Você está na página 1de 25

Centro Universitário Maurício de Nassau – Graças – Recife.

Prof. Dr. Lourenço Torres.


proflourencotorres@yahoo.com.br
Plano de aula – tema 6
 Integração e aplicação do Direito perante
antinomias e lacunas:
 Classificação das antinomias e critérios de
resolução.
 Classificação das lacunas.
 Analogia, princípios gerais do Direito, equidade,
costumes e fins sociais.
Aplicação do Direito
 A aplicação do Direito consiste no enquadrar um caso
concreto em a norma jurídica adequada.
 Submete às prescrições da lei uma relação da vida real;
procura e indica o dispositivo adaptável a um fato
determinado.
 Isto é: tem por objeto descobrir o modo e os meios de
amparar juridicamente um interesse humano.
 “Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que
ela se dirige e às exigências do bem comum” (Art. 5°,
LINDB).
Pressupostos da aplicação
 A adaptação de um preceito ao caso concreto pressupõe:
 a) a Crítica, com o fim de apurar a autenticidade e, em seguida,
a constitucionalidade da lei, regulamento ou ato jurídico;
 b) a Interpretação, com o objetivo de descobrir o sentido e o
alcance do texto;
 c) o suprimento das lacunas, com o auxílio da analogia e dos
princípios gerais do Direito;
 É a proibição do non liquet * (art. 126, CPC).
 *Gellius. Noctes Atticae. Liber XIV, 25:"Sed maius ego altiusque id esse
existimavi, quam quod meae aetati et mediocritati conveniret, ut
cognovisse et condemnasse de moribus, non de probationibus rei
gestae viderer; ut absolverem tamen, inducere in animum non quivi et
propterea iuravi mihi non liquere atque ita iudicatu illo solutus sum."
 d) o exame das questões possíveis sobre ab-rogação (total),
ou simples derrogação (parcial) de preceitos, bem como acerca
da autoridade das disposições expressas, relativamente ao
espaço e ao tempo.
Integração
 Integração é um processo de preenchimento de lacunas, existentes
na lei, por elementos que a própria legislação oferece ou por princípios
jurídicos, mediante operação lógica e juízos de valor.
 “Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia,
os costumes e os princípios gerais de direito" (Art. 4º, Lei de Introdução às
Normas do Direito Brasileiro).
 “As autoridades administrativas e a Justiça do Trabalho, na falta de
disposições legais ou contratuais, decidirão, conforme o caso, pela
jurisprudência, por analogia, por equidade e outros princípios e normas
gerais de direito, principalmente do direito do trabalho, e, ainda, de
acordo com os usos e costumes, o direito comparado, mas sempre de
maneira que nenhum interesse de classe ou particular prevaleça sobre o
interesse público” (Art. 8°, CLT).
 “São normas complementares das leis, dos tratados e das convenções
internacionais e dos decretos: I - os atos normativos expedidos pelas
autoridades administrativas;II - as decisões dos órgãos singulares ou
coletivos de jurisdição administrativa, a que a lei atribua eficácia
normativa; III - as práticas reiteradamente observadas pelas autoridades
administrativas; IV - os convênios que entre si celebrem a União, os
Estados, o Distrito Federal e os Municípios (Art. 100, CTN).
Integração
 Espécies de Integração:

 Auto-Integração - processo de
integração que utiliza elementos do
próprio ordenamento jurídico.

 Hetero-Integração - é um processo no
qual o aplicador do direito se utiliza de
normas jurídicas pertencentes a outro
ordenamento jurídico.
Antinomias jurídicas
 Uma antinomia (ou paradoxo) é a afirmação simultânea
de duas proposições (teses, leis etc.) contraditórias. A
antinomia no campo do Direito recebe o nome de
antinomia jurídica.
 Antinomia jurídica é a presença de duas ou mais normas (1)
incompatíveis entre si que (2)pertencem a um mesmo
ordenamento jurídico e (3) a um mesmo âmbito de
validade.
Antinomia – excesso de normas –
incompatibilidade.
Cuidado: não confundir com os critérios avaliadores
entre princípios jurídicos que permitem certa
compatibilidade.
Antinomias
Localização do problema das antinomias:
 Modais:
É proibido

É obrigatório

É permitido – facultativo
Critérios de solução das antinomias
 Critérios elementares para solução de antinomias
aparentes jurídicas:

➢ Princípio Hierárquico
lex superior derogat inferiori
Uma lei superior derroga uma lei inferior
➢ Princípio Cronológico (é o mais débil).
lex posterior derogat priori
Uma lei nova derroga uma lei velha
➢ Princípio da Especialidade
lex especialis derogat legi generali
Uma lei especial derroga uma lei geral
Critérios de solução de antinomias
Metacritérios:

 Conflito entre os critérios Hierárquico e Cronológico.

 Conflito entre os critérios Cronológico e Especialidade.

 Conflito entre os critérios Hierárquico e Especialidade.


 Prevalece a norma permissiva sobre a proibitiva.
 Prevalece o interesse público sobre o particular.

 Critério da lex favorabilis. (Direito Penal)


Aplicação da lei no tempo
(critério da cronologia ou temporalidade):
Art. 5°, XL CF/88: a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu;
Art. 2°, CPP: A lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo
da validade dos atos realizados sob a vigência da lei anterior.
Art. 2°, CP: Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de
considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da
sentença condenatória.
Parágrafo único - A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o
agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença
condenatória transitada em julgado.
Art. 14, CPC: A norma processual não retroagirá e será aplicável
imediatamente aos processos em curso, respeitados os atos processuais
praticados e as situações jurídicas consolidadas sob a vigência da norma
revogada.
Art. 1°, LINDB: Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o
país quarenta e cinco dias depois de oficialmente publicada.
§ 1º, LINDB: Nos Estados, estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira,
quando admitida, se inicia três meses depois de oficialmente publicada.
Classificação das antinomias a partir dos critérios
de solução de conflitos:
 Antinomia de 1º grau: conflito de normas que envolve
apenas um dos critérios acima expostos.
 Antinomia de 2º grau: choque de normas válidas que
envolve dois dos critérios antes analisados.
 Antinomia aparente: situação em que há meta-critério
para solução de conflito. Não se utilizam ações
hermenêutico-interpretativas.
 Antinomia real: situação em que não há meta-critério
para solução de conflito, pelo menos inicial, dentro dos
que foram anteriormente expostos. O aplicador
(magistrado) usa de ações hermenêutico interpretativas.
A questão da
completude do
ordenamento jurídico.

Meios de solução
(integração) de lacunas
Analogia
ANALOGIA
αναλογία (gr.) analogia, "proporção"
 Conceito:
 É um processo cognitivo de transferência de informação
ou significado de um sujeito particular (fonte) para outro
sujeito particular (alvo), e também pode significar uma
expressão linguística, correspondendo a este processo,
igualmente conhecido por comparação.
 Num sentido mais específico, analogia é uma inferência
ou um argumento de um particular para outro particular,
em oposição à dedução, indução e abdução, nas quais
pelo menos uma das premissas ou conclusão é geral.
O suprimento de lacunas
 Art. 4°, LINDB: Quando a lei for omissa, o
juiz decidirá o caso de acordo com a
analogia, os costumes e os princípios gerais
de direito.
 Art. 15, CPC: Na ausência de normas que
regulem processos eleitorais, trabalhistas ou
administrativos, as disposições deste Código
lhes serão aplicadas supletiva e
subsidiariamente.
Analogia Jurídica
 Analogia jurídica:
 A analogia é um método de integração jurídica, constituindo-se em um
raciocínio por meio de um exemplo, ou seja, uma comparação com um
problema semelhante e a utilização da mesma resposta.
 Para o direito, a analogia seria assim uma forma de solucionar o problema
por meio de uma identidade com outro, buscando atender a uma finalidade
maior da lei, e nesse sentido, se assemelharia com a Teleologia.
 As diferentes funções da analogia no âmbito jurídico:
 Solução de casos concretos: nessa situação o aplicador compara o caso em
questão com um outro, similar, e aplica analogicamente a mesma lei ou
norma, encontrando uma solução semelhante aos dois casos, já que
possuíam as mesmas características.
 No caso de países de sistema common law, a analogia tem um papel mais
significativo, uma vez que como não existem normas de aplicação, a
semelhança de casos constitui base fundamental para que os juízes
solucionem problemas.
Analogia jurídica
 Aplicação da analogia:
 Aplicação de normas: para situações semelhantes, pode-se
exigir a aplicação da mesma norma.
 Aplicação no caso de lacunas: para os casos em que a lei é
omissa ou obscura.
 Quando uma norma é estabelecida com e para determinada
facti species (espécie fática) aplicável a uma conduta para a
qual não há norma, havendo entre os supostos fáticos uma
semelhança (Ferraz Júnior).
 A analogia legis ocorre quando se formula regra nova,
semelhante a outra já existente
 A analogia juris se caracteriza por recorrer à síntese de um
complexo de princípios jurídicos.
Analogia jurídica
 Aplicação da analogia:
 Art. 4°, LINDB: Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o
caso de acordo com a analogia, os costumes e os
princípios gerais de direito.
 Art. 3°, CPP - A lei processual penal admitirá
interpretação extensiva e aplicação analógica, bem
como o suplemento dos princípios gerais de direito.
 Art. 15, CPC: Na ausência de normas que regulem
processos eleitorais, trabalhistas ou administrativos, as
disposições deste Código lhes serão aplicadas supletiva e
subsidiariamente.
Princípios Gerais do Direito
Quando o juiz não encontra solução para a lacuna na
analogia e nos costumes, deve valer-se dos princípios gerais
do Direito.
Art. 4°, LINDB: “Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com
a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito”.

Eles são constituídos por regras não escritas, mas que se


encontram na consciência coletiva dos povos, sendo
universalmente aceitos, embora, implícitos no sistema,
muitas vezes se transformem em direito objetivo.

Ex:. “ninguém se beneficiará da própria torpeza”; “a boa-fé se


presume”; “ninguém pode transferir mais direitos do que
tem”; “deve prevalecer o interesse de quem procura evitar um
dano sobre o daquele que procura alcançar um ganho”, etc.
Costumes
 Costume jurídico: Além das características genéricas do costume
(longi temporis praescriptio – são observados por modo constante
e uniforme) possuem a característica do opinio juris vel
necessitatis ou seja, estão sob a convicção de corresponder a uma
necessidade jurídica.
 São costumes de relevância jurídica.
 Não podem ser “inventados” pelo operador do Direito, mas tem que
ser atestados pelo tempo.
1) Praeter legem – (aceita pela lei e pela legislação) preenche o que
não existe na lei. Este tipo de costume tem efeito integrativo.
2) Secundum legem – (aceita pela lei e pela legislação) é segundo a
lei, de acordo com a lei. Ex:. Casamento.
3) Contra legem - (NÃO aceita pela lei e pela legislação) é contra a
lei. Ex:. Proibição do divórcio.

 Praxis forensis - é também aceita como costume jurídico.


Equidade
 Equidade – aequitas (lat.), que significa igualdade,
simetria, retidão, imparcialidade, conformidade.
 Conceito: a equidade consiste na adaptação da regra
existente à situação concreta, observando-se os critérios de
justiça e igualdade. Ou seja, ela adapta a regra a um caso
específico, a fim de deixá-la mais justa.
 É o estudo atento, a apreciação inteligente dos textos da lei,
dos princípios da ciência jurídica e das necessidades da
sociedade.

 Finalidade: suprir lacunas evitando os inconvenientes da


aplicação estrita dos textos legais.
summun jus, summa injuria
Equidade
 A equidade não pode ser de livre-arbítrio e nem pode
ser contrária ao conteúdo expresso da norma. Ela deve
levar em conta a moral social vigente, o regime político
Estatal e os princípios gerais do Direito.
 Além disso, a mesma "não corrige o que é justo na lei,
mas completa o que a justiça não alcança“ (Milton P.
Carvalho Filho).
Prof. Lourenço Torres

proflourencotorres@yahoo.com.br
@lourenco_torres_prof

Você também pode gostar