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AS NORMAS JURÍDICAS

 Conceito
 Estrutura;
 Características das normas jurídicas;
 As sanções jurídicas como variedade das sanções sociais.

Conceito de norma jurídica


Como referimos, a ordem jurídica se expressa através de normas jurídicas, que são regras de
conduta social gerais, abstractas e imperativas, adoptadas e impostas de forma coercitiva pelo
Estado, através de órgãos ou autoridades competentes.

Características da norma jurídica

As características mais marcantes da norma jurídica, que são:


a) Generalidade: Todos os cidadãos são iguais perante a lei, razão por que a norma jurídica
se aplica a todas as pessoas em geral. As normas jurídicas são válidas para todos e a todos
obrigam de igual forma;
b) Abstracção: As normas jurídicas aplicam-se a um número abstracto de situações, a
situações hipotéticas em que poderão enquadrar-se as condutas sociais e não a um indivíduo
ou facto concreto da vida social;
c) Imperatividade: As normas jurídicas são de cumprimento obrigatório;
d) Coercibilidade: As normas jurídicas podem impor-se mediante o emprego de meios
coercivos (ou da força) pelos órgãos estaduais competentes, em caso de não cumprimento
voluntário.

Estrutura da norma jurídica


A norma jurídica tem uma estrutura interna constituída, amiúde, por três elementos, a saber:
a) Previsão: a norma jurídica regula situações ou casos hipotéticos da vida que se espera
venham a acontecer (previsíveis), isto é, contém, em si mesma, a representação da situação
futura;
b) Estatuição: a norma jurídica impõe uma conduta a adoptar quando se verifique, no caso
concreto, a previsão da norma:
c) Sanção: a norma jurídica dispõe os meios de coacção que fazem parte do sistema jurídico
para impor o cumprimento dos seus comandos.
AS FONTES DO DIREITO
 Conceito e classificação das Fontes do Direito.
 Fontes imediatas: a lei, o costume, o tratado internacional.
 Fontes mediatas: a doutrina e a jurisprudência
 Os princípios gerais de Direito.

Conceito

Fontes de Direito são os meios pelos quais se formam ou se revelam as normas jurídicas.

A expressão “fonte de direito” pode ser usada com vários sentidos, mormente:

 Sentido filosófico – atende ao fundamento da obrigatoriedade da norma jurídica;


 Sentido sociológico – atende ao factor que determinou o aparecimento da norma e
condicionou o seu conteúdo – designa as circunstâncias que presidiram à formação de
determinadas normas;
 Sentido político – traduz os órgãos encarregados de emanar ou produzir as normas
jurídicas; sentido material, histórico ou instrumental – são os textos ou diplomas
legislativos que contêm normas jurídicas;
 Sentido técnico-jurídico ou formal – é o modo de formação e de revelação das
normas jurídicas, do direito objectivo

Classificações das fontes do Direito

Fontes do Direito classificam-se: fontes directas ou imediatas e fontes indirectas ou mediatas.

 Fontes directas ou imediatas são aquelas que, por si sós, pela sua própria força, são
suficientes para gerar a regra jurídica”. São a lei, o Costume e o Tratado
Internacional.
 Fontes indirectas ou mediatas são as que não têm tal virtude, porém encaminham os
espíritos, mais cedo ou mais tarde, à elaboração da norma. São a doutrina e a
jurisprudência". Vejamos, resumidamente, cada uma.
Contudo, a expressão lei pode ser entendida com vários sentidos, nomeadamente:

1. Em sentido latíssimo

Lei é entendida enquanto direito ou norma, quando por exemplo se refere que a lei proíbe ou
impõe determinada conduta – ter que usar cinto de segurança, não conduzir com taxa de
alcoolémia superior à taxa legalmente permitida;

2. Em sentido lato

Lei é entendida enquanto norma jurídica criada de certa forma, nomeadamente por decisão e
imposição de uma autoridade com poder para o efeito, por oposição ao costume;

3. Em sentido intermédio

Lei enquanto oposta a regulamentos: Num plano geral ou genericamente são leis as Leis da
Assembleia da República e os Decretos-Leis do Governo. Num plano local ou localmente são
leis os Decretos Legislativos das Assembleias províncias;

Os regulamentos são normais gerais emanadas duma autoridade administrativa sobre matérias
próprias da sua competência, sendo principalmente:

4. Em sentido estrito

Reconduz-se apenas às leis emanadas pela Assembleia da República por oposição aos
decretos-leis emanados pelo Governo.

O poder para emanar normas jurídicas designa-se poder legislativo em sentido lato ou poder
normativo, constituindo, além do poder judicial e do poder executivo, um dos três poderes a
que se reconduz a soberania do Estado.

Conforme se referiu, nos termos do art.º 1º, n.º 1 do C.C., a lei é uma fonte imediata do
direito, ou seja, o seu valor legal é imediato e directo, valendo por si só e independentemente
de qualquer outro valor.

O n.º 2 do citado normativo dispõe que se consideram leis “todas as disposições genéricas
provindas dos órgãos estaduais competentes”.
Contudo, esta noção não é isenta de críticas porque disposições são regras e as leis não são
regras, ,mas antes fontes de regras.

Definição de lei:

Lei é “um texto ou fórmula significativo de um ou mais regras jurídicas emanado, com
observância das formas eventualmente estabelecidas, duma autoridade competente para
pautar critérios normativos de solução de casos concretos”.

Podemos distinguir as leis em:

a) Lei em sentido material É o “texto ou fórmula, imposto através das formas do acto
normativo, que contiver regras jurídicas”;
b) Lei em sentido formal É a que se reveste das formas destinadas por excelência ao
exercício da função legislativa do Estado

Dentro das diversas formas de leis referidas existe uma Hierarquia de Leis que tem
como consequência:

 As leis hierarquicamente inferiores não podem contrariar ou contradizer as leis


hierarquicamente superiores, antes têm que se verificar uma relação de conformidade.
 As leis hierarquicamente superiores ou iguais podem contrariar ou contradizer as leis
hierarquicamente iguais ou inferiores. Neste caso, a lei mais recente revoga a lei
anterior (mais antiga).

Assim, considerando a Hierarquia das Leis temos que:

 Constituição
 Leis
 Regulamentos
 Normas Locais
 Direito Internacional, Tratados internacionais
Constituição

No topo da hierarquia das leis encontramos, logicamente, a lei hierarquicamente superior, a


saber, a Constituição.

A Constituição é a lei fundamental do Estado que domina as outras leis, estabelecendo


genericamente os princípios basilares e orientadores da organização política e da ordem
jurídica e, bem assim, os direitos e deveres fundamentais dos cidadãos.

Nenhuma outra lei pode estatuir em contrário ao seu conteúdo, tendo que se conformar com o
mesmo

Leis

A lei, enquanto diversa do regulamento corresponde ao poder legislativo em sentido estrito.

Determina CRM. que são actos legislativos:

 Leis;
 Decretos-leis;
 Decretos;

Regulamentos e Diplomas Ministerial

Com valor hierarquicamente inferior às leis surgem-nos os regulamentos, correspondente ao


poder regulamentar, que é poder legislativo em sentido amplo, ou seja, integra-se no âmbito
do poder executivo.

São normas jurídicas emanadas duma autoridade administrativa, sobre matéria própria da sua
competência.

Os regulamentos destinam-se a possibilitar a aplicação ou execução da norma, isto é, regulam


a execução das leis gerais.

Normas Locais

Dentro do poder normativo não aplicável à totalidade do território Moçambicano podemos


distinguir:
 Poder legislativo local – tem este poder as Assembleias provincial
 Os órgãos das autarquias locais

Direito Internacional

Além do direito interno, também vigora no ordenamento jurídico Moçambicano o direito


internacional, nomeadamente:

 Convenções ou tratados internacionais (acordos celebrados entre os Estados); direito


internacional público geralmente reconhecido;

As convenções internacionais pelas quais os Estados se obrigam a introduzir e respeitar certas


normas na sua ordem jurídica interna denominam-se tratados normativos.

Concluindo, a Hierarquia das Leis é a seguinte:

1º) Constituição; 2º) Leis e Decretos-Leis; 3º) Decretos Legislativos das Assembleias
provincial; 4º) Regulamentares e diploma ministerial; 5º) Regulamentos das autarquias
locais; 6º) Direito Internacional

PROCESSO LEGISLATIVO

Como já se referiu as leis gerais decorrem do poder legislativo e surgem na sequência do


designado

O processo legislativo, ou seja, o processo de elaboração de leis comporta diversas fases:

 Elaboração;
 Aprovação;
 Promulgação;
 Publicação;
 Entrada em vigor
COSTUME

O costume é também conhecido por norma consuetudinária. Até ao século XVIII o costume
constituía a principal fonte de direito.

Porém, em 1769 a Lei da Boa Razão, do Marquês de Pombal, restringiu o campo de


aplicação do costume, exigindo-se para que o costume fosse atendível que: fosse conforme à
boa razão; não contrariasse as leis; tivesse mais de 100 anos.

O costume resulta da “prática repetida, habitual, de certa e determinada conduta verificadas


determinadas circunstâncias, assumindo-se como fonte de direito quando essa conduta
(estatuição) nessas circunstâncias (previsão) se torna obrigatória – a opinio iuris vel
necessitatis.

Pode, então, definir-se como a “observância geral constante e uniforme de uma regra de
conduta social, acompanhada da convicção da sua obrigatoriedade por parte da opinião
comum”.

O costume é composto por dois elementos:

a. Elemento Material ou Uso

Este elemento traduz-se numa prática social reiterada, isto é, na circunstância de, verificadas
certas condições, ser generalizado o hábito de se actuar de determinado modo.

Corresponde a uma repetição de práticas, que resulta de uma observação de facto.

Logo, existem usos que são irrelevantes para o Direito, como por exemplo, oferecer o folar na
Páscoa – é uma prática socialmente enraizada que não constitui uma regra jurídica.

b. Elemento Psicológico ou Convicção de Obrigatoriedade

Este elemento corresponde à consciência, à convicção da obrigatoriedade dessa prática social


por parte da comunidade em que a mesma exista, não apenas por mera cortesia ou rotina – é a
“opinio iuris vel necessitatis”.

Do ponto de vista da relação que se estabelece entre o costume e a lei, o costume pode ser:
 Costume secundum legem – é o costume confirmativo ou interpretativo das normas
da lei, ou seja, o costume coincide com a lei, existindo uma só regra de conduta;
 Costume praeter legem – é o costume integrativo, regulando situações que a lei não
prevê, isto é, não contraria a lei, mas vai além dela;
 Costume contra legem – é o costume contrário à lei, que está em contradição com a
lei – se por exemplo numa comunidade social se cria a convicção de que os frutos
caídos das árvores em prédios confinantes pertencem a quem os apanhar, contra a
regra geral vertida no art.º 1367º do C.C. ou se cria a convicção de que o mero facto
de o motociclista andar com o capacete não se exigindo que o coloque na cabeça;

No âmbito do Direito Internacional o costume surge como uma importante fonte de


direito.

No Direito Privado, o costume também é aceite como fonte de direito, nomeadamente por
força do art.º 348º do C.C.: “1. Àquele que invocar direito consuetudinário local ou
estrangeiro compete fazer a prova da sua existência e conteúdo; mas o tribunal deve procurar,
oficiosamente, obter o respectivo conhecimento”.

Mas no que respeita à lei civil e processual civil, nada se fala expressamente quanto ao
costume.

Contudo, a lei civil reporta-se aos Usos em vários artigos, referindo-se-lhes genericamente no
art.º 3º, n.º 1 do Código Civil que: “Os usos que não forem contrários ao princípio da boa fé
são juridicamente atendíveis quando a lei determine”, logo nunca contra a lei.

JURISPRUDÊNCIA

A jurisprudência é o “conjunto das orientações que resultam da aplicação do direito a um


caso concreto pelos órgãos com competência para o efeito”, ou seja, o conjunto das decisões
proferidas pelos tribunais sobre as causas submetidas à sua apreciação.

Assentos – os tribunais podem fixar, por meio de assentos, doutrina com força obrigatória
geral. artigo 2º do Código Civil.
DOUTRINA

Historicamente a doutrina foi fonte de direito, mas não o é hoje, Com efeito, a doutrina não é
fonte imediata de direito, mas exerce influência no espírito dos juízes.

A doutrina reconduz-se ao estudo teórico do direito, sendo constituída pelos estudos dos
jurisconsultos que, através da análise dos problemas ligados à vida jurídica, vão formando e
emitindo opiniões sobre a melhor resolução das diversas relações sociais..

EQUIDADE

Sendo as normas jurídicas caracterizadas pela generalidade e pela abstracção, por vezes o seu
comando é pouco adequado ou mesmo injusto quando aplicada ao caso concreto.

Ora, a equidade traduz-se, precisamente, no facto de o juiz ao decidir considerar as


circunstâncias especiais de cada caso concreto – é um critério de resolução de casos
singulares.

No ordenamento jurídico Moçambicano a maior parte da doutrina entende que a equidade


não é fonte do direito, pelo menos enquanto se entender fonte do direito como “modo de
formação e revelação das normas jurídicas”.

Não obstante tal entendimento, dispõe o art.º 4º do C.C. que os tribunais só podem segundo a
equidade quando (art.º 4º do C.C.):

a) Exista disposição legal que o permita – artºs 339º, n.º 2 do C.C.; 437º, n.º 2 do C.C.;
b) Haja acordo das partes e a relação jurídica não seja indisponível;
c) As partes tenham previamente convencionado o recurso à equidade, nos termos
aplicáveis à cláusula compromissória;

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