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DIREITO DO TRABALHO – AULA 1

- OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM:

 Educação em Hermenêutica: interpretação, integração e aplicação do direito do


Trabalho.
 Problematização: O trabalho é protegido pelo direito?

Reforma Trabalhista só afeta novos contratos

Reforma trabalhista não incide em contratos anteriores à sua vigência, diz TST. A
Constituição, em seu artigo 5º, protege o contrato, como ato jurídico perfeito, das inovações
legislativas. Assim, novas leis não podem incidir sobre relações jurídicas que já estão em curso.

Minha observação: Assim, para que se aplique a reforma trabalhistas a contratos de trabalho
é necessário o contrato ter data posterior a vigência da nova legislação. Contratos anteriores
precisam ser renegociados para que se incida as mudanças trazidas pela reforma trabalhista.

1. INTEGRAÇÃO:

A análise relativa à integração das normas jurídicas tem por base a constatação de que, a
despeito de as normas jurídicas terem por objetivo a regulamentação das relações existentes
na vida social, é impossível que consigam prever todos os futuros e possíveis casos que o juiz
seja chamado a resolver.

Três são os tipos:

i. LACUNA NORMATIVA: decorre de AUSÊNCIA DE NORMA sobre


determinado caso;

ii. LACUNA ONTOLÓGICA: verifica-se sempre que, embora existente, A


NORMA NÃO CORRESPONDE AOS FATOS SOCIAIS (ESTÁ
DESATUALIZADA), tendo em vista, por exemplo, o grande
desenvolvimento das relações sociais e o progresso tecnológico;

iii. LACUNA AXIOLÓGICA: decorre da AUSÊNCIA DE NORMA JUSTA, isto


é, existe um preceito normativo, mas, se for aplicado, sua solução será
insatisfatória ou injusta.

Nesse sentido, o art. 140 do Código de Processo Civil dispõe:

“O juiz não se exime de decidir sob a alegação de lacuna ou obscuridade do


ordenamento. Parágrafo único. O juiz só decidirá por equidade nos casos previstos em
lei”.

A ANALOGIA, o COSTUME, a EQUIDADE e os princípios gerais do direito são indicados pelo


próprio legislador como procedimentos ou métodos de integração das normas jurídicas,
conforme disposto nos arts. 4º e 5º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro
(LINDB).

Art. 8º da CLT: “As autoridades administrativas e a Justiça do Trabalho, na falta de


disposições legais ou contratuais, decidirão, conforme o caso, pela jurisprudência, por
analogia, por equidade e outros princípios e normas gerais de direito, principalmente
do direito do trabalho, e, ainda, de acordo com os usos e costumes, o direito
comparado, mas sempre de maneira que nenhum interesse de classe ou particular
prevaleça sobre o interesse público. § 1º. O direito comum será fonte subsidiária do
direito do trabalho”.

a) ANALOGIA: procedimento pelo qual se aplica, a um caso não regulado direta e


especificamente por uma norma jurídica, uma prescrição normativa para uma hipótese
distinta, porém semelhante ao caso cuja solução se está buscando.

São pressupostos da analogia:

 existência de um caso previsto em lei e de um outro não previsto;


 semelhança real entre os casos.

As modalidades da analogia são:

 ANALOGIA LEGIS — busca da solução para a lacuna em uma determinada


norma;
 ANALOGIA JURIS — toma por base um conjunto de normas do qual se
extrai elementos que possibilitem sua aplicabilidade ao caso concreto não
previsto, mas similar.

EXEMPLO:

É considerado exemplo de analogia o que ocorre com a figura da hora de


sobreaviso que prevista para o ferroviário passou a incidir para o eletricitário por
força de entendimento sumulado do TST.

“Súmula nº 229 do TST


SOBREAVISO. ELETRICITÁRIOS (nova redação) - Res. 121/2003, DJ 19, 20 e
21.11.2003
Por aplicação analógica do art. 244, § 2º, da CLT, as horas de sobreaviso dos
eletricitários são remuneradas à base de 1/3 sobre a totalidade das parcelas de
natureza salarial.”

O processo analógico é o procedimento comparativo entre figuras ou categorias


componentes de espécies distintas, objetivando o efeito normativo sobre caso
concreto, como ocorre entre a hora de sobreaviso do ferroviário e a hora de
sobreaviso do eletricitário.

DIFERENÇA ENTRE ANALOGIA E INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA:


Alguns autores estabelecem distinção entre analogia e interpretação extensiva,
argumentando que “a analogia vem preencher um caso não previsto pelo
legislador, ao passo que a interpretação lógico-extensiva vem apenas para dar
desenvolvimento à lei escrita”. Na visão de Carlos Maximiliano, “a analogia ocupa-
se com uma lacuna do Direito Positivo, com hipótese não prevista em dispositivo
nenhum, e resolve esta por meio de soluções estabelecidas para casos afins;
a interpretação extensiva completa a norma existente, trata de espécie já
regulada pelo Código, enquadrada no sentido de um preceito explícito, embora
não se compreenda na letra deste”. A analogia pressupõe um “vácuo normativo” e
atua como um processo de integração do sistema jurídico preenchendo uma
lacuna, enquanto a interpretação extensiva ‘parte de uma norma e resolve um
problema de ‘insuficiência verbal’; é uma forma de interpretação (Curso de Direito
do Trabalho, Maria Alice Monteiro de Barros, 6a ed., 2010, p. 150).

b) COSTUME: pode ser utilizado pelo magistrado como método de integração da norma
jurídica quando, nos termos do art. 4º da LINDB, esgotarem-se todas as possibilidades
legais para preenchimento da lacuna.

c) PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO: são diretrizes para a integração da norma jurídica


que devem ser utilizados sempre que a analogia e o costume não tiverem sido
suficientes para o preenchimento da lacuna.

d) EQUIDADE: é elemento de adaptação da norma ao caso concreto e apresenta-se como


a capacidade que a norma tem de atenuar o seu rigor, adaptando-se ao caso sub
judice.

2. INTERPRETAÇÃO

Interpretar a norma jurídica significa atribuir-lhe um significado, estabelecer sua


exata extensão e definir a possibilidade de sua aplicação a um determinado caso
concreto.

Sistemas interpretativos:

a) SISTEMA EXEGÉTICO: Todo direito está na lei, sendo esta, apenas, a expressão da
vontade do legislador.

b) SISTEMA HISTÓRICO: parte da premissa de que não basta inquirir a vontade geradora
da lei, sendo necessário observar também a evolução histórica.

c) SISTEMA TELEOLÓGICO (OU FINALÍSTICO): afirma que a interpretação deve ser feita
conforme a finalidade.

d) SISTEMA DA LIVRE PESQUISA CIENTÍFICA: deve procurar a solução na natureza


objetiva das coisas.

e) SISTEMA DO DIREITO LIVRE: a interpretação é um problema metajurídico.


Técnicas (ou métodos) que podem ser utilizadas pelo intérprete na atuação do
direito, que são as seguintes:

a) INTERPRETAÇÃO GRAMATICAL: pela qual o intérprete busca o sentido literal do texto


normativo.

b) INTERPRETAÇÃO LÓGICA: pela qual o intérprete emprega raciocínios lógicos que


levam em consideração os períodos da norma, combinando-os entre si com o objetivo
de atingir o perfeito alcance e sentido dela

c) INTERPRETAÇÃO SISTEMÁTICA: busca estabelecer uma conexão entre os diversos


textos normativos, ou seja, considera o sistema em que se insere a norma,
relacionando-a com outras normas que tratam do mesmo objeto.

d) INTERPRETAÇÃO HISTÓRICA: baseia-se nos antecedentes da norma.

e) INTERPRETAÇÃO SOCIOLÓGICA OU TELEOLÓGICA: tem por objetivo adaptar a


finalidade das normas às novas exigências sociais.

Técnicas de interpretação:

a) INTERPRETAÇÃO RESTRITIVA: limitar a incidência do comando normativo, impedindo


que produza efeitos não pretendidos.

b) INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA: deve ser utilizada sempre que uma determinada norma
usar de expressões menos amplas do que a mens legislatoris.

c) INTERPRETAÇÃO AUTÊNTICA: denominada também interpretação legal ou legislativa.

3. REFORMA TRABALHISTA

Novas previsões sobre as normas jurídicas trabalhistas trazidas pela Reforma


Trabalhista (Lei n. 13.467/2017:

 na aplicação subsidiária do direito comum, deixou de exigir compatibilidade


com os princípios fundamentais do Direito do Trabalho (art. 8º, § 1º, CLT);
 restringiu o âmbito de interpretação pela Justiça do Trabalho das convenções
e acordos coletivos de trabalho, estabelecendo que no exame de tais normas
ela analisará exclusivamente a conformidade dos elementos essenciais do
negócio jurídico, e balizará sua atuação pelo princípio da intervenção mínima
na autonomia da vontade coletiva (art. 8º, § 3º, CLT);

 passou a prever a prevalência do negociado sobre a lei em relação às matérias


que expressamente elencou (art. 611-A, CLT);

4. APLICAÇÃO NO TEMPO
A lei trabalhista nasce com a promulgação, mas somente começa a vigorar com
sua publicação no Diário Oficial (art. 3º, LINDB).

Em relação ao período de vigência, as normas jurídicas podem ter:

a) VIGÊNCIA TEMPORÁRIA OU DETERMINADA, o que ocorrerá na hipótese


de seu elaborador fixar seu tempo de duração; ou

b) VIGÊNCIA PARA O FUTURO, SEM PRAZO DETERMINADO, com duração


até que sejam modificadas ou revogadas por outra norma (art. 2º, LINDB).

5. APLICAÇÃO NO ESPAÇO

a) Em RAZÃO DA SOBERANIA ESTATAL, o sistema de direito positivo de cada


Estado é aplicável no espaço delimitado por suas fronteiras

b) TÉCNICOS ESTRANGEIROS DOMICILIADOS OU RESIDENTES NO EXTERIOR e


que sejam contratados para a execução de serviços especializados no
Brasil, em CARÁTER PROVISÓRIO: assegurada a aplicação das normas
trabalhistas brasileiras.

c) TRABALHADORES BRASILEIROS QUE VÃO PRESTAR SERVIÇOS NO


EXTERIOR: a Lei n. 7.064/82, com as alterações da Lei n. 11.962/2009,
regulamentada pelo Decreto n. 89.339/84.

d) MARÍTIMOS EM GERAL: em relação a este tipo de trabalhadores, é


aplicável a lei do pavilhão da embarcação.

e) MARÍTIMOS E AERONAUTAS DE EMPRESAS BRASILEIRAS, CONTRATADOS


NO BRASIL, PRESTANDO SERVIÇOS NAS EMBARCAÇÕES OU AERONAVES
EM VIAGENS INTERNACIONAIS: aplica-se a legislação trabalhista brasileira,
salvo se houver estipulação mais favorável expressa.

ATIVIDADE DE APRENDIZAGEM

1- Analise o seguinte item:

A legislação sobre a aplicação de leis trabalhistas no espaço e eventual conflito de normas


estabelece que a relação de trabalhadores contratados ou transferidos para prestar serviços
no exterior é regida pela lei brasileira, quando for mais favorável do que a legislação territorial,
no conjunto de normas e em relação a cada matéria.

V – Verdadeiro
F – Falso

RESPOSTA:

LEI N° 7.064

Art. 3° empresa responsável pelo contrato de trabalho do empregado


transferido assegurar-lhe-á, independentemente da observância da legislação
do local da execução dos serviços:

I - os direitos previstos nesta Lei;

II - a aplicação da legislação brasileira de proteção ao trabalho, naquilo que


não for incompatível com o disposto nesta Lei, quando mais favorável do que a
legislação territorial, no conjunto de normas e em relação a cada matéria.

2- Considere as assertivas seguintes a respeito da exegese e eficácia das normas jurídicas


trabalhistas e dos princípios do Direito do Trabalho e responda.
I- O sistema interpretativo teleológico propugna por uma interpretação conforme a
finalidade da norma, tendo por objetivo adaptar a finalidade da norma as
exigências sociais vigentes para que o intérprete procure a ratio do preceito para
determinar o seu sentido, sendo bastante utilizada no campo do Direito do
Trabalho.
II- É considerado exemplo de interpretação extensiva o que ocorre com a figura da
hora de sobreaviso que prevista para o ferroviário passou a incidir para o
eletricitário por força de entendimento sumulado do TST.
III- É considerada construção analógica jurisprudencial a incidência sobre os atos da
autoridade do Distrito Federal do tipo legal do factum principis com previsão
normativa contida na CLT.
IV- Conforme princípio da aderência contratual as cláusulas normativas dos acordos
coletivos ou convenções coletivas de trabalho integram os contratos individuais de
trabalho e somente poderão ser modificadas ou suprimidas mediante negociação
coletiva de trabalho.
V- A sentença normativa proferida em dissídio coletivo vigorará a partir do dia
imediato ao termo final de vigência de acordo, convenção ou sentença normativa,
quando ajuizado o dissídio no prazo de 60 dias anteriores ao respectivo termo
final. Estão corretas apenas as proposições:

A) l, II e V.
B) l, III e IV.
C) l, IV e V.
D) II, III e IV.
E) II, III e V.

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