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Resumos de Introdução ao Direito

A Lei
Considerações gerais:
A palavra lei pode ser entendida em vários sentidos:
- Como sinónimo de Direito
- Como modo de formação de normas jurídicas
- Como diploma emanado da AR

Espécies:
. Lei formal: diploma emanado de um órgão dotado de poder legislativo que reveste a
forma externa de ato legislativo.
. Lei material: diploma emanado de um órgão competente, cujo conteúdo é composto
por uma ou mais normas jurídicas.
- Tipos de atos normativos:
a) atos legislativos (leis aprovadas no exercício do poder legislativo, com determinada
forma externa):
- Leis constitucionais
- Leis de valor reforçado
- Leis ordinárias
- Decretos-lei
- Decretos legislativos regionais

b) outros atos normativos


Incluem-se aqui quaisquer diplomas contendo normas jurídicas que não tenham a forma
externa de atos legislativos (ex.: decreto regulamentar, portarias, despachos
normativos).

- Hierarquia
1º CRP
2º Leis constitucionais (leis de revisão da Constituição)
3º Leis de valor reforçado (112º nº 3 CRP)
4º Leis ordinárias e Decretos-Lei
5º Decretos Legislativos regionais
6º Outros atos normativos
Os atos legislativos devem respeitar os requisitos previstos na CRP, sob pena de
sofrerem de algum desvalor:

- INEXISTÊNCIA: a lei inexistente não produz quaisquer efeitos. É tratada como se não
existisse.
Causas: - falta de promulgação (137º CRP)
- Falta de referenda ministerial (140º CRP)

- INVALIDADE: a lei inválida existe, mas não deve produzir os seus efeitos. A sua
invalidade deverá ser declarada pelo TC podendo este salvaguardar alguns dos efeitos já
produzidos pela lei.

- INEFICÁCIA: a lei ineficaz existe, mas não produz efeitos jurídicos em virtude de um
vicio que os impede (ex: falta de publicação – artº 119 nº 2 CRP).
Eficácia e entrada em vigor dos atos legislativos:

1. Publicação
Nos termos do artigo 119º da C. R.P. os atos normativos são obrigatoriamente
publicados em Diário da República. Dispondo o n.º 2 do mesmo artigo que a falta de
publicidade de qualquer ato dos órgãos de soberania, regiões autónomas e poder local,
determina a sua ineficácia jurídica.

Artigo 5º n.º 1 do Código Civil

2. Entrada em vigor
Artigo 5º n.º 2 do Código Civil
«Entre a publicação e a vigência da lei decorrerá o tempo que a própria lei fixar ou, na
falta de fixação, o que for determinado em legislação especial.»

“VACATIO LEGIS”
Atualmente a “vacatio legis” é definida pela Lei n.º 74/98, de 11/11, que determina que
os diplomas legais entram em vigor no 5º dia após a publicação.
3. Retificações
Os eventuais erros de escrita ou lapsos devem ser corrigidos através de
RETIFICAÇÕES aprovadas pelo mesmo órgão de soberania que aprovou o ato, e
publicados na mesma série do Diário da República, produzindo efeitos a partir da data
da sua publicação.
Nos termos do artigo 5º do Código Civil a lei para produzir efeitos depende de:
• ser publicitada (publicação em Diário da República).
• ser conhecida (“vacatio legis”)

Artigo 6º do Código Civil

Cessação de vigência dos atos legislativos:


1. Caducidade
A lei deixa de estar em vigor pela verificação de um facto que ela própria prevê (uma
data limite de vigência ou um acontecimento que determina de forma automática, a
cessação de vigência)
Artigo 7º n.º 1 primeira parte, à contrário, do Código Civil:
«Quando se não destine a ter vigência temporária…»

2. Revogação
Quando determinado ato perde a sua eficácia por declaração voluntária do seu(s)
autor(es). À nova lei chama-se lei revogatória, à anterior chamasse lei revogada.
Artigo 7º, n.º 1, segunda parte do CC:
«…a lei só deixa de vigorar se for revogada por outra lei.»
Modalidades:
- Expressa
- Tácita
- Global
- Parcial
EXTENSÃO e EFEITOS DA REVOGAÇÃO
Artigo 7º n.º 3 do Código Civil

Não há revogação tácita das leis especiais no caso de nova lei geral!
Artigo 7º n.º 4 do Código Civil

A revogação de uma lei, não faz com que as leis que haviam sido revogadas (tácita ou
expressamente) por esta voltem a vigorar.
Diferente da cessação de vigência é a suspensão da vigência. A lei suspende
temporariamente a produção dos seus efeitos. Levantada a suspensão a lei reassume
plena eficácia.

JURISPRUDÊNCIA
Conjunto das decisões em que se exprime a orientação seguida pelos tribunais ao
julgarem os casos concretos que lhes são submetidos. No ordenamento jurídico
português a jurisprudência é uma fonte mediata e voluntária de Direito.

E não é fonte imediata porquê?

» as decisões dos tribunais não são vinculativas fora do caso em que foram proferidas,
portanto, as orientações seguidas na resolução de um caso não são vinculativas para
outros tribunais;
» os tribunais só devem obediência à lei (203º CRP);
» mesmo quando o Tribunal Constitucional declara uma lei inconstitucional, está apenas
a aplicar a Constituição. A causa da inconstitucionalidade, não é tanto a vontade do
Tribunal, antes sim, a violação da Constituição. O TC limita-se a reconhecer uma
invalidade de que a lei já padecia, pelo que não cria Direito novo.

DOUTRINA
Conjunto de estudos e opiniões formuladas por escrito pelos teóricos do Direito, sobre a
forma adequada de interpretar, articular ou aplicar normas jurídicas.
Trata-se de uma fonte mediata e voluntária do Direito.
Funções:
a) influenciar o legislador a aprovar, modificar ou revogar normas jurídicas;
b) influenciar as decisões dos tribunais;
c) identificar normas consuetudinárias;
d) preencher conceitos indeterminados;
e) identificar prs. gerais de direito, normas inconstitucionais, normas tacitamente
revogadas, etc.
Princípios gerais de Direito
Os princípios gerais de direito são máximas ou fórmulas, enunciados de forma
condensada, que exprimem as grandes orientações e valores que caracterizam uma
determinada ordem jurídica ou um certo ramo do Direito.
Tais princípios podem dizer respeito a todo um ordenamento jurídico ou apenas a um
setor ou ramo.
Exs.:
» Princípio da dignidade da pessoa humana (art.º 1 da CRP);
» Princípio da igualdade perante a lei (art.º 13 CRP);
» Princípio da não retroatividade da lei (art.º 12 CC);
» Princípio da liberdade contratual (art.º 405 CC);
» Princípio in dubio pro reo;

Concluindo…
Os princípios gerais de Direito, enquanto princípios normativos, estão antes mesmo das
normas, fundamentando as e desempenham uma função importante na sua interpretação,
bem como na integração de lacunas de normas.

OS RAMOS DE DIREITO
Direito Internacional Público
 Conjunto de normas que regula as relações entre os Estados e ainda a orgânica e
funcionamento das organizações internacionais;
 Direito de fonte supra-estadual – as criações das suas regras não são exclusivas de
criação de um único Estado, mas sim o resultado da contribuição de vários Estados;
 Direito de fonte consuetudinária (baseado no costume internacional) ou convencional
(tratados e convenções celebradas entre os Estados). Pode inspirar-se ainda nos
princípios gerais de Direito comuns às várias nações.
Distingue-se do Direito Internacional Privado: resolve os conflitos de leis de direito
privado no espaço, regulando as relações da vida privada internacional (aquelas que
apresentam conexão com ordenamentos jurídicos distintos). Normas de conflito
previstas nos artigos 14.º a 65.º do Código Civil.

Direito Comunitário
Conjunto de regras e normas jurídicas que emanam dos órgãos da União Europeia e que
contribuem para o desenvolvimento do ideal europeu. Sendo Portugal um Estado
membro da União Europeia, tal significa que aí se aplicam as normas de direito
comunitário.
As normas e princípios dos Tratados Constitutivos da União Europeia e das
Comunidades Europeias (e respetivos protocolos, anexos e atos modificativos)
denominam-se Direito
Comunitário Originário.
As normas criadas pelos órgãos da União e das Comunidades dotados de poder
normativo denominam-se Direito Comunitário Derivado. Os principais instrumentos
normativos utilizados na criação de Direito Comunitário derivado são os regulamentos,
as diretivas e as decisões comunitárias.
Regulamentos – são atos genéricos, abstratos, obrigatórios e diretamente aplicáveis nos
ordenamentos jurídicos internos dos estados membros.

Diretivas – são atos que visam a harmonização dos direitos dos Estados-Membros,
obrigando à transposição para os ordenamentos internos, dentro de certos prazos, das
soluções jurídicas impostas por esses atos legislativos. O objetivo é a harmonização
normativa. Não é a comunidade que legisla mas impõe aos estados membros que eles
próprios legislem.

Decisões – são atos individuais, concretos e obrigatórios que podem ter como
destinatário os estados membros ou pessoas singulares ou coletivas desses estados.
Não são fontes de direito na medida em que não têm caráter geral, no entanto, são
vinculativas para os seus destinatários. Não são atos normativos porque não criam
regras jurídicas, são antes soluções concretas para certos casos.

Direito Público
Conjunto de ramos de Direito, cujas normas estabelecem a organização e o
funcionamento do Estado e das demais entidades públicas ou regulam os direitos e
deveres públicos do Estado perante as pessoas e destas perante a sua autoridade pública.
Estado exerce o seu poder de autoridade (publica potestas).

Direito Privado
Conjunto de ramos de Direito, cujas normas regulam as relações entre os particulares e
dos particulares com o Estado e outras entidades públicas quando estas estabelecem
relações jurídicas despidos do seu ius imperium. Traduz a liberdade e autonomia dos
particulares (relações jurídicas privadas).

Principais critérios de distinção


Natureza dos interesses:
Direito Público: satisfação de interesses públicos.
Direito Privado: satisfação de interesses privados.

Crítica: Difícil determinar a fronteira entre interesse público e interesse privado.

Qualidade dos sujeitos:


Direito Público: Regulam situações jurídicas em que o Estado, ou outra entidade
pública, surja como sujeito.
Direito Privado: Regulam situações jurídicas em que os sujeitos jurídicos sejam apenas
particulares.

Crítica: Estado surge muitas vezes despido do seu ius imperium, sujeitando-se regras de
direito privado.
Posição dos sujeitos na relação jurídica:
Direito Público: Constituído pelas normas que regem a atividade do Estado e das outras
entidades públicas como sujeitos dotados de poder.
Direito Privado: Conjunto de normas que regulam as relações jurídicas entre os
particulares que estão numa posição de igualdade.

A subclassificação do Direito Civil


Direito Civil: Conjunto de normas que regulam as relações entre particulares, sendo o
direito subsidiário dos outros ramos de Direito Privado:
• Princípios Gerais (Livro I);
• Direito das obrigações (Livro II);
• Direito das Coisas (Livro III);
• Direito da Família (Livro IV);
• Direito das Sucessões (Livro V).
• Direito das Obrigações: «Regula o tráfico de bens e serviços e a reparação dos
danos e têm por instituição fundamental o contrato como forma por excelência
de expressão da autonomia privada» (MACHADO, João Batista, Introdução ao
Direito e ao Discurso Legitimador, p. 71).
• Direito das Coisas (Direitos Reais): Regula o poder dos homens sobre os bens
móveis/imóveis e as formas da sua utilização. Centra-se na propriedade.

Direito real: Direito subjetivo que recai diretamente sobre coisas ou realidades a elas
juridicamente assimiladas. Direito absoluto, oponível pelo seu titular a todas as pessoas.
Direito da Família: Regula as relações familiares, os direitos e obrigações que as
mesmas implicam. Casamento, divórcio, adoção, perfilhação, parentesco, afinidade,
entre outras.
Direito das Sucessões: Regula a sucessão dos bens por morte (Sucessão legitimária,
testamentária ou legítima).
A sucessão é um efeito jurídico, mais concretamente uma aquisição mortis causa.

O Direito Civil e os direitos privados especiais


Direito Comercial: Regula as relações jurídicas comerciais e dos comerciantes no
exercício da sua atividade comercial. Estuda as sociedades comerciais, os contratos
comerciais, títulos de crédito.
Direito do Trabalho: Regula as relações laborais, instituindo regras de funcionamento,
direitos e deveres dos empregadores e dos empregados.

Os principais ramos de Direito Público


Direito Constitucional: Estabelece os princípios fundamentais da estrutura política e
organizatória do Estado; lei superior; fonte de produção jurídica de outras normas; todos
os atos dos poderes públicos devem estar em conformidade com a Constituição.

Direito Administrativo: Disciplina a atividade e organização da Administração Pública.


Visa a satisfação das necessidades coletivas, tais como segurança, comunicações, saúde,
educação, entre outras. Reflete a dimensão interventiva dos Estado.
Os principais ramos de Direito Público
Direito Tributário: conjunto de normas que disciplinam a atividade do Estado
desenvolvida no sentido de arrecadação das receitas coativas (taxas, impostos e
contribuições especiais).
Direito Penal: Sistema normativo que qualifica determinados comportamentos como
crimes, fixando penas e medidas de segurança.

O Direito Processual
Direito adjetivo ou instrumental (visa a efetivação do direito substantivo), que regula a
forma que deve ser seguida para submeter a juízo as relações jurídicas em que surgem
conflitos (os atos praticados pelo Tribunal e pelos particulares durante a pendência da
ação judicial). Inclui, entre outros, o Direito Processual Civil, Direito Processual Penal,
Direito Processual Laboral e Direito Processual Administrativo.

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