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INTRODUÇÃO

AO DIREITO
AS FONTES DO DIREITO
CONCEITO DE FONTE DE DIREITO

A expressão fontes do Direito pode ter


diferentes significados ou sentidos:

1. Fontes de Direito em sentido extrajurídico


- sentido filosófico: fonte enquanto fundamento
da obrigatoriedade da norma jurídica (“a justiça é
a fonte do direito”);
- sentido sociológico: fonte enquanto causa politica, económica,
religiosa, etc., que determina a criação de uma norma
jurídica;

- sentido orgânico: a fonte é o órgão criador da norma;

- sentido instrumental: a fonte é o texto ou instrumento que


contém a norma;

- sentido histórico: a fonte corresponde aos antecedentes


históricos de uma norma.
2. Fontes de direito em sentido jurídico

Em sentido técnico-jurídico ou jurídico-formal, fontes do


Direito são os modos de criação ou de revelação de normas
jurídicas.
Há fontes que criam Direito e fontes que apenas revelam o
Direito (criado através de outras fontes). Isto corresponde à
distinção entre:
Fontes imediatas: modos de criação de n.j. – criam direito
novo
Fontes mediatas: modos de revelação de n.j. criadas através
de outras formas – clarificam as normas existentes
Pode ainda distinguir-se:

Fontes voluntárias, se resultam de uma vontade


especificamente dirigida à criação ou revelação de uma n.j.
Fontes não voluntárias, se não resultam de uma vontade
deliberada.

Elenco das fontes de Direito em sentido jurídico-formal:


a) costume
b) lei
c) jurisprudência
d) doutrina
COSTUME

Prática reiterada e habitual, quando acompanhada da


consciência ou convicção do seu caráter de obrigatoriedade.
Trata-se de um comportamento adotado de forma
generalizada, na convicção de o mesmo corresponder ao
cumprimento de uma norma jurídica.
Trata-se, com toda a probabilidade, da primeira fonte do
Direito, remontando a sua origem às sociedades mais
primitivas.
Elementos essenciais:

Elemento material ou corpus: prática social reiterada, com uma


certa duração com observância generalizada;

Elemento psicológico ou animus: convicção da obrigatoriedade;

Espécies:
. Costumes internacionais;
. Costumes nacionais;
. Costumes regionais.
O fundamento da qualificação do costume como fonte
imediata de Direito é controverso:

Teoria estatista: o costume (só) é fonte de Direito se for essa


a vontade do Estado (ou do legislador);

Teoria pluralista: o costume é fonte de Direito por ser essa a


vontade do povo.
A última teoria parece preferível:

» O costume existe mesmo quando não há Estado;


» O costume traduz uma espécie de democracia direta;
» A exclusão do costume do elenco das fontes imediatas do
Direito pelo art.º 1 CC não é legitima, pois nenhuma fonte
pode arrogar-se o direito de autoproclamar-se a única fonte
imediata.
» Art.º 348 CC impõe aos tribunais a sua aplicação oficiosa
- Relação Costume - Lei:

. Costume secundum legem: a norma


consuetudinária coincide com a norma legal;

. Costume praeter legem: o costume regula


matérias não abrangidas pela lei;

. Costume contra-legem: a norma consuetudinária


está em oposição com a norma legal;
A Lei

Considerações gerais:
A palavra lei pode ser entendida em vários
sentidos:
- como sinónimo de Direito

- como modo de formação de normas jurídicas

- como diploma emanado da AR


Espécies:

. Lei formal: diploma emanado de um órgão dotado de poder


legislativo que reveste a forma externa de ato legislativo.

. Lei material: diploma emanado de um órgão competente,


cujo conteúdo é composto por uma ou mais normas jurídicas.
- Tipos de atos normativos:

a) atos legislativos (leis aprovadas no exercício do poder


legislativo, com determinada forma externa):
- leis constitucionais
- leis de valor reforçado
- leis ordinárias
- decretos-lei
- decretos legislativos regionais
b) outros atos normativos
Incluem-se aqui quaisquer diplomas contendo normas
jurídicas que não tenham a forma externa de atos legislativos
(ex.: decreto regulamentar, portarias, despachos normativos).

- Hierarquia
1º CRP
2º Leis constitucionais (leis de revisão da Constituição)
3º Leis de valor reforçado (112º nº 3 CRP)
4º Leis ordinárias e Decretos-Lei
5º Decretos Legislativos regionais
6º Outros atos normativos
Os atos legislativos devem respeitar os requisitos previstos
na CRP, sob pena de sofrerem de algum desvalor:

- INEXISTÊNCIA: a lei inexistente não produz quaisquer


efeitos. É tratada como se não existisse.
Causas: - falta de promulgação (137º CRP)
- falta de referenda ministerial (140º CRP)
- INVALIDADE: a lei inválida existe mas não deve produzir os
seus efeitos. A sua invalidade deverá ser declarada pelo TC
podendo este salvaguardar alguns dos efeitos já produzidos
pela lei.

- INEFICÁCIA: a lei ineficaz existe mas não produz efeitos


jurídicos em virtude de um vicio que os impede (ex: falta de
publicação – artº 119 nº 2 CRP).
Eficácia e entrada em vigor dos atos legislativos:

1. Publicação

Nos termos do artigo 119º da C. R.P. os atos normativos são


obrigatoriamente publicados em Diário da República.

Dispondo o n.º 2 do mesmo artigo que a falta de publicidade de


qualquer ato dos órgãos de soberania, regiões autónomas e
poder local, determina a sua ineficácia jurídica.

Artigo 5º n.º 1 do Código Civil


2. Entrada em vigor

Artigo 5º n.º 2 do Código Civil


«Entre a publicação e a vigência da lei decorrerá o tempo que a
própria lei fixar ou, na falta de fixação, o que for determinado
em legislação especial.»


“VACATIO LEGIS”

Atualmente a “vacatio legis” é definida pela Lei n.º 74/98, de


11/11, que determina que os diplomas legais entram em vigor
no 5º dia após a publicação.
3. Rectificações

Os eventuais erros de escrita ou lapsos devem ser corrigidos


através de RETIFICAÇÕES aprovadas pelo mesmo órgão de soberania
que aprovou o ato, e publicados na mesma série do Diário da
República, produzindo efeitos a partir da data da sua publicação.

Nos termos do artigo 5º do Código Civil a lei para produzir efeitos


depende de:
• ser publicitada (publicação em Diário da República).
• ser conhecida (“vacatio legis”)


Artigo 6º do Código Civil
Cessação de vigência dos atos legislativos:

1. Caducidade

A lei deixa de estar em vigor pela verificação de um facto que


ela própria prevê (uma data limite de vigência ou um
acontecimento que determina de forma automática, a
cessação de vigência)
Artigo 7º n.º 1 primeira parte, à contrário, do Código Civil:
«Quando se não destine a ter vigência temporária…»
2. Revogação

Quando determinado ato perde a sua eficácia por declaração voluntária


do seu(s) autor(es). À nova lei chama-se lei revogatória, à anterior chama-
se lei revogada.

Artigo 7º, n.º 1, segunda parte do CC:

«…a lei só deixa de vigorar se for revogada por outra lei.»

Modalidades:
- Expressa
- Tácita
- Global
- Parcial
EXTENSÃO e EFEITOS DA REVOGAÇÃO

Artigo 7º n.º 3 do Código Civil



Não há revogação tácita das leis especiais no caso de nova lei
geral!

Artigo 7º n.º 4 do Código Civil



A revogação de uma lei, não faz com que as leis que haviam sido
revogadas (tácita ou expressamente) por esta voltem a vigorar.
Diferente da cessação de vigência é a suspensão da
vigência. A lei suspende temporariamente a produção dos
seus efeitos. Levantada a suspensão a lei reassume plena
eficácia.
JURISPRUDÊNCIA

Conjunto das decisões em que se exprime a orientação


seguida pelos tribunais ao julgarem os casos concretos
que lhes são submetidos.

No ordenamento jurídico português a jurisprudência é


uma fonte mediata e voluntária de Direito.

E não é fonte imediata porquê?


» as decisões dos tribunais não são vinculativas fora do caso em
que foram proferidas, portanto, as orientações seguidas na
resolução de um caso não são vinculativas para outros
tribunais;

» os tribunais só devem obediência à lei (203º CRP);

» mesmo quando o Tribunal Constitucional declara uma lei


inconstitucional, está apenas a aplicar a Constituição. A causa
da inconstitucionalidade, não é tanto a vontade do Tribunal,
antes sim, a violação da Constituição. O TC limita-se a
reconhecer uma invalidade de que a lei já padecia, pelo que
não cria Direito novo.
DOUTRINA

Conjunto de estudos e opiniões formuladas por escrito


pelos teóricos do Direito, sobre a forma adequada de
interpretar, articular ou aplicar normas jurídicas.
Trata-se de uma fonte mediata e voluntária do Direito.
Funções:
a) influenciar o legislador a aprovar, modificar ou revogar
normas jurídicas;
b) influenciar as decisões dos tribunais;
c) identificar normas consuetudinárias;
d) preencher conceitos indeterminados;
e) identificar prs. gerais de direito, normas inconstitucionais,
normas tacitamente revogadas, etc.
Princípios gerais de Direito

Os princípios gerais de direito são máximas ou fórmulas,


enunciados de forma condensada, que exprimem as grandes
orientações e valores que caracterizam uma determinada
ordem jurídica ou um certo ramo do Direito.
Tais princípios podem dizer respeito a todo um
ordenamento jurídico ou apenas a um setor ou ramo.
Exs.:

» Principio da dignidade da pessoa humana (art.º 1 da CRP);


» Principio da igualdade perante a lei (art.º 13 CRP);
» Principio da não retroatividade da lei (art.º 12 CC);
» Principio da liberdade contratual (art.º 405 CC);
» Principio in dubio pro reo;
Concluindo…

Os princípios gerais de Direito, enquanto princípios


normativos, estão antes mesmo das normas, fundamentando-
as e desempenham uma função importante na sua
interpretação, bem como na integração de lacunas de
normas.

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