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FUNDAMENTOS DE DIREITO

ANO LETIVO 2022/2023


CAPÍTULO II
AS NORMAS JURÍDICAS E AS FONTES DO DIREITO
A NORMA JURÍDICA

As normas jurídicas são “unidades


normativas” que exprimem a ordem
jurídica, funcionando como
mediadoras na “aplicação” do direito
às diversas situações da vida.
A NORMA JURÍDICA
COMPOSIÇÃO DA NORMA

“Aquele que, com dolo ou mera culpa, violar ilicitamente o direito de outrem ou qualquer
disposição legal destinada a proteger interesses alheios fica obrigado a indemnizar o lesado
pelos danos resultantes da violação.” – Artigo 483.º do Código Civil

Previsão

Estatuição
A NORMA JURÍDICA

• Qual é a interpretação que fazemos da norma transcrita?

“Quem causa um dano a outro é obrigado a indemnizar.”

Em suma:

A norma prevê que a verificação de um facto ou vários factos desencadeia a


consequência jurídica prevista na estatuição.

Nota: Os factos constantes na previsão podem decorrer de dados normativos.


A NORMA JURÍDICA
Dados normativos:
É necessário discutir a problemática
da utilização de conceitos jurídicos.
Exemplo:
Conceito de sócio, gerente,
administrador, transmissão de
propriedade, entre outros.
A NORMA JURÍDICA
Por este motivo, o legislador português prefere referir que a previsão é composta por uma
hipótese normativa, em vez de factos.

Cuidados a ter:

- Conceitos que possuem um específico sentido jurídico;

- Sentido da lei em relação a determinados conceitos;

- Modo interpretativo dos conceitos e a sua abrangência (ex. armas perigosas)

- Ter a consciência que estamos a aferir da verificação de um conceito jurídico;


A NORMA JURÍDICA
A classificação das normas :
1. Normas permissivas, proibitivas e percetivas;
2. Normas Gerais e normas excecionais;
3. Normas de direito comum e normas de direito especial;
4. Normas autónomas, não autónomas e disposições normativas
incompletas;

Nota: ver a classificação da pág. 93 – 96 do manual


AS FONTES DO DIREITO
A. A Lei

É composta por dois sentidos distintos:

- sentido material: normas jurídicas independentemente da sua forma – Ex. DL do Governo; DL


regionais, entre outros.

- sentido formal: diploma emanado pelo órgão legislativo (AR) – Ex. autorizações legislativas;

Exemplos de leis (preenchidos os dois sentidos):

- A Constituição;

- Leis de revisão constitucional;

- Leis ordinárias da Assembleia da República;


AS FONTES DO DIREITO

B. O Costume

Definição: prática social reiterada, com convicção de obrigatoriedade.

Os elementos que compõem o costume são:

a. Corpus: observância de determinado padrão de conduta, de forma geral e uniforme,


com certa duração.

b. Animus: convicção de se estar a obedecer a uma regra geral e abstrata obrigatória.


AS FONTES DO DIREITO

O direito consuetudinário não é deliberadamente produzido, pelo que, o


costume é entendido como uma fonte não voluntária.

Por muito tempo (até meados do séc. XVIII), o costume era a principal
fonte de direito, porém, a sociedade industrial começou a colocar entraves à
formação do direito por esta via.

Em todo o caso, atualmente, apenas é admitida relevância jurídica aos usos.


AS FONTES DO DIREITO
C. A Jurisprudência

Definição: conjunto de decisões em que se exprime a orientação seguida pelos


tribunais, que julgam casos concretos.

Idealmente, deveria entender-se que a jurisprudência é fonte de direito, na medida em


que, o seu entendimento, vincula todos os tribunais no julgamento de casos futuros
do mesmo tipo. – Regra do Precedente.

Em Portugal aplicar-se-á esta regra?


AS FONTES DO DIREITO
Não!
Em Portugal, as decisões dos tribunais só têm força vinculativa nos limites do “caso julgado”.
E, mesmo nestas situações, os entendimentos que formam o caso julgado não vinculam, como
se fossem regras gerais.
Soluções:
- Acórdãos dos tribunais superiores;
- Acórdãos uniformizadores;

Em todo o caso, não há uma vinculação plena, pois os tribunais não produzem regras gerais e
abstratas, salvo no caso dos assentos.
AS FONTES DO DIREITO

Em caso de conflito, o Supremo Tribunal de Justiça e o Tribunal de Contas


podem fixar doutrina “com foça obrigatória geral” – art. 2.º do CC.

As normas são editadas sob forma de assento, devidamente publicado no Diário


da República, e vinculam todos os tribunais, todas as demais pessoas e
entidades.

São fontes mediatas do direito – que pode ser interpretativa (fixa o sentido da
norma) ou inovadora (preenche uma lacuna no sistema jurídico).
AS FONTES DO DIREITO
D. A Doutrina

São opiniões ou pareceres elaborados por especialistas numa determinada matéria,


sustentado por bases científicas ou doutrinárias.

Constam de:

- Tratados;

- Monografias;

- Manuais, anotações ou estudos jurídicos;


AS FONTES INTERNACIONAIS
Direito da União Europeia

a. Tratados – acordos vinculativos entre os países da UE, que definem os objetivos


prosseguidos, as regras de funcionamento das instituições europeias, o processo de
tomada de decisão e as relações entre a UE e o mundo “exterior”.

b. Regulamentos – é um ato legislativo vinculativo, aplicável em todos os EM.

c. Diretivas – é um ato legislativo que fixa um objetivo geral que todos os países da EU
devem alcançar. Cada país tem que transpor a diretiva para a legislação interna.
OS PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO

• Princípio democrático – atribui poder constituinte ao povo e impõe limites


ao exercício desse poder.

• Princípios fundamentais contemplados na Declaração Universal dos


Direitos do Homem;

• Princípios gerais de direito comum às nações civilizadas;

• Princípios universais (gerais do ordenamento interno);


A EQUIDADE

Artigo 4.º do Código Civil:

“Os tribunais só podem resolver segundo a equidade:

a) Quando haja disposição legal que o permita;

b) Quando haja acordo das partes e a relação jurídica não seja indisponível;

c) Quando as partes tenham previamente convencionado o recurso à


equidade, nos termos aplicáveis à cláusula compromissória.”
A EQUIDADE

O que é “equidade”?

Sustenta-se na ideia de justiça, igualdade e imparcialidade.

Ora, nos termos do aludido preceito legal, o julgador encontra-se vinculado a


resolver o litígio segundo os precisos termos em que a lei o consente.

Não é uma fonte de direito!


A HIERARQUIA DAS FONTES E DAS NORMAS –
CONFLITOS DE NORMAS
A hierarquia das normas depende da hierarquia das fontes. Importa, contudo,
mencionar que as leis ordinárias não podem contrariar as leis constitucionais, sob
pena de padecerem do vício de inconstitucionalidade.

Neste caso, não podem ser aplicadas pelos tribunais


ou órgãos aplicadores do direito.
A HIERARQUIA DAS FONTES E DAS NORMAS –
CONFLITOS DE NORMAS
A inconstitucionalidade pode ser:

a. Orgânica – o ato que dá origem à norma está viciado nos seus pressupostos (ex.
incompetência do órgão em função da matéria – criação de impostos);

b. Formal – o ato que dá origem à norma padece de vícios relativos ao seu processo de
formação (ex. são preteridos trâmites ou formalidades constitucionalmente prescritas);

c. Material (substancial) – quando o vicio afeta o conteúdo da norma, ou seja, quando o


conteúdo é contrário ao constitucionalmente previsto.
A HIERARQUIA DAS FONTES E DAS NORMAS –
CONFLITOS DE NORMAS

Hierarquia das fontes

- No topo da pirâmide encontramos, naturalmente, as Leis Constitucionais –


artigo 3 e 277.º da CRP.

- Leis da Assembleia da República e Decretos-leis do Governo.

- Decretos regulamentares e decretos (simples).

- Portarias e despachos normativos.

- Regulamentos locais.
A HIERARQUIA DAS FONTES E DAS NORMAS –
CONFLITOS DE NORMAS

E em caso de conflito?

- Se o conflito se verificar perante fontes de hierarquia diferente, aplica-se o


critério da superioridade.

- Se o conflito se verificar entre leis da mesma hierarquia, aplica-se o


critério da posterioridade (prefere a lei mais recente).

- Nota: não esquecer que a lei especial prevalece sobre a lei geral.
A HIERARQUIA DAS FONTES E DAS NORMAS –
CONFLITOS DE NORMAS

• Então que tipo de conflitos


poderão existir?
- No âmbito da aplicação da lei no
tempo;
- No âmbito da aplicação da lei no
espaço;
BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA
MACHADO, João Batista – Introdução ao Direito e ao Discurso Legitimador:
1. A norma jurídica – 79 e 80;
2. As fontes – 153 a 163;
3. Os princípios – 163;
4. Hierarquia das fontes – 166 a 170;

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