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O filme Seven, os sete pecados capitais, segue a vida de dois detetives enquanto investigam uma

série de assassinatos feitos por um homem que se inspirou nos principais pecados descritos pela
bíblia. Cada detetive tem sua própria visão de crime e moral. William é um homem experiente e
cuidadoso que aparenta estar cansado do seu trabalho e deseja se aposentar. David, por outro
lado, é um detetive relativamente novo, com opiniões e personalidade fortes.
Não demora muito para o espectador entender por que William quer sair da polícia e por que
seu novo parceiro representa exatamente o polo oposto daquilo. Em diversas cenas David
descreve o assassino como alguém maluco, uma pessoa com problemas mentais, que o final se
tornará feliz assim que os dois o prenderem, enquanto William discorda dessa opinião,
acreditando que o assassino é apenas um homem, que se ele não for o próprio diabo o final não
será feliz, não será satisfatório.
Pode-se dizer, então, que William acredita que estamos passando por tempos difíceis. Tudo o
que viu como detetive o fez acreditar que a vida, o cotidiano, o homem em si está se tornando
algo alheio a vida, que a moral está sendo deixada de lado. Não a moral como regras de
convívio do cotidiano, mas o conjunto dos princípios em si. David, por outro lado, entende que
esse discurso cheio de “reclamações” de William é apenas uma desculpa para que ele possa se
aposentar e, assim, acreditar que todo o mundo é ruim e as pessoas simplesmente não ligam
mais. Em um de seus diálogos mais fortes, William afirma que David quer ser como um herói,
um paladino, como se fosse a representação do direito penal, os que vivem fora da linha do
“correto” devem ser punidos e pronto, não há mais nada a se pensar sobre isso.
A questão é que mesmo com opiniões e postura fortes enquanto acompanha os passos do
assassino, David ainda é jovem, e no final da trama se mostra conflituoso sobre sua opinião do
que é “Justiça”. Sem perceber ele acaba misturando o direito penal e a moralidade,
principalmente na cena em que o assassino se entrega e ironicamente diz que gostaria de falar
com seu advogado. David se enfurece e, enquanto o advogado propõe o plano final do
assassino, debocha do “terno de três mil dólares e o sorriso no rosto” do profissional enquanto
defende o culpado.
Por fim, nas cenas finais, David descobre que John assassinou sua mulher grávida e que a
finalização da sua obra perfeita seria que David, com ira, ignoraria as regras, o direito penal da
justiça propriamente dita e o mataria como vingança. William tenta impedir, mas David toma
sua decisão e desfere vários tiros no culpado. O filme termina com William citando uma frase:
“O mundo é um bom lugar e vale a perna lutar por ele”. O personagem então, afirma, que
concorda apenas com a segunda parte. Pode-se dizer, então, que na trama a relação de direito
penal e moralidade é exatamente a busca por existir um “lugar bom” e a luta por mantê-lo
assim, que é o que o direito penal tenta fazer ao punir aqueles que não a seguem.

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