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Gabriela Sousa
O DIPrivado tem por objeto as relações privadas internacionais, isto é, procura solucionar os problemas
que se colocam nas relações privadas que são internacionais. Que problemas são esses?
RECONHECIMENTO DE
CONFLITO DE
CONFLITO DE LEIS SENTENÇAS
JURISDIÇÕES
ESTRANGEIRAS
O critério utilizado nessa escolha será um critério de PROXIMIDADE ou MAIOR CONEXÃO, onde se
deve escolher a lei que tenha uma ⚠ ligação mais forte com o caso ⚠. Desta forma, vemos que o que está
em causa não é uma justiça material, onde escolhemos a solução mais justa, mas sim uma justiça formal que
escolhe a lei mais fortemente ligada ao facto.
Por força do PRINCÍPIO DA NÃO TRANSATIVIDADE, esta escolha da lei aplicável tem de se limitar às
leis que tenham uma ligação ao caso, pelo que nunca poder-se-á aplicar a um caso uma lei que não tenha
qualquer contato com o mesmo – atenção que também poderão existir situações puramente internas, que apenas
entram em contacto com a ordem jurídica do foro (tribunal onde se coloca o problema) e, ainda, situações relativamente
internacionais, que só têm contato com uma ordem jurídica, mas que não é a do foro, pelo que serão resolvidas diretamente
pelo princípio da não transatividade, sem necessidade de mobilizar uma rega de conflitos.
Vigorou no século XIX até aos tempos de Savigny o PRINCÍPIO DA TERRITORIALIDADE, através do qual, em
cada tribunal, seria aplicada a lei do foro. Embora este princípio levasse o juiz a aplicar a lei que melhor conhece,
diminuindo o erro judiciário, atualmente está afastado por gerar três grandes problemas: instabilidade das
relações privadas internacionais, violação do princípio da não transatividade e das expectativas das partes.
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FONTES DO DIPRIVADO
Uma posição clássica e formalista defendia que as regras de conflito eram axiologicamente neutras.
Atualmente, a posição adotada propõe que podem, sim, ser inconstitucionais, nomeadamente quando o
critério de escolha da lei aplicável apresentado viole princípios da constituição.
PODE O TRIBUNAL RECUSAR APLICAR LEI ESTRANGEIRA INDICADA PELA REGRA DE CONFLITOS COM
BASE NA SUA INCONSTITUCIONALIDADE À LUZ DA CRP?
A ORDEM PÚBLICA INTERNACIONAL (OPI) surge como uma válvula protetora que contorna este
problema sem comprometer o princípio da paridade de tratamento. Logo, não admitimos uma fiscalização
da constitucionalidade de norma estrangeira, mas admitimos que esta possa não ser aplicada se o resultado
desta aplicação se revelar chocante para a OPI do Estado Português.
A ordem pública internacional é uma figura excecional que funciona em função das várias conceções
que vigoram nos diferentes países, onde o momento relevante para se fazer o confronto é o momento da
decisão do juiz. Não obstante, é um conceito indeterminado que não é possível de ser definido pelo seu
conteúdo.
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REGRAS DE CONFLITO
As regras de conflito são NORMAS DE SEGUNDO GRAU, isto é, normas formais que não dão a solução
ao caso, mas escolhem tão-só a lei que vai dar solução ao caso. Estas são compostas por três elementos:
ELEMENTO DE CONSEQUÊNCIA
CONCEITO-QUADRO
CONEXÃO JURÍDICA
No entanto, nem tudo vai ser regulado pela regra de conflitos, isto é, a regra de conflitos só chama o
direito substancial, deixando de fora tudo o que não tenha influência na decisão a dar ou o que tenha
influência no mérito da decisão. Posto isto, as normas processuais não são indicadas pela regra de conflitos
e aplicar-se-ão as constantes da lei do foro.
Já no âmbito das presunções, não vale a lex fori, pois tratamos as presunções de culpa como direito
material e, portanto, aplicamos a lei competente indicada pela regra de conflitos. Isso justifica-se pois as
presunções têm influência no mérito da causa.
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BILATERAIS:
UNILATERAIS:
São aquelas em que a lei
São aquelas que se limitam a
fornecida pelo elemento de
dizer quais são os casos em que se
conexão tanto pode ser a lei do
aplica a lei do foro, em detrimento
foro como pode ser uma lei
de escolher a lei aplicável.
estrangeira.
A função clássica de um regra de conflitos bilateral é escolher a lei aplicável ao caso. Não obstante,
também existem regras de conflito unilaterais, as quais limitam-se a definir os casos em que a lei do foro
aplicar-se-á – os sistemas unilaterais aceitam a aplicação de uma lei estrangeira, nomeadamente quando
esta determine a sua própria aplicação.
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Em primeiro lugar, alegam motivos de soberania estadual, posto que o Estado só tem poderes para
mandar aplicar a sua lei. Contudo, este argumento não colhe. Em segundo lugar, argumentam que o sistema
unilateral será o único capaz de promover a harmonia jurídica internacional, a estabilidade e continuidade
das relações jurídicas e o reconhecimento de direitos adquiridos no estrangeiro.
• Não está provado que os problemas das regras de conflitos bilaterais não sejam resolvidos:
QUADRI (defensor do unilateralismo) indicou dois problemas centrais para as regras de conflitos bilaterais,
• O sistema unilateral gera problemas e, esses sim, insolúveis: em primeiro lugar, podemos ter
um VÁCUO JURÍDICO, quando nenhuma das leis envolvidas determina a sua própria aplicação. Um outro
autor unilateralista reconhece que este problema pode vir a colocar-se e propõe a escolha pela lei que
melhor salvaguarda as expetativas das partes (a proposta que dá consiste, no fundo, em voltar ao sistema
bilateral).
• Outro problema que se pode colocar num sistema unilateralista é o CÚMULO JURÍDICO,
quando várias leis estrangeiras se quiserem aplicar. QUADRI defende que, nestes casos, temos de consagrar
um critério para escolher uma delas – o critério de escolha das leis aplicáveis é o sistema das regras de
conflitos bilaterais (voltamos ao sistema bilateral).
Posto isto, vemos que o sistema unilateral não serve como método, pois pode gerar dois problemas
irresolúveis: o vácuo jurídico e o cúmulo jurídico.
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DIREITO DA NACIONALIDADE
Existem dois problemas que não são de DIPrivado, mas costumam ser tratados por este:
ARTIGO 27.º:
🇵🇹 Se uma pessoa tiver duas ou mais nacionalidades e uma delas for portuguesa, ela é considerada
portuguesa para todos os efeitos – prevalência da nacionalidade do foro.
ARTIGO 28.º:
🏠. 1ª parte: Se uma pessoa tiver duas ou mais nacionalidades e nenhuma delas for a portuguesa,
mas residir numa delas, aplica-se a lei do país da residência: no fundo, o legislador tenta escolher, dentre as
nacionalidades em causa, aquela em que o sujeito há de ter uma ligação mais forte, pois se trata de um país
onde além de ser nacional, também reside – enquanto no(s) outro(s) é nacional, mas não reside.
🔒 2ª parte: Se uma pessoa tiver duas ou mais nacionalidades, nenhuma delas for portuguesa e
não residir em nenhum dos países de onde é natural: releva a nacionalidade do país com que o interessado
tenha uma ligação mais forte. Nestes casos, o legislador não consagra um critério legalmente determinado,
mas apenas limita-se a estabelecer o PRINCÍPIO DA PROXIMIDADE, passando para o aplicador do direito a
responsabilidade de encontrar, em concreto, a nacionalidade com a qual o sujeito tem uma ligação mais
forte. O aplicador, por sua vez, terá de olhar para os factos que lhe permitam justificar a relação de
proximidade.
↓
No entanto, embora o caso seja analisado em concreto, conseguindo-se, em princípio, um melhor
resultando, tem a desvantagem de poder suscitar alguma insegurança jurídica, uma vez que a maior
proximidade é apreciada em concreto e o que é relevante para um determinado juiz na justificabilidade
desta relação mais próxima pode não ser o mesmo que é relevante para outro juiz.
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ACÓRDÃO MICHELETTI
Alguém que era argentino e italiano queria abrir um consultório em Espanha, utilizando a sua
liberdade de estabelecimento conferida pelos tratados. No entanto, as autoridades espanholas vieram
dizer que, ao aplicar o DIPrivado Espanhol (artigo 9.º do CCivil Espanhol), o qual estabelecia que, quando
um sujeito tivesse duas nacionalidades, nenhuma delas fosse espanhola, mas residisse numa delas,
contaria a da residência. Logo, uma vez que o Sr. Micheletti residia na Argentina, em Espanha era
considerado argentino e, não sendo considerado italiano, consequentemente não era considerado
cidadão europeu e não gozava da liberdade de estabelecimento (não poderia abrir o seu consultório 🦷).
O Sr. Micheletti suscitou o reenvio prejudicial invocando a sua dúvida perante o TJUE, o qual
respondeu que, à partida, o DIPrivado de cada país é que decide como resolve o conflito de
nacionalidades. No entanto, com um LIMITE: se estiver em causa o exercício de um direito conferido
pela cidadania europeia, e se a pessoa tiver a nacionalidade de um Estado-Membro, para efeitos desse
direito tem que ser considerado cidadão europeu.
↓
Este acórdão veio CORRIGIR O SISTEMA DE CONFLITOS DE NACIONALIDADES mediante o
cumprimento de dois requisitos cumulativos: ter nacionalidade de um Estado-Membro e tratar-se de um
direito conferido pela cidadania europeia (liberdades fundamentais, direito de eleger e ser eleito nas eleições locais
e do Parlamento Europeu no país de residência e a proteção diplomática em países estrangeiros de outros Estados-
Membros).
Cumpridos ambos os requisitos, a lei comunitária obriga a que se corrija o artigo 28.º.
Por força dos artigos 14.º/1 CCivil e 15.º CRP, os estrangeiros, à partida, são equiparados aos cidadãos
nacionais no que diz respeito ao gozo de direitos civis (PRINCÍPIO DA EQUIPARAÇÃO).
No entanto, esta equiparação não é completa, excetuando-se as situações em que o Estado de onde
aquele cidadão é nacional trata os cidadãos portugueses de maneira prejudicial em determinada matéria
(PRINCÍPIO DA RECIPROCIDADE) – artigo 14.º/2 CCivil. Posto isto, um estrangeiro em Portugal não pode
usar de equiparações que os portugueses, no país de onde aquele estrangeiro é natural, não podem também
usar.
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CURRIE criticou o método conflitual, no sentido de que este não leva em consideração os interesses
político legislativos (hipótese prática sobre os dentes de elefante 🐘), propondo um sistema próprio: aplica-
se a lei do Estado que tiver mais interesse político-legislativo em regular a situação. No entanto, recusamos
este método.
Não obstante, CURRIE tinha razão no facto de que o método conflitual revela-se indiferente aos
interesses político-legislativos e, na sequência das suas propostas, apareceu na Europa um fator de
pluralismo metodológico, onde o DIPrivado deixou de ter apenas um método, passando a ter vários.
EXPLÍCITAS: declaram-se como tal, isto é, entanto, se olharmos para a sua finalidade
determinam o seu âmbito de aplicação (político-legislativa), vemos que estas apenas
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A TEORIA DA CONEXÃO ESPECIAL PURA (desenvolvida por WENGLER e seguida por MOURA RAMOS)
consagra, por sua vez, que devem aplicar-se as NANI’s de três leis: as da lei do foro, da lex causae (lei
competente) e das leis que tenham uma especial ligação com o caso. No entanto, esta teoria tem variantes:
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Às vezes temos regras de conflitos para o nosso sistema, mas não temos regras de conflitos para
conceitos jurídicos que não existem cá. Na regra de conflitos, como a hipótese não descreve factos, mas sim
normas e conceitos jurídicos, estes variam de sistema para sistema.
No fundo, a qualificação consiste na subsunção de normas materiais num determinado conceito-
quadro.
O método consagrado no nosso Código para a qualificação está consagrado no artigo 15.º CCivil e
divide-se em dois momentos distintos:
1° MOMENTO
INTERPRETAÇÃO DO CONCEITO-QUADRO
foro) e teleológica (abrange não só a figura aplicáveis, de todas as leis que estiverem a ser
correspondente da lei do foro, mas também identificadas pela regra de conflitos, ou seja,
todas as figuras estrangeiras que tenham fins temos de olhar para o conteúdo e função da
similares). No fundo, vamos buscar as normas norma na lei a que pertence e perceber em que
Quando a nossa regra de conflitos mandar aplicar lei estrangeira, temos de verificar se esta lei aceita
a competência (=se considera competente) ou se ela remete para outra lei (=REENVIO).
↓
Há uma válvula de escape no sistema que deverá ser invocado sempre que se chegue a um resultado
chocante, nomeadamente a EXCEÇÃO DE ORDEM PÚBLICA INTERNACIONAL (artigo 22.º CCivil).
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Podemos estar perante um conflito positivo de qualificações, onde o nosso sistema convoca duas ou
mais leis para matérias diferentes, mas estas acabam por se projetar uma na outra, sendo incompatíveis.
Neste caso, numa primeira via de resolução, temos de atentar a CRITÉRIOS DE HIERARQUIZAÇÃO (FERRER
CORREIA):
Se nenhum destes critérios resolver o problema, a norma especial prevalece sobre a norma geral.
Numa segunda via de resolução em caso de conflitos negativos de qualificação, temos o INSTITUTO
DA ADAPTAÇÃO. Esta define-se por ser um ajustamento do conteúdo de um preceito a uma situação por
ele não prevista.
O julgador deverá criar, através deste instituto, uma solução normativa que responda ao caso, não
podendo fazê-lo livremente, mas apenas no espírito do sistema
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REENVIO
chegarmos a uma solução violenta (aplicarmos uma lei que os dois países mais importantes para a pessoa
não estão a aplicar), estando no estatuto pessoal, devemos aceitar o reenvio quando este promova a
harmonia jurídica qualificada.
LIMA PINHEIRO discorda, acrescentando que, de facto, deveria ser assim, mas não há fundamento legal
para tal – os artigos 17.º e 18.º deviam prever isto, mas não prevêem.
TRANSMISSÃO DE TRANSMISSÃO DE
RETORNO
COMPETÊNCIAS COMPETÊNCIAS RETORNO DIRETO
INDIRETO
SIMPLES EM CADEIA
O artigo 17.º/1 apenas prevê a transmissão de competências simples. Para aceitar o reenvio da
transmissão de competências em cadeia, era necessário estender este artigo teleologicamente e exigir dois
requisitos: que a L4 se considere competente e que a referência da L2 para a L3 seja uma referência global,
ou seja, uma devolução simples ou dupla devolução.
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Em Portugal, não rejeitamos o reenvio em todo o caso, mas também não defendemos que ele deverá
ser sempre aceite. Aceitamos o reenvio como técnica para alcançar a harmonia jurídica internacional e não
como teoria. Posto isto, a posição adotada por nós está explicitada no princípio geral constante do artigo
16.º CCivil – REFERÊNCIA MATERIAL.
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⚠ ATENÇÃO ⚠
FERRER CORREIA diz que a regra do nossos sistema está consagrada no artigo 16.º CCivil, e os artigos
17.º e 18.º são apenas exceções que só se devem utilizar se forem necessárias para a harmonia jurídica
internacional. Logo, de acordo com esta tese, temos de verificar se o reenvio é essencial para a harmonia
jurídica internacional ou se mesmo sem reenvio conseguiríamos esta harmonia.
Esta tese tem a vantagem de aplicarmos a lei que o nosso legislador considerou mais próxima e, uma
vez que não se aceita o reenvio, não precisamos do n.° 2 do artigo 18.º.
BATISTA MACHADO, por sua vez, afirma que, já que a harmonia jurídica internacional está
salvaguardada independentemente da lei que apliquemos, podemos fazer funcionar o princípio da boa
administração da justiça, ou seja, aceitamos o reenvio porque ele manteve a harmonia jurídica internacional
e promoveu a boa administração da justiça.
Este princípio da boa administração da justiça vale SUBSIDIARIAMENTE, uma vez que o foco do
DIPrivado é a harmonia jurídica internacional e a paridade de tratamento (os sistemas jurídicos devem estar
em pé de igualdade de tal modo que a lei aplicável seja escolhida por exatamente os mesmos critérios).
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Quando estamos a escolher uma lei para uma universalidade de bens, por vezes podemos ter de
abdicar da lei que tínhamos escolhido e submeter a uma lei da situação da coisa – pode acontecer que a lei
da situação dos bens, como determina a sua própria competência, não reconheça e aceite a nossa decisão.
Numa ACEÇÃO MATERIAL/RESTRITA, optamos pela lei da situação da coisa em detrimento da lei que
havíamos escolhido quando esta tenha um regime material especialíssimo para aquele bem. Por outro lado,
numa ACEÇÃO AMPLA-CONFLITUAL, optamos pela lei da situação da coisa em detrimento da lei que
havíamos escolhido quando esta se considerar competente.
Em Portugal, escolhemos sempre a lei da nacionalidade, porque mesmo que abdicássemos desta, isso
não era condição necessária e suficiente para o reconhecimento de sentenças estrangeiras. No entanto,
temos exceções:
Por força do reenvio, estabelece-se que À partida, será aplicável a lei pessoal que
ficam sujeitos à regra do n.° 1 mediante o havíamos escolhido, mas iremos abdicar desta
cumprimento dos três requisitos aí elencados em nome da lei da situação da coisa se esta se
– artigo 17.º/3. considerar competente (artigo 47.º).
Verificados os requisitos, aceita-se o reenvio (vamos deixar de aplicar a lei indicada por nós, para
aplicar a lei da situação da coisa).
Dizemos que o n.° 3 do artigo 17.º é um afloramento indireto do princípio da maior proximidade,
porque não foi a nossa regra de conflitos que mandou aplicar a lei da situação da coisa, mas sim a lei da
nacionalidade.
A aceção constante do artigo 47.º é uma aceção ampla/conflitual, ou seja, abdicamos de aplicar a lei
indicada por nós porque a lei da situação da coisa se considerava competente.
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Acontece quando a regra de conflitos, à uma certa data, indicava uma lei como competente e, agora,
devido a uma deslocação da relação jurídica, indica outra.
Em determinados casos este problema não se coloca, porque o legislador cristaliza o elemento de
conexão (artigo 53.º). No entanto, quando isto não acontece, FERRER CORREIA diz que, à partida, se o
legislador não imobilizou o elemento de conexão, a regra de conflitos indica a lei nova, SALVO SE estivermos
a falar da validade de relações jurídicas constituídas no passado, caso em que vale a lei antiga.
Ora, o princípio jurídico do favor negotii protege as expectativas que as partes depositaram no negócio
jurídico que não é válido para a lei competente e vigora no DIPrivado Português para as matérias de estatuto
pessoal. Por sua vez, a teoria do reconhecimento de direitos adquiridos faz um controlo da lei aplicável,
reconhecendo direitos adquiridos no estrangeiro quando tenha sido aplicada a lei da residência.
No fundo, reconhecemos direitos adquiridos no estrangeiro quando sejam válidos para a lei
competente, mas também quando o artigo 31.º/2 nos mande reconhecer em virtude de se tratarem de
situações válidas para a lei da residência.
REQUISITOS LITERAIS:
REQUISITOS DOUTRINAIS:
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Quando aceitamos o reenvio e isto leva à invalidade do negócio jurídico, temos o princípio do favor
negotii que funciona como limite ao reenvio. O nosso sistema de reenvio também se preocupa com as
expectativas que as partes tenham depositado na validade do negócio jurídico. Logo, em nome destas
expectativas, o nosso legislador está disposto a fazer cessar o reenvio, mediante o cumprimento cumulativo
de dois requisitos (artigo 19.º/1) – PROPOSTA DA ESCOLA DE LISBOA:
Se, por força do reenvio, resultou a Tem de se tratar de um negócio que seria
Quando o reenvio cessa por força do artigo 19.º, isto significa que o legislador, em nome do favor
negotii, “estragou” o princípio da harmonia jurídica internacional, ou seja, entre a harmonia jurídica
internacional e o favor negotii, o legislador prefere aplicar uma lei que salvaguarde as expectativas que as
partes tinham depositado.
Contudo, FERRER CORREIA defende que apenas estes requisitos literais do artigo 19.º não chegam e,
portanto, acrescenta dois requisitos adicionais:
O princípio do favor negotii pode funcionar, portanto, como um obstáculo/limite ao reenvio (devido a
ideia de conservação dos negócios jurídicos) ou como um fundamento autónomo do reenvio (aceitamos o
reenvio com base nos artigos 36.º/2 e 65.º/1 CCivil).
Podem existir ainda aquelas conexões “inimigas do reenvio” – resultam da escolha das partes e,
quando são as partes a escolherem, não faz sentido termos de ir verificar o DIPrivado estrangeiro (19.º/1).
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