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INTRODUÇÃO À CIÊNCIA

DO DIREITO

AULA 9
ORDENAMENTO JURÍDICO:
UNIDADE, COERÊNCIA E COMPLETUDE
LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO

DECRETO-LEI Nº 4.657, DE 4 DE SETEMBRO DE 1942.


(Lei de introdução ao Código Civil)

Traz regras básicas para a aplicação das leis brasileiras. Tais


regras orientam a aplicação das leis no tempo e no espaço,
bem como orientam o aplicador do direito a sentenciar em
situações onde não exista norma jurídica aplicável.

LEI Nº 12.376, DE 30 DE DEZEMBRO DE 2010.


Altera a ementa do Decreto-Lei no 4.657, de 4 de setembro de 1942.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a
seguinte Lei:
Art. 1o Esta Lei altera a ementa do Decreto-Lei no 4.657, de 4 de setembro de 1942,
ampliando o seu campo de aplicação.
Art. 2o A ementa do Decreto-Lei no 4.657, de 4 de setembro de 1942, passa a vigorar com a
seguinte redação:
“Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro.”
Art. 3o Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
VIGÊNCIA DAS NORMAS JURÍDICAS BRASILEIRAS

Artigo 1º - Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país 45 (quarenta e
cinco) dias depois de oficialmente publicada.

“VACACIO LEGIS” - tempo entre a publicação da norma e a sua


entrada em vigor

Objetivo: levar ao conhecimento do destinatário da norma o teor da


mesma, antes que ela passe a vigorar. A norma obriga a todos,
portanto deve haver a oportunidade de prévio conhecimento.

-Regra geral – 45 dias.

O “vacacio” dos códigos (Penal, Civil etc.) normalmente é de um ano.

ATRIBUTO DAS NORMAS ESCRITAS – CARACTERÍSTICA FORMAL


§ 3º - Se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova publicação de seu texto,
destinada à correção, o prazo deste artigo e dos parágrafos anteriores começará a
correr da nova publicação.

§ 4º - As correções a texto de lei já em vigor consideram-se lei nova.


Artigo 2º - Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a
modifique ou revogue.

Deverá haver menção ao período temporário. A lei deve vigorar indefinidamente.

§ 1º - A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com
ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior.

Assim, há duas formas de revogação:


- Tácita – indireta (parcial ou total);
- Expressa – às claras.

Ex.: Uma lei A trata do aluguel de um imóvel. Uma lei B também trata de tal aluguel, mas
não faz referência ao índice de correção. Nesse caso, a revogação seria tácita parcial.

§ 2º - A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não
revoga nem modifica a lei anterior.

Uma lei que melhor explique algum tema, que venha a favorecer a compreensão do sentido
desse tema, não revoga a lei anterior.

Só revoga a anterior a lei que tenha o objetivo de disciplinar o tema por ela tratado.
Princípio da continuidade ou permanência da norma

Se a lei cumpriu o tempo da vacatio e entra em vigor, submete-se a esse


princípio, ou seja: permanece em vigor até que outra, no todo ou em parte,
venha revogá-la.(art. 2º parágrafo 1º).

A revogação pode ser denominada:

a) Ab-Rogação – revogação total, a exemplo da realizada pelo CC/2002 em


relação ao CC/16;
b) Derrogação – revogação parcial, a exemplo da realizada pelo CC/2002 à
primeira parte do Código Comercial.

OBS: É inadmissível a revogação de leis pelos usos e costumes.

A revogação de lei será sempre por outra lei.


Repristinação

(§ 3º do art. 2º, LINDB)

É a restauração da norma, o seu renascimento.

Trata-se de EXCEÇÃO, e deve ser prevista de forma expressa.

§ 3º - Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora
perdido a vigência.
OBRIGATORIEDADE GERAL E ABSTRATA DAS NORMAS

Artigo 3º - Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece.

Princípio da inescusabilidade legal / Princípio da Obrigatoriedade da Norma

Por que a ninguém é dado o direito de descumprir a lei por não conhecê-la?
Porque a norma é publicada, sendo, portanto, presumivelmente, do
conhecimento de todos.

CRÍTICA

“A publicação não faz a lei conhecida por todos. A ideia de que todos conhecem a lei
porque esta é publicada está longe da realidade. No Brasil, por exemplo, nem mesmo os
melhores juristas conhecem todas as leis.” (Hugo de Brito Machado)

PUBLICAÇÃO NÃO GERA O AUTOMÁTICO


CONHECIMENTO DA LEI POR TODOS,
APENAS TORNA-O POSSÍVEL
INTEGRAÇÃO NORMATIVA

Artigo 4º - Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo


com a analogia, os Costumes e os princípios gerais de direito.

OBS: Apesar de constar no artigo que o juiz será o aplicador da norma, o uso dos
mecanismos de integração será indicado já pelos advogados, procuradores, etc.,
quando forem expor seus argumentos nas demandas de seus representados.

INTERPRETAÇÃO DAS NORMAS

Artigo 5º - Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins


sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum.

Sendo muitas vezes necessária a ponderação entre princípios


fundamentais em um caso concreto.
APLICAÇÃO DA NORMA NO TEMPO (DIREITO INTERTEMPORAL)

Artigo 6º - A lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito,
direito adquirido e a coisa julgada.

§ 1º - Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que
se efetuou.

§ 2º - Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou alguém por ele, possa
exercer, como aqueles cujo começo do exercício tenha termo prefixo, ou condição
preestabelecida inalterável, a arbítrio de outrem.

§ 3º - Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial de que já não caiba recurso.
NORMAS JURÍDICAS: INTERPRETAÇÃO E INTEGRAÇÃO

DIREITO = ordenamento que visa regular a conduta humana de forma externa, bilateral e
coercitiva - através de um complexo de normas jurídicas gerais e abstratas.

As normas jurídicas irão incidir sobre os casos específicos e concretos.

Para aplicar a lei ao caso concreto (fato ocorrido), o juiz irá observar a hipótese de incidência.

“submeter um caso particular ao império de uma norma jurídica”


(DINIZ, p. 422)

OCORRÊNCIA DE FATO
COMPATÍVEL COM A APLICAÇÃO DOS EFEITOS
HIPÓTESE DESCRITA NA PREVISTOS PARA ESSA HIPÓTESE
NORMA

EXEMPLO: FATO – HOMEM – MAIORIDADE


NORMA – ALISTAMENTO MILITAR OBRIGATÓRIO
INTERPRETAÇÃO

NEM TODA NORMA TEM SUA APLICAÇÃO TÃO SIMPLES E EXATA

Normas cujo alcance de sentido necessita de uma análise mais complexa

Atuação INTERPRETATIVA do aplicador do direito para:

-Entender o verdadeiro sentido e significado das palavras


contidas na lei
Principais Funções
-Estabelecer os limites ao alcance da aplicação de uma
norma a determinados fatos
PROBLEMÁTICA NA APLICAÇÃO JURÍDICA
(Maria Helena Diniz)

-FALTA DE PROVAS que embasem suficientemente o convencimento do juiz sobre a


verdade e seus detalhes

-INDETERMINAÇÃO SEMÂNTICA, VAGUIDADE ou AMBIGUIDADE dos conceitos que


definem normativamente as hipóteses (necessários para a generalidade e abstração
da norma jurídica)

“A subsunção do caso individual sob um genérico encontra-se, sinteticamente, ante a


questão: o caso concreto tem solução, mas o magistrado não sabe qual é, ou por falta
de informação sobre algum fato relevante (..) ou porque o caso individual cai dentro
da zona de vaguidade ou de penumbra de algum conceito relevante (...)” (DINIZ, p.
425)
IMPORTANTE

Faz parte do método de interpretação, a busca pela finalidade de uma lei, ou seja, por
descobrir:

Qual a vontade do legislador?


Qual o objetivo para o resultado e a existência de uma lei?
A quem ela se dirige?

As respostas para essas perguntas estabelecerão os limites daquela norma.

FINALIDADE SOCIAL – BEM COMUM COLETIVO DEVE PREVALECER


Quando houver colisão entre interesses individuais e coletivos

Exemplo: direito de propriedade X direito de moradia

Ou seja, nem sempre a aplicação das leis é simples e automática


INTEGRAÇÃO
Por mais detalhado e criterioso que seja o
processo de elaboração de leis, o poder
legislativo não pode prever todas as ocorrências a
serem disciplinadas.

Considerando que:

A DINÂMICA DA REALIDADE GERA A PERMANENTE CRIAÇÃO DE NOVOS TIPOS DE FATO

Alguns podem ser solucionados pela interpretação,


enquadrando-se em uma norma abstrata e genérica
já existente.

Para os que não se encaixam pela via interpretativa, surge uma falha.
A essa falha, atribui-se o nome de LACUNA
OBSERVAÇÃO:
A DOUTRINA DIVERGE SOBRE A EXISTÊNCIA DE LACUNAS OU OMISSÕES DA LEI,
NO ORDENAMENTO, E NO PRÓPRIO DIREITO.

Prevalece a teoria de que o Ordenamento Jurídico é pleno,


ou seja, nele estão contidas todas as soluções para os fatos.

AINDA QUE A SOLUÇÃO LACUNA NA LEI, E


NÃO SEJA A ESTRITA NÃO NO
APLICAÇÃO DA LEI ORDENAMENTO

“a completude é algo mais que uma exigência, é uma necessidade, quer dizer,
é uma condição necessária para o funcionamento do sistema.” (Bobbio)
O DIREITO BRASILEIRO ADMITE EXPRESSAMENTE A EXISTÊNCIA DE LACUNAS NA LEI

“Art. 126 - O juiz não se exime de sentenciar ou despachar alegando lacuna ou


obscuridade da lei. No julgamento da lide caber-lhe-á aplicar as normas legais; não as
havendo, recorrerá à analogia, aos costumes e aos princípios gerais de direito.”(CPC).

“Art. 4º - Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os
costumes e os princípios gerais de direito”. (Lei de Introdução às Normas do Direito
Brasileiro).

MECANISMOS DE INTEGRAÇÃO NO  ANALOGIA


ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO  COSTUMES
PRINCÍPIOS GERAIS DE DIREITO
Fundamento
(Função da Integração Normativa)

Garantir a harmonia e coerência ao Ordenamento


Jurídico, através da capacidade de integração,
demonstrando sua completude.

Auto-Integração: Soluciona as lacunas normativas através de mecanismos internos,


ou seja, de normas ou princípios integrantes do próprio ordenamento jurídico.

Hetero-Integração: Solução a partir de mecanismos oriundos de fora do sistema


jurídico, mas que são por ele aceitos como possíveis fontes. Exemplo: Costumes sociais
e princípios externos, cujo valor ético é reconhecido.
ANALOGIA

“Entende-se por analogia o procedimento pelo qual se atribui a um caso não


regulamentado a mesma disciplina que um caso regulamentado semelhante.”
(Norberto Bobbio)

Aplicar à televisão um preceito legal referente ao rádio;


Aplicar à uma empresa de transportes rodoviários norma relativa às companhias
ferroviárias.
Exemplo: Viagem aérea - bagagens extraviadas nas conexões – supondo que haja
ausência de lei que determine quem é responsável – possibilidade de utilização de
norma equivalente, nas regras de transporte rodoviário ou ferroviário.
NORMA PARADIGMA – aplicação lógica

Fórmula do raciocínio por analogia

MéP
S é semelhante a M
SéP

Exemplo: Ex:
Os homens são mortais. Essa semelhança tem que ser Os seres vivos são mortais.
Os cavalos são semelhantes aos FUNDAMENTAL para não cair Os cavalos são seres vivos.
homens. no raciocínio lógico falso Os cavalos são mortais.
Os cavalos são mortais.

Comércio de Livros policiais


Exemplo jurídico: Comércio de DVDs com canções obscenas
Lei – Proibição de Comércio de
Livros Obscenos Qual dos dois merece a aplicação da pena
por analogia?
OBSERVAÇÃO IMPORTANTE
O USO DA ANALOGIA
NÃO É ILIMITADO
Exemplo: Direito Penal e Direito Tributário
- Não se pode aplicar uma norma paradigma que:
Defina uma situação fática como crime (criar crimes)
Defina uma nova hipótese de incidência fiscal (criar tributos)
- Não se pode aplicar uma norma que venha a agravar a situação da pessoa,
atribuindo-se pena não especificamente prevista em lei.

Princípio Constitucional da Legalidade (“Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer


alguma coisa senão em virtude da lei” – CF, art. 5º., inc. II)

Princípio da Legalidade das Penas e Delitos (“Não há crime sem lei anterior que o defina.
Não há pena sem prévia cominação legal”. CPB, art.1º)

Princípio da Legalidade da Lei Tributária (“Nenhum tributo será exigido ou aumentado


sem que a lei o estabeleça, nem cobrado, em cada exercício, sem que a lei que o houver
instituído ou aumentado esteja em vigor antes do início do exercício financeiro,
ressalvados ...” - CF/88, art. 153, Parágrafo 29)
Admissibilidade no Direito Penal: uso da analogia “in bonam partem”, ou seja, em
benefício do réu.

EXEMPLO: LEI Nº 11.343, DE 23 DE AGOSTO DE 2006. Institui o Sistema Nacional de


Políticas Públicas sobre Drogas

Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à
venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar,
entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em
desacordo com determinação legal ou regulamentar:
Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e
quinhentos) dias-multa.
§ 3º Oferecer droga, eventualmente e sem objetivo de lucro, a pessoa de seu
relacionamento, para juntos a consumirem:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e pagamento de 700 (setecentos) a 1.500 (mil e
quinhentos) dias-multa, sem prejuízo das penas previstas no art. 28.
Difere o delito privilegiado do tipo básico:
- a oferta deve ser eventual e
- sem objetivo de lucro e
- direcionada a pessoa do relacionamento do agente e
- destinada ao consumo conjunto

E se ...

- sem objetivo de lucro + pessoa conhecida + consumir sozinha

exemplo: namorado que oferece droga eventual e gratuitamente à sua namorada e, nesta
ocasião, por qualquer motivo, não faz o consumo da substância, é um traficante ?????

Fazer uma analogia ao que seria o tipo mais grave, para o tipo privilegiado seria em benefício da
parte.
PRINCÍPIOS GERAIS DE DIREITO

Valores basilares e fundamentais do Direito

“São os princípios que dão consistência


ao edifício do Direito, enquanto valores
que dão-lhe sentido.” (Paulo Nader)

Embora a expressão seja "Princípios Gerais do Direito", inclui-se tanto os princípios gerais
(comuns a qualquer área) quanto os específicos (relativos a uma determinada área), assim
como aqueles que surgem no ordenamento jurídico como reflexo de questões históricas,
políticas, etc. .

Dupla função:
- orientam o legislador na elaboração das normas
-orientam o aplicador do Direito, diante de uma lacuna ou omissão legal; bem como na
própria garantia do melhor critério de julgamento.
Exemplos:
 Princípio da Legalidade (Ninguém será obrigado a fazer nada se não estiver previsto em lei)
A Boa-fé se presume e a má-fé se prova
 Quem causa dano a outrem por dolo ou culpa deve repará-lo
 Princípio da presunção de inocência
 Princípio da função social da propriedade
 Princípio da função social da empresa
 Princípio da Moralidade
 Princípio da igualdade de direitos e deveres
Reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor, do empregado, da mulher, da criança,
do idoso, dos deficientes, etc.
 Proteção ao meio ambiente

ETC.
OBSERVAÇÃO:

O PREENCHIMENTO DE LACUNAS É UMA SOLUÇÃO NORMATIVA PROVISÓRIA

A EXISTÊNCIA DA LACUNA PERMANECE ATÉ QUE UMA LEI DISCIPLINE


O FATO AINDA NÃO NORMATIZADO ESPECIFICAMENTE

“o preenchimento não elide a lacuna como tal, que continua a subsistir e ser
passível de constatação até que um dispositivo legal a elimine” (DINIZ, p. 461)

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