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Um pela tristeza,
Dois para alegria,
Três para uma menina
Quatro para um menino,
Cinco por prata
Seis por ouro,
Sete por um segredo,
Nunca será dito.
Capítulo Um
1
Um penteado no qual o cabelo é curto nas laterais e na parte superior e longo na parte de
trás.
última, com um soco. Romeo não tinha lido sobre ele ou visto
seu relatório, mas os rumores de outros presos viajavam de
cela em cela.
Se Justin Steel balançar o punho, afaste-se rapidamente.
— Obrigado por me chamar de bonito, mas você não é meu
tipo.
— Um dia eu vou foder sua cara.
— Como eu disse, não é o meu tipo.
— Romeo — Paul avisou. — Apenas mantenha-se andando.
Outra parada da câmera, outro estalido de uma trava pesada.
O corredor seguinte não tinha celas, era comprido, pintado de
branco, de aparência quase clínica. Romeo estava indo para a
porta no final, a que levava à sala de visitas.
Ele só podia ver Chad através de uma espessa barreira de
plástico. A voz de Chad sempre parecia distorcida, abafada
quando passava pelos alto-falantes. Ele não podia cheirar
Chad, ou estender a mão e tocá-lo, mas era melhor do que não
vê-lo.
Romeo sabia que Chad podia parar a qualquer momento, era
isso que seus colegas queriam que ele fizesse, seus amigos, seu
terapeuta, mas eles tinham uma conexão inegável, um apego
mútuo e isso o mantinha vindo para a prisão e, rapaz, Romeo
precisava isto.
Ele se sentou na cadeira e observou a porta do outro lado da
barreira de plástico. Este era o momento em que ele estava
mais animado. Isso durava apenas uma fração de segundo,
mas cada vez que Chad abria a porta, Romeo o pegava. O olhar
no rosto de Chad. A mesma empolgação, antecipação e
felicidade que ele sentia, mas expresso pelo grande sorriso de
Chad e pelos olhos brilhantes.
Chad queria vê-lo, um monstro. Na verdade, ele ansiava por
isso, assim como Romeo ansiava por ver sua pega.
Seus braços doíam por serem algemados atrás das costas, os
ombros projetados para a frente e as mãos frias, como se os
punhos estivessem muito apertados, e sua circulação
sanguínea estivesse se fechando, mas ele não se importava.
Este era o momento que ele estava esperando a semana toda,
e lá estava. A porta se abriu. Romeo se inclinou para frente,
expectante.
A boca de Chad se contraiu, como se ele estivesse tentando
muito manter um sorriso alegre. Seus olhos esvoaçantes, suas
bochechas coradas e, finalmente, sua risada suave. Romeo riu
também, um som ofegante de alívio, felicidade, ele não tinha
ideia do que era, mas quando eles se viam, os dois ficavam
nervosos, ficavam vermelhos na cara e riam.
Era completamente estúpido.
— Bom ver você aqui. — Disse Chad.
— Que engraçado da sua parte.
— Estou tentando.
— Eu sei, é por isso que é tão trágico.
Chad sacudiu a cabeça e sentou-se. Ele lançou um olhar para
Fred e Paul, mas não disse nada a eles. Romeo apontou o
queixo para Chad.
— Eu gosto do cabelo.
Chad riu, passando a mão pelos fios recém-aparados. —
Obrigado.
— Você fez isso sozinho?
Chad estreitou os olhos. — Não.
— Oh...
— Você é um idiota.
— Eu disse que parecia bom, não foi?
— O seu está parecendo selvagem.
— Eu tenho que fazer isso hoje em dia.
Chad engoliu em seco e se virou.
— Você tem um jornal?
— Não viria sem um.
Chad colocou sobre a mesa. Ele folheou até encontrar a
página do jogo e deslizou as palavras cruzadas o mais perto
possível da barreira de plástico.
— Oh, hoje é travesso... — Romeo disse.
Ele estava se sentindo brincalhão.
Chad franziu a testa, estudando as pistas. Nenhum deles era
considerado travesso, mas nunca preenchiam as palavras
cruzadas como deveria ser feito de qualquer maneira.
— Eu não vejo...
— Que tal este? — Romeo disse. — Mais do que querer, seis
letras...
— Precisar... anseio...
Romeo sorriu. — Você esqueceu como as palavras cruzadas
funcionam? Faz apenas uma semana.
Chad estreitou os grandes olhos castanhos e a pele apertou -
a na parte superior do nariz.
— Desejo. — Disse Chad.
Romeo assentiu, lambendo os lábios. — Está certo.
— Ok... que tal isso, carinho forte, sete letras.
— Não é amor então.
As bochechas de Chad estouraram com pigmento vermelho, e
ele fingiu estudar as pistas das palavras cruzadas, as
inexistentes.
— Paixão. — Romeo disse.
Romeo viu a inclinação do sorriso de Chad. Ele escreveu as
letras em alguns quadros aleatórios, depois assentiu. — Sim,
é isso.
— Aqui está uma boa. O ato de asfixia ao restringir o fluxo
de ar, alguns acham agradável, sete letras.
— Sufocamento...
Romeo olhou para o pescoço de Chad e torceu os dedos.
Lembrou-se de apertar a mão em volta da garganta de Chad,
os olhos revirados, o corpo relaxado, tudo à parte do buraco
em que Romeo estava empurrando. Isso apertou como um vício
quando o orgasmo de Chad bateu, arrancando o seu de seu
pênis em impulsos. Ele estava ficando quente e duro pensando
sobre isso e, a propósito, Chad estava mexendo do outro lado
da barreira, ele também estava.
211 dias desde a última vez que ele fez sexo.
Mas com horas para matar em sua cela, às vezes a melhor
maneira de gastá-la era se lembrar de Chad e de si mesmo na
casa da fazenda. Na última semana, eles mal se afastaram. Foi
um caso de comer, dormir, sexo e repetir, mas o monstro em
sua cabeça estava à espreita, ficando impaciente.
— Que tipo de palavras cruzadas é essa? — Paul perguntou.
Romeo piscou para fora de sua neblina de cobiça e olhou para
Paul.
— É a edição do dia dos namorados. — Disse Chad
— Dia dos namorados? Isso foi uma semana atrás.
— Sim, eu peguei isso na lixeira no trabalho.
Romeo ergueu as sobrancelhas. — Muito obrigado, nem
sequer mereço uma cópia recente.
— A asfixia não é agradável. — Paul disse.
Romeo se virou. — Tentou?
— É doente e distorcido.
— Não — disse Romeo — Você está fazendo tudo errado se
estiver torcido.
— Você é um animal, Romeo.
— Eu prefiro monstro.
— Você acha isso engraçado?
Romeo percebeu pelo movimento dos olhos de Chad que Paul
estava falando com ele, não com ele.
— Brincando sobre sufocamento, foi assim que ele os matou,
certo? Ele os estrangulou, você até viu as vítimas depois que
ele terminou, e agora você está rindo disso.
— Eu não estou rindo disso.
— Parece que sim. Você vir aqui parece que acha que o crime
dele foi uma piada, não grave, nem devastador para as pessoas
diretamente envolvidas e para todo o país que ficou
aterrorizado por meses.
Chad apertou e relaxou a mão na mesa. O gesto não foi
ameaçador, mas relacionado ao estresse. Toda vez que Chad
se sentia desconfortável, ele iniciava uma rotina estranha,
aterrando-se, controlando suas emoções. Romeo se perguntou
se era algo que seu terapeuta havia lhe ensinado, ou se ele
apenas começara a fazer isso sozinho. De qualquer maneira,
ele fez o estranho pulsar na mão enquanto seus olhos ficavam
cada vez mais distantes.
— Estou aqui para ver Romeo, não o assassino da contagem
regressiva.
— Eles são a mesma pessoa.
— É suficiente. — Fred disse.
— Mas...
— Sim, ouça seu superior. — Romeo murmurou.
— Ele não é meu superior.
— Na inteligência ele é. Você não está realmente zangado com
Chad, está apenas falando com ele. Eu sei porque você está
com raiva...
— Que diabos você está falando?
— Um metro e oitenta, cabelos loiros, usa salto alto e muito
batom.
— Não traga Holly para isso.
— E aí está, a raiz de toda raiva e frustração.
Chad fez uma careta. — Você ainda está vendo Holly?
Romeo falou por cima do ombro. — Sim, ela continua adiando
a data da publicação. Ela parece não ficar longe de mim.
Ele sorriu quando ouviu passos atrás dele, Paul correndo
para frente apenas para ser parado por Fred.
— Paul acalme-se. — Fred pigarreou e depois falou com
Romeo. — Já chega. Continue com sua visita.
Chad pareceu notar que ele estava mexendo as mãos e as
deitou no jornal. Ele olhou para baixo, apontando para as
palavras cruzadas. — Devemos?
— Sim, devemos.
Ele cantarolou, estudando as pistas de verdade. — Pessoa
preguiçosa, quatro letras.
— Ah, sim... Paul é definitivamente um desses...
Chad não comentou, ele havia descoberto a pista também e
escreveu vagabundo nos quadros corretos.
Romeo se inclinou o mais perto que pôde da barreira. —
Espera. Na realidade. Estúpido e desajeitado, três letras... é
isso que Paul é.
— Estou avisando Romeo. — Paul rosnou.
— Idiota — Chad disse, preenchendo-o.
— Espera, espera. — Romeo disse, com um sorriso. — Puxar
com força, quatro letras, é definitivamente P...
Paul se aproximou. — Cale a boca, Romeo.
— Espere — disse Fred — a resposta é arrancar2...
Romeo olhou por cima do ombro e viu Paul esvaziar. Ele
sorriu, mas Chad deu a ele um olhar muito impressionado.
— O que?
— Vou guardar as palavras cruzadas para que você não
tenha problemas.
— Desmancha-prazeres.
Chad sorriu. — Você é terrível.
Romeo ergueu as sobrancelhas e deu a Chad o olhar. O olhar
que dizia: ‘Eu sei, mas você me ama mesmo assim’, e a
2
Em inglês Pull.
resposta foi Chad corando e dando a ele um sorriso tímido. Ele
estava flexionando a mão sobre a mesa, mais rápido do que
antes.
Às vezes Romeo queria desvendar completamente a cabeça de
Chad, ver o que estava acontecendo ali, analisar o dano que
ele havia causado. Ele sabia como provocá-lo, trazê-lo para a
superfície, e sabia quando murmurou promessas de sua fuga.
— Só espere até eu sair daqui...
Suas palavras nunca deixaram de obter uma reação. Não
verbal, ou física, a menos que você estivesse focado no Chad
com intensidade de laser. Suas emoções se desenrolaram em
seus olhos. A ligeira excitação, as brasas da esperança em seus
olhos castanhos antes que esfriassem, e a determinação feroz
tomou conta.
Chad foi substituído pelo detetive.
Havia quatro deles em seu relacionamento bagunçado. O
monstro, o detetive, Chad e Romeo, e os quatro trocavam e
interagiam.
Chad, o detetive, finalmente sussurrou: — Você pertence
aqui.
Romeo sorriu.
Brincar com a moral esfarrapada de Chad era fascinante de
assistir.
****
— São 2:00.
Romeo olhou para Paul através das grades, depois suspirou,
saindo da cama. Duas horas no sábado significava que era sua
única outra visitante, Holly Stevenson.
Quartas-feiras eram dias do Chad e sábados eram para
Stevenson.
— Olá Romeo...
Ele parou quando atravessou o portão e olhou para Will na
cela vizinha. Cabelos compridos em um coque, um grande
sorriso no rosto. Era difícil imaginar que ele matou alguém,
magro, esquelético. Parecia que uma rajada de vento teria sido
sua ruína. Ele foi preso por esfaquear dois policiais até a morte
e era o único homem na prisão que Fred e Paul odiavam mais
que Romeo.
— Você vai ver aquela gostosa?
Paul acenou com o bastão para Will. — Saia de perto.
— Só estava perguntando...
— Sim, eu vou ver a Holly sexy.
Paul olhou para ele. — Observe seu tom.
— Você pode dizer a ela que eu vou pensar nela? — Will disse,
piscando.
Romeo sorriu. — Não. Holly é para mim.
— Nos seus sonhos bagunçados. — Paul rosnou.
Will riu. — Eu te encontro mais tarde, Romeo.
— Vamos tomar uma cerveja no bar.
— Alguns torresmos?
— Sim, porque não? Eu pago.
Fred empurrou Romeo pelas costas, encorajando-o a andar.
****
3
Ter que trabalhar muito para cumprir os altos padrões estabelecidos pela pessoa que tinha
o cargo antes de você.
Romeo franziu o cenho. — O número cinco?
— Sim. Eu sempre me perguntei se há um significado para o
número. Aconteceu alguma coisa quando você tinha cinco
anos?
— Não, nada fora do comum aconteceu quando eu tinha
cinco anos.
— Então por que cinco vítimas?
— Eu só tenho quatro.
— Mas você estava tentando cinco. Eu quero saber por que?
— Cinco é um número bom o suficiente. Por que não?
— Você poderia ter ido mais alto, dez...
— Eu poderia ter ido para mais baixo, digamos três, então
nem estaríamos falando agora, não seria uma vergonha.
Holly bufou e rabiscou em um de seus muitos papéis.
Romeo apertou os olhos e viu a palavra paquera.
Ele não estava sendo paquerador, mas com seu rosto bonito
e sua voz suave, ele podia entender por que ela pensava que
ele estava. Ela queria que ele estivesse paquerando com ela,
então, em sua cabeça, ele fez isso.
— Não havia significado para cinco, algo não aconteceu no
quinto, ou você não tinha cinco amantes anteriores ou algo que
o desencadeou, talvez seu chefe tenha lhe dado cinco avisos ou
algo assim.
— O que?
Holly folheou suas anotações. — Você disse que acordou um
dia com o desejo de matar, largou o emprego e mudou-se para
Hatton.
Às vezes Romeo lutava para lembrar suas mentiras. Ao
contrário de Holly, ele não tinha permissão para escrever com
uma caneta e um papel.
— Eu pensei que cinco era factível.
— Factível?
— Sim. Eu estava usando o mesmo método de levar minhas
vítimas, ao redor da mesma área, no mesmo trecho de estrada.
Mais e minhas chances de ser pego aumentariam.
— Você foi pego antes de escapar da cena da sua última
vítima, Audrey Banes.
— Quem?
Holly franziu o cenho, olhando para as anotações. — Audrey
Banes. A quarta pessoa que você matou.
Romeo balançou a cabeça. — Desculpe, eu não sei.
— Audrey... — Holly olhou atrás de Romeo para Fred, depois
Paul. — Número dois...
— Ah, sim, número dois.
Holly estreitou os olhos. — Desumanizá-los faz você se sentir
menos culpado?
— Não me sinto culpado e não os desumanizo.
— Referindo-se a eles apenas como números, os números
que você deu a eles.
— É como eu me lembro deles.
Romeo olhou para ela através da barreira protetora. Ela
torceu a sobrancelha, fazendo-a tremer. Algo que ele disse a
aborreceu, mas ele não se importou. Ela fazia perguntas, e ele
respondia, não era culpa dele se ela se decepcionasse com o
que ele dizia.
— Você disse que matá-los era agradável, poderoso?
— Está certo...
— Sexual?
Romeo franziu o cenho. — Por que tudo leva de volta ao sexo?
— Você achou o assassinato de suas vítimas excitante?
— Não.
— Bom, isso é bom.
— Isso é para o seu artigo ou seu interesse pessoal em mim?
— O artigo. Claro, é para o artigo... algo que nossos leitores
vão querer saber.
— Para constar, eu gosto de sexo como sexo, e gosto com
algumas pessoas mais do que outras...
Holly não conseguia olhá-lo nos olhos e estava corando mais
do que Chad.
Holly tinha uma queda por ele.
Compreensível quando ele parecia do jeito que era, e divertido
ver a batalha continuar em sua cabeça.
A paixão vs. repulsa pelo crime.
Ele estava jogando um jogo com ela, assim como ele jogou um
com Chad. Era divertido e, preso em uma prisão de segurança,
ele precisava de todo o entretenimento que pudesse obter.
****
Romeo estava deitado na cama e olhou para o canto da cela.
Uma aranha espreitava, suas longas pernas finas se
contraíram. Ele observou a aranha se mover através da parede,
escorregando de vez em quando, depois se equilibrando.
Ele disse à Chad que a primeira coisa que matou foram os
filhotes da pega antes mesmo de chocarem. Eles foram sua
primeira morte consciente - a primeira vez que ele decidiu
matar sabendo muito bem das implicações - mas suas
primeiras vítimas foram aranhas.
Seu primeiro assassinato também foi sua primeira memória
de infância.
A mãe de Romeo gritou e correu pela sala quando a viu sair
correndo do sofá. Ele não entendeu o medo dela, nem cresceu
vendo sua mãe reagir com tanta força. Ele não sentiu nada em
relação à aranha. Ele bateu a mão em cima dela, matando-a
instantaneamente.
Sua mãe agradeceu por isso, e ele fez isso de novo e de novo,
e ele gostava de esmagá-las e deixar uma mancha. Foi sua
primeira obra de arte para sua mãe, não colada na geladeira,
mas borrada na parede ou no chão.
Ela sempre foi muito grata, bagunçou os cabelos dele e deu
um sorriso aliviado.
Sua mãe pensou que ele estava fazendo isso por ela, mas ele
não estava. Era bom esmagá-las, impedi-las de se mover para
sempre, matá-las era bom, mais do que bom, parecia certo.
A aranha na parede da cela deslizou até a metade e Romeo
perdeu a paciência. Ele saiu da cama e se aproximou. Ele
apertou a mão em punho e bateu na parede.
— O que você está fazendo? — Will gritou.
— Fazendo arte.
— Jesus, você não está fazendo a especialidade de Seamus e
limpando a merda nas paredes?
Romeo revirou os olhos, depois admirou seu trabalho. Ele
deixou para trás uma sujeira e pernas, mas não lhe deu a boa
explosão de endorfinas que costumava fazer.
Romeo subiu na escala de assassinatos. O monstro em sua
mente levantou o nariz e resmungou em aborrecimento.
Matar aranhas não era mais suficiente.
Capítulo Três
****
Não havia nada no noticiário sobre um assassinato horrível,
nenhuma pista de por que Chad parecia e agiu de maneira tão
estranha. Romeo desligou a TV, pensou em reler sua seleção
de livros, mas não conseguiu reler a seção de doenças do
dicionário médico de AZ ou a interminável pregação na Bíblia.
Uma vez que ele terminasse de viver no inferno da prisão, ele
estava destinado ao inferno do inferno, isso é tudo que lhe
ensinou.
— Ei — ele gritou.
Will bateu em suas barras. — Sim.
— Houve assassinatos ultimamente?
— Você sempre tem sede de sangue?
— Eu apenas me perguntei se havia perdido alguma coisa.
— Não, não há assassinatos, algum pobre coitado
eletrocutou-se.
— Não estou interessado.
— Eu posso lhe contar sobre esfaquear aqueles policiais.
— Não, obrigado.
— Meu assassinato não é bom o suficiente para você?
— Não, não é.
— Por que não?
— Você fez isso por raiva.
— Não fazemos todos.
Romeo suspirou, se afastando. — Não, nem todos nós
fazemos isso por raiva.
— Por que você fez isso então?
— O monstro em mim precisava disso.
— Monstro. — Will sorriu.
Romeo caiu no beliche e olhou para o rosto de Chad na
parede. Algo havia perturbado sua pega, e ele não podia fazer
nada sobre isso.
Ele comeu, se exercitou em sua pequena cela, andou pela
gaiola um pouco maior do lado de fora e deitou-se no beliche.
Os dias, horas, minutos, segundos desaceleraram e ele fechou
os olhos, esfregando as têmporas.
Capítulo Quatro
****
Três dias após a visita de Chad, ainda não havia nenhum
assassinato sendo noticiado. Romeo manteve a TV ligada até
ser ameaçado de remoção, se não a desligasse à noite. Em vez
de sorrir na cara de Paul, ele ouviu e desligou. Ele não podia
se arriscar a perder seu privilégio de TV e, especialmente
quando sabia que algo acabaria explicando o humor de Chad.
— São 2:00.
Romeo pensou em não ver Holly, mas a alternativa era olhar
para o canto de sua cela e desejar que cada segundo lento
passasse. Pelo menos com Holly, o tempo passou rapidamente.
Os botões de sua blusa estavam abertos novamente, e o sutiã
que ela usava mantinha seus seios mais altos, fazendo-os
saltarem quando se movia. Paul ficava paralisado cada vez que
ela se inclinava para pegar algo do chão. Romeo olhou para
trás e o pegou assistindo.
— Olá. — Disse Holly.
— Outra reunião.
— Você disse que sim. Eu acho que você precisa me ver tanto
quanto eu preciso te ver.
— Você precisa me ver?
— Sim.
— Para o artigo?
Holly espalhou seus papéis sobre a mesa. — É claro, o artigo.
— Gosto do sutiã, parece caro.
Ela fez uma tentativa abortada de se cobrir. — Você não
deveria estar olhando.
— Eu sou apenas humano... bem, parte humano. — Ele
piscou, e ela desviou o olhar, as bochechas vermelhas como
maçãs maduras.
Paul murmurou algo baixinho, mas Romeo não entendeu
direito.
— O que você quer me perguntar hoje? — Ele disse. — Mais
sobre meus pais negligentes, minha vida trágica na escola ou
meu histórico de trabalho excedente.
— Relacionamentos.
— Que surpresa. — Romeo murmurou. — Como eu disse
antes, eu não estive em um relacionamento.
— Seus interesses estão em homens ou mulheres?
— Nenhum. Meu interesse está no assassinato.
— Aposto que você teve muito interesse ao longo dos anos.
Romeo ergueu a sobrancelha. — Eu recebo um monte de
olhares. Aposto que você também.
Ele podia sentir o olhar de Paul na parte de trás da sua
cabeça.
Holly corou, então um sorriso conspirador iluminou seu
rosto.
— Eu recebo meu quinhão de interesse, sempre o aproveito.
Sempre consigo o que quero no final.
Romeo inclinou a cabeça, estudando-a. — Você usa sua boa
aparência para conseguir o que deseja.
— Como meu ex diz, eu tenho um rosto fácil para se
apaixonar e um difícil para esquecer.
— Pobre cara.
Holly deu de ombros. — Eu não o amava da mesma maneira
que ele me amava. Acontece.
— Eu não saberia.
— De qualquer forma, vamos voltar ao tópico... sobre você e
os motivos pelos quais você estalou.
Romeo suspirou.
De certa forma, ela estava certa. Houve um momento em que
ele estalou completamente, e foi quando ele matou a pega sem
querer. Tudo o que ele estava segurando para mantê-lo bom,
humano, tinha desaparecido completamente. Se o monstro
estava acorrentado em sua mente, esse momento era o
equivalente a deixá-lo solto na gaiola.
— E você? Você quase estalou?
Holly bufou. — Quando recebi este artigo para escrever,
quase morri. Eu estava feliz, parecia um triunfo...
— Um triunfo?
Holly torceu uma mecha de cabelo. — Queria escrever e me
certifiquei de ser a única opção, mas estou sob muita pressão.
Não sabia ao certo se poderia lidar com isso.
— Então você matou algumas pessoas?
— Não. — Holly riu, depois fez uma careta. — Eu me apoiei
nas pessoas ao meu redor. Eu tenho esse luxo, você não. E
quando eu comecei a escrever o artigo, e conheci você... bem,
você me deixou à vontade, e eu sabia que tudo ficaria bem.
Trabalhamos bem juntos.
— Nós fazemos, somos uma boa parceria.
Holly sorriu, pareceu se lembrar de si mesma, depois olhou
para suas anotações.
— Talvez você tenha visto seus pais e seus agressores nas
pessoas que você matou. A vingança final por ser tratado tão
mal.
— Um conselho — disse Romeo. — Não comece o artigo com
isso, é horrível.
Holly riu. — Ainda estou encontrando meu equilíbrio, meu
estilo.
— O terror vende.
— Uma história interessante também vende. Quero deixar
minha marca no Canster Times, sem trocadilhos.
Romeo franziu a testa e depois ergueu os ombros.
Ele não entendeu a piada dela.
— Deixa pra lá. Há algo que ainda não tocamos.
— O que?
— Eu queria falar sobre se você tivesse completado sua
contagem regressiva.
— Mas eu não fiz.
— Mas se você tivesse. O que você teria feito?
— Nenhuma ideia.
— Vamos, você estava em contagem regressiva de cinco por
um motivo, o que teria acontecido quando você chegasse ao
número um?
Ele não tinha pensado tão longe. Ele se permitiu cinco. Cinco
vezes ele poderia satisfazer seu desejo. Ele não estava
contando nada, sem grande final. Era o limite dele, nada mais.
Mesmo como um monstro, ele sabia que tinha que se controlar.
Eles tinham um acordo, e ele não o cumprira.
— Digamos que a polícia não o impediu de matar Chad. Ele
foi seu último, você tem um número um. O que você teria feito
a seguir?
— Se eu tivesse matado Chad...
— Sim.
— Eu teria me juntado a ele.
Holly se recostou na cadeira horrorizada. — Você teria
terminado. Você teria se matado?
— Sim. Não haveria mais nada para mim se eu tivesse
matado Chad.
— Você terminaria tudo quando chegasse ao número um.
Esse era o grande plano, a vítima final... você seria o zero.
Romeo revirou os olhos. — Ou decolar, dependendo de como
você quer vê-lo.
— Não é engraçado, você está falando de suicídio, me dizendo
que se você completasse a contagem regressiva, terminaria sua
vida.
Romeo bufou. Holly ouviu o que ela queria ouvir, se ele tivesse
o número um, ele teria desaparecido, seguido em frente. Ele
não tinha ideia do que ele teria feito, ou para onde ele teria ido,
mas o suicídio não era uma opção, mas Chad... se, quando
Chad ofereceu, e Romeo o matasse, ele nunca teria perdoado
ele mesmo, ele gostaria de se juntar a ele, e rápido.
— É comum.
— O que é? — Romeo perguntou.
— Assassinos tirando suas próprias vidas, garantindo que
não sejam pegos... eles são sempre intocáveis.
— Eu sou um serial killer padrão então.
— Não há nada padrão em você. — Holly sorriu, depois olhou
para suas anotações. — Estou feliz que você não terminou sua
contagem regressiva.
— Porque você não teria me conhecido, ou porque não
haveria artigo?
— O artigo. — Disse Holly. — Sem você, não seria tão
interessante, eu nunca chegaria à causa raiz do por que
aconteceu.
Romeo suspirou. — E eu espero que você goste de ver meu
rosto toda semana.
Holly abaixou a cabeça, juntando os papéis. Ela fez uma
pausa e seu sorriso mal escondido começou a cair.
— O que é isso? — Romeo perguntou.
— Como você se sente sobre Chad?
— Chad…
Romeo flexionou a mandíbula. Por semanas, ela tentou
convencê-lo a falar sobre Chad e os dois meses na fazenda. Ele
não lhe deu nada, mas ela fez suas próprias suposições. Holly
estava olhando para ele, aparentemente intrigada com a reação
dele.
— Você nunca falou sobre ele.
Romeo deu de ombros.
— Ele é a razão pela qual você não terminou sua contagem
regressiva... você não o odeia?
— Odeio ele?
— Por parar você.
Romeo flexionou as mãos. Elas estavam algemadas nas
costas, mas ele ainda podia enrolar os dedos. O desejo de
concluir sua contagem regressiva não desapareceu. Ele ainda
olhava para todos através dos olhos do monstro, precisando de
sua próxima dose, sabendo que poderiam ser, eles poderiam
libertá-lo.
Ele ainda queria o seu número um, tanto quanto ele queria
escapar.
— Chad é complicado.
Holly arregalou os olhos e rabiscou mais nas folhas de papel.
Ele não se incomodou em tentar lê-la, ele olhou para a luz atrás
da cabeça de Holly, que parecia nebulosa do seu lado da
barreira.
— Então você ainda precisa completar a contagem regressiva,
finalizá-la e terminar sua vida.
Romeo não respondeu, mas viu sua caneta se movendo
rapidamente, escrevendo mais lixo.
— A polícia chegou exatamente quando você estava
estrangulando Chad.
Era assim que parecia: Chad desamparado no colchão,
Romeo o prendendo, apertando-o, matando-o. Mas, naquele
momento, ele era o único desamparado, Chad virou a situação
de cabeça para baixo e tinha sido o único no controle.
— Você foi preso e confessou tudo.
— Isso mesmo, eles me pegaram. A contagem regressiva, o
desafio, o que você quiser chamar, difícil, mas factível, mas
durável - em espera, por causa do Chad.
— Difícil de uma maneira moral?
Romeo riu. — Estamos conversando há meses, e você está
tão desesperada para eu sentir culpa ou arrependimento.
Quando você vai perceber que não está lá? Não posso sentir
essas coisas, e você pode me odiar, me achar repulsivo,
nojento, mas é assim que eu sou. Eu não posso mudar isso, e
você também não pode mudar.
— Você não se sente culpado ou arrependido por alguma de
suas vítimas?
— Não. Essa parte do meu cérebro não funciona.
— Você não sabe disso direito. Esses sentimentos podem
estar lá, mas reprimidos por más experiências, más
lembranças...
Romeo balançou a cabeça, depois se inclinou para frente,
desejando que ela olhasse nos olhos dele. — Tenho emoções
que funcionam pouco e, no caso de algumas, não as tenho.
— Você diz que não tem culpa ou remorso, e a raiva?
— O que tem isso?
— Você já sentiu raiva antes?
Romeo desviou o olhar e realmente pensou nisso. Houve duas
vezes em sua vida em que ele sentiu o amargo acúmulo de raiva
em seu intestino. Uma vez, quando a pega se recusou a deixá-
lo, e o outro quando Chad o perseguiu nas árvores perto da
casa de Audrey.
— Sim.
— Você está com raiva por ter falhado?
— Mais decepcionado.
Holly assentiu, notando outra coisa.
— E como você se sente quando Chad o visita?
Um monte de emoções que ele não podia rotular ou entender,
mas o topo da lista após a última visita deles era preocupação.
Ele estava preocupado com Chad, e os últimos dias pareceram
mais longos, sem graça e com um cérebro esmagadoramente
chato do que o habitual. Ele precisava que fosse quarta-feira,
ele precisava ver Chad.
Às vezes, ele odiava Chad por desbloquear emoções quando
não sabia como lidar com elas. Elas não deveriam estar lá. Era
malditamente irresponsável de Chad detonar um barril de
sentimentos, em seguida, apenas o abandonar.
— Ele zomba de você do outro lado da barreira.
— Zomba de mim?
Holly assentiu. — O homem que deveria ter sido seu número
um, senta-se onde estou sentada agora, vivo. Nenhuma marca
no pescoço, nenhum número queimado no peito. Ele é seu
fracasso, e nunca é bom fracassar, nunca é bom ser
constantemente lembrado disso.
— Você está certa, nunca é bom falhar.
— Então por que aceitar as visitas dele?
Ela nunca entenderia ele e Chad, Romeo não queria que ela
entendesse.
— A mesma razão pela qual aceito essas, para ajudar com o
tédio.
— Você gostaria que o vidro não estivesse entre você e Chad?
— Claro que eu gostaria.
— Então você poderia finalmente terminar o que começou?
Romeo não comentou. Ele olhou para Holly até que ela
desviou o olhar.
— Eu não quero falar sobre Chad.
— É difícil falar sobre fracasso. Compreendo.
Romeo bufou, balançando a cabeça. Ela realmente não, mas
ela pensou que sim. Holly escreveu outra coisa, depois
escondeu o pedaço de papel embaixo de outro.
— Este artigo está quase pronto? — Romeo perguntou.
— Estou nos retoques finais. Passamos por sua família
negligente, o bullying na escola e depois no local de trabalho.
O desejo repentino de matar após uma discussão com seu
antigo chefe. A contagem regressiva, os assassinatos. Eu só
preciso de um final interessante. Não estou feliz com isso.
— Diga que eu acabei aqui.
— Sim, mas os leitores já saberão disso. Esse é o final físico
de sua farra, mas quero um final mais reflexivo para meus
leitores.
— Você quer que eu sente aqui e peça desculpas. Que eu
penso nos assassinatos todos os dias, que gostaria de ter me
conduzido de maneira diferente, conseguido ajuda... lidado
com os problemas na minha cabeça, não o que fez comigo.
Holly lambeu os lábios e depois lançou um sorriso cauteloso.
— Sim.
— Escreva a verdade. Nasci como monstro e vou morrer como
monstro.
— Não — disse Holly, procurando em suas anotações. —
Estabelecemos que isso foi criação, não natureza.
Romeo balançou a cabeça.
— Tudo isso poderia ter sido evitado. — Os olhos de Holly
estavam arregalados, suplicantes. — Esse foi um catálogo de
experiências negativas que levaram a esse ponto. Isso colocou
você nesse caminho. Poderia ter sido evitado, talvez com algum
amor e compreensão... a pessoa certa ao seu lado, lutando no
seu lado.
Ela se inclinou para a frente na cadeira, chegando o mais
perto possível da barreira entre eles. — Eu vejo você, o
verdadeiro você. O garoto negligenciado, o jovem intimidado, o
trabalhador desgastado. Tudo isso construído, você não tinha
canal para isso, nem saída.
Às vezes, Romeo desejava não ter mentido. Foi divertido criar
uma história para Holly, vendo as engrenagens atrás de seus
olhos girarem enquanto ela procurava justificativa para o que
ele havia feito, observando-a colocar seu diploma de psicologia
em vigor, mas quando ela começou a olhá-lo com olhos
redondos, acenando sutilmente, precisando que Romeo
concordasse com suas teorias, isso o irritou.
Era hora de revelar a verdade, ou pelo menos parte dela.
— Você está errada. Eu matei porque queria, porque me sinto
bem.
Holly deu a ele um sorriso simpático. — Não. Você tem suas
paredes erguidas, tentando me assustar, me afastar, mas eu
não vou a lugar nenhum.
— Se essa barreira não estivesse lá, eu te estrangularia até a
morte, aqui e agora.
Paul bufou. — Boa sorte com suas mãos assim.
Romeo olhou para trás. — Então eu estrangularia vocês dois.
— Eu abriria sua cabeça antes mesmo de você se mover.
Fred pigarreou, um aviso para Paul se acalmar. Romeo bufou,
depois voltou-se para Holly.
— Você está ficando na defensiva, então ameaça. — Holly
disse, como se ela resolvesse um quebra-cabeça. — Você tenta
me afastar, mas eu não vou a lugar nenhum. Você não está
sozinho.
— Eu só concordo com essas visitas porque o tédio me deixa
louco. Tudo o que contei sobre mim foi uma mentira.
Holly sorriu suavemente e Romeo rangeu os dentes. Ele
estava tenso, testando a força de seus punhos. Seu coração
acelerou e o ar assobiou dentro e fora do nariz.
Foi a terceira vez na vida de Romeo que ele ficou com raiva.
Não com Holly, como tal, mas em si mesmo, suas mentiras
haviam criado isso, e qualquer coisa que ele dissesse não seria
acreditada, seria apenas adicionada aos problemas que ele
havia inventado. O jogo que ele jogara com ela havia saído pela
culatra, assim como aconteceu com Chad.
— Veja, existem emoções, mas você as reprime. Você passou
a vida inteira reprimindo-as. Você desumaniza suas vítimas
usando números, para não se sentir culpado. Você está
negando o que fez. Você sabe que se você se conectar com suas
vítimas em nível pessoal, humano, o remorso o destruirá. É
por isso que acho que eles fazem isso.
— Quem?
— Assassinos. É por isso que, quando sentem a rede se
aproximando ou matam até ficarem satisfeitos, acabam
cometendo suicídio porque sabem que não seriam capazes de
viver com a culpa do que fizeram.
— Não posso falar por todos eles, mas isso não é verdade
para mim.
— Isto é.
Romeo queria discutir, berrar e gritar que ela estava errada,
mas ele sabia que isso não o levaria a lugar nenhum. Ela fez
suas próprias suposições, e ele as alimentou há meses para se
divertir. Ele caiu em sua cadeira e parou de tentar se libertar
das algemas. Não importava o que ela acreditasse, ele sabia a
verdade, trancado em sua cabeça bagunçada. Ele matou
porque sentiu a necessidade de fazer isso desde tenra idade. O
monstro cresceu em sua mente quando ficou mais velho.
Matar era bom para ele, parecia certo.
— Parece que você já tem seu final então. Estou em
negação...
— Sim, eu acho que você está.
— Então você não precisará me visitar.
Holly se recostou na cadeira, os lábios abrindo e fechando. —
Eu ainda preciso te visitar.
— Por quê?
— Sinto que temos um bom relacionamento.
— Relacionamento?
Holly embaralhou. — Quero dizer um relacionamento
paciente e psicóloga.
— Você é jornalista.
— Essa é uma parte de mim, estou aqui para ajudá-lo
também.
— Me ajudar a fazer o que?
— Com o tempo, ajudar você a se conectar com o que fez.
Você vai se abrir para mim. Quero ajudá-lo, Romeo, porque
sinto que ninguém nunca o fez. Eu quero que você confie em
mim.
— Por que você quer isso?
Holly abriu a boca, os olhos brilhando, o peito aberto, ela
parecia prestes a dizer algo, depois olhou para Fred e Paul. Ela
engoliu em seco antes de olhar para os papéis.
— Porque seria realmente benéfico para as famílias de suas
vítimas se elas soubessem que você se sente culpado. Se elas
soubessem que você tinha confidenciado a alguém sobre o que
você fez, e as razões pelas quais você fez isso, e admitiu que se
sentia mal.
— Elas vão esperar muito, muito tempo.
A borda dos lábios de Holly se inclinou para cima, então ela
educou sua expressão para uma expressão séria. — Elas
podem esperar, e eu também posso esperar. Mas, por
enquanto, Romeo, me prometa uma coisa.
— O que?
— Não mate ninguém. Não complete sua contagem
regressiva.
Paul grunhiu. — Não há chance disso.
Holly ignorou Paul e olhou profundamente nos olhos de
Romeo. — Eu não quero te perder.
— Seria ruim para o seu artigo... ou seria a conclusão
apropriada? O assassino da contagem regressiva recebe o
número um e depois se enforca na cela.
— Eu não quero que você morra.
— Isso é gentil da sua parte.
Romeo não se importaria se fosse o contrário.
Capítulo Cinco
4
Em inglês Cameo.
5Alguém dá um Oscar para essa mulher, pela criatividade desse enigma pornográfico.
Rrsrsrsrsrs
— Abra outra.
— OK.
Romeo apoiou as costas nas barras e esperou que Will
começasse a falar.
Ele fez um som confuso, depois murmurou para si mesmo.
— O que é isso? — Romeo perguntou.
— Eu não tenho certeza do que ela quer que você faça com
isso... eu não entendo.
— Como você sabe que é uma garota, pode ser de um cara.
— Eu não sei... talvez.
— Ajudaria se você me dissesse o que está na carta?
— Não há carta, é apenas uma foto.
— De que?
— Uma pena.
Romeo se virou e passou o braço pelas barras. — Me devolva,
me devolva agora!
— Está bem, está bem...
— Agora, Will, e se você estragar tudo, eu juro que nunca vou
lhe dar outra carta. Nunca vou descrever o que Holly está
vestindo.
— Jesus, Romeo.
Romeo viu Will chegar através de suas barras com a carta.
Ele a pressionou no chão e a empurrou em direção a Romeo.
Ele bateu a mão, capturando a carta. Seu coração trovejou,
sua respiração veio áspera e ele puxou a pena do envelope.
Meio preta, meio branca, uma pena de pega e os lábios de
Romeo se esticaram em um sorriso. Era de Chad, um sinal de
que ele estava bem, ou talvez um obrigado por animá-lo.
Romeo não sabia exatamente por que Chad havia enviado, ou
por que ele havia se arriscado a expor a conexão secreta deles,
mas naquele momento ele não se importou.
Romeo olhou para o envelope. O endereço da prisão havia sido
impresso, e não havia endereço para devolução, apenas um
adesivo do escritório de classificação por cima do carimbo.
Romeo tentou decifrar a palavra, a carta não tinha vindo de
Berkshire, ou em qualquer lugar perto dela. Chad tinha
postado de longe para que não pudesse ser rastreado até ele.
Pega inteligente, Romeo pensou, olhando para a pena.
— Você vai explicar sobre a pena? — Will perguntou.
— Não.
Romeo deitou-se no beliche e, usando um pouco de adesivo,
prendeu a pena na parede ao lado do rosto de Chad e o artigo
com a manchete, Aquele que fugiu.
****
A raiva cresceu dentro dele, sufocante, espessa, algo doentio
e quente crescendo em sua barriga. Ele jogou uma pedra, e o
pássaro idiota pulou para fora do caminho, ele até abriu o bico
e soltou um chamado tagarela, como se estivesse rindo da
tentativa de Romeo.
Ele a libertara, estava fazendo uma boa ação, mas não foi
embora. O seguiu, apareceu do lado de fora da janela do quarto
dia após dia, zombando dele.
Romeo pegou outra pedra e a jogou. Soltou-a das mãos muito
cedo, errou o compasso da pega e, em vez disso, a pedra
ricocheteou nas ardósias do telhado. Uma escorregou e, assim
que a pega abriu a boca para tagarelar, ela desceu por cima.
Romeo queria ouvir, as risadas. Ele queria vê-la pular sem
esforço usando a asa que ele havia consertado, ele queria que
ela zombasse dele, mas havia apenas silêncio. O silêncio oco
entre um relâmpago e o estrondo de um trovão. Ele sentiu em
seu peito, um intenso vazio onde sua raiva havia aumentado.
Ele tropeçou para a frente com as pernas trêmulas, olhos sem
piscar na pega. A única coisa no mundo inteiro que viu
embaixo da máscara. A única coisa que se recusara a deixá-lo,
apesar da feiura dentro dele.
Ele a matou.
Mas isso não era novidade, ele havia matado antes.
Insetos, roedores, outros animais - ele esmagava os ovos há
anos -, mas sempre havia uma satisfação doentia. Com a pega,
havia apenas o vazio, e algo mais, algo mais alto em seu peito,
onde seu coração batia forte. Um aperto, uma compressão,
uma sensação de frio. Uma realização constipada que tudo o
que ele fez, o que ele tentou, quem quer que ele queria ser, não
era possível.
Ele e o monstro eram inseparáveis, indistinguíveis, e ele
precisava aceitá-lo.
Romeo aproximou-se da pega morta e, diante de seus olhos,
ela se transformou em Chad.
Chad no colchão na casa em ruínas. Chad com uma contusão
escura no pescoço e uma queimadura vermelha no peito.
Número um.
Ajoelhou-se, tocou o rosto pegajoso de Chad, acariciou as
costas dos dedos contra os cabelos, tão macios e suaves
quanto as penas de uma pega. Ele encorajou Chad a acordar,
mas não houve resposta. Ele estava morto, e Romeo sabia pela
dor em suas mãos que ele havia feito isso.
O aperto, a sensação de frio parecia pior do que antes. Ele se
sentiu enjoado com isso, febril por isso, e ele guiou sua
angústia, tão triste e torturada quanto o uivo que Chad soltou
sobre seu cachorro morto.
Romeo acordou ofegante, coberto de suor. Ele flexionou as
mãos, tentando esticar a dor. Ele sentiu o cheiro de carne
queimada e caiu de joelhos no chão antes de ir para o banheiro.
Ele vomitou o mais silenciosamente possível, depois limpou a
boca em algum lenço de papel.
— Você está bem? — Will falou.
Romeo o ouviu nas barras de sua cela, batendo nelas para
que Romeo soubesse que ele estava lá. Romeo deu descarga no
vaso sanitário e sentou-se ao lado de seu conjunto de barras.
— Eu não quis te acordar.
— Outro pesadelo?
— Sim.
— Jesus, Romeo, faz alguns dias desde que você chegou aqui.
Você já vai me falar sobre eles?
Romeo bufou. Os sonhos da pega sempre fizeram parte de sua
vida desde que ele a matou, mas Chad os havia infiltrado.
— Eu estava sonhando com... com Chad.
— Você quer dizer o que você não matou?
— Sim.
— Isso é uma obsessão se sonhar com ele vivo faz você gritar
assim.
Romeo não se incomodou em corrigir Will. Todo mundo fez
suas próprias suposições, e ele as deixou. Seu pesadelo veio de
imaginar que ele matou Chad, não de Chad escapando de suas
garras.
Ele pensou em matar Chad quando estavam juntos na
fazenda. Era como ter uma coceira permanente e saber não
arranhá-la, mas era tentador.
Então Romeo se lembrou do momento na cozinha.
Eles estavam fazendo sexo, algo que Chad aguentou mais
tempo do que Romeo havia previsto. Foi sexy, parecia melhor
do que Romeo imaginou, e quando ele fechou as mãos em volta
do pescoço de Chad, atingiu outro nível. Ele estava tão perto
de matá-lo, negando-lhe ar, esmagando sua traqueia, e Chad
parecia que ele estava adorando. O prazer se intensificou com
o risco, a luta para manter o monstro sob controle, para não ir
muito longe, acrescentou o êxtase do momento. O
estrangulamento não deveria ser excitante, era apenas um
método de execução, mas definitivamente o excitou ao colocar
as mãos em Chad assim, enquanto empurrava em seu corpo
implorando.
A memória o deixou duro em um instante. Ele apalpou sua
ereção inadequada.
— Ei, de que pássaro veio essa pena?
— O que?
— A pena. É preta e branca, certo?
Romeo bufou. — Não é de um pinguim.
— Eu sei disso.
Romeo se levantou e voltou a cama. — Noite, Will.
Ele não estava indo dormir. Ele ia resolver sua ereção ao
pensar em Chad na fazenda.
Capítulo Seis
****
O olhar de Romeo trancou na porta. Seus ombros doíam, seus
dedos estavam dormentes, e o som do ar sibilando dentro e
fora do nariz encheu o silêncio.
Chad estava atrasado.
Paul e Fred estavam encostados na parede atrás dele,
suspirando quanto mais tempo levava para o visitante de
Romeo chegar. Todos estavam esperando a porta do outro lado
da barreira de proteção abrir e, quando o fez, o coração de
Romeo bateu forte ao ver o sorriso de Chad.
A camisa estava arrumada, a gravata reta e, preso debaixo do
braço, havia um jornal. Foi só quando ele se sentou que Romeo
percebeu que era tudo uma máscara. Ele percebeu que Chad
não estava certo pelo olhar assombrado em seus olhos, mas
estava melhor do que da última vez.
— Invista em uma melhor marca de corretivo.
Chad bufou, depois passou o dedo indicador sob os olhos. —
Dá um tempo, minha primeira vez usando. Kate disse que você
não saberia...
— Kate é uma mentirosa. Pelo menos a gravata está bonita.
Chad levantou-a e depois apontou para a mancha marrom.
— Tirando o café.
— Deus, sinto falta de um bom café, as coisas aqui têm gosto
de água suja.
— Algo interessante aconteceu?
— Você perdeu nossa produção de prisão da rainha do gelo.
Chad riu. — Sim?
— Eu era o belo príncipe, é claro.
— Bem, claro.
— E então ontem tivemos um passeio em grupo para o
zoológico.
— Certamente há animais suficientes lá dentro.
Foi a vez de Romeo rir. — Verdade, e eu sou o mais
assustador...
— O mais bonito e o mais assustador também, que
combinação.
— Isso me levou até aqui, e você...
Chad engoliu em seco e olhou para as mãos na mesa. —
Vamos, realmente, conte-me sobre sua semana.
— Por quê?
— Porque isso vai me distrair da minha.
Romeo inclinou a cabeça, estudando a expressão de Chad.
Ele não estava bem, mal se aguentava.
— OK. Eu tive outra entrevista com Holly.
— Stevenson? Ela ainda está escrevendo seu artigo sobre
você.
— Pelo visto.
— Quanto tempo levará?
— Eu suspeito que ela está protelando.
— Por quê?
— Porque ela pensa que está apaixonada por mim.
O sorriso de Chad caiu, e ele embaralhou sem jeito.
— Nos seus sonhos. — Paul murmurou.
— Não, obrigado. — Romeo disse por cima do ombro. — Mas
eu suspeito que ela aparece nos seus.
— Cale a boca.
— Holly está apaixonada por você... — Chad sussurrou.
Romeo voltou sua atenção para Chad.
— Ela pensa que está, mas não me conhece, apenas sabe o
que eu disse para o artigo. — Romeo estendeu o lábio inferior.
— A versão ferida e abusada que só precisa de um abraço e
uma xícara de chocolate.
Paul amaldiçoou, mas Romeo não o agraciou com uma
resposta. Ele estava muito intrigado com a reação de Chad.
Seus olhos rápidos e inquietos, e suas bochechas ficando mais
vermelhas a cada segundo.
— Acho que nunca senti ciúmes.
— Eu não estou com ciúmes — Chad deixou escapar.
— Parece que sim.
— Você acabou de me dizer que uma mulher com quem está
conversando ama você... me diga como eu deveria estar me
sentindo.
— Você não deve sentir nada. Não importa o que ela pensa,
ou como ela se sente...
— Mas ela começa a falar com você, sem limite, sem
restrição, e se... e se...
— O que?
Chad levantou as mãos. — Não sei. E se você começar a
preferir a companhia dela à minha?
— Não vai acontecer.
Romeo não conseguia parar de levantar os lábios em um
sorriso.
Chad estreitou os olhos para ele. — O que?
— Você é fofo quando está com ciúmes.
— Foda-se.
— Se apenas…
— Você é um idiota.
Romeo olhou para o uniforme da prisão. — Um idiota laranja
brilhante.
Teve o efeito desejado, Chad começou a rir. Ele gemeu,
balançando a cabeça.
— Por que você sempre faz isso?
— O que?
— Desarma a situação me fazendo rir.
Romeo deu de ombros. — Não sei. A questão é que você não
precisa se preocupar com Holly.
— Então por que trazê-la à tona?
Romeo deu de ombros. — Você perguntou como foi a minha
semana, e acho interessante ver você reagir às coisas... você é
fascinante de assistir.
— Estou com ciúmes... estou inseguro.
— Inseguro?
— Continue me contando mais sobre sua semana.
Romeo olhou para Chad por alguns segundos, depois
continuou. — Recebi correspondência, comi na minha cela,
exercitei-me na minha cela, me masturbei...
— Romeo — Fred disse. — Não é apropriado.
— Como assim? Foi parte da minha semana, a melhor parte,
na verdade.
— Eu e Fred não queremos ouvir sobre isso. — Paul disse.
— Mas Chad quer, Chad apareceu nela.
Romeo não achou possível alguém ficar vermelho tão rápido,
mas o rosto de Chad ardeu mais do que seu macacão.
Paul fez um som de nojo. — Deixe-me adivinhar, você estava
estrangulando-o até a morte, isso fez você gozar?
— Você não está longe, na verdade.
— Doente.
— É suficiente. — Fred disse.
Romeo suspirou. — Eu acho que é o suficiente sobre mim. E
você?
Chad desviou o olhar. — Além do trabalho, recebi
correspondência, comi no meu apartamento, exercitei-me no
meu apartamento... é isso.
— Jesus, qual de nós está trancado de novo? Pelo menos eu
me diverti um pouco na minha cela também...
— Fiquei muito distraído para diversão.
Romeo suspirou, depois baixou o olhar para o jornal. —
Palavras cruzadas?
— Sim.
Chad achatou o jornal sobre a mesa, depois lançou um olhar
para Romeo. Ele retornou o olhar aguçado de Chad, depois
cantarolou enquanto se inclinava para frente para ver as
‘pistas’.
— Um reservatório portátil — Romeo disse cuidadosamente
— pode ser usado para carregar arquivos, papéis, quatro
letras.
A resposta era caso6, e os olhos de Chad brilharam com
compreensão. Ele assentiu, estudando as palavras cruzadas.
Ele apenas confirmou o que Romeo já sabia, um caso em que
Chad estava trabalhando era o motivo de sua perseguição
assombrada e suas noites inquietas, mas sua insegurança...
Romeo não entendia como isso se encaixava.
Chad lambeu os lábios. — Que tal isso, para recriar, quatro
letras.
Cópia.
Romeo balançou a cabeça. — Nenhuma ideia. Acho que meu
cérebro está se esvaindo lentamente aqui... me dê outra.
— Um animal de estimação em casa, três letras.
Algo estalou na cabeça de Romeo. Ele arregalou os olhos,
olhando Chad de cima a baixo. Sua sobrancelha tremeu, a
vermelhidão nos olhos parecia ainda mais intensa. Sua
aparência abatida e mal-humorada fazia sentido.
Imitador.
— Cão. — Paul disse. — Animal de estimação em casa, três
letras. É cão.
Chad rompeu o contato visual com Romeo e olhou para Paul.
Ele sorriu, mas era tudo falso. — Sim, claro que é... obrigado.
6
Bem, a resposta em inglês é Case, que significa entre outras coisas, caso, como também estojo, maleta
etc.
— E você é o detetive...
— Um detetive que perdeu a cabeça, aparentemente.
— Você disse...
Romeo se virou e encarou Paul com um olhar. Ele ouviu Chad
fechar o jornal e depois dobrou-o sobre a mesa. Ele cumprira
seu objetivo: a página de quebra-cabeças do Canster Times
permitia que eles enviassem mensagens secretas, mas apenas
quando era permitido na prisão. Quando os assassinatos eram
manchetes, Chad foi proibido de trazê-los para dentro.
Havia um assassino imitador à solta. A razão do tormento de
Chad, e ainda estava para chegar à imprensa. O público não
sabia.
— Desculpe, só estou cansado.
Chad passou a mão pelo rosto, não suspeito para ninguém
assistindo, mas Romeo olhou para todos os dígitos da mão,
todos espalhados, indicando cinco. O assassino imitador
conseguiu o número cinco.
Era muita informação para absorver, e Romeo não conseguia
dissecar como estava se sentindo.
Havia mais alguém lá fora, matando, marcando suas vítimas.
Deve ter havido muitas semelhanças se Chad o estava
chamando de imitador. Outra pessoa com os mesmos desejos
que ele, talvez ela também usasse as mãos, marcasse a vítima
com um número queimado, usasse os bens da vítima.
Sua contagem regressiva havia desencadeado a de outra
pessoa, talvez ela estivesse contando sua liberdade também.
Uma permissão para se livrar de seus desejos - seu monstro,
de uma vez por todas.
Talvez o imitador não fosse como ele.
Chad engasgou e Romeo olhou para cima. Sua expressão era
de horror, olhos arregalados, lábios levemente entreabertos e
trêmulos. Todos os pensamentos de Romeo apareceram em
seu rosto, seu coração estava batendo forte, ele estava
respirando rápido e seus lábios estavam em um grande sorriso.
— Você está... você está feliz?
Ele não mentiria para Chad, ele não achava que precisava.
Romeo riu. — Suponho que estou.
Os olhos de Chad não deixaram os dele, e o medo e o choque
neles não se apagaram, aprofundou-se. Romeo estremeceu
quando as pernas da cadeira de Chad arranharam o chão.
Seus olhos de aro vermelho brilhavam e ele se afastou de
Romeo.
— Espera!
Chad não parou. Ele saiu da sala de visitas, batendo a porta
atrás de si.
O rosto de Romeo caiu na mesa, xingando baixinho.
— O que diabos aconteceu? — Paul murmurou.
— Nenhum palpite.
— Talvez ele finalmente tenha recuperado a razão.
Fred deu um passo à frente e agarrou o antebraço de Romeo.
— Vamos lá, vamos voltar.
Romeo ficou de pé, depois marchou de volta pelos corredores.
Ele ignorou as ameaças e proposições e foi para a cela sem
problemas.
Ele tinha fodido.
****
O ritmo obsessivo de Romeo chamou a atenção de Will. Ele
bateu nas barras da cela e Romeo foi até ele e passou os
braços.
— O que tem você agitado?
— Muitas coisas estão acontecendo na minha cabeça.
— Como o quê?
— Tipo... eu não sei como devo me sentir.
Will riu. — Deveria sentir? Você sente como se sente, não há
como supor isso.
— Mas é... bagunçado.
— Coloque isso para mim.
— Feliz, animado, lisonjeado... orgulhoso?
Foi isso que ele sentiu ao pensar no imitador. Eles eram
iguais. Eles eram da família, exceto quando ele pensou em
Chad.
— Preocupado, estúpido... culpado?
— Essa é uma lista e tanto. Eu posso ver por que você está
confuso.
— Como faço para organizar, classificar?
Will cantarolou. — Acho que primeiro você precisa descobrir
o que aconteceu para fazer você sentir isso? Então, o que Chad
disse?
Romeo balançou a cabeça. — Como se eu dissesse a você.
— Você e ele são estranhos.
— Por quê? Porque não estamos em conformidade com as
regras normais.
— Eu simplesmente não entendo. Você tentou matá-lo, e
agora vocês são... o que exatamente?
— Muito complicado para mentes simples entenderem.
— Foda-se. Se você tem uma mente tão complexa, por que
não o matou na casa da fazenda? Você o teve por semanas.
— Não se encaixaria no meu padrão.
— Por que se preocupar com um padrão?
— Para manter meus desejos sob controle, ter um período de
descanso para que a expectativa e a excitação crescessem,
para garantir que eu tivesse menos probabilidade de ser pego.
— Mas você foi pego, como eu. Esfaqueei dois homens até a
morte, você matou quatro pessoas durante um período de oito
meses. Nós dois acabamos aqui.
— Você acabou aqui por ser imprudente, o ataque não foi
planejado, frenético, durante o dia, na frente de pontos
turísticos. Estou aqui porque subestimei alguém, fui atraído
para uma falsa sensação de segurança e fui pego.
— Mesmo resultado.
— Mas a execução foi diferente. Você foi um idiota, mas eu
fui mais esperto.
— E agora ele e você são amigos?
— Algo assim.
— É apenas... não normal.
— É por isso que eu gosto. Foda-se normal. Há muitas
pessoas normais, desejos normais, empregos normais,
relacionamentos normais. Eu gostei de ser a anormalidade.
— Você gosta de ser bagunçado na cabeça.
Romeo baixou o olhar. — No começo, não aceitei, mas
cheguei a aceitá-lo. Cheguei a gostar. Eu sou o que sou. E
você? Você gosta de ser bagunçado na cabeça.
— Eu não estou bagunçado. Eu sou a única pessoa sã aqui.
— E Holly pensa que estou em negação.
****
Romeo tinha dezesseis anos quando foi ao seu primeiro
funeral. Ele iria para mais, mas foi o primeiro que ele se
lembrava com mais vivacidade. Tinha sido o funeral de sua avó
por parte de mãe. A atmosfera era triste, sem graça. As pessoas
estavam chorando, baixando a cabeça, andando devagar,
sussurrando. Romeo não havia experimentado nada parecido.
Ela era uma boa avó, eles a visitavam uma vez por semana, e
ela sempre dava doces cozidos. Ela era fumante, e o cheiro de
fumaça o atingiu no rosto como uma força física quando ele
entrou em sua casa. Ela disse a ele que era bom para os
pulmões, ignorando completamente todas as pesquisas e
relatórios científicos.
Romeo brincava com bolhas no quintal e, quando cresceu,
sentava-se ao lado dela e a observava preencher as palavras
cruzadas.
Ele sabia que deveria ter sentido alguma coisa quando ela
morreu, mas não havia nada, apenas um vazio em seu peito.
Ela morreu após a pega depois que ele aceitou que não sentiria
nada, parou de tentar. Era quem ele era.
Romeo viu a leve confusão nos olhos lacrimejantes de sua
mãe, foi a primeira vez que ela chegou perto de ver o monstro.
Ela não entendeu por que ele não estava chorando ou
demonstrando qualquer emoção e, em vez de admitir a
verdade, e lhe dizer que não tinha nenhum sentimento, ele
passou o braço em volta do ombro dela e sussurrou que estava
sendo forte para ela.
A suspeita desapareceu, e ela chorou mais enquanto tentava
dizer que ele era um filho tão bom.
Tanto a mãe quanto o pai o amavam, mas ele não podia
retribuir esse amor e se cansara de tentar forçá-lo, trazê-lo à
tona - não estava lá. Ele decidiu que naquele dia não iria
destruir suas vidas, destruir seu amor, deixando o monstro
sair.
Ele o trancaria até depois da morte deles.
****
Romeo olhou para a camisa de Holly. Estava quase
completamente aberta, não apenas exibindo o sutiã, mas ela o
exibia em plena exibição. O mesmo vermelho vivo do batom e
o material brilhava. Holly baixou o olhar, parecendo satisfeita.
Ela pensou que ele estava olhando para ela, e qualquer
negação de que ele não estava só teria alimentado seu fogo.
Romeo não disse nada.
Quando ele olhou para Paul, ele não estava encostado na
parede como de costume, mas deu alguns passos mais perto
para ter uma visão melhor. Romeo ergueu a sobrancelha para
ele e ele recuou, murmurando.
— Acho que você deveria aceitar as razões que o levaram a
matar, em vez de aceitar cegamente que você é um monstro.
Só então você poderá seguir em frente.
Romeo olhou para ela. — Você é jornalista ou minha
psicóloga? E por que eu iria querer seguir em frente. Estou
preso aqui por toda a vida.
Holly continuou como se ele não tivesse falado.
— Você foi negligenciado por seus pais. Atormentado por
seus colegas. Excesso de trabalho no local de trabalho.
Ele nunca foi negligenciado por seus pais. Ele era popular na
escola, bonito e inteligente, e, no trabalho, esmagou qualquer
oposição, seu chefe o amava até que ele pegou seu emprego,
também.
— Esses relacionamentos negativos teriam contribuído para
o que você fez com Asher Campbell.
— Quem?
— Número cinco.
Ele sorriu para ela.
— Quando o número cinco o pegou no carro dele, como
estava se sentindo?
— Nervoso, apreensivo.
— Porque você não queria continuar com isso.
— Se eu não quisesse continuar com isso, não teria. Eu
estava nervoso e apreensivo, caso isso não acontecesse. Eu tive
minhas esperanças antes.
Holly folheou suas anotações. — Ele não foi a primeira pessoa
com quem você tentou. Trisha Noble disse que teve uma fuga
feliz de você.
— Quem?
— Ela te pegou na estrada duas noites antes de você ter o
seu número cinco. Ela disse que você parecia em pânico,
angustiado, alegando que um motorista de táxi havia
ameaçado você com a ponta da faca. Ela disse que você era
convincente.
— Eu recebi um A no drama.
— Ela levou você de volta para a casa dela, você tomou um
café na cozinha e chamou a empresa de táxi oposta àquela que
você alegou ser atacado.
— Parece certo.
— Não havia câmeras de CCTV. O filho dela estava dormindo
no quarto dele. Eles moravam em um local remoto, sem
vizinhos. Ninguém te viu, então por que você não a matou?
Romeo fechou os olhos com força. Deve ter havido uma razão
pela qual ele não passou por isso, ele simplesmente não
conseguia se lembrar.
— É porque você não queria. Você tem uma consciência, um
coração. Naquele dia, você olhou dentro de si e não conseguiu.
— Teria havido uma razão.
Holly sorriu. — Há sim. Você não é um monstro completo
como pensa que é.
— Diga isso à família e aos amigos dos que matei.
— Há um pouco de bom em você, eu sei que tem, tem que
haver, mas você o reprimiu, desconectou. Aquela noite com
Trisha foi provavelmente a última vez que você deixou isso
acontecer.
— Você está errada.
Não importava o que ele dissesse, Holly havia se decidido. Ele
não matando a vítima perfeita de alguma forma confirmou que
havia algo de bom nele. Houve tantas tentativas frustradas,
todas as diferentes razões pelas quais ele não matou. Elas o
frustraram, mas no final, isso aumentou o acúmulo, deixou a
matança ainda mais satisfatória quando ele finalmente
conseguiu.
— Romeo?
— Desculpe, o que?
Holly apertou os lábios em um sorriso sombrio, depois juntou
os papéis. — Você se distraiu hoje.
— Talvez porque você não esteja ouvindo uma palavra que
estou dizendo.
— Eu não acho que é isso.
— Claro que não.
— Eu acho que tem a ver com Chad. Eu ouvi sobre o que
aconteceu.
— Como você ouviu?
Holly olhou para trás, tão rápido se Romeo não estivesse se
concentrando, ele teria perdido. Ela olhou para Paul.
— Você acha que ele vai parar de visitá-lo?
— Depende dele.
— Como você se sentiria se ele parasse?
Romeo desviou o olhar. Ele sentiria que não havia mais
sentido. Frieza penetrou em suas veias, e ele estremeceu.
— Se você me perguntar, deveriam ter entrado e parado as
visitas meses atrás.
— Por que você diz isso?
— O que Chad está fazendo é cruel. Ele zomba abertamente
de seu fracasso e agora, quando você se tornou dependente
dele, ele encerra suas visitas.
— Ele não acabou com elas
— Ele cancelou quarta-feira.
As palavras foram como um golpe físico, e a frieza em seu
sangue se transformou em gelo, congelando tudo, cristalizando
seu coração.
— O que?
— Oh, eles não te disseram. — Disse Holly. — Pensei que
você soubesse.
Romeo percebeu pelo tom de voz que ela estava mentindo. Ela
sabia que ele não sabia, e estava bebendo sua reação. Seus
olhos estavam arregalados, absorvendo tudo com entusiasmo.
Cadela.
Romeo voltou-se para Fred e Paul. Paul sorriu, mas Fred teve
a decência de fechar os olhos e parecer arrependido.
— Eu ia te contar mais tarde — disse Fred. — Chad telefonou
e cancelou a visita de quarta-feira.
— Ele disse por quê?
Fred balançou a cabeça.
— Não se preocupe — disse Holly. — Eu não vou terminar
nossas visitas. Eu não sou como Chad.
— Você entendeu direito. — Romeo rosnou.
Holly ignorou o tom de sua voz e ouviu o que ela queria ouvir.
Ela deu um sorriso deslumbrante. — Estarei aqui, na mesma
hora da próxima semana.
****
— Eu tive um trio uma vez.
Romeo fechou os olhos, tentando calar a voz alegre de Will.
Chad cancelou sua visita. Não havia nada pelo que esperar, e
tudo o que Romeo queria fazer era enrolar-se na cama
esfregando a foto dele na parede, mas Will não concordava com
ele.
— Eu, você pode acreditar, um trio...
— Sinto muito por eles.
— O que é que foi isso?
Romeo saiu da cama e foi até as barras. — Eu disse que sinto
muito por eles.
— Você é um cara desagradável, você sabe disso.
— Oh eu sei.
— Mas lindo, bonito.
— Eu não sabia que você balançava dessa maneira.
Will riu. — Não, mas mesmo assim não sou cego. Eu posso
ver isso. Você deve ter algumas histórias para contar.
— Histórias?
— Da variedade de três.
Romeo deu de ombros. — Talvez…
— Não me deixe em suspense, me diga uma. Uma
memorável.
Romeo virou as costas para as barras e depois se sentou no
chão. Ele ouviu Will fazer o mesmo em sua cela. Não havia
mais nada a fazer, as notícias eram triviais, os desenhos
horrivelmente repetitivos, que deixavam relembrar.
— Quando eu estava na universidade, me interessei muito,
meninas, meninos. Eles meio que desfocaram juntos. Sexo era
uma liberação física, nada mais.
— O que mais deveria ser?
— Não sei, estava procurando algo, acho.
Will desviou. — O amor é tão superestimado.
— Não estou falando de amor. Minha professora me viu
recebendo toda essa atenção e sabia que ela gostava mais de
mim do que dos outros alunos.
— De jeito nenhum…
— Sim, mesmo. Ela flertava, era muito sugestiva, usava
roupas reveladoras, saias curtas.
Durante semanas, ela estava dando dicas, piscando para ele,
curvando-se na frente de sua mesa. Mas, para ele, não seria
diferente tê-lo com ela, do que as outras garotas de sua classe.
Ele não conseguia ver nenhuma vantagem em agir sob sua
luxúria. Sexo era sexo, agradável, mas não satisfazia o monstro
em sua cabeça. Não o forçou a calar a boca por um tempo.
— Sua professora te seduziu. Isso é sexy, muito sexy.
— Ela me pediu para ficar para olhar o meu trabalho. Todos
saíram e eu a segui para o escritório. Assim que ela fechou a
porta, ela estava em mim.
Will bateu nas barras fazendo Romeo pular. — Cristo, Romeo!
Qual era o nome dela?
— Elena.
— Elena ansiosa.
— Ela era muito experiente, sabia o que estava fazendo, como
queria. Ela tirou minha calça, me pegou duro, depois me
puxou em direção a sua mesa. Ela se sentou, abriu as pernas
- não estava de calcinha, depois me guiou para dentro dela.
Ela gemia, ofegava e parecia estar adorando, mas, como
Romeo previra, não parecia diferente. Agradável, mas não
impressionante. Então ela fez uma pausa, agarrou a mão dele
e a segurou contra sua garganta, e algo apenas clicou.
Ela riu do choque de Romeo, depois disse que gostava de ser
sufocada, era bom.
Romeo apertou mais o punho, e o monstro em sua cabeça
congelou. Ele apertou, e uma represa de endorfinas quebrou
em sua cabeça. Foi bom, um alívio - ele não conseguia
descrevê-lo, não sabia o que estava acontecendo, mas mais e
mais pressão na garganta dela satisfaziam o monstro. Isso
ronronou com prazer. Ele não estava mais duro, seu pau
escorregou de seu corpo ansioso, mas ele não se importou. Não
era sobre sexo, era outra coisa, a outra coisa que ele estava
procurando. Os olhos de Elena saltaram de sua cabeça e ela
arranhou a mão de Romeo, mas ele não parou. Ele não
conseguia parar, era bom demais, finalmente cedendo à
coceira, finalmente entendendo como curá-la.
Ela passou a mão pela mesa, encontrou um peso de papel e
bateu na cabeça de Romeo. Ele caiu no chão, tocou a cabeça e
sentiu sangue. Elena ofegou e respirou fundo, depois ficou
atrás da mesa, usando-a como uma barreira entre ela e Romeo.
— Que diabos está errado com você?
— Eu não sei. Eu nunca soube e duvido que um dia saiba.
— O que?
Ele se levantou, pressionando a palma da mão sobre o corte
na cabeça.
— Você me bateu.
— Você tentou me matar. — Ela sussurrou.
— Eu... eu queria.
— Você fez... seu animal.
— Monstro. — Romeo corrigiu. — Me chame do que eu sou.
Um monstro.
— Tanto faz. Eu vi esse olhar nos seus olhos. Você queria
fazer isso. Você ia fazer isso. Você... você é mau.
— E você é uma professora que fodeu o aluno, pediu que ele
a estrangulasse e depois o agrediu com um peso de papel. É
do nosso interesse manter isso quieto...
— Romeo!
Ele piscou para fora da memória, depois olhou ao redor da
cela.
— Hã?
— Você ficou quieto comigo. — Will disse. — Então o que
aconteceu? Foi bom?
— Foi memorável...
— Não me deixe esperando.
— Nós transamos na mesa dela com força e rapidez,
derrubamos papéis voando, gritamos os nomes um do outro,
todos os clichês pornôs normais...
— Seu cachorro com tesão. O melhor que você já teve?
O melhor que ele já teve foi Chad, na fazenda em cima da
mesa. Ele estrangulara Chad, provocativamente perto de
matá-lo, mas Chad parecia como se ele o amou, depois
agradeceu por isso. Tanto ele como o monstro haviam se
divertido.
— Não o melhor.
— Continue então, o que está acima disso?
Romeo bufou. — Isso é para eu me masturbar, não você.
Capítulo Sete
****
A porta da sala de visitas se abriu e Chad pelo menos deu um
pequeno sorriso. Ele estava tendo problemas para manter
contato visual novamente, e Romeo suspeitava que a culpa era
o motivo. Ele se sentia culpado por não ter visitado, Romeo
estava prestes a mentir na sua cara e não sentia culpa alguma.
— Eu pensei que você fosse parar.
Chad não olhou para ele. — Eu pensei sobre isso.
— Chad…
Ele olhou para cima, finalmente se conectando com Romeo.
Seus olhos ainda estavam cansados, as bolsas embaixo eram
mais profundas. Romeo sabia que ficaria pior quando o caso
continuasse, como se Chad estivesse lentamente se
transformando em cadáver.
Ele bufou.
Todo mundo estava lentamente se transformando em um
cadáver, era tudo o que realmente era.
— Eu não conseguia parar.
Romeo assentiu.
— Talvez eu puxei a minha mãe. Sou viciado em algo que é
ruim para mim e, mesmo sabendo que é, você teria que
arrancá-lo das minhas mãos frias e mortas para me impedir
de tê-lo.
— Fico feliz em ouvir isso. Bem, não tanto a parte das mãos
mortas e frias...
Chad riu, o suficiente para alcançar seus olhos. Ele olhou
para Romeo, então seu sorriso começou a desaparecer.
— O que aconteceu da última vez — Romeo começou —
minha... reação...
— Eu estive pensando em Toby.
Romeo franziu o cenho. — Toby?
— Sim.
— Seu cachorro. — Romeo disse devagar.
Chad assentiu. — Eu me importava com ele, e ele se
importava comigo. Tínhamos um bom vínculo, um
entendimento, mas ainda éramos estranhos um ao outro.
— Você é uma espécie diferente.
— Às vezes eu fazia coisas que ele não entendia — Chad fez
uma pausa e depois riu. — E às vezes ele fazia coisas que eu
não entendia, mas o vínculo estava lá, atravessava as espécies.
Romeo assentiu para Chad continuar.
— E eu estava pensando que, mesmo vendo um lado de Toby,
eu gostei. Ele poderia ter outro, um lado que consideraria ruim
se não entendesse.
— O que você quer dizer?
— Bem, para um rato ele era um monstro. Ele os matou, ele
gostava de matá-los, especialmente quando ele pensava que
isso me fazia feliz também. Para mim, era apenas um rato, um
bicho. Mas ele tinha esse instinto assassino, e se ele matasse
algo maior, ou se ele se juntasse a outros cães enquanto eles
matavam alguma coisa, ou ficava animado assistindo, e sentia
que queria participar, parecia que estava perdendo. Isso teria
me perturbado.
— Eu posso ver por que isso aconteceria.
— Mas isso não teria sido culpa de Toby, teria sido minha
por não entender. Ele vem dos lobos, eles têm instintos,
desejos, processos de pensamento que eu não poderia
entender. Seria errado eu julgá-lo pelos meus próprios
padrões. Somos espécies diferentes, mas isso não tira o nosso
vínculo, torna-o mais forte porque gostamos um do outro o
suficiente para enxergar além disso.
— Você e Toby.
Chad bufou. — Sim, eu e Toby.
Romeo não precisava mentir. Ele não tinha que usar sua
máscara bonita, e repugnante repulsa ou medo sobre o
imitador.
Chad entendeu.
Ele não gostou, mas aceitou.
Isso fez Chad ser muito incrível.
Romeo soltou um suspiro longo e lento. — Você é outra coisa,
você sabe disso.
— Sim, eu estou bagunçado.
— Você faz a bagunça parecer perfeita.
— Um elogio de um serial killer.
— Um maldito sexy.
Chad riu.
Romeo mordeu o lábio, depois sussurrou. — Eu senti sua
falta ao visitar.
— Sim?
Ele assentiu. — Sim, aquelas poucas semanas foram um
inferno.
— Me desculpe, eu precisava juntar minha cabeça.
— E está junto?
— Sim, tanto quanto possível. Não vou perder uma visita
novamente.
— Bom, você é tudo o que me faz passar a semana.
— E você é tudo o que me faz passar pela minha.
Romeo sorriu tanto que suas bochechas doíam. O território
desconhecido de não querer matar alguém era um campo
minado de surpresas e emoções inexploradas. Ele se sentiu
feliz, aliviado, e tudo o que ele queria fazer era alcançar Chad
e dar-lhe um beijo contundente, apoiá-lo na parede e tocá-lo
em todos os lugares.
Ele estava ficando duro só de pensar nisso.
— Eu conheci Holly Stevenson. — Chad disse, parando a
fantasia de Romeo.
— Sim?
— Bem, eu digo que conheci... ela estava esperando no
estacionamento quando cheguei.
— O que?
— Tenho a sensação distinta de que ela odeia minhas
entranhas.
— Por que você diz isso?
— Ela me disse isso. Me avisou de você.
Romeo ficou boquiaberto. — O que?
— Sim…
— Eu vou falar com ela.
— E eu tenho certeza que vi o carro dela estacionado do lado
de fora do meu apartamento há alguns dias...
— Tem certeza disso?
Chad assentiu. — Sim. Você disse que ela estava apaixonada
por você...
— Eu disse que ela pensa que está.
— É um pouco obsessivo me esperar no estacionamento, me
seguindo para casa. É esquisito.
— Vou conversar com ela, dizer para ela recuar. Ela disse
mais alguma coisa?
— Ela disse que estou atormentando você.
— Eu acho que você faz de algumas maneiras.
Chad recuou. — O que?
— Você está aí, mas eu não posso te tocar. Eu nem consigo
ouvi-lo direito - sua voz fica trêmula quando sai do alto-falante.
Eu não posso cheirar você. O único sentido meu que está
satisfeito é a minha visão, mas mesmo isso é comprometido
pelas manchas na barreira e pela luz nebulosa atrás de você.
— Isso não sou eu atormentando você, mas esta sala.
— De quem é a culpa que estou aqui?
Chad respirou fundo e Romeo se amaldiçoou interiormente.
Havia tanto conflito no rosto de Chad, uma batalha de direitos
e erros atrás de seus olhos. Às vezes era fascinante assistir,
mas não quando Chad já estava sofrendo.
— Minha culpa. — Romeo sorriu. — É minha culpa que eu
estou aqui.
Chad assentiu solenemente.
— Mas um dia, eu vou sair daqui...
Romeo esperou o brilho nos olhos de Chad, o brilho de
esperança e desejo, e ele não ficou desapontado. Estava lá, um
tesouro que apenas as palavras de Romeo podiam revelar,
então a expressão de Chad endureceu, e o detetive ficou louco.
— Você está aqui por toda a vida.
Ele apertou e soltou a mão várias vezes, depois notou sua
inquietação e parou.
— Veremos. — Romeo sussurrou.
— Eu... eu perguntei sobre as visitas na outra sala.
— A sala sem a barreira.
— Mas eles disseram que é muito arriscado.
— Isto é para sua própria proteção. — Paul disse. — Ele pode
ter manipulado você a um ponto que você esqueceu que ele é
perigoso, você esqueceu que ele tentou matá-lo, mas ele não
manipulou o resto de nós.
— Obrigado pela sua compreensão, Paul. — Romeo disse: —
Não será necessário novamente.
— Foda-se.
— Enfim — Romeo disse, revirando os olhos. — Diga-me o
que você tem feito, as partes que você pode me contar?
— Fiz paella na semana passada.
— Sem os camarões?
— Claro. E assisto o Quiz Master todos os dias. Eu facilmente
superaria sua pontuação agora.
— Isso não é justo, você tem praticado. Tudo o que tenho que
assistir são as notícias e os desenhos infantis.
— Alguns desses desenhos são bons.
— Talvez quando você estiver tomando antibióticos e
morfina.
Chad fechou os olhos, rindo. — E eu assisti o Aliens Attack
na noite passada. Eu lembro o quanto você amou.
— Eu odiei isso.
— Pareceu-me que você gostou.
— O pior filme que eu já vi.
— E... eu tenho pensado em conseguir um cachorro.
A conversa realmente sobre Toby ainda estava fresca em sua
mente. Romeo precisava ter certeza de que quando Chad disse
cachorro, ele realmente quis dizer cachorro.
— Com orelhas flexíveis, rabo abanado e latido estridente?
Chad torceu o nariz. — Sim... aquele tipo de cachorro.
— Apenas checando. Eu acho que é uma ótima ideia.
****
Chad falou sobre ele como se ele fosse uma droga, algum vício
que ele não poderia acabar, mas era o contrário. Romeo ainda
estava zumbindo dias após a visita de Chad, ele se viu sorrindo
sem motivo algum.
Sua mente não gaguejou no passado, nem se mexeu no
presente, foi para o futuro.
O futuro da fantasia dele.
Tudo começou com ele parado na frente da porta do
apartamento de Chad, esperando que ele abrisse. Ele estava
usando seu macacão laranja, ofegante. A paciência diminuiu e
ele bateu na porta novamente.
— Estou chegando! — Chad gritou, fazendo Romeo sorrir.
Ainda não está, ele pensou.
A porta se abriu, os olhos de Chad saltaram de sua cabeça e
Romeo lutou para conter a risada. Chad em seu traje de
detetive, todo elegante e ordenado, e parecendo completamente
incorruptível. Romeo conquistaria Chad e o detetive não teria
outra escolha a não ser olhar para o outro lado.
— Que porra é essa?
— Eu disse que sairia...
— Como?
Romeo piscou. Confie na mente detetive de Chad para impedir
o sonho sexual de Romeo.
Ele não sabia como, o como não era importante. Não naquele
momento.
— Eu apenas fiz.
— Mas ho...
Romeo colocou a boca na boca de Chad para calá-lo e impedi-
lo de destruir sua fantasia. Chad não beijou de volta, mas
também não afastou Romeo. Seus olhos se fecharam, seus
lábios se separaram, aceitando o beijo, mas não o devolvendo.
Romeo avançou com o peito, tentando levar Chad de volta ao
apartamento, acima da soleira da porta, para que não ficasse
tão exposto no corredor. Chad não se mexeu, permaneceu
firme, não deixando Romeo entrar.
Romeo respirou contra os lábios de Chad. — Me deixar
entrar.
— Eu não posso.
— Sim, você pode.
Romeo se recostou a tempo de ver o rosto de Chad enrugado.
— Eu não posso... eu preciso chamar a polícia. Você precisa
estar trancado. Isto está errado.
— Mas sempre se sentiu bem.
Chad empurrou o peito de Romeo, mas era fraco, inseguro,
um caso dele reagindo como ele pensava que deveria, e não
como ele queria.
— Não é? — Romeo pressionou.
Chad parou de empurrar contra ele. — Sim, senti.
— Então me deixe entrar.
Chad fez uma expressão de dor, balançando a cabeça.
— Bem. — Romeo segurou os pulsos de Chad, puxando-o
para o corredor. — Eu vou ter você aqui fora.
— Aqui?
— Sim — disse Romeo, beliscando a orelha de Chad. — Bem
aqui. Este é um território mútuo.
O corredor não era terra de ninguém, no que dizia respeito a
Romeo. Nenhum monstro. Sem detetive, apenas Romeo e
Chad.
Romeo retomou o toque das bocas, mais lento e mais sensual,
conquistou Chad, o fez ofegar e implorar, depois beijou com
força.
A próxima coisa que Romeo soube foi que estavam no chão,
as pernas emaranhadas, lutando contra as roupas. Beijando e
tocando sem hesitar. Não se importavam com quem poderia
entrar no corredor, nem se importavam com o amanhã. O
monstro e o detetive se foram, deixando Chad e Romeo e suas
necessidades.
— Eu senti sua falta. — Chad ofegou.
Romeo assentiu, retomando o beijo e empurrando um eco das
palavras de volta à boca de Chad. Ele sentia falta disso, desse
nível de intimidade, dessa exposição e aceitação.
Os dois estavam nus, sem roupas, o ar ao redor deles
perfumado com o cheiro de sexo e suor. Seus corpos
brilhavam, seus cabelos grudavam na testa e cada centímetro
um do outro havia sido tocado.
Chad afundou os dentes no lábio de Romeo, e ele estremeceu
de surpresa. Havia um tempo para ser gentil, geralmente
depois do sexo, mas naquele momento Chad estava moendo
contra ele, implorando a Romeo que o tivesse. Ele entrou no
corpo de Chad com os dedos, curvando-se e torcendo, cada
movimento imitado por sua língua na boca de Chad. Ele estava
molhado, lubrificado e esticado como se estivesse esperando
Romeo bater à sua porta todas as noites. O pensamento o fez
gemer e ele quase se assustou com a fantasia.
Romeo não podia esperar mais.
Ele puxou Chad de joelhos, colocou-o em posição e guiou seu
pênis para frente. Sem resistência, ele encontrou o caminho de
casa.
Romeo o fodeu com abandono selvagem, espetando o buraco
de Chad quente e rápido enquanto pressionava a parte de trás
do pescoço de Chad, mantendo-o preso ao tapete.
Não demorou muito para ele gozar e, quando o fez, ele abriu
os olhos, encontrando Chad ao lado dele na parede, a mão
molhada na cueca e o pau ainda pulsando.
A fantasia serviu a seu propósito, mas depois ele ficou com
frio.
— Como eu vou sair daqui? — Ele perguntou a Chad, depois
engoliu o nó incerto da garganta. — Você quer mesmo que eu
saia?
Parte de Chad queria isso, mas não tinha certeza de que seria
a parte dominante.
****
Sábado, o dia do confronto com Stevenson. Os jogos mentais
de Romeo criaram algo feio nela, algo próximo do perigoso.
Romeo sentou-se do outro lado e, antes que ela pudesse falar,
ele se inclinou sobre a mesa.
— Deixe Chad em paz.
— O que?
— Seguindo-o, confrontando-o no estacionamento...
— Alguém tinha que avisa-lo sobre suas ações. Chad não é
bom para você.
— Você não sabe o que é bom para mim e o que não é.
— Eu estava cuidando de você.
— Não.
— Romeo
Romeo fixou-a com o olhar mais ameaçador que ele pôde
reunir. — Anote isso. Fique longe do Chad.
— OK...
— Não vou responder nenhuma das suas perguntas até que
você escreva isso.
Holly bufou, depois anotou as palavras de Romeo no topo de
sua página. — Feito.
— Bom.
— Eu estava fazendo isso por você. Você pode me perdoar,
certo?
— Não sou nada para você. Eu não sinto nada.
— Eu não acredito em você.
— Você vai acreditar no que quer. — Romeo suspirou e depois
apontou o queixo em direção aos papéis em sua mesa. —
Vamos continuar com isso...
— Eu tenho uma data de publicação agora.
— Talvez desta vez você se atenha a isso, não adie.
Holly olhou para baixo, assentindo. — Há alguns pedaços...
— Sempre existe e sempre haverá.
Ela continuou como se ele não tivesse falado. — Eu queria
perguntar por que pessoas aleatórias?
— O que você quer dizer?
— Suas vítimas são aleatórias, sem padrão para elas, sem
grupo. Outros assassinos que li escolhem vítimas
semelhantes. Em idade, sexo, sexualidade, profissão...
Romeo deu de ombros. — Não era sobre eles, era sobre a
minha própria necessidade.
Holly escreveu algo e depois o cobriu com o braço. — Eu
sempre pensei que você poderia ter sido encarado de forma
diferente se tivesse perseguido pessoas más.
— Pessoas más?
— Sim, se você tivesse como alvo outros assassinos, seria
como um anti-herói.
— Por que eu mataria outras pessoas como eu? Somos uma
família.
— Uma família?
— Sim, somos uma espécie separada do resto de vocês.
— Todos os assassinos?
Romeo revirou os olhos. — Qualquer um pode matar.
Ciúmes, raiva, dinheiro, acidentalmente, mas essas pessoas
não são minha família. Os assassinos que têm a necessidade
em suas cabeças, o desejo de acabar com a vida, eu sou um
membro disso. Nós somos ruins, o resto de vocês é bom.
— Nós já passamos por isso. Você não nasceu mal.
Romeo suspirou. — Eu estava pensando mais em Trisha
Nobel, a mulher que não matei.
— E?
— Trisha tinha um filho...
— Sim — interrompeu Holly. — E incomodou você que o filho
dela crescesse sem a mãe.
— Não, eu subi as escadas e a porta do quarto dele estava
aberta...
— Você o viu e mudou de ideia.
Romeo bufou. — Você vai me deixar terminar ou o quê?
— Desculpe, continue.
— Ele estava acordado na cama, sonolento, mas acordado.
Ele me viu, até perguntou se eu era o bicho papão — Romeo
sorriu, lembrando. — E apontei para o meu rosto e disse: o
bicho-papão seria tão bom assim? Não matei Trisha porque o
filho dela me viu, ele poderia me descrever à polícia, não um
bom começo para minha contagem regressiva.
— Como eu sei que você não inventou essa história na sua
cela.
— Por que diabos eu faria isso?
— Um mecanismo de defesa, você está tentando me afastar.
Romeo jogou a cabeça para trás e gemeu no teto. — Eu digo
o que aconteceu, e você não quer acreditar.
— Durante toda a sua vida, você afastou as pessoas da
maneira como foi tratado.
— Eu tive uma ótima vida. Eu menti para você sobre todas as
coisas ruins. Meus pais me amavam, eu tinha amigos, um
ótimo trabalho.
— Não, você está em negação.
— Jesus Cristo você está. Feche os olhos e ouça as palavras
que saem da minha boca. Eu gosto de matar pessoas. Não
sinto nada por elas ou por suas famílias. Eu sempre senti o
querer, o desejo, mas não o fiz enquanto meus pais estavam
vivos, não queria destruir a imagem de um filho perfeito.
— Você deve ter se importado com eles?
Ele não teve a vontade de acabar com a vida de seus pais.
Eles o trouxeram ao mundo, cuidaram dele, o mimaram e, sem
o conhecimento deles, o ensinaram a usar sua máscara para
manipular.
— Eu não queria que eles soubessem sobre o monstro, e eles
nunca descobriram.
— Se eles estivessem aqui agora, como você acha que eles se
sentiriam?
— Eles tentariam procurar um motivo, culpariam outra
coisa, exatamente como você está.
— Você deve se preocupar com algo... alguém.
— A única pessoa que me interessa é...
Romeo se conteve a tempo.
— É?
— Eu mesmo.
Holly começou a arrumar suas coisas. — É óbvio que hoje
não é um bom dia para você.
— Esta é a última vez que você vai me ver.
Os lábios dela se abriram. — O que?
— Eu terminei com as visitas.
— Você não quis dizer isso.
— Você tem o que precisa para escrever seu artigo.
— Mas você precisa de mim.
Romeo franziu o rosto. — Eu não.
— Você mesmo disse isso. Eu ajudo com o tédio.
— Você fez no começo, mas agora você só me irrita.
— Irrito você? Veja, eu estou ajudando você a liberar suas
emoções. As que você afirma não ter.
— Eu tenho emoções, mas não as que você está procurando.
Não me arrependo do que fiz. Esse é o seu final.
— Eu posso manter nossas visitas.
— Não. Você cruzou a linha quando confrontou Chad. —
Romeo se levantou e olhou para Fred. — Eu quero voltar para
a minha cela.
— OK, vamos lá.
— Espere... não.
Fred abriu a porta para ele e começou a marcha pelo corredor.
Ele passou por Justin quebrando os nós dos dedos e deu-lhe
um sorriso. Seu grunhido de raiva abafou o pânico de Holly
girando em sua cabeça.
— Porque você fez isso? — Paul perguntou.
Romeo olhou por cima do ombro para ele. — Eu pensei que
você estaria feliz.
— Você a aborreceu, por que isso me faria feliz?
— Você tem um fraquinho por ela, não é?
— Cale-se. Tudo o que você precisava fazer era sentar e
responder às perguntas dela.
— Eu estava respondendo, ela não estava ouvindo. As
mesmas perguntas repetidamente. Ela é obcecada.
— Não, ela não é. Ela é profissional.
— Ela não é mais profissional do que Justin é um boxeador
profissional.
Justin sacudiu suas barras. — Chegue mais perto e diga isso.
— Fica para a próxima.
Fred empurrou Romeo ainda mais pelo corredor. — Não o
faça começar.
Eles esperaram o som do ferrolho, depois passaram pela porta
para o próximo corredor.
— Ela estava sendo minuciosa — Paul disse timidamente —
dando voz a pessoas como você. Uma chance de explicar suas
ações.
— Não, ela estava procurando uma resposta, a resposta que
ela queria. A resposta que simplesmente não está lá. Ela não
aceita a verdade, mas você vê, eu sei que você aceita.
— Você é um monstro, uma parte bagunçada de você teve o
prazer de estrangular essas pessoas.
— Exatamente. Você entendeu. Você me pegou.
Fred destrancou a cela de Romeo e Paul o empurrou pelas
costas. Ele tropeçou para dentro, batendo com o joelho na
beira da cama. Ele fez uma careta com a dor, mas não se virou
o suficiente para Paul ver seu rosto. A porta bateu atrás dele,
depois Fred disse para ele voltar para as barras.
— Não — disse Paul. — Deixe-o nas algemas.
— É contra o protocolo.
— Eu não ligo, ele merece.
****
Will bufou dramaticamente. — Você nem pensa em mim?
Romeo revirou os olhos. — Não, por que eu faria?
— Você realmente não tem coração.
— Por que você está surpreso? Sou sem coração, sem toda
emoção. Uma carapaça de uma pessoa, e eu sempre fui, não
finja que está mal.
— Holly era gostosa, você descrevendo o que ela usava era o
destaque da minha semana.
— E foi o meu ponto baixo.
— É tudo sobre você.
Romeo franziu o cenho. — Bem, sim, na verdade é. Não te
devo nada e, se você continuar reclamando, não lhe darei essas
cartas.
— Isso... isso seria cruel.
— Seria? Eu me importo?
— Por favor, Romeo.
— Diga que eu não sou um idiota sem coração.
— Você não é um idiota sem coração.
— Não tenho certeza se devo entregá-las a um mentiroso.
— Espere o que?
Romeo sorriu, enfiou as cartas nas barras e as empurrou pelo
chão. Will bateu com a mão nelas. Então apressadamente as
puxou para a cela.
— Que presentes você tem hoje?
Romeo não ficou nas barras para ouvir. Ele foi até a cama e
ergueu a única carta que não havia passado para Will. O
endereço da prisão havia sido impresso e a carta afixada longe
de Berkshire. Romeo sorriu, rasgando o envelope.
Outra pena de pega. Ele prendeu a nova na parede,
admirando as duas penas em preto e branco. A mensagem de
Chad de que tudo estava bem entre eles.
— Às 8:30 da manhã de ontem, um corpo foi retirado do
endereço de James Clerk, que acredita-se ser o próprio ex-
jogador de futebol.
Romeo desviou o olhar da pena e olhou para a TV.
— O zagueiro ex-Lipton havia sofrido tempos difíceis nos
últimos anos. Com sua história de depressão e abuso de
drogas, especula-se que ele tenha tirado a própria vida.
Romeo ignorou a repórter e concentrou-se no movimento por
trás dela, ou mais especificamente, na presença da polícia. Ele
podia ver uma cabeleira familiar de cabelos castanhos. Chad.
Chad não teria sido chamado para um caso envolvendo
suicídio.
Ele estava tentando pegar o imitador, o que significava que
James Clerk era sua quarta vítima. Não dois meses separados,
mas um mês. O imitador estava ansioso. Ansioso demais.
Imagens de James Clerk apareceram na tela, junto com um
relatório sobre sua carreira e onde tudo deu errado. Ele era um
cara grande, de pescoço grosso - o assassino deve ter sido forte.
James não parecia o tipo de cara que descia facilmente.
— As fotos de James foram impressas de forma controversa
no Canster Times oito meses atrás. Ele parecia cheirar cocaína
com uma nota enrolada de cinquenta libras. Ele pediu
desculpas profusamente e jurou que se internaria na
reabilitação, mas teve alta após apenas quatro dias no
programa. Se isso é suicídio, muitos apontam o dedo para o
jornal por envergonhá-lo. O Canster Times tem sangue nas
mãos.
James Clerk, ex-jogador de futebol, morava em uma mansão.
Romeo podia ver algumas das câmeras na propriedade atrás
da repórter. Não havia como o assassino entrar e sair sem ser
visto. Idiota.
— Vamos atualizar você assim por diante, à medida que essa
história trágica se desenrola.
O assassinato ocorreu no dia anterior, mas a polícia não havia
corrigido a reportagem, eles a deixavam correr como se fosse
suicídio, e não assassinato.
— Ei, Will...
— O que é isso, eu estou ocupado.
— Tire sua mão da sua cueca e fale comigo.
Will bufou, depois bateu nas barras de sua cela. Romeo
sentou-se ao seu lado, o olhar fixo na TV.
— Você consegue pensar em alguma morte relatada no mês
passado?
— Que tipo de pergunta é essa?
— Quero dizer, qualquer que fosse incomum nas notícias.
— As pessoas morrem o tempo todo.
— Tente e lembre-se.
— Houve algumas facadas pelo Oasis.
— Não, não estou falando de violência em boates.
— Essas duas gangues entraram em confronto no parque
Jefferson.
— Não... como assassinato, homicídio.
— Não consigo pensar em nada...
Romeo suspirou.
— Mas houve uma morte acidental... coitado.
Romeo esfregou as têmporas. Ele não conseguia se lembrar
de uma morte acidental, mas, novamente, ele não teria notado.
— Lembre-me.
— Ele estava morto, sem vizinhos ou qualquer coisa, foi o
carteiro que percebeu que não pegava as cartas da caixa e
chamou a polícia. Eles invadiram e o encontraram.
— Como ele morreu?
— Ele fez um buraco na parede, bateu em um fio e o fusível
precisava ser substituído. Ele eletrocutou-se em seu quarto.
Então eles começaram a fazer com que todos verificassem seus
fusíveis. Você sabe que eu fiz uma vez, desliguei a eletricidade
da minha casa e não morri.
— Acho que há dois policiais e suas famílias que desejam que
você tivesse.
— Eles tiveram o que mereciam, sempre me impedindo de
acelerar, desperdiçando meu tempo. Foi assédio.
Romeo levantou-se das barras. Ele não queria ouvir o
discurso de Will sobre o dia em que esfaqueou dois policiais e
como isso era justificado. Ele já ouvira a história pelo menos
cinquenta vezes.
— Você não se lembra do nome dele por acaso.
— Sim, sargento Cli...
— Não, eu quis dizer o cara que se eletrocutou.
— Não, desculpe.
— Não importa, nem todos podem ser perfeitos como eu.
— Posso voltar a ler sua carta agora?
Romeo ergueu a sobrancelha. — Sim, manda... não, bata
uma sozinho...
Capítulo Oito
****
O Imitador tinha reivindicado o número três, estava longe de
igualar a pontuação de Romeo. Ele ficaria feliz se não fosse
pelas penas de pega. Alguém que não era Chad descobrira o
significado da pega, o usara para convencê-lo de que Chad
estava lhe enviando mensagens.
As únicas pessoas, além de Chad, que conheciam a pega eram
seus pais e estavam mortos. Ele não tinha compartilhado
aquele momento com ninguém além de Chad, o que significava
que Chad devia ter contado a alguém.
Romeo deitou na cama, tamborilando com os dedos no
queixo. Ele não poderia ter contado a seus colegas e, até onde
Romeo sabia, seus colegas eram seus amigos, Chad não tinha
mais ninguém.
— Terapeuta. — Romeo sussurrou.
Ele deve ter deixado escapar para seu terapeuta, que poderia
ter anotado isso em arquivo. A carranca de Romeo se
aprofundou com sua explicação de auto pensamento. Isso
significava que alguém estava assistindo Chad um pouco
demais para o seu gosto.
A não ser que…
O coração de Romeo acelerou e ele olhou sem piscar para o
teto. A parte motriz de sua mente estava ereta com a nova
explicação.
Chad era o assassino.
Ele tirou o bem de Chad e o transformou em um assassino. O
pensamento foi emocionante e alarmante. O monstro na mente
de Romeo estava ronronando, feliz com o pensamento de criar
sua escuridão em outra pessoa.
Romeo fechou os olhos e rolou para o lado. — Impossível.
Ele tinha uma semana inteira para especular antes de ficar
cara a cara com Chad novamente.
Capítulo Nove
****
O inferno deveria ser quente, brilhante, com fogo e gritos.
Romeo estava no inferno, e era o contrário. Confinamento
solitário. Cinza, concreto frio. A única luz veio através de uma
fenda que representava uma janela. Era silencioso. Tão
silencioso, ele podia ouvir seu próprio coração batendo. Eles
tiraram sua roupa e nem sequer lhe deram um cobertor.
Ele estava no inferno, mas estava frio, morto, como se
estivesse enterrado no subsolo. Ele agarrou as paredes, mas
suas unhas não deixaram marcas, ele não conseguiu se
desvencilhar da situação. Ele não podia fazer nada além de
ficar de lado e esperar.
Ele fez isso com Chad.
Deixou-o em uma laje de concreto por horas enquanto ele
estava quente na casa da fazenda. Ele adormeceu, e o erro
quase foi fatal. A pele de Chad era como gelo quando Romeo o
resgatou do celeiro e o deitou na frente do fogo.
Romeo quase o matou por acidente.
Ele soltou um longo suspiro, depois fechou os olhos. Não
havia livros, TV, lembranças de seu crime, fotos do Chad ou
penas para se distrair. Dormir era a única coisa que ele podia
fazer, mas quando fechou os olhos, ele só tinha pesadelos por
companhia.
Romeo sonhava com a pega.
Ele gritou, perseguiu, jogou pedras e, com raiva, soltou a
última pedra cedo demais, e ela não caiu em lugar algum perto
da pega, atingiu o telhado. Uma das telhas quadradas
escorregou e arremessou na direção da pega inconsciente.
A boca de Romeo se abriu em choque, ele não podia fazer
nada, ele já vira esse momento antes, uma e outra vez, e toda
vez ele sentia isso bem no peito.
Mas desta vez foi diferente.
A pega se moveu no último segundo.
Saiu do caminho, fez um grito zombeteiro e depois voou para
longe. O coração de Romeo não quebrou sob as costelas. Ele
não tremeu com uma constatação fria de que ele sempre seria
um monstro. Era uma sensação boa.
Ele não a matara, e ouvira, o deixara.
Sua boa ação estava completa.
Ele tocou o sorriso em seu rosto, tão estranho porque era real.
Ele não estava fingindo para agradar aos outros ou sorrindo,
porque era esperado. Ele realmente se sentiu feliz, mais do que
feliz, ele se sentiu orgulhoso. Ele fez algo de bom, algo de que
poderia se orgulhar, e seu primeiro pensamento foi dizer à
mãe.
Ele queria que ela sorrisse para ele, para elogiá-lo,
parabenizá-lo por dar as costas à sua biologia bagunçada e
fazer o que qualquer outra pessoa teria feito. Ele fez algo
normal quando seu coração e sua mente estavam dizendo para
ele fazer o oposto. Ele correu para a porta da frente, sabia que
sua mãe estava na cozinha, mas então ouviu os gritos, as
conversas e a paralisação. Ele aprendeu a identificar o
chamado de sua pega, e esse não era o dela.
Não foi o chamado de uma pega, mas de dezenas. Ele podia
ouvi-las atrás da casa. Em algum lugar nas árvores. Não gritos
zombeteiros, mas zangados, sinistros. As outras pegas
pareciam mais metralhadoras, violentas, cruéis. Romeo correu
pela casa, indo em direção às árvores.
Ele chegou perto o suficiente para vê-las, tantas,
mergulhando em alguma coisa no terreno, depois retornando
às árvores. Elas se revezavam, bicavam, cutucavam,
esfaqueavam, em um frenesi.
Ele acenou com as mãos, gritou até seu diafragma doer e, ao
contrário de sua pega, o resto voou para longe dele, deixando
apenas uma. Uma despedaçada no chão, tremendo, ainda viva,
mas em agonia. Ele sabia que não poderia salvá-la, sabia que
ia morrer em suas mãos e ele não poderia fazer nada sobre
isso.
Ele viu a árvore ao longe, as dezenas de pegas, todas olhando
para ele, sangue nos bicos, conversando entre si.
Elas não haviam aceitado a pega de Romeo como uma delas.
Elas sabiam que havia mudado, não conseguiam entender, e
sem entender levou ao medo, e o medo levou à frustração,
depois à raiva, antes de finalmente a violência. Ela morreu nas
mesmas mãos que uma vez a salvaram.
Abandonada por Romeo, depois rejeitada por sua própria
espécie.
Romeo acordou coberto de suor. Seu quadril doía da posição
em que ele estava deitado, e ele rapidamente se sentou,
encostado na parede. Sua respiração veio em ofegos, mas ele
não conseguia o suficiente, seu peito estava tenso com a
necessidade de respirar.
Tanto ele como Chad não estavam lidando com suas novas
vidas após a contagem regressiva, e havia apenas uma
solução.
Ele precisava sair de lá.
Ele precisava reunir o monstro com a pega.
Capítulo Dez
****
As luzes do lado de fora da cela se acenderam de repente.
Romeo piscou para se ajustar. Will xingou e gemeu, e Romeo
ouviu o murmúrio de todos os outros prisioneiros ao longo do
corredor.
— Que diabos é isso? — Will murmurou.
Romeo encostou-se nas barras, tentando ver. — Nenhuma
ideia.
Ele ouviu passos descendo o corredor. Mais de dois
conjuntos. Romeo não reconheceu os homens que chegaram a
sua cela.
— Para trás, e depois passe os braços.
— Posso pelo menos vestir algumas roupas?
— Faça isso rápido.
Romeo vestiu um macacão laranja e depois recuou para as
barras. O homem apertou as algemas e ordenou que ele
caminhasse para a frente. Assim que sua cela foi aberta, os
dois policiais entraram e o agarraram.
— O que diabos está acontecendo?
Eles não responderam, apenas apertaram mais os braços
dele. Era muito fácil para os prisioneiros mandarem beijos ou
flertarem com ele, mas Justin ainda ameaçava esmagar a
cabeça de Romeo enquanto eles passavam.
Ele foi levado para a sala de visitas, empurrado na cadeira e
depois foi embora. Ele os ouviu trancar a porta e tudo o que
ele podia fazer era esperar, e lançar olhares perplexos para a
câmera no teto.
A porta da sala oposta se abriu. O DI entrou na sala e sentou-
se na frente de Romeo. A pasta tinha o triplo da largura que
tinha sido a última vez que ele visitou.
— O assassino imitador conseguiu o número dois?
— Não.
— Ainda não. — Romeo disse. — Ainda é muito cedo.
— Ele não chegará tão longe. Tenho policiais procurando na
sua cela enquanto falamos.
— Eles não encontrarão nada de interessante.
Romeo olhou com expectativa para a porta, esperando Chad
se revelar, mas ele não entrou na sala. Em vez disso, Gareth
entrou, arrastando uma cadeira.
Romeo viu a marca desbotada em seus lábios de onde Chad
o atingiu. Gareth notou e cutucou a linha fraca.
— Nunca mais bata nele.
— O que?
— Você me ouviu.
Gareth deixou cair a mão sobre a mesa. — Ele me bateu
primeiro.
— Eu não ligo. Você toca nele de novo...
— E você o que?
O DI desenrolou a corda no arquivo e depois tirou algo. Virou
o pequeno quadrado e depois o ergueu para Romeo.
— É você?
Ele olhou para a foto. Ele com um corte de cabelo terrível,
sorrindo, com uma pega na mão. Ele mostrou a foto para Chad
na fazenda, revelando-a tinha feito ele feliz. Se Romeo fosse
honesto consigo mesmo, diria que compartilhá-la com Chad o
fez feliz também.
— Sim. Este sou eu.
O DI soltou um suspiro lento e voltou a colocá-la na pasta.
— A foto sua e da pega foi encontrada no endereço de Chad.
Você enviou para ele?
Romeo franziu o cenho. — Não. A última vez que vi a foto foi
na casa da fazenda. Foi perto do fogo quando vocês todos
entraram em colapso.
— A fazenda foi revistada, itens de interesse foram tirados,
mas esta fotografia não foi documentada, não foi registrada.
Chad pegou. Por que ele faria isso?
— Por que não perguntar a ele?
— Estou lhe perguntando.
— Talvez ele quisesse uma lembrança do nosso tempo juntos.
Gareth recostou-se na cadeira. — Qual é o significado da
pega?
— Não há, é apenas uma pega.
Gareth e o DI trocaram um olhar.
— Não foi tudo o que descobrimos do endereço de Chad.
— Por que você está passando por coisas de Chad?
O DI o ignorou e continuou. — As primeiras páginas do
Canster Times estavam presas na parede da sala e havia um
colchão no chão.
O coração de Romeo apertou e ele engoliu em seco. — E?
— É obsessivo. — Gareth disse. — Comportamento não
normal para alguém capturado por um serial killer. Para
recriar as condições de vida.
— Ele sente minha falta.
— Eu acho que ele mais do que sente sua falta. Eu acho que
ele se transformou em você.
— O que?
— Você fodeu com a cabeça de Chad e o transformou em um
monstro.
— Um monstro? Chad não é um monstro. — Ele olhou para
o DI. — Espere... ele não é seu imitador, se é para isso que
isso está indo. Chad ainda é uma boa pessoa.
O DI foi falar, mas Gareth chegou primeiro.
— Não, não mais.
— Gareth, eu estou liderando esta investigação, entendeu?
— O DI disse.
— Sim, senhor.
Romeo sorriu para Gareth. — Bom garoto.
— Juro por Deus se essa barreira não estivesse aqui...
— Eu teria te derrubado por bater em Chad, e então eu teria
estrangulado você.
— Com as mãos conectadas à sua bunda, acho que não.
— É suficiente! — O DI disse. — Estamos aqui para
conversar sobre...
— O assassino imitador, aquele que imita meu crime.
Obviamente, não é Chad.
— Encontramos a foto sua e da pega no endereço de Chad.
— Isso não significa nada.
— Ele visita você toda semana.
— Não tenho permissão para receber visitantes?
O DI apontou para a câmera no canto da sala. — Tivemos um
especialista revisando suas visitas.
— Um especialista?
— Linguagem corporal, leitura labial. Vocês enviam
mensagens um para o outro. Há uma obsessão lá, e sabemos
que o assassino é obcecado. A pena, a técnica de
estrangulamento, o charuto é da mesma marca que você usou.
— Ele usa os bens deles? — Romeo perguntou.
— Não, as cenas do crime são limpas, suspeitamente limpas.
Como alguém que sabe o que a polícia procura, como se
limpar.
— Alguém como Chad. — Romeo riu. — Você não pode estar
falando sério. Você o conhece.
— Nós o conhecíamos. — Gareth disse. — Antes de você
entrar na cabeça dele. Antes de você o levar. Antes de você
mudar ele.
O DI suspirou. — Durante algumas semanas, notamos uma
diferença nele, uma frustração, uma raiva.
— Não é uma grande surpresa se você o está acusando de ser
um serial killer.
— Há uma mudança nos assassinatos, também, um
aumento da raiva.
— O que você quer dizer?
O DI pressionou a mão na pasta sobre a mesa. — A primeira
vítima, encontrada no quarto, estrangulamento, número cinco,
assim como a sua.
— Sim, um imitador...
— No endereço da segunda vítima, seus dois cães foram
encontrados mortos na sala de estar.
— James tinha cachorros. O assassino foi atrás dos
cachorros...
— Sim.
— Mas os cães não foram relatados no meu caso.
— Exatamente, isso era informação sigilosa.
— Pode ser uma coincidência, o assassino só queria tirar os
cães do caminho.
O DI alargou suas narinas, depois olhou para Gareth.
— O que? — Romeo perguntou. — Diga-me, o que é isso?
— Terceira vítima. A TV ficou ligada, pausada no mesmo filme
que você nos deixou. O mesmo rosto sorridente. Isso também
não foi notícia. Nosso departamento sabia dos cães, o filme,
mas eles não foram divulgados.
— Pare. — Romeo disse. — Simplesmente pare. Veja.
Admito, pensei que poderia ser Chad...
— Aposto que te excitou. — Gareth murmurou.
— Sim, e não. Voltei aos meus sentidos, olhei em seus
grandes olhos castanhos e soube que não era ele.
— Essa não é uma defesa boa o suficiente.
— Você realmente acha que Chad poderia estrangular
James? Ele é o dobro do tamanho dele.
— Xilazina foi encontrada nas amostras de sangue da vítima.
Outras lesões foram feitas antes do estrangulamento.
Hematomas no abdômen, pernas e depois na terceira vítima,
mais hematomas, lesões, costelas quebradas.
— Ele tira toda a sua raiva em seus corpos indefesos antes
de matá-los. — Gareth terminou.
— Como diabos você pode pensar que isso é Chad?
— Porque ele fugiu. Fomos conversar com ele hoje à noite, e
ele decolou. Pessoas inocentes não fogem.
A porta se abriu, uma mulher entrou, Romeo a reconheceu
como um dos outros detetives que haviam trabalhado em seu
caso.
Kate.
A corretora Kate Romeo a apelidou em sua cabeça.
— Você acredita seriamente que é Chad também?
Kate apertou os lábios em uma linha dura, depois se inclinou
para sussurrar no ouvido do DI. Ele assentiu e depois se virou
para Gareth.
— Pelo menos sabemos que ele não pode deixar o país.
— Bom, eles têm o passaporte dele. — Gareth murmurou.
Romeo levantou-se da cadeira, fazendo-a voar. — Me escute.
Não é ele. Não se vire contra ele assim.
— É sua culpa. — Gareth disse. — Se você não o tivesse
levado, se não o tivesse mudado.
— Mas não é ele.
— Eu pensei que isso faria você feliz. Você está manipulando
alguém bom para se tornar ruim.
— Não estão mais em equipes diferentes. — O DI disse.
— Isso... você não pode estar falando sério.
— Vocês enviam mensagens secretas um para o outro. Ele
tinha uma foto sua e uma pega. Ele manteve todas as
primeiras páginas. Ele dorme em um colchão em sua sala de
estar. Ele sabia dos cachorros.
— Ele nunca mataria um cachorro!
— Ele não fala sobre o que aconteceu nos dois meses que
você o teve. Ele o visita apesar de todo mundo dizer para ele
não fazer isso, e quando eu disse que alguém deveria acabar
com você, ele me atacou.
— Eu poderia tê-lo matado, mas não queria...
— Não, nós o salvamos, e ele nos pagou, visitando você e
depois assumindo o seu lugar.
— Eu o deixei ir livre. Não dê as costas para ele, não quando
ele está lutando, não quando ele mais precisa de você.
O DI levantou-se. — Precisamos colocá-lo sob custódia,
depois iremos a partir daí. Obrigado pelo seu tempo.
— Aproveite o resto. — Gareth disse, depois seguiu Kate e o
DI pela porta.
— Vocês estão errados sobre ele!
Capítulo Onze
****
Holly entrou na sala com um grande sorriso no rosto. Romeo
não combinou, ele olhou até que o sorriso dela caiu e ela
desviou o olhar. Ele passou dois dias em sua cela pensando
sobre isso, passando a ideia dela como a assassina em sua
cabeça. Ao contrário de Chad, o pensamento não evoluiu para
uma fantasia, permaneceu como um pesadelo.
Holly não podia ser a imitadora, suas unhas bem cuidadas,
seu sorriso inocente, sem mencionar que ela era pequena.
Romeo sorriu, mas a aparência podia enganar, ele era a prova
disso.
Holly se aproximou, colocou os arquivos na mesa e sentou-
se. — Fiquei tão aliviada quando você finalmente aceitou
minha visita.
— Matar pessoas é bom, não é?
Holly recuou. — O que?
— Elas desamparadas, lá para descarregar sua raiva.
— Eu...
— Para bater, espancar, então passar as mãos em volta do
pescoço e...
— Pare com isso.
Ele podia ver a repulsa nos olhos dela.
— É bom, como se você fosse intocável, um deus. A
adrenalina é tão intensa que nada mais se compara a alguém
morrer em suas mãos. Sempre soube que seria bom, foi o que
nasci para fazer...
— Você não nasceu para matar.
— Sim, eu nasci. Você gosta do que eu fiz?
— Claro que não.
— Por que não?
— É imoral, distorcido. Você matou pessoas inocentes...
— Então, se elas não fossem inocentes, você teria gostado do
que eu fiz.
— Não!
Romeo continuou procurando, mas ele não conseguia ver nos
olhos dela. Obcecada, lasciva, possessiva, mas não uma
assassina.
Holly não era o assassino imitador.
Ela começou a juntar suas coisas.
— Espera. — Romeo disse.
— Eu não quero falar com você quando você está assim.
— Eu só precisava ter certeza.
— Certeza de que?
Romeo se virou. — Que você não é como eu.
— De que maneira? Uma assassina?
— Sim.
— Sou jornalista e psicóloga, não sou assassina, nem sou
despertada pela ideia de assassinato. Não sou membro do seu
fã-clube distorcido.
— Todo esse tempo você me interrogou para encontrar uma
razão em vez de aceitar que eu sou um monstro e matar é o
que eu nasci para fazer. — Ele balançou sua cabeça. — Não
tem como ser você.
— O que eu não sou?
— Meses atrás, você falou com Will na cela ao meu lado, e ele
disse que eu tenho pesadelos.
— Sim, eu lembro. Ele disse que você fala sobre Chad, a
fazenda e as pegas.
— Você escreveu sobre pegas no seu artigo?
— Por que você tem medo delas?
— Me responda.
Holly lambeu os lábios. — Mencionei seus pesadelos e o
significado das pegas.
— Que significado? Como assim?
— Por que você sonha com pegas, o significado por trás de
tais sonhos, e a maioria dos artigos diz que eles são negativos,
mas houve um que achei interessante. A pega o visita para
dizer que você precisa se manifestar. Expressar sua verdade e
achei que era muito adequado para você. Você tem pesadelos
porque ainda não contou o seu lado da sua história, sua
verdade não é revelada, não até que seja publicada.
Romeo ficou boquiaberto, o ar deixou seu peito, ele podia
ouvir seu coração na garganta. — Espere... eu te contei sobre
os cães.
— Os cães de Tristram Adams?
— Sim, e eu te contei sobre o filme que eu deixei no número
três, Georgie... eu te disse, o lugar em que parei, o rosto
sorridente. Você escreveu sobre isso em seu artigo?
— Sim, eles eram exclusivos, eu seria estúpida para não fazê-
lo.
Romeo recostou-se na cadeira. — Onde está o artigo?
— Está no meu laptop.
— Onde está agora?
— Em casa, eles não me deixam trazê-lo aqui, tomo notas e
depois escrevo quando volto.
— Quem tem acesso ao seu apartamento?
— Minha mãe tem uma chave.
— Mais alguém, parceiro?
Holly bufou, balançando a cabeça. — Não, ele me quer de
volta, mas...
— Eu só preciso saber quem pode ter lido esse artigo.
— Só eu... mas...
— Mas o que?
— Não é nada.
— Conte-me.
Holly franziu o cenho. — Alguém invadiu meu apartamento
alguns meses atrás, mas houve uma série de invasões pela
área. Lugares caros como esse chamam muita atenção.
— Eles levaram alguma coisa?
— Joias, dinheiro.
— O laptop estava lá?
— Eles não encontraram. Eu escondi debaixo do sofá.
Praticamente marca nova, de última geração, cortesia da
minha...
— Todo bom ladrão olha embaixo do sofá. Alguém leu esse
artigo.
— Do que você está falando?
— O assassino imitador!
Holly lançou um olhar para Paul e Fred, depois olhou para
Romeo. — Há um imitador?
— Sim, alguém que deixa penas de pega na cena do crime e
depois me manda uma para a prisão. Uma pena para cada
vítima.
Os lábios de Holly se abriram. — Você acha que ele leu o meu
artigo?
— Acho que ele pode estar usando-o como um plano.
— Mas a polícia não disse nada, não fez nenhuma declaração
sobre um imitador.
— Eles estão mantendo isso quieto. Você precisa entrar em
contato com o DI Grimes. Conte a ele sobre o artigo e diga a
ele para analisar a invasão novamente.
— Eu vou.
— Então Chad estará fora dos holofotes.
Holly congelou e sua expressão azedou. — Chad? O que isso
tem a ver com ele?
— Ele é o principal suspeito do imitador, mas eles estão
errados. O artigo é como o assassino sabia sobre os cachorros,
o filme, a pega...
— Espere, onde está Chad agora?
— Ele se foi.
Holly lambeu os lábios. — Você quer que eu conte ao DI para
que Chad possa ser liberado... para que ele volte.
— Ele é inocente.
— Talvez desse crime.
Romeo franziu o rosto. Ele podia ver a trama por trás dos
olhos de Holly, o brilho de algo. Ele a empurrou muito longe,
brincou com ela até o ponto de obsessão.
— Chad não é um assassino.
— Eu disse a ele para recuar.
— Você não tinha o direito de dizer isso a ele.
— Eu estava cuidando de você, Romeo. Alguém tem que
cuidar de você. Vindo aqui, exibindo seu fracasso. Fazendo
você confiar nele. Ele está explorando sua síndrome de Lima.
— Minha o quê?
Holly assentiu. — Síndrome de Lima. Eu escrevi sobre isso no
meu artigo também. É onde o sequestrador sente simpatia pelo
cativo. Você curou a perna machucada de Chad, cozinhou
comida, manteve-o aquecido pelo fogo. Você mostrou empatia
e agora está trancado, ele não o deixou ir, ele manteve você
pendurado, amarrado. Ele explora esse cuidado. Não é à toa
que você tem tanta dificuldade para expressar emoções.
— Você escreveu sobre Chad no seu artigo?
Holly se virou. — Um pouco.
— O que você disse exatamente?
— Por que isso é importante?
Romeo falou entre dentes. — O que você escreveu sobre ele?
— Eu disse que estava na hora de ele deixar seu controle e
deixá-lo sozinho para sempre.
A sensação quente e borbulhante começou a crescer no
estômago de Romeo. Alimentou suas veias, fez seu coração
bater forte, e sua pele estava muito tensa, muito quente. O
imitador estava obcecado por ele, o imitador estava ansioso.
Chad foi quem fugiu. Aquele, de acordo com Holly, que zomba
dele, o atormenta por trás de uma barreira.
— Se o imitador leu o seu artigo, ele pode vê-lo como um
incentivo para perseguir o Chad.
Holly se inclinou para mais perto. — Isso é tão ruim assim…
— Claro que é...
— Não de onde estou sentada.
Romeo levantou-se da cadeira e virou-se para Fred e Paul. Os
dois sacaram os cassetetes, prontos para um ataque.
— Você precisa falar com o inspetor, contar a ele sobre a
invasão, o artigo.
— Por que você tem tanta certeza de que o assassino não é
Chad? — Holly perguntou.
Romeo voltou-se para ela. — Porque ele não é um monstro.
— Monstros podem usar todos os tipos de máscaras...
— Ele é uma boa pessoa.
— Ele realmente envolveu você em torno de seu dedo.
— Você precisa ir à polícia com o que sabe.
— Eu não preciso fazer nada. — Holly disse, recolhendo suas
coisas. — Acho que a melhor coisa a fazer é deixar as coisas
acontecerem.
— Acontecerem?
— Sim. — Ela olhou para Paul, depois para Fred. — Vamos
deixar a polícia fazer o trabalho deles, e não interferir...
— Chad é inocente.
— Então você diz. Talvez ele seja. Talvez ele não seja. Mas o
Canster times adorara relatar isso... O primeiro artigo a
descobrir que há um imitador à solta. O primeiro artigo que
tem o nome do principal suspeito.
Romeo olhou para Fred. — Vamos lá, você sabe que isso está
errado.
Fred abriu a boca, mas um olhar de Paul o fez fechá-la
novamente.
— Não se vire contra ele também. — Romeo sussurrou. —
Se algo acontecer com Chad, você pode viver com você mesmo?
Paul bufou. — Ele pode ser o assassino. Sempre pensei que
era estranho ele visitar, era como se vocês dois estivessem
falando um idioma diferente às vezes, talvez você estivesse
dando dicas a ele o tempo todo.
Romeo deu um passo em direção a Paul, com a intenção total
de lhe dar um tapa na cabeça, mas dois cassetetes o
sacudiram. Fred estava com menos convicção, mas ainda
estava do lado de Paul e Holly.
Um sorriso enorme iluminou o rosto de Paul. — Não é tão
inteligente agora, é.
****
— Eu quero matar todos eles.
— Uau, ok.
— Não, eu preciso matar todos eles.
Romeo andava de um lado para o outro, arrancando os
cabelos e, de vez em quando, atacando a parede. Seus dedos
latejavam, mas a dor só o fez querer atacar novamente. O
monstro dentro dele estava enfurecido, espumando pela boca,
selvagem e feroz.
Will estava tentando acalmá-lo, mas isso só fez Romeo querer
matá-lo também. Envolver as mãos em volta do pescoço e
estrangula-lo até que seus sons parassem para sempre, até
que a sensação boa inundasse sua mente, e ele se sentisse
certo novamente.
— Quem são eles?
— Paul, Fred, fodida Holly.
— Ei, você deixa Holly fora disso.
— Ela é a pior deles. E pensar, que fazê-la se apaixonar por
mim era divertido, mas em que diabos eu a transformei? Ela é
um monstro da minha própria criação.
— Você não está fazendo nenhum sentido.
— Eles baniram minhas ligações. Eles não estão me deixando
enviar cartas. Ou me deixando solicitar visitas.
— Isso é difícil.
— E eu tenho que ajudá-lo de alguma forma, mas como posso
quando estou preso aqui?
— Ajudar quem?
— E se eles o atingirem, e se lerem esse maldito artigo e
decidirem que querem fazê-lo sofrer.
— Novamente, não faço ideia do que você está falando.
— O que eu faço? Diga-me o que eu faço!
Will ficou em silêncio por um longo tempo, então ele
sussurrou. — Então você não pode receber visitantes,
telefonemas ou escrever para ninguém...
— Foi o que eu disse.
— Mas e se eu escrever uma carta em seu nome.
Romeo pressionou-se contra as barras. — Espere... você
poderia escrever uma carta.
— Foi o que eu disse, não tenha o crédito pela minha ideia.
— É brilhante.
— Realmente, obrigada... espere um segundo, vou pegar um
papel. Para onde está indo?
Romeo recitou o endereço da estação.
— E para quem?
— DI Lucas Grimes... — Romeo parou, depois balançou a
cabeça. — Não... não o DI. Ele me odeia e não escuta. Ele está
cego. Ele acha que é Chad. Eu preciso de alguém com a mente
aberta.
— Então para quem?
— Escreva para... Zac.
— Zac quem?
— Não sei o sobrenome dele. Coloque o recepcionista Zac.
— OK…
— Diz-lhe que o Chad não é o assassino. Holly Stevenson
escreveu em seu artigo sobre pegas.
— Sobre pegas?
— Sim. Diga a ele que muitas pessoas tiveram acesso ao
artigo. Ela colocou um alvo na cabeça de Chad.
— Alvo na cabeça de Chad... certo.
— Se ele não fizer algo, Chad morrerá.
— Uau. Ok, isso é dramático. É isso?
— Sim, curto e doce, e ao ponto maldito.
— Como você quer que eu termine?
— O que?
— Com beijos?
Romeo apertou os dedos ao redor das barras. — Eu quero te
estrangular tanto agora.
— Eu só estava perguntando.
— Apenas assine, R.
— Feito. Ei. Eu estava pensando em como escapar.
Romeo revirou os olhos. — Qualquer coisa melhor do que
cavar através de uma parede.
— Lembro-me de assistir a um documentário sobre a fuga de
um homem na estrada dos anos 1600...
— Porque isso será possível agora.
— Me ouça.
Romeo parou de estrangular as barras e suspirou. —
Continue então.
— John Nevison era um salteador de estradas. Ele foi preso
por roubo e fingiu ter contraído a praga enquanto estava
dentro. Ele agiu todo doente, como se realmente estivesse perto
da morte, depois caiu na cela.
— Continue falando.
— Então os guardas não quiseram pegar a praga, então eles
ficaram longe da cela, fizeram o médico entrar, que anunciou
que ele estava morto, e ele tirou o corpo da prisão. Ele não
apenas escapou, mas teve uma segunda chance de viver.
— E como isso funcionou para ele?
— Bem, pelo que me lembro, ele foi pego novamente e depois
enforcado.
— Entendo…
— Ainda assim, foi apenas uma ideia.
Romeo olhou para sua estante. O dicionário médico de AZ. —
Talvez você tenha descoberto alguma coisa.
— Espere, o que?
— Obrigado, Will, você me deu algo em que pensar.
Eles eram tratados por ossos quebrados, perda de sangue e
até câncer na ala hospitalar. Romeo precisava de algo que
exigisse que ele visitasse o hospital da cidade.
— É para isso que servem os amigos.
Romeo franziu o cenho. — Amigos?
— Sim, somos amigos.
— Duvido que a maioria dos amigos queiram se matar.
— Espere... o que?
— Noite, Will.
Capítulo Doze
****
Era o mesmo sonho, sempre o mesmo sonho. Romeo, cansado
de quão simples sua mente estava sendo, estava muito agitado
para chegar a uma narrativa complexa.
Havia a pega, forte, em forma, saudável, pelo menos parecia
assim. Ela se recusou a deixar Romeo, empoleirada em cada
árvore por onde passava, depois voou para a próxima,
tagarelando por sua atenção. Ela o seguiu de volta do parque,
cantando para ele como se o estivesse cumprimentando ou
rindo dele. Ele não tinha certeza de qual. Parecia mais rir.
Ele parou do lado de fora da casa, sentiu o cheiro de algo
cozinhando, uma doçura encheu o ar, vindo da cozinha. A mãe
de Romeo estava cozinhando, sem dúvida o favorito dele, ela
adorava estragá-lo por ser tão bom.
A pega pousou a seus pés e ele foi chutá-la, mas pulou, rindo.
Ele correu na direção dela, mas era mais rápida, saiu com
facilidade, com um toque e um lampejo de suas penas brancas.
Romeo rosnou ameaças ao pássaro, ficando cada vez mais
irritado. Ele ouvia música da cozinha, música clássica que
cobria o som de seus gritos para a mãe.
Ele gritou com a pega e, quando isso não funcionou, ele se
abaixou e jogou a primeira pedra. Depois outra, e outra, até
que a raiva o fez soltar a pedra em suas garras muito cedo. Ela
caiu no telhado, um ladrilho escorregou e caiu na direção da
pega.
Ela se moveu no último segundo, mas, ao contrário da
primeira vez que Romeo experimentou esse sonho, ele não
sentiu nenhum alívio, triunfo ou felicidade.
Ele sabia o que acontecia depois.
A pega voou para longe dele, e então ele as ouviu. As
metralhadoras furiosas nas árvores. Ele correu pela casa e foi
em direção ao som. Ele as viu mergulhando, arranhando,
bicando e gritou para que parassem, gritou para elas irem
embora, e elas o fizeram, mas não por causa dele.
Elas voaram para longe porque havia mais alguém.
Romeo não conseguia ver seu rosto, a figura caminhou até a
pega quebrada no chão e a levantou.
Ele segurou a pega para que Romeo pudesse vê-la, depois
quebrou a asa. O estalar provocou náusea no intestino de
Romeo. Ele cambaleou, preparando-se. A figura quebrou a
outra asa, depois as pernas da pega. Cada estalar enfraquecia
Romeo, diminuía a velocidade, impedia que ele se
aproximasse, até que a pega foi jogada, descartada no chão
com uma ferida no pescoço.
Quando Romeo finalmente chegou perto o suficiente para
pegar a pega, ela se transformou em Chad. Chad com os olhos
abertos, mas perdido para sempre. Chad com a pele pálida, o
corpo quebrado e o sangue jorrando no pescoço.
Quando o sangue parou de fluir, Romeo gritou.
****
Romeo se lançou para frente quando acordou. Ele
imediatamente se arrependeu quando sua cabeça latejou. Um
balde foi rapidamente colocado na frente do rosto, e ele não
vomitou nada. A dor em sua cabeça não diminuiu após o
sonho, cresceu e, quando olhou ao redor da sala, percebeu que
estava tendo problemas para enxergar. Ele tocou seu rosto,
testando a massa de carne inchada que era sua bochecha.
Justin deu um soco na cara dele, que fazia parte de seu plano,
mas ele não estava no hospital da cidade como ele queria.
Havia barras e portões - ele estava no hospital da prisão.
Quando ele tentou mover a outra mão, ela estalou, e ele olhou
para a algema que a prendia na cama.
O homem que lhe deu o balde o empurrou de volta na cama.
— Calma, Romeo.
— Por que estou aqui?
— Justin Steel deu um soco na sua cara.
Ele sabia disso, mas esperava que, se não fosse duro o
suficiente para matá-lo, seria o suficiente para levá-lo ao
hospital da cidade.
— Eu sou o doutor Zander.
— Minha visão está embaçada, estou com uma dor de cabeça
forte, acho que preciso estar no hospital.
— Você está em um hospital.
Romeo não comentou. Ele precisava jogar esse jogo com
cuidado. Embora Zander trabalhasse no hospital prisional com
as pessoas mais desprezíveis do mundo, ele ainda tinha olhos
gentis e estudou Romeo com eles. Ele precisava manter as
coisas assim.
— O que há de errado comigo?
— Nós radiografamos seu rosto. Você tem uma bochecha
fraturada, com sorte, todos nós sabemos do que Justin é
capaz.
— Um osso da bochecha fraturado?
— E uma concussão suave. De acordo com Paul e Fred, você
estava inconsciente.
Romeo precisaria fazer algum trabalho para atualizar sua
concussão branda, para grave, como cortesia do dicionário
médico de AZ.
— Quem?
— Paul e Fred...
— Não me lembro do que aconteceu. Onde... onde estou?
— Você está na ala hospitalar.
— Ala?
Zander franziu a testa. — Sim, da prisão.
Romeo franziu o rosto, a dor o fez estremecer e Zander o
firmou.
— Você pode me dizer seu nome?
— É um... hum, me dê um minuto que vou acabar me
lembrando.
— Você consegue se lembrar do que fez hoje?
Romeo apoiou-se no travesseiro. Ele olhou para a luz no teto
até Zander se aproximar e bloquear a vista.
— Ei... Romeo?
— Romeo — Ele repetiu.
— Esse é o seu nome.
Ele lançou um olhar maravilhoso a Zander e riu levemente.
— Sim, claro que é, Romeo.
— Você se lembra do que comeu no café da manhã?
— Não.
Zander tirou uma caneta do bolso superior e enfiou nos olhos
de Romeo. Ele xingou e se afastou. Zander cantarolou, depois
recuou.
— Vou ficar de olho em você.
Romeo não tinha conseguido, Zander estava preocupado, mas
não excessivamente. Ele foi até a próxima cortina e
desapareceu atrás dela. Romeo fechou os olhos e tentou
imaginar o dicionário médico de AZ que tinha em sua cela.
Concussão de grau três. Era isso que ele precisava para ser
levado ao hospital da cidade, para que procurassem por danos
em seu cérebro.
Náusea, confusão, amnésia, dificuldade para falar, Romeo
apresentaria todos os sintomas até Zander tentar fazer alguma
coisa.
Primeiro na lista, náusea.
Romeo pegou o balde da cadeira ao lado da cama. Pensou em
Chad, fatiado, sangrando, com a garganta cortada e, em vez de
combater o acúmulo de bile, Romeo saboreou até pesar no
balde, roncando e cuspindo. Quanto mais vomitava, pior ficava
a dor de cabeça, até que ele não estava fingindo, era um ciclo
de dor de cabeça e doença.
Zander olhou para ele, mas demorou muito para voltar.
Romeo arfou e ofegou, depois olhou para ele.
— Onde estou?
— Na ala hospitalar.
— Ala hospitalar —mele repetiu — eu não entendo.
— Justin Steel deu um soco na sua cara.
Romeo virou a cabeça, então foi alcança-la com a mão presa.
Ele estremeceu, ele olhou para ela e depois puxou um pouco
mais.
Zander tirou o balde do colo, colocou-o de lado e prendeu
Romeo na cama pelos ombros.
— Acalme-se.
— Por que você me acorrentou? Você não pode, você não pode
fazer isso.
— Eu preciso que você relaxe, Romeo.
— Romeo?
— Sim, é o seu nome.
Romeo parou de lutar contra Zander e afundou na cama. —
Sim... claro que é.
— Tente e... tente descansar um pouco.
Ele recuou, respirando pesadamente. Romeo fechou os olhos,
murmurando incoerentemente para si mesmo. Ele podia sentir
Zander observando-o, morrendo de raiva, e então saiu para
verificar outra pessoa.
Romeo repetiu a atuação novamente e novamente. O dia todo.
Ele reclamou de dor de cabeça, de visão ruim e, em geral, agiu
confuso, mas Zander não fez nada. Ele parecia preocupado,
anotou em sua prancheta e depois deu a Romeo mais
analgésicos, provavelmente muitos, mas ele não estava
preocupado com a overdose acidental de seu paciente, estava
mais preocupado em cometer um erro.
Zander o ajudou a ir ao banheiro, mas fez questão de parecer
instável em seus pés, apoiando-se pesadamente em Zander por
seu apoio.
De manhã, Romeo arregalou os olhos, e não era apenas
Zander assistindo, mas o diretor da prisão, com o rosto severo
e o corte de cabelo militar, e Paul e Fred. Ele esperava - não,
ele rezava para que seu desempenho fosse suficiente.
— Onde estou?
O diretor franziu a testa, o suficiente para que suas
sobrancelhas negras e espessas se encontrassem no meio. Ele
olhou para Zander, que hesitou, depois se aproximou da cama.
— Você está na ala hospitalar.
Romeo olhou para a cama, a máquina apitando ao lado dele,
as roupas de Zander.
— Hospital... por quê?
— Você levou um soco na cara. — Paul disse. — Você
caminhou até a cela de Justin de propósito.
— De propósito? — O diretor perguntou.
Paul assentiu. — Sim, eu o vi fazer isso, ele queria levar um
soco.
O diretor virou-se para Fred, que se arrastou no local. —
Bem?
— Eu não vi, Paul estava na minha frente.
Romeo apertou cuidadosamente sua bochecha. Ainda
inchada, ainda tensa, ele sibilou, tentou mover a outra mão
para cobrir seu rosto, mas a algema bateu e ele olhou para ela.
— Por que... por que você me algemou à cama?
— Acalme-se. — Zander disse, tentando mantê-lo parado.
Ele se concentrou na dor, nos sonhos com pegas, Chad sendo
torturado, e seu coração começou a bater forte, a velocidade
aumentou até que a máquina ao lado dele começou a apitar
com mais intensidade, cores piscando.
Paul e Fred se afastaram, mas o diretor se aproximou,
lançando olhares entre a máquina apitando e Romeo lutando
contra Zander. Ele tentou fazer parecer autêntico, murmurou,
franziu o cenho muito, agiu confuso.
— Você não pode acreditar seriamente nele? — Paul disse.
O diretor cantarolou. — Ele poderia estar fingindo.
— Fingindo o que? O que diabos está acontecendo?
— Acho que devemos levar isso a sério. — Zander disse.
O diretor juntou os lábios e depois assentiu. — Lhe dê um
sedativo.
— O que?
— Você me ouviu, lhe dê um sedativo.
— Mas se for uma concussão...
— Apenas faça.
Zander soltou Romeo, depois apertou o botão sob sua cabeça.
Mais homens de traje branco apareceram, e a derrota e o
pânico não eram mais falsos. Ele não queria ser sedado. Ele
não queria adormecer e ver o assassino quebrando sua pega,
mas ele não tinha escolha.
Eles o prenderam e o apunhalaram no braço com um
sedativo.
****
Romeo estava no banheiro de um hotel chique, respirando
pesadamente, olhando-se no espelho. Ele parecia delirante,
como se estivesse em um colapso nervoso, e outros que
precisavam usar as instalações rapidamente mudaram de
ideia quando o viram se preparando nas pias.
Nada, sua vida parecia vazia de nada, onde emoções positivas
deveriam estar, não havia nada. Ele conseguiu um novo
emprego. Ele comprou um apartamento novo. Um carro novo.
Do lado de fora, ele estava voando alto, mas por dentro, ele
mal estava aguentando. O desejo em sua cabeça era tão
constante, tão consumido, uma necessidade sem fim de coçar,
e saber que ele não poderia aliviá-lo ainda era pura tortura.
Romeo torceu as torneiras, depois deu um tapa na cara e na
parte de trás do pescoço. Ele se olhou no espelho, acalmou a
respiração e saiu do banheiro.
Ele se aproximou da mesa em que sua mãe e pai estavam
sentados na varanda. Eles não o notaram, muito envolvidos
um no outro, inclinando-se mais perto, com as mãos ligadas
na mesa. Eles sempre se abraçavam e davam as mãos, mas ele
quase nunca os viu se beijar. Parecia ser agradável para eles
terem seus corpos pressionados juntos, seus dedos
entrelaçados. Romeo não entendia. Se ele deixasse alguém
chegar tão perto, ele veria sua feiura, sua intenção assassina.
Ele forçou os lábios em um sorriso, então deslizou para dentro
da cadeira em frente a eles.
— Me desculpe por isso.
O pai riu. — Você precisava usar o banheiro, não há nada
para se desculpar.
— Verdade. Você está disposta a um café depois da refeição?
A mãe dele assentiu. Ela gostava de café, sempre com uma
pitada de leite e dois açúcares, do mesmo jeito que Romeo
também gostava.
— Sabe, quando você nos convidou para jantar, eu pensei
que você poderia ter um anúncio a fazer.
Romeo franziu o cenho. — Eu tenho. Eu sou chefe da
empresa.
— Ok, não um anúncio como tal, mais... que você poderia
apresentar alguém especial para nós.
— Alguém especial?
— Sim... alguém especial...
— O que sua mãe está tentando dizer é que pensamos que
você nos apresentaria a um parceiro romântico.
Romeo olhou para sua mãe, seus grandes olhos verdes que
pareciam aumentar quanto mais tempo ela olhava para ele. Ele
interpreta para seus pais há anos, os deixam orgulhosos.
Todos os seus triunfos foram celebrados por eles também, mas
gradualmente o orgulho começou a desaparecer e a
preocupação aumentou. Ele não tinha relacionamentos
românticos, e eles haviam notado. Era muito desagradável, ele
poderia perder o controle e ainda não estava pronto para
liberar o monstro.
— Então tem alguém?
Ele viu esperança nos olhos de sua mãe e rapidamente
desviou o olhar.
— Não, nenhum parceiro romântico.
— Eu me preocupo com você.
Romeo olhou de volta para sua mãe. — Não sou eu que você
deveria se preocupar.
— O que?
— Quero dizer, estou feliz como estou. O trabalho, o
apartamento — Romeo apontou para o restaurante, suas
roupas, depois riu. — As coisas boas.
— Mas você não parece feliz.
— Estou sorrindo, não estou?
— Mas não é real, uma mãe pode dizer. Não quero que você
fique sozinho, Romeo, depois que partirmos...
Ele abaixou o olhar. — Nós deveríamos estar comemorando.
— Me preocupo com você. Meu maior desejo é que você
encontre alguém. — Ela apertou a mão do pai dele. — Quero
que você experimente o amor. Ter alguém lá para você, para o
bem, o mal, o feio.
— Definitivamente o feio. — O pai de Romeo disse.
— Nem todo mundo precisa de amor.
A mãe dele recuou. — O que isso significa?
— Algumas pessoas não querem ou precisam de um parceiro
romântico, mas ainda têm vidas satisfatórias. Eles alcançam
seus objetivos.
— Eu entendo isso, mas eles têm amor, sejam amigos ou
família, eles ainda têm amor, companhia.
A camisa de Romeo grudava nele. Ele estava suando e, apesar
de estar sentado na varanda, ainda se sentia quente demais.
— Eu entendi você.
— Mas quando não estivermos mais aqui. Você não tem
irmãos, irmãs, primos, tias, tios ou amigos.
Romeo tomou um gole de água. — Não tente adoçar as coisas.
— Estou falando sério, Romeo.
Ele abaixou o olhar. — Eu sei que você está. Talvez ainda não
tenha encontrado alguém com quem passar minha vida, ainda
há muito tempo, mas por enquanto estou contente com o que
tenho.
A mãe dele desembaraçou a mão dela, depois alcançou a de
Romeo do outro lado da mesa. Ela a segurou e olhou
profundamente em seus olhos. — Prometa que, quando você
o encontrar, nunca deixará ir.
Seus grandes olhos verdes se conectaram com os dele, e ele
sabia que deveria desviar o olhar, interromper o contato visual
antes que ela visse além da fachada, do vazio e da gaiola e do
monstro que espreitava lá dentro. Seus olhos ardiam,
lacrimejavam, e ele não desviou o olhar, mesmo quando ela
franziu a testa.
Ele não se sentia tão perdido desde criança. O desejo integral
de experimentar o que os outros faziam e de não poder.
Sabendo que ele estava confuso por não sentir o que deveria e
por desejar algo sombrio.
— Prometa-me.
Os olhos de Romeo arderam. Seu coração batia forte no peito.
Por que ele não poderia ter nascido com um cérebro normal?
Por que ele não podia amar sua mãe como ela merecia? Toda
a sua existência era feia, só ele podia ver.
Seu pai pigarreou e Romeo piscou.
— Eu prometo que não vou deixar ir. — Romeo disse, depois
puxou a mão e pegou o cardápio de bebidas, escondendo o
rosto. — Então, cafés?
— Parece bom.
Ele espiou sob o cardápio e viu que ela estava sorrindo para
ele. Ele não merecia aquele sorriso, apenas há alguns minutos
atrás, ele estava no banheiro, tentando se controlar. Tentando
ignorar o rosnado em sua cabeça que lhe dizia para matar.
Ficava mais alto a cada dia, ocupando cada vez mais o espaço
em sua cabeça.
Quando Romeo olhou para o café na mesa, era de cor laranja
e veio com um pãozinho.
— Que diabos…
Ele podia sentir o cheiro de sopa, a sopa doce de tomate que
serviam na hora do jantar na prisão. A memória de seus pais
se dissolveu na escuridão. Ele não abriu os olhos, ele queria
que parecesse ainda estar adormecido, ainda sob a influência
do que quer que eles tivessem espetado em seu braço. O tempo
saltou, era de manhã quando o haviam drogado pela primeira
vez, e ele suspeitava que o haviam drogado novamente. Ele
ainda não estava no hospital da cidade.
Chad esteve com o assassino por quatro dias. Por mais de 96
horas ele poderia estar cortando-o, machucando-o. Ele ouviu
o bipe da máquina que ele estava ligado acelerar.
Roma ainda não estava perto de sair da prisão.
A concussão não o levaria a lugar algum. Ele suspeitava que,
se continuasse reclamando, eles o administrariam com mais
sedativos. Romeo precisava alterar sua concussão em algo
imediato, em algo ameaçadoramente sério... um derrame.
Ele abriu os olhos, gemeu e Zander correu em sua direção, a
lanterna pronta.
— Você está se sentindo melhor, Romeo?
— Onde estou?
— A ala hospitalar?
— O que, ala?
— Sim, na prisão.
— Prisão? O que... o que aconteceu?
Zander suspirou. — Você levou um soco na cara.
Romeo tocou sua bochecha, tão inchada que cobriu seu olho
esquerdo. Ele não estava mentindo sobre a visão confusa ou a
dor de cabeça estridente. Ele tomou os comprimidos que
Zander lhe entregou, engolindo-os secos.
— Minha cabeça está me matando.
— Eu imagino que sim.
— O que aconteceu?
— Você foi socado por Justin. — Zander disse em um tom
entediado. Ele estava dizendo muito a Romeo. Ele quase sentiu
pena dele.
— Por que eu estava no corredor?
— Holly Stevenson estava visitando você. Ela está deixando
Hal e Tara loucas na recepção, aparecendo berrando e
gritando, exigindo saber como você está.
— Realmente?
— Sim, ela queria saber o que aconteceu com você, e por que
você não compareceu à sua visita, então eles disseram que
você estava aqui, e ela se acorrentou à cadeira na recepção e
disse que não sairia sem vê-lo. O diretor está estressado.
— Por quê?
— Ela trouxe muitos repórteres do Canster Times. Eles estão
do lado de fora da prisão perseguindo todo mundo, esperando
notícias sobre sua condição. Ela é como uma mulher possuída.
Não, obcecada, Romeo pensou consigo mesmo.
Ele torceu a testa. — Por que... por que estou aqui de novo?
Zander suspirou. — Você andou muito perto de uma cela.
— Uma cela…
— Sim. — Zander olhou para a prancheta e depois para
Romeo. — Precisa de descansar.
Romeo assentiu, afundando de volta no travesseiro.
— Ok — ele respirou.
Zander demorou ao lado da cama e saiu. Romeo precisava
esperar, se ele fosse com tudo rápido demais, Zander ficaria
desconfiado. Ele percebeu que Zander estava preocupado,
podia ver, viu além do seu registro criminal e o olhou como
paciente.
Um paciente que ele estava negligenciando por não receber a
ajuda correta.
****
Romeo avistou o diretor e Paul indo em direção a Zander, sem
dúvida, após uma atualização de sua condição. Romeo fingiu
que não tinha notado e ficou olhando nada até que todos se
aproximaram da cama.
— Você não parou de fingir ainda? — Paul perguntou.
— O que?
— Você não está me enganando.
— Meu braço. — Romeo murmurou.
Zander correu em sua direção. — O que há de errado com
seu braço?
— Eu não posso levantá-lo.
Paul bufou. — Está algemado à cama.
Romeo balançou a cabeça. — Não, não aquele que eu posso,
eu posso sentir esse.
Zander tocou sua mão direita. — Sente isso...
Romeo olhou para ele. — Não, não sei. Eu simplesmente... eu
não posso...
— Está tudo bem, apenas relaxe.
Zander virou-se para o diretor beliscando os lábios,
balançando para frente e para trás nos calcanhares.
— Pode haver algo seriamente errado...
— Como o quê?
— Um sangramento no cérebro... um coágulo. Derrame.
— Derrame. — Paul riu. — Seu rosto deve cair.
— O rosto dele está tão inchado que não acho que saberíamos
se tivesse.
— Derrame? — O diretor disse. — Você não pode lidar com
isso aqui?
— Eu não tenho o equipamento. Não temos ressonância
magnética na ala hospitalar.
— Você realmente acha que ele precisa de uma ressonância
magnética?
Zander abraçou a prancheta no peito. — Ele está
apresentando sintomas de acidente vascular cerebral...
— Exatamente — disse Paul. — Acidente vascular cerebral,
ele está fingindo.
— Ele levou um soco na cara de Justin. Todos sabemos que
seus punhos são letais, seu treinador morreu de uma
hemorragia no cérebro. É por isso que ele está aqui. — Zander
disse.
Paul riu. — E a razão pela qual Romeo está aqui é porque ele
é um psicopata assassino.
Romeo pronunciou algo na direção de Zander. Seus olhos se
arregalaram, e Romeo teve que manter a calma para não rir.
— O que você disse?
Romeo tentou novamente, diminuindo a velocidade das
palavras, falando o mais cuidadosamente possível, sem mexer
a língua. — Minha cabeça parece estranha.
— Está doendo?
— Estranha. — Romeo se arrastou.
Zander voltou-se para o diretor. — Ele precisa de uma
ressonância magnética.
— Ele é um criminoso. — Paul argumentou.
— Ainda temos o dever de cuidar. Ele ainda é meu paciente.
— Ele é um animal...
— É o suficiente. — O diretor disse, encarando Paul. — Eu
vou fazer os arranjos.
— Mas ele está fingindo.
— Ele é um prisioneiro de alto nível e, graças a Holly
Stevenson, esse incidente está em toda a imprensa. Temos que
fazer isso de acordo com as regras, e se ele precisa de
assistência médica externa, então temos que dar isso a ele.
Paul recuou, fervendo e balançando a cabeça.
— O que vai acontecer comigo? — Romeo perguntou. Levou
Zander alguns segundos para entender o que ele pediu, então
ele se inclinou.
— Nós vamos levá-lo ao hospital.
— Você disse que eu estou no hospital.
— Um hospital diferente. Eles poderão nos contar mais.
— Mais?
— Sobre o que está acontecendo em sua cabeça. Eu acho que
você pode ter um sangramento ou uma obstrução.
— Chega dessa merda. — Paul disse quando ele veio em
direção a Zander, tirou o lápis de Zander do bolso e esfaqueou
Romeo no braço. A ponta entrou, mais do que a ponta, pelo
menos meio centímetro de lápis entrou na pele de seu
antebraço.
Todos congelaram.
Pense em Chad. Pense em Chad. Pense em Chad.
Foi preciso todo, todo autocontrole que Romeo possuía. Ele
usou a máscara, olhou confuso para o braço e o lápis saindo,
mas ele não reagiu. Ele não amaldiçoou ou agarrou Paul, e
abriu sua cabeça como ele queria. Ele ficou perfeitamente
imóvel até Paul recuar com a boca aberta e as mãos para cima.
— Eu... eu...
— Isso está formigando. — Romeo sussurrou.
Zander pegou o lápis, estudou o que jorrava e depois lançou
um olhar zangado para Paul. — Você está falando sério?
— Eu pensei que ele estava fingindo.
O diretor se afastou. — Eu preciso fazer os arranjos.
— Ele acabou de me esfaquear com um lápis? — Romeo
perguntou.
— Sim, maldito animal... — Zander disse, antes de
pressionar a ferida.
Romeo não se encolheu, nem fez nenhum sinal externo de que
pudesse sentir, mas por dentro estava uivando de dor. Ele
recebeu a luz verde para uma viagem para o hospital, e isso só
lhe custou um buraco no braço e um osso quebrado no rosto.
O Chad definitivamente valia a pena.
Capítulo Quinze
****
A porta se abriu, Paul alcançou dentro e agarrou o bíceps de
Romeo antes de puxá-lo. Ele tropeçou e teve que ser apoiado
por Fred esperando no pé da escada. Romeo reconheceu o
departamento de emergência, mas não reagiu, ele olhou para
Zander vindo em sua direção, com a prancheta na mão.
— Como se sente?
— O mesmo.
Viu luzes piscando pelo canto do olho, não ambulâncias, mas
carros da polícia. Eles fizeram tudo para acompanhá-lo. Ele
não reagiu, mas manteve a cabeça baixa e deixou Zander guiá-
lo para o hospital. Quando as pessoas olhavam para ele, viam
o macacão laranja, depois a massa do rosto inchado. Era óbvio
que ele era um condenado pelos punhos e roupas, mas eles
não tinham ideia que condenado estavam todos olhando.
— Eles medirão sua pressão sanguínea e farão outros testes
também.
— A tomografia?
— Acho que eles têm tudo preparado para você.
Zander se distanciou e se juntou a um grupo de homens e
mulheres, todos de uniforme. Ele entregou sua prancheta, teve
uma conversa rápida, depois se virou para Romeo e gesticulou
para frente. Sua comitiva seguiu, andando ao redor dele como
se fossem uma rede pronta para pegá-lo.
Eles pareciam relaxar quanto mais ele mancava, sentindo
pena de si mesmo.
— Sou o radiologista Thomas Reed.
Ele estendeu a mão para Romeo, depois retirou-a
rapidamente quando percebeu que suas mãos estavam
algemadas em seu peito. Ele não parecia incomodado por
Romeo ser um criminoso, mais irritado.
— Eu tive que reagendar outras pessoas para isso.
Zander assentiu. — Eu sei, seremos rápidos.
— Acredito que sim. Me siga.
Romeo andou atrás dele, examinando o corredor. Ele sabia
que dois policiais haviam ficado do lado de fora do
departamento de emergência, outros dois esperavam na
recepção, deixando seis policiais o acompanhando até o
tomógrafo.
— Você terá que remover as algemas dele. — Thomas disse.
Paul bufou. — Não há chance disso.
— Nada de metal pode entrar no tomógrafo.
— Você terá que fazer uma exceção.
— As algemas vão quebra-lo.
Ele abriu uma porta e levou Romeo para o tubo branco no
meio da sala. Ele colocou a prancheta que Zander lhe deu na
cama e depois voltou para Paul.
— E ninguém pode estar na sala enquanto acontece.
— Deixe-me ver se entendi. — Paul disse. — Você quer que
eu solte as algemas dele e saia da sala.
— Está certo.
— Sem chance.
Romeo olhou para a prancheta, o lápis tentador. Não era
maior do que os usados nas lojas de apostas. Ele poderia se
esconder em seu punho fechado. Ele se virou para encarar
Paul e Thomas se encarando.
— As algemas vão interferir nos resultados.
Paul olhou para Fred. — Não tem jeito.
— O diretor autorizou isso.
— Eu não vou sair da sala.
— Bem. — Thomas disse. — Você pode ficar na frente da
porta, mas o resto precisa sair e as algemas precisam sair, todo
o metal em você também.
— Como o quê?
— Telefone, chaves, moedas — Thomas apontou para o cinto
de Paul. — O spray de pimenta, o cassetete.
— De jeito nenhum.
— Centenas de pessoas confiam nesta máquina toda
semana. Não correrei o risco de quebrar.
— Bem. — Paul disse, descarregando o conteúdo de seus
bolsos e cinto para Fred. — Feliz?
— Eu estou feliz da vida.
— Você tem abraçadeiras? — Paul perguntou.
— Não, não sei, e ele precisa estar deitado.
— Restrições de cama, então?
— Olha — disse Fred. — Vamos fazer isso rapidamente, para
que possamos colocar as algemas de volta nele e deixar o
doutor Thomas para voltar para seus pacientes.
Paul caiu, depois assentiu. Cinco oficiais deixaram a sala,
deixando Romeo com apenas Paul e Thomas.
— Tire as algemas dele.
Paul amaldiçoou, depois manuseou Romeo até que ele
pudesse chegar aos pulsos. Ele se inclinou para perto
enquanto as desfazia, respirando pelo ouvido de Romeo. —
Não tente nada estúpido.
As algemas estavam soltas. O peso delas se foi.
— Certo, Romeo, deite na cama. — Thomas disse.
Ele girou, com o lápis na mão e o mergulhou direto no braço
de Paul. Ele gritou, segurando a ferida, e Romeo ficou atrás
dele, passando o braço em volta da garganta de Paul,
apertando mais o punho.
— Dói, não é?
Paul lutou, arranhando o braço de Romeo, mas ele não
afrouxou o aperto. Ele apontou o lápis ensanguentado para
Thomas.
— Alguém entra, e eu vou quebrar o pescoço dele.
— Você é um homem louco. — Paul resmungou.
Romeo olhou para Thomas. — Saia e feche a porta atrás de
você.
Ele levantou as mãos, recuando. — Ok, eu vou.
— Faça um pouco mais rápido.
— Que porra você está fazendo, Romeo? — Paul disse.
— Eu vou sair daqui.
— Você ficou preso aqui, há cinco policiais lá fora, dois na
recepção, dois na frente e mais no estacionamento.
— Obrigado por me dizer onde todos eles estão...
— Você não pode sair daqui. Você vai piorar as coisas para
si mesmo.
— Diga-me, Paul, como eu poderia piorar as coisas para
mim? Estou em uma prisão de segurança máxima por matar
quatro pessoas... quatro entre cinco.
— Eu tenho... tenho uma família.
— E se você me conhecesse... saberia que isso não significa
nada para mim.
— Romeo...
Ele apertou mais, Paul lutou, arranhando seu braço, depois
enrijeceu e ficou relaxado.
Não estava morto, mas inconsciente. Por mais que o monstro
nele quisesse matar, ele afastou a necessidade, prometendo
corrigi-la mais tarde. A prioridade dele era encontrar Chad.
Romeo deixou cair o volume pesado de Paul na frente da
porta. Se eles quisessem entrar, teriam que quebrar a porta
nas costas dele.
O tomógrafo tinha a altura perfeita para uma armação de
escalada. Ele pulou na maca e subiu por cima. Romeo ouviu o
primeiro toque da porta e viu Paul saltar para a frente sob o
golpe.
Romeo empurrou o painel do teto, colocou tudo nele até o
retângulo se erguer e depois o deslizou.
O dicionário médico AZ não tinha apenas uma seção sobre
concussões e derrames.
Também tinha uma seção sobre os tomógrafos.
Eles precisavam estar localizados em uma área tranquila do
hospital. Eles tinham um piso de escudo especialmente feito,
um teto suspenso feito especialmente, um que Romeo estava
prestes a escapar. Eles não sabiam para onde ele iria rastejar,
era espesso, a vibração suavizada, eles teriam que adivinhar
em qual quarto ele terminaria.
A porta se abriu assim que ele se levantou através do buraco
no teto. Ele rangeu sob o peso dele, mas ele só precisava
aguentar tempo suficiente para ele rastejar para o próximo
quarto.
Uma sala de espera, ele percebeu quando caiu pelo painel do
teto na frente de muitas pessoas atordoadas.
Ele saiu pelo corredor, limpando a poeira do macacão laranja
brilhante. Ele não seguiu as placas até a saída, era para onde
eles esperavam que ele fosse; em vez disso, ele correu pelos
corredores, subiu e desceu as escadas e ao longo das
passarelas para chegar à enfermaria do câncer.
Ele estava recebendo olhares, mas a maioria das pessoas se
afastou dele quando o viu correndo. Claramente um
condenado, e claramente um balão no lugar do rosto. Ele
imaginou que parecia aterrorizante, não mais o seu eu bonito,
mas mais parecido com o monstro interior.
Houve gritos atrás dele, exigências para ele parar, desistir,
mas por quê? Eles não deram a ele um motivo. O que eles
poderiam ameaçá-lo?
O estacionamento estava próximo bastante deserto. Ele podia
ver as sirenes iluminando o céu, ouvir a comoção no lado
oposto do hospital. Romeo olhou para os campos sem
iluminação. Eles sempre foram sua fuga quando ele matou
suas vítimas, e atravessá-los o encheu de conforto, um
sentimento familiar.
Ele estava indo para casa, não para a fazenda, mas para o
Chad.
Romeo estava indo para salvá-lo.
Ele só precisava descobrir quem o tinha primeiro.
Capítulo Dezesseis
****
A exaustão cansou os membros de Romeo e retardou suas
reações. Seu rosto doía, a ponto de babar, e não percebeu até
tocar no queixo. Ele foi tentado a se enrolar na vegetação
rasteira e dormir com a dor de cabeça, mas temia que, se
tentasse, nunca mais se levantaria.
Ele estava andando até encontrar um acostamento, uma
pessoa desavisada encostada para descansar, então ele iria
atacar.
O sol começou a desaparecer, deixando um intenso brilho
laranja no céu. Ele sempre foi capaz de ver o sol nascer e se
pôr da casa da fazenda, mas também não tinha visto isso na
prisão. Sua hora no quintal era sempre no meio do dia, com o
sol sobre ele. Ele não tinha percebido o quanto tinha sentido
falta dele até vê-lo se pôr, até que olhou para o horizonte, sem
paredes para terminar a vista, ou tela para distorcê-la. Ele
nunca pensou que iria acabar atrás das grades, sempre
pensou que iria superar alguém, sempre um passo à frente,
mas então Chad entrou em sua vida.
Quando Romeo chegou ao acostamento, nenhum carro havia
parado. Ele os ouviu passar, rezando para que alguém
diminuísse a velocidade, estacionasse, o deixasse atacar, mas
ninguém respondeu às suas orações.
Ele ficou esperando, julgando o tempo pelo sol em movimento
e o frio subindo em sua volta. Romeo ouviu uma tagarelice, um
ruído distinto que ele reconheceria em qualquer lugar. Ele
cerrou os dentes, pensou em ignorá-lo, mas depois se virou e
olhou para a pega nas árvores, pulando galho em galho. Não
estava sozinha, havia outra, duas conversando, dando-lhe
olhares curiosos.
— Foda-se, simbolismo flagrante. — Romeo rosnou,
arranhando a lama da vala para soltar uma pedra. Ele apertou
a pedra na mão, incapaz de lançá-la nas duas pegas zombando
dele.
Zombando ou encorajando, Romeo não sabia. Ele deixou cair
a pedra e apertou a cabeça latejante. Ele fechou os olhos pelo
que pareceu um minuto, mas poderia facilmente ter durado
uma hora. O céu estava mais escuro, as pegas desapareceram
e ainda assim ninguém entrou no acostamento.
Seu rosto estava maior e mais apertado do que deveria, mas
não havia como acalmar a dor. Seu estômago se contraiu e teve
um espasmo e, embora estivesse cercado por água, era o mais
sedento que já havia sentido em sua vida.
Enquanto acariciava seu rosto machucado, pensou em Chad,
e na última vez que o viu. Chad disse a ele que precisava de
Romeo. O detetive desapareceu completamente, deixando para
trás um homem quebrado, o homem quebrado de Romeo. O
que ele estava determinado a recompor, apesar das bordas
irregulares e das peças que faltavam. Eles se encaixavam.
Ele tirou a mão do rosto quando ouviu um motor de carro lá
em cima, alguém entrando no acostamento. Ele esperou,
ouvindo vozes, tentando julgar se era mais de uma pessoa. O
motor desligou, uma porta se abriu e um homem correu atrás
das árvores, mais perto de Romeo. Ele não estava a mais de
um metro de distância e desconhecia completamente um
assassino em série à espreita. O homem puxou o zíper da
calça, depois se aliviou contra uma árvore com um suspiro
feliz.
Romeo desceu da vala, os olhos do homem se arregalaram de
pânico e tentou fugir, mas acabou tropeçando. Romeo o jogou
na terra, montando-o para prendê-lo.
— Fique parado ou eu vou te matar. — Romeo avisou.
— O que você quer?
— O seu carro. Eu preciso do seu carro... agora mãos atrás
das costas.
— O que?
Romeo enfiou seu rosto na terra. — Mãos nas costas.
O homem cumpriu. Suas mãos tremiam loucamente quando
Romeo as amarrou com fita adesiva. Romeo arrastou o corpo,
envolveu os tornozelos e depois os joelhos.
— Perfeito. — Romeo disse. — Onde estão suas chaves?
— B... bolso do lado direito.
Romeo bateu as pernas para baixo, sentindo as chaves. Ele
as puxou para fora e sorriu, segurando-as. — Você tem sido
uma grande ajuda. — Ele disse, antes de colocar uma tira de
fita adesiva na boca do homem.
Ele lutou, se debateu, depois Romeo suspirou e o jogou na
vala com o pé.
****
Romeo esperava que a casa de Neil fosse a primeira que ele
encontrasse, mas uma espiada na caixa de correio dizia o
contrário. Sr. Daniel Smith. Ele voltou ao carro roubado e
seguiu pela estrada. Ele abaixou a janela e ouviu latidos na
casa ao lado.
Neil odiava cachorros.
Ele colocou o pé no acelerador quando ouviu uma risada no
quintal seguinte. Eles estavam dando uma festa, o cheiro do
churrasco levava direto ao nariz de Romeo e ele choramingou.
Ele precisava de comida, água e precisava tirar suas roupas
encharcadas de lama. Ele olhou para o tênis, não mais branco
como quando escapou do hospital, mas coberto de lama.
Romeo parou ao lado de uma das casas, estacionando na
beira da grama. Não havia caixa de correio para procurar um
nome, ele estava confiando apenas em sua memória.
Vigas escuras, uma garagem dupla, ele estacionou o carro ao
lado da estrada e foi dar uma olhada. Ele olhou através das
barras, depois ofegou. Em frente à garagem havia um Porsche,
um Porsche com uma placa brilhante.
Romeo riu.
O ex de Chad gostava de brilho nas placas escuras. O Porsche
era diferente, mais novo do que ele enfiara Chad e uma cor
diferente, mas ainda assim Neil insistia em um brilho na placa
escura.
Ele encontrou a casa certa, mas precisava entrar. O portão
era mais alto, armado com um conjunto desagradável de
hastes, mas as paredes às quais estava preso eram menos
sinistras. Sem arame farpado ou estacas, Romeo só precisava
da ajuda das árvores para superá-las.
Ele aterrissou o mais silenciosamente que pôde, mas o
movimento sacudiu e enviou uma dor que atravessou sua
cabeça e sua bochecha. Romeo lutou contra uma onda de
náusea quando cambaleou em direção à porta. Ele esperava
que Neil estivesse bem abastecido com analgésicos.
A porta da frente não estava trancada, Romeo estremeceu,
esperando que ela rangesse e anunciasse sua presença, mas
não o fez. Ele entrou na casa, deixando passos enlameados em
seu rastro. Ele podia ouvir vidros quebrando, armas
estridentes e depois uma piada de estilo hollywoodiano.
Neil estava sentado na sala de costas para Romeo. As luzes
estavam baixas, Romeo podia sentir o cheiro de café e espiou
a xícara sobre a mesa, juntamente com uma caixa de comida
cara.
Mais armas e uma faca ridícula. O herói de Hollywood estava
sem camisa, sem motivo óbvio, coberto de suor e rasgado de
músculos. Alto, moreno e bonito, marcando todos os
requisitos. Ele tinha o vilão preso em uma mesa de bilhar. O
vilão com um sorriso no rosto, dentes perdidos, cabelos
bagunçados.
Romeo revirou os olhos. — Tão clichê...
Neil deixou de descansar na cadeira e sentou-se rígido como
uma prancha. Romeo não lhe deu a chance de se virar, ele
correu atrás dele, apertou o braço em volta do pescoço de Neil
e o sufocou até desmaiar.
Ele deitou Neil no chão, usou a fita adesiva para amarrar os
tornozelos e pulsos, depois colocou uma tira no rosto de Neil.
Ele não podia mais ignorar a dor de cabeça latejante,
abandonou Neil no chão e foi procurar em sua cozinha por
analgésicos.
Ele encontrou alguns em uma cesta no armário, bebendo as
pílulas brancas de alívio com um pouco de água. Seu estômago
roncou e ele lembrou que fazia muito tempo desde que ele
tinha comido qualquer coisa.
Ele torceu o nariz e fez uma careta com o cheiro de sua roupa
- água e lama estagnadas. Antes que ele pudesse comer, ele
tinha que mudar. Romeo lançou um olhar para Neil,
inconsciente no chão, e argumentou que, mesmo que
acordasse, ele não seria capaz de se esquivar da liberdade,
depois subiu as escadas.
Neil gostava das coisas boas da vida. Seu closet era do mesmo
tamanho da cela de Romeo. Ele passou a mão por todas as
camisas e calças mantidas em sacos plásticos transparentes.
Ele pegou um, jogou-o na cama de Neil e depois abriu o zíper
do casaco que pegara emprestado do galpão. Ele tirou o
macacão fedorento e o jogou nos lençóis brancos e limpos de
Neil. As roupas de Neil eram apertadas, mas feitas de um
material agradável, macio e frio contra a pele de Romeo. Ele
encontrou sapatos no armário, um tamanho pequeno demais,
mas seco e livre de mofo.
Quando ele entrou no banheiro de Neil, ele congelou, depois
se aproximou do espelho com cautela. Ele não parecia com ele
mesmo, coberto de sujeira, metade do rosto do dobro do
tamanho que deveria ter e brilhava com tensão. Ele parecia um
boxeador depois que ele passou dozes rodadas no ringue,
depois bufou.
Se Justin não tivesse perdido a paciência e se machucado, ele
poderia ter feito isso profissionalmente.
Romeo pensou em sua foto, sem dúvida em todos os canais
de notícias, e fazendo as rondas nas mídias sociais. A polícia
diria que ele foi visto pela última vez em um macacão laranja,
não no elegante e muito caro terno que ele pegou emprestado
de Neil. O público procuraria um homem bonito vestido de
laranja, não um homem feio de terno.
Romeo lavou o rosto e os cabelos na pia e depois se secou. Ele
não podia fazer nada com sua bochecha, ele só esperava que
eventualmente parasse de doer, ou ele se acostumaria à dor.
****
A geladeira de Neil estava cheia de comidas estranhas e
saudáveis que cheiravam como se estivessem ficando ruins,
mas Romeo não podia ser exigente, ele tinha que fazer uma
visita fugaz a Neil.
Neil começou a se mexer, seus olhos tremeram, ele olhou em
volta, descobriu onde estava e com quem estava, depois
começou a se contorcer, gritando por baixo da fita sobre a
boca. Romeo o ignorou, pegou seu prato com a comida e depois
foi em direção ao sofá quando terminou. Ele tinha um copo de
vinho na outra mão, pronto para lavar a comida de aparência
estranha.
— Espero que você não se importe.
Ele se sentou no sofá, colocando o copo na mesinha lateral.
Neil parou de se mexer e, em vez disso, torceu as sobrancelhas,
abafando algo embaixo da fita. Algo suave, algo trágico. Romeo
suspeitava que ele estivesse implorando e devorava a comida
enquanto observava.
Doía comer com a bochecha inchada invadindo a boca, mas
ele conseguiu, mastigando suavemente e engolindo pequenos
bocados. Foi lento, mas seu estômago gostou.
— Estou quase vinte e quatro horas fora, mas este é o
primeiro momento em que tenho que ficar parado para fazer
um balanço. — Ele apoiou os pés em Neil. — Para relaxar.
Neil olhou para ele com os olhos arregalados, o queixo tremia
e ele soprava ar pelas narinas.
— Vou sentar aqui, deixar minha comida descer e tomar um
bom copo de vinho. Se você se comportar, eu posso não te
matar... entendeu?
Neil assentiu, depois ficou completamente silencioso no chão.
Romeo sorriu para ele e depois terminou o resto da refeição.
Ele tomou um grande gole de vinho e apertou a bochecha.
— Você ouviu que eu tinha escapado?
Neil assentiu.
— Eu não estou parecendo o meu melhor, provavelmente um
pouco diferente da minha foto na ficha policial, um soco na
cara fará isso com você.
A pele estava quente e apertada sob as pontas dos dedos. Seu
rosto estava pesado, como se alguém tivesse grudado algo nele.
— Você sabe, Chad me deu um soco uma vez. Eu pensei que
foi muito duro, rebentou meu lábio, mas foi um golpe de
gatinho comparado a isso...
Ele deixou sua bochecha sozinha e esperou os analgésicos
entrarem.
— Eu vou tirar essa fita da sua boca, se você gritar, vou ter
que te machucar. Compreendeu?
Neil assentiu.
Romeo se agachou, arrancou a fita da boca de Neil e recostou-
se no sofá. Neil amaldiçoou, depois lambeu os lábios doloridos.
Romeo manteve um pé em Neil para mantê-lo quieto.
Ele apontou para o filme que ele fez uma pausa no rosto
zombador do vilão. — Chad não gosta de filmes de ação, e ele
odeia filmes de detetive, ele é mais um tipo de ficção científica.
Neil não disse nada, apenas olhou para Romeo, as
sobrancelhas tremendo, os lábios tremendo.
— Ele gosta desse, como é chamado… Aliens Attack. Você
viu?
Neil balançou a cabeça.
— E ele gosta de programas de perguntas e palavras
cruzadas, e o desenho infantil, não sei como se chama, mas
toda a comida tem olhos e fala, programa estranho, não sabe
por que ele gosta, mas ele gosta. Ah, e ele gosta de paella, mas
sem os camarões, e ele gosta de sorvete, e Malibu com Coca-
Cola e gelo, com um pequeno guarda-chuva no topo.
Neil piscou para ele, parecendo cada vez mais inquieto.
Romeo apertou os lábios. — Nada disso toca algum sino? Não?
Ok, que tal você me dizer algo que Chad gosta.
— Não, não me mate.
— Não seja tão chato, responda minha pergunta.
— Chad gostou desta casa.
Romeo olhou ao redor da sala. — É impressionante se você
gosta disso...
— Ele gostou dos presentes, das festas, das refeições.
— Vamos lá, Neil, tente mais do que isso. Dê-me algo que ele
realmente amou, porque certamente não foi você.
Ele franziu a testa. — O cachorro dele, Toby.
— Sim — Romeo riu. — Estrela de ouro para você. Ele amava
Toby. A única coisa que Chad já amou, até eu, é claro...
— Ele não te ama.
Romeo fez uma careta. — Ele meio que ama...
— O que você quer?
— Você foi a última pessoa a ver Chad.
— Ele veio me pedir ajuda.
— Sim, e você o denunciou à polícia.
— Eles estavam procurando por ele...
— Então você acabou por desistir dele, sem brigar...
— O que você quer?
— Alguém o tem. Ele vai fazer coisas horríveis com ele,
preciso encontrá-lo antes que o faça, entendeu?
Neil não disse nada. Romeo cutucou-o com o pé. — Eu disse,
entendeu?
— Compreendo.
— Então me fale quando ele veio pedir ajuda.
Neil lambeu os lábios. — Ele estava agitado, estressado. Ele
disse que precisava de um lugar para ficar enquanto resolvia a
cabeça. Eu disse que não, a polícia estava procurando por ele.
Mas ele disse que eu devia a ele pelo vazamento do assassino
da contagem regressiva para a imprensa.
— E explorando sua aparente morte, não vamos esquecer
isso. Então o que aconteceu?
— A polícia apareceu uma vez procurando por ele, mas ele se
escondeu no sótão. Disseram que ele era perigoso.
— Chad é perigoso? Não, eu sou perigoso. É assim que um
homem perigoso se parece, é isso que um homem perigoso faz.
— Ele disse, apontando para Neil amarrado no chão.
— As notícias diziam que ele era o próximo assassino da
contagem regressiva, e entrei em pânico, telefonei para a
polícia. Eles esperaram aqui por ele, mas ele não voltou.
— Voltou? Onde ele foi?
— Eu não sei.
Romeo ficou rígido. — Você vai ter que fazer melhor do que
isso se você quiser viver.
— Mas eu não sei para onde ele foi. Ele estava tentando
descobrir quem estava por trás dos assassinatos. Eu disse que
ele deveria se entregar, eles o ajudariam, mas ele não ouviu,
ele continuou falando sobre o caso, os detalhes, as cenas de
crime.
— Você pensaria que ele teria aprendido a não confiar em
você com informações.
— Ele sempre falava sobre os casos quando estávamos
juntos, dizia que isso dava outra perspectiva quando eu ouvia,
quando ele estava fora da estação.
— Então você traiu a confiança dele.
— Eu acho... acho que ele suspeitava de alguém.
— Quem?
— Ele não me disse, mas estava divagando, depois parou de
repente e olhou para mim.
— Olhou para você?
— Sim, como um olhar longo e duro.
Romeo bufou. — Você realmente quer que eu te mate Neil?
— Eu não sei, ok? Como um olhar, uma realização, então ele
se levantou, me disse que voltaria mais tarde e partiu.
— Chad típico — Romeo rosnou. — Ele foi confrontar um
serial killer sozinho... de novo.
Romeo bebeu o resto do vinho e depois se levantou. — Se eu
tivesse mais tempo e mais energia, provavelmente o mataria,
não porque gosto de matar, e sim... mas porque você merece
isso por vender Chad como você fez.
— Eu... me arrependo do que fiz. Eu não estou mais naquele
lugar. Agora tenho um novo emprego, só precisava de algo para
me ajudar.
— Ajudar você?
— Sim. Só fiz isso porque precisava do dinheiro para fazê-lo
feliz.
— Não — Romeo disse, caminhando mais perto, até que seu
sapato descansou no rosto de Neil. — Não para fazê-lo feliz,
essa é sua desculpa. Tudo isso é para você, não para ele. Isso
não está certo?
— Sim... sim.
Romeo cantarolou, pressionando Neil com mais força até que
ele grunhiu. — Você precisava do dinheiro, então traiu o seu
noivo, o homem que alegou amar.
— Eu o amava, eu o amo.
— Não, você não, você não o ama.
— O que diabos você sabe sobre isso?
Romeo se inclinou, aproximando-se do rosto de Neil, perto o
suficiente para ver seu medo com o olho em funcionamento.
— Eu não sei muito, se qualquer coisa, sobre amor. É
estranho para mim. Se eu for honesto, um pouco perturbador,
mas o que eu sei é que se você amasse Chad, você estaria lá
procurando por ele. Você teria feito tudo ao seu alcance,
atravessado todos os obstáculos para encontrá-lo.
Neil fechou os olhos.
— Mas você não fez. Você foi ao Canster Times e teve artigos
escritos sobre ele. Você ganhou dinheiro, sem saber se ele
estava vivo ou morto.
— Ele terminou comigo.
— É assim que você justifica?
Neil não respondeu.
— E no mínimo, quando ele precisava de ajuda, ele foi até
você e você o vendeu novamente, mas agora era a hora da
polícia.
— Ele já tinha ido...
— Você não sabia disso. Você pensou que ele estava voltando.
Ele provavelmente teria se não tivesse sido tão estúpido e
fugido sem apoio.
Romeo se afastou, parando no aparador quando viu as chaves
do carro brilhando.
— Você não pode me deixar assim.
— Você é um dos sortudos, a maioria das pessoas por mim
deixo morta.
— Aonde você está indo?
Ele pegou as chaves. Se a polícia estava atrás dele, ele
precisava ser capaz de fugir rapidamente. Ele gostou de dirigir
o Porsche de Neil pela primeira vez e queria repetir.
— Eu vou encontrá-lo. Obrigado por me emprestar o carro.
Eu vou cuidar dele.
— O carro... espere, deixe meu Porsche em paz.
— Você se importa mais com esse carro do que com Chad.
Você comprou com o dinheiro que ganhou com ele?
Neil não respondeu.
— Bem, agora você pode correr para Marc Wilson novamente
e vender a ele essa história, como o assassino da contagem
regressiva invadiu sua casa, amarrou você e ameaçou você.
— Não é provável.
Romeo parou na porta. — Por que você tem consciência
agora?
— O Marc não trabalha mais para o Canster Times.
Romeo congelou, uma sensação de afundamento se instalou
em seu intestino, e com isso trouxe um frio sob a pele. Ele
voltou para Neil no chão. — Por que não?
— Eles o despediram seis meses atrás.
Uma lembrança da casa voltou a Romeo, os artigos presos à
parede, ele disse à Chad que achava que Marc Wilson era um
fã, mas Chad ficou com raiva, respondeu que Marc era como
ele, com uma bagunça na cabeça.
Marc Wilson, seu campeão, seu glorificador, seu criador de
lembranças.
Neil tentou se esquivar. — Você disse que me deixaria viver.
— Cale-se. Por que Marc perdeu o emprego?
— Eu não sei.
Romeo olhou o máximo que pôde com um olho.
— O boato é que ele foi demitido, algo sobre drogas.
— Drogas?
— Sim, eu ouvi dizer que ele estava tomando todos os tipos.
Quando o conheci no hotel, fiquei nervoso, tenso...
— Porque você estava prestes a trair Chad.
— Marc continuou me oferecendo coisas... algo para aliviar,
me fazer relaxar. Eu não sabia o que era aquilo, não aceitei.
Eu acho que ele piorou, usando drogas para influenciar as
pessoas nas entrevistas... diz-se que foi ele quem deu a James
Clerk sua dose naquela noite em que foi fotografado.
— Ele o montou...
— Seus olhos costumavam brilhar quando eu contava
segredos sobre o caso. Eu podia literalmente vê-lo contando
mentalmente todo o dinheiro que ele ia ganhar.
— Provavelmente os detalhes o excitaram... — Romeo
murmurou baixinho.
— Depois que Chad descobriu, eu disse a Marc que não iria
desistir de mais informações sobre o caso. Ele ficou bravo,
muito bravo, então, como um interruptor, ele foi encantador,
me oferecendo mais - drogas, dinheiro, o que eu quisesse,
tanto que não podia recusar. Ele tem um lado sombrio, e o
Canster Times finalmente percebeu.
— E o demitiu.
— Sim.
— Ele não pode ter ficado feliz com isso... talvez ele se sentiu
como se tivesse perdido todo o controle.
— Provavelmente. Ele definitivamente parecia tenso,
condenado, embora um pouco estranho. Então o Canster
Times esfregou sal na ferida...
— Como?
— Eles deixaram Holly Stevenson assumir o controle dele.
Ele era o mentor dela, eles estavam namorando, em um
momento, mas durante a noite ele perdeu a namorada e o
emprego.
— Holly... — Romeo sussurrou.
— Sim. Não sei por que, mas ela parece ter uma vingança
pessoal contra o Chad.
Romeo levantou a mão, um sinal claro de que Neil deveria
parar de falar. — Estou ciente de seu ódio por Chad. Onde
Marc mora?
— Por que você quer saber?
Romeo pressionou o pé no estômago de Neil, movendo a maior
parte de seu peso para ele enquanto Neil lutava por respirar.
— Ok, ok, eu nunca estive lá, mas é nos arredores de Histon.
Casa Hollytree. Há um monte de grandes propriedades, muita
terra entre elas, todos nomes sofisticados em vez de números.
Eu não podia pagar um lugar lá, mas esse era o sonho.
— Espere, isso soa familiar...
— Familiar?
Romeo estalou os dedos. — O número três morava por lá.
— Número três?
— Georgie Porter. — Romeo disse. — Acho que vou fazer uma
visita a Marc.
— O que? Por que? Você acha que ele é o assassino?
— Eu vou descobrir... ah, e eu quase esqueci.
Romeo acenou com o rolo de fita adesiva na frente de Neil e
cortou uma tira. Ele se inclinou, aplicou-a na boca de Neil e
depois lhe deu um tapinha na cabeça.
— Agora você fica aqui e fica quieto, ou eu terei que voltar e
silenciá-lo para sempre.
Capítulo Dezessete
7
Strange Case of Dr Jekyll and Mr Hyde, no Brasil, conhecido como O Médico e o Monstro,
trata-se de uma novela gótica, com elementos de ficção científica e terror, escrita pelo autor
escocês Robert Louis Stevenson e publicada originalmente em 1886. Na narrativa, um
advogado londrino chamado Gabriel John Utterson investiga estranhas ocorrências entre seu
velho amigo, Dr. Henry Jekyll, e o malvado Edward Hyde. A obra é conhecida por sua
representação vívida do fenômeno de múltiplas personalidades, quando em uma mesma
pessoa existem tanto uma personalidade boa quanto má, ambas muito distintas uma da
outra. O impacto do romance foi tal que se tornou parte do jargão inglês, com a expressão
"Jekyll e Hyde" usada para indicar uma pessoa que age de forma moralmente diferente
dependendo da situação.
Os artigos, os charutos. A próxima coisa que sei é que uma
agulha está sendo enfiada no meu pescoço e acordei na
garagem, acorrentado à cama.
— Tentei lutar com ele, mas acho que ele está drogando a
água. Eu me sinto tão fraco.
Romeo olhou para o copo na mesa de cabeceira. Ele não tinha
certeza de que a água era responsável pela fraqueza, ele tinha
visto a cama, as manchas vermelhas que o corpo de Chad
havia encoberto. Seu domínio sobre Romeo estava suavizando,
suas pálpebras estavam caídas. Chad precisava estar no
hospital, o lugar de onde acabara de escapar.
— Você está bem agora, eu não vou deixar nada acontecer
com você.
— Eu pensei que você estivesse compartilhando segredos
com o assassino. Pensei que você tivesse contado a eles sobre
a pega... sobre você. Como ele soube?
— Ele leu o artigo que Holly Stevenson estava escrevendo em
mim. Eu disse a ela detalhes extras.
— Até a pega?
— Não. Isso foi uma cortesia de Will na cela vizinha ouvindo
meus sonhos.
— Você sonha com pegas?
— Quase o tempo todo, exceto quando eu estava com você.
Eles pararam.
— O que você sonhou quando estava comigo?
— Nada. Era como se minha mente estivesse limpa. Foi
pacífico.
Chad suspirou contra seu pescoço. — Você está realmente
aqui?
— Sim.
— Como?
— Eu tive um derrame.
Chad puxou-se dos braços de Romeo e olhou para ele. —
Estamos mortos, é assim que o céu se parece?
— Claro que não. Quando morrermos, não acabaremos no
mesmo lugar. Agora, nós dois estamos vivos, ambos aqui nesta
sala bagunçada.
— Mas seu rosto? Não achei que o derrame fizesse isso.
— Bem, eles pensaram que eu tive um. Na realidade, acabei
por levar um soco muito forte na cara.
— Jesus. — Chad ofegou, balançando a cabeça.
— Valeu a pena para encontrar você.
Chad ficou rígido ao som de um motor.
Romeo o deixou na cama e espreitou através das cortinas. As
luzes exteriores estavam acesas e o portão da mansão fez um
barulho rodopiante ao se abrir. Houve outro barulho
rodopiante e o carro desapareceu dentro de uma das portas da
garagem. Romeo não tentara esconder o fato de estar lá,
deixara todas as luzes acesas no andar de baixo e imaginou as
câmeras transmitindo diretamente para o telefone de Marc.
Romeo voltou-se para Chad e deu um passo para trás quando
o viu se encolher, hiperventilando.
— Eu prometi a você que não deixaria nada acontecer com
você.
A porta da frente se abriu. Romeo ouviu o barulho de vidro
quebrado. A batida dramática da porta, depois um grito
divertido.
— Espero que você não tenha começado sem mim!
Romeo rangeu os dentes. — Fique aqui.
Ele saiu para o corredor e ouviu os passos de Marc ficarem
mais altos nas escadas. Marc apareceu do outro lado do
corredor, sorrindo de orelha a orelha. Ele usava um terno, seu
cabelo preto estava preso para trás. Seus olhos eram
selvagens, quase maníacos, como os presos que Romeo passou
caminhando na prisão.
— Eu tenho dirigido sem parar desde que você escapou,
esperando que eu te encontrasse.
— Bem, aqui estou eu.
Marc tirou o telefone do bolso e sacudiu-o intencionalmente.
— Peguei você na câmera. Não podia acreditar na minha sorte,
você veio até mim. Há tanta coisa que quero lhe perguntar.
— Sim?
Marc sorriu. — Sim, tipo... por que você tem tanto medo de
pegas?
— Eu não tenho medo.
— Então por que você sonha com elas, grita enquanto dorme.
— Como se eu fosse dizer a você.
— Não seja assim. Você passou por todo esse problema para
escapar apenas para me encontrar, certo?
— Mais ou menos, sim.
— Bem, estou lisonjeado Romeo. Todos aqueles detetives
correndo como idiotas. Talvez seja preciso um assassino para
pegá-lo.
Romeo ouviu um baque atrás dele e lançou um olhar para
trás, para ver Chad mal de pé no corredor.
— A menos que você seja Chad, é claro. Ele sabe como pegar
um assassino, mas quando a lâmpada acende em sua cabeça8,
o assassino o pega.
— Você é meu fã, certo? — Romeo disse, bloqueando Chad
de vista.
— Eu era, até que eu superei você.
— Você não me superou.
— Já estou no quatro — disse ele, depois enfiou a mão no
bolso. Ele pegou o que parecia ser uma caixa de óculos e a
abriu, revelando o bisturi. — Nós somos semelhantes você e
eu, ambos temos nossos desejos. Você me inspirou a viver
minha fantasia, e estou quase terminando. Nós poderíamos
fazer isso juntos.
— Fazer o que?
— Finalmente pegar o que escapou. Cinco era seu alvo, certo?
Eu assumi depois de você e escolhi cinco, e nós dois podemos
concluir nossa contagem regressiva, podemos ter sucesso e
seguir em frente. Talvez começar tudo de novo em algum lugar
novo.
— Você não está tocando Chad.
Marc exalou pesadamente pelo nariz. — Eu li o artigo de Holly
sobre você.
8
Quer dizer que uma pessoa de repente entende alguma coisa ou tem uma ótima ideia.
— Eu aposto que isso doeu, ela assumindo o controle de você.
Ela te mandando embora, nunca te amando do jeito que você
a amava.
— Ela me usou, me traiu, e eu estava com tanta raiva dela,
mas apesar de querer, eu não poderia matá-la, não poderia
machucá-la.
— Por que não?
— Não posso matar o que amo.
— Talvez não sejamos tão diferentes.
— É aí que você está errado. Eu amo Holly e, de certa forma,
tenho que agradecê-la por me deixar atingir o fundo do poço
para me libertar, mas você... você está doente.
— Eu estou?
— Holly escreveu sobre isso no artigo, síndrome de Lima, o
Chad explorou sua doença para se sentir poderoso. Ele está
aproveitando a sua condição.
— Isso é tudo que o amor é - uma condição da qual as
pessoas sofrem. A melhor definição que já ouvi falar, sintomas
diferentes para todos, intensidades diferentes, durações
diferentes.
— Não. Chad envenenou sua cabeça, ele é um tumor e
precisa ser cortado para que você fique livre novamente. —
Marc franziu o cenho em simpatia. — Mas eu só posso ajudá-
lo se você me deixar.
— Eu não quero sua ajuda.
— Nós somos iguais. Você é mau, do lado ruim, e eu estou
bem ao seu lado, mas Chad é um cara legal, a oposição. Do
lado em que estamos confrontados.
— Você está certo, ele é um cara legal.
— E nós somos maus. Eu posso ver nos seus olhos, você sabe
que ele tem que morrer para que você seja livre. Ele é fraco,
nem precisamos drogá-lo para fazer isso.
— Nós?
Marc assentiu, cortando o bisturi pelo ar. — Podemos mata-
lo juntos. Até deixo você estrangulá-lo antes de cortar sua
garganta. Vou tirar uma foto bonita dele.
Romeo ouviu Chad recuando, pelo corredor, derrubando as
molduras da parede. Romeo se virou bem a tempo de vê-lo
recuar para o quarto, os olhos arregalados de medo.
— Vamos — disse Marc se aproximando. — Vamos fazer isso.
— Não.
— Chad vai ser minha maior obra de arte.
— Ele não vai ser o seu nada.
— Todos esses números que eu esculpi em sua carne.
Observando seus grandes olhos lacrimejantes enquanto eu o
fazia e ele não conseguiu se mover. Completamente paralisado,
mas ele podia sentir cada um desses cortes. Eu não terminei.
Eu vou cortar as costas dele, o rosto, as pernas. Depois, cortar
- não queimar - o número um em seu peito antes de cortar sua
garganta.
— Como eu continuo dizendo, você não está tocando nele.
— Será o bisturi que o tocará. O cortará, descascará sua pele
como uma laranja. Ele vai ficar lindo.
Romeo não conseguiu esconder o desgosto do rosto. O sorriso
alegre de Marc caiu e ele parou de acenar com o bisturi. — Eu
tenho que dizer, estou um pouco decepcionado.
— Eles dizem que você nunca deve conhecer seus heróis.
— Estrangulando suas vítimas até a morte, onde está a arte?
Onde está a carnificina e o sangue que todo mundo lê?
— Não se trata de carnificina, sangue ou arte. — Romeo
rosnou, batendo na cabeça. — Trata-se de silenciar isso,
dando o que quer.
— As pessoas dizem que não gostam de violência, isso as
assusta, as repugna, mas você deve ver quantos jornais
esgotaram. Ajudei a compartilhar sua contagem regressiva,
trazê-la para as massas. Eles queriam ler sobre isso, queriam
visualizá-lo, e desta vez eu serei o único a entregá-lo. Não estou
mais sentado atrás da mesa do meu computador, mas o
monstro no artigo.
Ele deu um passo mais perto, olhando Romeo de cima a baixo.
— A questão é: de que lado você realmente está, Romeo? Você
é o monstro que afirma ser?
— Talvez eu não seja um monstro completo, afinal.
— Que decepção.
Marc apressou Romeo, passando a lâmina pelo ar. Ele
levantou o braço para cobrir o rosto, e a lâmina cortou
borrifando a parede branca com vermelho. Romeo tentou
agarrar o pulso de Marc, mas ele lutou com apenas um olho,
não o agarrou de maneira limpa, e Marc se afastou. O bisturi
cortou o rosto ruim de Romeo, fazendo-o gritar, tropeçando
para trás.
— Eu vou te matar e depois vou matá-lo. Bom e lento.
— Você não está chegando perto dele.
Marc bateu-o contra uma porta, que se abriu e Romeo
cambaleou para trás, perdendo o equilíbrio. Ele caiu em um
colchão e Marc estava sobre ele, com o bisturi nas duas mãos,
tentando cortar a garganta de Romeo. Romeo agarrou os
pulsos, tentou afastar as mãos, mas Marc não estava
desistindo, Romeo podia ver o triunfo em seu rosto, a
reviravolta de seus lábios, o rosnado.
Ele ia morrer nas mãos de outro assassino, um assassino que
ele inspirou. A lâmina cortou sua garganta, ele lutou por sua
vida, para impedir Marc de forçar a lâmina, mas suas mãos
estavam escorregando.
Então Chad estava lá, envolvido na briga. Ele prendeu seu
braço em volta do pescoço de Marc e o puxou de volta, cortando
o suprimento de ar de Marc. Chad apertou seu aperto até que
os olhos de Marc rolaram em sua cabeça, ele parou de brigar
com Romeo, largou o bisturi e depois se jogou para trás,
batendo a cabeça no rosto de Chad. Chad bateu no chão com
um baque. Marc ofegou, chiou e depois procurou o bisturi no
colchão.
Antes que ele pudesse recuperá-lo, Romeo estava sobre ele,
com as mãos em volta do pescoço de Marc. Ele estava
fisicamente esgotado, mas o monstro rodou no piloto
automático.
O monstro precisava matar, mais do que nunca.
Ele jogou Marc no colchão, conseguiu montar nele, depois o
estrangulou com as duas mãos.
Marc lutou, arranhando os braços de Romeo. O sangue
escorria do rosto de Romeo para o de Marc, salpicando-o de
vermelho enquanto ele se debatia e se sacudia.
A parte adormecida do cérebro de Romeo despertou, fazendo
seu coração bater forte, sua respiração ficando dura e rápida,
como se ele estivesse zombando do homem que estava embaixo
dele. Seus sentidos se aguçaram, ele sentiu o cheiro de suor,
sangue, ouviu o coração bombear, Chad respirando por perto.
Tudo isso aumentou a emoção em sua cabeça. O monstro nele
não ronronou, rugiu, encorajando-o a pôr um fim a Marc
Wilson.
Ele viu a vida escoar dos olhos de Marc, quase parecia
alimentá-lo, o fez se sentir quase sobrenatural. Havia
novamente o sentimento, a dose de prazer, de felicidade. Ele
não apenas venceu o campeonato ou o Grand Slam, era o
equivalente a ganhar tudo, vencer a vida levando-o.
Romeo lembrou-se de ter lido em algum lugar que ouvir era o
último sentido quando você morria. Ele se inclinou para mais
perto, até que seus lábios estavam nos ouvidos de Marc.
— Meu fã número um.
O corpo de Marc ficou rígido, depois começou a relaxar no
colchão. As endorfinas na cabeça de Romeo continuaram a
fluir, os neurônios, os sinais elétricos - o que quer que
estivessem em sua cabeça, todos alinhados depois de ficarem
distorcidos por tanto tempo, e deram a ele uma alta satisfação
doentia, uma dose de algo errado e intoxicante, uma onda de
drogas escuras. Era bom matar, tinha acontecido com os
outros, mas Marc Wilson levou para outro nível. Ele estava
zumbindo com ele, flutuando, como se pudesse ver a cena de
uma perspectiva diferente, como se estivesse acima de si
mesmo, sorrindo por estar sorrindo, feliz por estar feliz,
experimentando o dobro de tudo. A última pessoa que ele se
permitiria matar. Ele fez isso, ele satisfez o monstro interior,
deu o que ele queria se livrar dele, e ainda melhor do que isso,
ele se certificou de que Marc nunca mais machucaria Chad
novamente.
Porque, por mais que gostasse do assassinato, Chad tinha
que viver.
Romeo não largou Marc até ter certeza absoluta de que estava
morto. Ele não conseguia sentir nada além da sensação
flutuante e difusa em sua cabeça, como se estivesse bêbado
com o poder. Ele era o ceifador, uma força das trevas, ele era
quem ele nasceu para ser.
Ele sentiu Chad atrás dele, inclinando-se para mais perto,
obtendo uma boa visão, mas quando ele se virou para verificar
se estava bem, Chad estava correndo pela porta.
Assim, como se um interruptor fosse acionado, o zumbido
feliz começou a desaparecer, ele podia sentir o latejar na
bochecha, a picada no braço, o corte no pescoço, a intensa dor
nas mãos. Ele soltou Marc, depois flexionou os dedos rígidos.
Quando ele tocou sua bochecha e verificou seus dedos, o
sangue escorreu por eles. Aliviou um pouco da pressão que
fechava seus olhos. O bisturi cortou facilmente o terno de Neil,
pegando seu braço. Romeo cutucou a ferida. Bem, mas
profundo.
Ele olhou para trás na porta, esperando que Chad tivesse
retornado para ele, mas ele não estava lá. Chad havia fugido e
Romeo não o culpava. Acabara de matar alguém bem na sua
frente. Podia ter sido o homem que atormentou Chad por dias,
mas ainda era assassinato, algo que Chad jurou ser contra.
Chad finalmente viu o monstro em ação, não conseguia mais
separar Romeo do assassino da contagem regressiva, e isso o
assustou.
Ele fechou os olhos, respirou fundo várias vezes e esperou o
som de sirenes. Ele voltaria para a prisão depois de finalmente
concluir sua contagem regressiva, mas perderia Chad para
sempre.
Chad não gostaria de visitá-lo.
Romeo torceu o nariz, sentiu o cheiro de algo familiar, algo
que o lembrou de sua casa de infância. Era o cheiro dos
charutos de seu pai. Ele abriu os olhos, virou a cabeça e viu
Chad atrás dele, mão estendida, oferecendo a Romeo o charuto
para marcar sua última cena. O contato visual permaneceu,
os olhos de Chad estavam arregalados, ele estava respirando
pesadamente e depois assentiu.
O zumbido feliz retornou a ele, e quando ele pegou o charuto
de Chad, um calafrio subiu por sua espinha. Seus cabelos
estavam arrepiados e seu couro cabeludo formigava com
sensibilidade.
Chad o viu, todo ele e ele ainda ficou.
Romeo rasgou a camisa de Marc, depois passou a mão pelo
peito livre de manchas.
Chad observou-o marcar Marc com o número um. Seus olhos
não estavam assustados ou repelidos, eram intensos e focados.
Ele não se esquivou, nem mesmo quando o cheiro de carne
queimada atingiu o ar. Ele estava ali perto de Romeo, tão perto
que podia sentir o calor de sua pele, ouvir sua respiração
rápida.
Romeo admirou o número um e congelou no momento, em
sua vitória.
Eles ficaram ali, sem falar ou se mexendo até o cigarro quase
queimar, e Romeo bateu a ponta na mesa de cabeceira. Ele
saiu de Marc, levantou-se e se aproximou de Chad.
As duas narinas estavam ensanguentadas, o torso estava
vermelho e coberto de números fatiados, mas Romeo não se
concentrou nisso. Ele olhou nos olhos de Chad, não mais
sofrendo e torturado, mas impressionado, aliviado, com uma
centelha de algo diferente, algo novo. Chad inclinou o corpo
para a frente e mexeu os dedos nas laterais do corpo, como se
estivesse esperando algum tipo de avanço de Romeo.
Romeo deu a ele na forma de um beijo.
Capítulo Dezoito
****
Seu destino era a costa, as altas falésias de Dover, para ser
exato. Um ponto de acesso, mas não para o mar, areia ou vista,
mas a queda. Não era como se ele não tivesse pensado nisso
antes, terminando tudo, mas o monstro nele se sentiu
enganado por tais pensamentos. A única pessoa que o monstro
o proibiu de matar era ele próprio.
Até Chad aparecer.
Ele parou o Porsche bem na beira e abriu a porta para ouvir
as ondas abaixo. O som o lembrou de respiração áspera,
sofrendo, rouca. Ele olhou para a escuridão sem fim e sua
mente afundou no passado.
A última conversa que ele teve com sua mãe. Ela estava
deitada na cama, frágil da doença. Ela sabia que a morte
estava sobre ela, e seu último desejo era morrer em casa, na
cama que dividiu com o marido. Romeo tinha fixado quadros
nas paredes sob sua instrução. Os três juntos, anos se
passaram ao redor deles.
Romeo cuidou dela até o fim. Quando ela mal conseguia abrir
os olhos, ele descreveu as fotos para ela. Quando ela não podia
mais se alimentar, ele o fez. Ele a ajudou a ir ao banheiro e a
voltar para a cama, quantas vezes ela precisasse. Era óbvio
para ele que ela estava com dor, não importava quais remédios
ela tomasse ela estava sempre sofrendo por dentro e por fora.
O médico havia lhe dito que ela morreria em poucas horas,
mas ela aguentou por dias. Ela queria deixar ir, parar de lutar,
mas não o fez.
O ar assobiou para ela, alimentado por um tanque de oxigênio
ao lado da cama. O único som na sala enquanto eles se
sentavam juntos, esperando. Eles estavam esperando o que
pareceu uma eternidade. O monstro estava ficando
impaciente, roendo sua mente, sabendo que este era seu único
obstáculo, e estava levando uma eternidade.
O coração de Romeo bateu forte em seu peito quando ele
percebeu que ela estava esperando por ele, com dor por ele, e
ele não merecia esse tipo de amor abnegado.
Ele pegou a mão dela e se inclinou para perto da cama, a voz
fantasmagórica em sua bochecha. — Está tudo bem em deixar
ir.
Ela engoliu em seco e sacudiu rigidamente a cabeça.
— Por que não?
Os lábios dela tremeram enquanto ela falava. — Você ficará
sozinho.
Romeo olhou para as mãos deles, as dele comparadas às dela,
pálidas, azuis. Ela havia perdido peso, seus ossos se
projetavam, seus cabelos afinaram. Ela não tinha aberto os
olhos há dias, seu corpo estava se fechando.
— Eu vou ficar bem. — Ele disse.
— Promete? — Ela chiou.
— Eu prometo.
Ela balançou a cabeça, o menor dos gestos, como se dissesse
que não acreditava em Romeo. Ele puxou uma expressão de
dor, pulsou os dedos ao redor dos dela e tentou uma
abordagem diferente.
— Papai está esperando por você. Ele está esperando há
muito tempo.
— Eu sei.
— Então vá até ele. Encontre-o, e apenas como você me disse,
nunca o deixe ir.
— Te deixar para trás?
— Sim. Eu vou ficar bem.
— Um dia você nos encontrará novamente.
Romeo não sabia o que havia além do véu escuro da morte,
mas tinha certeza de que não terminaria no mesmo lugar que
eles.
— Sim, eu vou encontrar vocês dois. — Romeo soltou a mão
dela e lentamente puxou a gaveta da mesa de cabeceira. —
Vamos nos ver novamente, mas você precisa ir até ele primeiro.
Foram vocês dois antes de mim, antes de eu nascer.
— Antes de você se juntar à nossa família.
Romeo franziu o cenho para sua estranha escolha de
palavras, mas não comentou. — Sim, você e ele, e vocês se
amavam. Você era feliz.
— Sim.
Romeo encontrou a velha caixa de charutos de seu pai na
gaveta.
— Sempre o amarei. — Ela chiou.
Ele abriu a tampa, passou os dedos sobre os seis charutos e
pegou um. Ele usou o isqueiro do pai mantido ao lado da caixa,
segurou o charuto em uma mão e a mão da mãe na outra.
— Ele está esperando por você, ele está aí. Você pode ver ele?
A sala se encheu com o cheiro familiar. Fazia muito tempo
que as narinas dele se contorceram com ele, e quando ele se
virou para a mãe, viu os lábios dela se erguerem nas bordas.
— Rupert?
Romeo não falou, ele deixou que qualquer medicamento
induzisse a fantasia que sua mãe estava tendo. Ela não sorria
há semanas, mas estava sorrindo, e seus olhos embaixo das
pálpebras estavam tremendo, como se estivesse olhando para
alguém. Cada vez mais fumaça enchia a sala, mas não era
horrível, era familiar para os dois, agradável de uma maneira
reconfortante.
— Vá com ele.
O perfume e a memória de seu marido quebraram sua
determinação de ficar perto dele.
— Eu ficarei bem. — Romeo sussurrou, apertando a mão dela
pela última vez.
O momento foi pacífico, o momento mais pacífico que Romeo
experimentara em sua vida. O monstro ficou quieto, mudo, e
ele se sentou na sala em silêncio, respirando o cheiro de seu
pai, segurando a mão de sua mãe. A sala escureceu, a entrada
e saída de ar diminuiu, e pouco tempo depois parou por
completo.
Paz por um único segundo para ele e sua mãe.
Então o homem seguiu adiante em sua mente, libertou-se das
correntes e ocupou o centro do palco de sua vida. Ele estava
livre para matar, livre para satisfazer seu desejo sombrio, livre
para ser ele mesmo, e o alívio o fez chorar, o fez ofegar e
rapidamente soltou a mão de sua mãe.
Romeo ouviu as ondas quebrando nas rochas. A queda que
certamente o mataria. Ele não acabaria no lugar em que
pessoas boas iam como sua mãe e pai. Ele cairia nas
profundezas do inferno, não menos do que merecia, mas ainda
não estava pronto para isso. Ele estava determinado a cumprir
uma promessa para sua mãe.
Romeo procurou no painel encontrando uma caneta e um
bloco de notas. Ele pairou a caneta acima da página, pensando
em como iniciar seu suposto manifesto, depois escreveu as
palavras: 'Sou Romeo Knight, também conhecido como o
assassino da contagem regressiva'.
Ele sabia que suas palavras seriam escolhidas, analisadas
repetidamente. Ele tinha que sugerir seu fim suicida, mas não
forçar demais. O carro na beira do penhasco e o artigo de Holly
sobre ele seriam as peças finais do quebra-cabeça, mas ele
precisava ter certeza de que a imagem era real, não falsa.
Romeo fechou o bloco de notas e o colocou em cima do banco
do passageiro. Ele saiu, deixando a porta do motorista aberta,
uma clara sugestão de que ele poderia ter saído do veículo e se
jogado sobre a queda. Ele tirou as roupas de Neil, dobrou-as
cuidadosamente, depois as colocou no banco do passageiro
com os sapatos de Neil prendendo-os.
Ele enrolou o casaco recém-adquirido de Marc em volta de si
e vestiu o tênis menor de Marc.
As bordas do penhasco eram de pedra, e ele não deixou
marcas quando se moveu o mais rápido que pôde para longe
do carro. A pedra não duraria, ele esperava que as pegadas
deixadas para trás fossem descartadas ou ignoradas.
Pela segunda vez em dois dias, Romeo contou com a cobertura
da escuridão para fugir. Ele ouviu sirenes, outro helicóptero,
mas em vez de vir de todos os lugares, eles ficaram em um
ponto, e ele se afastou cada vez mais do Porsche e da visão de
seu aparente suicídio.
Lembrou-se do que lhe dissera na prisão. John Nevison, do
século dezesseis, que fingiu estar morto para escapar. Ele fez
o mesmo, mas, ao contrário de John Nevison, Romeo não seria
pego pela segunda vez, a menos que Chad quisesse que ele
fosse.
Capítulo Vinte
****
Outro sonho.
Ele não matou a pega.
Ele a deixou ir.
A pega foi rejeitada por sua própria espécie, encarada com
medo e suspeita.
Voou.
Mas foi pega por Marc Wilson.
Marc Wilson que quebrou as asas com um sorriso sádico no
rosto. Marc Wilson, que pediu a Romeo para se juntar a ele,
para matar a pega.
Ele se virou para Romeo, sorrindo de alegria, triunfante em
sua brutalidade. Romeo sentiu-se fraco, derrotado, impotente,
não conseguiu chegar a Chad a tempo, não pôde salvá-lo.
A náusea em seu estômago mudou para fogo, para uma raiva
intensa que se alimentou em suas veias.
O monstro se libertou da mente de Romeo, hediondo, maligno,
difícil de se olhar. Ele afundou suas presas e garras em Marc,
rosnou e rugiu enquanto o devorava. Sua vida, a energia que o
monstro almejava, desejava possuir, derramava de Marc
dentro do monstro.
Estava matando Marc e aproveitando cada segundo.
Romeo tropeçou na direção da pega com as pernas trêmulas
e pegou o pássaro quebrado no chão.
Ele o segurou, prometeu consertá-lo novamente, mas desta
vez nunca o deixaria ir.
****
Romeo não acordou gritando ou coberto de suor. Ele
lentamente abriu os olhos, depois olhou para a luz piscando
acima dele, literalmente um holofote que o mostrava ao
mundo.
Sete dias desde que vira Chad. Sete dias desde seu aparente
suicídio no local da queda.
Romeo havia se movido.
Pedindo caronas, e a pequena mudança para desconhecido o
levara pelo país, de volta à cidade de seu crime.
— Você terminou com isso?
Ele olhou para a esquerda, um homem mancando em sua
direção, o saco de dormir enrolado nos ombros, gesticulando
para o jornal no chão ao lado dele. O homem usava luvas como
Romeo, também usava roupas como ele. Ele tinha um pedaço
de papelão pedindo alguma mudança de reposição.
Romeo abriu o jornal, pegou a página central do quebra-
cabeça e esticou o braço para entregar o resto. — Nada de
interessante, ainda sobre Marc Wilson, e aquele cara matador
da contagem regressiva.
O homem bufou. — Eu também não dou a mínima.
Romeo riu e se virou. Ele puxou seu próprio saco de dormir -
encontrado em uma lixeira, até o pescoço. Estava manchado,
cheirava muito mal, mas tudo isso aumentou seu disfarce. Ele
encontrou um novo conjunto de roupas procurando em caixas,
galpões e até rasgando sacolas de caridade deixadas na porta
das pessoas. Ele comprou comida e água com as moedas
lançadas em seu caminho, e seu cartaz de papelão pedia uma
segunda chance.
Qualquer um que o procurasse passaria por sua foto da ficha
criminal. Seu cabelo estiloso, cabelo limpo, grandes olhos
verdes e pele clara. Ele parecia o oposto.
Ele não se barbeava há semanas, seu cabelo estava pesado
por suor e oleoso. Sua pele estava suja, seu rosto tinha um
corte desagradável e, embora o inchaço tivesse diminuído
significativamente, ele podia sentir que sua bochecha não
estava bem.
Qualquer um que pensasse que ele ainda estava vivo, nunca
suspeitaria que ele estava sentado em um ponto de ônibus do
lado de fora de onde ele havia escapado.
O hospital era popular entre os sem-teto, e aqueles com quem
ele falava não se importavam com as notícias. Eles se
preocupavam em superar todos os dias. Manter-se quente à
noite e fresco durante o dia. Nunca sabendo quando eles
comeriam ou beberiam, ou quando alguém poderia atirar em
seu caminho. Essa era a vida deles, e assassinos em série e
detetives não tinham características.
Chad nunca revelou que Romeo fingia ser um sem-teto para
espionar o DI após seu ataque cardíaco. Eles não tinham ideia
de que ele usara o disfarce antes para sua vantagem.
Romeo se virou ao som de uma porta de carro batendo. Ele
reconheceu o carro e as pessoas que saíram dele. Os privilégios
de policiais aparentemente significavam que os detetives não
precisavam estacionar seus carros nas zonas designadas. Eles
apareceriam, subiriam na calçada e exibiriam seus crachás de
identificação, se alguém perguntasse.
Romeo abaixou a cabeça, meio escondido na sua mochila.
Eles andaram pelo caminho em direção a ele, sem poupá-lo um
olhar, nem mesmo percebendo que ele estava lá.
— As pegadas mais longe do carro. Elas são a prova. —
Gareth disse.
O DI parou, bufou, depois se virou para encarar Gareth.
— Sabemos que o tamanho do sapato de Romeo era 10.
Eles estavam a apenas dois metros de distância de Romeo,
discutindo sobre ele.
— Mas a distribuição de peso, como se alguém estivesse
usando sapatos muito pequenos. As pegadas afundaram ainda
mais. Elas se afastaram do penhasco.
— Ele disse a Holly que quando ele terminasse, ele se
mataria. Encontramos o carro que ele roubou na beira de um
penhasco, as roupas que sabemos que ele estava vestindo
estendidas no banco e uma nota de suicídio.
— Tudo muito inteligente, mas besteira.
— O que você está dizendo então?
— Ele planejou. Ele deveria ter roupas no carro e sapatos.
Ele fugiu.
— Então foi para onde?
Gareth sibilou. — Nenhuma ideia.
— Exatamente... olhe, as pegadas são suspeitas, mas podem
ser de qualquer pessoa. Ele estava em contagem regressiva, ele
deveria estar em contagem regressiva para algo, deve ter
havido algum fim em sua cabeça. Tudo isso sugere suicídio.
Holly apoia isso, e até Chad admitiu que na casa da fazenda
Romeo falou sobre se matar uma vez que ele tivesse todos os
cinco.
Romeo franziu o cenho, depois resistiu ao desejo de bufar.
Pega inteligente.
— Eu ainda acho que ele está vivo.
O DI respirou fundo. — Não vá dizer isso ao Chad. Ele está
feliz por pensar que Romeo está morto, sabendo que tudo
acabou. Que ele pode seguir em frente... começar de novo.
— Eu sei.
— Você não pode mais entrar e mexer com a cabeça dele, não
agora que a influência do animal foi finalmente retirada. —
Monstro, Romeo pensou interiormente, revirando os olhos.
Gareth abaixou a cabeça. — Eu não vou mencionar isso.
— A coisa mais importante agora é que o Chad está
melhorando.
O DI começou a andar em direção às portas do hospital.
Gareth suspirou, depois foi atrás dele.
Romeo levantou o rosto do saco de dormir e ficou olhando
para eles. Chad estava feliz pensando que ele estava morto.
Romeo balançou a cabeça. Tinha que ser uma mentira. Sua
pega estava apenas sendo esperta, não era?
Capítulo Vinte e Um
Era arriscado, mas ele tinha que ver Chad, tinha que saber
que estava melhorando. Ele gastava o dinheiro na loja do
hospital, depois explorava os corredores, mapeando
estrategicamente o local um pouco mais a cada dia até
encontrar Chad.
Chad tinha um pequeno quarto no primeiro andar, mas
raramente era deixado sozinho. Gareth e Zac eram seus
visitantes mais frequentes, e pareciam estar em turnos,
certificando-se de que Chad não estivesse sozinho e que
ninguém pudesse chegar até ele.
Romeo colocou dinheiro na máquina de café, olhando de lado
a porta do quarto de Chad. Gareth estava encostado na parede
do lado de fora, batendo no telefone, completamente
inconsciente.
Romeo pegou sua xícara da máquina e soprou suavemente
por cima.
— Você deve estar brincando comigo.
Romeo congelou, era a voz de Gareth, e projetou no corredor
na sua direção. Ele foi pego. Gareth o tinha visto, mas Gareth
não se apressou, nem o derrubou no chão. Seu café não voou,
salpicando a parede. Nada aconteceu, e Romeo se virou
timidamente, mantendo o rosto baixo, meio escondido na parte
superior do moletom. O tom de raiva de Gareth não era
direcionado a ele, mas Holly Stevenson.
Ela tinha uma caixa de chocolates, um ramo de flores e
passou Romeo sem lhe dar um olhar. Gareth se moveu na
frente da porta de Chad e cruzou os braços.
— Eu posso...
— Não, você não pode. — Gareth estalou. — Saia.
— Devo desculpas a Chad.
— Você deve a ele mais do que isso.
— Você não é exatamente inocente, você é. Caçando um dos
seus como um cachorro.
Gareth alargou as narinas. — Saia.
Holly pegou os chocolates e as flores. — Você pode pelo
menos dar isso a ele?
— Vou joga-los na lixeira mais próxima.
— Por favor.
Gareth pegou os chocolates dela e depois leu a etiqueta. —
Você está falando sério?
— Quando ele estiver pronto, ele pode me contar sua parte
da história. Ele pode me contar o que aconteceu entre ele e
Romeo.
— Chad não vai querer falar com você. Ninguém quer mais
falar com você.
— Ele pode limpar o nome dele
Gareth sacudiu a cabeça. — O artigo que você escreveu sobre
Romeo, vestindo-o como vítima e Chad, o vilão. Você perdeu a
cabeça?
Holly deu de ombros. — Eu sou jornalista. Eu procuro a
verdade.
— Nunca disse que não era jornalista. Romeo é perigoso...
— É?
— Foi perigoso. Ele entrou na cabeça das pessoas. Ele entrou
na de Chad, ele entrou na sua.
— Ninguém é cem por cento bom ou cem por cento ruim. Ele
foi incompreendido.
— Chad passou pelo inferno por causa desse monstro, mas
pelo menos ele acordou, saiu do outro lado.
— Eu o conheço.
— Conhecia ele.
Holly sacudiu as flores para Gareth. — Olha, você vai me
deixar vê-lo, ou o quê?
— Não. — Gareth disse. — Fora.
Holly se afastou. — Diga a ele...
— Eu não estou lhe dizendo nada de você.
— Eu estou indo.
— Estou me certificando disso.
Gareth a seguiu pelo corredor, e os dois passaram por Romeo,
muito envolvidos em seu próprio mundinho para notá-lo.
Holly havia lhe dado a oportunidade perfeita.
Ele olhou para a porta que levava a Chad, verificou se Gareth
estava voltando, depois concluiu que poderia entrar
rapidamente e sair do quarto de Chad em menos de um
minuto.
Quando ele empurrou a porta, o choque o atingiu antes de
qualquer alívio. Chad parecia mortalmente pálido, ligado a
máquinas, com tubos entrando no braço. Seus olhos estavam
fechados e ele estava completamente imóvel. Se não fosse a
máquina digitando seu ritmo cardíaco, Romeo teria pensado
que ele estava morto.
— O que diabos Marc estava lhe dando? — Romeo
murmurou, antes de se aproximar.
— Chad?
Os cílios dele tremeram com a voz, e Romeo repetiu seu nome
até abrir os olhos. Nebuloso, confuso. Chad olhou para ele,
franzindo a testa.
— É Romeo.
— Romeo — Ele respirou, fechando os olhos por um segundo.
A máquina acelerou, apitando o ritmo cardíaco acelerado de
Chad. — Fora.
Romeo nunca imaginou que uma palavra machucaria tanto.
— É isso que você quer?
Chad flexionou a mão na cama, a estranha ansiedade
alimentou o maneirismo, apenas mais lento e mais fraco. —
Sim... antes que eles te encontrem.
Romeo exalou trêmulo, depois se atreveu a sorrir. — Você
não quer que eles me encontrem.
— Não.
Romeo se inclinou para mais perto e olhou nos olhos drogados
de Chad. — O que você quer que eu faça?
Chad mordeu o lábio. — Eu sei que não deveria...
— Conte-me?
— Eu quero que você espere por mim.
Romeo segurou sua mão, parando de se mexer. — Então eu
vou esperar por você.
— Você é o único que estava do meu lado.
— Não estamos de lado, estamos no meio juntos. Só eu e
você.
A mão de Chad relaxou na dele e seus olhos se fecharam
novamente. A máquina diminuiu ao ritmo que tinha quando
Romeo entrou pela primeira vez. Soltou a mão de Chad, não
querendo desperdiçar a sorte, e saiu do quarto.
Ele se apressou, pensando que tinha se safado, mas ouviu
passos atrás dele, tentando pegá-lo.
— Ei!
Romeo xingou baixinho. Ele ignorou o grito, correu ainda
mais rápido, mas o homem chamou novamente.
— Desacelere.
Ele tinha duas opções: desacelerar e deixar o homem que o
seguia pegá-lo, esperar diminuir a situação ou fugir,
chamando mais atenção para si mesmo no já nervoso hospital.
A porta não estava muito à frente, cinco metros mais ou
menos, ele poderia atravessar e depois correr. Gareth
empurrou as portas do corredor, os olhos em seu telefone. Ele
começou a levantar a cabeça, verificar para onde estava indo.
Romeo parou e virou-se para encarar o homem que veio atrás
dele.
— Eu te vi antes fora dos quartos dos pacientes
ambulatoriais.
Romeo olhou para o homem, o médico que ele percebeu
quando olhou para o seu uniforme. Ele não parecia com medo,
ou com raiva, apenas preocupado.
O médico bateu em sua própria bochecha. — O que
aconteceu aqui, então?
Gareth passou, embolsando seu telefone. Ele lançou um olhar
para o médico e Romeo, mas rapidamente desviou o olhar
novamente.
— Um bêbado deu um soco em mim.
— Eu posso dar uma olhada.
— Obrigado, mas está tudo bem.
Ele seguiu em frente, mas o médico segurou seu braço,
parando-o. — Deve doer.
— Eu não quero agulhas ou raios-X...
— Que tal eu dar uma olhada em você, e você tem uma cama
adequada para a noite, comida quente.
Romeo hesitou. Era tentador, terrivelmente tentador.
— Eu vou ficar bem lá fora.
O médico suspirou e enfiou a mão no bolso. — Eu pensei que
você diria isso. Pegue estes.
Romeo pegou a caixa de analgésicos dele.
— Eles são apenas analgésicos, não as coisas boas que eu
poderia prescrever se você realmente me deixasse olhar você...
— Obrigado. — Romeo disse, levantando a caixa. — Eu
realmente gostei disso.
— Se a dor piorar ou você tiver problemas para comer, me
avise.
— Eu vou.
Ele acenou com a cabeça em agradecimento, depois
desapareceu pelas portas. Chad queria que ele esperasse, e era
exatamente isso que ele ia fazer.
****
Romeo ficou sentado fora do hospital por três semanas. Ele
só esteve dentro para vê-lo uma vez, não querendo correr o
risco de ser pego. Ele cerrou os dentes quando viu outras
pessoas visitando-o livremente, Kate, Zac, Gareth, o DI, um
detetive que ele não reconheceu, até Neil apareceu, mas ele
entrou e saiu mais rápido do que Romeo podia piscar. O
médico amistoso tentou convencê-lo a dar uma olhada em seu
rosto, mas ele recusou, até que o médico o procurou no ponto
de ônibus. Ele deixou o médico olhar ele, o tempo todo
esperando o momento em que ele perceberia quem ele era, mas
isso não aconteceu. Ele deu a Romeo alguns analgésicos mais
fortes, e algo para o inchaço, e Romeo agradeceu. Ele ficou
tentado a perguntar ao médico sobre Chad, mas mordeu a
língua para não fazê-lo. Isso teria acendido as suspeitas do
bom médico.
Então, um dia, quando Romeo estava pensando em invadir os
painéis do teto de Chad para checá-lo, Chad saiu pelas portas
da frente e o coração de Romeo parou em seu peito.
Ainda fantasmagórico, pálido, cabelos desgrenhados e
mandíbula espinhosa, mas ele estava ereto, não mais
balançando com fraqueza, mas olhando para o outro lado da
estrada. Ele se virou e, em vez de ignorar a presença de Romeo
como todos os outros, Chad olhou diretamente para ele. Seus
olhos se encontraram, e um sorriso suave ergueu os lábios de
Chad. Romeo sentiu novamente a vertigem no peito, a
sensação estranha, indescritível e incomensurável que sempre
sentia quando Chad o visitava na prisão. Aquela que o fez rir
baixinho, desviar o olhar e corar, envergonhado por sua
estranha reação.
Chad caminhou em sua direção, sorriso crescendo, os olhos
ficando mais vidrados, então ele parou repentinamente. Zac
saiu do hospital e agarrou o braço de Chad.
— Onde diabos você está indo?
— Eu precisava de um pouco de ar.
Zac soltou Chad, depois olhou em volta. Seu olhar varreu
Romeo, mas ele não reagiu, não havia reconhecimento em sua
expressão, mas Chad o impediu de tomar outro olhar por
precaução.
— Diga-me, sim? Eu estava preocupado.
— Você não precisa se preocupar comigo.
— Mais fácil falar do que fazer. Acabamos de recuperar
você... de novo.
— Eu não quero ser rude, mas estou cansado da visão de
você e Gareth.
Zac riu, inclinando-se contra a parede. Chad o seguiu,
certificando-se de que ele estava entre Zac e Romeo a alguns
metros de distância no chão.
— Estamos preocupados com você.
— Não há necessidade. Estou bem.
— Você não está bem, e ninguém espera que você esteja.
Chad não disse nada de volta.
— Eu não te disse, mas... fui ver Romeo na prisão.
— Sim?
— Eu pedi para ele deixar você ir.
Chad apoiou a parte de trás da cabeça na parede. — E o que
ele disse?
— Bem, estou parafraseando, mas basta dizer que não.
Romeo olhou para o lado do rosto de Chad, captando um
sorriso antes de controlá-lo, forçando-o a voltar.
— Ele deixou você ir no final. Você está livre de novo e, de
certa forma, confusa, agradeço a ele por isso. Por não... voltar
para a prisão e amarrá-lo, ou fugir, mantendo-o sempre
pensando. Ele deu um fim ao que aconteceu entre vocês, e
acho que você precisava.
— Prefiro pensar nisso, pois ele me deu um novo começo.
— Sim, isso funciona também.
— E para este novo começo, eu tenho que começar em algum
lugar novo, também.
— O que? — Zac se afastou da parede e ficou na frente de
Chad. — O que você quer dizer?
— Eu não posso ficar aqui, Zac, não com tudo o que
aconteceu.
— Romeo e Marc... ambos se foram.
— Minha equipe se voltou contra mim. A imprensa se voltou
contra mim. Todo mundo que contou suas histórias sobre a
minha infância, todo mundo que descobriu que eu visitei
Romeo, se voltou contra mim também. Não posso continuar
trabalhando ou morando aqui. Eu preciso me afastar, começar
de novo.
— Onde você irá?
Chad respirou fundo. — Apesar dos erros que cometi, minhas
escolhas questionáveis, minha mente sendo revirada,
distorcida e remodelada para o que diabos é agora, ainda me
sinto uma boa pessoa, pelo menos uma parte de mim é.
— Você é.
— E eu sou bom em pegar bandidos, às vezes eles me pegam.
— Chad riu e balançou a cabeça. — Ainda quero pegar
criminosos, agora mais do que nunca, para corrigir meus erros
e encontrar algum tipo de equilíbrio. Talvez um tipo de
justificativa, quanto mais assassinos eu pegar, menos culpa
sentirei por todo o resto.
— Você não precisa se sentir culpado.
— Sim, eu preciso. Confie em mim, sim. Vou pedir uma
transferência, uma cidade diferente, uma estação diferente e
uma equipe de homicídios, desde que eu passe na avaliação
psicológica. Eu preciso ir a algum lugar distante.
— Todo mundo no país sabe o que aconteceu, você não pode
fugir ou esconder.
— Não, mas será menos pessoal em outro lugar. Os holofotes
em mim se desviarão para outra pessoa. Outro assassino sairá
das sombras causando estragos e, eventualmente, as pessoas
esquecerão o meu passado e o que aconteceu comigo. Eu posso
ser... Chad, o detetive com o segredo sombrio.
Zac bufou, depois se recostou na parede. — Se é isso que
você quer, realmente quer, então deve tentar.
Chad levantou o braço e puxou a etiqueta do hospital em volta
do pulso. — Primeiro, eu tenho que sair daqui.
— Não fale sobre fugas. Você soube que houve outra tentativa
na prisão de Romeo?
— O que aconteceu?
— Alguns condenados fingiram que eles tinham meningite,
até picaram seu corpo com uma agulha para que parecesse
uma erupção cutânea, o estágio final. Eles foram
extremamente cautelosos após a fuga de Romeo, e eles nem
conseguiram sair do hospital da prisão.
Romeo bufou. Uma parte dele, a menor parte possível, se
sentiu mal por Will.
— Fingir uma emergência médica para chegar ao tomógrafo
de ressonância magnética, é inteligente.
Romeo sorriu com o elogio.
— Eu não deveria dizer isso, mas estou feliz que ele tenha
saído.
— Eu também.
— E estou feliz que ele se foi.
Chad não respondeu.
— Vai ser uma droga sem você. Você é o único detetive que
não acho que seja um idiota total.
— Obrigado, Zac, isso significa muito.
Capítulo Vinte e Dois
****
Romeo passou a vida lendo pessoas e aprendendo com elas
como deveria reagir. Ele viu a mãe abrir presentes de seu pai
no Natal e no aniversário dela, aprendeu que o olhar de olhos
arregalados e maravilhados faziam maravilhas. Ele encontrou
o meio termo entre reagir demais e não o suficiente, e todo
Natal e aniversário ele colocava seu comportamento em
prática. Seus pais sempre compravam seu espanto, surpresa,
felicidade. Ele poderia fingir facilmente com sua expressão e
voz.
Agachado do lado de fora da janela do hotel, o coração
batendo forte no peito e a falta de ar o deixando tonto, ele não
precisava fingir suas reações. Era assim que as outras pessoas
se sentiam quando estavam prestes a conseguir algo que
realmente queriam. Era horrível e emocionante ao mesmo
tempo.
As cortinas estavam fechadas, e ele não podia ver nenhuma
luz espreitando através das aberturas. Chad havia lhe dito
21:00, mas ele não tinha relógio, e tinha que adivinhar. Ele se
agachou atrás de um arbusto pelo que pareceu pelo menos
uma hora, transbordando de antecipação.
O hotel era econômico, a trinta quilômetros da cidade. A tinta
lascava no peitoril da janela, havia rachaduras nas paredes e
um dos pisos de vidro da recepção estava coberto com tábuas.
Sem câmeras, quase sem pessoas, e apenas alguns carros
espalhados pelo estacionamento.
Romeo tomara cuidado no táxi para não dar uma olhada no
motorista. O motorista quase o recusou, mas quando ele
mostrou o dinheiro, sua careta se transformou em um sorriso
e ele recebeu Romeo na parte de trás do carro. Ele manteve o
saco de dormir perto do rosto e pediu que o rádio fosse ligado
para evitar conversas embaraçosas.
A luz apareceu nas bordas da cortina, Romeo se endireitou,
desejando que elas se abrissem, desejando que Chad estivesse
lá. Ele ficou de pé, atraído para o quarto e, quando as cortinas
foram abertas, Chad deu um pulo para trás em choque,
tropeçando na cama.
Romeo riu, ele não poderia ser uma visão bonita, sabia que
Chad pulando fora de sua pele deveria ser justificada, mas ele
esparramado no chão era definitivamente divertido.
Chad abriu a trava da janela, Romeo verificou atrás dele para
se certificar de que ninguém estava olhando, depois entrou no
quarto.
Chad tinha o mesmo sorriso tímido, os mesmos maneirismos
e incertezas que ele tinha ao visitar a prisão.
A mesma excitação estranha encheu os dois, terminando em
olhares desviados e risadas suaves. Romeo quebrou o impasse
estranho, puxando Chad em um abraço firme.
Chad pressionou contra ele, e Romeo sorriu quando sentiu o
coração de Chad bater tão freneticamente quanto o seu. Ele
relaxou em Chad, e Chad relaxou nele até que um suspiro
satisfeito roçou o pescoço de Romeo.
— Obrigado. — Chad murmurou.
— Pelo que?
— Sair da prisão, descobrir onde eu estava e matar...
— Continue.
— E por matar Marc. Todo mundo virou as costas para mim.
Você fez o impossível e me salvou.
— Acabou, e acho que foi mútuo. Marc quase me venceu.
— Eu o vi apunhalando você, e eu apenas... — Chad
balançou a cabeça. — Não consigo imaginar minha vida sem
você. Não quero minha vida sem você.
— Nós dois ainda estamos aqui.
— Foi tudo tão rápido e nebuloso, e depois eu realmente não
tive a chance de agradecer, de falar com você.
Romeo bufou. — Não, sua mente parecia estar em outro
lugar, ou devo dizer que seu sangue parecia fluir em outro
lugar...
— Eu não sei o que foi isso, minha cabeça estava girando, eu
precisava...
— Você não precisa explicar.
— Bom, porque acho que não posso.
— Sinto muito por ter deixado você para trás.
— Isso machucou.
— Se é algum consolo, também me machucou.
— Para onde vamos a partir daqui?
— Quero dizer, o quarto é horrível, mas a cama parece
aceitável.
Chad bufou. — Eu quis dizer, depois... da cama.
— O que você decidir.
Chad se desvencilhou das garras de Romeo e olhou para ele.
— O que isso significa?
— Eu farei o melhor para você. Se você quiser que eu saia
das sombras, seja preso e volte para dentro, eu o farei.
— Não. — Chad disse, balançando a cabeça. — De jeito
nenhum.
— Então me diga, Chad. Eu esperei por você, agora o que
você quer fazer a seguir?
Suas sobrancelhas se uniram em pensamento, então ele
levantou a cabeça.
— Primeiro, quero processar o Canster Times em todas as
frentes pelos artigos que escreveram sobre mim.
Uma pontada de algo como culpa retorceu o estômago de
Romeo, mas ele não admitiu nada. — Boa ideia.
— E então eu vou me candidatar a um emprego de detetive
em Poole... longe daqui.
— Também é bom.
— Vou pegar uma casa, afastada da estrada, longe de outras
casas.
— Como uma casa de fazenda?
— Sim, talvez. E... eu quero que você esteja lá.
Romeo sorriu. — Sim?
— Eu sei que ficar trancado em uma fazenda não faz muita
diferença em ser trancado.
— Está brincando né? O quarto em que estamos agora é
quatro vezes maior que a minha cela. Fui autorizado a sair por
uma hora e não tinha entretenimento. A única coisa que me
fez continuar foram suas visitas.
— Ainda assim, mantendo você em uma casa, como se você
fosse um animal de estimação... como um cachorro.
Romeo bufou. — Vai funcionar por agora. Além disso, tenho
certeza de que Poole tem uma população de sem-teto, homens
de negócios e agricultores, e qualquer outro disfarce que eu
possa inventar.
Chad engoliu alto. — E não mais... matar?
— Eu completei o que me propus, recebi meu limite de cinco.
— Mas impulsos... desejos, compulsões, o que quer que seja,
eles não desaparecem.
— Mantive minha necessidade em grande parte da minha
vida, posso fazê-lo novamente.
Chad não pareceu convencido e Romeo suspirou. — Eu
poderia te perguntar a mesma pergunta.
— O que?
— Os impulsos, desejos, compulsões de um detetive, de ser
um bom rapaz. Como eles podem ir embora? Como você pode
deixar de lado quem eu sou?
— Você é a exceção.
— Eu sou a exceção de Chad, então o detetive fecha os olhos.
— É estranho quando você fala assim.
— Como o quê?
— Como se eu fosse duas pessoas diferentes.
— É assim que você pensa de mim, não é?
— Mais ou menos.
— Eu sou o monstro e parte de mim quer... matar — disse
Romeo lentamente, esperando Chad reagir. Ele nem piscou, e
Romeo sorriu antes de continuar. — E Romeo que quer mantê-
lo vivo.
— E eu sou o detetive, parte de mim quer detê-lo, e Chad que
não pode... não, não viverá sem você.
— Somos todos pedaços quebrados, irregulares, afiados,
desiguais, mas de alguma forma nós quatro nos encaixamos.
— Irregular, afiado, desigual, você perdeu fedorento.
Romeo estreitou os olhos. — Você está tentando ser
engraçado de novo?
— Estou falando a verdade. Eu tenho roupas, comida, água,
analgésicos. Eu não sabia o que você precisava.
— Só você.
Romeo sorriu, depois se inclinou para beijá-lo, mas Chad
evitou sua boca e se virou, puxando a mão de Romeo. — Aqui.
Ele deixou Chad levá-lo ao banheiro e olhou para a mochila
que Chad havia comprado para ele. — E pasta de dente, gel
de banho, lâmina de barbear, desodorante...
— Você está dizendo que não me quer assim?
Chad deu um sorriso tímido. — Eu pensei que você iria
gostar. Não pode ter sido fácil dormir fora do hospital.
Romeo deu de ombros. — Eu queria estar perto. Queria que
soubesse que não tinha abandonado você.
— Obrigado.
Romeo assentiu e abriu a mochila de Chad. A primeira coisa
que viu foi uma escova de dentes e um tubo de pasta de dente,
e ele agarrou com ansiedade, depois correu para a pia. Ele
gemeu ao escovar, os olhos girando nas órbitas. Uma vez não
foi suficiente. Ele esfregou os dentes e a língua até que cada
vez que respirava, sentia o frescor de hortelã em suas narinas
e garganta. A hortelã estava tão feroz que seus olhos
lacrimejaram e seu nariz tremeu.
— Se sente bem?
— Sim. Especialmente quando eu sei que você vai me deixar
te beijar agora.
— Não exatamente.
Romeo olhou duas vezes quando se pegou no espelho. —
Uau…
Sua barba por fazer cresceu. Seu cabelo estava alguns
centímetros mais longo do que ele preferia. Sua bochecha
parecia afundada, a pálpebra pendia mais frouxa, e a cicatriz
estava profundamente gravada em sua pele. Ele parecia
horrível, e Chad de pé ao lado dele, com a pele clara, o novo
corte de cabelo e a camisa branca limpa, zombava dele.
— Agora, quem é o bonito?
Chad parou de arrumar os artigos de higiene ao lado. — Você
continua lindo.
Romeo apontou para o rosto dele. — Realmente?
— Como você me descreveu uma vez? Perfeitamente
imperfeito.
— Então você está me chamando de imperfeito então.
Chad revirou os olhos. — Vamos lá, eu sei que o chuveiro
está enferrujado, mas espero que pelo menos tenha água
quente.
— Um banho quente. — Romeo gemeu. — Parece bom
demais para ser verdade.
Chad arregaçou a manga e girou o botão. Ele manteve a mão
sob o spray, franzindo a testa em concentração, então seu
olhar se suavizou e ele sorriu.
— Pronto para você.
— Você está tão ansioso para me ver nu?
— Vá para o chuveiro.
Romeo sorriu, depois se despiu. Suas roupas imundas
atingiram o chão com um baque surdo. Chad entregou o
xampu e o gel de banho, e Romeo passou a esfregar o corpo.
Não era o spray mais poderoso, mas arrancava o suor e a
sujeira da carne de Romeo. Ele usou o xampu e o gel de banho
de Chad até que as garrafas estivessem quase vazias o
suficiente, e ele cheirava a Chad. Ele gemeu quando esfregou
o cabelo, sentindo a oleosidade sair diretamente dele. Seu
couro cabeludo formigava e ele penteou o cabelo para trás com
os dedos, satisfeito com a limpeza.
Chad encostou-se na parede do banheiro, vendo Romeo se
ensaboar. Seus olhos estavam cheios de luxúria, mas ele não
se aproximou. Mesmo quando Romeo estendeu a mão, Chad
não se aproximou do chuveiro. Ele pestanejou, depois apontou
para a porta. — Eu vou e...
— Não. Você vai tirar a roupa e se juntar a mim.
— Eu não acho que seja uma boa ideia.
Romeo se inclinou para fora do spray. — Por que não?
— O que ele fez comigo...
— Venha aqui.
Chad balançou a cabeça.
— Eu disse, venha aqui.
Romeo curvou o dedo, encorajando Chad a se aproximar. Ele
deu um passo e depois congelou. Com o rosto franzido, ele não
olhou para Romeo, mas se virou e fugiu pela porta. Romeo
alargou as narinas, saindo do chuveiro. Ele não se incomodou
em desligá-lo ou em secar-se; ele saiu direto do banheiro, um
homem em uma missão.
— Romeo...
— Dispa-se.
— O que?
Ele balançou a cabeça, jogando gotas por toda parte. — Tire.
Chad olhou para os botões da camisa, mas não fez nenhum
movimento para desfazê-los.
— Bem. Vou tirá-la então.
Romeo fez um rápido trabalho nos botões, mas quando tirou
a camisa dos ombros de Chad, ele teve que fazer uma pausa e
ver o torso de Chad.
Ele viu o que Marc havia feito com ele, as marcas, as linhas
onde o sangue correu e escureceu, mas de alguma forma era
mais chocante sem o sangue, vendo apenas números puros
cortados e esculpidos na carne pálida de Chad. Eles se
destacaram, exigindo a atenção de Romeo.
— Veja — disse Chad, lutando para vestir a camisa
novamente.
— Espere, espere, espere.
— Mesmo você não os suporta.
— Pare. — Romeo disse, segurando a camisa de Chad com
as duas mãos. Chad estava lutando, tentando se afastar. —
Não...
Ele desistiu da luta e deixou Romeo tirar a camisa
completamente. Algumas das feridas ainda estavam
enfaixadas, os números que Marc arrancou, em vez de apenas
cortar.
Toda uma massa confusa de emoções girou na mente de
Romeo, ele teve dificuldade em decifrar todas, não fazia ideia
de como as pessoas normais lidavam quando eram
confrontadas com situações complicadas. Quanto mais ele
demorava para dizer algo tranquilizador, mais Chad se
inclinava para frente e abraçava seu corpo.
Ele segurou o rosto de Chad e o levantou até que seus olhos
se encontraram. — Você sabe que eu te amo, certo?
Chad arregalou os olhos. — O que?
— Eu realmente não sei o que é, mas acho que é a palavra
apropriada para resumir como me sinto sobre você. Uma
palavra simplista para algo que é incomensuravelmente
complexo.
— Você me ama?
— Você acha que eu levaria um soco na cara de um boxeador
por qualquer um?
Chad riu.
— Você acha que eu teria permitido que alguém me
apunhalasse com um lápis...
— Espere, alguém te apunhalou?
— Ou subir pelos painéis no teto do hospital, ou rastejar
através de valas, ou escalar muros, ou amarrar ex-noivos, ou
ser fatiado com um bisturi. Você acha que eu faria isso por
alguém?
— Espero que não. — Chad riu.
— Isso... — Romeo disse, tocando os números no peito de
Chad. — Isso nunca vai tirar o que eu sinto por você. O que
eu faria por você e realmente faria qualquer coisa para mantê-
lo vivo.
Romeo colocou os dedos por cima da calça de Chad e o puxou
para mais perto. — Tudo bem com você?
— Faria diferença se eu não estivesse bem com isso?
— Não faria diferença alguma. Agora... estou com fome.
— Eu tenho café, lanches das máquinas de venda automática
— Você sabe muito bem que eu não quis dizer esse tipo de
fome.
Os lábios de Chad se ergueram em um sorriso torto. — A que
tipo de fome você está se referindo?
Romeo sorriu e segurou a bochecha de Chad. Quando Chad
abriu a boca, parecendo que estava prestes a falar, Romeo
engoliu seus murmúrios e deslizou a língua juntos.
Romeo gemeu com a sensação, e seu estômago revirou
enquanto se acostumava com o gosto de Chad. Doce, dando
água na boca. Ele beijou mais fundo, até que a barba por trás
de seus lábios pressionou Chad, até que foi desconfortável
para os dois. Isso adicionou uma nitidez à suavidade do beijo,
e Chad ficou na ponta dos pés, pressionando de volta,
incentivando a erupção de barba que certamente daria uma
decoração à sua pele.
Romeo manobrou Chad, antes de afastá-lo, empurrando-o
para trás na cama, até que Chad entendeu, mexendo-se e
esperando por ele. Ele colocou os braços sobre o peito,
escondendo o máximo de cicatrizes possível.
Romeo balançou a cabeça. — Braços ao seu lado.
Chad hesitou, depois cedeu ao olhar de Romeo. Ele moveu os
braços, expondo as gravuras vermelhas no peito. Números
ordenadamente cortados, gritantes na pele de Chad.
Ele se inclinou, soltou a calça de Chad e a puxou pelas
pernas. Em seguida, foram as meias, depois a cueca, até Chad
ficar completamente nu, fixado em Romeo, imaginando o que
faria a seguir.
Ele deu um sorriso tranquilizador a Chad, depois se juntou a
ele na cama. Romeo beijou o corpo de Chad e depois levantou
novamente. Ele não se esquivou das cicatrizes e marcas, ele as
lavou com atenção, reivindicando de volta o que lhe pertencia.
Chad não pertencia a Marc Wilson, não fazia parte de
nenhuma das suas contagens decrescentes. Ele era Chad,
quebrado, corrompido, mas bonito, irresistível e de Romeo, não
o monstro em sua cabeça.
Todo som suave que Chad emitia inundava a cabeça de
Romeo com desejo. Ele mapeou o corpo de Chad com a boca e
as mãos, enrolado sobre ele como um animal possessivo,
acalmando suas feridas. A pele dos joelhos de Chad era áspera
na língua, e o remendo atrás da orelha era o mais macio. O
gosto de sua boca era doce, mas o gosto almiscarado de seu
pênis fez Romeo balançar para frente e para trás em
frustração. A pasta de dentes tinha sido divina, mas o gosto de
Chad era pecaminoso. Ele brincou com sua língua e os lábios
até Chad agarrar um punhado de seus cabelos e gemer até o
teto.
— É o suficiente.
— O suficiente?
Chad não abriu os olhos, mas virou a cabeça, falando para o
canto da sala. — Lá, minha mochila. Lubrificante está no bolso
da frente.
Romeo voltou momentos depois, esfregando lubrificante na
cabeça de seu pênis. Ele gemeu, gostando um pouco demais,
depois pegou Chad. Ele empurrou os dedos, abriu-os, girou-
os, até que Chad não aguentou mais, até que ele estava
gritando tão alto, que estava em perigo de chamar a atenção
para o quarto deles.
Chad puxou urgentemente seu braço, Romeo deixou-o tê-lo,
depois franziu a testa quando Chad pressionou a mão na
garganta, uma indicação de que ele queria que ela fosse
apertada.
O pulso de Romeo disparou, Chad estava provocando o lado
monstruoso dele, desafiando-o a sair. Ele não sabia se Chad
tinha algum tipo de desejo sádico de morte, ou se tinha fé na
ideia distorcida de amor de Romeo. De qualquer maneira, era
perigoso, mas emocionante, e o pênis já duro de Romeo ficou
incrivelmente mais duro até que se tornou doloroso.
Romeo fez o que Chad desejava, cortando o ar até que seu
rosto ficou vermelho e o ar entrou e saiu de sua boca. Ele podia
sentir o pulso de Chad martelando contra a palma da mão
enquanto ele deslizava em seu corpo.
Chad abriu os olhos, com o rosto vermelho e ele se rendeu.
Romeo olhou nos olhos de Chad, fixado no brilho de algo
diferente, algo mais sombrio que apareceu ali depois que ele
matou Marc. Ele colocara uma lasca na bondade de Chad, mas
isso não o diminuía, agregava seu valor, agregava sua
singularidade.
Ele soltou a garganta de Chad, observou fascinado as
bochechas coradas de Chad voltarem ao normal, e ele respirou
rapidamente algumas vezes antes de se nivelar.
As sobrancelhas dele se contraíram em decepção, mas antes
que ele pudesse expressar, Romeo apertou mais a garganta de
Chad. Ele empurrou seu pênis profundamente no corpo de
Chad roçando sua próstata.
Os olhos de Chad rolaram, um arrepio percorreu seu corpo
de cima para baixo, e a cor tingiu suas bochechas. Ele sempre
gostou de brincar com a mente de Chad, mas brincar com seu
corpo parecia quase hipnótico.
Romeo provocou o suprimento de ar de Chad, fazendo-o
esperar mais tempo cada vez antes de lhe dar uma dose de
oxigênio. Os olhos de Chad estavam cada vez mais perdidos,
os arrepios eram quase constantes, e a umidade entre eles
convencia Romeo que Chad já havia gozado, pelo menos uma
vez.
Ele estava super focado, super atencioso e se perdeu no Chad.
Ele podia sentir seu hálito como uma doçura quando ofegava
por ar. Ele podia sentir o cheiro de sua excitação, o suor em
seus cabelos. Ouvir a aspereza, convencido de que Chad estava
de fato dizendo seu nome quando Romeo lhe permitia respirar.
Ele estava em sintonia com Chad, certificando-se de não ir
muito longe, não perder o controle. Ele testou Chad o
suficiente para que ambos estivessem se beneficiando com a
mão dele que apertava a garganta de Chad.
O elemento de perigo aumentando tudo, Chad se oferecendo
como um sacrifício, sabendo que Romeo poderia matá-lo.
Havia Romeo, agarrando, sabendo que se ele fosse longe
demais, ele quebraria a promessa que havia feito à mãe,
roubaria a única emoção que estava desesperado para sentir,
a única que o fazia sentir ligeiramente humano.
O prazer deles foi suspenso em uma corda bamba, um
movimento errado terminaria em tragédia, mas o risco os
elevou mais, a alturas impossíveis que o fizeram valer a pena.
Romeo ofegou o nome de Chad, e Chad chiou enquanto
inalava.
Quando ele sentiu que estava perto, pronto para sucumbir,
Romeo agarrou a garganta de Chad com mais força por alguns
segundos, antes de liberá-lo todos juntos. A injeção repentina
de oxigênio empurrou Chad pela borda. Romeo deixou cair seu
peito para baixo em Chad, pegando o gozo que jorrou. Chad
ficou tenso, apertando Romeo até que ele não conseguia
respirar, até que ele era aquele que estava com os olhos
horrorizados enquanto sua libertação pintava o interior de
Chad. Ele gozou mais e mais duro do que nunca, sentindo cada
tremor, pulso e aperto de Chad ao seu redor.
Romeo pressionou a testa na de Chad. — Eu poderia te matar
um dia.
— Eu sei.
— Mas farei tudo ao meu alcance para não fazê-lo.
Chad deu um pequeno sorriso. — Eu sei disso também.
Epílogo
9
Olha, eu acho que é um trocadilho pela similaridade da pronúncia de dedo de borracha
(rubber toe) e Roberto.
Romeo abriu a boca, convidando a língua de Chad para
dentro, mas Chad emitiu um som de desaprovação e recuou.
— Nada disso, ou eu realmente vou me atrasar.
— Desmancha-prazeres.
Chad pegou as chaves e a carteira no canto e saiu pela porta
da frente. Romeo assistiu da cozinha enquanto entrava no
carro e depois seguiu pela trilha de terra.
A nova casa da fazenda era um milhão de vezes melhor do que
uma cela de prisão, além de ter Chad, ele podia cozinhar, sair,
assistir TV, ouvir rádio, fazer palavras cruzadas, tomar banho
o tempo que quisesse, ir para o banheiro em um quarto
separado daquele em que ele dormia. Ele podia tocar Chad,
beijá-lo sem fôlego e envolver seu corpo à noite.
Era melhor de todas as maneiras possíveis, mas quando
Romeo olhou para suas mãos, elas palpitaram com sua antiga
necessidade. O monstro não tinha desaparecido, ele ainda
estava escondido nas profundezas da mente de Romeo,
insatisfeito e desejando mais.
Era apenas Chad que o mantinha afastado. Ele não poderia
perder Chad. Não podia quebrar a promessa que havia feito à
mãe, mas com Chad prestes a começar seu novo trabalho, teria
menos tempo para distrair Romeo.
O monstro teve um gosto, mas não tinha saciado sua sede.
Ele pestanejou e olhou para cima bem a tempo de ver um
pássaro passar pela janela. Romeo o seguiu e viu quando ele
aterrissou na lama, se juntando a mais dois para encontrar
minhocas, rasgando seus corpos rosados e finos com seus
bicos.
Eles tagarelavam, apreciando o massacre.
Enquanto ele observava, ele se perguntou se as pegas eram
um bom presságio ou se elas previam a destruição.
Romeo suspirou.
— Três para uma garota.