Você está na página 1de 11

EXERCÍCIOS IED II – NOBERTO BOBBIO

1. Em relação ao Ordenamento Jurídico, conceitue de forma clara e coerente os


seguintes aspectos apresentados por Bobbio: a) ordenamento jurídico; b) normas de
estrutura e normas de conduta; c) ordenamento simples e complexo; d) fontes diretas e
indiretas; e) limite interno e externo.

A) De acordo com Bobbio, as normas jurídicas não existem isoladamente, mas em


conjunto, de modo que formem um sistema, uma unidade. Ainda, a concepção de
ordenamento jurídico traz consigo a noção de que existe uma estrutura organizada e
institucionalizada que garanta, quando viável, a aplicação de uma sanção.

B) Um ordenamento jurídico não pode ser formado apenas de normas de conduta, que
são aquelas que buscam regular comportamentos. No entanto, pode ser que existam
ordenamentos jurídicos que contenham apenas normas de estrutura que são aquelas que
regulamentam a criação de outras normas. Assim, caso existisse um ordenamento de
apenas normas de conduta, ele teria que conter condutas que se encaixassem dentro de
um dos três tipos normativos: permissivos, obrigacionais e proibitivos. Exemplificando,
não é possível que exista um ordenamento em que tudo é permitido, pois
retrocederíamos ao estado de natureza; e, nem um ordenamento em que tudo fosse
proibido ou que tudo fosse obrigatório, porque inviabilizaria a vida em sociedade e o
desenvolvimento humano.

C) Ordenamento jurídico simples é aquele em que há uma única fonte de produção das
normas, sendo o legislador ente que produz as normas, e o súdito o destinatário dessas
normas. Ordenamento complexo é aquele em que existem diversas fontes de produção
normativa, e é o mais usado atualmente.

D) A fonte direita de produção normativa se concentra no poder supremo, porque ele é o


detentor originário do poder-dever de criar normas, bem como de atualizá-las. Contudo,
se verifica que este poder central de produção de normas delega parte desse poder para
um órgão hierarquicamente inferior que desempenhará a criação de novas normas
conforme a estipulação legal constante na norma que lhe deu poderes – a produção
normativa desses órgãos é chamada de fonte delegada, sendo uma espécie de fonte
indireta. E, ainda, existem dentro das fontes indiretas, as fontes delegadas, que são as
normas de ordenamentos antigos que são recepcionadas pelo ordenamento jurídico atual
em razão da sua importância e valoração social.

E) Os limites internos são aqueles que decorrem da delegação de poder, isto é, as fontes
delegadas são um limite interno ao poder central. E os limites externos são as normas
recepcionadas de outros ordenamentos que buscam, de certo modo, limitar o poder
supremo.

2. Apresente os aspectos mais importantes sobre Teoria da Construção Escalonado


do Direito de Kelsen, e conceitue ordenamento jurídico para o mesmo.

Consoante aos ensinamentos de Kelsen, as normas jurídicas constituem um


conjunto unitário que é denominado de ordenamento jurídico. No entanto, essas normas
não estariam dispostas no mesmo plano, mas de modo hierárquico, em que uma norma
inferior retira sua obrigatoriedade de uma norma superior e assim sucessivamente.
Portanto, essas normas não seriam identificadas pelo seu conteúdo (material) normativo,
mas pelas autoridades que as instituíram ou pelas sucessivas delegações de poder.

A teoria da construção escalonado do Direito de Kelsen traz à tona a presença de


uma Norma Fundamental que estaria no topo da pirâmide, em uma posição
hierarquicamente superior a todas as outras normas, não sendo subordinada as mesmas.
A norma fundamental surge de uma hipótese ou um pressuposto de que existe uma
norma superior que concede unidade, sentido e validade a todas as outras normas, de
modo que dela retirem suas obrigatoriedades. E, ainda que em um ordenamento
complexo possa existir normas oriundas de outros ordenamentos, a norma fundamental
teria o condão de dar unidade a essas normas. Por derradeiro, a norma fundamental tem
a função de “fechar o sistema”, isto é, impedir sucessivas delegações de poder que
beirem ao infinito.

3. Bobbio apresenta a questão da coerência como um problema no estudo do


Ordenamento Jurídico, portanto, explique de forma clara e concisa o “dever da
coerência” (a) , bem como as possíveis situações antinômicas dentro de um sistema (b),
os critérios de solução das antinomias (c), as alternativas de que dispõe o intérprete no
caso de insuficiência de critérios (d), e o que fazer no caso de conflito de critérios (e).
A) O dever da coerência é apresentado por Bobbio de modo amplo, haja vista que
compreende a necessidade de uma atuação legislativa no sentido de que não se edite
normas incompatíveis que geram insegurança jurídica ou venham a comprometer o
ordenamento jurídico. Bem como a atuação jurisdicional do juiz, em que se espera que o
mesmo sempre decida com base na norma (inegabilidade dos pontos de partida) e não se
abstenha de decidir em um caso difícil (proibição de non liquet).

B) As antinomias ocorrem quando normas incompatíveis pertencem ao mesmo sistema


com o mesmo âmbito de validade. Existirá antinomia quando uma norma:

- Obriga + Proíbe

- Obriga + Permite não fazer

- Proíbe + Permite

Quando qualquer uma dessas normas for verdadeira, a outra, automaticamente, será
falsa.

C) O julgador tem ao seu dispor os seguintes critérios para a solução de


antinomias:

- Cronológico: a lei posterior revoga a anterior, pois se dá primazia ao trabalho do


legislador em atualizar as leis de modo que melhor se enquadrem no contexto social.

- Hierárquico: lei superior revoga lei inferior. É considerado como critério forte,
haja vista que valora a unidade do ordenamento jurídico.

- Especialidade: lei especial revoga a geral. É também considerado como um


critério forte, pois se baseia no princípio da justiça, isto é, busca tratar os desiguais na
medida de suas desigualdades.

D) Existem situações em que as normas terão a mesma hierarquia, estarão presentes no


mesmo código e terão sido criadas no mesmo período, gerando, desse modo, a
insuficiência de critérios. Nesse caso, o julgador poderá:

- Eliminar uma norma por compreender que ela não encaixa no caso concreto. É
chamada de ab-rogação imprópria, pois não se exclui a norma do ordenamento jurídico,
apenas afasta sua aplicação naquele caso.
- Eliminar as duas normas, pois entende que elas são tão incompatíveis que excluem
mutuamente. Há uma dupla ab-rogação imprópria.

- Manter as duas normas, mas será necessário demonstrar que elas são compatíveis, e
que até então eram interpretadas de modo que se levava a crer que eram incompatíveis.

E) Poderá, também, existir situações em que há o conflito de critérios:

- Hierárquico X Cronológico = ocorre quando uma norma superior-anterior entra em


conflito com uma norma inferior-posterior. Prevalecerá o critério hierárquico, pois ele é
baseado no princípio da ordem e unidade do ordenamento jurídico.

- Especialidade X Cronológico = ocorre quando uma norma especial anterior é


antinômica em face de uma norma geral-posterior. Prevalecerá o critério da
especialidade, pois se embasa no princípio da justiça.

- Hierárquico X Especialidade = ocorre quando uma norma superior-geral é antinômica


em relação a uma norma especial-inferior. Nesse caso, como são dois critérios fortes, o
julgador deverá por meio da ponderação escolher qual delas irá melhor se encaixar no
caso concreto.

4. Explique a importância da Escola da Exegese para a análise da completude do


ordenamento jurídico, a crítica que se fez a ela. E, explicite o que é “incompletude” e o
que é “completude”, a função da Norma Geral Inclusiva, da Norma Geral Exclusiva e
da Norma Particular Inclusiva. Por fim, conceitue segundo Bobbio o que é
heterointegração e autointegração.

Influenciada pelo positivismo jurídico de Comte, a Escola da Exegese propagou


a concepção de que o ordenamento jurídico é completo, sem lacunas, capaz de dar
respostas para todos os casos que são postos em juízo. Desse modo, o direito era
sinônimo de lei, e o magistrado se limitava a fazer a lei falar, sendo uma mera “boca da
lei” sem qualquer liberdade interpretativa. Em contraponto ao dogma da completude
pregado pela Escola da Exegese, a escola do Direito Livre afirmava que o ordenamento
jurídico possuía lacunas, e que o dever do interprete seria somente tornar explícito
aquilo que o legislador deixou implícito no texto legal. Portanto, caberia ao jurista
interpretar as normas de modo a preencher suas lacunas.
A Norma Particular Inclusiva (NPI) é aquela que regulamenta uma conduta específica.

A Norma Geral Exclusiva (NGE) é contrária a NPI, pois exclui da regulamentação todas
as situações não compreendidas na NPI.

A Norma Geral Inclusiva (NGI) são normas as quais o magistrado pode se socorrer para
regular casos parecidos ou matérias análogas aos dispostos na NPI. É a analogia.

Exemplo:

- É proibido fumar cigarro aqui (NPI).

- É permitido fazer tudo que não seja fumar cigarro aqui (NGE)

- Se é proibido fumar cigarro aqui, também é proibido fumar charuto (NGI)

Por derradeiro, a heterointegração e autointegração constituem formas de


preenchimento de lacunas, valendo-se a primeira do uso de fontes diversas, bem como
de ordenamentos diversos; enquanto que a segunda se vale das mesmas fontes, e dos
mesmos ordenamentos, comportando suas espécies de autointegração:

a) Analogia – é aquela que devido à semelhança relevante ou ratio legis, se usa


uma norma usada em um caso regulamentado, para reger um caso não regulamentado de
matéria semelhante.
b) Analogia iuris – é o procedimento através do qual se tira uma nova regra para
um caso imprevisto, não mais da regra que se refere a um caso singular, mas todo um
sistema ou parte dele. Isto é, de várias normas se extrai princípios gerais, por dedução,
para se regular um caso sem previsão.

EXERCÍCIOS IED II – TÉRCIO SAMPAIO

1. Explique, de acordo com Tércio, o que é interpretação e a sua relação


com a decisão judicial demonstrando como é realizado o ato interpretativo partindo da
norma.
A interpretação não tem apenas o papel de conhecer o real significado da norma,
mas de descobrir o seu alcance e efetividade na sociedade. Por isso, a interpretação tem
um fim em si mesma, uma finalidade prática que é a decidibilidade dos conflitos, ou
seja, tornar possível uma decisão judicial. O ato interpretativo faz a “lei falar” ou
“personifica a lei”.

O interprete tem ao seu alcance uma gama de instrumentos interpretativos dos


quais pode se valer no momento interpretativo. Contudo, o saber dogmático, se norteia,
a priori, pela inegabilidade dos pontos de partida e proibição de non liquet, que são
princípios basilares ao ato interpretativo, uma vez que o interprete deve sempre partir da
norma, bem como não pode se negar a julgar um caso difícil.

Ultrapassados esses pontos, o interprete, no pensar dogmático, interpretará


sempre partindo da norma, e com isso irá se deparar com os múltiplos significados que
a norma pode ter. Ele terá a liberdade de escolher qualquer um dos significados, mas,
deverá ter sempre em mente que essa escolha deve se pautar no significado que melhor
se encaixa no caso concreto.

2. Apresente pelo menos dois métodos hermenêuticos estudados em sala, e


diferencie interpretação especificadora, restritiva e extensiva. Sobre a interpretação
extensiva a diferencie da analogia.

Interpretação gramatical – estuda as questões lexicais da norma, isto é, como as


palavras se conectam em determinadas sentenças, procurando encontrar o verdadeiro
significado da norma. Essa interpretação não soluciona o problema, apenas o identifica
e serve para manter os juristas e interpretes aos possíveis equívocos gramaticais.

Interpretação Teleológica ou Axiológica – busca estudar o propósito, a


finalidade para a qual a norma foi criada. Melhor dizendo, procura compreender os
valores constantes no direito que está sendo interpretado.

Interpretação Sociológica – foca no estudo da norma no presente, na atualidade.


Pode ser chamada de “voluntas legis”, uma vez que procura entender o que a lei quis
dizer, pois ela goza de sentido próprio. Faz parte da corrente objetivista que estuda a lei
em seu aspecto ex nunc ou desde já, ou seja, no momento da sua vigência.
Interpretação Histórica – foca o estudo da lei no passado, no momento da sua
criação. Faz parte da corrente subjetivista, que procura analisar a vontade do legislador
ao criar determinada norma. Tem caráter ex tunc ou desde então – desde o aparecimento
da norma pela positivação da vontade do legislador.

Interpretação Lógico-Sistemática

Lógico – parte do pressuposto que a conexão entre as expressões normativas


com as demais do contexto são a chave para descobrir o significado correto da norma.
Busca encontrar inconstâncias entre as expressões de uma norma, por isso a compara
com outra norma. Acredita que o legislador nunca é redundante, desse modo, se duas
expressões estão sendo usadas de modos distintos é porque uma disciplina a
generalidade e a outra a exceção.

Sistemática – se preocupa com a compatibilidade da estrutura, isto é, com a


unidade do sistema jurídico, com a organização das normas segundo uma hierarquia.

Existem três tipos de interpretação: a especificadora, a restritiva e a extensiva. A


especificadora entende que a norma diz exatamente o que está presente no seu texto,
isto é, a letra da lei está de acordo com seu espírito (sentido). Para elucidar seu conteúdo
não é preciso ir até o fim das suas possibilidades de significados, até o ponto em que os
problemas pareçam aparentemente passíveis de serem solucionados. A restritiva
restringe o sentido da norma de modo a atender os interesses do caso concreto. O
interprete diminui o alcance da norma porque ela diz mais do que deveria, exemplos são
as normas que tratam de direitos fundamentais. Por fim, a extensiva amplia o sentido da
norma para além do que consta no texto. Respeita-se a ratio legis do legislador, pois
entende que ele previu mais do que a norma poderia alcançar ou criá-la. A função do
interprete é tornar vaga e ambígua a norma, de modo que ela se adeque aos seus
interesses. Por exemplo: se bigamia é crime, a poligamia também será.

A interpretação extensiva pode ser confundida com analogia, pois naquela


apenas se amplia o sentido da norma, isto é, se limita a incluir no seu conteúdo um
sentido que já está presente, mas não que não foi explicitado pelo legislador; enquanto
que na analogia se cria uma norma ao aplicar a um caso não regulamentado uma norma
que regula um caso semelhante.
3. Quais são os instrumentos quase-lógicos e os instrumentos institucionais
apresentados por Tércio?
Os instrumentos quase-lógicos e os institucionais são modos de integração do
direito, isto é, são instrumentos técnicos que estão à disposição do interprete no
momento de preenchimento das lacunas.
Os instrumentos quase-lógicos são:
a) Analogia – usada quando uma norma que regulamenta determinado caso passa a
regulamentar um caso semelhante não regulamentado. Ela ocorre na passagem de um
caso particular para outro caso particular (analogia legis), ou de casos gerais para outros
casos gerais (analogia iuris).
Analogia legis – um único preceito legal se aplica a um caso semelhante não
regulamentado.
Analogia iuris – por parte de vários preceitos se obtém por indução, princípios
que são comuns e podem ser aplicados a casos não regulamentados.

b) Indução Amplificadora – de vários casos particulares, por indução pode-se obter


uma norma aplicável a um caso particular sem previsão legal. É diferente de analogia
porque nesta, mediante a indução, se retira princípios comuns de vários casos
particulares, e na analogia se utiliza apenas um caso semelhante.
c) Interpretação Extensiva – parte da norma e se estende para casos que não estão
compreendidos implicitamente em sua letra ou explicitamente em seu espírito. Por
exemplo, se é proibido a bigamia, a poligamia também deve ser.
Os instrumentos institucionais são estudados a partir do seu conteúdo, e não da
lógica: costumes, princípios gerais do direito e equidade.

4. Apresente as etapas de aplicação do direito e decisão judicial segundo Tércio


Sampaio.
I. Identificação – o julgador irá questionar qual norma é válida para a aplicação
no caso concreto. Assim, questiona a validade nos seus três aspectos:
a) Formal: a norma é válida? Esse aspecto é estudado pela dogmática jurídica e
se preocupa com a vigência da norma, se ela foi criada por órgãos competentes e se
foram obedecidos todos os procedimentos estipulados.
b) Social: a norma é eficaz? Estuda a validade a partir da sociologia do direito
e averiguar se a norma a ser aplicada é reconhecida pela sociedade.
c) Ética: a norma é justa? É o foco da Filosofia do Direito, tendo em vista que
procura entender os seus valores e fins axiológicos.
II– Interpretação: nesta etapa aplica-se todo o processo interpretativo onde se
encontra o dilema do Dogma X Liberdade, em que o jurista necessita se guiar pelos
princípios de proibição do non liquet, bem como o princípio da inegabilidade dos
pontos de partida.
Assim, na primeira etapa o interprete encontra a norma aplicável, e na segunda
ele a interpreta norteado por alguns princípios, e, se depara com múltiplas
possibilidades de significado da norma, que dentre todos deverá escolher um.
III – Decisão: cabe destacar que a decisão não visa eliminar o conflito, mas
solucioná-lo, resolvê-lo. Ela se divide em três momentos:
a) Conflito e Decisão – o que é conflito jurídico? Ou melhor, quando um
conflito é institucionalizado? Para Bobbio haverá conflito jurídico quando existe a
possibilidade de se exigir do outro, determinada contraprestação, é o que Reale chama
de Bilateralidade Atributiva.
Existirá um conflito quando as partes divergem sobre os fatos ou direitos e
buscam a tutela jurisdicional para estabelecer quem terá razão através da prolação de
uma decisão judicial, que será concedida por um juiz – imparcial.
Quando um conflito que é baseado em normas passa por um processo de
decisão, o conflito também se torna um conflito sobre a norma. Exemplo: discute-se a
norma que regula determinado comportamento é ou não é constitucional, assim, não se
discute o comportamento em si, mas a norma.
b) Subsunção – genericamente é a adequação do fato norma, mas não é
automático. Se aduz que a decisão não deve ser construída por meio de uma lógica
formal, silogística, preocupada apenas como a estrutura – porque seria reduzir o direito
a um processo decisório baseado na construção silogística, e o direito é muito mais
amplo, por isso requer que o processo decisório seja concebido em sua complexidade.

Nesse sentido, a norma, assim como a decisão, não pode ser encarada como um
dado pronto para ser aplicado automaticamente, mas algo que deva ser pensando. Ainda
que na subsunção exista a um viés silogístico, há, também, uma intuição, porque
primeiro se intui a decisão a ser tomada para o caso, para depois procurar uma norma
adequada. Logo, a subsunção também assume o papel de qualificar juridicamente, ou
seja, se estuda em que norma o caso concreto irá encontrar respaldo/qualificação. Por
exemplo, um homicídio causado por emprego de veneno, sabe-se que é um homicídio
qualificado, por motivo fútil, etc.

c) Argumentação – o momento utilizado tanto para convencer e influenciar,


quanto para justificar. O jurista irá apresentar os seus motivos e razões por aderir a
determinado pensamento, e, deverá fazer a justificação de maneira racional e
fundamentada.

5. Diferencie Argumentação de Demonstração, e explique dois tipos de argumentos


trazidos por Tércio, apresentando exemplos.
A demonstração lida com aquilo que é evidente, e por isso não necessita de
convencimento. Como é evidente, ela tem uma pretensão de universalidade, sendo
válida para qualquer tempo, espaço e grupo de pessoas. Seu raciocínio é analítico, pois a
solução dada é a verdadeira.
A argumentação não é evidente, portanto, precisa de convencimento, de um
ambiente persuasivo. Ademais, se destina a grupos particulares pois não tem pretensão
de universalidade, o que também acarreta no modo de raciocínio, que é o dialético em
que se fornece a solução plausível – mais verossímil com a realidade.
Tipos de argumentação:
a) Ad absurdo – parte da premissa que se determinada tese for verídica,
chegaríamos a um resultado absurdo, portanto, a única tese aceita é a oposto.
b) Ad autoritate – o argumento funda-se no prestígio ou reconhecimento de
uma autoridade, seja pessoa ou grupo. Possui o viés qualitativo quando se baseia no
prestígio de uma pessoa, por exemplo: o especialista da área entendeu nesse sentido. E
ainda possui o viés quantitativo quando se funda no entendimento de um grande número
de pessoas, por exemplo: a doutrina majoritária entende nesse sentido.
c) A contrario sensu – de acordo com Kelsen, tudo que não está
juridicamente proibido é permitido, ou seja, se um comportamento não está
explicitamente vedado pela lei, o contrario sensu considera-se permitido ou indiferente.
Exemplo: é proibido pisar no grama, logo, é permitido tudo que não seja pisar na grama.
d) Ad hominem – ocorre quando o argumentador faz uma concessão para
defender uma conclusão que objetiva chegar. Exemplo: sim, meu cliente roubou, mas
foi apenas um pão porque ele estava com fome.
e) Ad rem – são argumentos válidos para qualquer pessoa, são pressupostos
universais, portanto, não são passíveis de discussão, haja vista serem de entendimento
geral. Exemplo: todos possuem direito a saúde.
f) A fortiori – representa a passagem de uma proposição para uma segunda,
na qual devem valer as mesmas razões da primeira, ainda com mais força. Por exemplo:
se a negligência deve ser punida, a fortiori deve ser punido o ato premeditado.
g) A maiori ad minus – passa da validade de uma disposição mais extensa
para a validade de outras menos extensa. A regra que permite o mais, também permite o
menos. Exemplo: se é permitido passear com um tigre na praça, também é permitido
passear com um gato.
h) A minori ad maius – se a regra admite o menos, também admite o mais,
pois se sustenta o grau de adaptabilidade de certas circunstâncias. Exemplo: se a
bigamia é proibida, a poligamia também deve ser.
i) A posteriori – foca nas consequências. A força do argumento repousa no
conhecimento, admitido como mais claro, das consequências, o que permite voltar as
causas. Se sabemos que as consequências da outra tese são ruins, a minha deve
prevalecer. Exemplo: se as estatísticas comprovam que a redução da maioridade penal
não irá reduzir a violência, devemos usar meu argumento e investir em meios que façam
a violência diminuir.
j) A priori – chama-se de argumento causa, pois foca nos motivos, nos fatos
que levaram determinado caso a acontecer. Exemplo: atos legitima defesa.
k) A pari ou a simili – relaciona dois casos entre si, que são considerados,
semelhantes para concluir se para ambos vale a mesma hipótese ou consequência.
Baseia-se na analogia.
l) Silogístico ou entimema – é um método de argumentação que
corresponde ao procedimento dedutivo de lógica formal, é um argumento quase-lógico
ou incompleto. Tem a função de reforçar a credibilidade da sentença, jogando com
respeito ao rigor lógico. Exemplo: Bruno é advogado, logo Bruno tem formação
universitária. Subentende-se que por ser advogado, ele tenha formação universitária.
m) Exemplar – utiliza-se de exemplos jurisprudenciais para atribuir maior
força a tese, mais somente o caso concreto for em relação ao exemplo, maior força terá
o argumento. Existe também a hipótese do argumentador ir além daquilo que o exemplo
dispõe para chegar ao fim que deseja.

Você também pode gostar