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Processo Civil

NORMAS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO CIVIL:


INTRODUÇÃO

1. Interpretação conforme a Constituição Federal

Art. 1º, CPC: O processo civil será ordenado, disciplinado e interpretado conforme os valores e as normas fundamentais
estabelecidos na Constituição da República Federativa do Brasil, observando-se as disposições deste Código.

Inicialmente, cabe dizer o óbvio: o direito processual civil deve ser lido a partir da normativa constitucional. A
informação consta expressamente no art. 1º, CPC, e também pode ser identificada no art. 8º, CPC, quando estabelece
que ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às exigências do bem comum, resguardando e
promovendo a dignidade da pessoa humana e observando a proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a
publicidade e a eficiência – alinhando-se com os princípios fundamentais da Constituição Federal.

2. NORMAS JURÍDICAS: PRICÍPIOS x REGRAS

Norma jurídica é a interpretação de determinado dado previsto no ordenamento jurídico. Por isso, não se pode
confundir norma jurídica e texto legal – que é o dispositivo positivado, pois apenas quando há a extração do sentido do
texto legal é que a norma legal passa a ser norma jurídica.

NORMAS PRINCÍPIOS NORMAS REGRAS


Nas normas princípios há pautas genéricas, isto é, Nas normas regras há pautas específicas, pois elas
programas abstratos para regular a vida em sociedade. IMPÕEM, PERMITEM ou PROIBEM algo.
As normas princípios permitem adaptação conforme As normas regras precisam mudar constantemente, pois
tempo e local; porém, geram grande insegurança jurídica não permitem flexibilização; porém, há maior segurança
por essa maior amplitude interpretativa. jurídica, devido a essa menor amplitude interpretativa.
Normalmente, as normas princípios não estão
Em regra, as normas regras são expressamente previstas.
positivadas, elas estão implícitas.
A solução do conflito entre normas princípios se dá A solução do conflito entre normas regras se dá através
através da combinação pela ponderação. dos critérios estabelecidos no art. 2º, LINDB1.
Exemplo de norma regra:
Exemplo de norma princípio:
Art. 5º, LXX, a, CF - o mandado de segurança coletivo
Art. 5º, LIV, CF - ninguém será privado da liberdade ou de
pode ser impetrado por partido político com
seus bens sem o devido processo legal;
representação no Congresso Nacional;

3. Dimensões das normas princípios

As dimensões das normas princípios referem-se ao modo em que se devem utilizá-las.

a) Objetiva
I. VETOR LEGISLATIVO: o legislador é atingido pelas normas princípios. Assim, ao elaborar normas
regras, o legislador deve estar atento aos princípios existentes no sistema.
II. VETOR INTERPRETATIVO: o aplicador do direito é atingido pelas normas princípios. Assim, os
juízes, na condução do processo, devem interpretar as normas jurídicas à luz dos princípios
existentes no sistema. Por exemplo, a Lei 10.259/01 (JEF) não traz em seu bojo a previsão de
contraditório na fase de cumprimento de sentença; porém, atentos aos princípios do
contraditório e da ampla defesa, os juízes do JEF facultam ao Estado a possibilidade de contestar
o cálculo trazido pelo autor.
b) Subjetiva
As normas princípios estabelecem uma posição jurídica de vantagem para quem se beneficia delas,
portanto atingem os sujeitos do processo.

4. Classificação dos princípios processuais

a) Princípios informativos ou formativos


Os princípios informativos são verdadeiros axiomas jurídicos – verdades absolutas – que representam a
base da teoria do processo. São eles:
I. LÓGICO: o processo civil se desenvolve através de atos concatenados de maneira lógica, de forma
que, ao final, possa se chegar a uma decisão.
II. ECONÔMICO: os processos devem ter a maior eficácia e o menor custo possível.
III. JURÍDICO: o processo se espelha em determinado ordenamento jurídico, ainda que se fale em
regras processuais não positivadas (escritas).
IV. POLÍTICO: o processo tem a função de afirmar a vontade da lei – portanto, é o mesmo que dizer
que o processo afirma a vontade do Estado (quem cria as leis).
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Art. 2º, LINDB: Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue.
§1º A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela incompatível ou
quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior.
§2º A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não revoga nem modifica
a lei anterior.
§3º Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência.
b) Princípios gerais, genéricos ou fundamentais
Os princípios fundamentais – que podem ser explícitos ou implícitos – são fruto da opção político-
ideológica de cada Estado, portanto variam a depender do país. E assim dividem-se:
I. CONSTITUCIONAIS: princípios fundamentais previstos na Constituição Federal.
II. INFRACONSTITUCIONAIS: princípios fundamentais previstos no Código de Processo Civil
(especialmente arts. 1º ao 11) e outras normas infraconstitucionais.

NORMAS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO CIVIL: PRINCÍPIOS 2

1. Princípio da demanda/inércia/dispositivo e impulso oficial

Art. 2º, CPC: O processo começa por iniciativa da parte e se desenvolve por impulso oficial, salvo as exceções previstas em lei.

a) Aplicação prática

Art. 141, CPC: O juiz decidirá o mérito nos limites propostos pelas partes, sendo-lhe VEDADO conhecer de questões
não suscitadas a cujo respeito a lei exige iniciativa da parte.

Art. 492, caput, CPC: É VEDADO ao juiz proferir decisão de natureza diversa da pedida, bem como condenar a parte
em quantidade superior ou em objeto diverso do que lhe foi demandado.

TOME NOTA! A Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça (STJ) anulou acórdão da Segunda Turma Julgadora Mista
dos Juizados Especiais de Goiás que, DE OFÍCIO, condenou o Banco Bradesco S/A a pagar R$ 15 mil como INDENIZAÇÃO
POR DANO SOCIAL pelo fato de um cliente ter permanecido muito tempo na fila de atendimento. Segundo o ministro
Salomão, o Código de Processo Civil concretiza os princípios processuais da inércia e da demanda e estabelecem que a
atividade jurisdicional está submetida aos limites do pedido e da causa de pedir. Portanto, os danos sociais – difusos,
coletivos e individuais homogêneos – devem ser reclamados por quem tem legitimidade para propor ações coletivas .
Assim, ainda que o autor da ação tivesse apresentado pedido de fixação de dano social, haveria falta de legitimidade
para pleitear, em nome próprio, um direito da coletividade.

b) Mitigação

I. INTERPRETAÇÃO DOS PEDIDOS


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Apesar do LIVRO I, TÍTULO ÚNICO, Capítulo I, do CPC/15 dispor sobre as normas fundamentais do processo civil, há
também, entre elas, normas regras, como o art. 12 – “Os juízes e os tribunais atenderão, preferencialmente, à ordem
cronológica de conclusão para proferir sentença ou acórdão (...)”. E, ainda, ao revés, importante destacar que o
Capítulo não se trata de um rol taxativo, pois há outras normas princípios elencadas dentro do CPC/15.
Art. 322, §2º, CPC: A interpretação do pedido considerará o conjunto da postulação e observará o princípio da boa-fé.

O art. 322, §2º, CPC, mitiga o rigor do princípio da demanda ao abrir a possibilidade de concessão de pedidos
implícitos. Por exemplo: Imagine que haja uma negativação indevida... Na ação, o autor pede indenização por danos
morais, mas esquece de pedir a declaração de inexistência do débito. Neste caso, o juiz pode entender que tal pedido
está IMPLÍCITO e, portanto, concedê-lo.

II. PODERES INSTRUTÓRIOS DO JUIZ

Art. 370, caput, CPC: Caberá ao juiz, DE OFÍCIO ou a requerimento da parte,


determinar as provas necessárias ao julgamento do mérito.

O princípio da demanda também sofre mitigação em face dos poderes instrutórios do juiz. Assim, apesar de ser
dever das partes o pedido das provas que desejam produzir; o art. 370, caput, CPC, estabelece que, ainda que as partes
não peçam determinadas provas, o juiz poderá determinar – de ofício – as provas necessárias ao julgamento do mérito.

c) Exceções

I. CUMULAÇÃO LEGAL DE PEDIDOS

Art. 322, §1º, CPC: Compreendem-se no (pedido) principal os juros legais, a correção monetária e as verbas de
sucumbência, inclusive os honorários advocatícios – ainda que não conste expressamente.

Art. 323, CPC: Na ação que tiver por objeto cumprimento de obrigação em prestações sucessivas, essas serão
consideradas incluídas no pedido, INDEPENDENTEMENTE DE DECLARAÇÃO EXPRESSA DO AUTOR, e serão incluídas na
condenação, enquanto durar a obrigação, se o devedor, no curso do processo, deixar de pagá-las ou de consigná-las.

II. QUESTÕES QUE NÃO PRECISAM SER SUSCITADAS

Art. 278, CPC: A nulidade dos atos deve ser alegada na primeira oportunidade em que couber à parte falar nos autos,
sob pena de preclusão.
Parágrafo único. Não se aplica o disposto no caput às nulidades que o juiz deva decretar DE OFÍCIO, nem prevalece a
preclusão provando a parte legítimo impedimento.

Art. 485, §3º, CPC: O juiz conhecerá DE OFÍCIO, em qualquer tempo e grau de jurisdição, enquanto não ocorrer o
trânsito em julgado, as seguintes matérias:
→ Ausência de pressupostos de constituição e de desenvolvimento válido e regular do processo;
→ Existência de perempção, de litispendência ou de coisa julgada;
→ Ausência de legitimidade ou de interesse processual;
→ Ação considerada intransmissível por disposição legal em caso de morte da parte.

Art. 493, CPC: Se, depois da propositura da ação, algum fato constitutivo, modificativo ou extintivo do direito influir no
julgamento do mérito, caberá ao juiz tomá-lo em consideração, DE OFÍCIO ou a requerimento da parte, no momento
de proferir a decisão.
Parágrafo único. Se constatar de ofício o fato novo, o juiz ouvirá as partes sobre ele antes de decidir.

III. INICIATIVA OFICIAL AUTORIZADA POR LEI

Art. 712, caput, CPC: Verificado o desaparecimento dos autos, eletrônicos ou não, PODE O JUIZ, DE OFÍCIO, qualquer
das partes ou o Ministério Público, se for o caso, PROMOVER-LHES A RESTAURAÇÃO.

Art. 730, CPC: Nos casos expressos em lei, não havendo acordo entre os interessados sobre o modo como se deve
realizar a alienação do bem, O JUIZ, DE OFÍCIO ou a requerimento dos interessados ou do depositário, MANDARÁ
ALIENÁ-LO EM LEILÃO (...).

Art. 738, CPC: Nos casos em que a lei considere jacente a herança, O JUIZ em cuja comarca tiver domicílio o falecido
PROCEDERÁ IMEDIATAMENTE À ARRECADAÇÃO DOS RESPECTIVOS BENS.

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