CC:
 Menoridade
 Maiores acompanhados
 Incapacidade natural acidental, consistindo ou não em qualquer causa, do
sentido da declaração negocial ou na falta de livre exercício da vontade
(Art.257º CC). O interesse determinante das incapacidades é o interesse do
próprio incapaz.
Incapacidade dos menores:
Amplitude – abrange, em principio, quaisquer negócios jurídicos de natureza
pessoal ou patrimonial. É uma incapacidade geral (Art.123º CC)
Existem algumas exceções à incapacidade: os menores podem praticar atos de
administração ou disposição dos bens que o menor haja adquirido por seu trabalho
(Art.127º, alínea a) CC). Podem contrair validamente casamento, desde que tenham
idade superior a 16 anos (Art.1601º CC) etc.
Incapacidade dos menores:
Duração – a incapacidade termina quando o menor atingir a idade de
18 anos ou for emancipado (Art.122º, 129º, 130º e 133º CC).
Efeitos – os negócios jurídicos praticados pelo menor contrariamente à proibição
em que se cifra a incapacidade estão feridos de anulabilidade (Art.125º CC). As pessoas
que podem arguir a anulabilidade são o representante do menor, dentro de um ano a
contar do conhecimento do ato impugnado, o próprio menor, dentro de um ano a
contar da cessação da incapacidade, ou qualquer herdeiro, igualmente dentro de um
ano a contar da morte. (ver Art.126º CC)
Incapacidade dos menores:
Como é que se supre a incapacidade do menor?
A incapacidade do menor é suprida pelo instituto da representação.
Os meios de suprimento da incapacidade dos menores são:
 Poder paternal (Art.1878º, nº1 CC)
 Tutela (Art.124º, 1921º CC)
 Administração de bens (Art.1922º CC)
 Só é suprível a incapacidade dos menores na medida em que seja mera
incapacidade de exercício. Quando se trata de uma incapacidade de gozo
(casamento, testamento, perfilhação), é insuprível.
Incapacidade dos menores:
 Podem contrair validamente casamento, desde que tenham idade superior a 16
anos (Art.1601º CC).
 A oposição dos pais ou do tutor constitui impedimento impediente, e como tal,
não implicando a nulidade do ato, dá lugar à aplicação de sanções especiais
(Art.1604º, 1627º alínea a) e 1649º CC).
 Não se pode falar de uma incapacidade nupcial dos menores (maiores de 16)
suprível pelo instituto da assistência.
 Quanto ao casamento, os menores ou estão feridos de uma incapacidade de
gozo de direitos (menores de 16 anos), como tal insuprível, ou têm capacidade
de gozo e capacidade de exercício, por falta de consentimento dos pais não ser
causa de anulabilidade, mas apenas de sanções especiais, art.o 1649.o CC.
Regime jurídico do maior acompanhado (Lei nº 49/2018, 4 agosto)
 Cria-se o regime do maior acompanhado quando se revogam os institutos da
interdição e da inabilitação e tentando reduzir consideravelmente o estigma
associado aos mesmos.
 O regime do acompanhamento tem como objetivo garantir o bem-estar, assim
como a recuperação, o pleno exercício dos seus direitos e a observância dos
deveres do sujeito maior de idade, concentrando-se na pessoa e não
especialmente no seu património.
Quem deve ser acompanhado?
A pessoa maior, impossibilitada, seja por razões de saúde, deficiência ou pelo seu
comportamento, de exercer os seus direitos ou de, nos mesmos termos, cumprir os
seus deveres, beneficia das medidas de acompanhamento previstas no CC (Art.138º
CC).
Quem pode requerer o acompanhamento?
É o tribunal quem decide o acompanhamento, o qual deve ser requerido pelo
próprio ou, mediante autorização deste, pelo cônjuge, pelo unido de facto, por
qualquer parente sucessível, ou independentemente de autorização, pelo Ministério
Público - (Art.139º e 141º CC)
Quem deve ser o acompanhante?
A designação do acompanhante, maior e no pleno exercício dos seus direitos, é
feita judicialmente, sendo escolhido pelo acompanhado ou pelo representante legal
deste (Art.143º CC)
Na falta de escolha, o acompanhamento é atribuído à pessoa que melhor proteja o
interesse do beneficiário, sendo determinada a seguinte ordem de preferência, apesar
de não taxativa:
 Cônjuge não separado judicialmente ou de facto;
 Qualquer dos progenitores;
 Pessoa designada pelos pais ou pela pessoa que exerça as responsabilidades
parentais;
 Filhos maiores; pessoa indicada pela instituição em que o acompanhado
esteja integrado;
 Mandatário a quem o acompanhado tenha conferido poderes de
representação ou outra pessoa idónea.

Por regra, o cônjuge, os descendentes e os ascendentes não se podem escusar ou


ser exonerados e a lei prevê que pode ser designado mais do que um acompanhante
em simultâneo, com diferentes funções. O acompanhante tem o dever de se abster de
agir em situação de conflito de interesses com o acompanhado - (Art.144º CC)
Regime jurídico do maior acompanhado (Lei n.o 49/2018, 4 agosto)
Do âmbito do acompanhamento:
 O acompanhamento deve limitar-se ao mínimo indispensável. Porém, em
função de cada caso e independentemente do pedido, o tribunal pode
atribuir ao acompanhante as funções associadas aos seguintes regimes:
 O exercício das responsabilidades parentais ou dos meios de as
suprir;
 A representação geral ou representação especial com indicação
expressa das categorias de atos para que seja necessária;
 A administração total ou parcial de bens; a autorização prévia para a
prática de determinados atos ou categoria de atos e intervenções de
outro tipo, que estejam devidamente explicitadas - (Art.145º CC)
O acompanhante tem de assegurar o bem-estar e a reabilitação do acompanhando,
mantendo de forma permanente o contacto com ele. As visitas devem ter, no mínimo,
uma periodicidade mensal ou outra considerada apropriada pelo tribunal - (Art.146º
CC)
O processo de acompanhamento tem natureza urgente e aplica-se- lhe as regras da
jurisdição voluntária, com as necessárias adaptações.

O acompanhado pode exercer de forma livre o exercício dos seus direitos pessoais e
a celebração de negócios da sua vida corrente, exceto se existir uma disposição legal
ou decisão judicial em sentido contrário.
São considerados direitos pessoais, designadamente, os direitos de casar ou de
constituir situações de união, de procriar, de perfilhar ou de adotar, de cuidar e de
educar os filhos ou adotados, de escolher profissão, de se descolar no país ou no
estrangeiro, de fixar domicílio e residência e de estabelecer relações com quem
entender e de testar – (Art.147º CC)
Artigo 148º CC – conferir artigo
O internamento do maior acompanhado fica dependente de autorização judicial.
Em caso de urgência, pode o internamento ser imediatamente solicitado pelo
acompanhante, ficando sujeito à ratificação do juiz.
Artigo 149º CC – conferir artigo
O acompanhamento cessa, ou é alterado, mediante decisão judicial que reconheça
a cessação ou a alteração das causas que o fundamentaram, podendo os efeitos da
decisão retroagir à data em que se verificou a cessação ou modificação em causa.
Artigo 151º CC – conferir artigo
O acompanhamento é gratuito, sem prejuízo da alocação de possíveis despesas,
consoante a condição do acompanhado e do acompanhante. O acompanhante tem de
prestar contas ao acompanhado e ao tribunal, quando cesse a sua função, ou na sua
pendência, se assim for judicialmente determinado.
Artigo 152º CC – conferir artigo
A remoção e a exoneração do acompanhante seguem o regime da remoção ou
exoneração do tutor. Assim, pode ser removido o acompanhante que incumprir os
deveres próprios do cargo ou que revele inaptidão para o seu exercício.
Artigo 153º CC – conferir artigo
A publicidade a dar ao início, ao decurso e à decisão final do processo de
acompanhamento é restringida ao estritamente necessário para defender os
interesses do acompanhado e de terceiros, sendo decidida pelo tribunal, considerando
as circunstâncias do caso concreto.
A publicidade pode variar, consoante estejamos no início, no decurso ou perante
decisão final do processo.
Artigo 154º CC – conferir artigo
Os atos praticados que não estejam em consonância com as medidas de
acompanhamento são anuláveis, quando posteriores ao registo do acompanhamento,
ou depois de anunciado o início do processo desde que haja decisão final nesse sentido
e os atos sejam prejudiciais ao acompanhado.
Artigo 155º CC – conferir artigo
O tribunal deve rever as medidas de acompanhamento acordo com a periodicidade
que constar da sentença e, no mínimo, de cinco em cinco anos.
Artigo 156º CC – conferir artigo
Prevenindo uma possível e futura necessidade de acompanhamento, o maior pode
celebrar um mandato que tem como fim a gestão dos seus interesses. Este mandato
pode ser celebrado com ou sem poderes de representação e segue o regime geral e
especifica os direitos envolvidos e o âmbito da eventual representação, bem como
quaisquer outros elementos ou condições de exercício. O mandato é livremente
revogável pelo mandante.
Artigo 2192º CC – conferir artigo
A disposição feita pelo maior acompanhado a favor do seu acompanhante ou
administrador legal de bens é nula. Já assim não será quando a disposição beneficie o
acampanhante ou o administrador legal de bens e sejam estes descendentes,
ascendentes, colaterais até ao terceiro grau, cônjuge do testador ou unido de facto do
acompanhado maior, sendo esta válida.
Artigo 66º CC
(Começo da personalidade)
1. A personalidade adquire-se no momento do nascimento completo e com vida.
2. Os direitos que a lei reconhece aos nascituros dependem do seu nascimento.

Entendendo-se por nascimento separação do filho do corpo materno, a


personalidade jurídica adquire-se no momento em que essa separação se dá com vida
e de modo completo, sem qualquer outro requisito.
Quais é a condição jurídica quer dos nascituros já concebidos como dos nascituros
não concebidos – Art.925º CC.
 Até ao nascimento estamos em face da problemática dos direitos sem
sujeito.
 Seja qual for a posição que se adote quanto à respetiva construção jurídica –
direitos sem sujeito, estados de vinculação ou retroação da personalidade
(adquirida no momento do nascimento) ao momento da atribuição do
direito – é de admitir a tutela jurídica do nascituro concebido, no que toca às
lesões nele provocadas.
Ex: um filho poderá pedir indemnização pelas deformações físicas ou
psíquicas que sofreu ainda no ventre da mãe, causadas por um
medicamento ou acidente.
 O surgimento deste direito de indemnização não impõe forçosamente a
atribuição de personalidade jurídica aos nascituros, estejam ou não
concebidos. O direito surge só no momento do nascimento, momento em
que o dano verdadeiramente se consuma, apesar da ação, que a começa a
desencadear, ser anterior.
Artigo 68º CC
(Termo da personalidade)
1. A personalidade cessa com a morte.
2. Quando certo efeito jurídico depender da sobrevivência de uma a outra pessoa,
presume-se, em caso de dúvida, que uma e outra faleceram ao mesmo tempo.
3. Tem-se por falecida a pessoa cujo cadáver não foi encontrado ou reconhecido,
quando o desaparecimento se tiver dado em circunstâncias que não permitam
duvidar da morte dela. (ver 114º CC regras da morte presumida)
Ao admitir-se a reparação do dano da vida não se está a violar o Art.68º, nº1 pois o
que está em causa não é a transmissão do direito à vida – mas sim a transmissão do
direito a uma compensação.
Qualquer falecimento, pondo termo à personalidade e desencadeando efeitos
jurídicos significativos, deve ser declarado e registado na repartição do registo civil da
área onde ocorreu ou se encontrar o cadáver (Art.192º C.Reg. Civil). Podem ser obtidas
certidões do registo do óbito, como acontece com os outros factos jurídicos sujeitos a
registo.
Direitos de Personalidade – designa-se por esta fórmula um certo número de
poderes jurídicos pertencentes a todas as pessoas, por força do seu nascimento.
O Artigo 70º CC contém uma norma de tutela geral da personalidade, da qual se
podem desentranhar um direito à vida, à integridade física, à liberdade, à honra.
Artigo 70º
(Tutela geral da personalidade)
1. A lei protege os indivíduos contra qualquer ofensa ilícita ou ameaça de ofensa à
sua personalidade física ou moral.
2. Independentemente da responsabilidade civil a que haja lugar, a pessoa
ameaçada ou ofendida pode requerer as providências adequadas às
circunstâncias do caso, com o fim de evitar a consumação da ameaça ou
atenuar os efeitos da ofensa já cometida.
O CC não disciplinou exaustivamente os direitos de personalidade. Para além dos
Artigos 70º e 71º (bem como do 81º) limitou-se a prever alguns direitos de
personalidade que poderiam suscitar particulares problemas.
A cláusula da tutela geral da personalidade do Art.70º, nº1 CC, deve, ser concretizada
tendo em atenção quer o regime dos “direitos, liberdades e garantias”(Art.24º ss CRP) a
que correspondem direitos de personalidade, quer, como mínimo de proteção
reconhecido, os tipos de crime que visam proteger bens jurídicos correspondentes aos
direitos de personalidade.
Domicílio
O ordenamento jurídico dá relevância, para variados efeitos, à noção de
domicílio, como ponto de conexão entre a pessoa e um determinado lugar.
Artigo 82º CC
(Domicílio voluntário geral)
1. A pessoa tem domicílio no lugar da sua residência habitual; se residir
alternadamente em diversos lugares, tem-se por domiciliada em qualquer
deles.
2. Na falta de residência habitual, considera-se domiciliada no lugar da sua
residência ocasional ou, se esta não puder ser determinada, no lugar onde se
encontrar.
Outros tipos de domicílio:
Domicílio profissional
1. A pessoa que exerce uma profissão tem, quanto às relações que a esta se
referem, domicílio profissional no lugar onde a profissão é exercida.
2. Se exercer a profissão em lugares diversos, cada um deles constitui domicílio
para as relações que lhe correspondem.
Artigo 84º CC
(Domicílio electivo)
É permitido estipular domicílio particular para determinados negócios, contanto
que a estipulação seja reduzida a escrito.
Ausência
Artigos 89º a 121º CC
Artigo 89º
(Nomeação de curador provisório)
1. Quando haja necessidade de prover acerca da administração dos bens de
quem desapareceu sem que dele se saiba parte e sem ter deixado representante
legal ou procurador, deve o tribunal nomear-lhe curador provisório.
2. Deve igualmente ser nomeado curador ao ausente, se o procurador não quiser
ou não puder exercer as suas funções.
3. Pode ser designado para certos negócios, sempre que as circunstâncias o
exijam, um curador especial.
Curadoria definitiva
Artigo 99.o
(Justificação da ausência)
Decorridos dois anos sem se saber do ausente, se este não tiver deixado
representante legal nem procurador bastante, ou cinco anos, no caso contrário, pode
o Ministério Público ou algum dos interessados requerer a justificação da ausência.
A curadoria definitiva termina (Art.112º CC):
 Pelo regresso do ausente;
 Pela notícia da sua existência e do lugar onde reside;
 Pela certeza da sua morte;
 Pela declaração de morte presumida (Art.114º CC).
Pessoas coletivas – organizações constituídas por uma coletividade de pessoas ou por
uma massa de bens, dirigidos à realização de interesses comuns ou coletivos, às quais
a ordem jurídica atribui a personalidade jurídica:
 Fundações
 Corporações
Artigo 157º CC
(Campo de aplicação)
As disposições do presente capítulo são aplicáveis às associações que não tenham
por fim o lucro económico dos associados, às fundações de interesse social, e ainda
às sociedades, quando a analogia das situações o justifique.
Artigo 158º CC
(Aquisição da personalidade)
1. As associações constituídas por escritura pública ou por outro meio legalmente
admitido, que contenham as especificações referidas no nº 1 do Artigo 167º,
gozam de personalidade jurídica.
2. As fundações referidas no artigo anterior adquirem personalidade jurídica pelo
reconhecimento, o qual é individual e da competência da autoridade
administrativa.
Artigo 160º CC
(Capacidade)
1. A capacidade das pessoas coletivas abrange todos os direitos e obrigações
necessários ou convenientes à prossecução dos seus fins.
2. Excetuam-se os direitos e obrigações vedados por lei ou que sejam inseparáveis
da personalidade singular.
Artigo 163.o CC
(Representação)
1. A representação da pessoa coletiva, em juízo e fora dele, cabe a quem os
estatutos determinarem ou, na falta de disposição estatutária, à administração
ou a quem por ela for designado.
2. A designação de representantes por parte da administração só é oponível a
terceiros quando se prove que estes a conheciam.
A tutela jurídica pode ser definida como o conjunto de mecanismos que visam
assegurar o cumprimento ou a realização do Direito.
 Independentemente das várias classificações que possam ser apresentadas
acerca deste tema, vamos estudar os dois tipos de tutela jurídica que
consideramos serem os mais importantes:
 Tutela pública;
 Tutela privada.
Fala-se de tutela pública ou privada, consoante os actos de defesa dos direitos das
pessoas provenham das entidades públicas ou dos próprios sujeitos privados.
Tutela Pública: é a atuação do Estado através da qual se permite assegurar o
cumprimento das normas jurídicas e efetivar o respeito dos direitos subjetivos dos
cidadãos.
A tutela pública depende de 2 critérios:
 Critério temporal:
 Tutela preventiva – atua no momento anterior à violação do direito e
procura evitá-la.
 Tutela repressiva – atua no momento posterior à violação do direito e
traduz-se na aplicação de uma sanção ao infrator, que pode consistir na
privação de bens ou da liberdade.
 Critério orgânico:
 Tutela judiciaria – é efetivada pelos tribunais, que constitui o processo
normal de defesa dos interesses dos particulares, e que ocorre, não só nas
relações que os particulares têm uns com os outros, mas também nas relações
que os particulares têm com o Estado. (Art.202º, 203º, 209º CRP)
 Tutela administrativa – é efetivada pelos órgãos do Estado e visa
controlar a atividade da Administração na sua relação com os particulares.
(garantias administrativas: petitórias/impugnatórias e/ou queixa ao Provedor
de Justiça (Art.23º CRP).
 Tutela privada - A tutela pública é a regra geral. A tutela privada é
excecional, por isso, não é permitido, em geral, às pessoas por sua própria
força e autoridade fazer valer o exercício dos seus direitos.
Artigo 1º (CPC)
Proibição de autodefesa
Ninguém é lícito o recurso à força com o fim de realizar ou assegurar o próprio
direito, salvo nos casos e dentro dos limites declarados na lei.
Modalidades de tutela privada:
 Legítima defesa
 Estado de necessidade
 Ação direta
 Direito de retenção
 Direito de resistência
Legítima defesa: Art.337º e 338º CC e 32º e 33º Código Penal.

É o ato que afasta uma agressão atual ou iminente ilícita, contra pessoa, ou
património do agente ou de terceiro, quando não for possível recorrer à autoridade
pública e o prejuízo causado não exceder manifestamente o que puder resultar da
agressão.
Artigo 337º CC
(Legítima defesa)
1. Considera-se justificado o acto destinado a afastar qualquer agressão actual e
contrária à lei contra a pessoa ou património do agente ou de terceiro, desde
que não seja possível fazê-lo pelos meios normais e o prejuízo causado pelo
acto não seja manifestamente superior ao que pode resultar da agressão.
2. O acto considera-se igualmente justificado, ainda que haja excesso de legítima
defesa, se o excesso for devido a perturbação ou medo não culposo do agente.
Quais são os requisitos?
 Carater subsidiário – impossibilidade de recurso aos meios sancionatórios da
força pública;
 Existência de uma agressão a alguém – ilícita, atual ou iminente, pessoal ou
patrimonial, do próprio ou de terceiro;
 A atuação em legitima defesa em regra ofende um direito de personalidade ou
patrimonial mas também se pode suceder que ofenda direitos de crédito;
 Proporcionalidade e racionalidade entre a agressão e a reação – adequação (o
meio deve ser apto para produzir o fim), necessidade, proibição de excesso ou
indispensável (o meio usado, de entre todos os disponíveis, deve ser o menos
lesivo); proporcionalidade em sentido estrito ou equilíbrio (deve haver
equilíbrio entre as vantagens alcançadas e as desvantagens de certa atuação) –
ver o Art.337º CC.
Artigo 338º CC
(Erro acerca dos pressupostos da acção directa ou da legítima defesa)
Se o titular do direito agir na suposição errónea de se verificarem os pressupostos
que justificam a acção directa ou a legítima defesa, é obrigado a indemnizar o prejuízo
causado, salvo se o erro for desculpável.
Estado de necessidade: Art.339º CC e 34º e 35º Código Penal.
Artigo 339º
(Estado de necessidade)
1. É lícita a acção daquele que destruir ou danificar coisa alheia com o fim de
remover o perigo actual de um dano manifestamente superior, quer do agente,
quer de terceiro.
2. O autor da destruição ou do dano é, todavia, obrigado a indemnizar o lesado
pelo prejuízo sofrido, se o perigo for provocado por sua culpa exclusiva; em
qualquer outro caso, o tribunal pode fixar uma indemnização equitativa e
condenar nela não só o agente, como aqueles que tiraram proveito do acto ou
contribuíram para o estado de necessidade.
Estado de necessidade: é a situação em que alguém se encontra, que justifica a
licitude da ação de destruir ou danificar uma coisa alheia para remover o perigo atual
ou iminente de um dano manifestamente superior, quer do agente quer de terceiro.
Quais são os requisitos?
 Caráter subsidiário aos meios sancionatórios da força pública
 Reação contra uma situação de perigo (não reação a uma agressão):
a. própria ou alheia;
b. atual ou iminente;
c. pessoal ou patrimonial
A reação reflete-se sempre numa coisa, danificando-a ou destruindo (e não
contra uma pessoa)
 Proporcionalidade entre a coisa danificada e o bem que é salvo de perigo (Art.
339º, nº1 CC e 34º al. b) e c) Código Penal)
Exemplos:
 Destruição de material inflamável para impedir a extensão do incêndio.
 Partir o vidro de um automóvel para transportar ao hospital um ferido em
estado grave.
O estado de necessidade torna lícita a atuação que normalmente seria crime –
embora haja obrigação de indemnização, porque o lesado não deve arcar com o
prejuízo
Quem deve indemnizar? Art.339º, nº2 CC
2.O autor da destruição ou do dano é, todavia, obrigado a indemnizar o lesado
pelo prejuízo sofrido, se o perigo for provocado por sua culpa exclusiva; em
qualquer outro caso, o tribunal pode fixar uma indemnização equitativa e condenar
nela não só o agente, como aqueles que tiraram proveito do acto ou contribuíram
para o estado de necessidade.
Estado de necessidade putativo: pode suceder que o sujeito incorra em erro sobre os
pressupostos do estado de necessidade, isto é, quando se convença erroneamente de
que certa situação de perigo existe.

Nestes casos, a conduta adotada para evitar o suposto perigo é objetivamente


ilícita, não dando, todavia, origem a responsabilidade nas situações em que o medo
venha a excluir a culpabilidade, o que deverá ser decidido casuisticamente nos termos
do Art.339º, nº2 CC.
Artigo 336º CC
(Acção directa)
1. É lícito o recurso à força com o fim de realizar ou assegurar o próprio direito,
quando a acção directa for indispensável, pela impossibilidade de recorrer em
tempo útil aos meios coercivos normais, para evitar a inutilização prática desse
direito, contanto que o agente não exceda o que for necessário para evitar o
prejuízo.
2. A acção directa pode consistir na apropriação, destruição ou deterioração de
uma coisa, na eliminação da resistência irregularmente oposta ao exercício do
direito, ou noutro acto análogo.
3. A acção directa não é lícita, quando sacrifique interesses superiores aos que o
agente visa realizar ou assegurar.
A ação direta consiste no recurso à força para evitar a inutilização prática de um
direito, no caso de ser impossível recorrer aos meios coercivos normais. Pode consistir
na apropriação, destruição e deterioração duma coisa, na eliminação de resistência
irregularmente aposta ao exercício do direito ou noutro caso análogo.
Quais são os requisitos?
 Caráter subsidiário
 Exercício de um direito próprio (não pode haver ação direta a favor de
terceiros);
 Ato material que pode incidir sobre coisas ou contra pessoas;
 Pressupõe uma atuação que pode ser consumada (não pressupõe agressão
física);
 Proporcionalidade.
Exemplos:
 A ação do pai impede pela força que a mãe leve o filho para o estrangeiro,
confiado por tribunal à guarda do primeiro.
 A ação de alguém tirar a outrem um anel de família com brasão, que havia sido
roubado há algum tempo.
 A ação de destruição de um muro feito por outrem para impedir a entrada num
terreno que pertence ao primeiro.
Erro nos pressupostos da ação direta: Art.338º CC
Se o titular do direito agir na suposição errónea de se verificarem os pressupostos
que justificam a acção directa ou a legítima defesa, é obrigado a indemnizar o prejuízo
causado, salvo se o erro for desculpável.
Direito de retenção: Art.754º ss CC (não tem caráter subsidiário)

Faculdade que, em determinadas situações, o credor goza de reter uma coisa do


devedor para o coagir a cumprir a sua obrigação.
Ex: o relojoeiro que retém o relógio até que o dono pague o preço do conserto.
Quais são os requisitos?
 A coisa deve estar em poder do credor a título de simples retenção (não
propriedade ou posse);
 Existe uma íntima relação entre o crédito e a coisa detida pelo credor;
 O detentor da coisa deve ser o credor da obrigação e o devedor deve ser
aquele a quem a coisa deve ser restituída.
Direito de resistência: Art.21º CRP
Traduz a possibilidade de os cidadãos se poderem defender contra atuações das
entidades públicas (ou privadas) que ponham em causa os seus direitos, liberdades e
garantias.
Quais são as diferentes modalidades?
 Resistência passiva (Art.271º, nº3 CRP) – verifica-se quando existe uma ordem
que ofenda direitos liberdades e garantias, e consiste em não fazer o que é
imposto ou fazer o que é vedado. Ex: o não cumprimento de ordens que
envolvam a prática de crime.
 Resistência defensiva – verifica-se quando existe uma agressão de agentes, e
consiste na resposta à agressão.
Ex: repelir uma agressão pela força.
Ex: a entrada em habitação alheia de autoridades policiais sem mandato
judicial – o proprietário pode impedir a entrada da polícia, sem que a sua
atuação seja considerada ilícita.
As sanções jurídicas como garante da ordem:
Define-se sanção como a consequência negativa ou reação desfavorável da ordem
jurídica ao incumprimento de uma norma.
Modalidades de sanções:
 Reconstitutivas;
 Compensatórias;
 Punitivas;
 Preventivas;
 Compulsórias;
 Desvalores do ato (ineficácia e invalidade)
Sanções reconstitutivas:
São as sanções que visam refazer a situação que existia se a norma jurídica não
tivesse sido violada. Isto é, visam a obtenção de uma realidade idêntica à que se
verificaria se tivesse havido observância da regra, de molde que, se retirarmos uma
fotografia aos antes e ao agora ela vai ser igual.
Art.562º e 566º, nº1 CC – esta é a modalidade de sanção que o Direito privilegia
Modalidades:
 Reconstituição em espécie (Art.562º CC)
 Indemnização específica
 Execução específica (Art.827º 830º, 828º, 829º CC)
Sanções compensatórias:
São aquelas que visam reconstituir uma situação que, embora seja diferente à que
existia antes da violação da norma é, todavia, equivalente em termos pecuniários –
aqui não se pretende uma identidade de fotografia, mas uma fotografia parecida com
a existente antes da violação da norma
 Estas sanções operam através de indemnização dos danos sofridos, porque a
reconstituição natural pode ser impossível, insuficiente ou inadequada.
 Tipos de danos cobertos: danos não patrimoniais (Art.496º, nº1 CC); danos
patrimoniais (Art.564º, nº1 CC); danos emergentes (Art.564º, nº1 1ª parte CC –
desvalorização imediata do património) e lucros cessantes (Art.564º, nº1 2ª
parte CC – ganhos que se deixou de obter).
Sanções punitivas:
São aquelas que têm como função principal aplicar um castigo ao violador da
norma.
Concretizam-se através da aplicação de uma pena que se pode traduzir na privação
de um bem ou da liberdade.
Modalidades:
 Criminais (multa/pena de prisão)
 Administrativas (coimas/interdição temporária de exercício de atividade)
 Disciplinares (repreensão/suspensão/multa/demissão)
 Civis (ex: 2034º CC; 1649º CC)
Sanções preventivas:
São as sanções em que se pretendem afastar posteriores violações do direito, cujo
receio existe devido ao facto de se ter praticado previamente um determinado ilícito.
 Proteção coativa preventiva;
 Sanções punitivas
 Exemplos: Art.781º CC, 66º e 91º Código Penal
Sanções compulsórias:
São as sanções que pretendem levar o infrator da norma a adotar a conduta devida,
de modo a que a sua violação não se prolongue por mais tempo. Trata-se de sanções
que ocorrem em fase tardia, mas em que o cumprimento da norma ainda é possível e
útil para o direito, razão pela qual se visa pressionar o infractor ao seu acatamento.
Exemplos: pena de prisão; direito de retenção; sanção pecuniária.
Desvalores jurídicos dos atos:
Anteriormente tratámos da interpretação da lei, enquanto ato que vale
para o Direito e que produz efeitos. Todavia, pode suceder que a suposta lei não
exista, não seja válida ou não produz efeitos.
Fala-se, a este respeito, em desvalores do ato legislativo ou valores jurídicos
negativos:
 Inexistência
 Invalidade: nulidade e anulabilidade
 Estuda-se também ineficácia, que se verifica quando a conformidade para com
o Direito não é posta em causa, mas a lei simplesmente não produz efeitos
devido ao não preenchimento de algum requisito ou condição.
Desvalores jurídicos dos atos:
 Precisões:
Os desvalores jurídicos aplicam-se não só a atos legislativos, mas também aos
demais atos jurídicos, tais como atos administrativos.
Devem-se separar os desvalores jurídicos, dos vícios dos atos: um vício corresponde
à media em que se contraria o Direito, o desvalor jurídico é a consequência ou
“sanção” decorrente do desrespeito do Direito.
Desvalores jurídicos dos atos:
 Inexistência jurídica:
A inexistência jurídica verifica-se quando determinado ato legislativo se encontra de
tal forma em desconformidade para com o Direito que para este “nada há”. Nestes
casos, nem sequer existe uma base que permita identificar um ato jurídico, mesmo
que inválido. A lei inexistente é uma mera aparência de lei, pelo que não produz
qualquer efeito.
Vícios do ato que geram a inexistência:
 Inconstitucionalidade formal, ex: a não promulgação pelo PR, Art.137º CRP
 Inconstitucionalidade orgânica, ex: quando um órgão que não exerce a função
legislativa, legisla (Art.103º, nº2 CRP)
 Inconstitucionalidade material
Desvalores jurídicos dos atos:
 Invalidade: nulidade e anulabilidade
 A lei que existe para o Direito pode ser válida ou não válida. É não válida
quando não respeita todas as exigências previstas na Constituição, por isso, tal
lei não tem qualquer valor para o Direito, embora preencha os requisitos
mínimos que a permitem identificar como tal .
A invalidade da lei verifica-se quando surgem inconstitucionalidades menos graves
do que aquelas que geram a sua inexistência.
Desvalores jurídicos dos atos:
 Graus de invalidade: nulidade

A nulidade é a forma de invalidade mais intensa, por isso, também se chama de


“nulidade absoluta” (Art.268º CC e 161º e 162º Código do Procedimento
Administrativo).
 O ato é nulo desde a altura em que é praticado, por esse motivo nunca
produziu efeitos e não é obrigatório ab initio.
 A nulidade pode ser declarada pelos tribunais (a todo o tempo)
 Os tribunais podem declarar a nulidade oficiosamente – “ex officio”, sem
solicitação nesse sentido.
 A nulidade é insanável.
Desvalores jurídicos dos atos:
 Graus de invalidade: anulabilidade

A anulabilidade é a forma de invalidade menos intensa, por isso, também é


apelidada de “nulidade relativa” (Art.287º CC e 135º CPA).
 O ato anulável, embora inválido, produz efeitos até à sua anulação, por isso, é
obrigatório até ser anulado – goza de presunção de legalidade.
 A anulação do ato compete aos tribunais.
 A anulação tem natureza constitutiva – vem alterar a ordem jurídica – e não
meramente declarativa.
 O ato anulável só pode ser impugnado dentro de um certo prazo fixado na lei
(287º CC ou 58º Código de Processo dos Tribunais Administrativos).
 A anulação está dependente do pedido das pessoas com especial interesse na
anulação.
 Decorrido o prazo de impugnação, o ato subsiste na ordem jurídica como se
fosse válido, sendo, por essa razão, intocável.
Desvalores jurídicos dos atos:
Regime constitucional da invalidade das leis, de acordo com a CRP, a invalidade das
leis inconstitucionais é a nulidade atípica, porquanto perfilha as características da:
 Nulidade:
a. As leis inconstitucionais não produzem efeitos desde que são elaboradas – a
declaração pelo TC elimina todos os seus efeitos, respeitando, em princípio,
só os casos julgados (Art.282º CRP).
b. A invocação de inconstitucionalidade pode ser feita sem sujeição a um
prazo.
c. É uma forma de invalidade muito grave porque põe em causa a lei
fundamental.
 Anulabilidade:
a. Somente um universo limitado de entidades pode pedir a declaração de
inconstitucionalidade (Art.280º e 281º CRP).
b. A declaração de inconstitucionalidade com força obrigatória geral pode
salvar excepcionalmente alguns efeitos das leis inconstitucionais, para além
do caso julgado (Art.282º, nº3 e nº4 CRP)
Desvalores jurídicos dos atos:
 Ineficácia
O entendimento do conceito de ineficácia parte de uma primeira perceção do que
significa eficácia ou produção de efeitos: para explicar o que significa produzir efeitos
devemos tomar a imagem de uma arma que está carregada, ela só produz efeitos
quando se aperta o gatilho e dispara.

Assim, a ineficácia verifica-se quando um ato ou facto, distinto da lei, paralisa ou


impede a produção dos efeitos jurídicos, sem que haja um vício ou desconformidade
para com o Direito dessa mesma lei.
Ex: a lei não publicada no DR.
A ineficácia impede a produção de qualquer efeito jurídico.

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