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The Magpie Rhyme

Um para tristeza,

Dois de alegria,

Três para uma menina,

Quatro para um menino,

Cinco para prata

Seis para ouro,

Sete por um segredo,

Para nunca ser contado.


Se eles conseguirem resolver o primeiro caso, eles passarão por
qualquer um - é o que Chad diz a si mesmo. Mas conciliar sua carreira e
seu relacionamento não é fácil.

A parte monstruosa de Romeo corrói sob a superfície. Seus


momentos sombrios deixam Chad desconfortável, e quando eles se
acumulam em um ataque, isso deixa Chad abalado.

Um Romeo cheio de culpa desaparece e a busca de Chad por uma


vida normal desmorona ao seu redor. Ele precisa de Romeo, seu monstro,
seu salvador e se isso significa virar as costas para uma vida normal... que
assim seja.
Capítulo Um

Assassinato, assassinato, assassinato. Sempre esteve em suas mentes.

Romeo precisava fazer isso e Chad precisava pará-lo.

Eles eram extremos opostos da escala, Romeo no escuro e Chad na


luz. Seu romance bagunçado foi pego em uma reviravolta de Shakespeare.
Nenhum poderia viver sem o outro, mas o alter ego de Chad coçava em
sua mente, exigindo que ele agisse, e à sua frente, tomando café, estava a
única pessoa que selaria seu destino.

Keeley Smith.

A terapeuta o desmontando com os olhos e a caneta. Ele tinha


pensado que sentar na sala de espera com os outros clientes nervosos era
ruim o suficiente, mas estar na frente de Keeley, seu coração batia forte,
não importava quantas vezes ela disse a ele para relaxar. Na verdade,
quanto mais ela dizia a ele, mais ele tentava escapar de seu peito e mais ele
se inquietava.

Ela recitou suas qualificações e garantias, até mesmo contou a história


do que a fez se tornar uma terapeuta, mas em algum ponto, sua voz
mudou para um ruído branco, e Chad lutou para se concentrar.

Assim que percebeu que estava apertando e soltando a mão, ele


enrijeceu e a colocou sobre o joelho. Já era tarde, Keeley colocou o café na
mesa e tomou nota, sem nunca olhar para a página. Ela sorriu para Chad
enquanto colocava a caneta na mesa.

Ela tinha uma vibração distinta de bibliotecária, cabelo amarrado,


óculos de armação grossa e olhos gentis que diziam que ela estava lá para
ajudar.

Chad não queria sua ajuda - ele estava além disso. Ele só precisava
convencê-la de que estava pronto para o homicídio. Ele precisava voltar a
trabalhar, para iniciar o seu caminho e o de Romeo para uma vida normal.

A sala tinha a mesma sensação de biblioteca com sua estante cheia e


cadeiras de couro. Ele se perguntou se esse era o humor que Keeley estava
projetando. A calma de uma biblioteca, o cheiro suave de couro, a luz
natural entrando pela janela, e nenhuma tela eletrônica à vista. Um
ventilador soprou em sua direção, mas não ajudou com a transpiração.
Tornou tudo pior, soprando o ar quente do verão em seu rosto sufocante.

— Então agora eu me apresentei. Vamos começar explicando por que


você está aqui?

— OK. — Ele pigarreou. — É uma das condições para eu voltar a


trabalhar nos casos de homicídio. Sessões semanais de terapia.

Keeley desviou o olhar. — Sim, é por isso, mas não por que. Se você
sabe o que quero dizer?

— Meu novo inspetor não acha que estou apto para o trabalho.

— Isso não é verdade. Você está aqui porque ele se preocupa com
você. Assim como seu antigo inspetor... — Keeley lambeu o dedo indicador
e virou a página de seu caderno. — Lucas Grimes. Solicitei seus arquivos
de Sandra Monroe, mas você bloqueou sua liberação.

— Eles são particulares.

— Eles poderiam me ajudar, ajudar você.

— Eu prefiro começar minha terapia do zero.

Keeley assentiu, inclinando-se para frente em sua cadeira. Ela


abaixou os ombros e Chad se perguntou se ela estava tentando parecer
pequena, menos ameaçadora. Na realidade, ela era a pessoa mais
assustadora que ele já conheceu. Ela poderia explodir sua nova vida em
pedaços se ele lhe desse uma chance.

— Em primeiro lugar, eu gostaria de dizer, é muito corajoso você vir


aqui. Disposto a se abrir sobre tudo o que aconteceu com você.

Chad não respondeu que não tinha outra escolha. Ele enxugou a
palma suada na coxa. Ela viu, mas não escreveu.

Ele imaginou que ela estava guardando isso para depois que ele
partisse, algo para Keeley e seus colegas terapeutas repassarem enquanto
bebiam o café da tarde, discutindo suas peculiaridades como fofoca.

Confidencialidade do paciente. Que piada.

— Chad?

— Sim, desculpe-me. Quero voltar ao normal, só isso. É por isso que


estou aqui.

As sobrancelhas de Keeley se contraíram. — Marc Wilson.


Ela o observou com intensidade de laser, esperando por uma reação.
Ele agradeceu a Romeo por ensiná-lo.

Ele deixou escapar o nome em momentos estranhos e observou Chad


com a mesma cautela. A princípio Chad ficou tenso, e ecos de dor surgiram
em seu torso. Ele perdeu toda a noção de pensamento, não sabia o que
estavam fazendo, se eram palavras cruzadas ou estavam bem espremidos
no sofá assistindo a um filme, sua mente foi apagada por uma luz brilhante
de dor que ele teve que piscar para voltar a partir disso.

Romeo estava sempre esperando por ele do outro lado e continuou


como se a explosão em seus sentidos não tivesse acontecido.

— Ele drogou você, amarrou você, machucou você. Isso vai ter um
impacto duradouro, cicatrizes.

— Meu torso está coberto.

As palavras tinham um gosto amargo e Chad desviou o olhar.

— Cicatrizes físicas e psicológicas.

— Eu prefiro focar nas físicas.

— As cicatrizes em seu corpo incomodam você?

— O que, não te incomodaria? Alguns psicopatas cortando números


em sua carne.

Chad flexionou a mão antes de congelar quando o olhar de Keeley


estalou para ela.

— É normal sentir raiva, sentir-se estressado.


— As cicatrizes são um lembrete constante.

— Quando você as vê, quais emoções elas evocam?

Chad lambeu os lábios - eles estavam tão secos que sua língua
prendeu antes de arrastá-los. — Desamparo, fraqueza, estupidez,
desesperança, arrependimento. — Ele balançou a cabeça antes de começar
a flutuar, ele não poderia afundar de volta naquele lugar escuro. Keeley
nunca permitiria que ele voltasse ao trabalho.

— O arrependimento é interessante, do que você se arrepende?

Pôr fogo no celeiro, perder Romeo. Não - Chad fechou os olhos e


ouviu sua voz interior, a parte estável de sua mente que não era irregular e
áspera. O detetive sabia que tinha feito a coisa certa, colocando fogo no
celeiro e prendendo Romeo.

— Sem pressa. — Keeley sussurrou.

— Lamento ter de enfrentar Marc sozinho.

— E Romeo Knight, você se arrepende de tê-lo confrontado sozinho


também?

Chad manteve a mão imóvel e olhou profundamente nos olhos de


Keeley. — Sim.

Seus dedos se contraíram na mesa, Chad sorriu, imaginando que ela


estava lutando contra suas próprias reações inconscientes também. Ele
estava tentando enganá-la, ela estava tentando ver através dele.

Nada além de um jogo, e ele tinha que vencer este.


— E quanto as cicatrizes psicológicas?

— Não gosto de pensar no que aconteceu. Eu não quero pensar sobre


isso.

— Eu entendo, Chad. Quero que saiba, você está no controle dessas


sessões, não eu.

Chad manteve sua expressão neutra, mas ele queria rir, ele queria rir
e não parar. Ele não estava no controle, Keeley tinha seu futuro nas mãos.
Uma palavra dela, uma suspeita, e ele seria descoberto. Sua garganta se
apertou e ele engasgou enquanto engolia.

— Seu novo inspetor se preocupa com sua impulsividade.

— Não vou cometer o mesmo erro duas vezes... uma terceira vez.
Serei mais cauteloso de agora em diante, analisarei a situação.

— Você estava sob muita pressão com Marc.

— Eu estava sendo caçado como um... cachorro. Meu nome e minha


vida espalharam-se pelas notícias, meus colegas duvidaram de mim, o
público me acusou.

— Isso deve ter sido difícil.

— Sim — ele bufou. — É uma maneira simples de colocar as coisas.


Lutei para subir, tentei viver uma vida como todo mundo, uma vida boa, e
em questão de semanas, estava tudo desfeito. Eu sou visto como um
assassino, algum aprendiz e então Marc se apodera de mim.
A garganta de Chad se fechou, ele não podia ir mais longe. As
drogas, o bisturi, quando Marc... Não... Chad parou seus pensamentos,
afastando-os.

— Você encontrou alegria na companhia de Romeo Knight.

Chad estreitou os olhos, tentando julgar a opinião de Keeley sobre as


visitas.

Ele não mentiu, ele disse a verdade. — Ele era tudo que eu tinha.

Ela sorriu, suas bochechas levantadas e Chad achou que ela parecia
satisfeita.

Satisfeita por ele ter contado a verdade.

— Como você está se sentindo agora que a muleta se foi?

— Perdido, para ser honesto.

— É compreensível. Não estou aqui para julgar seu relacionamento


com Romeo, estou aqui para ajudá-lo em qualquer capacidade que você
precisar da minha ajuda. O que quer que seja dito nessas quatro paredes
fica entre nós.

— A menos que... — Chad disse.

Ele pegou a calça entre o polegar e o indicador e apertou. Keeley deu


uma olhada em seu caderno.

— A não ser que?

— Sempre há condições, certo? Quando você pode contar ao meu


inspetor o que eu digo?
Keeley engoliu em seco. — Só direi a ele se tiver preocupações com a
sua segurança, do público ou de seu colega. Se eu acreditar que você não
está apto para o trabalho.

— Pensei isso.

— Mas isso não significa que você deva engarrafar as coisas.

— Se eu disser a coisa errada, você tirará meu emprego de mim. É


parte da minha identidade, parte de mim que preciso voltar.

— Certamente, como um oficial da lei, você entende que só deve


servir se estiver apto para isso. Você não quer colocar seus colegas ou
membros do público em risco.

— Claro que não, mas...

— Mas o que?

Chad olhou para sua mão novamente, sua mão traidora remexendo
em seu joelho.

— Posso dizer que você está estressado na minha presença, suas


respostas são muito moderadas e você tenta interromper qualquer
movimento de suas mãos. Quero que você sinta que este é um lugar livre e
seguro. Você não precisa ficar nervoso.

— Eu não posso evitar.

— Posso perguntar por que você se sente tão desconfortável na


minha presença?

— No caso de eu dizer algo que não deveria.


— Não há não deveria, Chad. Eu sei que abrir no começo pode ser
difícil. Especialmente depois de tudo que você passou, mas quero que
confie em mim.

— Confiar. — Ele balançou sua cabeça.

— Ok, deixe-me reformular isso. Espero que com o tempo você


aprenda a confiar em mim.

— Eu vi um lado diferente das pessoas, isso me deixou desconfiado.

— O que você quer dizer?

— Eu vi o mal nas pessoas boas e o bom nas más também.

— A vida não é preto e branco, são diferentes tons de cinza.


Ninguém é cem por cento bom ou cem por cento mau. Somos uma mistura,
às vezes essa mistura é desequilibrada desde o nascimento, às vezes se
torna desequilibrada com o tempo e a experiência. — Keeley colocou a mão
no peito. — Estou no cinza.

Keeley acenou com a cabeça de forma persuasiva e Chad franziu a


testa.

— Você também diz — disse ela.

— Estou no cinza.

— E tudo bem, Chad. Isso não significa que há algo errado com você.
No mínimo, significa que você é normal, seja o que for. Eu quero que você
repita essa frase, sempre que estiver se sentindo oprimido.

— Estou no cinza e tudo bem.


Ela sorriu. — Que tal hoje jogarmos um jogo de palavras?

— Uma palavra cruzada?

— Não, não é uma palavra cruzada. Associação de palavras, eu digo


uma palavra...

— E eu digo uma de volta, eu me lembro.

— Você já fez isso antes?

— Com Sandra. Ela disse que prevê níveis de depressão e ansiedade.

Keeley sorriu, pegando seu caderno sem olhar.

— Isso dá uma indicação.

Ela folheou as páginas e pegou a caneta da mesa.

— A primeira coisa que vem à sua cabeça.

Chad acenou com a cabeça, limpou sua mente e falou por impulso
enquanto Keeley dizia palavra após palavra. Ela escreveu suas respostas e,
assim que terminou, Chad afundou na cadeira, olhando para o relógio na
parede. O ponteiro dos segundos gaguejou.

— Eu quero repassar algumas de suas respostas.

Chad voltou sua atenção para Keeley. — Huh?

— Eu disse pássaro e você disse pega.

— É um pássaro, não é?

— Eu sei que Marc deixou algo - um cartão de visita para trás, uma
pena de pega.
— Isso mesmo.

Keeley baixou o olhar de volta para sua página.

— Eu disse cachorro e você disse rato.

O cachorro de Chad, Toby, matou ratos. Ele os matou porque seus


instintos o mandaram. Ele fez isso para agradar Chad e mantê-lo seguro.
Chad não poderia mudar sua natureza, um monstro em um rato era um
salvador para ele.

— Acho que a maioria das pessoas diria gato.

— Não se trata do que a maioria das pessoas diria, é individual, a


resposta mais comum é gato. Animal de estimação e caminhada também
são populares.

— Eles também funcionam.

— Sangue e vermelho. Corte e bisturi. Soltar e cair. Trabalho e alívio.


Detetive e impacto. Romeo e Julieta. — Keeley ergueu a sobrancelha. —
Imprensa e bastardos, muito verdade.

— Essa opinião não vai mudar.

— Último. Monstro e salvador.

Os olhos de Keeley queimaram nele. Chad lutou para manter a mão


perfeitamente imóvel. O calor encheu seu rosto. Keeley queria uma
explicação. Chad exalou uma respiração lenta.

— Romeo era um monstro, mas ele me salvou.


— Você ser salvo não era a intenção dele. Foi um subproduto. Ele
mirou em cinco vítimas, Marc invadiu esse objetivo. O ego de Romeo
exigia que ele encontrasse e matasse Marc. Você foi encontrado
inconsciente em uma sala separada de Marc.

— Ele matou Marc antes que Marc me matasse.

— Ele matou Marc antes de Marc reivindicar sua última vítima. Você
está traçando um vínculo entre os dois e, talvez, depois de cortar esse
vínculo, poderá seguir em frente.

Chad acenou com a cabeça. — Pode ser.

Keeley sorriu e fechou seu bloco de notas. — Você tem trabalhado


com os guardas de trânsito nas últimas semanas?

Chad acenou com a cabeça. — Para me familiarizar com a área.

— O que você achou?

O silêncio no carro foi esmagador, os dois policiais estavam na ponta


dos pés em torno dele o tempo todo. Ele poderia dizer que eles queriam
perguntar a ele sobre Romeo e Marc, mas felizmente não o fizeram. Não na
cara dele, pelo menos. Ele definitivamente os ouviu sussurrando sobre ele
na sala dos funcionários.

— Foi bom.

— Por que não ficar nessa área?

— Não. — Chad balançando a cabeça. — Eu não posso. Sou um


detetive, reúno casos, é nisso que sou bom.
— O que ser um detetive significa para você?

— Tudo. Trabalhei muito para chegar lá e agora estou trabalhando


muito para voltar. Eu sinto que faço a diferença, faço algo de bom.

Chad sorriu, exalando um suspiro trêmulo.

— É a primeira vez que você parece feliz em toda a sessão.

— Todo mundo me diz para juntar as peças da minha vida, seguir


em frente, mas então eles colocam barreiras no meu caminho, me fazem
pular obstáculos. Passei duas semanas na recepção, quatro semanas com os
guardas de trânsito, cerrei os dentes e aceitei, mas agora só quero ser
detetive de novo em homicídios.

— Todo mundo está garantindo que você esteja pronto. A última


coisa que queremos fazer é atrapalhar sua recuperação.

— Compreendo. Mas me sinto pronto.

— Você?

Ganchos puxaram as entranhas de Chad. — Sim.

Keeley deu a ele um pequeno sorriso. — Vou ligar para o seu DI1
mais tarde, dizer a ele que dei permissão para você começar na segunda-
feira.

— Em homicídio?

— Em homicídio.

— Obrigado. — Chad se levantou.

1 Detetive Inspetor.
Keeley ofereceu sua mão e Chad a apertou ansiosamente. Ele
enrijeceu quando lembrou que suas palmas, como o resto dele, estavam
encharcadas de suor.

Keeley não fez comentários.

— Mesma hora na próxima semana.

Ele acenou com a cabeça e saiu. Ele manteve sua caminhada


moderada e calma, ciente de que o escritório de Keeley ficava de frente
para o estacionamento.

A explosão do sol de verão o atingiu, e em todas as direções ele podia


ver o ar se deformando com o calor. Dois dias de sol sufocante, ele
esperava que sua aparência suada pudesse ser atribuída ao clima.

Ele não olhou para o escritório de Keeley, mas imaginou que a


atenção dela estava fixada nele. Chad ligou a ignição, evitou colidir com
qualquer outro veículo e partiu para a viagem de volta.

O pânico cresceu tão rápido que ele estrangulou o volante enquanto


estacionava no acostamento. Ele acendeu as luzes de perigo e praticou sua
técnica de respiração lenta. Seus suspiros o lembraram do vento em casa
correndo entre os dois prédios.

Casa com Romeo, seu lugar seguro, seu santuário.

Os últimos meses estavam chegando a este momento, recebendo luz


verde para vestir seu traje de detetive mais uma vez. Ele estava esperando
e orando por isso, imaginando a alegria, o alívio. Ele não estava esperando
a onda de nervosismo - o borbulhar em seu estômago, espesso e quente
como alcatrão.

Ele não estava nervoso com a nova estação, seus novos colegas ou as
cenas de crimes terríveis que ele estava fadado a enfrentar. Suas entranhas
estremeceram e seus pulmões se torceram para ele e Romeo.

O primeiro caso, tudo dependia do primeiro caso. Era o momento


crucial em seu relacionamento. Se eles pudessem passar pelo primeiro
ainda intacto, ainda juntos, ainda vivos, então eles passariam por
qualquer.

Chad voltou para a estrada, indo para casa com seu monstro e
salvador, enquanto fazia o seu melhor para colocar seus nervos de lado.

****

Uma estrada sinuosa conduzia até a casa.

Campos o cercava, e a grama alta chegava aos quadris de Chad. Ele


saltou ao longo do caminho de terra com o olhar fixo na casa. Ficava em
uma colina suave, um ponto de vista perfeito para eles verem alguém
chegando.

Poucas pessoas se aventuraram a ir até a casa - um eletricista e um


encanador foram chamados na primeira semana em que se mudaram.
Chad mandou Romeo para o sótão, e o teto baixo lhe deu uma dor nas
costas que durou dias.
Chad parou o carro e respirou fundo. Parecia um sonho olhar para a
casa, sabendo que Romeo estava lá dentro. Não foi fácil, levou meses, mas
eles finalmente estavam lá, morando juntos, Romeo e Chad.

Exceto que o detetive no Chad exigiu que ele voltasse ao trabalho.


Seu cérebro coçou. Ele tinha que acalmá-lo, tinha que consertar o erro de
abrigar um assassino em série pegando mais. Era o equilíbrio entre o bem e
o mal que ele precisava satisfazer.

Chad olhou para a câmera enquanto entrava. A maioria delas estava


escondida, algumas em árvores, vasos de plantas, enfeites de jardim, todas
espalhadas pela frente da propriedade. Eles eram avisados com sobra
quando as pessoas vinham ligando, tempo de sobra para que Romeo
sumisse e desaparecesse, fosse para a cabana em anexo ou para o sótão
dolorido.

Chad apoiou a mão na parede e respirou o cheiro de casa. Romeo.

Música suave fluiu da cozinha, algum clássico lento que teria sido
perfeito para uma cena romântica em um filme em preto e branco.

Chad tirou os sapatos, pendurou o paletó e foi procurar Romeo. A


cozinha estava vazia, mas a sala estava quente e cheirava a especiarias.
Chad franziu a testa para todas as panelas e frigideiras no fogão, então
parou ao ouvir o som de batidas vindo da cabana.

A cabana pertencia a Romeo. Era seu espaço para fazer o que


quisesse. Sem janelas, com luzes zumbindo e piso de concreto, Chad não
achava isso caseiro, mas era o lugar onde Romeo passava a maior parte do
dia.

Chad calçou as botas e seguiu o barulho.

Ele entrou e observou Romeo à distância. O equipamento de ginástica


foi a primeira coisa que Romeo construiu. Ele malhava todos os dias, Chad
suspeitava que era mais para curar o tédio do que para manter a forma,
mas ele não estava reclamando, espionar Romeo se exercitando sempre
fazia seu coração disparar.

O equipamento de ginástica estava intocado no canto, e as batidas


repetitivas não eram os pesos levantando e caindo, mas um martelo,
fazendo chover o inferno em um pedaço de madeira. O ginásio estava em
primeiro lugar, a mobília em segundo lugar.

A cabana externa parecia uma sala de exposições, cheia de camas,


mesas, armários, escrivaninhas, aparadores, armários. Tinha cheiro de
serragem e papelão.

Chad não tinha ideia do que fazer com toda a mobília, mas enquanto
houvesse espaço na cabana, Romeo disse que continuaria comprando.

Ele mal podia esperar para desembrulhar cada caixa que chegava,
como uma criança no Natal. Ele agitava a instrução na frente do rosto de
Chad com alegria em seus olhos quando a maioria das pessoas murchava e
morria com a complexidade. Isso o mantinha ocupado, mas ele ficava
irritado sempre que era forçado a esperar por uma peça que faltava, o que
acontecia muito.
Romeo estava sem camisa, e Chad admirou a vista de suas costas,
todos os seus músculos se contraíram, depois relaxaram com o golpe, mas
enquanto ele se movia ao redor da sala, ele engoliu em seco e uma sensação
de mal-estar o parou. Chad percebeu a escuridão crepitando no ar, a aura
que envolvia Romeo a cada poucos dias como uma nuvem de tempestade.
Ameaçou trovão, relâmpago, mas Romeo o manteve sob controle, esperou
que diminuísse, então deu a Chad um sorriso tranquilizador.

Romeo não o tinha visto. Sua atenção estava fixada na perna da mesa.
Ele franziu o rosto em um grunhido, mostrando os dentes a cada golpe do
martelo. A raiva em sua expressão distorceu seu rosto bonito. Ele não
estava construindo a mesa, ele a estava destruindo. A perna da mesa se
partiu, mas ele continuou batendo, pedaços de madeira se soltaram e
voaram pelo ar.

Quando a perna finalmente quebrou, Chad recuou com o alívio no


rosto de Romeo. Ele largou o martelo no chão e passou as mãos pelos
cabelos, ofegando no telhado. Seu alívio rapidamente se transformou em
angústia e ele agarrou a nuca, liberando um som de frustração.

Chad saiu da cabana, bateu na porta aberta e entrou novamente.

— Ei.

Romeo enrijeceu e deixou cair os braços ao lado do corpo. Ele se


virou para encarar Chad com um sorriso. Sua pálpebra caiu um pouco para
um lado, uma cicatriz rosa marcando sua bochecha, mas era um sorriso
caloroso que iluminou seu rosto bonito. A nuvem de tempestade se
dispersou, mesmo que por pouco tempo.
— Você está em casa.

Chad gesticulou para si mesmo. — É o que parece.

— Como te sente?

Preocupado, inquieto, desamparado... havia algumas emoções


voando na cabeça de Chad, mas ele não disse nenhuma delas. Romeo não
gostava de mencionar suas explosões e Chad jogou junto.

Romeo franziu a testa. — A sessão foi boa?

— Sim, tudo bem. — Chad disse. — Estou um pouco cansado, só


isso.

— Eu fiz frango assado para o jantar.

Chad cantarolou. — Eu podia sentir o cheiro da porta da frente.

— Todas as coisas. Batatas assadas, cenouras, purê de batata... Nabo.

Chad torceu o nariz. — Nabo.

Romeo riu. — Eu sei, eu sei. Você tem tempo para um banho


primeiro, se quiser.

— Estou bem...

— Eu posso sentir seu cheiro daqui.

Chad viu através da provocação casual, Romeo queria que ele fosse
embora, e uma dor aguda apunhalou seu peito. Ele engoliu em seco,
apontando para a mesa mal escondida.

— O que aconteceu lá?


— Não se encaixava como deveria.

— Estava tudo bem outro dia.

— Houve uma pequena oscilação que me incomodou.

— Parece que você resolveu.

Chad sorriu, tentando amenizar a situação, mas era tão falso quanto a
risada tensa de Romeo.

— Sim, bem. Temos mais mesas. — Romeo disse enquanto


gesticulava para a sala.

Ele estava certo, havia muitas mesas. Mesas de centro, mesas de


jantar, mesas laterais. A cabana tinha quarenta por quarenta metros
quadrados. Uma vez ecoou, era vasto, mas dois meses da nova obsessão de
Romeo, e estava quase cheio.

O rosto de Chad caiu nas mãos ensanguentadas de Romeo. Ele não


pareceu notar os cacos de madeira saindo delas, ou as trilhas vermelhas.

— Romeo. Você está sangrando.

— Huh? — Ele olhou para o sangue escorrendo de seus dedos para o


pulso. — Então eu estou.

Romeo pegou uma das farpas, outra e outra. Ele não vacilou, ele
parecia estranhamente distante, em transe.

Chad foi se aproximar, mas a mão de Romeo disparou, parando-o


subitamente. — Fique lá.

Ele inclinou-se para trás. — Por que?


— Porque não há necessidade de você vir, estou bem.

— Mas você não está, está?

Chad deu um passo, mas a voz de Romeo o atingiu como um


caminhão.

— Não!

Havia uma parede de móveis entre eles, Romeo estava em uma


gaiola de sua própria autoria. Ele manteve a palma da mão voltada para
Chad, e suas sobrancelhas se juntaram enquanto ele implorava.

— Por favor, não.

— OK. — Chad sussurrou.

Foi outro momento 'sombrio', eles não duravam muito, apenas


alguns minutos, mas foi o suficiente para deixar Chad inquieto. Uma
batalha interna ocorreu dentro de Romeo. Chad queria ajudar, mas sua
presença só piorava as coisas.

Romeo agarrou um pano de uma mesa próxima e envolveu-o em sua


mão. — Tudo bem, veja. Vá para dentro, tome um banho.

Já não era uma sugestão, mas uma ordem. O coração de Chad


afundou, mas ele não deixou transparecer.

O sorriso forçado de Romeo começou a tremer e Chad recuou.

— Vou demorar trinta minutos.

Ele se afastou, segurando o estômago. Romeo não acalmou seus


nervos - ele acrescentou a eles.
Capítulo Dois

Chad não girou o botão para escaldante como sempre fazia, ele o
manteve aquecido e entrou no spray. No segundo em que a água atingiu
seu peito, ele estremeceu.

Não doía mais, mas ele se lembrava de quando doía.

A maioria dos números tinha desbotado para linhas prateadas, eles


eram incompatíveis em sua pele, nenhuma ordem para eles, alguns
grandes, alguns pequenos, alguns tortos, de cabeça para baixo, nenhum
deles se tocava, no entanto. Eles eram todos individuais, vinte e cinco no
total.

Ele traçou um cinco com a ponta do dedo, e sua mente vagou de


volta para o quarto na casa de Marc. A dor, o desamparo e a profunda
humilhação de não ser capaz de se proteger.

Chad estremeceu e aumentou a temperatura.

Ele tirou um tempo extra com seu cabelo, primeiro com o gel de
banho, depois novamente com o shampoo que comprou para combinar.
Limão limpou seu corpo e pigarreou. Ele parou e descansou a testa contra
os ladrilhos frios, zoneando para o assobio estático da água.

Um calafrio percorreu sua espinha, o vapor do cubículo se dissipou


ligeiramente e foi sugado pelo topo da porta do chuveiro. Chad se virou
quando Romeo entrou no banheiro. Ele não disse nada, mas manteve
contato visual com Chad e tirou as calças e as meias. Chad abraçou seu
próprio corpo, escondendo o máximo de cicatrizes que pôde.

Romeo entrou no chuveiro, fechando a porta atrás de si.

— Eu sinto muito.

Chad balançou a cabeça, fechando a água. — Você não precisa sentir.

Romeo circulou seu dedo indicador, encorajando Chad a se virar.

Ele suspirou quando Romeo pressionou contra suas costas.

Ele passou os braços em volta da cintura de Chad e puxou os braços


de Chad longe de esconder seu peito. Ele deixou seus braços soltos
enquanto Romeo colocava seu queixo no pescoço de Chad.

— Ela autorizou você para o trabalho?

Ele derreteu no calor de Romeo. — Sim, segunda-feira.

Romeo não disse nada. O silêncio permaneceu, a ansiedade


efervescente cresceu no peito de Chad e ele mordeu a bochecha, sem saber
como acabar com isso.

— De volta à captura dos vermes do mundo, detetive.

Chad franziu a testa com sua escolha de palavras. — Eu sou Chad


com você, apenas Chad. Como você se sente com isso?

— Você voltar ao trabalho?

— Sim.

Outra longa pausa se seguiu.


— Romeo?

Ele acariciou o pescoço de Chad. — É o que você quer certo, o que


você precisa?

Chad engoliu em seco e acenou com a cabeça.

— Eu quero que você seja feliz, todo você, e se você acha que isso o
deixará feliz...

— Eu acho. — As palavras saíram suaves e ele tentou novamente. —


Sim, é o que preciso, mas irei atrás de assassinos de novo.

Romeo respirou fundo. — Eu sei.

— Talvez assassinos como você. Aqueles nascidos com um...

— Um monstro. Eu também sei disso.

Chad exalou um suspiro trêmulo. — Tudo o que passamos, e isso -


isso é o que me apavora, mas eu preciso fazer isso. Eu preciso me sentir
normal novamente.

— Normal. — Romeo bufou.

— Uma aparência disso, pelo menos.

— E se você não puder?

— Eu irei. Eu tenho.

— Por que?
Chad olhou para baixo, carrancudo. Ele não tentou tocar as mãos de
Romeo, mas olhou para elas pressionadas contra seu estômago. Elas não
pareciam tão ruins agora que pararam de sangrar.

— Como estão suas mãos?

Romeo suspirou. — Elas estão bem, apenas dormentes.

Chad levou alguns minutos para desfrutar das mãos de Romeo sobre
ele, segurando-o com firmeza, cobrindo alguns dos números.

— Eu só... não sei como ajudar você.

— Só há uma coisa que vai ajudar.

Chad enrijeceu e não perguntou o que, ele não precisava perguntar.


Ele tinha visto a necessidade nos olhos de Romeo várias vezes, o monstro
que avançava, exigindo que Chad notasse.

Cada vez Chad desviava seu olhar, rejeitando seus desejos. Foi a
primeira vez que Romeo falou sobre isso, a primeira vez que tentou plantar
uma semente com a voz em vez dos olhos.

Chad não reagiu e Romeo deu outro beijo em seu pescoço.

— Você poderia me deixar...

Ele não podia permitir que a semente crescesse, apesar do arrepio


que correu por sua pele com o apelo de Romeo.

Chad se virou nos braços de Romeo.


Os olhos verdes nele brilharam. A maneira como observava Chad o
lembrava de um predador avaliando sua presa. Romeo não se moveu, ele
ficou mortalmente imóvel.

Chad podia ouvir sua própria respiração instável e o chuveiro


pingando atrás dele, mas nada de Romeo.

— OK.

— Sim?

A voz de Romeo tremeu e um estremecimento o sacudiu. A


maravilha girou em seus olhos escurecidos, e Chad não conseguia desviar
o olhar. O efeito foi hipnótico, atraindo Chad para a escuridão, mas ele não
podia permitir isso, ele não iria. Ele precisava ser eliminado, ele precisava
se tornar claro.

Ele pegou a mão de Romeo e levou-a até a garganta. — Vá em frente,


satisfaça o monstro.

A alegria no rosto de Romeo evaporou e ele puxou a mão de volta.

— Você não.

— Tem que ser eu.

— Eu odeio que você se use como refém.

— É assim que tem que ser. Se ficar muito...

— Você sabe que não adianta viver sem você. — Romeo encostou a
testa na de Chad e envolveu-o com os braços. Sua expressão não quebrou
com raiva, ele sorriu e um suspiro suave soprou por seus lábios.
— Minha teimosa Julieta.

— Julieta faminta.

Romeo cantarolou, deslizando as mãos mais para baixo até que


deslizaram sobre a bunda de Chad. Ele apertou, puxando Chad para mais
perto enquanto beijava seu pescoço.

— Eu não quis dizer que estava com fome.

Ele pressionou Romeo, sufocando todos os números. Qualquer outra


pessoa recuaria ao ver seu peito. Eles se preocupariam em dizer a coisa
errada, desencadeando-o de alguma forma, mas não Romeo.

Ele estava mais intenso do que quando eles estavam no celeiro, e o


desejo em seus olhos semicerrados tirou o fôlego de Chad sem falhar. Chad
nunca quis que Romeo olhasse para ele de forma diferente, nunca sem uma
fome insaciável.

O desejo ainda estava lá, apesar do dano que Marc infligiu a ele.
Romeo agarrou, beijou e alcançou entre seus corpos, suspirando em êxtase
quando encontrou o pênis enrugado de Chad.

Romeo brincou com a ponta dos dedos, tocando a costura sensível


antes de envolver sua mão, envolvendo Chad em calor.

Chad gemeu, cruzando os braços em volta do pescoço de Romeo.

— Acabei de tomar banho.

— Você pode tomar banho de novo.


Romeo mordeu o pescoço de Chad, afastando a dor com a língua.
Não doeu tanto quanto imaginou que Romeo pensava que doeria, seus
dentes poderiam arrancar um pedaço de Chad e ele provavelmente ainda o
agradeceria por isso.

A sensação de seu pênis molhado deslizando e o aperto de Romeo


mais forte trouxe Chad ao limite tão rápido que sua cabeça girou.

— Foda-me Romeo.

Ele esfregou mais rápido e estendeu a mão para massagear a bunda


de Chad com a outra mão. Seus dedos encontraram o vinco da bunda de
Chad, e ele agarrou a bochecha com força, provocando uma dor que foi
afastada pela mão rápida de Romeo.

Ele diminuiu o ritmo quando Chad estava prestes a gozar. — Ainda


não.

— Isso não é justo.

— Nada é.

Romeo abaixou-se, fechando os dentes no pescoço de Chad.

— Você não pode me marcar. — Chad engasgou.

Romeo não respondeu verbalmente, mas sua resposta foi óbvia.

Ele poderia e ele faria.

Chad estremeceu com a sucção em seu pescoço, lutando fracamente.


Romeo ganhou velocidade no pênis de Chad até que ele estava segurando.

— Idiota.
Romeo lambeu a marca, Chad não podia ver, mas ele o imaginou na
parte inferior de seu pescoço, um hematoma vermelho circular.

— Eu poderia cobrir seu pescoço com eles.

— Não faça isso. — Chad respirou.

Ele poderia esconder o que estava em seu pescoço sob a camisa, mas
se continuar, ele terá um problema. O dedo de Romeo deslizou entre suas
bochechas molhadas e a ponta pressionou dentro. A sensação o fez sibilar,
mas Romeo rapidamente transformou o som de protesto em um gemido
baixo.

Romeo o achatou contra a parede do chuveiro, pressionando o dedo


mais fundo e puxando Chad com mais força. Ele estava imobilizado e
indefeso, mas Romeo era a única pessoa de quem gostava que se sentisse
assim.

— Sim!

Chad desceu pela perna de Romeo. Cada onda de orgasmo o


golpeava, o enfraquecia, até que suas coxas tremeram e sua mente se
apagou. Ele se agarrou a Romeo, inspirou-o, voltando à terra para respirar
cada vez mais fundo do homem que o salvou.

Romeo se inclinou para longe, segurando seu pau duro. — Ainda não
consigo acreditar que podemos ter isso.

— Sexo no chuveiro?

— Sexo mesmo. — Romeo deu uma risadinha.


Chad lambeu os lábios assistindo Romeo brincar com os fios
pegajosos que saiam de seu pênis. Romeo levou os dedos à boca de Chad e
os correu ao longo de seu lábio inferior. Ele lambeu o gosto, ganhando uma
expressão de admiração de Romeo.

— Ainda não consigo acreditar que você me quer. — Chad


sussurrou. — Depois de…

— Eu sempre vou querer você. — Romeo sussurrou, passando as


pontas dos dedos pela boca de Chad. Ele os beliscou suavemente, antes de
soltá-los. — Sempre.

Chad desviou o olhar, mas Romeo resmungou, puxando-o de volta.


— Não desvie o olhar, estou falando sério.

Os dedos brincando com seus lábios eram os mesmos que


envolveram a garganta de Marc. As mãos que mataram, foram as mesmas
que o salvaram. Eles se tocavam, seguravam e arrancavam deleite após
prazer.

Eles cuidaram dele.

O monstro nele veio em seu socorro, e quando Chad olhou nos olhos
de Romeo, ele pôde vê-lo à espreita, frustrado e com raiva, mas mantido
sob controle pelo amor de Romeo por ele.

Romeo colocou a mão no ombro de Chad e murmurou: — De joelhos,


detetive.

— Chad.

— Detetive Chad Fuller.


Ele estreitou os olhos para Romeo, mas não protestou quando Romeo
empurrou seu ombro.

Chad se ajoelhou, beijou a coxa de Romeo e abriu bem a boca para


ele.

Ele trabalhou o pênis de Romeo com seus lábios e língua, nunca


quebrando seu olhar. Romeo apareceu acima dele, bloqueando a luz do
banheiro.

Ele engasgou quando Chad agitou sua língua por baixo, ondulando o
músculo contra a costura sensível. Nunca falhou em atingi-lo com prazer, e
o murmúrio enfraquecido que ele lançou encheu Chad de orgulho. Ele
podia ser o único de joelhos, podia ser o único sem um pacote de seis
músculos, mas ele poderia deixar Romeo sem fôlego com os movimentos
mais suaves de sua língua.

— Porra, Chad.

Ele quebrou o contato visual primeiro, e perdeu os lábios de Chad


puxando um sorriso ao seu redor. Romeo apoiou a mão no vidro, mas
Chad ouviu o barulho do vidro escorregando.

Romeo amaldiçoou, reajustando o equilíbrio. Ele correu os dedos


pelo cabelo de Chad antes de puxar os fios com força, mas ele não
empurrou, ou puxou, ele ficou parado.

Chad empalou-se no pênis de Romeo repetidamente, lambeu, chupou


e o usou como um aríete na parte de trás de sua garganta, exatamente
como Romeo gostava.
O gozo quente desceu pela garganta de Chad, e os dedos de Romeo
apertaram outro entalhe em seu cabelo enquanto ele pulsava na língua de
Chad.

Sujo e saciado, Chad se levantou e ligou o chuveiro para limpá-los


para o jantar. Romeo se apertou contra ele, depositando beijos ao longo dos
ombros de Chad.

— Sua boca pode matar.

Chad sorriu.

****

Chad observou Romeo se mover pela cozinha. Ele duvidava que


Romeo soubesse que ele estava no ritmo da música lenta, dançando com
um parceiro invisível.

Romeo disse que adorava cozinhar para Chad e que cozinhava o


suficiente para alimentar um exército. A estante no canto estava cheia de
livros de receitas, e alguns de seus favoritos estavam espalhados nas
bancadas.

Romeo terminou de preparar o jantar e se aproximou de Chad com


um sorriso no rosto.

— É incrível.

— Você ainda não experimentou.


Chad revirou os olhos. — Sempre é.

— Bem, eu tenho que me manter ocupado de alguma forma,


especialmente agora que você vai voltar ao trabalho.

— Você ficará bem.

Era para ser uma declaração, mas sua voz se ergueu no final. Romeo
ergueu a sobrancelha.

— Fiquei trancado em uma cela por quase um ano, Chad, isso é luxo
em comparação.

— Você pode sair de casa, sabe, é por isso que comprei o outro carro.

Não era o carro mais atraente de se olhar. Era velho, surrado, mas
combinava perfeitamente e funcionava bem, embora um pouco lento.

— Não acho que seja uma boa ideia, por razões óbvias.

— Mas você vai enlouquecer se ficar confinado aqui.

— Confie em mim, você prefere isso do que a alternativa.

Chad baixou a cabeça. — Eu sou a alternativa.

— Não, você não é, você sabe que não é...

Seu olhar procurou os olhos de Chad, e seu coração respondeu,


batendo em seu peito. O fogo encheu suas bochechas, sua boca secou em
um deserto, e ele saltou seu pé no chão para lutar contra a necessidade de
correr. Ele precisava quebrar a atmosfera, derrubá-los um degrau ou dez.

Chad mordeu o lábio e sussurrou. — Você ouviu sobre o homem que


roubou a loja de móveis?
Romeo juntou as sobrancelhas. Ele piscou e seu olhar evasivo
desapareceu. — O que? Não? O que aconteceu...

— Ele ficou com a cadeira.

Romeo bufou. — Não, não, não. Eu conto as piadas neste


relacionamento.

Chad sorriu, seu coração acelerado desacelerou em um ritmo fácil. —


Eu amo móveis.

— Sim?

— Sim. Eu e minha poltrona reclinável há muito tempo...

Romeo deu uma risadinha. — Onde você encontrou isso?

— A Internet.

— Elas são horríveis pra caralho.

— Agora você sabe como é quando tenho que ouvir as suas.

— Mas as minhas são engraçadas.

— Não. Não, elas não são.

Romeo cantarolou. — Qual é a diferença entre nabo e meleca?

Chad revirou os olhos, esperando a piada.

— Você vai comer sua meleca.

Chad estendeu a mão e deu um tapa no braço de Romeo. — Isso é


nojento e eu não.

— Então, como foi a sessão de terapia, realmente?


— Eu parei no caminho de casa para me acalmar.

Os lábios de Romeo se abriram. — O que? O que ela disse?

— Nada de ruim, só... eu não quero foder com isso.

— Você deveria ter me ligado.

— Você estava quebrando uma mesa até a morte na época.

— Ainda deveria ter me ligado. Eu teria te acalmado, falado com


você.

— Eu sei. Eu irei na próxima vez.

— Certifique-se de fazer. Ela perguntou sobre mim?

— Seu idiota egoísta. — Chad sorriu.

— O que? Não posso culpar um cara por ser curioso.

— Ela disse que você não queria me salvar, mais que uma
coincidência.

— Mostra o pouco que ela sabe. Ela disse algo que realmente
ajudou?

— Foi mais uma sessão para conhecer. Obviamente, ela já sabe tudo
sobre mim, é totalmente acessível. Canster times e tudo isso.

Romeo apertou seu rosto.

— Ela disse algo, no entanto, algo que devo repetir para mim mesmo
quando preciso.

— E o que é isso?
— Estou no cinza.

Romeo franziu a testa, murmurando 'que porra era essa'.

— Estou no cinza. — Chad repetiu. — E tudo bem.

— Quanto ela está cobrando de você? Ela ganhou seu PhD


inventando rimas? Deixe-me tentar.

— Por favor, não.

— Se eu te fizer rir, você está curado, certo?

Chad gemeu: — Estou cansado demais para rir.

— Desafio aceito. Estou no vermelho, mas ainda não estou morto.

— Acho que isso é bastante preciso.

— Multidão resistente. Que tal... eu sou um tijolo, chupe meu pau.

Chad apertou os lábios e franziu o rosto com força, mas a risada


ainda escapou.

— Eu ganhei. — Romeo disse.

O telefone de Chad vibrou em seu bolso.

— Não se atreva - nada de telefones na mesa.

— Pode ser importante. — Chad disse, espiando. — Aparentemente,


meu pacote está programado para ser entregue amanhã...

— Excelente.

— O que é isso?
— É uma cama de beliche, guarda-roupa, escrivaninha e cômoda por
baixo.

Chad bufou. — Por que diabos precisamos disso?

— Não precisamos de nada disso, mas me mantém ocupado. Os


comentários diziam que as instruções eram horríveis, por isso que o
comprei. Deve me manter ocupado.

— O que vamos fazer com todas essas entregas quando eu voltar ao


trabalho?

— O entregador terá que deixá-los do lado de fora da porta.

— Eu não quero ele bisbilhotando. Ele já me olha engraçado.

— Isso porque você é claramente viciado em móveis simples. —


Romeo piscou. — Talvez você devesse procurar ajuda.

— Com uma terapeuta?

— Sim, você pode contar a ela sobre isso, ela vai inventar uma rima
para te ajudar. Viciado em madeira, tem um gosto muito bom? Uma lasca
em seu pênis pode fazer você parar.

Chad gemeu. — Você é terrível.

— Mas você me ama de qualquer maneira.

Romeo pegou seu copo.

— Eu amo. — Chad sussurrou.


Romeo fez uma pausa com o copo pressionado contra os lábios. Um
sorriso floresceu em seu rosto e ele ergueu a mão, o vinho tinto girando
enquanto ele falava, — Um brinde.

Chad ergueu o copo. — Para que?

— Minha Julieta.
Capítulo Três

Chad tentou sorrir para o detetive, mas os nervos zumbindo em seu


corpo o fizeram fazer uma careta. Ele passou a manhã inteira suando
quente, temendo que deixasse escapar algo sobre Romeo assim que
entrasse na estação.

Quando o detetive inspetor Sharpe o encontrou na recepção, Chad


enxugou a mão na calça, fora da vista do inspetor, antes de apertar sua
mão. Foi um toque breve, mas Chad não aguentou mais. O DI franziu a
testa para sua mão, olhando-a como se ela pudesse ter dado um choque em
Chad.

Embora tivesse a mesma idade do último inspetor de Chad, o


inspetor Sharpe parecia em melhor forma. Ele tinha cabelos e olhos azuis
que não eram fundos de fadiga, mas Chad apostou que não teve um ataque
cardíaco devido ao estresse por estar procurando por um assassino.

— Como você está se sentindo hoje?

Chad olhou por cima do ombro do detetive para a equipe da


recepção boquiaberta. Mesmo que ele tivesse trabalhado com eles por duas
semanas, eles ainda estavam boquiabertos, as mentes cheias de uma
centena de perguntas que eles estavam com medo de fazer. Os olhos
coçaram em seu pescoço e os sussurros chegaram até ele. Eles nunca
perguntaram a ele, mas perguntaram um ao outro, especulando e criando
mais rumores.

— Chad, como você está se sentindo?

— Um pouco apreensivo.

— Sem dúvida. Já estamos trabalhando em um caso - vou jogar você


no fundo do poço.

— Estou mais do que pronto.

O DI sorriu e começou a andar. Chad o seguiu, ignorando todos os


olhos sobre ele. A maioria das pessoas não o reconhecia de vista, mas seu
nome estava espalhado pela estação. Não importava que ele estivesse lá
por seis semanas, ele ainda era a fofoca excitante.

Chad Fuller capturado não por um serial killer, mas por dois.

O DI abriu a porta da sala de incidentes e três pares de olhos se


voltaram para ele.

— Vou fazer algumas apresentações antes de chegarmos a isso.

Chad engoliu em seco, olhando os detetives olhando para ele. Ele


alcançou a área dolorida em seu pescoço e pressionou até que a pele
latejasse.

Romeo estava em casa esperando por ele.

— O homem à direita é Josh.

Josh apertou os lábios em um sorriso sombrio. Cabelo loiro,


constituição grande, tatuagem no bíceps. Chad reconheceu o personagem
do videogame, algum herói de ação vestido de biquíni. Copos de café
enchiam sua mesa, e seu telefone estava apertado com força em sua mão.

— E esta é Faye.

Cabelo castanho com franja espessa e lábios laranja-vivos. Ela fechou


o espelho de bolso e o enfiou na jaqueta. Seus olhos estavam arregalados e
ela não sorriu para ele, mas sua garganta balançou com um engolir em
seco.

O DI gesticulou para a última pessoa na sala. — E a detetive sargento


Ally Coulson.

— Mas me chame, Ally.

Seu cabelo tinha uma tonalidade roxa onde a luz batia, seus óculos de
armação grossa eram roxos também. Ally sorriu para ele, um sorriso
completo, em prazer em conhecê-lo, e isso deixou Chad atordoado. Ele
piscou, então sorriu de volta, movendo seu olhar por todos eles. Ele estava
uma bagunça suada por baixo do terno, mas rezou para que parecesse
calmo e controlado. Ele forçou a vontade de fugir e inclinou a cabeça em
saudação.

— Eu sou Chad.

— Ótimo — disse o DI, dando um tapinha em seu ombro. — Vamos


colocar você a par do caso.

Chad acenou com a cabeça, mais do que grato por continuar com
isso, seguir em frente.
O DI olhou incisivamente para Faye, ela tirou o olhar de Chad e
pressionou as teclas do computador. A tela na frente da sala de incidentes
mostrou sua visão da área de trabalho, e ela clicou em um arquivo.

— Ellen Blakely — disse ela.

Uma foto de Ellen apareceu na tela. Cabelo loiro comprido, top


decotado, mostrando a língua para a câmera. Seus olhos eram castanhos
quentes, sua pele perfeitamente clara, Chad não sabia se ela estava usando
um filtro em suas fotos ou se o visual era natural. De qualquer forma, ela
era linda e muito popular pelo número de curtidas nos posts.

— Ela apareceu no noticiário, encontrada na última quinta-feira. —


Chad disse.

— O corpo dela foi encontrado jogado em uma vala fora da cidade.


Houve uma incisão de 15 centímetros em seu diafragma e seus rins foram
removidos.

Faye mordeu o lábio, lançando um olhar na direção de Chad. Se ela


esperava algum tipo de reação dramática, não iria conseguir.

— Antes ou depois da morte? — Chad perguntou.

Os olhos de Faye o encontraram novamente, ainda arregalado e


veloz. Seus lábios se abriram e fecharam, e Chad franziu a testa.

— Ela... ela estava viva quando o assassino...

— Cristo. — Ally murmurou. — Ela estava viva quando eles foram


removidos. Fibras de corda foram encontradas nas feridas em seus pulsos e
o corte em seu abdômen não estava limpo. Ellen se debateu, cortando
algumas de suas entranhas no processo. Ambos os rins foram retirados e,
até agora, eles não foram encontrados.

Faye estremeceu com a franqueza de Ally e apertou outra tecla.


Imagens dos ferimentos de Ellen apareceram na tela. Seus pulsos
queimados por cordas e o buraco aberto em seu estômago.

— O assassino enfiou um chapéu nos olhos dela.

— Um chapéu?

Faye acenou com a cabeça, antes de encontrar a imagem do chapéu.


Um chapéu de lã com as cores e o logotipo da equipe de Scottsdale, vinho e
amarelo.

— É um time de futebol.

Josh olhou, sorrindo. — Você conhece suas equipes, mas não conhece
seus logotipos e uniformes.

— Huh?

— O logotipo foi alterado, aquele chapéu não é dos últimos dois


anos, foi comprado antes disso.

O DI bufou. — Três anos antes. A data em que foi feita está na


etiqueta.

Chad olhou em sua direção. — Você acha que isso está relacionado ao
futebol?

— Não temos nenhum motivo concreto ainda.

— Ou qualquer suspeito concreto. — Josh acrescentou.


O DI olhou para Josh. — Temos um suspeito principal forte, no
entanto.

— Olhe para a tela. — Ally disse.

Chad virou sua atenção para isso. A tela estava cheia de imagens em
miniatura de Ellen. Havia um homem na maioria de suas fotos, os dois
posaram e se cobriram. Eles sorriam em todas as fotos, nunca parecendo
nada menos do que perfeitos.

— Quem é ele? — Chad perguntou.

— Marido de Ellen, Kerion. — Ally disse: — Eles são influenciadores


de mídia social e ganharam sua fortuna endossando produtos.
Principalmente alimentos saudáveis e equipamentos de ginástica.

Ally caminhou até a mesa de Faye e assumiu o teclado. — Mas


também, tratamento de remoção de cabelo.

Chad olhou para a perna nua de Ellen, bronzeada à perfeição. Kerion


estava beijando seu joelho.

— Batom.

Ellen fez beicinho com os lábios vermelhos para a câmera.

— E cerveja.

Ellen estava com os lábios em volta do gargalo de uma garrafa, longe


demais para beber confortavelmente, e Kerion estava ao lado dela,
mordendo o lábio.

— Minha mulher ideal. — Josh suspirou.


— Bem, ela é uma mulher morta agora. A maioria de seus seguidores
fala sobre como ela é incrível. Há alguns odiadores, é claro, e por mais que
queiramos afogá-los sob sua ponte, é um pouco difícil quando não
conseguimos encontrar os filhos da puta.

— Alguma ameaça? — Chad perguntou.

— Ninguém está dizendo que vão arrancar os rins dela, se é isso que
você quer dizer.

O DI cruzou os braços. — Acreditamos que o assassino enviou uma


mensagem diretamente para ela.

Ally acenou com a cabeça. — Com o nome de usuário,


sweetcheeks422. Uma aspirante a modelo de dezesseis anos. Exceto que,
quando você pesquisa as imagens, surge outra pessoa. Gabby Ernst.

— Que não sabia que as fotos dela estavam sendo usadas. — O DI


acrescentou.

— Não temos ideia de quem é sweetcheeks42. Seu endereço de e-


mail e informações não levam a lugar nenhum, e o endereço IP foi
adulterado, mas sejam eles quem forem, eles marcaram um encontro com
Ellen na noite em que ela foi assassinada, e agora, seu perfil foi desativado.

— E quanto ao marido? — Chad perguntou.

Faye abaixou a cabeça. — Kerion. Pobre rapaz, em completo estado


de choque.

2 Bochechas doce
Ally revirou os olhos para Faye. — Arranjamos um conselheiro para
ele, mas ele recusou nossa ajuda.

— Amigos e família de Ellen?

— Além de Keiron, ela não tinha ninguém. Seus fãs eram seus
amigos de acordo com seu perfil. Ela e Keiron são milionários que se
fizeram sozinhos. Eles pagam seus impostos, aumentam a conscientização
para uma variedade de causas, doam para instituições de caridade. Eles são
boas pessoas.

O telefone do escritório começou a tocar. O DI se desculpou e correu


pela sala para atender. Todos o observaram pela janela do escritório - ele
assentiu, disse algumas palavras e desligou.

— Aquele era o hospital St John. Uma caixa contendo rins humanos


foi entregue na UTI.

— Rins agora contabilizados. — Ally disse, marcando uma lista de


verificação imaginária.

— Leve Chad com você para o St. John's.

Ally agarrou sua jaqueta roxa das costas de uma cadeira. — Vamos
ver o que você tem, parceiro.

****
— Está mais quente que a bunda do diabo aqui. — Ally anunciou,
entrando no carro. Chad franziu a testa, em seguida, subiu no banco do
passageiro.

— Como você sabe que o diabo tem uma bunda quente?

— Esperança.

Ela riu, puxando o cinto de segurança ao redor dela. Os lábios de


Chad se curvaram em um sorriso inseguro. Ele estendeu a mão para o cinto
de segurança, sacudindo o olhar para cima e para baixo, Ally rindo em seu
assento.

— Vamos enfrentar o elefante na sala — disse ela.

Chad agarrou o cinto de segurança, mas não o puxou. Ally ergueu as


sobrancelhas olhando para ele. Ele temia que alguém perguntasse sobre
Marc e Romeo. Ele preferia que as pessoas não expressassem suas
perguntas, ou Deus me livre, descarregasse suas explicações.

— Qual é? — Ele perguntou.

— Você bebe café?

— Erm, sim.

— Então eu e você vamos nos dar bem.

Chad bufou, balançando a cabeça e prendendo o cinto de segurança.


Ally ligou o carro e saiu rápido o suficiente para bater a cabeça de Chad no
encosto.
Ele pensou em Gareth, mas a sensação boa se desvaneceu. Uma vez
ele pensou em Gareth como seu melhor amigo, mas não mais. O
relacionamento deles azedou depois de Romeo e se separou depois de sua
mudança.

— Havia muitos olhos seguindo você pela estação.

— Eu estava esperando por isso.

— Ainda é uma merda, não é? Acredite em mim quando digo, meus


olhos irão segui-lo pelo motivo certo.

— Qual é?

— Você tem uma bunda linda.

Chad riu. — Obrigado.

— Sem problemas. Você tem uma queda por mulheres mais velhas?

— Eu sou um homem de... homem.

— Vergonha. Agora que o DI fez as apresentações chatas, eu farei as


interessantes. DI Sharpe. Quarenta e cinco anos, casado, dois filhos, bela
casa.

— Parece normal.

— Ex-viciado em jogos de azar - não beba com ele, ele vai arrastá-lo
para uma casa de apostas e todos irão para o inferno.

— Certo...
— Josh, trinta e um. Com obsessão doentia por videogames, ele dirá
que está trabalhando no telefone, mas não está, está jogando dardos
virtuais. Gosta de futebol, odeia cobras.

Chad sorriu. — E Faye?

— Meu Deus, meu Deus, como ela chegou tão longe como detetive
de homicídios, eu nunca saberei. Quarenta e dois, casada e três filhos. Ela
está branca como uma folha desde que descobriu sobre sua transferência.

— Ela está com medo de mim?

— Com medo de que ela diga algo errado, só isso. Ela é realmente
doce, mas eu gosto mais do meu gostoso. O meu cheio de cicatrizes, ainda
de pé, caras fortes.

— Eu não diria que sou um cara forte.

— Quem disse que estou falando de você... mas para que conste,
você é.

— Que tal Ally?

— Ally — ela cantarolou. — Ela é sexy para cinquenta.

— Você tem cinquenta?

Ally bateu o dedo no volante. — O que é cem por cento a coisa certa a
se dizer, no tom perfeito e maravilhoso. Viúva. Minha comida é horrível,
mas se eu cozinhar para você, me sentiria abençoada, isso significa que eu
gosto de você.

— Isso só pode... me envenenar?


— Não há 'pode' sobre isso. Vamos então, Chad, apresente-se, com
verrugas e tudo.

— Acho que minhas verrugas estão bem documentadas.

Ally estalou a língua. — Eu quero ouvi-lo de você.

Ele enxugou o rosto com a mão, pensando no que iria dizer. Ele tinha
que falar de Romeo no pretérito, ele estava supostamente morto, afinal.

— Fui mantido cativo não por um, mas por dois assassinos em série,
Romeo Knigh...

Ally bocejou dramaticamente e Chad olhou para ela. O canto de seus


lábios se ergueu em um meio sorriso.

— Eu quero conhecer você, não o que aconteceu com você.

Ele franziu a testa. — Chad Fuller. Adora filmes de ficção científica e


palavras-cruzadas, odeia nabo e camarões e absolutamente não come
meleca.

— Eu não sei por que essa coisa de meleca apareceu, mas prazer em
conhecê-lo, Chad. Ouvi dizer que você recebeu um bom pagamento do
Canster Times.

— Eu recebi.

— Então por que se jogar de volta lá? Por que não ir ao pôr do sol,
viver o resto da sua vida em alguma praia exótica?

— Este não sou eu. Não sou quem eu sou. — Ele puxou o paletó. —
Este sou eu.
Essa era a verdade. O detetive era tudo o que ele tinha.

— Boa resposta. — Ela sorriu. — Você recebeu uma ordem para ver
um psiquiatra semanalmente?

— Sim.

— Como foi?

Ele encolheu os ombros. — Ok, eu acho.

Ally olhou para ele por alguns momentos e depois desviou o olhar.
— Então, os DIs nos uniram... eu gostaria de dizer que é para o seu
benefício, mas acho que é para Josh e Faye. Eles não podem lidar comigo.

— O que te faz pensar que eu posso?

— Você sobreviveu a dois assassinos em série - eles foram uma boa


prática para mim. — Ela piscou e gargalhou antes de inclinar a cabeça para
o para-brisa. — Estamos aqui. St Johns.

****

Um médico os recebeu na recepção e os conduziu pelo hospital.

Chad afastou seu próprio desconforto e fixou seus olhos nas placas
para a UTI. Pacientes, enfermeiras e outras equipes médicas abriram
caminho para eles, e o médico os levou a um consultório.

As persianas foram baixadas e ele acendeu as luzes. Uma


programação foi fixada na parte de trás da porta, e as paredes estavam
cobertas de cartões de agradecimento, a maioria dos quais tinha flores ou
carros impressos na frente.

— Aqui estão eles. — O médico disse, saindo do caminho de uma


mesa. O que parecia ser uma caixa de sorvete foi colocada no meio,
próximo a uma caneca em forma de motor.

Ally tirou algumas luvas do bolso e lutou para colocar as mãos


dentro.

— Apenas a caixa, não a caneca.

— Não, a caneca é minha. — Ele deslizou para longe.

— Não toque na caixa. — Ela avisou.

— Um pouco tarde para isso, fui ultrapassado antes que


soubéssemos o que havia dentro.

Ally puxou a caixa da mesa em sua direção e abriu a tampa.

Chad olhou para o médico. Seu uniforme azul claro era da mesma cor
de seus olhos. Sua testa franziu e seu rosto se contraiu em uma careta
quando Ally assobiou: — Definitivamente rins.

— Não sei se é algum tipo de piada de mau gosto ou o que? — O


médico disse, cruzando os braços.

Chad olhou para os rins, ele torceu o nariz com o cheiro pútrido, os
órgãos em decomposição quase tinham uma doçura para eles. Ally colocou
a tampa de volta na caixa de sorvete que continha os rins e colocou-a em
uma caixa acolchoada de evidências. Ela tirou as luvas e jogou-as em uma
lixeira próxima.

Ela cantarolou. — Não é meu sabor favorito.

O doutor recuou. — Com licença?

— A que horas eles vieram?

— Logo de manhã. A caixa foi encontrada fora da entrada do


ambulatório, endereçada à UTI.

— Você abriu a caixa? — Chad perguntou.

O médico acenou com a cabeça. Suas sobrancelhas se juntaram e ele


beliscou o topo do nariz. — Não acredito que alguém faria isso.

— E você é? — Chad perguntou.

— Doutor Carter. Clive Carter.

Ally bufou. — Bond, James Bond.

— Eu sinto que você não está levando isso a sério.

— Eu estou — Ally disse. — Mas se eu não jogar algum humor


inapropriado aí, eu posso muito bem murchar e morrer.

— Eu sou Carter. — Ele se virou para Chad. — Eles são humanos. Já


lidei com o suficiente para saber.

— Garanto que estamos levando isso muito a sério.

— Alguma ideia de quem eles pertenciam?

— Não temos liberdade para...


— Ellen Blakely. — Ally disse.

Carter deu um passo para trás. Seus lábios se abriram. Um lampejo


de algo passou por trás de seus olhos, e o pescoço de Chad se arrepiou.

— Você a conhecia? — Ele perguntou.

— Eu não a conhecia.

— Qual o time de futebol você torce?

— Chad. — Ally sibilou.

Ele a ignorou e esperou pela resposta de Carter. Ele franziu o rosto e


balançou a cabeça. — Eu não sigo futebol. Estou em meus carros, não
suporto futebol. O que isso tem a ver com Ellen Blakely?

Chad semicerrou os olhos, concentrando-se intensamente nas pupilas


velozes de Carter. — Você a conheceu. Eu vi nos seus olhos.

Ally agarrou seu cotovelo. — Calma.

— Como você a conheceu?

Carter encontrou o olhar de Chad. Suas sobrancelhas se contraíram,


então relaxaram quando ele suspirou. — Ela morava perto de mim.

— Maneira de elaborar — Ally disse.

— Então você a conhecia? — Chad disse.

— Eu não conhecia ela ou seu marido. Falei com ele algumas vezes
sobre carros, mas foi só. Coloquei um cartão de condolências em sua caixa
de correio e disse a ele que se houvesse algo que eu pudesse fazer, eu o
faria. Não tinha ideia de que seu assassino tinha... — Ele balançou a cabeça.
— Por que alguém faria isso?

— Existem alguns indivíduos doentes neste mundo.

— Você acha que pode ter algo a ver com Marcy White?

Chad lançou um olhar para Ally. — Marcy White?

— A adolescente que precisa do transplante de rim. Ela está no


noticiário local, é uma corrida contra o tempo. Aos treze anos, seus pais
estão obviamente perturbados.

Carter acenou com a cabeça. — Se esse indivíduo está zombando de


nossa busca por um rim adequado ou se tem alguma ideia equivocada de
que eles poderiam ser usados, não sei.

Ele olhou por cima do ombro, então se aproximou de Ally e Chad. —


Mas seria muito perturbador se os pais de Marcy soubessem disso. Eles
têm o suficiente para lidar.

— Vamos divulgar os detalhes quando for necessário. — Ally disse.


— Vamos passar pelo CCTV3 e perguntar ao público se viu alguém agindo
de forma suspeita fora do hospital, mas não vamos mencionar o que estava
na caixa.

— Bom. Não quero causar pânico ou ter mais imprensa do lado de


fora do que o normal. Eles são animais.

Chad bufou. — Eu concordo com você.

3É um sistema de televisão que distribui sinais provenientes de câmeras localizadas em locais específicos, para um ou
mais pontos de visualização.
— Alguma boa notícia para Marcy? — Ally perguntou.

Carter baixou a cabeça. — Não. Assim que houver um doador


adequado, estarei naquela sala de cirurgia, dia ou noite, fazendo todo o
possível para salvar aquela jovem, mas o tempo está contra ela. Tudo o que
posso fazer agora é ter certeza de que ela está confortável e que seus pais
estão recebendo apoio.

Ele se virou ao ouvir a batida na porta. Uma enfermeira enfiou a


cabeça dentro. Seu olhar encontrou a caixa de evidências antes de ir para
Chad e Ally.

— Desculpe, eu não queria interromper.

— Está tudo bem, Val, o que é?

— Erica e Glen estão ficando ansiosos porque você não os atualizou


esta manhã.

— Os pais de Marcy — ele disse para o benefício de Ally e Chad. —


Eles esperam que eu tenha boas notícias para eles. — Ele olhou para a caixa
sobre a mesa. — O que eu não tenho.

— Ainda há tempo. — Ally disse.

Ele apertou os lábios em um sorriso sombrio. — Tempo…

Carter estendeu a mão para Ally. Ela agarrou a dele com as dela,
espremendo a vida dele. — Não desista daquela garota, ela ainda está
lutando.

— Eu não vou. Obrigado…


— DS4 Ally Coulson.

Ele se virou para Chad, oferecendo uma mão. Ele engoliu em seco e
se forçou a tocar a mão de Carter. Seu aperto foi gentil, mas mesmo assim,
Chad ficou tenso.

— Chad Fuller.

As sobrancelhas de Carter se ergueram. Ele deu uma rápida olhada


em Chad, então se fixou nos olhos de Chad. Chad imaginou que o médico
colocaria exatamente a mesma simpatia em sua expressão ao falar com os
pais de Marcy.

— Aquele que saiu no noticiário?

Chad enrijeceu, estreitou os olhos e Carter desviou o olhar, limpando


a garganta.

— Não acho que haja muitos outros Chad Fuller que foram picados
por um assassino em série e viveram para contar a história. — Ally disse.
— Ou nenhum que conhecemos.

— Sim claro. — Carter disse. — Desculpe, eu não queria...

— O que?

— Olhar para você assim, o olhar arrebatador — ele balançou a


cabeça. — É o olhar do médico, dando uma checagem visual no paciente.
Hábito, eu acho.

— Eu acho que é melhor do que os olhares e os sussurros.

4 Detetive Sargento
— Você pode me dar uma olhada, se quiser. — Ally disse.

Carter bufou, balançando a cabeça. — Eu tenho pais assustados para


tranquilizar o melhor que posso. Boa sorte com sua investigação.

Carter saiu do escritório. Ally se virou para a caixa de evidências,


fechando a tampa.

— Pelo menos ele parecia preocupado e não ficou boquiaberto.

— Eu preferiria que não houvesse nenhuma reação, nenhum


reconhecimento.

— Não há nada mais sexy do que um médico preocupado. — Ally


disse.

Chad balançou a cabeça e Ally riu.

— Não me diga, você não...

— Eu não iria. Ele não é meu tipo.

O tipo de Chad estava em casa, fazendo móveis simples para evitar


sair para matar.

— Olhos azuis cristalinos. — Ally suspirou.

Os de Romeo eram verdes hipnóticos, escureciam quando ele juntava


as sobrancelhas e escureciam completamente quando ele puxava sua
expressão para um grunhido. Chad engoliu em seco ao imaginar a
expressão no rosto de Romeo quando ele dividiu a perna da mesa, sem
falar quando matou Marc.
Ally bateu o cotovelo nos braços de Chad. — Aposto que ele é bom
com as mãos.

Romeo era bom com as mãos. Chad cambaleou ao pensar nas mãos
de Romeo na garganta de Marc. A expressão no rosto de Romeo depois, de
pura euforia. O monstro apareceu e matou o inimigo de Chad.

— Chad?

— Huh?

Seu coração batia forte, roubando sua respiração, e Ally franziu a


testa.

— Você está bem?

— Sim... apenas hospitais.

Ela deu um tapinha na caixa que continha os rins. — Quer levar esses
bebês de volta para a delegacia?

— Certo.
Capítulo Quatro

Romeo ficou esperando no corredor, secando as mãos em uma toalha.


— Como foi?

Chad fechou a porta e encolheu os ombros. — Desajeitado. Mas não


tão estranho quanto eu esperava.

— Então, isso é bom?

— Mais ou menos.

Um redemoinho de algo passou por trás dos olhos de Romeo. Ele


pendurou a toalha no ombro e ofereceu a Chad um sorriso tranquilizador
que teve o efeito oposto.

— Vamos, aventure-se.

Ele esperou Chad tirar os sapatos antes de gesticular para Chad ir


para ele.

Chad soltou um suspiro de satisfação quando Romeo não o mandou


embora. Ele não estava no meio de um de seus momentos sombrios.
Romeo passou o braço em volta dos ombros de Chad, puxando-o para
perto.

Seus lábios encontraram os de Chad e Chad o beijou com força.

— Fácil. — Romeo deu uma risadinha.


Ele abriu a porta da cozinha, e Chad foi atingido por uma explosão
de especiarias. — Cordeiro marroquino, iogurte de menta, cuscuz
mediterrâneo, pão naan feito à mão.

— Jesus, Romeo…

— Não gostou?

— Você está me estragando.

Romeo tirou o paletó de Chad de seus ombros. — Me mantém


ocupado. Eu tenho que fazer algo enquanto você está fora no trabalho.

A culpa torceu as entranhas de Chad. Ele se virou para encarar


Romeo e pegou sua mão com os dedos. — Lá está o outro carro, você pode
se disfarçar, ir para a cidade contanto que tenha cuidado. Eu confio em
você...

— Você não deveria. É melhor eu ficar aqui, menos chance de eu...


você sabe.

Chad engoliu em seco. — O monstro?

— Não gosta de estar de volta à jaula. — Ele bateu na lateral da


cabeça. — Estamos em território desconhecido.

Romeo se distanciou de Chad, então puxou uma cadeira. — Vamos,


antes que esfrie.

— Romeo...

— Sente.
Chad obedeceu e Romeo sentou-se à sua frente. Ele pareceu satisfeito
quando Chad começou a comer e gemer em agradecimento.

— Cuidado. — Romeo sussurrou.

— Huh?

— Você, gemendo assim. Isso me levou muito tempo, não quero


varrê-lo no chão em um momento de paixão.

Chad riu. — Parece bom para mim.

— Parece... definitivamente não muito organizado, cinco letras.

— Bagunçado.

— Sim.

— Mas também... Oposto de frio, seis letras.

O sorriso de Romeo enrugou seus olhos. Seu olhar afetuoso se


desvaneceu e ele desviou o olhar.

— Eles colocaram você em um caso?

— Sim.

— E como foi?

— Estágios iniciais. O que você fez hoje?

Romeo ergueu uma sobrancelha. — Eu fiz outra cama.

— Sim, como foi?

— Bem. As instruções que vieram com ela foram horríveis - eu tive


que imprimir mais algumas.
Chad tamborilou os dedos na mesa. — Teremos que descobrir o que
faremos com todas essas coisas. Não posso deixar que você pegue um
martelo em tudo.

— Vou pensar em alguma coisa.

— Teremos que fazê-lo em breve. E se um armário cair em você


enquanto eu estiver fora?

Romeo inclinou a cabeça. — Por que você não está me contando sobre
o caso?

Chad suspirou. — Eu não estou não te contando.

— Você simplesmente não está mencionando isso, certo? — Romeo


revirou os olhos.

— Eu não quero... você sabe.

— O que?

— Esfregar seu rosto nele. Algum assassino lá fora, quando você está
preso aqui, tentando não matar.

Romeo se esticou sobre a mesa, agarrou a outra mão de Chad e


apertou. — Eu quero que você me conte sobre o seu dia.

— Sim?

— Sim. É normal, certo?

— Eu acho que sim.

Chad franziu a testa, mas cedeu quando Romeo apertou sua mão
novamente. — Estamos investigando o assassinato de Ellen Blakely.
— Ela é a influenciadora das redes sociais, certo? — Romeo disse. —
Ela está no noticiário.

— Encontrada em uma vala fora da cidade, incisão de seis polegadas


em seu abdômen, e seus rins sumiram. Eles foram enviados para a UTI do
St. John esta manhã.

Romeo coçou o queixo. — É onde aquela garota está esperando por


um transplante.

— Como você sabe disso?

— Passo a maior parte do tempo ouvindo rádio, aparece algumas


vezes. Orar por Darcy?

— Marcy.

— Alguém matou Ellen e mandou seus rins para o hospital?

— É isso em poucas palavras.

— Alguma pista?

— Ellen estava conversando com alguém usando o nome


sweetcheeks42 antes de sua morte. Sweetcheeks não era quem dizia ser e
também usava fotos de outra pessoa. Eles combinaram de se encontrar na
noite antes de Ellen ser encontrada.

— Bastante conclusivo.

— Exceto que a conta foi desativada. E-mail, número de telefone,


endereço IP levam a lugar nenhum. É um fantasma. Desapareceu.
Romeo cantarolou. — É muito mais fácil usar máscara na internet,
esconder quem você realmente é e suas reais intenções. Você sabe alguma
coisa sobre Sweetcheeks?

— Pode ser um apoiador de Scottsdale.

— O time de futebol?

— Sim, o assassino colocou um chapéu Scottsdale em Ellen, cobrindo


o rosto dela até a boca.

O olhar de Romeo se desviou para a janela. — É verão, por que você


teria um chapéu de lã com você?

— O assassino amarrou Ellen e a cortou enquanto ela estava


acordada.

A atenção de Romeo voltou para Chad. — Marc Wilson.

O coração de Chad parou de bater.

Ele ergueu o olhar para os olhos ardentes de Romeo. — Está morto.

— Sim, ele está. — Romeo afundou de volta em sua cadeira. —


Número um.

Chad esperou que Romeo parasse de dilatar suas narinas antes de


continuar.

— Não sabemos se o assassino enviou os rins com a esperança


iludida de que pudessem ser salvos ou se temos um assassino sádico com a
intenção de estender a dor de uma família.

— E a família de Ellen?
— Ela não tinha nenhuma, além do marido, outro influenciador de
mídia social.

— Assassinada pelos rins.

— Ally já os chamou de Assassino dos rins.

— Ally?

— A mulher com quem fui parceiro. Ela é... — A mente de Chad


vagou, Ally não passou por ele, mas falou sem um filtro. Josh e Faye
lançaram olhares cautelosos para ele, mas Ally não o fez nenhuma vez. —
Ela é o que eu preciso em uma parceira.

— Ela vai cuidar de você?

Chad bufou. — Acho que é mais provável que eu precise cuidar dela.

Romeo baixou o olhar para o prato vazio. — E como é, estar de volta


ao trabalho?

— É diferente.

— Bom? Mau?

— Parece certo. — Ele acenou com a cabeça, para seu benefício, não
de Romeo.

Parecia certo. Ele trabalhou seu caminho até o detetive de homicídios,


era o trabalho que ele amava, mas havia algo, algum distanciamento que
ele não havia sentido antes, e ele não tinha certeza do que era ou por que
isso o atormentava.

— Tenho que me acostumar de novo, só isso.


— Estou feliz por você. Eu sei o quão importante o detetive é para
você.

— O detetive?

— Sim.

Romeo juntou os pratos, talheres e tigelas em silêncio e os colocou ao


lado da pia. Ele não olhou para trás para Chad, ele olhou para fora da
janela que dava para os campos lamacentos.

— Você deveria ir sentar-se na outra sala, você teve um longo dia.

— Eu prefiro ficar aqui com você.

— Vou me juntar a você em um minuto.

Chad lentamente se levantou e foi embora, mas parou na porta,


voltando-se para Romeo.

— Romeo…

Ele não olhou para Chad, mas inclinou levemente a cabeça, um sinal
de que estava ouvindo.

— Nos últimos meses, ninguém cuidou de mim como você.


Ninguém nunca me fez sentir como você, como se eu fosse importante,
como sou importante.

— Nada importa mais do que você.

Os olhos de Chad queimaram com lágrimas. Ele não podia impedir


que elas o inundassem ou seu coração palpitasse com a onda de emoção.

— Obrigado por cuidar de mim.


Romeo retomou seu olhar para fora da janela.

Ele sempre jogava sementes para os pássaros e, embora Chad não


pudesse vê-las, ele podia ouvir o barulho e gargalhada das pegas no
campo. Como sempre, elas deixaram Romeo paralisado.

****

Josh estava sentado em sua mesa, devorando donuts. Chad pegou


um da caixa, mas quanto mais ele respirava o cheiro doentio, menos ele o
queria. Ele não tinha comido nada naquela manhã, a preocupação
borbulhando na boca do estômago tornava isso impossível.

Romeo estava em sua mente, ou a falta de Romeo. Ele não tocou em


Chad pelo resto da noite, dormiu no sofá e desapareceu na cabana quando
Chad se levantou para trabalhar.

Josh terminou de lamber o açúcar dos dedos e falou: — As pessoas


matam por três motivos principais, certo? Ganho financeiro, sexual e
poder.

— Que tal vingança? — Ally disse.

— Isso vem em ganho de poder. É sobre recuperar o controle, acertar


as contas.

Chad colocou seu donut na mesa de Josh e o deslizou em sua direção.


— Há quatro razões.

— Qual é a quarta?
— Algumas pessoas nascem com a necessidade de matar.

Josh deu uma mordida no donut. — Você acredita nisso?

Ally sorriu, cruzando os braços. — Ele foi feito refém por dois serial
killers, se alguém sabe, é ele.

Faye deixou cair a caneta no chão, mas Chad fingiu que não tinha
notado.

— Sim, mas Marc Wilson se encaixa na categoria de poder. — Josh


disse. — Ele adorava ler sobre si mesmo na imprensa, assim como Romeo.

— Josh. — Faye assobiou.

Chad não olhou para ela diretamente, mas ele podia vê-la com o
canto do olho, balançando a cabeça e acenando com a mão.

— O que? Ele pregou todos os jornais nas paredes, não foi?

— Sim...

— Então ele era semelhante ao Marc.

Chad mordeu a bochecha. — Ele não era nada como Marc.

— Estou chamando da forma como vejo.

Chad bateu com o punho na mesa. — Você está errado. Romeo me


disse que precisava matar desde muito jovem, tentou ignorar, mas não
conseguiu. Assim que matou cinco, ele disse que pararia e seguiria em
frente. Isso é o que ele precisava fazer para ser livre.

— Se é uma necessidade que ele teve desde o nascimento, como ele


poderia se livrar dela? — Josh disse, arrancando outro pedaço do donut.
— Ele disse que era um desejo, e uma vez que ele atingiu cinco...

— Eu anseio por donuts, prometo a mim mesmo que só vou comer


um, mas aqui estou, no meu terceiro.

Faye se levantou. — Vamos nos acalmar.

— Eu estou calmo. — Chad disse.

Ally o olhou de cima a baixo. — Mesmo? Odeio ver você quando


você está controlando seu temperamento.

— Eu estava apenas sugerindo que Romeo poderia estar na categoria


de poder. Isso é o que Holly Stevenson escreveu, ele foi pisado por sua
família, amigos, seu empresário, e ele quebrou um dia...

— Ela não sabe nada sobre Romeo!

O queixo de Josh caiu e Faye respirou fundo.

Chad não tinha ideia de como superar sua explosão. Ele balançou os
calcanhares, virou-se e saiu correndo da sala de incidentes.

Ele se apoiou na parede, respirou lenta e profundamente e esperou


que seu coração voltasse ao normal. Os cabelos de seu pescoço se
arrepiaram e ele se virou para dois policiais nas escadas acima, olhando
para ele.

— O que?

Eles desapareceram de vista.

A porta da sala de incidente se abriu e sem olhar, ele sabia que era
Ally.
— Estou bem.

— Conte até dez, respirações profundas e lentas. Imagine alguém


que você odeia.

— Porque eu faria isso?

— Apenas faça.

Ele fechou os olhos e imaginou Marc. Quando ele sorriu, seus caninos
afiados brilharam.

— Agora imagine dar um soco na cara dele.

— O que?

— Você me ouviu. Dê um soco na cara daquele idiota. Esmague seu


nariz, quebre sua mandíbula.

Chad engoliu em seco. Ele não conseguia, mesmo em sua fantasia, ele
não conseguia se mover.

Marc se aproximou com o bisturi pronto e a única coisa que o


impediu foi Chad abrir os olhos.

— Melhor? — Ally disse.

Ele não respondeu, e ela tocou seu ombro. — Vamos.

Ally abriu caminho para a sala de incidentes. Faye tinha sua atenção
fixada na porta, mas Josh não estava olhando na direção de Chad. Ele
apoiou a cabeça com a mão e olhou para a tela do desktop.

— Sinto muito por surtar com você.


Josh girou em sua cadeira. — Não, sou eu quem está arrependido.
Holly Stevenson pesquisou seu nome na sujeira. Claro que você conhecia
Romeo melhor do que ela. Se você disser que ele nasceu com a necessidade
de matar, então tudo bem, eu confio em você.

— Obrigado.

Josh exalou. — Estamos bem?

— Estamos bem.

— Romeo se matar foi provavelmente a coisa mais humana que ele


fez.

— Por que você diz isso?

— Ele deve ter percebido que era a única maneira de se livrar de sua
necessidade. Foi a única maneira que ele conseguiu parar.

As palavras bateram no rosto de Chad e ele cambaleou.

— Foco — Ally gritou. — Isso não é importante agora, o Assassino


do Rim é.

Faye suspirou. — Estamos aderindo a isso?

— Sim. Fico com fome toda vez que digo isso. Bife suculento e rim,
yum, yum.

— Nojento. — Josh disse, antes de chupar cada um de seus dedos em


sua boca.

Chad se virou para a fotografia de Ellen na frente da sala. Ela sorriu


para a câmera, bochechas rosadas e lábios rosados. Ela tinha joias azuis ao
longo de suas sobrancelhas, da mesma cor de seus olhos. Ela parecia uma
jovem amando a vida.

Ally apontou para o quadro. — Vamos examinar os motivos


possíveis. Financeiro.

— Ellen era uma influenciadora de mídia social — disse Faye. —


Tudo o que você precisa fazer é olhar para as fotos dela e de Kerion para
saber que eles estão ganhando dinheiro. Eles vivem na Crafts Way.

— O que há de tão especial no Crafts Way? — Chad perguntou.

— É um bairro rico, casas enormes. É apelidado de Avenida dos


Milionários.

— Quem ganharia financeiramente com a morte dela?

— Keiron. — Disse Faye. — A casa é exclusivamente dele agora, mas


se você o tivesse visto na semana passada, branco como um lençol,
tremendo.

— Algumas pessoas são bons atores. Eles usam máscaras.

Ally estalou a língua. — Eu tenho que concordar com Faye neste. Se


ele estava atuando, ele merece um Oscar, sua reação puxou meu coração, e
sou tão fria como o gelo.

— Quando ele começou a tremer? — Chad perguntou.

Ally franziu a testa. — Quando dissemos a ele que Ellen estava viva
enquanto um maníaco removia seus rins, meio que bagunçou a cabeça de
um homem saber que aquela que ele amava estava sendo fatiada e cortada.
— Esses influenciadores de mídia social, muitas competições por
marcas, certo? — Josh disse.

Chad acenou com a cabeça. — Certo.

— Poderia ter sido um rival, tirando a competição. Todas essas


marcas precisarão de alguém para conectá-las. Esse campo se abriu com a
morte de Ellen.

— É possível. — Chad disse. — Mas por que tirar os rins dela, por
que matá-la assim?

Josh encolheu os ombros. — Marcy tem estado muito nos noticiários,


esta busca por um doador adequado, talvez eles tenham usado isso como
uma cobertura, fazer a matança sobre os rins quando não é.

— E se não foi pelos rins, para que serviu, hein? — Ally disse. — Os
biquínis dela?

— Poderia ter sido. Ellen estava promovendo a roupa de banho


Surfs-up. Vou contatá-los, ver se alguém está farejando, tentando
promover seus produtos.

— Qualquer desculpa para olhar para mulheres de biquíni.

— Há um alcance masculino também.

Ally ergueu as sobrancelhas. — Talvez você esteja no caminho certo.

— O biquíni se encaixa — Chad disse, — E se o motivo for sexual?


— Nenhuma agressão sexual ocorreu. — Faye disse: — Há muitos
comentários sob as fotos dela, e cito: 'Eu abriria você em um piscar de
olhos'. Esse é um de muitos do BigBoy115.

Ally gemeu. — Por que nenhum deles pode usar seus nomes
verdadeiros?

— Porque isso tornaria nosso trabalho mais fácil. — Chad bufou.

— A maioria dos comentários é recente, um clamor depois da morte


dela. Eles querem que a justiça seja feita.

— E quanto ao ganho de poder? — Ele perguntou.

— Deve ser sobre controle — Ally disse. — O assassino a pegou,


amarrou e depois a matou, aparentemente por causa dos rins. É esse o
ganho de poder, os rins? Porque eles não serviram para nada depois de
cinco dias.

— Veja isso. — Faye disse, apontando para a tela. Ela rolou para
baixo na fotografia e parou nas hashtags.

— #OrandoporMarcy #Gostariadepoderajudar #EsperandoeOrando.

— Nosso assassino tem uma tendência sádica, isso é certo. — Josh


disse. — E mau gosto para times de futebol.

— O chapéu de lã. — Chad balançou a cabeça. — Tem que ser


significativo.

5 Garotão
— Pode ter sido tudo o que o assassino tinha em mãos. Ainda não
sabemos onde ocorreu o assassinato. Chapéu de Scottsdale, equipe
horrível, ele poderia estar no lixão local.

Chad voltou sua atenção para o computador e assistiu à sessão de


treino de Ellen pela décima vez. Kerion escorregou para a imagem quando
ela estava quase terminando e beijou sua bochecha.

Outro vídeo a mostrou brincando com Kerion enquanto ele lavava


seu carro esporte, jogando um balde de água fria sobre ele de uma janela
do andar de cima. Ele retaliou perseguindo-a pelo jardim em outro vídeo.
Eles riam, brincavam de lutar e se entreolhavam.

— Deixa você doente, não é? — Ally disse.

— O que?

— Amor. — Ela suspirou. — Ser jovem e apaixonado.

— O seu marido persegue-te pelo jardim com uma mangueira?

— Como o inferno, eu teria enfiado no seu...

A porta do escritório se abriu com um estrondo e o DI saiu. Ele


ergueu o queixo em direção a Chad. — Kerion está esperando na recepção.
Eu o trouxe para ajudar em nossa investigação, lançar alguma luz sobre
este sweetcheeks.

Chad acenou com a cabeça, e ele e Ally seguiram o DI para fora da


sala de incidentes. Chad queria ver Kerion, queria ver através de sua
máscara, mas o homem na recepção, de olhos inchados, com um lenço
enrolado na mão, afundou o estômago de Chad.
Ally deu uma cotovelada em seu lado. — Te disse.

O cabelo preto de Kerion não tinha o estilo de todas as suas fotos, ele
não estava usando seu brinco de diamante ou seu relógio Rolex. Ele estava
com sua jaqueta de motoqueiro fechada até o queixo, apesar de ser um dia
quente escaldante.

— Você já conheceu a mim e a Ally antes. — O DI disse.

Kerion ergueu a cabeça e fixou seus olhos vermelhos em Chad.

— Sou o detetive Chad Fuller. — Ele disse, estendendo a mão.

Kerion não reagiu ao seu nome, ele agarrou a mão de Chad, mas em
vez de sacudi-la, ele agarrou, e Chad o levantou. Ele puxou a mão de volta
assim que pareceu apropriado e lutou contra a necessidade de estremecer.

— Nós iremos a algum lugar privado para conversar. — O DI disse.

Kerion acenou com a cabeça e deixou o DI conduzi-lo pelo corredor.


Chad agarrou seu capacete e os seguiu.

A configuração da estação era quase idêntica à anterior - exatamente


os mesmos corredores longos e de cores suaves e portas azuis. Os mesmos
uniformes, apenas um brasão diferente, os mesmos grupos remanescentes
nos corredores que pareciam ocupados quando alguém mais velho se
aproximava. O pescoço de Chad formigou com os olhos nele, assim como
em sua antiga estação depois de Romeo.

O DI abriu uma porta para uma pequena sala. — Aqui.


Ally apontou para Chad entrar na sala, então fechou a porta atrás
dele.

As mesmas cadeiras de plástico azuis desconfortáveis e mesas cinzas


de seu antigo apartamento. No entanto, havia um bebedouro no canto da
sala, algo que faltava em Dunson.

Kerion se sentou. Ele manteve as mãos no colo e olhou fixamente


para a mesa.

— Do que se trata? — Ele murmurou. — Estou com algum


problema?

— Não — disse o DI. — Estamos nos perguntando se você pode nos


falar sobre sweetcheeks42?

Kerion desviou o olhar.

— Você sabe quem eles são?

— Não. Eu sabia que Ellen estava falando com alguém. Ela me


mostrou as fotos. Ellen perguntou seu nome verdadeiro e ela disse que era
Nina Berry.

— Vimos as mensagens diretas de Ellen. Elas combinaram de se


encontrar.

— Isso mesmo. Ellen foi encontrá-la e, depois disso, elas deveriam


me encontrar, mas Ellen não me enviou uma mensagem de texto sobre um
lugar, um horário ou qualquer coisa.
O DI cantarolou. — Você enviou uma mensagem para Ellen às 23h35
perguntando onde ela estava e ligou para ela dez minutos depois.

— Ela não respondeu.

— E o que você pensou quando ela não respondeu?

— Não pensei muito nisso, pensei que talvez elas estivessem se


divertindo muito e esqueceu de me mandar mensagens. Eu... eu adormeci,
acordei quando a polícia bateu na minha porta na manhã seguinte.

Ele pressionou o lenço sobre a boca, balançando a cabeça.

— Você já falou com Sweetcheeks42? Nina? — Chad perguntou.

Kerion levantou o tecido. — Não.

— Ellen alguma vez falou com Nina ao telefone?

— Não. Estava tudo em mensagens. Ellen recebeu muitas mensagens


de fãs.

— Ela tinha mais de 200.000.

Kerion sorriu. — Sim, ela estava orgulhosa disso.

— O que a fez responder às mensagens de Nina?

— Nina disse que se sentia sozinha, não tinha muitos amigos ou


família próxima. Acho que Ellen se conectou a ela, mas não era Nina, era?
Foi outra pessoa, alguém que atraiu Ellen para uma armadilha e...

Toda a cor havia sumido de seu rosto - até mesmo o rosa desbotado
de seus lábios. Ele cobriu a boca novamente e teve ânsia de vômito. Seus
cílios tremeram e Chad não sabia se ele ia vomitar ou desmaiar.
Ele se recuperou e deslizou as mãos pelo queixo até agarrar a
garganta.

— Você acha que foi sweetcheeks - Nina - quem quer que sejam.

— Parece nossa liderança mais forte, a menos que você possa pensar
em outra pessoa que gostaria de machucar...

— Não há ninguém.

O DI gesticulou para o bebedouro no canto da sala. — Tome uma


bebida. Vou enviar um oficial de ligação para vê-lo.

— Não quero falar com ninguém. Eu só quero ir para casa e chorar


por ela. Eu tenho que voltar.

— Ellen tinha inimigos? — O DI perguntou.

Kerion jogou o pé no chão. — Não, ela era adorável, doce, gentil,


nenhum um osso nojento em seu corpo. Ela era uma boa pessoa, por
completo.

A mente de Chad voltou para sua sessão com Keeley, as palavras


dela ecoaram em sua cabeça. Ninguém era cem por cento bom ou cem por
cento mal, todos eram tons de cinza diferentes, incluindo Ellen Blakely.

— Posso ir agora?

O DI acenou com a cabeça. — Sim, você tem um contato para quem


eu possa ligar para você...

— Não, eu quero ficar sozinho.

— Se precisarmos de mais informações, ligaremos para você.


Kerion não falou, ele se levantou e saiu correndo da sala abraçando
seu capacete de motocicleta.
Capítulo Cinco

Chad parou ao lado da casa.

Ele olhou para o relógio, balançando a cabeça na hora. Quando ele


estava trabalhando na recepção e com os guardas de trânsito, seu horário
era consistente, mas trabalhando em homicídio, eles estavam por todo o
lugar. Tinha sido o mesmo antes, mas Chad nunca temeu que Neil saísse
para a matança sem ele lá.

As luzes estavam acesas na casa, mas Chad não conseguiu encontrar


Romeo em lugar nenhum. A cozinha cheirava a pão fresco, mas as
bancadas e a pia estavam limpas. Chad verificou a geladeira e apertou os
olhos com força para o prato transbordando de comida.

Ele correu para a cabana para encontrar Romeo e parou na porta. Ele
verificou se havia alguma peça de mobília quebrada, mas não havia
nenhuma, e quando ele cheirou, não havia nenhuma fumaça persistente de
onde Romeo poderia tê-la queimado.

A cabana estava estranhamente quieta, sem martelar ou bufar, ou


parafusos e pregos tilintando enquanto Romeo os procurava. O único som
vinha do zumbido das luzes e do eco de seus passos no concreto. O coração
de Chad bateu forte, ele tentou manter a calma, as luzes estavam acesas,
Romeo tinha que estar em algum lugar.
Chad desceu o primeiro corredor em busca de Romeo. Ele o
encontrou entre dois beliches, sentado a uma mesa de jantar de carvalho.
Chad se apoiou na mesa, exalando um suspiro trêmulo.

— Sobre o que é isso? — Romeo perguntou.

— Nenhuma coisa.

Ele deu um sorriso para Chad. — Eu estava começando a ficar


preocupado.

A atenção de Romeo voltou para a mesa e para o quebra-cabeça em


que estava trabalhando.

— Eu sinto muito. Mandei uma mensagem para dizer que chegaria


tarde.

— Eu sei. Eu ainda me preocupo.

Chad se sentou na cadeira em frente a Romeo e franziu a testa para o


quebra-cabeça.

— Isso é novo.

— Não há mais espaço para fazer móveis, pensei em tentar outra


coisa para passar o tempo.

— Quebra-cabeças.

Romeo encolheu os ombros. — Não é divertido fazer palavras


cruzadas sem você, então esta é a minha solução.

— Um quebra-cabeça de 5.000 peças do mundo.


— Um de muitos. — Ele gesticulou para o lado da mesa, Chad deu
uma olhada e bufou para a pilha de caixas.

— Monalisa. A noite estrelada. Mondrian, composição II.

— Estou tentando ser mais culto.

— David de Michelangelo…

Romeo piscou. — Estou ansioso por isso.

— O bombeiro e suas mangueiras enormes.

— O que?

Romeo se inclinou para verificar os quebra-cabeças e Chad caiu na


gargalhada.

— Isso foi cruel, você me deixou animado por um segundo.

— Ei, minha mangueira é a única mangueira que você deve olhar.

Romeo cantarolou: — E eu prefiro muito mais o seu terno, meu


detetive corrompido, todo rosado e desesperado, animado com a morte.

Chad desviou o olhar. — Eu... eu vi o jantar na geladeira.

— Massa com pesto vermelho, pão fresco e salada. Tem estado tão
quente recentemente que pensei que você gostaria de algo um pouco mais
leve.

— Obrigado. — Chad suspirou. — Me desculpe pelo atraso.

— Você não precisa se desculpar, Chad.

Chad pegou uma peça do quebra-cabeça e a girou entre os dedos.


— Não ouse perder isso.

— Posso esconder para te provocar. — Chad sorriu.

Romeo estreitou os olhos. — Você não ousaria. Como vai o caso?

Chad suspirou. — Lento, como esperado ao pegar um fantasma.


Conheci o namorado de Ellen, Kerion. Afirma que Ellen não poderia fazer
nada errado.

— E você não acredita?

— Ninguém é cem por cento bom. Nada é preto e branco, estamos


todos no cinza.

Romeo bufou. — Quantas sessões você teve com aquela terapeuta?

— Apenas uma, e já à estou citando. — Chad bateu a peça do


quebra-cabeça na mesa. — Tudo sobre Ellen e Kerion é perfeito demais.

— Não pode ser tão perfeito. Ela está morta.

— As fotos, a casa deles, como ela se apresenta, os vídeos deles, até


mesmo o motivo de seu encontro com sweetcheeks42.

— Nem todo mundo tem esqueletos escondidos.

— Eles têm, apenas alguns têm esqueletos menores do que outros.

Romeo deu uma risadinha. — E alguns têm muitos esqueletos que


fazem contagem regressiva de 5 a 1.

— Exatamente.

— Olha, nem todo mundo é como eu.


Chad suspirou. — Eu sei.

— E nem todo mundo é tão complicado quanto o nosso


relacionamento. Talvez o amor deles fosse perfeito.

— Não existe tal coisa.

— Desligue essa sua mente suspeita um pouco.

— Talvez eu esteja com ciúmes.

A expressão de Romeo apertou. — Você quer me trocar por alguém


mais jovem?

— Que eles podem ser tão abertos com seu relacionamento, mas
temos que nos esconder. — Chad esclareceu.

— Poderíamos ser honestos sobre isso, mas não acho que acabaria
bem.

Chad localizou o espaço para sua peça do quebra-cabeça e


pressionou-a. — Lá.

— Sobre o entregador… — disse Romeo.

Seu tom estava tenso, desligado, e Chad ergueu os olhos.

— Ele não bisbilhotou, não é? Eu disse a ele para deixar qualquer


pacote do lado de fora da porta da frente.

— Ele fez o que você disse a ele e não bisbilhotou, mas acho que é
melhor que ele não venha até a casa enquanto você não estiver por perto.

— Por que?
— É uma má ideia. Tentação e tudo isso.

Chad engoliu em seco. — Tentação?

Romeo cantarolou. Ele encaixou outra peça do quebra-cabeça,


batendo com mais força do que o necessário.

— Você disse que depois de pegar os cinco, você seguiria em frente.

— Seguir em frente. — Romeo sussurrou. — Você não pode libertar


um monstro e depois esperar que ele volte silenciosamente para sua jaula.

— Você disse que era um jogo, que tinha uma estrutura, regras, você
as seguiu, completou o jogo, satisfez sua necessidade...

— Foi um jogo, mas eu perdi... o monstro anseia por mais. Não


planejei o que viria a seguir, isso é tão novo para mim quanto para você. Eu
disse que nasci com essa necessidade, e isso é bom, parece certo. Da mesma
forma que o detetive se sente bem e certo para você, o monstro é para mim.

— Quatro de suas vítimas eram inocentes, tinham família, amigos.

— Quem você está lembrando, eu ou você mesmo?

Chad balançou a cabeça. — Eles não mereciam.

— Quem merece? A inocência deles não importava para mim, ainda


não importa. Todos, não importa quão bons ou maus, não importa seu tom
de cinza, deveriam ter uma chance igual de vida, e uma chance igual de
morte. O monstro em mim não tem preconceito, não tem julgamento,
apenas uma necessidade, e eu luto contra isso por você.

— Por que? — Chad sussurrou.


— Eu sei que se eu desistir, se eu não mantiver um aperto suficiente
na corrente, isso vai quebrar você e eu não posso te perder.

— Antes de começar a matar, você tinha uma vida normal, um


trabalho normal.

— Na superfície, mas não dentro da minha cabeça. O monstro é


normal, aquele que eu vou contra, e não é fácil, Chad. É ainda mais difícil
agora que teve um gostinho de liberdade.

— Eu sei — ele sussurrou. — Eu gostaria de poder…

— Você poderia.

— Não, não posso. Não sei o que faria se... — Chad franziu o rosto,
imaginando o que faria se Romeo começasse a matar novamente.

Ele prenderia Romeo para salvar o público? Falar com ele uma vez
por semana através de uma barreira de novo?

Ele não poderia ficar sem ele. Ele não se separaria da única pessoa
que estava ao seu lado.

Ele faria vista grossa e permitiria que ele matasse?

Chad continuou balançando a cabeça. O lado detetive dele não


poderia deixar isso acontecer. Seu trabalho era resolver o crime, buscar
justiça e manter as pessoas seguras, não libertar um assassino em série
contra elas.
Isso deixava a única outra opção, jogar-se no caminho do monstro,
encerrando sua história de amor confusa, mas ele não estava pronto para o
fim também.

— Está tudo bem, Chad. — Romeo sussurrou.

— Eu sinto muito. Eu... — Ele esfregou os olhos, praguejando


baixinho.

— Não sinta. Estamos em uma tentativa... Fio de acrobatas, dez.

Chad soltou um suspiro lento. — Corda bamba. Essa é uma maneira


de colocar as coisas.

— E eu não acho que você vai sobreviver à queda.

— Eu não quero cair. Eu quero ir para o outro lado. O outro lado


deste caso, porque se sobrevivermos a um, podemos sobreviver a qualquer.

— Você, a estrela do show, e eu nas sombras...

— O que isso significa?

— Nenhuma coisa. É apenas uma observação...

— Até o acrobata precisa de sua equipe no escuro. Ele não pode fazer
isso sem o homem nas sombras.

Romeo apertou os lábios em um sorriso severo. — Você tem uma


equipe e eu não faço parte dela.

— Romeo...

— Só não se esqueça de mim.


— Como eu poderia.

— E não te vires contra mim.

Chad balançou a cabeça. — O que? Você realmente acha que eu


poderia?

Romeo bateu em sua cabeça. — Sim. Se eu forçar sua mão. Fale com o
entregador.

— Eu vou... eu direi a ele para deixar os pacotes atrás da cerca viva


na frente da estrada de terra. Vou comprar um galpão ou algo assim, dar a
ele a combinação.

— Parece uma boa ideia. Por que você não entra... você deve estar
com fome?

— Tomei um café antes de sair da estação.

Ele pegou outra peça do quebra-cabeça, mas a mão de Romeo


disparou sobre a mesa e agarrou o braço de Chad.

— O café não é muito nutritivo, não é? Massa, agora, isso é bom para
você.

Chad abriu a boca para discutir, mas um olhar severo de Romeo e ele
mudou de ideia. A estranha energia estava de volta e Romeo queria que ele
fosse embora. Chad jogou a peça do quebra-cabeça sobre a mesa, forçando
um sorriso.

— Você está certo. — Ele disse, pondo-se de pé. — Estou morrendo


de fome.
— Eu estarei lá em breve.

Chad colocou sua cadeira sob a mesa, observando Romeo. Ele fez
uma pausa, pensando na coisa certa a dizer, mas não havia nada. O que
Romeo queria, o que ele precisava, Chad não podia permitir. Ele deveria
proteger o público de assassinos, não deixar ninguém solto.

Os olhos de Romeo encontraram os dele. — Eu estarei lá em breve.

Chad agarrou seu pescoço ao sair da cabana e, uma vez do lado de


fora, encostou-se na parede, xingando o céu.

****

Ally encontrou Chad nas escadas até a sala de incidentes. Ela sorriu
para ele, mas ele se esforçou para retribuí-lo.

— Cristo, dor no rosto, o que há de errado?

— Nada.

Ally cantarolou. — Porque aquele 'nada' rabugento realmente me


convenceu.

— Não dormi bem.

— Foi o calor? Eu estava suando muito na noite passada.

— Não foi o calor.

— Você está pensando?

Chad balançou a cabeça. — Isso também não.


— Oh... bem, vamos nos apressar e colocar isso em sua mente, será
uma boa distração.

Eles estavam quase no topo da escada quando a porta se abriu. Um


Josh de olhos arregalados os chamou para a sala de incidentes.

— Ele é como um cachorrinho animado quando encontra algo. —


Ally bufou.

Chad segurou a porta aberta para ela, e ela revirou os olhos para ele.
Josh correu para sua mesa, olhando para cima para se certificar de que
estavam indo em sua direção. Chad sorriu para Faye, que ficou vermelha,
desviou o olhar e virou suas costas.

— Espere até ouvir isso. — Josh disse: — Então, liguei para as


empresas que Ellen estava promovendo e, adivinhe...

Ally cruzou os braços. — Você está realmente esperando que


adivinhemos?

— Nenhuma delas tinha qualquer tipo de acordo ou contrato com


Ellen. Elas não estavam pagando a ela para promover seus produtos.

— Diz que ela é uma influenciadora de mídia social. — Ally disse.

— Ela não é, ela nunca foi, e eu verifiquei Kerion também, e ele não
foi contratado por nenhuma das marcas que ele promove. Eles nem mesmo
ganham brindes.

Chad franziu a testa. — De onde eles tiram todo o dinheiro?


— Eu sei certo? Aquela casa enorme, aqueles carros e posses, eles são
uma fortuna absoluta, e eles os possuem completamente. — Josh gesticulou
para o escritório e o DI no telefone. — Ele está tentando entrar em contato
com Kerion a manhã inteira, mandou um carro para a propriedade, mas
ainda não teve sorte.

— Fica mais estranho. — Disse Faye.

— Quão? — Ally perguntou.

— Você conhece esse perfil, BigBoy11?

— Quem poderia esquecer esse nome atraente? — Ally sorriu.

— Eu olhei para o endereço IP, é idêntico ao de Kerion e Ellen.

Josh olhou para o lado. — Então era Kerion quem estava enviando as
mensagens ameaçadoras para ela?

— Tem mais, eu verifiquei os principais fãs de Ellen e Kerion, todos


com o mesmo endereço IP.

— A menos que haja um monte de pessoas mantidas como reféns em


seu sótão, eu diria que Ellen e Kerion estão executando mais de um perfil.
— Ally disse. — Mas por que escrever mensagens ameaçadoras?

— Por causa da atenção que isso atrai — disse Chad. — Ellen


consegue uma onda de apoio, ela se defende contra o odiadores, consegue
ainda mais curtidas, ainda mais seguidores.
— Mas de que adianta ter tantos seguidores? Ela não estava sendo
paga para promover produtos para eles. Como diabos eles têm tanto
dinheiro?

A porta do escritório se abriu e todos olharam para o DI carrancudo.


— Kerion sumiu. O carro dele está em sua propriedade, mas a motocicleta
dele sumiu.

— Ele se tornou um corredor. — Josh disse.

— Eu estive no telefone com o banco. Kerion e Ellen foram pagos


pela última vez há quatro meses de uma conta no exterior.

— Quatro meses atrás? — Disse Faye.

— O proprietário da conta, um JB Wills.

— O que sabemos sobre ele?

— Nada, exceto que ele está carregado. Ele pagou a Kerion e Ellen
$300.000.

— Jesus — Ally disse. — Estou na profissão errada.

Chad olhou para ela. — Mas em que profissão eles estão exatamente?

— A cada poucos meses, eles têm um dia de pagamento muito


generoso, que remonta a seis anos.

— Por que? — Disse Faye.

Ally bufou. — Por que, o que, onde e quem parece mais apropriado.

— Precisamos encontrar Kerion. — O DI disse.


— Você acha que ele é um suspeito?

— Acho que ele sabe mais do que deixa transparecer. Acho que a
situação financeira deles é suspeita. A ocupação do influenciador de mídia
social é um disfarce.

— É duvidoso. — Josh disse. — Talvez eles estivessem roubando o


dinheiro de alguém, mantendo-o em uma conta bancária no exterior, e essa
pessoa descobriu.

— Por que matá-la assim, então? — Chad perguntou

Faye bateu nas teclas e abriu uma foto de Ellen. A primeira que Chad
viu antes de seu cadáver e ferimentos. Ellen mostrou a língua e olhou para
a câmera.

— Esta foto foi seu post mais popular. Posando para a câmera
enquanto tagarela sobre Marcy. Ela gostaria de poder ajudar.

— Então o assassino arranca seus rins e os enfia no lugar para


zombar dela?

— O assassino é distorcido — disse Faye, balançando a cabeça. —


Zombando não apenas de Ellen, mas de uma adolescente doente também.

— Kerion pode não ter fugido. — O DI disse. — Se Ellen foi morta


por causa do dinheiro, isso significa que ele também está em perigo.
Precisamos verificar o CCTV, descobrir para onde ele foi depois que
falamos com ele ontem.

O telefone de Faye tocou e ela o pegou da mesa. Suas sobrancelhas se


juntaram enquanto ouvia a voz do outro lado da linha. Ela pressionou o
telefone contra o peito enquanto falava com o DI. — Eles encontraram a
motocicleta dele.

— Onde?

Faye gesticulou para a janela. — Estacionamento Northgate.

O DI coçou a cabeça, lançando olhares para cada um deles. — É onde


ele estacionou ontem. Ele estacionou lá e caminhou até a estação.

— Parece que ele não foi embora.

****

Chad tentou o seu melhor para ignorar os olhos que o observavam.


Ele lembrou a si mesmo que era porque estavam com policiais. Foram os
oficiais uniformizados e os carros que chamaram a atenção, não o próprio
Chad.

Os pelos de seus braços se arrepiaram quando alguém apontou para


ele e ele lhes deu as costas.

Ele tinha que se concentrar no trabalho, deixar seu desconforto de


lado.

Chad examinou a área em busca de uma câmera CCTV, havia uma


em posição privilegiada de frente para o estacionamento. Era a sua melhor
esperança de descobrir se Kerion voltou para sua moto.

— Não funciona. — Ally disse.

— Como você sabe?


— A eletricidade caiu deste lado da rua, metade de ontem.

— Quão conveniente…

— Foi um reparo programado. — Ally disse. — Os residentes foram


avisados de que isso iria acontecer, mas alguns incomodaram Barry na
recepção para reclamar.

Chad imaginou Zac, então balançou a cabeça. Zac estava a centenas


de quilômetros de distância.

— Você já conheceu Barry?

— Não.

— Ele é um bastardo mal-humorado.

— Estou ansioso para conhecê-lo.

Ally riu, batendo nele.

Chad apontou para cima e para baixo da rua. Estava movimentado,


havia pessoas por perto, crianças sem camisas andando de bicicleta, pais
bufando e bufando enquanto empurravam carrinhos de bebê.

— Eles estão todos olhando.

— Há cerca de vinte de nós em torno de uma motocicleta...

— Eu sei, mas... olha. — Chad disse.

Dois homens se encostaram na parede da loja de conveniência. Um


sussurrou para o outro antes que os dois rissem. O coração de Chad
acelerou e sua boca secou.
Ally cantarolou. — Sim, eu também gosto de um sorvete.

— O que?

Chad seguiu seu olhar, ela estava olhando para uma criança com uma
casquinha. O menino a deixou cair, levou alguns segundos para olhar
fixamente para ela, antes de chorar até o fim.

— Eu sinto você, garoto, eu sinto você. Eu faria o mesmo. — Ally


disse.

— Você começaria a gritar por causa do sorvete?

— Eu não acho que haja coisa mais digna para gritar.

Chad sorriu, balançando a cabeça. Ally lançou um olhar por cima do


ombro, então se aproximou.

— Quando o DI voltar para a delegacia, vou buscar alguns para nós.

— Eu não estava realmente falando sobre o sorvete.

— O DI está enviando policiais de porta em porta, e ele vai apelar


para testemunhas. Há muitas lojas em frente, alguém deve ter visto alguma
coisa.

Chad ergueu o queixo em direção à motocicleta. O DI, Josh e Faye


estavam todos reunidos em torno dela, junto com dois oficiais forenses.
Eles estavam tirando fotos e amostras da motocicleta. Uma multidão se
reuniu do outro lado, observando-os, cochichando uns com os outros.

— A roda traseira está plana. Kerion saberia que não estava certo
assim que ele se aproximou. — Ally suspirou. — É uma bela motocicleta.
— Você gosta de motocicletas?

Ally bufou. — Eu as odiei no início, chamei-as de armadilhas mortais,


jurei que nunca entraria em uma.

— O que mudou?

— Meu marido…

— Seu marido?

— Ele as amava, e se você não pode vencê-los, junte-se a eles, certo?

— Mas nem sempre é tão fácil, não é?

— O melhor relacionamento que posso oferecer é aprender a se


comprometer. Eu cedi às motocicletas, aprendi a amá-las por causa do meu
marido, e ele desistiu da carne por minha causa e se tornou um vegano.

— Ele poderia estar comendo uma salsicha furtiva à parte.

Ally dilatou as narinas. — Ele não teria ousado. Eu teria caído sobre
ele como um abutre em uma carcaça.

Chad fez uma careta. — Que imagem adorável.

— Não ando de motocicleta desde que ele morreu. Sua Harley está
juntando poeira na minha garagem.

— Você não está tentada a montá-la?

— Eu não consigo montá-la — Ally riu.

— Oh.

— Eu me agarrei a ele e rezei para não morrer.


— Parece assustador.

— Foi, mas foi estimulante também, e o deixou feliz. Algumas das


minhas melhores memórias foram nós naquela motocicleta.

Passos tamborilaram mais perto. Antes que Chad tivesse a chance de


se virar, Josh agarrou seu ombro. Ele encolheu os ombros, afastando o
contato, tentando parecer casual.

— Temos sangue. — Josh sussurrou.

— Onde? — Chad perguntou.

— Na motocicleta.

Ally bufou, revirando os olhos. — Dê-me força... onde na


motocicleta?

— A coisa da caixa atrás. Está seco, mas o oficial forense está


confiante de que é sangue. Ele vai testar imediatamente.

Ally gesticulou para a estação à distância. — Felizmente, ele não


precisa ir muito longe.

— A motocicleta vai ser recolhida para mais testes, longe da vista do


público, e o DI está voltando para a estação.

— Ótimo — Ally disse. — Podemos relaxar.

Josh desabotoou quatro dos botões e balançou a gola da camisa. —


Está quente.
Chad acenou com a cabeça, alcançando seus próprios botões. Ele
conseguiu desfazer dois antes de Josh olhar para seu peito, o topo de uma
cicatriz apareceu.

O passado o golpeou no estômago, ele recuou e tornou a recolocar os


botões.

— Sinto muito, não era minha intenção.

— Está bem. — Chad disse, sem olhar para ele.

— Eu juro que não...

— E eu juro que está tudo bem.

— Qual é o seu sabor? — Ally perguntou com os olhos fixos na


estrada.

Chad franziu a testa para ela. — Huh?

— Sorvete? Josh adora chocolate, Faye gosta de morango picante, eu


adoro rum e passas, vegano, é claro. E você?

— Erm, chocolate, eu acho.

Ally sorriu. — Não tenho certeza se 'chocolate, eu acho' é um sabor,


mas farei o meu melhor.

Chad ficou boquiaberto atrás de Ally enquanto ela atravessava a rua


correndo para a sorveteria.

— O café é universal entre os detetives, mas os donuts e sorvete?

— Você se acostuma com isso. A comida é uma grande distração.


Chad baixou o olhar. — Eu acho que é.
Capítulo Seis

Chad afrouxou a gravata ao entrar na casa.

Ele revirou os ombros, tentando aliviar os músculos tensos. Ele


passou muito tempo sentado em uma mesa, olhando para Ellen e Kerion.
Ele ansiava por um banho frio, mas um banho com Romeo soaria ainda
melhor se Chad pudesse arrastá-lo para longe de seu quebra-cabeça.

Ele entrou na cozinha e inspirou sálvia e alecrim. Um dos livros de


receitas estava aberto com vermute de frango, e Chad ficou com água na
boca.

Ele encontrou Romeo na cabana, terminando o mapa-múndi. Chad


sorriu enquanto batia na última peça, então se aproximou.

— Você terminou?

— Faltam apenas mais dez quebra-cabeças. — Romeo bufou.

Chad engoliu em seco quando os olhos de Romeo se voltaram para


ele. O branco de seus olhos era rosa, e a pele por baixo, cinza, como se a
falta de sono o machucasse.

— Quando foi a última vez que você dormiu? — Chad perguntou.

— Eu tirei uma soneca antes.

— Isso não é um sono adequado, é? Isso é uma soneca.


Romeo encolheu os ombros, ficando de pé. Ele pegou um quebra-
cabeça diferente do chão e foi para a próxima mesa que havia feito. Chad
coçou a cabeça enquanto o seguia enquanto abria e fechava a boca com
palavras abortadas.

— Você era assim quando estava dentro?

— Eu contei os dias, horas e minutos até te ver.

O estômago de Chad vibrou, então ele pensou sobre isso e se encheu


de chumbo.

— Mas no meio?

— Não havia nada a fazer a não ser pensar, perseguir todos esses
pensamentos e memórias que passam pela sua cabeça. Eu não gostava de
ficar preso em uma gaiola, você era a única coisa que tornava isso
suportável.

— Eu não acho que você nunca parecia tão cansado quando eu o


visitei...

Romeo ergueu as sobrancelhas. — Esse é um belo elogio.

— Eu quis dizer... estou preocupado, só isso.

— Era mais fácil trancado em uma cela. Não tive escolha, sem saída,
mas aqui, a porta da cela está escancarada. Existem milhões de pontos de
venda e possibilidades bem ali, ao meu alcance, e tudo o que me impede é
você.

— Você fala sobre assassinato como se fosse algum tipo de vício.


— Talvez seja.

— Pessoas... elas podem superar o vício, podem aprender a ignorar


seus desejos.

— A diferença é que eles querem melhorar.

— Mas você quer melhorar, certo?

— Para você.

Chad desviou o olhar.

Romeo derrubou as peças do quebra-cabeça sobre a mesa e começou


a girá-las da maneira certa para cima. Chad não teve a chance de ver a
imagem na tampa - Romeo a colocou no chão e começou o quebra-cabeça
sem nenhuma referência. Ele encontrou os cantos e as bordas, seus dedos
experientes fazendo com que parecesse uma bela arte.

— Então, o jantar está com um cheiro incrível...

Romeo sorriu. — Obrigado, acho que aperfeiçoei esse. Tenho uma


longa encomenda de compras a chegar neste fim de semana, muitos mais
pratos para experimentar. Mais longos que levam horas.

Uma pilha de cacos de madeira chamou a atenção de Chad no canto


da cabana e um machado estava no chão próximo. — Eles estavam
vacilantes também?

Romeo nem mesmo virou a cabeça. — Os buracos não combinavam.

— E o resto?

— Vou queimá-los amanhã.


— Além de destruir móveis e exibir suas habilidades culinárias, o
que mais você fez hoje?

— Eu me exercitei, cochilei e fiquei intrigado. — Ele bufou, mas não


havia diversão nisso. Ele parecia vazio, nada parecido com o Romeo.

Chad arrastou os pés na frente da mesa. — Você quer entrar?


Podemos tomar um banho juntos, comer e depois assistir a alguma coisa?

— Talvez daqui a pouco.

— Você disse isso ontem...

Romeo fez uma careta. — Eu estava cansado ontem. Como vai o


caso?

— Tem certeza que quer que eu fale sobre isso?

— Você perguntou sobre o meu dia, agora estou perguntando sobre


o seu. Isso é o que casais normais fazem, certo?

— Sim, mas…

— Mas o que?

Chad mordeu o lábio. O silêncio o sufocou e ele falou para aliviá-lo.

— Você... tem certeza?

— Sim, eu tenho certeza. — Romeo ergueu o olhar e Chad notou que


o calor voltou a seus olhos. Esse era o Romeo que ele vira através da
barreira da prisão, aquele que genuinamente queria saber sobre seu dia.

— Acontece que Ellen pode não ter sido o anjo perfeito que todos
pensavam. Seu trabalho como influenciadora de mídia social era uma
mentira, e alguém estava pagando a ela uma quantia significativa de
dinheiro a cada poucos meses.

— Para que?

— Não sabemos ainda.

— Interessante... ela tem muitos seguidores, certo?

— Mais de 200.000.

— Por que não trazer o namorado dela para interrogatório?

Chad deu a Romeo um sorriso suave. — Não podemos, ele está


desaparecido.

As sobrancelhas de Romeo se ergueram. — Desaparecido?

— Desapareceu perto da estação depois que ele falou conosco.

— Você acha que ele matou Ellen...

— Não descartamos isso completamente, mas meu instinto diz que


não.

— Seu instinto? Isso se sustenta no tribunal? O intestino de um


detetive?

— Sustenta no meu tribunal, o tribunal do Chad. Eu ainda posso


estar errado, mas nossa teoria atual é que Kerion foi levado.

— Pelo assassino?

Chad acenou com a cabeça. — É com isso que estamos trabalhando.

— Ele matou seu número quatro.


Chad franziu a testa. — Não há nada que sugira que o assassino está
fazendo uma contagem regressiva. Kerion ainda pode estar vivo...

— Eu me lembro como era. O primeiro, eu não pude curtir, meus


nervos estavam à flor da pele, mas o segundo - número 4, foi quando
começou a ficar bom, tão certo.

As palmas das mãos de Romeo estavam espalmadas sobre a mesa.


Ele ergueu o olhar para o teto, como se estivesse se lembrando.

— Eu finalmente me senti bem, como se o meu verdadeiro eu


existisse de repente.

Um pequeno sorriso apareceu nos cantos de seus lábios e seus olhos


ficaram vidrados.

— Eu não tive que reprimir minha necessidade mais.

— Romeo... — Chad sussurrou.

Ele não tinha ideia do que estava planejando dizer depois de seu
nome, apenas esperava que fosse o suficiente para puxá-lo de onde ele
havia vagado, mas o sorriso de Romeo só aumentou e seus olhos
escureceram.

— Eu já te disse como é?

— Sim, você disse...

— A adrenalina bateu, o zumbido, o arrebatamento, o que quer que


seja… é incrível. Você se sente intocável, um deus, mais do que isso, um
deus da morte. Você tem o controle final, o controle sobre a vida de
alguém, e você o esmaga porque foi para isso que você nasceu.

Chad recuou. — Eu... eu vou tomar um banho.

Romeo se concentrou nele. — Vamos lá, você deve ter sentido um


pouco quando derrubamos Marc, juntos, todos nós.

— Todos nós?

— Você, eu e o monstro.

— Eu não quero falar sobre isso.

— Por que?

Chad engoliu em seco. — Porque…

— Eu quero falar sobre isso. Se isso nunca pode acontecer


novamente, então pelo menos deixe-me revivê-lo.

— Eu não posso.

— Por favor.

Chad assentiu, mas seu estômago apertou e ele lutou contra a


necessidade de correr.

Romeo sorriu.

Chad podia ver a excitação em seus olhos, o monstro avançando. O


verde em suas íris brilhava, e Chad nunca tinha visto olhos tão
hipnotizantes. Ele sempre achou Romeo atraente, mas quando ele se
acalmou, e seus olhos girando eram tudo o que se movia, Chad não
conseguia respirar com o quão bonito ele parecia.
Chad estava tão ocupado olhando para a armadilha sedutora de
Romeo que quase não o ouviu falar. O murmúrio de sua voz desencadeou
uma onda de arrepios, mas as palavras seguiram rápido, atingindo como
uma onda de choque e deixando Chad desconcertado.

— Quero saber como foi me ver matar.

— Eu não acho que posso fazer isso.

— Tente. Para mim, tente. — Romeo não piscou. — Eu quero saber.

Chad fechou a mão em um punho, em seguida, soltou-o, uma e outra


vez.

— Vamos lá, diga-me honestamente como foi.

Ele não gostava de pensar nisso, não porque fosse uma sensação
horrível, mas porque não deveria ser agradável. Deveria ter sido horrível,
mas não foi.

— Por favor.

— É... é difícil falar sobre isso.

— Você ficou duro depois, duro como uma rocha.

Chad franziu o rosto e ignorou a queimadura em suas bochechas. Ele


não conseguia olhar para Romeo, ele não conseguia olhar para qualquer
lugar, exceto para seus sapatos enquanto ele lentamente se afastava.

— Não faça isso. — Romeo sussurrou.

— O que?
— Sentir-se envergonhado. Nós dois sabemos que você gostou de vê-
lo morrer.

Chad girou nos calcanhares e saiu correndo da cabana.

Ele deixou a porta dos fundos aberta, manteve os sapatos e correu


pela casa para chegar ao chuveiro.

Quando ele se lembrou daquele momento com Marc, sua cabeça


estava em todo lugar, mas uma coisa tinha sido constante e estável, e era
Romeo.

Romeo matou seu algoz, e o olhar de pura euforia em seu rosto


enquanto o fazia, Chad não sabia como processar isso, a opressão, a intriga,
a excitação.

Ele nunca tinha visto Romeo parecendo mais incrível, cheio de poder
e raiva antes de acalmar e outra visão tão hipnotizante queimou em suas
retinas. Romeo estava feliz, genuinamente feliz e livre, assim como Chad.

Ele sibilou, virando a água em fria e batendo a cabeça nos azulejos.


Ele não podia negar tanto quanto desejava. Ele arrastou Romeo para um
quarto, perdido em uma névoa de algo. Tinha sido intenso e desesperador,
e o coração de Chad batia forte pensando nisso.

Mas tinha sido Marc Wilson e, naquele momento, Chad queria que
ele morresse. Não havia incerteza, nem arrependimento ou culpa, apenas
alívio. Marc era um assassino, ele precisava ser responsabilizado, punido, e
foi Romeo quem fez justiça rápida, e Chad gostou, mas a ideia de Romeo
matando qualquer outra pessoa... deixando acontecer... esperando e
assistindo...

Ele não poderia fazer isso.

Ele não faria isso.

****

Marc praticou antes de cortá-lo.

Ele mostrou a Chad em uma placa de madeira, seus números


artísticos. 5 a 2, e quando ele finalmente cortou a carne de Chad, ele sorriu
e observou o quão mais liso o bisturi cortou sua carne. Ele só precisava de
uma leve pressão para o corpo de Chad se abrir e derramar, e a emoção em
seu rosto quando escorreu para a cama embaixo fez Chad querer se
debater, lutar, chutar suas pernas e balançar a cabeça, tornando isso difícil
para Marc, para bagunçar seus números.

Ele foi drogado.

Paralisado para ficar parado, capaz de sentir, mas incapaz de se


defender. Marc tinha feito sua arte, satisfeito sua sede de sangue e não
havia nada que Chad pudesse fazer, a não ser ficar ali, aguentar a dor e
pensar em Romeo.

Se havia uma pessoa que poderia salvá-lo, era Romeo.


Ele pensou em Romeo quando o bisturi tocou sua pele. Quando Marc
pairou sobre ele. Quando ele flexionou uma nova agonia no corpo de
Chad. Ele pensou em Romeo.

Seu monstro e seu salvador.

Chad acordou com um suspiro, jogando-se da cama. Ele bateu com o


joelho na moldura, mas a dor surda foi um alívio.

Ele podia se mover, seus braços, suas pernas, tudo funcionava.

Ele poderia correr, lutar e se debater se necessário, o desamparo


persistente de Marc desapareceu, e ele respirou fundo algumas vezes antes
de pegar uma camiseta e cobrir o peito. O número vibrou, gritando com
dores fantasmas.

Eles entorpeceram, mas não desapareceram completamente.

A última coisa que ele precisava para matar o sonho de Marc era
encontrar Romeo. Para olhar para seu salvador e monstro, e pressionar em
seu peito, sufocar-se com seu cheiro.

Ele desceu correndo as escadas, mas Romeo não estava no sofá ou na


cozinha. Chad calçou as botas e deixou a porta aberta atrás de si enquanto
ia encontrar Romeo.

Seis horas atrás, ele fugiu da cabana, desesperado para fugir e não
pensar na morte de Marc, mas agora tudo que ele precisava era que Romeo
confirmasse e dissesse que faria de novo em um piscar de olhos.

Chad congelou e o pânico crescente se dissipou.


Romeo havia caído sobre a mesa, seus braços estavam cruzados sob a
bochecha e até mesmo a respiração deixou seus lábios entreabertos. Chad
sorriu com ternura para ele, seu coração de britadeira desacelerou e seu
corpo parou de latejar de dor com as lembranças remanescentes. Ele se
espremeu ao redor da borda da mesa para poder ficar atrás do homem
adormecido.

Romeo estava cobrindo a modéstia de Davi de Michelangelo,


escondendo sua virilha nua sob a cabeça. Chad deslizou as mãos sob as
axilas de Romeo, pressionando suas costas firmes, apertando-o em um
abraço.

Chad o segurou e roçou sua bochecha contra a camiseta de Romeo. —


Sinto muito ter saído, sinto muito por achar difícil falar sobre isso. Vou me
esforçar mais, realmente vou.

Fazia dias que não ficava tão perto de Romeo e gostava de seu calor e
peso enquanto lutava para colocar Romeo de pé.

— Mas agora, você precisa dormir — Chad disse. — Para a cama,


antes que você pingue nele e eu fique com ciúmes.

Chad fechou os olhos, respirando o cheiro dele. O cheiro


enfraquecido de Romeo na cama não diminuía suas preocupações como o
verdadeiro Romeo poderia.

Romeo grunhiu, cambaleando para a direita. Chad conseguiu


impedi-lo de bater em algo, mas por pouco. Romeo era mais forte e mais
pesado e tinha coordenação zero quando acabava de acordar.
— Vamos entrar. — Chad disse.

— Lado de dentro?

Chad estremeceu com a voz áspera de Romeo. — Sim, para dentro de


casa. Você precisa de um sono adequado, não de um cochilo à mesa. Deixe-
me... deixe-me cuidar de você como você cuida de mim.

— Você está me levando para o seu quarto.

— Nosso quarto. — Chad disse, balançando a cabeça. Ele agarrou o


rosto de Romeo com as duas mãos e esfregou os polegares sob os olhos.
Romeo não pressionou em suas mãos, ele lutou contra elas, virando o rosto
para que Chad o deixasse ir. Sua sobrancelha continuou a apertar e relaxar,
juntando as sobrancelhas em uma expressão de dor.

— Desculpe, doeu?

Romeo ainda estava de olhos fechados e Chad esperou que Romeo


emergisse na névoa do sono e olhasse para ele. Os olhos que se abriram
nele eram escuros e raivosos, e olharam para Chad sem emoção.

Chad colocou as mãos nos quadris de Romeo. — Romeo?

Ele olhou nos olhos escuros de Romeo cheios de promessas sombrias


e seu coração acelerou.

Ele martelou a palavra perigo, repetidamente, cada vez mais rápido.

A aura inquietante estalou no ar, as nuvens de tempestade estavam


de volta, fechando-se sobre eles.
Não era Romeo, ou não inteiramente, a expressão era a mesma que
ele tinha quando ele foi para Marc.

O olhar quando ele estrangulou, a raiva, a necessidade, a euforia


selvagem antes que a ação fosse realizada antes que a euforia o inundasse.

O coração de Chad bateu tão forte que fez sua respiração soar
estranha, trêmula enquanto o ar entrava e saía de seus lábios entreabertos.

Romeo enrijeceu, seu brilho nunca deixando os olhos de Chad, e


Chad não conseguia mais olhar para ele, ele não conseguia enfrentar a
escuridão. Ele se submeteu e sabia que estava por vir, ele podia ver isso
acontecendo, ele até antecipou o momento e deu um último suspiro.

Romeo agarrou a garganta de Chad com as duas mãos e apertou.

A pressão não era como quando eles experimentavam na cama, não


era o jogo viciante, provocando o lado assassino de Romeo para um golpe
intenso. Romeo o agarrou com uma intenção implacável.

O medo congelou Chad, paralisou-o como todas as drogas que Marc


apunhalou em sua carne.

Romeo esmagou, ajustando seu aperto para ser mais eficaz.

Chad não queria morrer e não queria que Romeo fosse consumido
pela culpa e se juntasse a ele. Sua história de amor confusa não estava
pronta para o fim.

Ele tinha que lutar.


Chad agarrou as mãos de Romeo, mas ele não diminuiu a pressão, ele
a aumentou até que o preto invadiu a visão de Chad. Chad enfiou o pé na
panturrilha de Romeo e ele grunhiu, afrouxando o aperto por uma fração,
mas voltou mais forte.

Romeo forçou-o a recuar, conduzindo-o através da cabana até que ele


segurou Chad contra a parede. Ele lutou, mas levou apenas alguns
segundos para que seus membros enfraquecessem. Mais alguns segundos e
Romeo era um borrão, tudo que Chad podia ver dele eram seus olhos e o
ódio pulsando neles.

Ele não podia lutar, não podia gritar para que Romeo parasse, tudo o
que podia fazer era implorar com os olhos, encontrar Romeo no
redemoinho da escuridão, encontrar algum tipo de reconhecimento e trazê-
lo de volta.

Os olhos de Chad caíram, pesados demais para mantê-los abertos. A


dor em sua garganta era secundária à sensação em sua cabeça.

Um entupimento como se algo tivesse sido injetado nele.

Demais.

Ele podia sentir seu coração, não mais o salto em pânico e viagem de
perigo, era lento, mais lento, diminuindo, ainda batendo, mas
vagarosamente, o som nos ouvidos de Chad tornou-se quase preguiçoso, e
sua cabeça continuou a encher, até que ele ansiava por isso estourando.

— Adeus, detetive.

As palavras doeram mais do que qualquer coisa.


Romeo - o monstro - o reconheceu e não iria parar. O último esforço
de Chad para trazer seu Romeo de volta à superfície com seu olhar falhou,
sua visão fechou dos lados, até que os olhos assassinos de Romeo fossem
tudo o que ele podia ver.

Os clarões brancos de um relâmpago vieram do brilho excitado nos


olhos de Romeo, e um estrondo triunfante que passando por seus dentes
rosnando era o trovão.

Chad sucumbiu à tempestade e caiu.

****

Chad engasgou, gaguejou, engasgou.

Ele rolou para o lado e tentou abrir os olhos, mas a sala girou, as
luzes estavam muito fortes, quase cegando e ele foi forçado a apertar os
olhos. Sua cabeça latejava mais do que qualquer dor de cabeça ou ressaca
que tivera antes.

Seus joelhos doíam e o chão era gelo contra suas palmas. Ele rolou
sua testa contra o frio, ofegando em mais ar. Quando ele estendeu a mão
para remover a pressão que esmagava seu pescoço, nada estava lá.

Enquanto segurava a garganta, pedaços da noite voltaram para ele.

Sua mente buscou uma resposta e ele lutou para entender.

Ele tinha sonhado com Marc.

Ele tinha ido encontrar Romeo.


Romeo se voltou contra ele.

Ele caiu para trás, encostando-se na parede enquanto tentava se


orientar. Ele respirou fundo outra vez, depois outra, antes de vomitar no
chão.

O chão de concreto frio.

Ele estava na cabana, havia uma fileira de móveis à sua frente e, atrás
dela, um Romeo pálido.

Havia tanto horror em sua expressão de boca aberta, tudo que Chad
queria fazer era apaziguá-lo, acalmá-lo, mas quando ele tentou falar, um
resmungo o deixou e ele agarrou sua garganta.

Romeo cravou os dedos na lateral do rosto enrugado. Ele rosnou por


entre os dentes, mas diminuiu em um som cru de desespero.

Chad engoliu em seco, tentando encontrar Romeo em meio à náusea.

Os olhos encharcados de Romeo derramaram lágrimas, seus lábios


tremeram e o sangue fluiu de onde ele forçou as unhas em sua pele.

As luzes brilharam intensamente.

A sala girou.

Chad fechou os olhos novamente e engoliu em seco.

— Fique lá. — Romeo implorou.

Chad não conseguia se levantar, mesmo se quisesse. Seus membros


estavam excessivamente pesados e sua cabeça continuava latejando. Ele
fechou os olhos, molhou os lábios com a língua e tentou falar, mas tudo o
que o deixou foi um chiado do nome de Romeo.

— Eu disse para ficar aí!

Chad manteve os olhos fechados e concentrou-se na respiração.


Ofegar só fez sua garganta assobiar, e a dor se intensificou, ele diminuiu a
velocidade, aliviou o ar para dentro e para fora e lutou contra o desejo de
tossir.

A tosse tornava tudo pior - dava a sensação de que ele não conseguia
respirar, e nunca mais respiraria.

Sua cabeça sacudiu com um baque, um estrondo e passos apressados.


Ele esperou que Romeo se aproximasse dele, mas um longo silêncio se
seguiu.

Romeo estava esperando que Chad se acalmasse, para respirar


normalmente novamente. Ele estava grato, precisava de um momento para
digerir o que havia acontecido, para encontrar a maneira mais confortável
de puxar o ar para os pulmões sem espasmos na garganta.

O motor de um carro rangeu quando ligou, um som agudo, não o


carro de Chad, mas o outro que ele comprou de segunda mão para Romeo
usar. Chad pressionou as costas contra a parede enquanto lutava para se
levantar, então foi atrás dos sons, batendo em mesas e cadeiras, e quaisquer
peças de mobiliário que se interpusessem entre ele e Romeo.

Ele irrompeu pela porta, caindo de joelhos a tempo de ver os faróis


do carro de Romeo se apagando. Sua tentativa de gritar atrás dele só
terminou em um doloroso acesso de tosse, e ele se encolheu de lado,
ofegando para que Romeo voltasse.
Capítulo Sete

Os olhos de Chad queimaram no momento em que o horizonte


começou a iluminar. Ele olhou pela janela em direção à estrada que levava
à casa, rezando para ver o carro de Romeo.

Ele imaginou isso em sua mente, o carro rodando mais perto em uma
silhueta perfeita contra o sol nascente, as rodas rangendo até parar, Romeo
saindo, se desculpando por perder o controle, Chad engolindo seu medo e
dizendo a ele que estava tudo bem.

Romeo não voltou.

O desconforto no estômago de Chad se transformou em náusea. O


crescente nó de preocupação em sua garganta não ajudou com a faixa
apertada deixada pelas mãos de Romeo.

O monstro quase o matou, mas Romeo o impediu.

Chad se agarrou ao pensamento.

Ele assistiu até que o alarme tocou em seu telefone, uma chamada de
despertador para o trabalho. Ele silenciou, pensou em ligar dizendo que
estava doente - ele estava, afinal, doente.

Doente de preocupação, doente de apreensão, doente com um tipo de


amor não convencional.
Ele duvidou que fosse uma desculpa boa o suficiente para não
aparecer.

Chad se preparou para o trabalho como nos últimos dias, repassando


o momento na cabana repetidas vezes. Os olhos escuros de Romeo, sua voz
imparcial ao se despedir do detetive.

Chad balançou a cabeça. Ele não conseguia pensar nisso.

Camisa limpa, calça preta, gravata preta, jaqueta preta e sapatos. Ele
encontrou mingau no armário e engoliu alguns goles, esfregou os dentes e
ajeitou o cabelo.

Ele deu uma longa olhada em si mesmo no espelho. O branco de seus


olhos estava rosa, e não importava quantas vezes ele piscasse, eles
continuavam ardendo. Não havia nenhuma marca em sua garganta, a não
ser a mancha desbotada que Romeo havia sugado em sua pele no
chuveiro.

Chad voltou para a sala, respirou fundo e olhou pela janela.

Nenhum carro subia pela pista.

Um murmúrio de angústia se soltou e ele estremeceu, segurando a


garganta.

Ele engoliu alguns analgésicos, brincou com a ideia de ligar dizendo


que estava doente de novo, então raciocinou que Romeo estaria em casa
quando ele terminasse.

Ele estaria de volta a cabana, fazendo móveis simples ou concluindo


um quebra-cabeça.
Ele estaria lá, porque ele prometeu a Chad que estaria, ele prometeu
que nunca deixaria Chad ir, nunca deixaria nada acontecer com ele, e
deixá-lo sozinho era cem vezes pior do que quase matá-lo.

****

Josh espiou pela porta da sala de incidentes e, quando viu Chad


subindo os degraus, ergueu as sobrancelhas e fez sinal para que se
apressasse. Ele estava sorrindo, mas Chad nem mesmo tentou sorrir de
volta, não que Josh parecesse notar.

A porta se fechou atrás de Chad. Ele lançou seu olhar sobre Ally e
Faye, já trabalhando duro. Chad apareceu na hora certa, mas ficou sentado
no carro por trinta minutos, se recompondo.

— O que é isso? — Ele perguntou.

Josh franziu a testa e deu uma rápida olhada em Chad de cima a


baixo. — Uau, tarde da noite?

— Huh?

— A voz, os olhos.

— Eu peguei algo.

— Não me diga, não me dê isso.

A garganta de Chad doeu, suas palavras saíram ofegantes e ele


engoliu em seco excessivamente, mas não eram nada que ele não pudesse
culpar em um resfriado comum.
— E quanto ao sangue?

— Bem, não era de Kerion.

— Então de quem?

Josh encolheu os ombros. — Não era de Ellen também. Não sabemos


a quem pertence, mas é humano e é antigo. Está sendo executado através
do sistema, felizmente havia muito para trabalhar.

Chad massageou sua garganta, pressionando contra a dor.

— Você está bem? — Ally perguntou. — Não posso deixar meu novo
parceiro coaxando antes de se pegar um assassino.

— Já peguei assassinos antes.

— Não aqui, no entanto. Você tem que provar o seu valor. — Ela
piscou. — Não puxe uma de ficar doente.

— É só um resfriado.

— Melhor ser, estamos trabalhando em um caso, você precisa ser


sobre-humano.

— Vou tentar o meu melhor.

Chad resistiu ao desejo de continuar esfregando. Ele pegou um


arquivo sobre a mesa para se impedir de segurar sua garganta e virou a
página para encontrar uma foto de Kerion.

Kerion vestindo shorts jeans e um top de colete, deitado sobre o capô


de um Aston Martin. Ele sorriu e fechou um dos olhos como se estivesse
piscando.
— Contanto que você faça. — Ally sorriu.

— Se eu tivesse um deles, estaria rolando sobre ele. — Josh disse.

— Provavelmente com duas mulheres de biquíni e um monte de


chantilly.

— Wilma Fields disse que viu Kerion conversando com um homem


em uma van ao lado do estacionamento. — Disse Faye.

— Ele entrou na van? — Chad perguntou.

— Ela não sabe.

— Descrição? Número da placa?

— Ela disse que o homem estava usando óculos escuros, estava


escuro na van. Estamos pesquisando através do CCTV da área, devemos
ser capazes de encontrar com quem Kerion estava falando.

— Metade do CCTV estava naquela rua para fazer reparos. — Ally


disse.

— Aumentamos o raio para cinco milhas.

— É muito CCTV para analisar.

— E muitas vans brancas para investigar. — Josh acrescentou.

O DI empurrou as portas da sala de incidentes. Um arquivo estava


apertado contra seu peito e ele o jogou na mesa de Faye.

— Gary Vulux.

Josh apertou seu rosto. — Quem é esse?


— Gary Vulux foi acusado de roubo há seis meses na joalheria de seu
pai. Ele se cortou em uma vitrine no local, seu sangue ajudou na
condenação, mas seu pai teve pena dele. Ele teve sorte, só conseguiu
serviço comunitário. Tipo de sangue, marcadores de DNA... ambos
correspondem à amostra retirada da caixa superior.

— Então, vamos trazê-lo.

— Ele desapareceu há um mês.

Chad franziu a testa. — Ele está desaparecido?

— Desaparecido e o sangue dele está espalhado pela moto de Kerion.


O pai de Gary está vindo para ajudar na investigação. Precisamos descobrir
a relação entre Gary e Kerion.

— Recebemos um monte de perguntas, mas quase nenhuma


resposta. — Josh disse.

O DI acenou com a cabeça. — Resume tudo perfeitamente.

****

Apesar de marchar por toda a extensão da estação para encontrar


uma máquina de café silenciosa para que ele pudesse ter um momento,
vozes se fecharam na posição de Chad. Dois policiais conversavam e Chad
pretendia ignorá-los, pegando seu café e seguindo em frente, mas então
ouviu a palavra morto e os cabelos de sua nuca se arrepiaram. Ele pegou
seu café, se afastou da máquina e pegou seu telefone enquanto ouvia.
— Ela esteve aqui ontem, reclamando do corte de energia.

A moeda estalou quando um dos policiais a empurrou para dentro


da máquina.

— Eu não posso acreditar. Morta, estrangulada em sua cama.

Chad contornou o corredor, ele recuou até ficar pressionado contra a


parede. O aperto em sua garganta se intensificou, como se a mão de Romeo
ainda estivesse sobre ele, espremendo a vida para fora dele.

Ele viu os olhos, os olhos que eram todos monstros.

Romeo saiu noite adentro com uma luxúria assassina pulsando em


suas veias. Era inevitável, Chad havia deixado o monstro ir livre.

— Aí está você.

Chad pulou com a voz de Ally, derramando café no chão. Ele piscou,
tentando o seu melhor para organizar seus pensamentos giratórios, mas ele
sabia que estava divagando pela carranca de Ally. Ele não sabia o que
estava saindo de sua boca, mas podia sentir as vibrações latejando em sua
garganta e sua língua e lábios se movendo.

— Uau, vá devagar. Está tudo bem. — Disse ela. — Não há


necessidade de se desculpar tão freneticamente.

Chad nem sabia o que havia dito, mas Ally apertou seu ombro. Os
olhos dela estavam nele, mas não eram os únicos. Os dois policiais perto da
máquina de café também estavam olhando, Chad não tinha energia para
confrontá-los, mas Ally se ofendeu com seus olhares boquiabertos.
Ela pegou o café da mão de Chad e falou. — Por que vocês não saem
antes que eu jogue isso em vocês?

Eles recuaram rápido, e por seus olhos arregalados e movimentos


nervosos, Chad suspeitou que Ally poderia ter jogado café em alguém
antes. Ela relaxou quando eles desapareceram no corredor e passou o copo
de volta para Chad.

Alguém morreu, alguém foi estrangulado.

Ally estalou os dedos no rosto de Chad. — Ei, beba.

— Huh?

— Vai ajudar. Sua garganta inflamada - frio, tanto faz. Você parece
perto da morte.

Chad baixou a cabeça. — Eu sinto.

— Eu tenho alguns comprimidos para resfriado e gripe na minha


bolsa, fortes como unhas.

Chad estremeceu imaginando-os deslizando por sua garganta.

— Eles vão resolver você no caminho.

— A caminho?

— O DI está nos enviando para a casa de Ellen e Kerion. Avenida


Milionária. Concentre-se na investigação, Chad.

— Sim. — Ele respirou, balançando a cabeça.


****

Alguém havia sido assassinado - pessoas eram mortas o tempo todo.

Alguém foi estrangulado - Romeo não foi o primeiro assassino a


favorecer suas mãos.

Alguém foi morto naquela noite - não significava que foi Romeo que
fez isso.

Mas e se...

— Você está me ouvindo?

Chad piscou, voltando de seus pensamentos. — O que?

— Que parceiro você é, estou falando com você há dez minutos.

— Sobre o que?

Ally bateu com a mão na tela. O rádio estava tocando, mas Chad o
bloqueou.

— A mensagem dos pais de Marcy.

— O que eles disseram?

— Eles são gratos por todas as mensagens de apoio e não perderam a


esperança de que ela encontrasse um rim. Cristo, Chad.

— Eu não estava ouvindo.

— Não me diga. Você está fora disso.

— Talvez tenham sido os analgésicos que você me deu.

— O que você acha que eu sou?


Ally pisou fundo no freio e o ímpeto jogou Chad para frente. Ele
praguejou, agarrou a nuca, checando o espelho para ver se havia alguém
atrás.

— Que diabos...

— Eu não vou me mover até que você me diga o que está errado.

— Não há nada de errado... estou resfriado.

Ele não a encarou, em vez disso abriu a janela do passageiro. Estava


mais quente fora do carro do que dentro, mas menos claustrofóbico. Ally
bufou e fechou a janela de Chad ao lado dela.

— Fale comigo.

— Estou bem.

— Você não está focado no caso. Temos uma pessoa desaparecida,


uma pessoa desaparecida com possível falta de rins, e preciso que você se
concentre.

Chad contraiu e relaxou a mão no joelho. Ele olhou para o


movimento e suspirou.

— Os dois policiais no corredor...

Ally apertou os dedos ao redor do volante. — Sabia que deveria ter


jogado aquele café...

— Não... eles estavam conversando, alguém foi morto, estrangulado.

Ally riu, — Um caso de cada vez, Chad, outra equipe estará nisso.

— Não é isso.
Os lábios de Ally se separaram, mas segundos se passaram antes que
ela falasse.

— Entendo. Isso o lembra do assassino da contagem regressiva.

— Lembra. — Ele murmurou.

— Romeo Knight está morto. Se alguém foi estrangulado, não foi ele.
Ele se foi, Chad. Quero dizer, a menos que ele volte como um fantasma, um
que pode usar suas mãos. — Ally balançou a cabeça. — Porra, não estou
ajudando, estou?

— Seria minha culpa.

— O que? Se o fantasma dele viesse aqui e começasse a estrangular


as pessoas. — Ally suspirou. — Você não conhece os detalhes daquele caso
- você ouviu dois policiais conversando, só isso. Mantenha essa sua cabeça
de detetive firmemente e concentre-se neste caso e tudo vai dar certo.

Chad fechou os olhos e exalou profundamente. — Tudo bem.

— Este é você, lembra? — Ela apontou o dedo para ele. — Detetive


Fuller. Não deixe essa chance de ser você de novo ir embora. Ele se foi...
você ainda está aqui.

Ele assentiu.

— Esse é meu parceiro.

****

— Casa de Ellen e Kerion. — Ally disse.


Eles passaram pelos enormes portões, um gramado impecável
cercava a casa de três andares. As paredes brancas pareciam ter sido
pintadas no dia anterior, as lousas do telhado estavam todas intactas,
exatamente da mesma cor vermelho-tijolo. As sebes foram moldadas, as
flores eram todas uniformes, a única coisa que matou a vibe da casa do
show foram os dois carros da polícia estacionados do lado de fora e a
grama amarelada onde o sol havia sido forte demais.

— Acho que nunca vi uma casa de aparência mais perfeita.

Ally pegou as palavras da boca de Chad, até mesmo o sol refletido no


branco deu um brilho sagrado, e quando Chad saiu do carro, o cheiro de
flores doces o atingiu. Ele encontrou a fonte - havia cestos cheios de flores
rosa e roxas penduradas na varanda, atraindo abelhas e borboletas. Uma
flutuou entre ele e Ally e eles trocaram um olhar.

— Ei... — Um policial balançou a mão para chamar a atenção deles.


Ele parou ao lado de seu carro e, quando eles se aproximaram, ele agarrou
algo do banco de trás.

— Espere até ver o que tenho para você.

— O que você acha? — Ally murmurou.

Chad encolheu os ombros.

— Um halo cintilante. — Ela deu uma risadinha. — Ou um anjo


chorando? Ou talvez... o brilho físico de Deus em uma garrafa?
Eles estavam perto o suficiente do oficial que ele ouviu. Suas
sobrancelhas espessas se juntaram, fixando-se acima dos tons escuros que
cobriam seus olhos.

— Não. Eu tenho uma corda, uma fronha preta e um papel de fita


adesiva.

Ally enfiou a mão na jaqueta e tirou um par de luvas. Ela ergueu a


sobrancelha para Chad enquanto as colocava. — Esteja sempre preparado.

Ela segurou o saco de evidências com a fronha e sua carranca ficou


mais severa. — Estranho.

— E isto…

Chad recuou ao ver a agulha.

Marc o tinha esfaqueado.

As alfinetadas agudas foram rapidamente seguidas por desamparo e


dor.

Ele tinha pensado em Romeo na casa da fazenda. Romeo tinha


cuidado dele, ele não infligia dor nele uma e outra vez, sem fim à vista.

— Onde você encontrou essas coisas? — Ally perguntou.

— No porta-malas do carro.

— O Aston?

— Não. Um que eles mantinham na garagem. Um fusca vermelho


velho e surrado.
Ally olhou para a garagem, Chad inadvertidamente deu um passo
atrás dela, para longe da agulha. Ele soltou a respiração que estava
prendendo quando o policial a colocou de volta em seu assento.

— Por que eles teriam um fusca velho e surrado? — Ally sussurrou.

O oficial encolheu os ombros. — Algumas pessoas gostam deles.

— Para com isso. Ninguém quer dirigir um fusca e se você é tão rico,
não precisa. — Ela cantarolou. — O disfarce perfeito.

— Disfarce perfeito? — Chad perguntou.

— Intenções criminosas, você escolhe um carro que combina com


algo médio, que não vale a pena olhar muito de perto.

Chad engoliu em seco.

— Algo mais suspeito? — Ally perguntou.

— As gavetas do quarto foram destruídas. Mala pela metade na sala


de estar, dinheiro e passaporte de Kerion.

Ally cantarolou. — Ele estava saindo quando o chamamos.

— E alguém interveio antes que ele tivesse a chance de continuar. —


Chad disse.

Ally levou Chad até o fusca na garagem. Eles circularam antes de


ambos pararem em frente às janelas escuras dos fundos.

— Por que você obteria tons pretos, hein?


Chad correu o olhar ao longo de uma marca de arranhão no carro.
Percorreu todo o comprimento do veículo. — E como você consegue um
arranhão desses?

— Estacionamento paralelo. — Ally riu. — Vamos.

Eles caminharam de volta para o oficial que esperava.

— Precisamos levar essas evidências de volta para a delegacia. —


Ally apontou para a agulha no assento. — Precisamos saber o que é. O que
Kerion planejava esfaquear alguém.

Chad parou seu estremecimento pressionando a mordida de amor de


Romeo em seu pescoço. Estava desaparecendo, mas a dor surda tirou a
memória da agulha antes do bisturi. Seus dedos subiram mais alto por
conta própria, tocando a pulsação em seu pescoço.

As mãos do monstro sobre ele, acabando com a vida dele.

Os olhos dele.

Chad sempre tinha visto o brilho escuro nos olhos de Romeo,


mantido à distância, enterrado no coração dele. Foi a primeira vez que a
fúria turbulenta de Romeo foi dirigida a ele, o desejo e a necessidade
pulsando em seu rosto, fazendo seus lábios se contorcerem e seu nariz se
dilatar.

Romeo sempre disse que havia uma parte dele que queria matar
Chad, sempre iria querer, mas foi a primeira vez que Chad viu isso.

Ele ficou cara a cara com o monstro e foi assustador.


Capítulo Oito

Chad respirou fundo, olhando para a casa.

Ele desligou o motor, abriu a porta e deslizou para fora com os pés
instáveis.

O carro de Romeo não estava lá, as luzes estavam todas apagadas,


mas mesmo se essas pistas óbvias não estivessem lá, Chad saberia que
Romeo ainda estava ausente pela sensação assustadora. Mesmo quando ele
não podia ver Romeo, e seu coração acelerava em pânico, ele sempre sentia
a essência dele em algum lugar por perto, mas Romeo não tinha voltado
para casa.

Ele estava sozinho.

Chad destrancou a porta e caminhou para dentro, cada passo


empilhado na solidão. A cozinha não tinha o cheiro de uma refeição
reconfortante, não havia música suave fluindo para saudar seus ouvidos. O
lugar parecia vazio sem Romeo enchendo-o de vida e fazendo dele um lar.

Chad se controlou até que ele ficou no quarto, olhando para o


uniforme que ele tinha acabado de tirar e deixou no chão. Ele demorou
muito para colocar a mão na boca e o som cru de desespero escapou
quando ele se sentou na beira da cama.

Romeo não tinha voltado.


Chad pegou sua jaqueta no chão, passando os dedos pelo interior
sedoso enquanto prendia o bolso e tirava o telefone. Ele tentou o número
de Romeo e pressionou a palma da mão na boca com as vibrações rítmicas
do andar de baixo, o telefone zumbindo na mesa perto da porta dos
fundos.

Ele sabia que estava lá, mas algo em seu peito exigia que ele tentasse
tocar novamente.

Não havia como entrar em contato com Romeo, encontrá-lo, implorar


para que ele voltasse para a casa e a transformasse em um lar.

Chad correu para cobrir seu corpo cheio de cicatrizes com uma
camiseta leve, então vestiu uma calça de pijama de algodão. Ele se arrastou
de volta na cama e ergueu os joelhos, agarrando-se a eles como se sua vida
dependesse disso.

Ele tinha que esperar o retorno de Romeo, mas e se ele não voltasse.

O pensamento fez seus olhos arderem. Seu coração saltou e disparou,


deixando-o doente e trêmulo.

A vida de Chad não estava mais em suas mãos, como se Marc tivesse
roubado sua escolha, e Romeo também, deixando-o no limbo.

Chad balançou a cabeça.

Ele soltou os joelhos, flexionou os dedos, moveu os braços e deslizou


do colchão para sentir os pés no chão.

O peso e o movimento de seu corpo aliviaram seu pânico.


Ele não estava indefeso, não estava drogado e amarrado à cama.

Chad desceu correndo as escadas e não parou para calçar os tênis. Ele
esmagou as chaves na mão enquanto corria para o carro.

Se ele não podia ter Romeo sem o monstro, então que fosse. Ele
viveria com medo por um pedaço do amor de Romeo.

****

Ele dirigiu para o coração da cidade, sacudindo o olhar em todas as


direções, estudando cada pessoa que caminhava em seu caminho.

Ele estudou as ruas, diminuindo a velocidade para espiar pelos


becos, e quando encontrou um homem sentado na calçada com uma placa
de papelão pedindo dinheiro, parou ao lado dele, estudou seu rosto que
não era de Romeo e perguntou se ele viu um homem.

Um bonito com uma cicatriz na bochecha e uma pálpebra caída, mas


a resposta foi um não direto.

Chad enfiou a mão na carteira e deu ao homem todas as notas que ele
tinha antes de sair da cidade.

Chad não tinha um destino em mente. Ele dirigiu, procurando em


sua mente uma pista de para onde Romeo iria.

Ele não tinha família ou amigos, não que ele tivesse contado a Chad.

Chad nem sabia onde Romeo cresceu ou onde trabalhou anos atrás.
Ele rosnou, estrangulando o volante. As casas foram diminuindo
cada vez mais, até que pararam. Campo após campo se estendia diante
dele, e ele suspirou, pensando em voltar para a casa.

Romeo podia ter voltado.

A cerca ao lado dele se estendia até onde ele podia ver em torno de
um dos campos. A grama além dela era longa, como uma campina, mas
por que uma campina seria cercada por uma cerca de três metros encimada
por laços de arame farpado?

Na frente da cerca havia uma vala seca, mas as amoreiras e urtigas


pareciam muito mais ameaçadoras do que um fio d'água. Além da cerca e
da campina, ao longe, uma construção retangular estava meio escondida
em fileira após fileira de árvores.

Ele piscou sem saber se era real.

Chad olhou para o prédio, perguntando-se se Romeo teria se


aventurado tão longe, enjaulado dentro das cercas para controlar seu lado
monstruoso.

O movimento chamou sua atenção no campo, a grama sacudiu, Chad


esticou o pescoço, esperando que o que quer que estivesse se escondendo
se revelasse. Ele derivou, cruzando a linha central, apertando os olhos para
a grama, desesperado para ver. Ele avistou duas orelhas de formato
triangular e uma ponta branca enquanto a criatura desaparecia na grama
mais espessa.

Uma raposa.
Ele olhou para cima e sua respiração ficou presa na garganta com o
carro vindo em sua direção. A buzina soou, Chad recuou para a esquerda,
cerrando os dentes.

As rodas guincharam na estrada, o som penetrante foi igualado pelo


outro carro quando ele virou para evitar uma colisão frontal com Chad.

Chad sacudiu em seu assento quando seu carro bateu em um monte


de terra, depois em outro. Não forte o suficiente para disparar os airbags,
mas o suficiente para que seus dentes se encaixassem e sua cabeça
chicoteasse para a frente.

O carro parou, ele praguejou, agarrando sua nuca antes de checar o


espelho do outro carro.

O carro com luzes vermelhas de advertência acesas, saindo da vala.

— Merda. — Chad disse, abrindo a porta.

Ele se firmou contra a porta, tomando cuidado para não tropeçar na


plantação em crescimento, então correu pela estrada.

— Por favor, esteja bem, por favor, esteja bem.

Ele contornou o porta-malas e congelou no homem que estava


saindo.

As sombras cobriram seus olhos e ele agarrou a nuca. Ele não


enfrentou Chad, mas as urtigas de mais de um metro de altura ao seu
redor.

— Eu sinto muito. — Chad deixou escapar. — Eu sinto muito.


O homem colocou os óculos escuros no cabelo e seus olhos azuis se
ergueram para encontrar os de Chad.

Eles se alargaram um pouco, antes que Chad recebesse a oferta de


uma mão para segurar. O reconhecimento mútuo tomou conta de ambos e
os deixou boquiabertos.

— Me desculpe, eu não estava me concentrando, sou um idiota.

Ele agarrou a mão de Carter e puxou-o do banco do motorista.

— Você está... você está bem? — Chad disse, olhando para cima e
para baixo no médico. — Devo ligar para alguém?

— Como um médico?

— Bem, sim.

Carter bufou. — Estou bem. O Jaguar tem uma boa classificação de


segurança, oito airbags e nenhum disparou.

Chad nem percebeu que era um Jaguar, ele olhou para o porta-malas
novamente, notando o felino prateado. O registro do carro disse a ele que
era novo e, graças a Chad, decorado com arranhões nas laterais.

— Eu estava andando a passos largos quando caí na vala. Sem danos


causados.

— Sem problemas... eu poderia ter matado você! — Chad deu um


passo para trás, segurando a nuca. — Eu poderia ter matado você.

Seus olhos queimaram e ele cravou as unhas na carne da nuca. Ele


não dormia há quase 48 horas, estava cansado, estressado.
O que diabos ele estava pensando?

Carter inclinou a cabeça, estudando Chad.

— Alguma dor no ombro?

— Huh?

— Seu ombro dói?

— Não.

Carter deu um passo à frente. — Dor de pescoço?

— Estou bem.

— Responda-me.

— O que?

Carter riu baixinho. — Acho que você está em choque, detetive.

Uma lágrima quente caiu na bochecha de Chad, ele a enxugou. — Eu


não estou. — Ele olhou para si mesmo, sua calça de pijama de algodão e
uma camisa branca transparente. Ele nem mesmo tinha calçado os sapatos.

Carter olhou para os pés descalços de Chad. — Você está bem,


Detetive Fuller?

— Me chame de Chad.

— Ok, Chad.

Ele caiu contra o porta-malas do carro de Carter, inclinando-se perto


das luzes de advertência. Ele piscou através da névoa vermelha, tentando
acalmar seu coração acelerado.
Estúpido, como ele foi tão estúpido.

— Você é um médico.

— Sim, eu sou.

— Eu quase matei você.

Carter suspirou, arrastando os pés mais perto. — Você está


esfregando a nuca com força, Chad, tem certeza de que não dói?

Chad olhou para ele, sua mão pairando, querendo tocar o pescoço de
Chad, testá-lo com os dedos. Ele correu para fora de seu alcance. O
pensamento da mão de Carter sobre ele - não, apenas Romeo poderia
tocar.

— Eu não vou te machucar.

— Eu não quero que você me toque.

Carter abaixou a mão e olhou além de Chad para seu carro no


campo.

— Seu airbag também não disparou. Mais perto de um


estacionamento ruim do que um acidente dramático.

Chad não fez comentários, ele olhou para o chão, mantendo distância
entre ele e Carter, que continuava tentando se aproximar.

— O que você estava fazendo aqui? — Carter disse: — Não há nada


por perto por quilômetros.

O pescoço de Chad formigou, ele parou de recuar e ergueu o queixo.


— E você?
Ele olhou Carter de cima a baixo, fora de seu uniforme de médico, ele
usava jeans e uma camiseta preta. Ele o reconheceu por seus olhos, os
faróis iluminados pareciam quando Chad exigiu saber se ele gostava de
futebol.

— Tive um dia de folga.

— E você dirigiu aqui?

Carter desviou os olhos para o carro. — Estradas tranquilas. Não se


preocupe, eu mantenho o limite de velocidade — ele piscou. — Eu o levei
para dar uma volta.

— Mesmo?

— Sim, realmente. Isso é aceitável, detetive?

Chad cedeu. — Sim, desculpe-me.

— Você está perdido? — Carter perguntou. — Às vezes, a navegação


por satélite funciona por aqui.

— Não estou perdido, estava apenas...

Procurando por um serial killer.

Meu serial killer.

Ele balançou sua cabeça. — Explorando, dirigindo por aí.

— Vou chamar um veículo de recuperação. — Carter disse, batendo


os dedos no porta-malas. — Você precisa de um?

— Não, eu acho que posso dar a volta por cima. Precisamos trocar
detalhes de seguro.
— Não há necessidade, não colidimos, apenas estacionamos mal. —
Carter sorriu enquanto tirava o telefone do bolso e fazia a ligação.

O olhar de Chad se afastou dele, seguindo a cerca de arame. O prédio


além chamou sua atenção, e ele apertou os olhos, pensando que podia ver
uma figura à distância. Romeo? Em um lampejo ele viu o celeiro, a pintura
em chamas de um monstro. Olhos verdes e tristes cercados por chamas
vivas.

— O que você está olhando? — Carter perguntou. Ele havia


terminado em seu telefone e o estava colocando de volta no bolso.

— O que é este lugar?

— Lakenwell. É uma base militar.

— Base militar? Não parece que está sendo usada.

— Não na superfície, pelo menos. A cerca passa ao redor dela, e há


um enorme portão trancado coberto por câmeras. Está sendo usada para
alguma coisa, armazenamento talvez.

Chad fechou os olhos, Romeo evitaria as câmeras a todo custo. Ele


contraiu as narinas, aspirando a fumaça.

— Você pode sentir o cheiro disso?

— Culpado. — Carter disse.

Chad olhou para ele. Ele ficou com as mãos levantadas, sorrindo para
Chad.
— Eu sou médico, mas fumo. Eu digo aos pacientes que é ruim para
eles, mas faço isso no meu próprio tempo.

Chad fungou. O cheiro irritou suas narinas e ele franziu a testa.

— Você fuma?

— Não.

— Melhor manter assim. Porém, não há nada melhor do que um


carro rápido e um maço de cigarros de boa qualidade.

— Aposto que sua esposa está feliz em ouvir você dizer isso.

— Ex-mulher.

Chad beliscou a ponte do nariz. — Não sei por que presumi.

— Está tudo bem, estamos divorciados há dez anos, ela se arrastou,


lutou para tirar tudo de mim, quase tirou e agora minha vida existe em
torno de três coisas, carros, cigarros e medicina. Às vezes preciso de carros
e cigarros para ajudar na medicina.

— O que você quer dizer?

— Quando eu tenho um dia ruim. Quando um paciente morre. —


Ele olhou para a estrada. — Às vezes, dirigir e fumar são tudo o que ajuda.

Sua sobrancelha se dobrou e ele olhou para longe.

— Marcy. — Chad engasgou.

— Não, Marcy não, ela… ainda está na UTI. Ela ainda está se
segurando. Esperando e ainda espero pela chance de salvá-la. — Ele
balançou sua cabeça. — É uma coisa terrível de se esperar, não é? Alguém
precisa morrer para salvar a vida de Marcy.

— É... uma área cinzenta.

— Sim, é. Como está indo sua investigação?

— Estamos seguindo pistas. — Chad disse.

Carter acenou com a cabeça. — É o mesmo para você, o trabalho


segue você para casa?

A mente de Chad foi para Romeo, e ele bufou. — Sim.

— Tudo que você pode fazer é tentar o seu melhor, mas quando o
seu melhor não é bom o suficiente... é a pior sensação do mundo. Devo
salvar as pessoas, mas às vezes não posso. — Ele exalou forte e olhou para
Chad. — Você vai me deixar verificar seu pescoço?

— Está bem.

— Eu me sentiria melhor se pelo menos desse uma olhada.

Chad engoliu em seco, o inchaço das mãos do monstro latejava,


lembrando-o de que era uma má ideia, mas os olhos de Carter o
perfuraram e a ponta de seus lábios se ergueu em um sorriso
tranquilizador.

— Confie em mim, eu sou um médico.

Chad bufou. — Não posso acreditar que você acabou de dizer isso.

— Nem eu.
Carter se aproximou e Chad não recuou. Ele colou os pés no chão e se
manteve firme enquanto Carter se aproximava.

Ele acenou com a cabeça, e o sorriso de Carter ficou maior.

Ele ergueu as mãos para o pescoço de Chad, pressionando a carne


nas costas, perguntando se doía. Não parecia, seu pescoço parecia bom, e
seu ombro só doía com a parada dura de Ally antes, mas quando os dedos
de Carter correram para a frente de seu pescoço, ele enrijeceu. Suas mãos
estavam tão perto do rosto de Chad que ele pensou que podia sentir o
cheiro do hospital, alvejante - isso o lembrava de seu estado de desespero
quando ficou deitado ali dia após dia esperando para se sentir normal
novamente.

Ele nunca sentiu isso.

Fumaça e antisséptico se fundiram em algo desagradável de Carter.


Ele revestiu a língua de Chad e encheu suas narinas. Ele não conseguia
respirar sem sentir o gosto, e isso engrossou em náusea.

Ele pensou em Marc e quis recuar ante o toque de Carter, mas se


manteve quieto enquanto dedos gentis cutucavam o inchaço.

— Isso dói, não é?

Chad cerrou os dentes para alguém que não era a mão de Romeo em
seu pescoço.

Alguém o tocando.

O cabelo em sua nuca se arrepiou, e ele resistiu ao impulso de dar um


tapa na mão de Carter.
Carter olhou profundamente nos olhos de Chad e franziu a testa. Ele
puxou o cotovelo de Chad, afastando-o do carro.

— As luzes. — Ele disse, como se fosse uma explicação.

Carter pegou o telefone novamente e acendeu a luz.

— Mantenha seus olhos em mim.

Chad obedeceu e olhou para o azul das íris de Carter. A luz se moveu
do lado do rosto de Chad, até o pescoço, onde pairou.

— Confidencialidade do paciente — disse ele.

— Eu não sou seu paciente.

— Você é agora. Sua garganta está inchada, os hematomas são leves,


de aparência avermelhada, em uma área mais ampla do pescoço. Você está
com hemorragia nos olhos.

A maneira como ele falou lembrou Chad de um oficial forense. Se


Romeo tivesse apertado por mais tempo, com mais força, alguém estaria
falando sobre seu cadáver assim, listando os ferimentos.

Ele estaria deitado nu em uma mesa fria com seu nome e número
marcados no dedão do pé, fotografado, unhas raspadas, garganta cortada
para ver se sua laringe havia sido fraturada.

— É só um resfriado.

— Não é. A voz rouca é a única semelhança. Eu diria que houve


algum tipo de compressão em seu pescoço. Eu diria que você pode ter
sido... estrangulado.
Chad mordeu a língua. Um sotaque irônico foi registrado em suas
papilas gustativas.

— Eu não estou aqui para lhe dizer como viver sua vida, quaisquer
torções que você possa ter não são da minha conta...

— Torções? Você acha que estrangular é uma torção?

Não era? Chad não tinha ideia do que ele estava dizendo.

Ele não sabia por que sua voz havia saltado cinco oitavas, ou por que
seu peito se contraiu.

Carter abaixou a mão. — Eu presumi que algo assim seria


consensual?

Ele sempre disse a Romeo que se a necessidade fosse demais, ele


estava lá, disposto a satisfazer o monstro uma última vez.

Romeo o seguiria, tinha certeza disso. Os dois deixariam o mundo


juntos, acabariam com sua história de amor confusa.

Julieta teimosa.

— Foi. — Ele sussurrou.

— Você perdeu a consciência?

Chad acenou com a cabeça.

— Por quanto tempo?

— Eu não sei, minuto, dez segundos.

— Seu parceiro...
— Namorado.

— Seu namorado não te disse por quanto tempo?

Chad balançou a cabeça e desviou o olhar.

— Quando isso aconteceu?

— Noite passada.

— Algum cansaço? Tontura? Você perdeu a consciência de novo?

— Eu não desmaiei novamente. Cansado, dor de cabeça, dor de


garganta.

— Mal-estar?

Chad assentiu enquanto seu estômago gorgolejava.

Carter franziu a testa, olhando além de Chad para seu carro em um


campo. — Confusão?

— Não, não me sinto confuso.

— Mas você dirigiu para o meio do nada... por quê?

— Eu estava explorando.

— Descalço?

Carter apertou os lábios em um sorriso sombrio, cantarolando.

— Os analgésicos de venda livre para reduzir o inchaço. Pequenos


goles de água ao longo do dia. A abundância do descanso...

— Não consigo descansar, estou trabalhando em um caso.

— Os hematomas ficarão mais óbvios, mais escuros.


— Talvez não seja um resfriado, talvez seja uma reação alérgica a
alguma coisa.

Carter bufou. — Ok, Chad. Se você precisar de algum analgésico mais


forte para a sua 'reação', venha me encontrar no hospital, entendeu?

— Eu irei.

— Lá está o veículo de recuperação. — Carter disse.

Suas luzes âmbar piscaram quando ele se aproximou. Carter


suspirou, deslizando seu telefone para longe.

— Você vai ficar bem em casa?

— Sim. Sinto muito pelo carro.

Carter encolheu os ombros. — Eu tenho muito mais deles.

— Sim?

— Sou um apaixonado por gasolina, lembra?

A caneca, os cartões de agradecimento - Chad apertou a cabeça.

— Sim, um que eu quase matei.

— Como eu disse, Chad. Sem danos causados. Não desta vez, pelo
menos.

Ele engoliu em seco. — Terei mais cuidado no futuro.

Carter olhou diretamente para sua garganta. — Com o carro, e com


sua escolha de parceiro romântico. Ele não tinha nenhum controle de si
mesmo.
— Nós... interpretamos mal um ao outro. Interpretamos mal o
momento.

— Não coloque sua confiança nas pessoas erradas.

— Eu não vou.

— E se você precisar conversar...

— Obrigado, mas estou bem.

Ele deu uma última olhada em Chad e foi embora, erguendo a mão
para que o veículo de recuperação parasse. Chad atravessou a estrada,
subiu de volta em seu carro e deu ré no campo.

Carter acenou para ele, e Chad lhe lançou um sorriso antes de olhar
além dele para o prédio à distância, o canil dentro da jaula.

Ele balançou sua cabeça.

Romeo não estaria lá.

Seu coração acelerou quando pensou em Romeo, de volta em casa,


esperando por Chad, como ele prometeu, monstro que se dane.
Capítulo Nove

Chad jogou água em seu rosto. Ele engasgou com o respingo frio, seu
cabelo pingou na pia e ele estendeu a mão para fechar a torneira. Quando
ele ergueu a cabeça, ele não se concentrou em seu rosto, mas no terno que
estava vestindo.

Seu traje de detetive.

As manchas de água encharcadas no material. Ele não parecia estar


no meio de uma onda de calor, mas sim de um aguaceiro.

Ele ajeitou a gravata, ajeitou o colarinho e olhou para as marcas em


seu pescoço. A tonalidade marrom-avermelhada em sua pele. Chad
inclinou a cabeça, certo de que podia ver a forma do polegar de Romeo sob
sua mandíbula.

Três dias se passaram. Três dias dolorosamente lentos.

Quando ele olhava pela janela todas as manhãs, era atingido por uma
onda esmagadora de decepção.

Ele se vestiu, dirigiu para o trabalho e, após dez minutos na sala de


incidentes, teve que pedir licença para ir ao banheiro.

O banheiro que ele escolheu ficava fora do necrotério, um lugar


impopular para se visitar pelos banheiros limpos de cristal e os sabonetes
bem fornecidos. Ninguém queria se aliviar quando a morte espreitava na
sala ao lado.

Chad secou o rosto, deu um passo para trás e se estudou no espelho.


Sua camisa estava enfiada para dentro, os botões abotoados, amarrados na
posição, mas ele desabou com o peso do mundo esmagando-o.

Ele era um detetive e precisava se recompor, passar mais um dia na


esperança de que Romeo voltasse para ele. No final, ele o faria. Ele tinha
que voltar.

Romeo, que poderia estar lá fora em algum lugar, impulsionado pela


escuridão em sua cabeça, iniciando uma nova contagem regressiva. Uma
contagem regressiva pela qual Chad teria sido responsável.

Ele sibilou por entre os dentes cerrados. Ele não conseguia pensar
nisso, precisava se concentrar no caso, pegar um assassino para equilibrar
seu amor por Romeo com sua necessidade de fazer o bem, ser bom.

— Eu estou no cinza — ele sussurrou.

Romeo voltaria.

Chad saiu do banheiro, voltando para o corredor, mas uma voz o fez
se virar. Ally chamou seu nome novamente, e ele esperou por ela.

— O que você estava fazendo lá?

— Eu estava lá por você.

— Fui mijar, não morri.


Ally bufou. — Wilma Dean. A mulher que foi estrangulada há
poucos dias.

O ar deixou Chad com pressa. Ele olhou para trás, para a porta do
necrotério, sem saber se conseguia encontrar sua voz, e quando o fez, foi
suave, cautelosa. — Você a viu?

— Sim, e não foi o fantasma de Romeo Knight.

— C...como você pode saber?

Ally o estudou. — Não sou uma especialista no caso do assassino de


contagem regressiva, mas ele usou as mãos, certo?

A garganta de Chad latejava e ele assentiu.

— Wilma foi estrangulada com uma gravata. Ainda estava enrolada


em seu pescoço quando a encontraram. O marido dela foi preso ontem à
noite.

— Não Romeo…

— Não, não é o seu fantasma. — Ally disse. — Ele está morto, Chad.
Ele não vai voltar.

Suas palavras eram como gelo. Ela pretendia ser reconfortante, mas
ele não conseguia sorrir, acenar com a cabeça nem nada. Ele engoliu em
seco, sentindo o inchaço na garganta.

Adeus, detetive.

Ele se virou e se pressionou contra a parede. Se Ally não estivesse lá,


ele teria escorregado e ficado lá.
Ally tocou seu cotovelo. — Está tudo bem, ele se foi.

— Ele não foi. — Chad balançou a cabeça.

Ele não podia. Ele tinha que voltar. Não havia pior sentimento no
mundo do que Romeo não voltar por ele. Romeo sempre viria por ele,
sempre o salvaria de todos, de qualquer pessoa, incluindo ele mesmo.

— Ele foi. — Ally disse, dando um passo na frente de Chad.

Ele não conseguia olhar nos olhos dela.

Ela agarrou a gravata dele e puxou suavemente. — É nisso que você


se concentra agora. Passos de bebê. Vou te ajudar. O que temos que fazer é
manter seu cérebro de detetive funcionando.

Distraído, mantenha-o distraído e tenha esperança.

Isso foi tudo o que ele pôde fazer.

— Vamos, precisam de nós lá em cima. Embora seja um pouco bom


aqui embaixo.

— Huh?

— É bom e frio, você não acha?

— Há geladeiras passando por aquela porta e pessoas mortas dentro


delas.

— Exatamente, posso subir dentro de uma para refrescar.

Chad se afastou da parede, mas seus joelhos caíram de fraqueza. Ele


se conteve, mas Ally percebeu e olhou para ele de cima a baixo.
— Você está bem?

— Sim. Eu... eu tenho que pegar esse assassino. Então vou me sentir
eu mesmo novamente.

— Eu gosto do seu espírito, mas temos que pegar o assassino, não


podemos levar toda a glória.

Ele franziu a testa. — Você descobriu sobre Wilma para mim?

— Você teria descoberto no final, eu estava acelerando o processo


para que você pudesse se concentrar.

— Obrigado.

— Está bem. Você me deve um Frappuccino mais tarde.

Chad abriu a porta para ela, e ela resmungou para ele, acotovelando-
o no caminho.

****

— Temos os resultados do teste da substância na seringa. — O DI


disse.

Chad se inclinou para frente com expectativa.

O DI não quebrou o contato visual. — Xilazina.

A mesma droga que Marc usou nele. Ela havia corrompido sua
corrente sanguínea tão rápido, depois de contar até três, ele foi incapaz de
se mover. Chad cedeu com um peso repentino. Ele moveu as mãos,
escondendo-as embaixo da mesa enquanto curvava os dedos e girava os
pulsos. Ele mexeu os dedos dos pés nos sapatos para se certificar de que
ainda conseguia movê-los.

— O pai de Gary exigiu respostas. Estamos fazendo uma chamada


urgente para qualquer informação sobre seu paradeiro. Ele ainda pode
estar vivo.

Chad duvidava disso, e ele podia dizer pela expressão resignada do


DI, ele duvidava também. — Preciso fazer algumas ligações — disse ele,
retirando-se para o escritório.

— Então, por que você acha que eles tinham uma seringa cheia
disso? — Ally perguntou. — Em um carro secreto, cheio de coisas
sombrias.

— Acho que é isso que temos que descobrir. — Chad disse.

— O pai de Gary não o via desde o fiasco do roubo, praticamente o


deserdou e acreditava que ele havia deixado a cidade para ficar com sua
tia. — Faye balançou a cabeça. — Relatou o desaparecimento dele há
apenas um mês.

— O que a tia de Gary disse?

— Ela não o vê há seis meses, acha que ele estava com o pai. — Ally
suspirou. — Entramos em contato com alguns amigos de Gary. Eles nos
disseram que ele estava pensando em ir embora. Ele falou em ficar com sua
tia. Eles presumiram que ele tinha feito isso. Ele era do tipo espontâneo,
aparentemente.
Chad olhou para a foto de Gary. Dezesseis anos, ranhuras raspadas
nas sobrancelhas, cabelo castanho curto. — Ninguém percebeu que ele
estava faltando.

— E adivinha quem ele estava seguindo nas redes sociais? Ellen


Blakely. — Disse Faye.

As portas se abriram revelando um Josh ofegante. Ele se levantou,


batendo as mãos no ar enquanto tentava recuperar o fôlego.

Ally escorregou da beirada da mesa. — E onde você esteve?

— Gary Vulux estava seguindo Ellen nas redes sociais.

— Sim, nós conseguimos essa parte...

— Então eu rolei por seus seguidores - não foi fácil, a maioria das
pessoas não usa seus nomes verdadeiros - e há muitos, 200.000. E eu estava
apenas arranhando a superfície, não cavei mais fundo...

— Josh, o que você está falando?

— Achei ouro com três deles.

— Encontrou ouro? — Chad perguntou.

— Gary Vulux, Sophia Price e Toni Clay.

— Quem são Sophia Price e Toni Clay?

— Eles foram arquivados como pessoas desaparecidas. Sophia Price


desapareceu há quatro anos. Toni Clay há dezoito meses. Todos com
menos de dezesseis anos. Todos eles seguiram Ellen nas redes sociais.

— Ellen está ligada a três pessoas desaparecidas.


Josh acenou com a cabeça. — Isso nós sabemos. E o que você achou
no carro na garagem? Fronha, fita adesiva, corda e uma seringa de... — Ele
parou e franziu a testa. — Estava cheia de que?

Chad ignorou a torção em seu intestino. — Xilazina.

— Que faz o que exatamente?

O olhar de Faye pressionou o rosto de Chad. Ele olhou para ela e ela
desviou os olhos dele.

— Isso paralisa, deixa você completamente indefeso. Você acha que


ela e Kerion podem ter algo a ver com esses desaparecimentos?

Josh encolheu os ombros. — É um pensamento.

— Houve alguma mensagem entre eles e Ellen?

— Não, mas nas biografias de Ellen e Kerion, ambos têm um emoji


de leão e um cadeado.

— Que diabos isso significa? — Ally perguntou.

Josh suspirou. — É um sinal do Lionshare. É uma sala de chat que


existe na dark web. Um campo minado. Nada é salvo. Não há nada para
pesquisar. Todo mundo é um fantasma.

— Estou farto de perseguir fantasmas.

Todos olharam para cima quando a porta do escritório do DI se abriu.


Ele saiu, abotoando o paletó. Seus lábios estavam pressionados em uma
linha sombria e ele olhou para o chão antes de levantar o olhar e encontrar
cada um deles um após o outro.
— Ele ainda não foi identificado formalmente, mas os policiais em
cena me garantiram que é ele. Eles encontraram Kerion.

— Onde? — Ally perguntou.

— Bosques de Ashgrove. Encontrado por um homem passeando com


seu cachorro.

— Eles sempre têm sorte, não é?

— A cena está sendo protegida. Ele terá que ser formalmente


identificado, mas apenas depois de remover sua camiseta.

Chad lançou um olhar para Ally e perguntou. — E a camiseta dele?

— Ele está vestindo uma camisa de futebol americano Scottsdale.

****

Chad olhou para o corpo sem vida de Kerion Blakely.

Uma formiga passou por seu rosto, deslizou sobre seus cílios e vagou
por seu olho leitoso. Kerion se perdeu em um clarão sem fim, não mais
preso às árvores acima - uma tenda branca foi colocada sobre seu corpo. A
camisa Scottsdale esticada sobre o peito parecia desconfortavelmente
apertada em torno de seu corpo inchado, e sangue seco manchava o tecido.

A máscara sobre o rosto de Chad fez pouco para bloquear o cheiro da


morte. O calor no ar tornou tudo pior, atraindo moscas zumbindo que
rastejaram sobre os lábios entreabertos de Kerion. A 300 metros de
distância, eles puderam sentir o cheiro de Kerion, cheirá-lo antes que a
tenda ou os oficiais ao redor aparecessem.

Ally acenou para uma das moscas. — Pequenas filhas da puta.

— Queimadura de corda em seus pulsos. — Chad disse.

— Ele também foi amarrado.

Ally circulou a mão sobre o peito de Kerion e a enorme mancha de


sangue. — Você acha que ele estava consciente quando o assassino fez
isso... o que ele fez exatamente?

A ferida estava escondida pela camiseta. Foi forçado após a morte de


Kerion, pelo ângulo dos ombros de Kerion, Chad suspeitou que pelo
menos um tinha sido deslocado no processo.

— Provavelmente. — Chad disse. — Se Ellen estava viva e consciente


quando isso aconteceu, imagino que o assassino fez o mesmo com Kerion.

Ally colocou a mão sobre o peito de Kerion. — Seu coração, essa é


minha aposta.

Josh bufou. — Certifique-se de que o DI não ouça você apostando.

— Não se preocupe, não vou.

— O assassino o vestiu com uma camisa Scottsdale.

— De três anos atrás? — Chad perguntou.

— Sim. Não é um bom ajuste para ele.

— Já se passaram alguns dias — Ally disse. — Eles sempre inflam


como balões.
— Eu me pergunto. — Josh disse, agachando-se do outro lado de
Kerion.

Ele enganchou a barra da camisa com a mão enluvada e conseguiu


dobrá-la para encontrar a etiqueta. — Tamanho médio de uma mulher.

— De mulher? — Chad ecoou.

Josh acenou com a cabeça, colocando a camisa de volta no lugar.

Chad lançou a Kerion um último olhar e saiu da tenda. Mesmo a dez


passos de distância, o cheiro chegou até ele.

O cheiro pútrido da morte.

O chão da floresta estava rachado. Chad olhou para baixo, com


cuidado para não escorregar. Ele tinha visto alguns outros oficiais
tropeçando e caindo na terra seca.

Sair de seu traje de proteção não o livrou do calor. Ele tirou o paletó e
o jogou no teto do carro mais próximo.

Ele teria desabotoado a camisa e afrouxado a gravata, mas


considerou isso desrespeitoso com Kerion caído morto a dez metros de
distância. Ele olhou para as árvores, as folhas embaixo eram de um verde
rico, e ele pensou nos olhos de Romeo.

Quando suas íris não estavam completamente pretas, quando ele


olhou para Chad com algo próximo ao amor.

Algo molhado tocou sua palma.


Ele olhou para baixo para ver dois grandes olhos negros olhando
para ele. As orelhas do cachorro se ergueram quando Chad fez contato
visual, e seu rabo balançou para frente e para trás, ganhando velocidade.

Chad manteve a mão mole e esperou que o cachorro pressionasse o


nariz contra a palma da mão antes de se virar totalmente para encará-lo.
Ele coçou o queixo do cachorro e sua boca se abriu, liberando a língua
pendurada.

— O nome dela é Jess.

Chad olhou para o homem que havia falado. Kyle Mathews. Ele
manteve os olhos fixos na tenda branca e nos detetives próximos. Ele
agarrou uma coleira, mas não percebeu que Jess havia saído da coleira.

Quando eles chegaram, Ally apontou Kyle como o cara de sorte que
encontrou o corpo. O DI foi até ele e fez um depoimento. O tempo todo Jess
ficou parada, balançando seu rabo assistindo a cena com interesse, como se
fosse o dia mais feliz de sua vida.

— Eu tive um cachorro uma vez, há um tempo agora. — Chad disse,


mais para Jess do que para Kyle. — Toby era leal, protetor. Meu melhor -
meu único amigo.

Chad parou de acariciar Jess, mas ela cutucou sua mão e lambeu seus
dedos até que ele sorriu e continuou.

— Afetuoso? — Kyle perguntou.

Chad sorriu. — Só para mim.

— Jess não se cansa de confusão. Ela é a melhor amiga de todos...


Chad acreditava, ela estava aceitando o rebuliço dele, mas olhando
de soslaio para todo mundo caso eles pudessem lhe oferecer mais.

— Eu dirigi até a floresta para passear com ela. A calçada está quente
demais para suas patas e está sombreado aqui. Ela correu na minha frente,
pensei que ela tivesse sentido o cheiro de um rato ou algo assim, nunca em
um milhão de anos eu pensei...

A voz de Kyle foi sumindo e Chad não pressionou por mais


informações. Os grandes olhos negros de Jess se conectaram com os dele
novamente, e uma memória veio à tona.

Para um rato, um cachorro era um monstro.

Ele havia falado as palavras para Romeo na sala de visitas.

Ele estava tentando explicar que não tinha medo do monstro, ele
simplesmente não o entendia. Como ele nem sempre entendeu Toby, mas
tudo bem. Não importava. Isso tornou seu vínculo mais forte. Ele poderia
deixar de lado isso e amar Romeo de qualquer maneira, mas talvez esse
fosse o problema. Ele não deveria ter olhado para além do monstro,
deveria tê-lo enfrentado antes do ataque na cabana.

— Meu Toby também caçava ratos. — Chad sussurrou.

Ele passou os dedos pelas orelhas de Jess. — Ele ficava imóvel, ele
tinha aquele olhar em seus olhos, depois se lançava atrás deles e, quando
os pegava, ficava tão feliz que os deixava cair aos meus pés para me
elogiar.
No início Chad não ficou feliz com isso, mas com o tempo, quando as
orelhas de Toby picaram e ele ficou imóvel como uma estátua com os olhos
em seu prêmio, Chad o encorajou. Chad não sentiu repulsa pelo rato morto
a seus pés, ou pela língua manchada de sangue de Toby. Ele se concentrou
na cauda extática de Toby e em seus olhos dilatados pela pupila.

Toby nunca pareceu tão satisfeito, e seu prazer e orgulho foram


contagiosos.

A tensão no ar enquanto ele espreitava.

A emoção quando ele atacou.

A euforia quando ele matou.

O orgulho quando ele apresentou seus vermes.

— Chad!

— Desculpe, quilômetros de distância.

Jess se afastou de Chad quando Ally veio. Ela implorou por carinho,
mas Ally a enxotou e disse que não até que ela voltasse para Chad.

Toby tinha sido leal a ele.

Ele teria matado por Chad.

Ele estremeceu e cobriu as saliências na nuca com a mão.

— É melhor você não ficar com febre. — Ally disse.

— Você tem olhos de falcão.


Ela os estreitou. — É melhor você acreditar. Então... estou pensando
em morangos com creme.

Chad franziu a testa. — Huh?

— O Frappuccino que você me deve. Estou fisicamente derretendo


com este calor. Iremos para o drive through no caminho de volta.

— Terminamos aqui?

— Eles estão prontos para movê-lo. Descobriremos mais quando


Kerion estiver no necrotério.

Chad acariciou Jess, olhando rapidamente para Kyle. — Ela tirou a


coleira.

— O que?

Kyle tirou os olhos da tenda e Chad gesticulou para Jess.

Kyle se apressou e colocou a coleira de volta em seu pescoço. Kyle


segurou a guia entre os dentes e apertou a fivela da gola. Ele testou,
certificou-se de que Jess não podia ficar livre e depois voltou a olhar para a
tenda. Os olhos de Jess se fixaram em Kyle. Apesar de ser contida, ela
sorriu para ele, ansiosamente lambendo sua mão e balançando seu rabo.

O paletó de Chad o atingiu no rosto e ele piscou.

Ele o pegou antes que caísse no chão e olhou para Ally.

— Vamos — ela disse. — Eu preciso do meu Frappuccino.

— Tem certeza? Já acho que você está fria como gelo...

— Fria como gelo, mas tão doce quanto açúcar.


— Mais amarga como um limão.

Ela riu. — Vamos, parceiro.

Chad seguiu seu exemplo, mas seus olhos foram atraídos como um
ímã para Jess, ainda olhando para Kyle, balançando seu rabo apesar do
colar apertado em seu pescoço.
Capítulo Dez

Chad acordou sem fôlego, Marc Wilson havia invadido seus sonhos.

Ele drogou Chad e o cortou e disse a ele que ninguém estava vindo
por ele.

Não era a primeira vez que revivia seu horror durante o sono, não
seria a última, mas não havia nenhum Romeo esperando do outro lado,
nenhuma maneira de procurá-lo.

Romeo que se sentava com ele na cozinha e jogava trocadilhos com


ele até que ele finalmente risse. Romeo que puxava um livro de palavras
cruzadas ou colocava um filme. Ele nem mesmo tinha que tocar Chad, ele
só tinha que estar lá - a presença dele era o suficiente para levantar a
influência de Marc.

Sem Romeo, o estômago embrulhado forçou seu caminho para cima.


Ele se enrolou enquanto caminhava para o banheiro e caiu de joelhos na
frente do vaso sanitário. A bile queimou em sua garganta e ele agarrou seu
pescoço enquanto vomitava.

Sua respiração era ofegante e todos os números cortados em sua


carne cantavam com uma nova onda de dor. Ele podia sentir todos eles
zumbindo em sua pele, latejando através de sua camiseta. A erupção que
Marc deu a ele, aquela da qual ele nunca poderia se livrar.
Chad puxou sua camiseta pela cabeça e lutou para ficar de pé. Ele se
apoiou contra a pia e arrastou o olhar sobre os números.

Eles responderam ao seu olhar, formigando com sua memória


individual.

O bisturi, a satisfação doentia nos olhos de Marc, a maneira como


seus lábios se separaram quando o sangue fluiu, como se ele estivesse
recebendo algum chute sexual por cortar Chad aberto.

Chad vomitou antes de tapar a boca com a mão. Ele não tinha mais
nada para vomitar, mas a náusea doeu até ele cambalear.

Romeo o resgatou.

Ele impediu Marc de arrastar o bisturi sobre sua garganta, salvou-o


antes que ele sufocasse, ofegasse e gaguejasse enquanto o sangue escorria
por ele e sua artéria cuspia por toda a cama.

Chad passou os dedos pelo peitoral direito. O pedaço de pele não


marcado que tinha sido destinado ao sangrento número um de Marc. Ele
não teve a chance. A carne de Chad não foi descascada ou cortada. Romeo
não permitiu que outra pessoa reivindicasse o que já pertencia a ele.

Chad já trazia sua marca, abaixo da superfície, um número um


queimado bem em seu coração. A marca pessoal de Romeo, e com cada
batida brilhava, aquecendo-o por dentro.

Seu coração pertencia a Romeo, se ele quisesse pará-lo ou deixá-lo


crescer, era dele. Mas deixar isso, permitir que a queimadura esfriasse e seu
coração congelasse e se estilhaçasse, aquela dor era pior do que todas as
suas fatias e cortes juntos.

Chad desceu as escadas arrastando os pés e aninhou-se no sofá. Ele


ligou a TV e assistiu às manchetes, esperando por um sinal. Terrorismo,
estupro, dano corporal grave, coerção, manipulação. Cada manchete
preencheu a tela, alguns minutos para cada. Nada sobre um estrangulador,
nada sobre o avistamento do infame assassino da contagem regressiva.

Romeo o havia deixado e ele não concordou com isso.

Era vida ou morte com eles, era assim que deveria ser, não preso no
meio apenas existindo.

Ele não estava na corda bamba, ele não tinha atingido o fundo, ele
estava em queda livre esperando, sem saber quando, se ou como o fundo
viria.

****

Chad enxugou as mãos suadas nas calças. Não ajudou, alguns


segundos depois e suas palmas tinham um brilho fresco de umidade. Ele
olhou para o relógio na parede, passando dolorosamente devagar. Havia
outros na área da recepção, todos a uma distância saudável uns dos outros.
Ninguém fez contato visual, ninguém fez nenhum som.

Havia seis pessoas vivas e respirando na sala de espera, mas todas


pareciam cadáveres, imóveis e pálidos.
O relógio fez a contagem regressiva de seu destino, e quando Keeley
finalmente veio atrás dele, ele correu atrás dela, ansioso para sair da sala do
relógio tiquetaqueando e das almas perdidas.

Ele se sentou na beirada da cadeira esperando Keeley sentar-se. Chad


franziu a testa para o canto do pássaro, muito alto e alegre considerando
que eles estavam tão perto da estrada.

— De onde vêm os sons dos pássaros? — Ele perguntou.

— Fora.

Ele inclinou a cabeça, observando-a até que ela cedeu e apontou para
a estante. — Alto-falante ali, descobri que ajuda as pessoas a relaxar. Posso
desligar se você quiser.

— Não, está tudo bem, desde que não haja música de baleia.

— Essa é a faixa dois.

Keeley sorriu e se inclinou para frente em sua cadeira. Chad fez o


possível para sorrir de volta, para colocar um pouco de calor em sua
expressão, mas ele sabia que tinha falhado quando Keeley baixou o olhar e
fez uma anotação rápida. Assim que a caneta dela tocou o papel, ele
desistiu de fingir e parou de tentar sorrir.

— Você cancelou nosso compromisso de sábado.

— O caso tem sido agitado.

— Essa é uma condição de você trabalhar na área de homicídio. Só


acho que você veio hoje porque tentei contar ao seu DI.
— Eu sinto muito. — Chad sussurrou.

— Bem, você está aqui agora. É isso que importa. Como você
encontrou seus primeiros dez dias como detetive?

— Está tudo bem.

— OK. — Keeley repetiu: — E seus novos colegas, eles têm sido


receptivos?

Eles tinham sido, Ally em particular. Chad acenou com a cabeça, mas
Keeley não pareceu impressionado com sua resposta, ela esticou o pescoço
mais para frente.

— O caso em que você está trabalhando trouxe alguma lembrança?

Os números em sua pele não pararam de formigar. Mesmo depois de


um banho gelado, eles continuaram a formigar e coçar. O brilho de suor
cobrindo seu corpo também não ajudou.

— Não.

Ela cantarolou. — Não me leve a mal, mas parece que você não tem
dormido bem.

— Eu poderia dizer o mesmo sobre você.

Ela recuou e ele ergueu as mãos.

— Desculpe, essa foi uma tentativa pobre de piada.

— Muitas pessoas usam o humor para mascarar sua dor. Desvia a


atenção.

— Eu sou péssimo nisso.


Ela cantarolou. — Você tem dormido bem?

— Não, mas os casos são sempre estressantes.

— As marcas em seu pescoço?

— Uma reação alérgica. — Chad disse, mantendo sua expressão


neutra. — Meu médico disse que diminuiria em alguns dias.

— Seu médico?

— Doutor Carter em St Johns. Ele deu uma olhada nisso.

— Estou feliz por você ter procurado alguém. — Keeley sorriu. — Da


última vez, você colocou muita ênfase em 'fazer o bem' e ser um detetive
novamente. Você acha que está conseguindo isso?

— Estou trabalhando em um caso. Só farei algo de bom quando o


assassino for pego.

— Por que você pega assassinos?

As sobrancelhas de Chad se juntaram. — Sou detetive, serviço


público, resolvo homicídios, procuro provas para que o culpado seja
condenado no tribunal. Os assassinos precisam ser responsabilizados por
suas ações.

— Esse não é o ângulo que eu estava procurando. — Ela bateu a


ponta da caneta na mesa, cantarolando: — Ok, como se sente quando você
pega um assassino?

— É um alívio para a família e amigos da vítima, um alívio para o


público, é justiça...
— Pessoalmente, como você se sente?

Chad lambeu os lábios. — Bom.

— Apenas bom?

— Há muitas emoções diferentes.

Keeley clicou em sua caneta e descansou a ponta em seu bloco de


notas. — Fale-me sobre isso?

— É difícil falar sobre isso.

— Quando achamos difícil discutir tópicos, geralmente são eles que


precisam ser discutidos e examinados.

— Estou proibido de falar sobre casos...

— Eu não estou pedindo a você. Quero saber como é pegar um


assassino, do começo ao fim.

— Eu não acho que posso explicar isso.

— Tente. Se você se sentir desconfortável, podemos parar, mas pelo


menos tente.

Ela sorriu para ele e deu-lhe um aceno encorajador. Ele se lembrou de


seus casos antigos, os anteriores a Romeo.

— Sempre há muita tensão no início de um caso. Há pressão e isso


cria impulso, você tem que juntar as peças do quebra-cabeça deixado para
trás o mais rápido possível, mas não negligenciar nenhum detalhe. É um
ato de equilíbrio difícil - muito rápido e você pode perder algo vital, muito
lento e seu assassino pode fugir ou atacar novamente.
— Você gosta dessa pressão, desse ato de equilíbrio?

Chad acenou com a cabeça. — Quando as peças do quebra-cabeça se


encaixam, é emocionante. A adrenalina é inebriante. Você sabe que está
perto, sabe que o assassino está apenas um passo à sua frente, em vez de
cinquenta. Você pode praticamente vê-los no horizonte e se preparar para
atacar.

— E quando você os pega, quando você ataca, como se sente?

— É difícil colocar em palavras. Há alívio, triunfo, é um zumbido.


Pegar a pessoa que você tem caçado todo esse tempo, e quando você coloca
as algemas, ler seus direitos, eu sinto... — ele riu, balançando a cabeça.

— O que? — Keeley perguntou.

— Certo. Parecia que existia puramente para esses momentos.

— E depois de serem acusados?

— Vamos para o próximo caso.

— Mas esse período de transição, do final de um caso ao início do


próximo, como você se sente?

— Vazio. — Ele encolheu os ombros. — Não havia nada.

— Você deve ter tido férias, tempo longe do trabalho.

Chad pensou em Neil e nos lugares caros que eles haviam visitado.
Neil preferia descansar nas praias, tomando coquetéis, mas Chad nunca foi
capaz de relaxar. Ele estava inquieto, andando de um lado para o outro,
fazendo tudo que podia para se distrair, para matar o tempo para que
pudesse voltar ao trabalho. Não parecia tão sufocante com Romeo. Ele
gostava de passar tempo com ele, apesar da coceira na parte de trás de sua
cabeça.

— Sempre me senti frustrado. Não importava o que eu estava


fazendo, estava sempre lá, tiquetaqueando. Ainda está sempre lá, às vezes
é alto e às vezes é silencioso.

— Você sente isso agora?

— Sim. É alto.

— Por que alto?

— Minha equipe está trabalhando agora na trilha, mas estou aqui...

— Pegar assassinos parece dar a você um pico de emoção.

— O que há de errado nisso?

— Seu trabalho não deveria definir você.

— Por que não?

— Não é saudável se você só sente valor e satisfação com seu


trabalho, não como pessoa.

Ele bufou. — Não valho nada como pessoa, mas sou como detetive.

— Você não é inútil, Chad. Sinto muito por você se sentir assim...

— Eu me sinto assim todos os dias desde que me lembro. Minha mãe


garantiu que eu soubesse. Eu não era nada além de um inconveniente, e
não importava o quanto eu tentasse agradá-la e fazê-la gostar de mim, ela
não gostava.
— Tenho certeza de que não é verdade.

— Ela me disse que não me queria.

— As coisas costumam ser ditas com raiva, no calor do momento.

— Ela me dizia isso todos os dias. Todos os dias ela zombava,


resmungava e saía da sala se eu entrasse apenas para ficar perto dela. Eu
fui uma decepção para ela, e ela era uma viciada que dormia com qualquer
coisa que rastejasse pela porta da frente.

— Algumas pessoas simplesmente não são... mães.

— Esse é meu argumento. Não nasci de uma mãe amorosa. Eu nem


sei quem é meu pai, se ele está vivo ou morto. Existo neste mundo sozinho,
contaminado, quebrado, indesejado, e tenho que encontrar algum tipo de
propósito, alguma razão para justificar estar aqui.

— Então você pega os bandidos?

— Isso é tão errado? Venho do nada, mas sinto algo quando pego
assassinos. Minha vida é importante porque evito que outros percam a
deles. Eu ajudo as pessoas a se curar prendendo os perpetradores e
responsabilizando-os, e você me condena por isso.

— Não. Eu nunca te condenaria por isso, Chad.

— Então o que?

Keeley se inclinou para frente. — Você vale mais do que seu trabalho.

Chad engoliu o nó em sua garganta.

— Eu não valho.
— Você vale. Você é digno de uma existência e me dizer que só se
sente vivo quando está no trabalho é uma preocupação. E se um dia você
for trabalhar, pegar um assassino e não conseguir essa emoção ou
adrenalina?

Ele balançou sua cabeça. Uma gota de suor escorreu por sua
sobrancelha e ele correu para enxugá-la. Ele não conseguia manter contato
visual com Keeley, ele voltou sua atenção para a janela, fixando-se nos
carros que passavam.

— Chad?

— Não sei.

— E se você nunca pudesse ter essa emoção?

Seus dedos doíam e ele não tinha ideia do motivo até que olhou para
baixo e viu os movimentos maníacos, sua mão relaxando e se contraindo
como um coração batendo.

— Você experimentou este pico quando Romeo foi capturado?

Ele incendiou o celeiro para garantir que Romeo fosse capturado, mas
seu cérebro não se apressou com endorfinas em um trabalho bem feito.

Não houve pico. Ele parou, congelou na subida com as mãos de


Romeo em volta de sua garganta. Ele não queria o pico, ele queria a queda
ali mesmo.

Queda e deixar Romeo se elevar acima dele.

— Não. — Ele sussurrou.


— E os casos que se seguiram?

Ele respirou fundo e fechou os olhos. Os casos depois de Romeo


foram todos iguais, o familiar acúmulo, o burburinho e a adrenalina antes
que as emoções de Chad se apagassem.

— Não tem sido o mesmo desde então.

Exceto com Marc Wilson, mas não era o mesmo sentimento. Suas
emoções não apenas atingiram o ápice, elas decolaram em um território
desconhecido. Raiva, dor, alívio e orgulho girando em torno de sua cabeça,
nunca lento o suficiente para que ele os processasse completamente - eram
fiapos - e no centro de toda a loucura estava Romeo.

Seu monstro e seu salvador.

Não poderia haver um sem o outro.

Um não poderia ser feliz sem o outro.

Chad parou sua mão sobre o joelho.

— Você está diferente desde Romeo.

— Sim, eu estou.

— E você está diferente desde Marc.

Chad franziu o rosto. — Sim.

— Era inevitável. Você não pode passar por tudo que passou e ser a
mesma pessoa do outro lado. Mudamos de dia para dia, às vezes pequenas
mudanças, às vezes mudanças enormes.

— Estou com medo de mudanças.


— Por que?

— É difícil. É entrar no desconhecido e esperar que tudo dê certo, e


se não der certo? E se tudo der errado? E se eu perder tudo?

— É melhor do que esperar mudar o que não podemos. Se eu


pudesse lhe oferecer uma pílula que pudesse apagar os últimos anos de sua
vida, você a tomaria?

O coração de Chad saltou para a garganta. — De jeito nenhum.

Keeley sorriu. — Apesar de toda a dor que você sofreu,


emocionalmente e fisicamente, você não aceitaria?

— Eu perderia a dor, a humilhação, o desamparo - e Deus, como isso


dói, mas eu o perderia também.

— Romeo?

— Eu não posso perdê-lo. Sei que é errado e sei que ninguém


entende, mas eu o amo.

Keeley parou de rabiscar em seu bloco de notas e olhou para cima. —


Você o amava?

Chad olhou diretamente em seus olhos. — Eu ainda o amo, ele me fez


sentir real de uma forma que ninguém mais fez. Ele me fez sentir que valho
algo fora do meu trabalho. Eu como Chad, quebrado, mas em seus olhos
completo.

— Isso não faz sentido.


— Eu sei — ele riu. — Mas nenhuma terapia jamais me fará parar de
amá-lo e não me importo se você acha que isso é confuso, porque não é. Ele
está confuso, eu estou um pouco confuso, mas nosso amor não. É a coisa
mais realista que já tive, porque não precisava fingir.

— Fingir o quê?

— Que eu era normal. — Chad riu. Doeu, mas a dor o fez rir ainda
mais.

— Por que você está rindo?

— Eu quero tanto voltar a ser normal quando eu não era normal em


primeiro lugar. Eu nem sei o que é.

— O que você acha que é isso?

Chad encolheu os ombros. — Eu só sei que o resto das crianças na


escola não tinha homens desconfiados visitando suas casas todas as noites.
Eles não tiveram que vasculhar o lixo quando estavam morrendo de fome.
Eles não tremeram durante toda a noite no inverno. Eles não dependiam de
um cachorro para ter companhia e amor. Eles garantiram que eu soubesse
que eu era diferente, estranho, um pária.

— Crianças podem ser cruéis.

— Os adultos também. Aconteceu de novo quando fui acusado de


ser um assassino. Minha vida é algo para me envergonhar, é suspeito que
alguém como eu pôde trabalhar para me tornar um detetive. Eu não sou
confiável. Isso é o que todos estavam dizendo, é o que ainda estão dizendo.

— Não...
— Eles estão, eu ouço em seus sussurros, vejo em seus olhos.

— É a paranoia falando.

— Romeo me viu, o verdadeiro eu quebrado, e ele não julgou nada


disso. Ele viu mais fundo, viu como eu estava vivendo uma mentira, me
convencendo de que estava errado por ser diferente, e foi um jogo para ele,
me quebrando, mas ele queria me conhecer.

— Você acha que ninguém mais vai entender você como ele fez?

— Aquelas oito semanas na fazenda com ele foi o mais vivo que já
me senti. Foi aterrorizante, ainda é quando penso nisso, mas por trás desse
medo, há revigoramento, adoração - e isso é ainda mais aterrorizante.

— Por que?

Keeley inclinou a cabeça e Chad olhou para ela, de cabeça erguida,


sem piscar.

— Porque eu não amo apenas Romeo, eu amo o monstro também.

— O monstro?

— A parte escura da mente de Romeo. Se não estivesse lá, ele não


teria me salvado. Se não estivesse lá, eu nunca o teria conhecido. Se não
estivesse lá, eu não teria visto como ele fica bonito quando o solta.

— Não entendo.

Ele olhou pela janela. — Você acha que os tigres são bonitos?

— O que?

— Você acha?
— Acho que sim.

— Você pode colocá-lo em uma gaiola, você pode alimentá-lo,


entretê-lo, mantê-lo estimulado, mas nada se compara ao seu instinto
natural. É uma necessidade genética de perseguir e matar.

— É biológico, não é algo que pode ser mudado.

— E um tigre fora de uma gaiola na selva é mais satisfatório do que


um enfiado em uma gaiola.

— Eu concordo.

— Assistimos a documentários deles perseguindo e matando e


aplaudimos seus sucessos, vendo uma morte, vendo uma necessidade
biológica acontecendo na sua frente. É uma coisa linda. — Ele sorriu. —
Aquilo foi Romeo para mim. Eu o achei encantador, apesar do que ele fez,
apesar de não entendê-lo totalmente, ele ainda era lindo.

****

Uma dormência tomou conta de Chad dentro da casa.

Ele comia pequenas porções, ficava sob o jato de água do chuveiro,


funcionava com o sono interrompido e esperava, observando o horizonte,
até que seus olhos ardessem.

O rádio não ajudou. A música o lembrava de Romeo, e ele não queria


ajustar sua estação favorita.
Ele não queria preencher uma palavra cruzada sem ele, não que ele
pudesse se concentrar o suficiente para ler as pistas.

A TV ofereceu-lhe pouca distração. O dia foi preenchido com ainda


mais horror sendo relatado, a parte maligna da psique humana.

Chad se aventurou na cabana, olhando para o quebra-cabeça


semiacabado do David de Michelangelo. Ele não terminou, mas juntou as
sobras em uma caixa para a volta de Romeo.

Chad caminhou de volta para a casa com o olhar fixo no sol


escaldante.

Mesmo quando desapareceu, não levou o calor com ele.

Ele avistou um carro descendo a pista de terra e a névoa da miséria se


dissipou.

Ele verificou as câmeras em seu telefone, mas caiu quando não era
Romeo.

O carro roxo bateu de um lado para o outro da pista de terra como


uma partida de tênis de mesa. Ele franziu a testa enquanto tentava
identificar o motorista, quase invisível atrás do volante.

— Ally? — Ele sussurrou antes de ir para a frente para


cumprimentá-la.

Ela parou ao lado da casa e sorriu para ele.

Ele abriu a porta para ela. — O que você está fazendo aqui?

— Dê-me um segundo para reunir minhas coisas.


Ela pegou algo do banco do passageiro antes de sair do carro.

Chad franziu a testa para sua jaqueta de motoqueiro enorme e a bolsa


roxa brilhante pendurada em seu braço. Ela estava segurando uma bandeja
coberta com papel alumínio e a empurrou para Chad. Ele pulsou as
narinas, aspirando o cheiro, e seu estômago roncou de interesse.

— Você gosta disso? — Ela disse, virando-se para que Chad pudesse
ver a parte de trás de sua jaqueta. Uma lápide rachada e um braço de
esqueleto saindo da terra.

— Muito apropriado. — Ele bufou.

— Era do meu marido — ela levantou a gola e cheirou. — Ainda


cheira como ele. Sua colônia.

Chad começou a cochilar em cima das roupas de Romeo, respirando


seu cheiro.

— Há quanto tempo...

— Vinte e um anos. Você sabe, ele me odiava trabalhando na área de


homicídios.

— Por que?

— Ele temia que eu pudesse irritar alguém.

— Você? Você é doce como açúcar.

— Cuidado, você continua assim e você vai vestir isso, não vai
comer.
Chad olhou para a bandeja coberta de papel alumínio em suas mãos.
— Não sei qual é a melhor opção...

Ally olhou além dele para a casa. — Você levou o isolamento ao


extremo. Eu coloquei uma cerca de 2,10 metros ao redor do meu bangalô e
um sinal de cuidado com o cachorro.

— Você tem um cachorro?

— O cachorro sou eu. Você se move para o meio do nada e arma o


lugar com uma centena de câmeras.

— Elas deveriam estar escondidas.

Ela bateu no nariz. — Olhos de falcão. Venha, você vai me convidar


para entrar ou o que?

— Eu tenho escolha?

— Não. — Ela caminhou até ele, e ele evitou para permitir que ela
passasse. Ele revirou os olhos e congelou ao pensar nos sapatos no tatame,
nas botas dele e de Romeo.

Ally tropeçou em um, mas não olhou para eles. — Você está tentando
me matar?

— Não. Eu não tinha ideia de que você estava vindo. Eu teria


armado uma armadilha melhor na casa.

— Muito engraçado. Trouxe um jantar para você e um presente de


inauguração.

Chad coçou a nuca. — Obrigado, eu acho.


— Acha?

— Obrigado. — Chad disse novamente.

Ally marchou para a cozinha.

Chad chicoteou os olhos ao redor do espaço, procurando por pistas


de Romeo.

Ally parou e Chad ficou na frente dela, seguindo seu olhar para ver o
que poderia tê-lo delatado. Havia pilhas de peças impressas de móveis de
costas planas, e muitas xícaras e pratos para um homem que supostamente
morava sozinho.

— O que? — Ele perguntou.

Ela cantarolou, colocando o prato de lado. Chad deu um passo à


frente do que ele pensava ser a causa de sua inquietação, a jaqueta de
Romeo pendurada na porta dos fundos. Havia quatro jaquetas
penduradas, excessivas para uma pessoa.

Ally enfiou a mão na bolsa e puxou uma enorme vela rosa. — Tem
cheiro de rosa. Vai ajudar com o cheiro.

— Que cheiro?

Ela pousou a vela e tirou um isqueiro da bolsa. Assim que acendeu o


pavio, ela suspirou. — Muito melhor.

— O que é?

— Nenhuma coisa.

Chad cruzou os braços.


— Você é um homem solteiro que vive sozinho. — Ally disse,
gesticulando para pratos e xícaras sujos. — Deve estar um pouco obsoleto
aqui.

— Obsoleto?

Ela riu. — Então, onde estão seus pratos?

— Por que?

— Para comer.

— Sim — ele balançou a cabeça. — Desculpe.

Ele tirou dois pratos limpos do armário.

Ally os inspecionou. — Eles vão servir.

— O que há de errado com eles?

— Não há porcelana fina para a sua parceira? — Ela se moveu e


abriu um armário.

— O que você está procurando?

— Copos. — Ela enfiou a mão, pegou uma caneca e estudou a


decoração. — O que há com as pegas?

— Romeo gosta delas.

Ele sempre fazia cafés para Chad da caneca com pega e assistia com
um sorriso quando Chad bebia.

Ally guardou a caneca. — Você percebe o que acabou de dizer, certo?

Ele piscou, interiormente rebobinou suas palavras e amaldiçoou.


— Romeo Knight tinha uma coisa por pega?

Chad bufou. Ele ainda tem.

— Por que pega?

— Não sei. — Chad disse. Ele olhou para a caneca. — Eu acho que
elas são muito inteligentes, são bonitas.

— Elas também bicam outros pássaros até a morte, talvez seja por
isso que ele gostava delas.

— Pode ser.

— Como foi a terapia?

— Eu me sinto mais inquieto do que quando entrei em seu escritório


e não ficarei surpreso se o DI me ligar e me dizer para não ir amanhã.

— Não é para todos.

— Mas eu tenho que ir, uma das minhas condições de trabalhar em


homicídio.

— Por que foi tão ruim, o que ela disse?

— Não foi o que ela disse, mais o que eu disse a ela.

— Que foi?

— Eu estava apaixonado por Romeo.

— Teria pensado que era óbvio...

Chad franziu a testa para ela. — O que?


— Você o visitou inúmeras vezes na prisão contra a vontade de seus
colegas e amigos. Se não foi por amor, então para que foi?

— E você está bem com isso... saber que eu amo - estava apaixonado
por um assassino em série.

— Se você o amava, então você o amava. É o que é.

Ele continuou a carranca para ela.

— Olha, eu estava tendo um caso com Lennox enquanto ele estava


com minha melhor amiga.

— Lennox?

— Meu marido. Foi assim que nos juntamos. Eu não estava em um


bom lugar, na verdade, eu não estava até conhecê-lo.

— É um pouco diferente.

— O amor é uma bagunça. — Ally disse. — Para algumas pessoas, é


simples, para outras é como atravessar o prazer e a dor com um amigo
irado atirando sapatos em você de lado.

— Ela alguma vez te perdoou?

— Não. Agora vamos, vou distraí-lo com conversas sobre assassinato


e torta inglesa vegana — disse ela, servindo um pouco. — Não adianta
aquecê-la no forno, vai ter um gosto tão ruim quanto.

— Você está realmente me vendendo.

Ela sorriu. — Você pega os copos, eu compartilharei isso.


Chad encheu dois copos, varrendo o olhar ao redor da cozinha para
se certificar de que não havia sinais óbvios de que um serial killer morasse
lá.

— São muitos livros de receitas. — Ally disse. — E você não estava


mentindo sobre as palavras cruzadas.

Chad colocou os copos na mesa e se sentou em frente a Ally. Ele


estreitou os olhos enquanto olhava para a torta inglesa, tentando descobrir
por que era verde.

— Não vai atacar você.

— Tem certeza?

Ele deu uma mordida e fingiu vomitar.

Ally olhou feio para ele. — Ficarei muito ofendida se você não limpar
seu prato.

Chad sorriu, dando outra mordida.

— Era o favorito do meu Lennox.

— O favorito do seu marido... isso não é um bom presságio para


qualquer outra coisa que você possa cozinhar.

— Você quer que eu jogue um pouco em você?

Chad sorriu, mexendo suas batatas verdes. — Por quanto tempo


vocês foram casados?
— Vinte e três anos, e não foi minha cozinha que causou isso.
Insuficiência cardíaca, o que é ridículo, considerando que ele tinha o maior
coração mais puro por aí.

— Eu sinto muito.

Ela olhou para ele e arqueou a sobrancelha.

— Não sei mais o que dizer. — Ele admitiu.

— Lennox amava sua moto, provavelmente tanto quanto eu, deu a


ela um nome e tudo.

— Que nome?

— Matilda.

— Matilda, a moto.

— Sim. — Ally riu. — Eu odiei aquela motocicleta ainda mais


quando ele a nomeou.

— Mas você se comprometeu.

Ally acenou com a cabeça. — E deu certo, aprendi a conviver com a


Matilda. Comunicação e compromisso. Eles são a chave para um
relacionamento sólido.

O estômago de Chad apertou e ele olhou para a torta inglesa.

— Eu o deixei me levar para passear de motocicleta e, em troca, ele


se tornou um vegano e usava os macacões horríveis que costumava
tricotar.

Chad riu.
— Um definitivamente virá em sua direção no Natal.

— Estou ansioso por isso.

— Natal, neve, gelo, geada, parece o paraíso, não é?

A cozinha permaneceu relativamente fria, mas o resto da casa estava


quente como uma sauna. O verão mais quente desde que os registros
começaram, o rádio não parava de lhe dizer.

— Lennox amava o verão. Ele se sentava na espreguiçadeira do lado


de fora e adormecia, acordava três horas depois com um tom rosa brilhante
e mancava. Bastardo bobo. — Ela bufou. — Mas, Deus, eu sinto falta dele.
Me aposentei por seis meses, pensei em conseguir um bom trabalho
despreocupado, mas não aguentei. Minha mente, minhas memórias, eles
estavam me comendo viva, então eu voltei.

— E você se sente melhor com isso.

— Sim, eu sinto.

— Estou feliz que você voltou.

Ela sorriu para ele, baixando o olhar.

— Então, o que eu perdi no trabalho? — Ele perguntou.

Ally respirou fundo. — O coração de Kerion foi removido e não foi


encontrado. Mais amostras de sangue foram encontradas no carro na
garagem de Kerion e Ellen.

— Gary?
— Não temos uma correspondência no banco de dados, mas é
sangue humano. Josh fez mais pesquisas e encontrou outra pessoa
desaparecida com links para a página de Ellen, e as pessoas desaparecidas
coincidem com Ellen e Kerion recebendo uma boa quantia em dinheiro.

— Kerion e Ellen estavam o que, sequestrando-os?

— Pode ser.

— E então o que eles fizeram?

— Não faço ideia, mas eles ainda estão desaparecidos, um data de


seis anos atrás. Todos com idades entre quinze e dezoito.

Chad desabou. — Eu perdi muito então.

— Não se preocupe, o assassino ainda está lá para nós pegarmos.

— Bom — Chad sussurrou enquanto coçava a garganta.

— O que há com isso? — Ally perguntou.

— O que?

Ela esfaqueou o garfo na direção do pescoço de Chad.

— Reação alérgica.

— Para quê?

Ele piscou. — Camarões, havia alguns na refeição pronta, não li os


ingredientes.

— Seu idiota. Ainda assim, acho que você deveria dar uma olhada.

— Eu fiz.
Ally ergueu as sobrancelhas. — Sim?

— O médico disse que estava bem, iria desaparecer em alguns dias.

— Bom. Está começando a parecer cada vez mais que você foi
estrangulado.

Ele bufou e pegou um garfo cheio de batata verde. — Estrangulado,


não, provavelmente envenenado.

Ally piscou. — Provavelmente não com isso.


Capítulo Onze

Mesmo com o ar-condicionado funcionando com força total, a sala de


incidentes sufocou como um deserto. Eles tiraram suas jaquetas como o
show de strip-tease mais miserável do mundo.

Chad olhou pela janela, observando todos ao redor da estação com


foco inabalável. Romeo tinha ficado fora do hospital quando estava doente,
havia uma chance de que ele fizesse o mesmo novamente.

— O que há aí? — Josh perguntou.

Chad não se voltou para ele. — Nada além da bola de fogo no céu.

— Eles acham que a onda de calor vai quebrar em breve.

— Espero que sim.

Chad desviou o olhar da janela para as quatro novas fotos na tela.

Pessoas desaparecidas com uma ligação comum.

Ellen Blakely.

Gary Vulux, Sophia Price, Toni Clay e a última descoberta de Josh,


Jools Hooper.

Eles eram todos jovens, mas onde Gary colocou isso em seu perfil,
Jools tinha ficado quase invisível, um fantasma escondido atrás de uma
foto de perfil de rosa e um nome falso. Chad duvidava que seus pais
soubessem sobre a conta e, se soubessem, não teriam suspeitas sobre Ellen.
Afinal, Ellen era a doce influenciadora.

Quando ela não estava desprezando a vida e os bens dela e de


Kerion, ela postou memes sobre amar a si mesmo e ser gentil com os
outros. Ela até colocou links para instituições de caridade para as quais
supostamente havia doado dinheiro.

Ela não havia dado nada de sua fortuna, o DI havia verificado.

Ellen Blakey era uma mentira.

Uma mentira escondida por um rosto bonito e cílios esvoaçantes.

Uma mentira que fez beicinho, implorou e orou por Marcy e foi
punida por isso.

Ela foi presenteada com uma bela máscara, como Romeo tinha sido, e
a usou em seu proveito, mas onde a necessidade dele era biológica, a dela
parecia ser financeira.

— Ei — Ally disse, batendo no lado de Chad. — Você se recuperou


da torta inglesa?

— Passei a noite toda acordado com suores quentes, olhando para o


banheiro.

Era verdade, mas não foi a comida de Ally, foram mais memórias de
Marc. Os números queimando em seu peito que o acordaram, não
esfriaram. Eles formigavam - o calor e a umidade do ar não ajudavam.

Romeo era tudo que poderia salvá-lo e acabar com a dor.

— Pare com isso — ela balançou a cabeça. — Eu estou bem.


— A maçã não é venenosa para a serpente.

Ally riu, cutucando-o.

Josh engasgou alto o suficiente para eles ouvirem. — Não fale sobre
cobras.

— Fui pelo menos uma distração?

Chad acenou com a cabeça, dando um sorriso rápido.

No segundo que ela partiu, o vazio quase o esmagou. Ele verificou


cada cômodo, caminhou por todos os corredores da cabana, parando para
ouvir. Se seus olhos o estivessem enganando, seus outros sentidos talvez
não. Ele ouviu o barulho de um carro, o barulho de parafusos, a confusão
de instruções sendo parafusadas em uma bola apertada, mas não havia
nada.

— Uau. — Josh disse, parando na frente dele e de Ally.

— O que?

— O pescoço.

Ele estudou a púrpura manchada em sua garganta naquela manhã,


quando ele olhou com atenção o suficiente, ele podia ver o gancho do
polegar de Romeo e o longo alcance de seus dedos.

— Reação alérgica. — Chad disse.

— Ele não deveria comer camarão, mas o idiota sim. — Ally disse.

Faye ergueu os olhos da mesa. — Eles não exibiam camarões na


embalagem...
— Eles di...

— Se não, deveriam. Isso poderia ter matado você. Existe uma linha
de ajuda na embalagem? Vou ligar para eles agora. É completamente
inaceitável.

— Relaxe. — Chad disse. — Eu não olhei. Foi minha culpa.

— Eu realmente não me importo de ligar.

— Obrigado por sua preocupação, mas estou bem. Ele vai sair em
alguns dias.

Ally falou perto de seu ouvido. — Você ativou o modo mãe de Faye.
Ela é toda doce e tímida, mas se alguém ameaçar alguém de sua ninhada, a
leoa sai.

— Eu não sou da ninhada dela.

— Com certeza você é. — Ally disse, beliscando a bochecha de Chad.

— Oi, pombinhos. — Josh bufou. — Vamos trabalhar ou o quê?

— Acho que não podemos ter uma conversa de coração para coração
quando Kerion está sentindo falta do dele.

O DI se levantou dentro do escritório e eles correram para suas


respectivas mesas. Ele abriu a porta, lançando um olhar demorado para as
telas na frente da sala de incidentes.

Uma com Kerion e Ellen, e a outra com pessoas desaparecidas.


— Ally, Chad. Eu quero que vocês se concentrem em encontrar o
assassino ou assassinos de Kerion e Ellen. Faye, Josh, descubram mais
sobre essas pessoas desaparecidas.

— Talvez no final deste caso, eu terei um coração. — Ally sussurrou.

Chad olhou para ela. — Isso é duvidoso.

— Vamos. Kyle disse em seu depoimento que uma van branca


passou por ele quando ele dirigiu para a floresta de Ashgrove. — Ally
disse. — Ele deve ser nosso assassino, certo?

— Ele pegou Kerion depois que falou conosco na estação, o matou e


o jogou na floresta dois dias depois.

— Estamos verificando o CCTV e combinando as placas dos


números. É como um jogo de quebra-cabeça, você gosta deles.

— Gosto deles quando jogo contra a pessoa certa.

— Bem, vá se ferrar, você me pegou em vez disso.

****

Um número de placa saltou sobre eles. A van estava perto da área


quando Kerion desapareceu, e a placa foi vista novamente a cinco milhas
da floresta de Ashgrove na manhã em que Kerion foi descoberto.

— Tem que ser essa, certo? — Chad disse.

— Vamos ver a quem pertence a van...


— No alvo. — Josh gritou. Ele se levantou e acenou com a mão para
o DI o ver em seu escritório.

— O que é isso? — Ally perguntou, ficando de pé.

Chad a seguiu e eles se reuniram em torno da mesa de Josh. O DI


veio e eles se separaram para deixá-lo passar.

— Eu estou com ela.

Josh clicou e a foto de uma jovem encheu a tela. Ela sorriu de orelha a
orelha, seu longo cabelo castanho cobrindo o logotipo em sua camisa, mas
Chad reconheceu as cores do time de futebol de Scottsdale. Seu chapéu de
lã cobria suas sobrancelhas e um lenço combinando enrolado em seu
pescoço.

— Quem é ela? — O DI perguntou.

— Eu não tenho uma identificação dela ainda, mas ela seguiu Ellen
com o nome de usuário Dales4ever5. Esta é a fotografia mais recente de sua
página, e é de três anos atrás.

O telefone do escritório ganhou vida.

O DI olhou para ele, mas não se moveu.

— Você quer que eu pegue isso? — Faye perguntou.

— Isso vai ser ótimo. — Ele voltou sua atenção para Josh. — Quais
são as outras fotos dela?

— Jogadores de Scottsdale, fotos de gatos, este é a única dela.

— Há algum comentário?
— Os comentários estão desativados.

— O que diz a biografia dela?

Josh cantarolou, fechando a fotografia. — Aqui estamos. Scottdale


para sempre. Amante de gatos, e há um emoji Lionshare.

— Eu preciso que você descubra quem ela é.

— Estou cuidando disso, chefe.

Faye saiu do escritório e caminhou até ele com o rosto no chão.

— O que é isso? — O DI perguntou.

Seus olhos estavam arregalados e ela agarrou o pescoço enquanto


falava. — Um pacote foi enviado para St Johns.

— Um pacote? — O DI perguntou.

— Contendo um coração.

Chad podia sentir o olhar de Ally pressionando-o. Ele olhou para ela
e fora da visão do DI fez um sinal de coração com os dedos.

— Ally, Chad...

— Estamos indo. — Ally disse, marchando até sua mesa e pegando


sua jaqueta. Felizmente, a sua roxa, não aquela com a lápide rachada e o
cadáver escapando.

Chad agarrou o paletó da cadeira e pendurou-o no braço. Ele não


tinha vontade de colocá-lo. Assim que eles deixaram a sala de incidentes, a
primeira onda de calor o atingiu. Os números cobrindo seu corpo
queimaram, acendendo com o calor do ar.
****

Um médico os conduziu ao consultório e fugiu imediatamente


quando Ally perguntou o sabor do sorvete na mesa.

— Nenhum senso de humor. — Ela suspirou, colocando as luvas.

Chad se aproximou mais quando ela abriu a tampa. Ele torceu o nariz
com o cheiro, olhando para o coração. Todas as imagens doentias que ele
tinha visto, e era seu primeiro coração, do mesmo tamanho de um punho
fechado, vermelho escuro, com tecido adiposo branco cortando-o.

— Acho que já examinamos isso por tempo suficiente. — Chad disse.

— Desculpe, me empolguei.

— Empolgou?

— Sim, fez com que o meu pareça engraçado, e você?

— Nenhuma coisa.

— E você diz que eu sou sem coração.

— Eu nunca disse isso. Eu só acho isso.

Ally riu, pressionando a tampa de volta para baixo. O cheiro persistia


na pequena sala. — Você sabe o que isso me lembra?

— O que?

— Um bife barato que foi deixado ao sol.


Algo bateu no chão atrás deles. Eles se viraram para ver uma mulher
em uniforme verde lutando para pegar os papéis que ela deixou cair.

— Onde estão suas maneiras, Chad? — Ally disse.

Ele correu até a mulher e a ajudou a juntar suas coisas. Ele fez uma
pausa, franzindo a testa para ela antes de entregar seus papéis.

— Val, certo?

Ela acenou com a cabeça, sua atenção fixada em Ally, que estava
estudando a caixa de sorvete.

— Detetive Fuller, DS Coulson. — Ele lembrou.

— Eu não sei quem faria uma coisa dessas — ela sussurrou.

Ally olhou para ela. — O que? Cortar um órgão? Tenho certeza de


que isso acontece aqui o tempo todo.

— Não assim. Isso é... selvagem.

Ally se virou, embalando a caixa de sorvete. — Quem a trouxe?

— Uma das nossas estagiárias de enfermagem foi entregue por um


homem a caminho do trabalho.

— Ela deu uma boa olhada nele?

Val acenou com a cabeça. — Eu penso que sim. Ela disse que ele
estava em uma van e entregou-o pela janela. Um presente para a UTI.

— No alvo, como Josh diria.


— Ela ainda não tem ideia do que está na caixa, pensou que fossem
biscoitos caseiros ou algo assim.

— Onde está essa estagiária? Precisamos falar com ela.

— Ela está ajudando o Dr. Carter na sala de cirurgia.

— Fiquei bastante desapontada quando não fui recebida com seu


rosto bonito.

Ally sorriu, antes de piscar na direção de Chad.

— Ele era necessário com urgência, caso de emergência.

O sorriso sedutor de Ally sumiu. — Marcy.

— Não Marcy. Não sabemos quem é o paciente, não tinha carteira de


identidade.

— O que aconteceu com ele?

— Ele foi encontrado na linha de East Forks, perto do desvio. Lesões


significativas na cabeça e no peito.

— Rota do trem. — Ally disse quando Chad olhou para ela. — Há


um túnel perto do desvio, popular entre os sem-teto.

A sala se inclinou. Chad agarrou a mesa para se manter em pé.

— O sem-teto?

— É uma curta distância da cidade, os protege das intempéries, além


de um trem em alta velocidade, é claro.

Val estremeceu, pressionando a porta em suas costas.


— Como ele é? — Chad perguntou.

A sala se deformou em torno dele. Ele se concentrou em Val, mas ela


também se dobrou, se esticou e se dobrou fora de forma. A doença o
envenenou, espalhando-se por seu corpo e o deixando fraco.

— O rosto dele estava muito inchado. Cabelo castanho, alto e forte.

O medo sangrou dos poros de Chad, juntando-se ao brilho de suor


em sua pele.

As pernas da mesa chacoalharam, não estavam niveladas com o chão,


um acabamento de baixa qualidade que Romeo odiaria.

Ele teria pegado um martelo nela, batido até que se espatifasse. Chad
olhou para suas mãos trêmulas. Ele segurou a mesa com força, fazendo-a
tremer contra o chão.

Seu braço tremia, todo o seu corpo tremia, todos os números em seu
peito queimaram e o número invisível em seu coração se transformou em
gelo.

Frio e delicado sob suas costelas.

— Chad?

Chad lutou para pegar seu colarinho, puxando e puxando para


afrouxar a gravata, para abrir os botões. Ally percebeu que ele estava
lutando e tentou ajudar, mas ele se afastou dela, batendo na estante de
trás.

Ele não conseguia respirar.


Mesmo depois de tirar a gravata e desabotoar a camisa, ele não
conseguia respirar. Sua garganta não tinha culpa, um cinto em brasa havia
enrolado no peito, e cada vez que ele respirava, ele apertava um entalhe.

— Respirações profundas e lentas. — Val disse, segurando sua mão.

Cada aperto doloroso em seu peito puxava a faixa para mais perto de
seu frágil coração. O gelo rachou, apunhalando-o.

— Estou morrendo.

— Você não está morrendo. — Val disse.

Sua voz calma o fez querer gritar. Chad olhou para os dedos dela
enrolados nos dele, mas não conseguia senti-los. Ela se abaixou até o chão e
ele se viu seguindo, confiando em seu julgamento, embora sua mente lhe
dissesse para não fazê-lo.

Ele não podia confiar em ninguém.

Chad caiu no chão e por algum motivo respirar ficou mais fácil. Ele
não precisava mais se concentrar em tentar ficar de pé. O ar estava mais
fresco, menos envenenado pelo cheiro de coração apodrecido. O seu
próprio estava ferido no peito, sangrando de medo frio.

Ally se agachou ao lado dele, esfregando seus ombros.

— Reação alérgica? — Val disse.

As palavras não eram para ele, ela estava olhando para Ally.

— Ele disse que tem alergia a frutos do mar.


Val pressionou os hematomas em seu pescoço e ele estremeceu, não
de dor, mas com o desconforto de alguém o tocando. Ele se afastou e
agarrou a nuca, com a mão encharcada de suor.

— Vá com calma. — Ally disse. — Me deu um susto certo.

— Eu... eu preciso vê-lo.

— Quem?

— O homem que o Dr. Carter está tratando, aquele para o qual você
não tem identidade.

— Ele está na sala de cirurgia, uma fratura no crânio, sangrando no


cérebro. Ele não estava bem quando entrou.

— Eu preciso vê-lo agora.

Chad lutou para ficar de pé, apesar de Ally e Val empurrarem seus
ombros para mantê-lo deitado. Ele cambaleou, agarrando-se à estante de
livros. Ele bateu alguns no chão com seus movimentos descoordenados,
mas então conseguiu um bom controle, o suficiente para se manter firme.

— Você precisa se sentar. — Ally disse.

— Não.

— Sente.

— Você não é minha mãe. — Chad bufou.

— Não, mas eu sou sua superiora, e se você quiser continuar neste


caso, você vai me ouvir e sentar-se.
— Foda-se o caso. — Ele retrucou, apontando para a caixa de
sorvete.

Ele estava mais preocupado com a morte de seu próprio coração do


que com a morte de Kerion na mesa.

— Foda-se Kerion, foda-se Ellen e foda-se você.

A boca de Ally ficou aberta. Ela o soltou, e ele lutou para se afastar,
cambaleando com o que acabara de dizer, mas a porta acenou para ele, e
ele tinha que saber. Ele deslizou o ombro ao longo da parede enquanto
cambaleava até a porta, derrubando a programação e uma vez lá, ele teve
problemas para segurar a maçaneta.

Suas mãos estavam infectadas com alfinetes e agulhas.

— O que deu em você? — Ally perguntou.

Ele não respondeu e ela bufou.

— Eu realmente acho que você deveria se sentar, Detetive Fuller.

Foda-se o detetive também.

Chad apertou os dedos ao redor da alça, lutando contra a sensação de


efervescência em suas juntas. Ele abriu a porta, saindo para o corredor.

Val e Ally estavam em seus calcanhares, mas ele não diminuiu a


velocidade. Ele saiu correndo, seguindo as placas para a sala de cirurgia.
Carter estava lavando as mãos embaixo de um dos dispensadores de sabão
e Chad começou a correr.
Carter olhou para o som dos pés batendo de Chad, fora do tempo
com seu coração acelerado. Todo o afeto fez a doença piorar, seus pulmões
lutaram, cada inspiração e expiração escaldando suas entranhas.

Carter recuou, olhando por cima do ombro de Chad para Val e Ally
gritando palavras que Chad não reconhecia mais. As únicas palavras que
ele queria ouvir iriam sair dos lábios trêmulos de Carter.

Ele agarrou o uniforme de Carter. Carter encontrou seus pulsos e


tentou afastar Chad, mas ele não desistiu. Ele tentou encontrar palavras,
mas elas demoraram a chegar e, em vez disso, ele apenas sacudiu Carter.

O azul dos olhos de Carter era tão intenso, suas pupilas se


dissolvendo neles até que não eram nada além de alfinetadas no azul.

— Como ele está? — Chad conseguiu.

— Quem?

— O homem que você estava operando.

Carter olhou para trás, para o que Chad presumiu ser o corredor que
levava a sala de cirurgia. — Ele não sobreviveu.

— Eu tenho que vê-lo.

— Isso não é apropriado neste momento.

Chad o empurrou, indo na direção da sala de cirurgia. Uma mão


agarrou seu ombro, puxando-o de volta.

— O que está errado?

— Nada.
— Deixe-me dar uma olhada em você.

— Sai fora.

Chad rosnou, tirando a mão de Carter de seu ombro.

— Não me faça prendê-lo. — Ally disse, se aproximando dele.

— Eu não me importo se você fizer, mas depois.

Ela agarrou sua mão, mas ele a afastou, mandando-a contra a parede.
A expressão de Ally se tornou um grunhido e ela cravou as unhas no braço
de Chad.

Ele lutou para se libertar de suas garras e irrompeu na sala de


cirurgia. Duas pessoas usando máscaras e uniformes olharam. Elas
recuaram rápido e Carter se moveu para ficar na frente delas. Ele as
conduziu para fora, assegurando-lhes que estava tudo bem, era um caso de
polícia.

Não era, era uma questão de Chad e Romeo, uma questão de vida ou
morte.

Chad olhou para o corpo, sua carne ainda estava no processo de ser
costurada novamente. Seu rosto estava indistinguível com o inchaço,
inchado e roxo, mas Chad se concentrou no piercing na sobrancelha do
homem, liberando uma onda de puro alívio antes de se agachar no chão.

— Você terminou? — Carter disse.


Seus olhos brilharam de raiva, e ao lado dele estava Ally, os braços
cruzados e uma carranca feroz no rosto. Ela era menor do que Carter, mas
ele preferia enfrentá-lo do que ela. Ela vibrou de raiva.

Ally apontou o dedo para ele como se fosse uma faca. — Levante.

Ele não teve escolha, ele se levantou, agarrando-se à mesa de


operação para se apoiar.

— Ally.

— Não faça isso. — Ela retrucou.

— Ele teve uma reação alérgica. — Val disse.

Chad olhou para ela, a única que não parecia furiosa. Sua
sobrancelha se franziu com simpatia, mas ela não se moveu em direção a
ele.

— Ele desmaiou no escritório.

— Reação alérgica a que? — Carter perguntou.

— Frutos do mar — Ally disse. — É por isso que seus pescoços estão
roxos e inchados.

Carter inclinou a cabeça. — É realmente…

Chad não respondeu, um milhão de desculpas estavam tentando


surgir de uma vez, todas ficando alojadas em sua caixa de voz, sufocando-
o. Um ruído estrangulado saiu dele e a raiva sumiu do rosto de Carter.
Ele se aproximou e acenou para Chad em sua direção, mas ele fez o
oposto e recuou, caindo na bandeja de ferramentas. Ele olhou para os
bisturis, brilhando para ele.

— Eu sinto muito.

Ele finalmente disse isso, mas não foi o suficiente. Ele estava se
desculpando com eles, com o homem falecido sobre a mesa, com Romeo,
onde quer que ele estivesse.

— Eu sinto muito.

— Deixe-me dar uma olhada em você.

Chad evitou a mão de Carter pela segunda vez. Ele não queria seu
toque, a única pessoa que poderia fazê-lo se sentir melhor não estava lá.

Chad não sabia onde ele estava, ou se ele mesmo voltaria.

— Vá para casa, Chad. — Ally disse, afastando-se dele.

— O que?

— Você me ouviu, saia daqui.

Ambos Carter e Val tinham uma expressão de pena, mas seus olhos
encontraram a porta, levando Chad para a saída.

Ally não se virou para ele, ela olhou para a parede com as mãos nos
quadris enquanto ele se afastava, seu suave pedido de desculpas apenas
recebendo um aceno de cabeça.
Capítulo Doze

Chad entrou na casa, colocou seu telefone na mesa lateral e tropeçou


de volta para a porta da frente. Mesmo quando Chad escorregou para o
chão, ele continuou caindo. Não importava que ele parou fisicamente, sua
mente estava presa em uma queda sem fim.

Uma queda livre.

Todas as suas bordas desgastadas se desfizeram completamente,


deixando uma bagunça quebrada, uma desculpa lamentável de um
homem. Ele puxou os joelhos até o peito e bateu com a testa contra eles.

— Chad?

Ele congelou ao ouvir a voz e seu coração disparou de esperança, mas


ele o fechou, separando os joelhos para fitar a ilusão de Romeo.

Ele não estava lá, Chad teria ouvido sua abordagem, ele teria visto
seu carro, nada além de sua mente brincando com ele, jogando a imagem
de Romeo na porta da cozinha.

— Você não está aqui.

Sua voz falhou, e ele se afastou da ilusão que o estudava. Sua mente
preguiçosa nem mesmo colocara Romeo na camiseta certa. Ele estava
usando uma branca que ele deixou, era macia contra a bochecha de Chad
quando ele a abraçou, caído sobre seu quebra-cabeça na cabana.
Parecia um mundo distante.

— Onde estou então?

Chad balançou a cabeça. Ele não sabia. Ele não sabia para onde
Romeo tinha ido, se ele estava matando ou morto em uma vala.

Um som cru escapou dele e ele fechou os olhos.

— Eu continuava vendo você quando estava com Marc também.

— Você nunca me disse isso.

— Eu imaginei você na porta quando ele pairou sobre mim. Quando


ele fazia o que queria, me machucava e eu não tinha opção a não ser
aceitar. Implorei a você que me ajudasse. Você era o único que podia.

— E eu fiz. Não tão rápido quanto eu gostaria, mas eu fiz.

— Você fez. Você tirou a dor. Você o impediu de me machucar


novamente.

Chad abriu os olhos e o calor derramou deles, descendo por sua


bochecha. A ilusão de Romeo inclinou a cabeça e franziu as sobrancelhas,
como se a angústia de Chad tivesse se transmitida a ele.

— Eu gostaria que você pudesse ter levado as memórias também.

— Todas elas?

— Não, apenas as dolorosas.

Chad estava familiarizado com os olhares intrigados, Romeo sempre


o estudou, desfrutou de sua mente desvairada quando eles estavam na casa
da fazenda, mas ele nunca pareceu triste naquela época.
Todas as revelações de Chad, e Romeo só parecia interessado,
satisfeito, como se estivesse aprendendo o quebra-cabeça que era Chad. Ele
estava se divertindo, passando o tempo antes que pudesse matar
novamente, reivindicar seu número um.

O peito de Chad se apertou.

A empatia de Romeo tinha sido um novo desenvolvimento desde


Marc. Romeo tentou bloquear a dor de Chad, abafá-la, distraí-la.

Pareceu incomodá-lo.

Romeo avançou e se ajoelhou na frente de Chad. Seu olhar encontrou


a garganta de Chad, e ele enrijeceu, travando na pele, sua marca clara para
ver.

A marca do monstro.

Chad o encarou, tentando entender a reação de Romeo.

Seus olhos escureceram e seu pulso se projetou em seu pescoço.


Horrorizado ou satisfeito, Chad não sabia. O medo e a excitação
frequentemente tinham as mesmas reações físicas. A mesma onda de
adrenalina, respiração rápida e coração batendo forte.

— Você vai me perdoar? — Romeo sussurrou.

Chad franziu a testa enquanto a pergunta balançava em sua cabeça.


Ele não culpou Romeo pelo que aconteceu na cabana. Se alguém era o
culpado por sua explosão, era Chad.
Chad o havia trancado, não lhe dando nenhuma saída para alimentar
seu vício. Ele colocou o monstro de volta na gaiola e usou a si mesmo como
alavanca para fazê-lo se comportar.

— Não há nada a perdoar.

Romeo suspirou, balançando-se para frente sobre os joelhos, sua mão


estendeu-se para segurar a de Chad e ele esperou que a alucinação
desaparecesse, mas os dedos de Romeo eram sólidos e firmes ao redor dos
seus. Ele ergueu a mão de Chad ao rosto e pressionou-a contra sua
bochecha espinhosa.

— O que perturbou minha pega inteligente?

Os lábios de Romeo encontraram o pulso de Chad, o ponto de


pulsação que ganhou velocidade quando a névoa de desespero se dissipou.
Romeo sorriu contra seu pulso. Chad suspeitava que podia sentir o ritmo
de seu coração, voltando à vida ao toque de Romeo.

Chad avançou e passou os braços em torno de Romeo, colocando o


nariz na lateral de sua garganta para que pudesse respirar fundo. A
pulsação de Romeo latejava contra ele, rápida e forte, horrorizado ou
satisfeito, Chad não se importava. Ele estava lá, e ele estava vivo, e isso era
tudo que importava.

— Você é real.

— Tão real quanto você.

— Você não pode fazer isso. — Chad murmurou. — Nunca mais faça
isso.
O pescoço de Romeo estava molhado. Chad percebeu que eram suas
próprias lágrimas que ele pressionou em sua pele. O calor de Romeo o
alimentou, correndo por suas veias e de volta ao coração congelado.

Os braços de Romeo se apertaram ao redor das costas de Chad,


puxando-o incrivelmente para perto. — Sinto muito, perdi o controle...

— Eu não quis dizer isso. Eu me inscrevi para isso. Nunca me deixe,


Romeo. Você não pode simplesmente decolar. Eu não posso fazer isso sem
você.

— Achei que você se sentiria mais seguro sem mim aqui.

— O oposto.

— O que aconteceu?

— Eu estraguei tudo, claro que estraguei. Eu fui estúpido em pensar


que isso poderia funcionar.

Ele balançou a cabeça, não querendo se lembrar do que aconteceu no


hospital, o pavor frio de acreditar por um minuto que Romeo estava morto.
Não havia nada pior. E se ele tivesse entrado com Romeo frio na mesa de
operação, Chad teria girado nos calcanhares, marchado para o telhado do
hospital e pulado.

— Onde você foi? — Ele perguntou.

Romeo engoliu em seco. — Fui visitar minha mãe.

— Sua mãe?
— Seu túmulo. Ela morreu antes que o monstro saísse para brincar,
ela e meu pai foram as razões pelas quais ele ficou trancado por tanto
tempo. Eu não queria complicar suas vidas com meus demônios, e quando
ela morreu, o alívio superou qualquer tristeza.

Chad pensou em sua própria mãe. — Eu conheço o sentimento.

— Ela se preocupava que eu nunca encontrasse alguém para amar,


me fez jurar que se eu o fizesse, nunca iria deixá-lo ir, eu o abraçaria,
seguraria com as duas mãos. Eu não acho que ela pensou que eu iria
envolvê-las na garganta de alguém e quase matá-lo.

— Mas você não fez isso, você parou.

— Por muito pouco. Eu disse a ela sobre você. Como finalmente sei
como é cuidar de alguém. Para amar. Eu disse a ela o que fiz, soltando a
corrente por apenas um minuto e como isso quase me custou o mundo. —
Ele bufou, roçando seu rosto contra o de Chad. Seu queixo acabou no topo
da cabeça de Chad, e Chad pressionou contra ele, sentindo e ouvindo suas
palavras roucas. — Se ela pudesse me ver agora, me ouvir, aposto que ela
gostaria de ter pressionado um travesseiro sobre meu rosto quando eu
nasci.

— Não diga isso. Onde eu estaria sem você?

— Não aqui, soluçando no chão. Você estaria de volta a Dunston


com amigos, o respeito da comunidade, um noivo que compraria presentes
caros e levaria você a lugares exóticos. Você estaria vivendo esta vida
normal que você tanto deseja.
— Mas eu não sou normal, sou?

— Não... eu não acho que você é, mas você anseia por normalidade,
do mesmo jeito que eu fazia até matar aquela pega. Só depois disso aceitei
meu destino como o monstro. Foi quase um alívio ceder em vez de lutar
contra isso, não mais desejar ser normal.

— Mas você não é um monstro o tempo todo. Você nem sempre é


cruel e anseia pela morte em suas mãos.

— Não, mas murmura sob a superfície, como eu imagino que o


detetive faça em você.

— Eu queria voltar a ser como era antes de te conhecer. De volta a


ser um detetive, vivendo puramente para pegar um assassino, e a agitação
que isso me deu. Eu não tive uma vida fora do trabalho, não realmente. Era
uma mentira, a mentira que eu pensei que tinha que viver.

— Eu mudei você, e você me mudou. Não podemos voltar.

Chad se livrou do peito de Romeo. — O que fazemos agora?

Romeo se levantou, pegou as duas mãos de Chad e puxou-o para


ficar de pé.

— Quando foi a última vez que você comeu?

— O que?

— Você me ouviu. Comida.

Chad continuou carrancudo. — Eu tenho beliscado pedaços.


— Isso não vai dar certo. — Romeo disse, levando Chad para a
cozinha. Ele o puxou para a mesa e depois o sentou em uma cadeira. Chad
contraiu os dedos quando Romeo se afastou, mas conseguiu ficar parado,
nunca afastando o olhar de Romeo para o caso de ele desaparecer em um
fiapo.

Romeo abriu a porta da geladeira.

Ele fez uma pausa antes de colocar uma mão hesitante dentro. — O
que diabos é isso?

Sem ver por si mesmo, Chad adivinhou o que Romeo estava olhando.

— Ally apareceu com um pouco de torta inglesa.

— É verde. Ela estava tentando envenenar você?

— Pode ser.

Chad pensou que o rosto de Romeo iria estourar em um sorriso, mas


ele fez uma careta, removendo a bandeja da geladeira. Ele percebeu que
gostava que sua presença o ofendesse e caminhou até a lixeira.

— Ally quer a bandeja...

Romeo a jogou na lixeira e fechou a tampa. Ele lançou um olhar para


Chad que dizia não proteste, e Chad não o fez, ele sentou-se ereto enquanto
assistia Romeo ferver. Suas narinas dilataram e seu lábio superior se
curvou, como se a ideia de que Ally o tivesse fornecido com comida o
irritasse.
— Certo — disse ele. E com essa única palavra, sua raiva o deixou. —
Vou começar.

As compras foram entregues em casa no sábado, mas Chad não


queria remexer em nenhum dos itens. Ele enfiou todos os sacos na
geladeira e comeu as sobras ao redor deles.

— O sabão em pó não vai para a geladeira... nem detergente para a


louça ou shampoo. O que diabos você fez antes de mim?

Chad não fez comentários, ele afundou na cadeira, ficando cada vez
mais cansado.

Ele costumava assistir Romeo cozinhar na casa da fazenda, a


princípio algemado ao velho radiador enferrujado antes que Romeo
parasse de prendê-lo fisicamente, ele não precisava contê-lo, não quando
Chad queria se sentar, não quando Chad estava emocionalmente ligado a
ele.

Romeo ligou o rádio, os dedos pairando sobre o botão de reajustar.


Ele lançou a Chad um pequeno sorriso quando percebeu que sua estação
favorita não tinha sido adulterada. A música lenta fluiu para a cozinha e,
como uma suave canção de ninar, Chad se viu caindo, com a cabeça
pendurada na direção da mesa.

— Você pode subir para dormir...

— Não! — Chad jogou a cabeça para trás, piscando para afastar o


cansaço.

Romeo o estudou intrigado. — Eu não vou sair.


— Eu estou bem aqui.

— É engraçado como a palavra bem significa o oposto.

— Eu quero ficar aqui.

— OK. — Romeo disse, virando as costas para Chad. Ele


desempacotou as sacolas de compras e colocou os ingredientes de que
precisava.

— Ore por Marcy.

Chad ouviu o boletim de notícias.

A comunidade estava planejando lançar balões naquela sexta-feira


com mensagens de esperança. Balões roxos, a cor favorita de Marcy. Ally
comentou em todos os noticiários sobre Marcy 'pobre garota' ou 'que
lutadora', mas Romeo não disse nada.

Todos deveriam ter chances iguais de vida e chances iguais de morte.


Essa era sua filosofia, seu raciocínio por trás de escolher suas vítimas ao
acaso. Chad não concordou com ele. Algumas pessoas mereciam mais a
vida do que outras, e algumas mais mereciam a morte.

Chad apoiou os antebraços na mesa e sua cabeça foi atraída para eles.
Não era a almofada mais confortável, mas o puxão do sono era demais.

— Durma, Chad. — Romeo resmungou.

Chad olhou para ele e cedeu, mergulhando na escuridão, sabendo


que Romeo estava cuidando dele e não do monstro.
****

Ele acordou com um aperto nos ombros e olhou para Romeo. As


narinas de Chad pulsaram com o cheiro de tomate, ervas e alho. Seu
estômago deu uma cambalhota e a saliva afogou sua língua.

— O jantar está pronto. — Romeo disse, deslizando um prato na


frente de Chad. Ele poderia ter chorado apenas com a visão e o cheiro, mas
o gosto acendeu suas papilas gustativas. Além da refeição de Ally, Chad
estava vivendo de cereais, bolinhos, biscoitos, todos sem gosto em
comparação com a comida de Romeo.

Romeo sentou-se do lado oposto a Chad, comendo sua própria tigela


de macarrão. Chad olhou para ele, esperando o momento em que a
escuridão desceria sobre as feições de Romeo e ele se afastaria, retirando-se
para a cabana, mas não o fez. Ele ficou e eles comeram juntos em um
silêncio confortável, mesmo quando Romeo terminou, ele não mandou
Chad embora ou desapareceu. Ele alcançou a mão de Chad sobre a mesa, e
ele ansiosamente a deu a ele.

Ele olhou para as mãos unidas e observou Romeo esfregar círculos


nas costas da mão com o polegar. Eles não se sentavam assim pelo que
parecia uma eternidade. Chad se beliscou embaixo da mesa para ter certeza
de que não estava sonhando.

— O que mudou? — Ele sussurrou.

— Senti a sua falta. Senti falta de cuidar de você.

Chad estreitou os olhos. Não era isso, algo estava diferente.


Romeo bufou, apertando sua mão. — Sempre tão desconfiado.

— Quando eu acho que há razão para ser.

Romeo mordeu o lábio e então acenou com a cabeça. — Achei difícil


quando você voltou a trabalhar.

— Porque eu não estava aqui para distraí-lo?

— Não apenas isso. — Romeo suspirou. — O ressentimento começou


a crescer. Você pode acalmar essa necessidade em sua cabeça - você pode ir
lá, satisfazê-la - mas eu não posso. Isso me corrói, só fica mais áspero, mais
alto, mais forte. É difícil de ignorar, difícil de distrair, e você quase pagou o
preço.

— Você me incentivou a voltar ao trabalho.

— Eu sei. Mas só porque você pensou que isso o deixaria mais feliz,
faria você se sentir normal, expiar por virar as costas para sua bússola
moral comigo. Você precisava voltar a trabalhar, seguir em frente, mas
talvez não na direção que você imaginou.

— Não entendo.

Romeo passou o polegar pelos nós dos dedos de Chad. — Todos


aqueles anos atrás, eu matei aquela pega por acidente quando ela não saiu
do meu lado, quando ela se recusou a voltar a viver nas árvores, caçando
vermes, prosperando com sua própria espécie. Mas e se ela tivesse voltado,
tentado viver uma vida normal, talvez até mesmo tivesse sido aceita por
sua própria espécie? Teria pensado em mim? Ela teria voltado se tivesse a
chance? Preferido minha companhia e a nova vida alienígena que mostrei.
Chad puxou sua mão do aperto de Romeo. — Você me encorajou a
voltar ao trabalho na esperança de que fracassasse? Foi mais um jogo.

— Você não é o jogo, a vida é o jogo...

— Mas você ainda está jogando contra mim?

— Eu estava preocupado que você voltasse a trabalhar, e sua moral


iria destruí-lo. Você está tão focado nessa ideia de equilíbrio. Isso está
transformando o certo em errado, e eu não entendo. Todos em sua vida o
prejudicaram, Chad. Por que você acha que deve algo a eles? Cada pessoa
que você vê como normal o julgou, o rejeitou... por que diabos você
gostaria de estar entre eles?

Chad segurou sua nuca, mas não adiantou, ele podia sentir o frio nos
olhos. Seus ouvidos zumbiam com sussurros intermináveis.

— Às vezes você é tão estranho para mim quanto eu sou para você.

Chad balançou a cabeça e Romeo ergueu a sobrancelha.

— Eu não acho que isso seja verdade. Somos mais parecidos do que
você imagina.

— Como somos parecidos?

— Nós dois queríamos ser normais quando crianças, ser como todo
mundo, encaixar neste mundo, mas não podíamos.

— Somos diferentes, não encontramos um ajuste neste mundo, mas


nos encaixamos.
— Nós dois existimos para esse zumbido, esse sentimento de euforia
que não podemos explicar, você por matar, eu por pegar assassinos, é tudo
pelo que vivemos. É a única coisa que nos faz sentir vivos.

Romeo acenou com a cabeça, pegando a mão de Chad. Ele o deixou


pegar de novo. — Talvez não seja a única coisa.

Chad lançou lhe um pequeno sorriso.

— Mas e se pudesse haver mais? — Romeo sussurrou.

— Mais?

— E se pudéssemos compartilhar esse zumbido. Parece horrível, mas


fiquei apavorado quando voltei que você teria sobrevivido sem mim. —
Romeo lançou um olhar selvagem para a lixeira. — Eu estava preocupado
que você não precisasse de mim, e você se voltaria contra mim. Me faria ser
preso, trancado e, desta vez, não visitaria.

— Nunca... estou cansado dos jogos.

— Quebra-cabeças são jogos, assim como palavras cruzadas,


investigações de assassinato. A própria vida. São todos jogos - apostas
diferentes, mas jogos.

— Estou farto de você jogar comigo, contra mim.

— Não contra você.

— Você está sempre um passo à frente, me guiando por um


caminho.
— Eu não estou na sua frente. Fiz um desvio, mas estamos na mesma
casa do tabuleiro, e nem eu sei como vai acabar. Eu sei como eu quero que
isso acabe, no entanto.

— E como é isso?

— Nós sendo felizes. Romeo e Chad. O monstro e o detetive.

— Como? — Chad murmurou através de sua garganta apertada. —


Como chegamos lá?

Romeo encolheu os ombros.

— Comunicação e compromisso. — Chad disse, respondendo a sua


própria pergunta com a sabedoria de Ally.

— Bem, estamos trabalhando no primeiro agora.

Chad suspirou. — Quando você desapareceu naquela noite, pensei


que poderia ter começado a matar.

Romeo desviou o olhar, encontrando a janela da cozinha. — Eu não


vou mentir, eu pensei sobre isso, mas você não teria me aceitado de volta se
eu tivesse. Não teria sido a mesma morte quando eu sei que vai te
machucar.

— Por que?

— Você é uma parte de mim agora, uma necessidade que rivaliza


com a de matar. Eu imagino que sou uma parte de você também, mesmo
quando você tentou mergulhar no seu trabalho.
Chad acenou com a cabeça. — Eu sei que tenho sido indiferente e
egoísta. E hoje, pensei que tinha perdido a chance de compensar você. Eu
pensei que você estava morto.

— O que?

Chad acenou com a mão, era uma longa história e ele não queria
entrar nela. — Por um minuto eu pensei que você tinha sumido, realmente
sumido, e parecia que alguém tinha me estripado. Parou meu coração em
meu peito. Eu não conseguia ver além de saber se era você ou não. Não há
nada sem você na minha vida, e quando descobri que não era você, eu
queria te dizer como eu gostaria de ter tentado mais, eu queria te dizer o
quanto eu lamento.

— Lamenta? Do que você precisa se lamentar?

— Você está preso aqui sem saída, enlouquecido por isso. Eu prendi
você, você é meu cativo, meu prisioneiro. Não admira que você quase me
matou e fugiu. E quando você estava fora, comecei a pensar... como é
injusto para mim ser eu, mas você não pode ser você, e talvez, apenas
talvez, eu pudesse encontra-lo no meio do caminho. Talvez eu pudesse me
comprometer e deixar...

Ele parou. Era um pensamento que ele não ousava expressar. Ele
desviou o olhar e tentou puxar a mão, mas Romeo o prendeu e se inclinou
para mais perto. — Deixar-me o que?

— Deixar você.
Ele não poderia dizer mais nada. Dizer as palavras reais em voz alta
parecia tão bárbaro, imoral, errado. Era suportável quando elas estavam
trancadas em sua cabeça.

Romeo expirou com pressa. — Deixar-me. — Chad tentou soltar sua


mão, mas Romeo não o deixou ir. — Deixar-me? Deixar-me matar alguém?

Chad precisava sair da sala, fugir do lugar onde essas palavras foram
ditas. A adrenalina inundou seu coração - horror ou satisfação, ele não
sabia.

Ele tinha que fugir.

Romeo não o deixou escapar, então Chad fechou os olhos com força e
apertou os dentes até doer. Foi apenas um pensamento, um pensamento
que puxou a costura de sua humanidade. Ele amava Romeo tanto que o
deixaria realizar seus desejos - não em Chad, mas em outra pessoa, alguém
inocente...

Não.

Ele engasgou, se afastando de Romeo com todas as suas forças. Sua


cadeira tombou, ele caiu no chão e lutou para se afastar nos cotovelos,
chutando as pernas contra o chão para se distanciar de Romeo, mas não se
intimidou. Ele estava em cima de Chad em um piscar de olhos, não
prendendo um dos pulsos de Chad, mas os dois acima de sua cabeça.

— Diga-me, é isso que você quis dizer?


Chad fechou os olhos com força e virou a cabeça, escondendo-se em
seu bíceps. O nariz de Romeo pressionou a têmpora de Chad, e seus lábios
descansaram no topo da bochecha de Chad.

O cheiro dele despertou borboletas, e a sensação de sua respiração


enviou arrepios na pele de Chad. Seu coração batia forte no peito, um
tamborilar que nenhum dos dois poderia ignorar.

Ele tinha certeza de que Romeo estava batendo freneticamente,


embora ele não pudesse sentir isso contra ele. Sua voz vacilou enquanto ele
implorava na pele de Chad - repetidamente, ele beijou a palavra por favor,
e o coração de Chad doeu por ele.

— Por favor, me diga, é isso que você quis dizer?

Romeo moveu os lábios pelo rosto de Chad, encontrando seu ouvido.


Ele beliscou o lóbulo antes de perguntar novamente, balançando seu corpo
contra Chad.

Ele estava duro, assim como Chad. Sua cabeça girou, e uma voz
disse-lhe para acabar com isso, acabar com as esperanças de Romeo, mas
não era a voz mais alta.

A outra voz disse que era inevitável. A única maneira de ambos


serem felizes em suas novas vidas. Romeo valia a vida de alguém, ele valia
a vida de cem pessoas, especialmente se elas mereciam a morte como
Marc.

Se eles fossem vermes.

— Às vezes você pensa em me deixar... me deixar matar?


Romeo reorganizou as mãos, usando uma para segurar os dois pulsos
de Chad em um aperto inevitável.

— Por favor, fale comigo, Chad. Eu estou te implorando.

Com a mão livre, Romeo segurou o queixo de Chad, seus dedos tão
apertados na mandíbula de Chad que jurou que estava moldando ao redor
deles.

— Você pensa em me libertar, destrancar a gaiola?

O coração de Chad não apenas doeu, mas quebrou com o desespero


na voz de Romeo. A excitação em sua respiração ofegante, os movimentos
ansiosos de seu corpo.

— Você me deixaria matar?

Romeo virou a cabeça de Chad com seu aperto de ferro, e Chad


sentiu o calor de sua boca, a admiração em seus suspiros trêmulos, e pouco
antes de seus lábios se tocarem, Chad soltou um sim.
Capítulo Treze

O gosto de Romeo encheu a boca de Chad, nada menos que


inebriante. Era uma droga feita para ele, e ele afundou indefeso sob sua
influência. Cada vez que uma hesitação ameaçava surgir, os lábios de
Romeo o afundavam mais profundamente e roubavam todo o seu ar até
que ele não se importasse mais se emergisse ou não.

Chad caiu, desossado, na cama. Romeo mexeu em seus botões antes


de ficar impaciente demais e rasgar a camisa. Chad piscou surpreso ao ver
sua camisa ser aberta com tanta violência e, como se um interruptor tivesse
sido acionado, os números em seu peito queimaram e uma enxurrada de
vergonha desceu.

Seu corpo contaminado em exibição.

Chad moveu os braços para cobri-los, mas Romeo o antecipou e


agarrou seus pulsos. Ele ofegou enquanto colocava as mãos de Chad acima
de sua cabeça, apertando-as no colchão que cheirava a eles novamente. O
olhar brilhante em seus olhos disse a Chad para não encobrir, ele queria
ver Chad por completo. Mesmo que a visão de seu corpo com cicatrizes
revirasse seu próprio estômago, ainda excitava Romeo.

— Você não precisa esconder nada de mim. Eu sou a única pessoa


neste mundo da qual você nunca precisará se esconder.
Ele disse as palavras como se fosse fácil, abrindo sua cabeça e coração
e revelando todos os seus segredos sórdidos, todas as coisas que ele tinha
vergonha de compartilhar.

— Não precisamos esconder nada um do outro.

Chad fechou os olhos assim que eles começaram a arder, mas seus
lábios tremeram, denunciando seu tormento. Romeo se inclinou sobre ele e
tomou o lábio de Chad em sua boca, sugando a carne trêmula até que o
desespero iminente recuou e a luxúria recomeçou em seu lugar.

— Tudo bem? — Romeo perguntou.

Chad acenou com a cabeça, apesar de saber que não estava. Como
tudo isso podia estar bem?

Ele olhou para o teto branco enquanto Romeo o despia em um


movimento rápido. Em algum momento seu traje de detetive ficou em
farrapos no chão, deixando-o nu, com todas as cicatrizes e imperfeições à
mostra. Sua mente era sua última proteção contra o monstro, mas Romeo a
estava destruindo com facilidade.

Deixar Romeo matar.

Foi um pensamento, nada mais, um pensamento que se escondeu nas


sombras da mente de Chad.

Romeo se despiu, subiu na cama e selou seus lábios. Ele soltou um


longo gemido e seduziu a boca de Chad com pinceladas vagarosas. Os
lençóis suados grudaram em suas costas, mas um toque da língua de
Romeo em seus lábios acendeu uma onda de calafrios.
A mente de Chad se partiu, mas os pedaços estavam todos lá. Ele
ainda sabia que o pensamento era apenas isso, um pensamento. Uma
semente que não tinha sido plantada, mas que ele tinha levado consigo, e
ele tentou voltar à superfície e dizer a Romeo como tal, mas Romeo não o
deixou. Ele beijou, agarrou e segurou Chad sob a escuridão até que ele
parou de lutar e se rendeu a ela.

Romeo se afastou e lançou lhe um sorriso admirado que destruiu


toda a sanidade. Ele arrastou sua boca pela garganta de Chad, lambendo as
respirações engatadas e as baixas vibrações que tentava conter.

Esse pensamento fez Romeo beijá-lo como se ele fosse a salvação,


como se Chad tivesse acabado de lhe oferecer o mundo, e de uma forma ele
tinha. Ele tinha dado a Romeo uma janela em sua mente, uma que ele não
tinha visto antes, e se suas respirações e gemidos servissem de referência, o
que ele viu foi uma revelação excitante.

O pensamento poderia libertá-lo.

Romeo mapeou seu peito, traçando cada número cruel. As carícias


suaves os fizeram queimar mais ferozmente, e Chad se remexeu, mas
obedientemente manteve as mãos perto da cabeça.

Romeo beijou e sugou a vida de volta para seu coração agitado,


preenchendo o número um impresso em suas entranhas. Ele quase
imaginou, as brasas brilhando intensamente contra a carne vermelha. Ele
era a última vítima de Romeo, uma que Romeo não poderia ficar sem, uma
que o assombrava.
Chad se inclinou a tempo de ver seu mamilo sugado pela boca quente
de Romeo. Ele o torturou com golpes lentos de sua língua macia enquanto
abusava do outro mamilo de Chad com seus dedos ásperos. Ele resistiu
com a sensação, mas não conseguiu levantar os quadris o suficiente para se
esfregar contra Romeo de quatro por cima dele.

Romeo parou por um segundo. A expressão em seu rosto gritava


amor, mas suas pupilas incharam de luxúria.

— Você vai me deixar.

Ele sussurrou as palavras antes de retomar seu ataque ao corpo de


Chad.

Novas partes da mente de Chad conspiraram contra ele, mudando


para o lado de Romeo. Como poderia ser um pensamento ruim se deixasse
Romeo tão feliz?

Romeo se recostou e o encarou com olhos brilhantes.

Como poderia ser um pensamento feio quando fazia Romeo parecer


tão bonito.

O pênis de Chad sacudiu com impaciência e suas bolas ficaram


tensas.

Como poderia ser ruim pensar nisso enquanto Romeo o tocava não
matou seu desejo? Isso o fez querer agarrar o rosto de Romeo e implorar
para que o levasse.

Romeo beijou mais abaixo, pressionando beijos quentes para baixo do


corpo de Chad até que ele atingiu a viscosidade do pré-sêmen, onde o
pênis de Chad bateu contra sua barriga. Romeo não perdeu tempo
lambendo-o, cantarolando como se fosse a coisa mais deliciosa que ele já
provou.

Muitas vezes Romeo disse a ele que era, mas Chad não tinha
acreditado até que gotas de fogo atingiram sua perna. A empolgação de
Romeo escapou dele e sujou a coxa de Chad. Seu gemido silencioso ficou
mais alto quando Romeo puxou o pênis de Chad como ele gostava.

A luxúria entre eles era muito poderosa para Chad lutar, apesar de
sua bússola moral girando em círculos e a vergonha o perseguindo.

Era um pensamento, apenas um pensamento, fugaz, oculto, mas a cada


toque e beijo de Romeo começava a parecer mais do que um pensamento,
talvez uma ideia, uma opção, uma solução, e a conspiração em sua cabeça
estava um completo motim.

Sim, dê a Romeo o que ele precisa e deixe-o matar.

— Goze para mim. — Romeo sussurrou.

Ele levou Chad em sua boca, chupou e trabalhou sua língua. O


coração de Chad batia forte em seus ouvidos. O quarto escureceu em torno
dele. Ele ergueu os quadris e Romeo os segurou com as mãos firmes.

— Foi só um pensamento. — Chad sussurrou, mas suas palavras não


tinham nenhuma convicção, e ele nem mesmo se puniu por isso. Foram as
últimas palavras de um desespero consciente para se apegar à moralidade,
não para cruzar uma linha.
Romeo o sugou até o fim e gemeu com o que Chad deu a ele. Alívio e
rendição se misturaram e o deixaram sem fôlego.

Romeo o soltou com um estalo pecaminoso de seus lábios e rastejou


até a cama. Ele olhou para Chad com bochechas manchadas de vermelho e
lábios inchados, e como Chad poderia não dar a ele tudo o que ele queria.

Romeo sorriu, seu sorriso confiante e bonito que se transformou em


um sorriso malicioso. A excitação cintilou em seus olhos brilhantes e
ardentes.

— Eu amo você.

As palavras mais sedutoras para deixar a boca de Romeo e Chad o


alcançou por instinto, puxando-o para outro beijo.

Romeo deu a ele, mas fugiu para a mesa de cabeceira.

Ele esguichou uma quantidade generosa de lubrificante em sua mão


antes de sufocar seu pênis. Seu pênis empurrou contra suas mãos, e ele
acariciou a si mesmo enquanto olhava para Chad na cama. Seu pênis
vermelho latejava espesso em sua mão, e Chad poderia dizer que ele estava
perto, muito perto.

Ele balançou a cabeça e Romeo parou.

— Em mim agora. — Chad resmungou.

Romeo assentiu e separou os joelhos de Chad. Seus olhos capturaram


os de Chad e não desviaram o olhar quando Romeo pressionou contra ele.
Ambos prenderam a respiração com a resistência, o corpo de Chad se
ajustou e deu as boas-vindas a Romeo.
— Não me deixe de novo. Eu não me importo com o que aconteça,
apenas nunca me deixe.

Romeo encostou sua testa suada contra a de Chad. — Eu não vou.

Ele exalou um suspiro trêmulo e começou a flexionar os quadris.


Chad passou os braços em volta do pescoço de Romeo e o abraçou. O peso
do pênis de Romeo pressionou dentro dele, e o peso de seu corpo prendeu
Chad na cama. Ele nunca se sentiu tão impotentemente perfeito.

— Eu não vou durar.

Romeo se enterrou mais fundo. Ele escondeu a cabeça no pescoço de


Chad enquanto gemia. Chad fechou os olhos e se concentrou no lugar que
Romeo o invadiu. Ele se espreguiçou enquanto a ereção de Romeo
aumentava e esperou pelo calor que ele sabia que estava chegando.

Romeo estremeceu e beijou um silencioso 'obrigado' no ombro de


Chad. Ele não tinha ideia do que Romeo estava agradecendo. O sexo ou
seu pensamento, mas Chad descobriu que não se importava com isso. Ele se
agarrou a Romeo mesmo quando ele tentou se afastar, e manteve seus
corpos suados e saciados juntos.

Seus corações entraram em sincronia com facilidade, mas eles nunca


foram o problema.

Duas mentes opostas eram.

****
Chad acordou com uma cama vazia. O cheiro de Romeo pairava no
ar e suas roupas estavam espalhadas pelo chão ao seu redor, mas não era o
suficiente. Ele tinha que ter certeza de que Romeo estava lá, que sua mente
confusa não tinha conjurado a fantasia.

Chad vestiu uma camiseta larga e calça de moletom e caminhou até a


porta. Assim que a abriu, ele recuou diante da luz. As cortinas do corredor
estavam todas fechadas para deixar entrar o brilho do sol. O sol não estava
aparecendo no horizonte, estava alto no céu, e Chad franziu a testa,
coçando a cabeça.

O café subiu as escadas e Chad seguiu o cheiro com o nariz no ar. Seu
estômago roncou, mas o mal-estar não era de fome, ele tinha que ter
certeza de que Romeo estava lá.

O alívio o atingiu primeiro, antes de uma onda de nervosismo da


noite anterior. A promessa que não tinha sido verbal, mas exibida através
de seus beijos e agarres.

Romeo estava na cozinha apenas com sua boxer. Ele tomou um gole
de café e olhou pela janela, observando os pássaros mais uma vez. Pelo
movimento de seus olhos e o barulho voraz do lado de fora, Chad
suspeitou que havia muitos deles.

— Você não tem alimentado eles? — Romeo perguntou, assustando-


o.

— Eles não precisam ser alimentados, podem encontrar os seus.


— Eles estão familiarizados com as sementes de pássaros. Um gosto
por isso.

— Bem, você está de volta agora. Você pode alimentá-los novamente.

Romeo riu suavemente. — Então eu posso... vou preparar um café


para você, sente-se.

Ele gesticulou para a mesa. A cadeira de Chad ainda estava tombada


no chão. Ele a pegou e se sentou na beirada, observando Romeo. Ele não
conseguia parar de olhar para seus braços, seus braços protuberantes e a
veia que ia do cotovelo ao bíceps. Seus braços, seu corpo, seu rosto, tudo
alimentou o fogo da excitação, mas quando Chad olhou para suas mãos,
sua luxúria parou. As mãos de prazer e cuidou dele foram as que quase o
matou, elas estavam indo para matar novamente.

— Que horas são?

— 2:00.

Chad soltou um suspiro longo e constante. — Eu estive fora disso por


doze horas?

— Você parece em paz quando dorme — ele lançou um olhar para


Chad, e ele se esquivou da atenção. — Agora parece que você está
suportando o peso do mundo.

Chad afundou em sua cadeira e quando Romeo deslizou um café


pela mesa, ele suspirou forte o suficiente para que o café ondulasse,
derramando-se pelos lados. Romeo usou a caneca da pega para ele e a
encheu com um café feito especialmente para Chad. Ele usou mel em vez
de açúcar e espalhou canela por cima.

Romeo se sentou na cadeira oposta, segurando sua caneca com as


duas mãos. Eles pareciam tão inocentes assim, seus dedos se enlaçando ao
redor da porcelana. Aquele copo frágil parecia seguro, mas se ele o
agarrasse como se tivesse a garganta de Chad, o copo teria explodido.

— Nós precisamos conversar. — Romeo disse.

— Sobre o que?

Chad sabia o que, mas tinha que pelo menos tentar quebrar a tensão.

Romeo bufou e abaixou a cabeça, tentando cair na linha dos olhos de


Chad, mas ele estava muito paralisado por seu café turvo. Ele preferia se
afogar no marrom do que ser seduzido pelos olhos verdes de Romeo.

— Evidente, cinco letras. — Romeo sussurrou.

— Óbvio. Eu sei que é... é difícil falar sobre.

— Foi difícil pensar nisso também?

Chad acenou com a cabeça.

Os pensamentos estavam lá, mas encobertos, escondidos, presos na


escuridão densa, ele tentou não ver, mas o véu havia sumido. Romeo o
havia descascado e não havia como voltar atrás.

— Deve ser um alívio finalmente se livrar desse pensamento.

— Sim e não.

— Porque não?
Ele engoliu em seco. — O que vem a seguir me assusta.

— O desconhecido é sempre assustador.

— Assassinato. — Chad balançou a cabeça. Seu estômago se contraiu


e ele empurrou o café para longe. — Estou pensando em um assassinato.

— Você será um espectador, a menos que queira se envolver.

Chad franziu o rosto com a ansiedade na voz de Romeo e arrastou


sua cadeira pelo chão, com a intenção de ir embora.

— Desculpe. — Romeo deixou escapar. — Eu sinto muito.

— Mesmo como um espectador, eu vou permitir isso. Serei seu


cúmplice.

Os lábios de Romeo se contraíram. Chad tinha certeza de que queria


rir, queria sorrir, mas se controlou pelo bem de Chad. Ele conhecia a
delicada corda bamba em que andavam - não mais uma corda grossa, mas
um arame, um arame afiado que provavelmente os partiria em dois do que
os conduzia para o outro lado.

O coração de Chad bateu forte, golpeando-o com a ideia, mas


enquanto relaxava e se contraía freneticamente dentro dele, ele olhou para
quem era o responsável por aquilo que ainda batia.

O monstro era seu salvador.

Chad respirou fundo, finalmente pronto para falar seu pensamento


em voz alta.
— Se você fizesse isso... eles não podem ser pessoas inocentes. Eles
não podem ser boas pessoas.

— Não há nada bom ou ruim, mas o pensamento o torna assim.

— O que?

— É Shakespeare.

— Independentemente do que ele pensasse, existem pessoas boas.


Elas ajudam, salvam e cuidam e eu não acredito que elas mereçam morrer.

— Você não deve nada a elas.

— Eu devo as boas pessoas.

— Como quem?

— Pessoas como Zac. Ele acreditou em mim. Ele me ajudou.

Romeo moveu sua mandíbula de um lado para o outro. — Uma


pessoa.

— E Ally, ela é ótima. Todos os médicos e enfermeiras que me


ajudaram depois de Marc... até mesmo meus terapeutas são boas pessoas,
tentando o seu melhor para me ajudar.

— Todos, não importa as coisas horríveis ou incríveis que façam,


merecem uma chance igual de morte e uma chance igual de vida...

— Não aos meus olhos. Algumas pessoas vivem do sofrimento de


outras, exploram, envenenam e ferem das formas mais cruéis. Não valorizo
a vida delas tanto quanto as pessoas gentis e honestas. Elas são os vermes
que eu prometi pegar, para manter longe de pessoas decentes.
— O monstro em mim não tinha preconceito...

— O monstro vai se comportar.

Romeo se endireitou. Seus lábios se abriram, mas ele não falou. Chad
olhou para ele, para ele, encontrando aquele redemoinho de escuridão. Ele
não quebrou o contato visual e, apesar de sua garganta latejar em
advertência, ele esticou o pescoço sobre a mesa, sem recuar.

— Posso estar pensando em deixá-lo sair da gaiola, mas você estará


na coleira.

Romeo não falou, ele congelou, e antes que Chad perdesse a coragem,
ele disse tudo.

— Sua contagem regressiva falhou. Você não manteve o monstro sob


controle. Ele pegou, roeu e rosnou na sua cabeça e agora é a minha vez de
domesticá-lo. Meu jogo, e a regra número um do meu jogo é decidir quem
morre. Eu decido quem você pode matar. Você consegue o seu golpe e eu o
meu. Apenas pessoas más.

Estava tudo fora, ele disse isso. Seu coração disparou em seu peito,
deixando-o sem fôlego, mas ele tentou parecer calmo. Ele não tirou o olhar
de Romeo e conseguiu tomar um gole de café, apesar de seu estômago
embrulhado. A imagem da calma diante de um monstro.

As bochechas de Romeo ficaram vermelhas, e a princípio Chad


pensou que a raiva as manchou, mas seu olhar se suavizou e ele lambeu os
lábios antes de rir baixinho. Ele abaixou a cabeça, quebrou o contato visual
e pareceu uma vitória para Chad.
— Diga isso de novo. Eu quero ouvir de novo.

— Eu decido quem você mata.

Pareceu ainda mais louco na segunda vez, mas sua voz não vacilou.
Esse era o seu compromisso, seu compromisso confuso, que parecia
totalmente errado, mas de alguma forma certo ao mesmo tempo.

— Será quem eu disser, quando eu disser.

A respiração que Romeo lançou tremeu e ele se mexeu na cadeira.

— O que? — Chad perguntou.

— Nenhuma coisa.

Romeo não olhou para ele, ele olhou para todos os outros lugares.
Sua respiração acelerou, e seu peito subia e descia, puxando seus peitorais
até ficarem difíceis de ignorar.

— Diga-me?

— Estou... realmente excitado agora — disse Romeo, deslizando para


baixo em sua cadeira. Ele passou a mão pelo cabelo, balançando a cabeça.

— Você... você não vai discutir comigo?

O olhar de Romeo estalou para ele. — Não.

Ele estava pronto para uma luta - não física, mas esperava que Romeo
rejeitasse sua oferta, exigisse sua abordagem imparcial para matar, jogasse-
o no chão e tentasse seduzi-lo, mas não o fez.

Ele espalmou-se por baixo da mesa e riu: — Vamos nos encontrar no


cinza. Fundindo-se na sombra perfeita.
— Estou no cinza e tudo bem.

Romeo sorriu. — Estou duro como uma rocha, venha e me dê um fo...

Uma risada fez cócegas na garganta inchada de Chad, seus lábios se


curvaram em um sorriso que ele tentou lutar, mas foi inútil. Ele riu, e foi
maluco, e louco, mas ele riu, e a tensão o deixou. Ele riu até que sua cabeça
girou e seu corpo relaxou, mas um bipe interrompeu sua histeria.

Ele se recuperou de sua loucura e correu para a frente da casa. Um


carro subia a pista de terra, e quando Chad pegou seu telefone da mesa, ele
viu Ally no Lexus nas câmeras.

— Quem é esse? — Romeo perguntou da porta.

— Ally, meu sargento.

Romeo cruzou os braços e olhou carrancudo para a porta.

— Aquela que fez comida para você? Aquela que você acha que é
uma boa pessoa.

— Ela é uma boa pessoa.

Romeo grunhiu e Chad implorou a ele.

— Ela é. Não ela. Por favor.

— Tudo bem, ela não.

— Esconda-se.

— O que você vai fazer?

— Vou me livrar dela.


As rodas rangeram no cascalho do lado de fora. Chad guardou o
telefone no bolso e esperou que ela batesse o punho na porta.

— Romeo. — Chad sibilou, mas não se mexeu.

A porta bateu. — Chad! Abra.

Romeo não teve pressa, flexionando a mandíbula enquanto se


retirava pela porta dos fundos, deixando-a entreaberta.

— Chad!

— Estou chegando.

Ally abriu a porta da frente e parou na frente dele na porta da


cozinha. A última vez que ele a viu, ela se recusou a olhar para ele, com as
mãos nos quadris, balançando a cabeça, mas ela não parecia mais com
raiva dele, ela parecia energizada e agarrou sua camiseta com as duas
mãos.

— Nós sabemos quem é o assassino.

— O que?

Ela o sacudiu, seus olhos arregalados engoliram os de Chad. — E nós


sabemos onde ele está. Vista-se, conto tudo no caminho.

— Eu não estou... eu não posso.

— Sim, você pode.

— Acabou, Ally. Eu não posso mais fazer isso. Eu não sou mais
aquele detetive.

— Você quer pegar os bandidos, certo? Então, vista seu terno, agora.
— Mas...

— Eu não vou embora sem você.

Ela desviou o olhar dele pela primeira vez, seus olhos encontraram a
mesa e seus lábios se abriram.

Duas canecas de café - duas merdas de canecas de café. Uma dor


apertou em torno do peito de Chad e o deixou sem fôlego.

— Ally…

A porta entreaberta gemeu com o vento, e seu olhar se ergueu. Ela


empurrou a mão de Chad de seu braço, caminhou e colocou a cabeça para
fora.

Chad agarrou-se às costas de uma cadeira para se manter de pé.

— Você teve companhia?

— Ela se foi.

— Ela?

— Minha terapeuta?

Ally franziu a testa. — Uma visita domiciliar?

— Sim, eu precisava dela, eu precisava de alguém para conversar


para colocar minha cabeça no lugar.

— E você?

— Sim. Ela saiu há horas.


Chad engoliu em seco, rezando para que Ally voltasse pela porta. Ela
o encarou antes de lançar um olhar rápido para as canecas.

Ela deu um passo mais perto de Chad, mas parou perto da chaleira e
lançou um olhar suspeito. — Horas atrás, você disse?

— Sim... você disse que encontrou o assassino?

Ela se afastou da chaleira e Chad respirou fundo.

— Nós. Todos nós investigamos e o encontramos. Isso inclui você.

— Não mais...

— O que ela disse para mudar sua mente?

— Quem?

Ally estalou a língua. — A terapeuta.

— Não é para mim, ser um detetive...

— Ela disse.

Chad deu um passo para trás. — Chegamos a essa conclusão.

— É a conclusão errada. Agora vista-se.

Ally o puxou para fora da cozinha e só o soltou quando ele estava nas
escadas.

Ele tirou as mãos dela de sua camiseta. — Ok, eu vou. Apenas...


espere no carro.

— Não vou sair deste lugar.

Ele ergueu as mãos para ela. — Fique aqui.


Chad subiu as escadas correndo e vestiu seu traje de detetive em
tempo recorde. Ele verificou a janela, mas não conseguiu ver Romeo
parado do lado de fora.

— Chad!

— Estou pronto.

Ele saiu de casa atordoado, sabendo que Romeo iria vê-lo partir.
Romeo pensaria que Chad lhe deu as costas novamente e escolheu o
detetive.

Ele escolheu?

— Já perdemos tempo suficiente. — Ally gritou.

Ele não teve tempo de fechar a porta do carro ou colocar o cinto de


segurança antes que Ally estivesse rasgando a estrada deixando Romeo
para trás nas sombras.
Capítulo Quatorze

Chad flexionou a mão no joelho. Ele olhou para ele, pulsando tão
rápido quanto seu coração. — Eu não acho que posso fazer isso.

Ally bufou. — Ontem é ontem. Eu disse ao DI que você não estava se


sentindo bem. Ele estava chateado até que eu disse a ele que você
desmaiou.

— Você não contou a ele sobre o que mais aconteceu?

— Não, e Carter e Val também não vão contar a ninguém.

— Por que você está fazendo isso?

— Gosto de você...

— Você nem me conhece.

Ela o fulminou com o olhar. — Eu sei que você passou por um


inferno absoluto nos últimos anos, talvez mais do que isso, e você ainda
voltou a trabalhar. Isso diz muito sobre você.

— Diz que sou estúpido em pensar que poderia.

— Você não é estúpido, você é determinado e corajoso.

Ele riu. Sua garganta doeu. — Eu não sou.

— Claro, você é, e eu também sei como é quando o peso de suas


memórias esmaga você. Quando você precisa se manter ocupado para
continuar. Vamos pegar o assassino porque é o que pessoas como nós
precisam fazer.

— Pessoas como nós? Você quer dizer boas pessoas?

Ele não conseguiu parar de amargura vazando em seu tom, mas Ally
não pareceu se importar.

— Não, não somos boas pessoas. Pessoas que precisam deste


trabalho para se sentirem vivas. Pessoas que precisam de distração e
propósito, e para expiar nosso passado. Eu sei que você é como eu, eu
soube no segundo que te vi, Chad.

A porta bateu na lateral da estrada, raspando na sujeira. Chad


agarrou-se ao assento, tentando desesperadamente colocar o cinto de
segurança em seu corpo.

— Você quer dizer louco?

Ally inclinou a cabeça para trás e riu. — Sim, louco. Ambos somos
diferentes níveis de loucura, parceiro. Nós dois somos detetives de nossos
próprios interesses egoístas, e tudo bem, contanto que peguemos os
bandidos, e agora eu preciso que você se concentre em Ellen e Kerion e no
cara que os matou.

Ela cravou o dedo indicador na tela do carro, tirando-o do mudo.

— Para onde ele está indo? — Ela perguntou.

— Por que diabos você não estava respondendo? — O DI gritou.


Ally estremeceu, então ajustou o volume, até que não soasse mais como se
ele estivesse fervendo.
— Não há recepção onde Chad mora.

— O suspeito foi visto pela última vez dirigindo pela Limes Street.

— Perto de St Johns. Entendi.

Curiosidade despertou em Chad. — Quem... quem é ele?

— Andrew Flint. A garota na fotografia com camiseta, chapéu e


lenço do Scottsdale é Zara Flint, de quatorze anos, sua filha. Essa foi a
última foto tirada dela fora do estádio de Scottsdale. O pai dela era
portador de ingressos para a temporada, eles iam a todos os jogos em casa
juntos.

— Última foto, o que aconteceu com ela?

— Como outras dez pessoas seguindo o relato de Ellen, ela


desapareceu. Três anos atrás, ela desapareceu sem deixar vestígios. Seu pai
a procurou incansavelmente, vendeu sua casa, contratou um detetive
particular, Eric Halt.

— A van que selecionamos no CCTV?

— Andrew não tem endereço fixo, mora em sua van. Eric Halt não
saiu barato aparentemente, e ele vendeu tudo o que tinha para pagar por
ele. Quando Faye e o DI falaram com Eric, ele nos disse que Andrew estava
cada vez mais obcecado por Ellen e Kerion. Ele estava convencido de que
eles tinham algo a ver com o desaparecimento dela.

— Parece que ele estava certo.


— Sim, e ele tomou o assunto em suas próprias mãos, e os matou.
Pegamos o registro da van dele no CCTV duas horas atrás, mas até agora
ele tem sido evasivo. O DI quer mantê-lo quieto, pegá-lo desprevenido.
Não haverá apelo público para obter informações sobre seu paradeiro. Ele
não é considerado um perigo, ele conseguiu quem ele queria.

— O que Ellen e Kerion fizeram com todas essas pessoas?

— Teoria atual, eles os venderam para o tráfico.

— Mas e o Gary?

— Homens e meninos também são comprados e vendidos. Todas as


pessoas desaparecidas tinham menos de dezesseis anos, mais fáceis de
subjugar. Achamos que Ellen e Kerion os amarraram, injetaram para que
ficassem imóveis e os transportaram. Explicaria por que são todos menores
de idade e os altos pagamentos.

— Tráfico. — Chad sussurrou. — Eles ainda podem estar vivos.

Ally encolheu os ombros. — Pode ser, mas você gostaria de


permanecer vivo sendo estuprado e abusado por algum idiota.

Chad fez uma careta e se afastou.

— Eu não sei se eu gostaria... — Ally sussurrou.

A voz do DI veio pelos alto-falantes. — Ele está saindo da Limes


Street, dirigindo para longe de St Johns. Há uma viatura seguindo à
distância.

— Qual rua ele está descendo?


— Mill Lane.

— Eu e Chad não estamos muito longe. Diga ao carro patrulha para


manter distância, não pode permitir que eles cheguem muito perto e
estraguem o momento. Esta é a nossa perseguição.

— De fato. — O DI respondeu.

Chad bufou, pensando em Zac. Ele chamou isso de idiotice de


detetive, uma arrogância que ganharam com seu trabalho. Eles tinham que
bancar o herói, ser o herói.

Chad olhou para Ally.

Seus dedos estavam apertados no volante e ela se inclinou para frente


em seu assento, esticando o pescoço como se isso a ajudasse a ver mais
longe. Ele conseguiu colocar o cinto de segurança, mas ainda precisava se
apoiar na porta do carro com uma mão e se agarrar ao assento com a
outra.

Eles correram pela Mill Lane, e Ally desviou do carro da polícia antes
de piscar para o motorista em seu espelho.

— Hoje não, raio de sol... Andrew está dirigindo um Ford Transit —


disse Ally. — Reg...

Um suspiro ficou preso em sua garganta quando ela viu a van no


horizonte. Chad estava tão afetado - seu coração batia forte, sabendo que
eles estavam perseguindo sua presa, alcançando-o rapidamente.

Deve ter sido a sensação que Romeo sentiu antes de atacar - Chad
balançou a cabeça. Ele não conseguia pensar em Romeo.
— Vou ficar na frente dele depois que ele passar pela ponte. — Ally
disse.

Chad viu a ponte à distância, a pelo menos 500 metros de distância, e


acenou com a cabeça para o plano de Ally, mas os dois foram pegos de
surpresa quando a van diminuiu a velocidade e parou.

— Ele conhece os jogos? — Ally sussurrou.

Ela afundou em seu assento, liberando uma respiração estável. Ela


parou atrás da van e os dois se prepararam para uma corrida a pé, mas
Andrew não saiu da van.

Chad se inclinou em direção à tela do console central. — O suspeito


parou no acostamento.

— Prossiga com cuidado. — O DI respondeu.

— Você acha que no segundo que sairmos do carro, ele vai decolar?
— Ele olhou para Ally, que arqueou a sobrancelha. Seu dedo bateu contra o
volante enquanto ela olhava para a van na frente deles.

— Só há uma maneira de descobrir.

Ela manteve o motor ligado e gesticulou para Chad abrir a porta. Seu
coração batia forte nas batidas viciantes associadas a se aproximar de um
suspeito, sabendo que o zumbido do sucesso estava próximo. Ele soltou o
cinto de segurança e escorregou do assento, mantendo a porta aberta para
o caso de precisar voltar para dentro.

Havia um banco de terra ao lado dele, toda a grama amarelou e


morreu na onda de calor. A margem ficava cada vez mais alta, eles estavam
a apenas duzentos metros da ponte e Chad podia ouvir os carros na estrada
acima.

A van não ganhou vida, o motor não deu partida e Chad foi até a
parte de trás dela, e sabia que se Andrew olhasse em seu espelho, ele teria
visto Chad. Ele se preparou para o ligar do motor, virando seu corpo na
direção de Ally para sua corrida louca de volta ao carro, mas nada
aconteceu.

O carro da polícia que os seguia gritou, assustando Chad. Ele


praguejou, batendo com o ombro na van.

A porta se abriu e um Andrew de olhos arregalados olhou


boquiaberto para o carro antes de encontrar Chad rastejando ao lado dele.

Chad estava perto o suficiente para ouvir sua ingestão aguda.

Seus olhos se encontraram.

Um cigarro aceso desprendeu-se do lábio de Andrew e caiu no chão.

— Eu sou o detetive policial Chad...

Ele saltou da van, largou as chaves e correu a pé para a frente,


escalando a borda. Chad o perseguiu, mas não estava tão em forma como
antes. A perseguição a pé queimou seus pulmões e o deixou ofegante. A
porta de um carro bateu atrás dele e ele suspeitou que Ally tinha saído para
segui-lo.

— Pare. — Chad gritou.


Andrew arranhou a encosta, meio correndo, meio escalando. Ele
deixou cair algo, um pedaço de material que pegou no vento. Chad não
pensou nisso e agarrou-se aos tufos de grama seca para se levantar.

Andrew alcançou o topo e seus pés bateram na calçada enquanto ele


corria na direção da ponte.

As entranhas de Chad despencaram.

Ele chamou Andrew, disse-lhe para parar em vão, Andrew tinha os


olhos fixos na ponte.

Chad chegou ao topo, mas tropeçou em um pedaço de grama. Ele


caiu, segurando-se nas costas das mãos.

— Chad!

Ele se levantou, fixando seus olhos na forma desaparecida de


Andrew.

Ally gritou por ele novamente, mas ele não parou. Ele correu com o
coração disparado e a respiração acelerada. A adrenalina subiu por seu
corpo, ajudando sua perseguição, mas foi inútil. Andrew chegou à ponte e
parou no meio.

— Não faça isso!

Andrew escalou o corrimão e balançou as pernas pela beirada, e o


coração de Chad bateu tão rápido que estremeceu em sua garganta. Este
era o assassino, o bandido que eles estavam caçando. Aquele que cortou os
rins de Ellen e o coração de Kerion enquanto eles ainda estavam vivos.
Verme, certo?

— Não! — Chad gritou.

Andrew se virou para ele e Chad deu uma boa olhada em seu rosto.
A derrota franziu sua testa e seus olhos brilhavam com lágrimas. Ranho
saiu correndo de seu nariz e sua pele ficou vermelha. Ele não parecia um
cara mal, parecia atormentado, preso e indefeso enquanto balançava as
pernas sobre a queda. Quem era o bandido no caso, Chad não tinha
certeza. Ellen e Kerion sequestraram sua filha e a venderam para Deus sabe
quem.

— Fique atrás.

— OK. — Chad disse, erguendo as mãos. — Eu não vou chegar mais


perto.

Andrew empoleirou-se no topo, a morte pela frente e a vida atrás, e


Chad era o cara que garantiria que ele fosse preso, passando o resto de sua
vida atormentada atrás das grades.

Uma frieza o varreu, e a adrenalina que o alimentava desapareceu.


Ele balançou na queda repentina, na fraqueza repentina. Ele agarrou os
joelhos para se segurar e ofegou com a nova sensação. Ele não alcançou seu
pico, ele não se estabilizou na escalada emocional. Ele caiu, até que o
entorpecimento se espalhou por ele.

Andrew fungou, olhando para Chad. — Eles mereciam.


— Eu não discordo de você... desça. — Chad implorou. — Nós
iremos para a estação. Você pode nos contar sua versão do que aconteceu.
Você pode nos dizer o que sabe. Zara pode não estar morta.

— Ela está. — Andrew sibilou. — Ellen admitiu...

— Quando?

— Quando eu a peguei na mesma armadilha que ela usou nos


outros. Ela me contou tudo. Disse-me o que aconteceu a minha Zara. Eles
são animais maus, egoístas e nojentos.

Andrew se mexeu, segurando no corrimão com uma das mãos


enquanto enfiava a outra no bolso. Ele puxou um quadrado do que Chad
pensava ser um cartão, e um barulho saiu dos lábios de Andrew.

— Esta foi a última foto tirada. Fomos ao jogo do Scottsdale um dia


antes de ela desaparecer. Vencemos aquele jogo. — Ele sorriu, mas
desmoronou com um soluço.

— Não sou muito fã de futebol.

— Zara adorou. Ela era a capitã do time da escola. Fomos a todos os


jogos em casa, a maioria perdemos, mas me lembro da expressão no rosto
dela quando vencemos aquele jogo. Éramos os perdedores, estávamos
perdendo e voltamos.

Ele tremia com uma respiração instável, um estremecimento de


tormento o deixou e Chad percebeu que ele estava chorando.
Ele não se aproximou de Andrew, mas deu um passo para o lado até
que estivesse na grade e pudesse ver o lado do rosto de Andrew, as
lágrimas escorrendo. A fotografia pressionada contra seu peito.

— Ela tinha toda a vida pela frente e agora não há nada. Eles não
mostraram misericórdia, nem respeito, nem preocupação, nem dignidade.

Chad franziu a testa, baixando as mãos.

— Tudo o que você descobriu sobre Ellen e Kerion pode nos ajudar.
Outros estão faltando. Outras famílias precisam saber, precisam de
encerramento.

— E eu gostaria de ter sido o único a dar a eles. — Ele olhou para o


céu. — Sinto muito não ter te protegido, menina.

Ele se moveu para frente, largou a grade e caiu. Chad agarrou-se ao


corrimão, mas não desviou o olhar. Andrew bateu no chão com um baque
nauseante. Ele caiu de costas e sua cabeça balançou com o impacto. Um
carro desviou abaixo, errando por pouco ele esparramado na estrada.

Andrew não parecia real sob o sol de verão. O sangue se espalhando


na estrada sob sua cabeça parecia falso, muito brilhante. A pista atrás dele
parecia muito brilhante. Não parecia certo, parecia errado e confuso, e
Chad não conseguia se livrar do entorpecimento que se infiltrava em seus
ossos.

Ele sentiu alívio quando viu sua mãe morrer, devastação quando
Toby faleceu em seus braços, e euforia passou por ele quando Romeo
espremeu a vida de Marc, mas a visão de Andrew escorregando da borda,
tão casualmente como se ele estava escorregando em uma piscina, o deixou
vazio.

Ele foi vítima e criminoso, firmemente na área cinzenta.

Chad mudou seu olhar para o Lexus que parou na frente de Andrew.

Ally abriu a porta e saiu. Seus olhos encontraram os de Chad antes de


desviar para Andrew na estrada. Ela correu para a frente, caiu de joelhos e
colocou os dedos no pescoço dele. Chad esperou, estrangulando as grades
de metal quente que queimaram suas palmas.

Outros estavam se aproximando dela, ofegando de horror.

Ally sentou-se nos calcanhares, inclinou a cabeça para Chad e,


mesmo com a distância, ele sabia que ela tinha falado as palavras: — Ele
está morto.
Capítulo Quinze

A testa de Chad franziu quando Andrew foi colocado em um saco


para cadáveres. Os paramédicos o levaram para a ambulância que o
aguardava e fecharam as portas com força.

Eles seguiram em silêncio - Ally continuava abrindo a boca para dizer


algo, mas nunca o fez. O calor ondulava dos dois lados da estrada e mesmo
com o ar condicionado soprando, o entupimento dentro do carro não
diminuiu. Chad afrouxou a gravata e tirou a camisa para fora da calça,
fazendo o seu melhor para esfriar, mas foi inútil. O delineador de Ally
escorreu por sua bochecha, e Chad tocou a sua própria para dar uma dica a
ela.

— Eu, chorando? Eu sou feita de um material mais duro.

— Deixa para lá. — Chad disse, balançando a cabeça.

Ally ligou o rádio para encerrar o silêncio. Ela engasgou quando um


boletim interrompeu a tensão, notícias do hospital St Johns. Seus dedos se
apertaram ao redor do volante, enquanto ela se inclinava para frente
enquanto esperava por notícias.

Um doador foi encontrado para Marcy.

— Graças a Deus por isso. — Ally disse. — Não é uma notícia


maravilhosa.
Chad olhou para as portas traseiras da ambulância. As luzes não
estavam piscando e ela desceu a estrada em um ritmo constante. Uma vida
havia escapado diante de seus olhos e outra estava prestes a ser disputada
na mesa de operação.

— Eu me pergunto se eles são os rins dele. — Ally disse, apontando


para a ambulância. Chad não reagiu e ela suspirou. — Sim, um pouco
inapropriado, eu sei. Você vai me dizer o que ele disse antes de pular?

— Ele disse que Kerion e Ellen mereciam, e Ellen admitiu que sua
filha estava morta. Eles a mataram.

— Mataram ela? Foram essas as palavras exatas dele.

— Ele disse que era culpa deles ela estar morta. Eles não mostraram
misericórdia ou dignidade.

Ally cantarolou. Ela não ofereceu mais nada e Chad ficou grato. Ele
não estava pronto para as teorias de Ally. Ele ainda estava tentando
entender por que se sentia tão fora do eixo.

Atordoado e distante.

— Você está bem?

Chad olhou para Ally. — Eu?

— Sim.

— Estou bem... só um pouco... não sei.

— Decepcionado? Afinal, não conseguimos prendê-lo. É o seu


primeiro caso aqui e não vai terminar com uma prisão.
Chad franziu a testa, pensando. Ele ficou desapontado por não ter
conseguido algemar Andrew e ler seus direitos?

Não, não era isso.

Ele estava desapontado por Andrew estar no cinza.

Dar a Romeo luz verde para extinguir a vida de vermes não seria tão
preto e branco quanto ele esperava, ninguém era cem por cento mal ou cem
por cento bom. Keeley disse isso a ele na primeira vez que se encontraram.

Ela estava certa.

— Não se preocupe. Da próxima vez, você terá a prisão. Você terá o


seu momento na sala de interrogatório. Essa é a minha parte favorita.

Chad ergueu a sobrancelha. — A sala de interrogatório?

— Quando você lidera, não há nada igual.

— Eu nunca liderei isso.

— Você já esteve lá, certo?

Chad encolheu os ombros. — Eu assisti...

— Você nunca experimentou aquele momento?

— É tudo sobre a perseguição, a algema, os direitos...

— Essas são as preliminares. As preliminares são boas, necessárias,


mas não é o que faz você se sentir mal com um sorriso no rosto e um
arrepio pelo corpo.

— Não tenho certeza se gosto de onde isso vai dar...


— Você tem todas as evidências dispostas e empilhadas. Peça após
peça, até que saibam que estão bem e verdadeiramente fodidos, você os
tem. A tensão se torce e se torce. Há uma expressão em seus olhos quando
sabem que acabou. Eles perderam e você ganhou. É... é... — Seus lábios se
ergueram em um largo sorriso. — É o orgasmo do trabalho de detetive.

— Vou acreditar na sua palavra.

A ambulância na frente deles tocou sua sirene e Ally acendeu as luzes


da polícia para ir com ela. A imprensa se reuniu fora do hospital,
bloqueando a estrada. Eles se moveram para o lado, mas seguraram suas
câmeras no alto, tentando tirar fotos através das janelas da ambulância.

— Idiotas, não são? — Ally disse.

Um homem voltou sua atenção para ela e Chad, tirando uma foto
deles. Ally respondeu fazendo um gesto rude com o punho.

Ela continuou a seguir a ambulância e estacionou em frente a ela no


compartimento de ambulâncias. As portas traseiras foram abertas e
Andrew foi levado para o hospital, seu destino, o necrotério.

— Ele tem família? — Chad perguntou.

— Ele e a mãe de Zara se divorciaram há dois anos. A dor os


separou.

— É difícil saber por quem sentir pena neste caso.

— Ninguém. Esse não é o nosso trabalho. Nós descobrimos o que


aconteceu e por quê, então responsabilizamos essa pessoa. Você não pode
ficar emocionado, você sabe disso.
— Eu sei, mas…

— Mas o que?

Ele encolheu os ombros.

Val os avistou descendo o corredor. Seu olhar seguiu o saco de


cadáver antes de agarrar Ally. Sua boca se abriu, pronta para perguntar,
mas antes que ela falasse, Carter apareceu de um corredor. Ele foi direto
para ela, ignorando Ally, Chad e Andrew sendo levados para o necrotério.

— Está aqui — disse ele.

Val assentiu e saiu correndo pelo corredor.

— E o assassino dos rins também. — Ally disse.

Carter se virou e se assustou quando percebeu que havia bloqueado o


caminho da maca. Ele deu um passo para o lado e deixou Andrew sumir
de vista.

— Ele saltou antes de o pegarmos. — Ally disse.

— Ele é a fatalidade em uma ponte alta. Eu ouvi sobre isso.

— Sim. Encontramos nosso homem, mas ele encontrou o asfalto.

Carter fez uma careta. — Você não conseguiu falar com ele?

— Bem, Chad conseguiu, brevemente, mas ele não deu muita


informação. Ele estava atrás de vingança e ele conseguiu. Caso encerrado.

— Caso encerrado. — Cárter sussurrou.


O suor gotejou em sua testa e ele puxou a máscara cirúrgica
pendurada no pescoço.

— Bem, pelo menos eu sei que não receberemos mais pacotes


inadequados aterrorizando minha equipe.

Chad inclinou a cabeça, estudando Carter. — Você parece nervoso.

— Eu estou — ele sussurrou, enxugando a testa.

— Por que?

Os olhos de Carter dispararam por todo o lugar, e ele balançou para


frente e para trás sobre os calcanhares. Chad se eriçou, seu coração acelerou
e ele se aproximou de Carter.

Val reapareceu, deslizando na frente de Chad. — Marcy está quase


pronta para você.

Chad olhou boquiaberto para Carter antes que seu rosto se enchesse
de calor e ele desviasse o olhar.

— Merda. — Ally disse, recuando e puxando o braço de Chad para


levá-lo com ela. — Estamos mantendo você.

— Está bem...

— Não, não está, você tem que entrar lá e fazer o que você quer.

Carter tentou sorrir, mas não conseguiu. — Agora que finalmente


chegou o momento, é tão assustador como quando pensei que nunca
chegaria.

— Todo mundo está apoiando você. — Ally disse.


— Todos parecem acreditar que o negócio está feito.

— Tudo o que você pode fazer é dar o seu melhor. — Chad ecoou de
seu encontro na estrada.

Os olhos de Carter enrugaram com diversão.

— Mas quando o seu melhor não é o suficiente, é a pior sensação do


mundo — concluiu.

Chad desviou o olhar e Ally se aproximou de Carter. — Isso é


conversa derrotista. Você entra lá e salva aquela garota.

— Vou fazer o meu melhor.

Ele caminhou pelo corredor de onde apareceu com Val logo atrás.

— Ore por Marcy. — Ally sussurrou.

****

— A van de Andrew foi recuperada. — O DI disse quando Ally e


Chad entraram na sala de incidentes. — Temos a localização do
assassinato, a corda com que foram amarrados e a faca de cozinha usada
para abri-los.

— Encantador. — Ally disse. Ela se sentou em sua mesa, e Chad


empoleirou-se em cima dela. Ele sentou, olhando para o chão.

— Você está se sentindo bem? — O DI perguntou.

Não. Ele não estava. A sensação de desapego persistiu, mas ele não
conseguia entender por quê.
— Chad?

O DI apontou para a garganta de Chad e ele a agarrou. O inchaço


latejou quando ele engoliu e ficou roxo, mas quando ele tocou, ele não
recuou com a memória, mas imaginou Romeo esperando por ele em casa, a
única pessoa que poderia tirá-lo do abismo vazio.

— Ally me contou sobre ontem, no hospital.

— Eu sinto muito...

— Você desmaiou, não precisa se desculpar, não pode ser ajudado.


Contanto que você esteja se sentindo melhor agora.

— Muito melhor — disse ele.

— Bom.

Faye girou em sua cadeira. — Ainda acho que você deveria reclamar
com a empresa.

— Foi minha culpa. Eu deveria ter lido o rótulo. — Chad disse.

Ele apontou para Josh relaxado em sua cadeira. — O que eu perdi?

— Estamos examinando todas as contas desativadas vinculadas a


Ellen na esperança de encontrar mais de suas supostas vítimas.

— Um caso é encerrado e outro é aberto — disse o DI. — Onde estão


essas pessoas desaparecidas agora? O que aconteceu com elas?

— Andrew disse que sua filha estava morta. Ellen disse isso a ele.

— Ellen e Kerion as estavam matando? Eles não parecem o tipo. —


Josh disse.
— Tipo? — Chad perguntou.

— O tipo que suja as mãos. Gary não era exatamente um cara


pequeno e fraco, ele teria lutado bem.

— Aceite que ele foi injetado com xilazina. Acredite em mim quando
digo que não importa o quanto você queira lutar, e se mover e correr, você
não pode fazer nada a não ser aceitar.

A boca de Josh balançou aberta e fechada. Um guincho deixou Faye,


mas Chad não se virou para ela. Ele podia sentir a pena dela do outro lado
da sala - isso o fez coçar.

Ally bateu em sua coxa. — Você pegou e ainda está aqui.

— Louco, mas ainda estou aqui.

— Isso é tudo que importa.

O DI coçou o queixo, estudando o quadro na frente da sala — O que


eu quero saber é quem estava pagando tanto dinheiro a Ellen e Kerion. Os
pagamentos coincidem com alguns de nossos desaparecidos.

— Eles os venderam para quadrilhas de tráfico. — Josh disse.

Chad balançou a cabeça. — Andrew não mencionou o tráfico, ele


tinha certeza de que sua filha estava morta.

— Quais foram as últimas palavras de Andrew antes de cair? — O


DI perguntou.

Os olhos de todos se voltaram para Chad.


— Eu disse a ele que ele poderia nos ajudar a descobrir sobre as
outras pessoas desaparecidas, da encerramento as pessoas e ele disse que
gostaria de ter feito isso. Então ele falou com sua filha, disse que sentia
muito por não protegê-la.

Os olhos sobre ele se afastaram e eles ficaram em silêncio por um


minuto antes que o DI checasse seu relógio. — Isso está sendo transferido
para pessoas desaparecidas. Nosso trabalho está feito, todos vocês têm dois
dias de folga.

Ally cutucou a coxa de Chad. — Vou te dar uma carona para casa.

— Obrigado.

****

Chad não conseguia se livrar da sensação de entorpecimento em seus


ossos. Ele pensou em Andrew, na devastação e derrota em seu rosto antes
de pular. A tristeza em seus olhos e as lágrimas escorrendo por seus lábios.
O pedido de desculpas trêmulo para sua filha antes que ele escorregasse da
borda.

— É normal, você sabe.

— O que é? — Ele perguntou.

O sol se pôs ao longe, lançando raios laranja no céu. Mesmo com o


desbotamento, deixou para trás o ar sufocante.

— Sentir-se um pouco para baixo quando o resultado não é


exatamente o que você esperava, mas encontramos o assassino.
Isso era verdade. Chad tinha visto as fotos tiradas da van de
Andrew.

O sangue, a corda, a faca, mas ao lado disso ele viu bolsas com os
pertences de Andrew. Álbuns de fotos de Zara e do que Chad presumiu
serem seus brinquedos de infância.

Eles foram ensacados, protegidos dos respingos de sangue,


protegidos da violência.

O pai amoroso contra o assassino brutal.

— Nós o encontramos, mas não o pegamos. — Ally disse. — É uma


vitória vazia, mas ainda assim uma vitória.

Vazio parecia a palavra certa. Chad fechou os olhos e Andrew estava


do outro lado deles.

Ele correu até a beira da grama, se aproximou da ponte e caiu para a


morte. Palavras de Andrew, desejando que ele pudesse ter sido o único a
dar encerramento a outras famílias.

— Não é sua culpa.

Chad abriu os olhos.

— Você sabe disso, certo? Você não poderia tê-lo impedido.

Era essa a razão de seu vazio, ele se sentia responsável pela morte de
Andrew?

Não foi isso.


Havia algo mais, demorando em sua periferia, escondendo-se nas
sombras, saboreando seu vazio. Ele estava perdendo algo, algo importante.

Ele repassou o momento com Andrew repetidas vezes.

A surpresa assustada, a perseguição, o impasse, a morte.

Ele separou as palavras de Andrew, mas quanto mais pensava nelas,


mais se esquecia. As palavras exatas e o tom foram perdidos, e Chad sentiu
como se estivesse segurando o ar, perdendo mais e mais algo sólido a cada
segundo.

Eles pularam na estrada para a casa. O desconforto no Chad se


instalou sabendo que ele estava quase em casa, quase de volta com Romeo.
A conversa deles naquela hora do almoço parecia dias atrás. O pacto que
ele instigou se perdeu em sua mente vazia.

— Olhe para isso. — Ally disse.

Chad apertou os olhos, encontrando os balões no céu. Ally parou do


lado de fora da casa, e eles os viram passar flutuando, centenas de balões.
Eles flutuaram na frente do céu laranja, em silhueta perfeita.

Ally ligou o rádio assim que eles entraram no carro, mas não havia
notícias de Marcy, e ela o desligou prontamente.

— Vamos... — Ally disse, mexendo os dedos no botão. Ela puxou a


mão de volta, balançando a cabeça. — Acho que não quero saber. Estou
com um mau pressentimento.

Chad ligou o rádio para ela e eles ouviram o boletim de notícias de


Marcy.
Um sorriso apareceu no rosto de Ally e ela apertou o joelho de Chad.

— Pelo menos tivemos boas notícias hoje.

Ele sorriu, saindo do carro.

As orações por Marcy foram atendidas.

Os faróis de Ally se apagaram na estrada e, assim que


desapareceram, Chad se virou para a casa. Ele entrou e seu olhar demorou-
se nas chaves do carro de Romeo na mesa perto da porta da frente.

Havia algo que ele precisava fazer.


Capítulo Dezesseis

Chad encontrou Romeo na cabana, encaixando uma peça no quebra-


cabeça de Mondrian. Ele olhou para cima, e Chad recuou com a dureza nos
olhos de Romeo. Ele tentou ser sutil ao verificar a mobília, mas Romeo se
recostou na cadeira, abrindo os braços.

— Eu não levei o martelo para nada.

— Bom, isso é bom. — Ele coçou a nuca com as chaves. — Você


terminou?

— Sim — disse Romeo, inclinando a cabeça. — Como foi o trabalho?

— Nós descobrimos quem matou Kerion e Ellen.

— Bom para você.

— Ele se matou.

— Se matou. — Romeo murmurou. — Você não teve a chance de


prendê-lo?

— Não.

— É por isso que você está agindo de forma estranha? Você não
pegou o seu homem.

Ele inclinou-se para trás, ainda sem olhar para Romeo. — Não é isso
não.
Chad olhou para cima, ele estava lutando para entender seus
próprios pensamentos, muito menos colocá-los em palavras. Ele estava se
sentindo isolado, perdido e precisava encontrar seu caminho.

— Você vai me dizer que retira tudo o que disse antes? — Romeo
bufou, empurrando a cadeira para trás.

— Não.

Os olhos de Romeo se cravaram nele.

— Eu não mudei de ideia.

— Você disse que ia se livrar dela.

— Não foi tão fácil.

— Mas foi para ir com ela, virar as costas para mim e escolhê-la.

— Eu não fiz. Eu escolhi você.

Chad apertou as chaves de Romeo em suas mãos. O barulho atraiu a


atenção de Romeo, que franziu a testa, ficando de pé. — Por que você está
com minhas chaves?

— Eu preciso levar seu carro.

— Por que?

Chad esmagou as chaves. — Porque eu preciso.

— Onde você está indo?

— De volta à ponte onde ele saltou.

— Ele? O assassino?
— Eu perdi algo. Eu sei que eu perdi, e eu estava...

O resto de suas palavras foi roubado por sua falta de ar. Ele tentou
forçá-las a sair, mas sua garganta fechou.

Romeo inclinou a cabeça, apertando-se ao redor da mesa para chegar


até Chad. — Estava o que?

Chad pulsou as mãos em torno das chaves antes de levantar o olhar


para Romeo. — Eu estava me perguntando se você viria comigo.

Ele poderia ter perguntado a Ally, sabia que ela teria concordado,
mas ele não queria que ela fosse com ele, ele queria Romeo.

As linhas tensas no rosto de Romeo relaxaram e uma respiração


aguda o deixou. Ele piscou. — Você quer que eu vá com você?

— Você pode dizer não se...

Os lábios de Romeo se contraíram em um sorriso. — Você está


pedindo minha ajuda?

— Sim. Eu estou, mas se...

— Você precisa de mim e eu estarei lá. Você sabe disso.

— Tem certeza?

— Diga, diga que precisa de mim.

— Eu preciso de você.

Romeo agarrou sua jaqueta da mesa, jogando as peças do quebra-


cabeça no chão. — Então, o que estamos esperando.
Chad girou nos calcanhares e conduziu Romeo para fora.

****

O carro de Romeo estava guardado na garagem, e quando Chad o


dirigiu, ele contraiu o rosto quando Romeo se sentou no banco de trás.

— Não pode ser muito cuidadoso.

— Você dirigiu do outro lado do país neste carro.

Romeo cruzou os olhos com os dele no espelho. — Sim, eu sozinho.


Se eu tivesse sido pego, que fosse, não vou deixar você ser preso.

— Se cairmos, cairemos juntos.

— Muito romântico, mas não é como se eles nos colocariam na


mesma cela, não é?

— Eu não estava me referindo à prisão. Saímos, saímos juntos.

Romeo colocou o cinto de segurança na posição e empurrou as costas


do banco de Chad, gesticulando para que ele fizesse o mesmo.

— Você não vai desistir de não usar o cinto de segurança.

Chad riu, colocando o seu na posição. Restavam apenas as mais finas


linhas laranja no horizonte.

Parecia mais que os campos estavam em chamas, queimando à


distância, e a mente de Chad voltou para o celeiro. A enorme pintura do
monstro em chamas, a devastação de Romeo quando ele saiu e viu o que
Chad tinha feito.
Quando Chad lançou um olhar para Romeo no espelho, sua
expressão estava longe de ser devastada.

Ele se sentou no banco do meio para que pudesse ver pelo para-brisa.
Seus olhos brilharam com o brilho à distância, e quando ele percebeu que
Chad o estava observando, ele não fez contato visual, mas sorriu,
mantendo seu foco na estrada à frente.

— Vamos ou o que?

Chad sorriu, ligando o carro.

Ele não sabia por que seu instinto exigia que ele voltasse para a
ponte, mas ele confiava nisso e confiava no homem no banco de trás para
estar com ele, fosse o que fosse que encontrassem.

A estrada foi reaberta, qualquer vestígio de Andrew na estrada foi


apagado. O mistério da estrada infiltrou-se nos ossos já cansados de Chad.
A estrada não mostrava que era o lugar onde uma vida havia ido.

A angústia impotente de um homem terminara horas antes, na


mesma estrada pela qual eles estavam correndo. Não havia flores ou
cartões empilhados na parte inferior da ponte. Onde a morte de Kerion e
Ellen foi transmitida como uma tragédia hedionda, com uma torrente de
luto, Andrew teve o oposto. Sua morte foi relatada como uma justiça
covarde.

Um assassino com muito medo de enfrentar o castigo, e suas vítimas,


privadas de suas vidas altruístas.

Mentiras.
— Ele pulou de lá... eu digo que pulou... ele sentou na beirada e
escorregou.

Romeo se inclinou entre os assentos. — Espere, você o viu fazer isso?

— Eu estava lá com ele.

— Ele queria garantir que não fosse pego?

— Não. Ele era um homem quebrado, preso, torturado, eu podia ver


em seus olhos. Eu pude ver isso. Naquele momento, ele só queria que tudo
acabasse.

Chad enrijeceu com o aperto em seu ombro antes de relaxar. Ele


interiormente se amaldiçoou por sua reação nervosa e Romeo não o soltou,
ele manteve sua mão como um peso pesado sobre Chad.

— Por que ele matou?

— Vingança. Kerion e Ellen foram os responsáveis pelo


desaparecimento de sua filha. Ele estava acertando as contas.

Chad parou no acostamento e olhou para o espaço vazio à sua frente.


Quando nada emergiu de suas memórias, ele cerrou os olhos e repassou o
que aconteceu. Romeo ficou em silêncio, tão silencioso que foi apenas
graças à sua mão firme no ombro de Chad que ele soube que ainda estava
lá.

A van de Andrew estava na frente. Ele se arrastou ao lado dele, o


carro da polícia passou barulhento, alertando Andrew. Ele abriu a porta do
carro, seus olhos encontraram os de Chad e então ele correu.
Algo esvoaçou em sua mente, amortecendo o vazio. Ele pousou no
fundo, enrolando-se em torno de si mesmo.

Chad abriu os olhos. — Ele deixou cair alguma coisa enquanto estava
subindo a margem, ele deixou cair alguma coisa.

Ele abriu a porta do carro e se desvencilhou das mãos de Romeo.

— Chad! — Romeo mergulhou para frente, agarrando Chad por o


cinto em suas calças.

— Eu não vou sair de vista.

— Tome cuidado. — Romeo bufou e o soltou. Ele recuou para a


escuridão dos bancos traseiros.

Chad escalou a borda, certo de que podia ver as marcas de sua


perseguição horas antes. Seu coração trovejou como se a perseguição
estivesse de volta, como se ele estivesse seguindo o fantasma de Andrew,
exigindo que ele mostrasse a pista que ele perdeu. A dormência em seus
ossos formigou, revivendo com alfinetes e agulhas, uma coceira sensível
correu por suas veias.

Ele estava no caminho certo, seu instinto lhe dizia isso.

O objeto que Andrew deixou cair era comprido e leve, pegou o vento,
flutuou ao longo dos pedaços de grama morta.

Chad virou a cabeça para a esquerda e congelou. Preso nos galhos de


uma muda murcha, ele se enrolou como uma cobra.
Chad estendeu a mão para pegá-lo e puxou o lenço de Scottsdale. Ele
se desfez para ele, e ele o segurou nas mãos, sabendo que era o mesmo que
estava enfiado sob o queixo de Zara em sua última fotografia.

Ele correu de volta pela borda, amassando o material. Ele voltou para
o carro e Romeo enfiou a cabeça pelos bancos, fixando seu olhar curioso no
lenço nas mãos de Chad.

— O que é isso?

— Um lenço Scottdale. — Chad passou a mão por todo o


comprimento. A grama morta arranhou seus dedos e ele começou a retirar
os pedaços, sacudindo cada fragmento pontiagudo na área dos pés do
passageiro. — Lenço de Zara. Filha de Andrew. Ele estava segurando.

A mão de Romeo encontrou seu ombro novamente. — E largou.

— Ele foi pego no vento, se afastou, eu não poupei nenhum


pensamento.

— E agora?

Chad passou a mão pelo lenço. Ele sorriu quando nada prendeu seus
dedos. Ele sorriu com o peso daquilo, não leve, mas carregado de
significado. — Esta é a peça do quebra-cabeça que estava faltando.

— Não entendo.

— Eu gostaria de ter sido o único a dar a eles. — Chad murmurou.


— Eu disse sobre dar um encerramento aos outros, e foi isso que ele disse.
Essas foram suas últimas palavras, e acho que sei por quê. Não poderia
haver fechamento quando a justiça foi deixada inacabada.
— Chad, você não está fazendo nenhum sentido.

Ele fechou os olhos novamente, respirando fundo. Suas narinas


formigaram com o cheiro de fumaça e ele levou o lenço ao nariz.
Definitivamente, fumaça de cigarro.

Um cigarro caiu dos lábios de Andrew quando seus olhos


encontraram Chad. Seus olhos arregalados estavam cheios de raiva e
tristeza, e Chad tinha certeza de que podia sentir no lenço.

Desespero, cheirava a isso.

Ellen estava com o chapéu Scottsdale, puxado sob os olhos. Kerion foi
espremido na camisa Scottsdale, seu ombro deslocado para colocar o braço
dentro. Quem estava destinado a ter o lenço, para tê-lo enrolado tão
firmemente em seu pescoço que seus olhos esbugalharam?

— Quando foi a última vez que você comeu algo...

— Eu não acho que Andrew tinha acabado. Acho que ele tinha mais
um para pegar. — Chad apontou para a estrada. — Eu acho que ele estava
dirigindo por aqui de propósito. Acho que ele estacionou para esperar por
alguém. Alguém que ele sabia que passaria por aqui.

Sua van assassina estava esperando sua última vítima. Andrew


estava com o lenço, a corda e a faca em mãos.

— Você acha que ele estava atrás do três? — Romeo perguntou.

— Sim.

— Três para uma menina.


— Três para a garota dele. — Chad disse, dando a Romeo um sorriso
no espelho.

O próprio sorriso de Romeo demorou a se formar, mas quando o fez,


enrugou a pele ao redor de seus olhos e ergueu suas bochechas. Ele sorriu e
por alguns segundos a mente de Chad apagou completamente.

— E agora? — Romeo perguntou.

— Há outro lugar que precisamos ir. — Chad disse, franzindo o


nariz.

Romeo ficou entre os assentos. — Você sabe quem mais ele estava
atrás?

— Tenho uma ideia... não sei, não pode ser...

— Relaxe, vá com seu instinto.

Chad olhou para o espelho. As sobrancelhas de Romeo se contraíram


e ele exibiu sua expressão estudiosa. A mesma na casa da fazenda quando
ele estava destruindo a mente de Chad em seu estado delirante. Encantado,
entretido. Feliz.

— Pode ser o prego final na minha moralidade.

— Deus, como eu quero saber o que está acontecendo na sua cabeça.

— Se eu estiver certo, vou... vou deixar.

Os olhos de Romeo brilharam enquanto ele estudava Chad. Seu peito


subia e descia, e ele murmurou suas palavras antes de finalmente fala-las.
— Deixar-me?
— Sim. Mas eu tenho que estar absolutamente certo.

— Ok — Romeo sussurrou. Seus lábios se separaram e o ar entrou e


saiu.

— Eu tenho que ter certeza. — Chad disse novamente. — Eu tenho


que encontrar provas.

— Provas?

— Meu instinto não é suficiente.

Ele olhou para o lenço quando ligou o motor e voltou para a estrada.

Chad se afastou ainda mais de casa, da cidade até que foram cercados
por campos e colinas ondulantes. Seu navegador por satélite desistiu de
todas as esperanças e perdeu sua posição. A estrada apagada era
interminável e Chad temeu que tivesse virado para o lado errado, mas
então o início da cerca alta de arame apareceu.

— O que é este lugar? — Romeo perguntou.

— É uma base militar.

— E por que estamos indo nessa direção?

Chad encontrou os olhos de Romeo no espelho. — Tenho ignorado


suspeitas, descartando as pontadas e coceiras. Eu ainda posso estar errado,
mas... eu tenho que verificar.

Romeo não pediu para ele dar mais detalhes. Chad semicerrou os
olhos, olhando para as árvores distantes além da cerca. Ele bufou ao ver o
contorno do prédio, meio escondido por árvores. Só era perceptível ao
procurá-lo e, se ele não estivesse procurando por Romeo da primeira vez,
não o teria visto.

— Eu pensei que você poderia ter estado lá. — Chad disse.

— Eu escapei de uma gaiola, não há nenhuma maneira de eu voltar


para uma.

Chad franziu a testa, flexionando as mãos no volante. — Mas você


voltou para a jaula. Você fez por mim.

Romeo não respondeu.

Chad avistou os rastros no campo de onde seu carro saiu da estrada e


os apontou para Romeo.

— Por que você não me disse que caiu?

— Não foi um acidente, não realmente, foi um pequeno desvio no


campo do fazendeiro.

Romeo olhou furioso para o espelho. — Parece um acidente. Você


poderia ter se machucado.

— Eu estava ferido, você se foi.

— Quero dizer, de verdade, machucado fisicamente.

Chad continuou seguindo a cerca até chegar a um enorme portão. Os


nervos subiram por sua espinha e ele lançou um olhar para Romeo, que se
achatou no banco de trás. Em uma inspeção mais próxima, as câmeras
estavam quebradas, sem vida penduradas em fios. Uma grossa corrente
conectada mantinha os dois portões juntos, e Chad acelerou o volante,
desejando ter planejado tal obstáculo.

Ele parou no lado oposto da estrada e foi sair do carro, mas a mão de
Romeo disparou do banco de trás. Ele espalmou os dedos no peito de Chad
sobre o coração, mantendo-o no lugar.

— Vou ver se podemos entrar. — Chad disse. — Se não pudermos,


iremos para casa, faremos isso outro dia.

— O que exatamente é isso?

— Meu pressentimento.

— Seu pressentimento o levou para os braços de um assassino em


série. Marc Wilson, lembra?

Chad fechou os olhos com força. — Eu não estou sozinho neste


momento. Eu tenho você e sei que você não vai deixar nada acontecer
comigo.

— Claro, eu não vou.

A mão de Romeo escorregou de seu peito. Seus olhos estavam


pesados nas costas de Chad enquanto ele corria para fora do carro para
verificar o portão.

Um cadeado estava caído na grama, a corrente quase inútil. Chad


abriu o portão antes de voltar para Romeo no carro. Ele jogou a corrente na
área dos pés e estendeu a mão para o porta-luvas. Ele puxou uma caixa de
luvas descartáveis, pegou duas para si e então lançou seus olhos ansiosos
para Romeo.
— Você vem?

Romeo soltou o cinto de segurança. — Não vou deixar você ir


sozinho com seu histórico.

— Coloque algumas luvas.

— Sim, detetive.
Capítulo Dezessete

Chad usou a barra de sua camisa para empurrar o portão o suficiente


para que eles pudessem entrar. Ele fez uma pausa quando olhou para a
marca no portão, uma fileira de linhas horizontais vermelhas.

— O que isso parece para você? — Chad perguntou.

Romeo olhou para as marcas. — Tinta.

— Sim, pensei assim também... vamos lá.

A estrada do outro lado estava rachada, com buracos fundos o


suficiente para quebrar uma perna. Os campos de cada lado tinham grama
até os quadris de Chad. A grama balançava com o vento, mascarando o
som deles marchando pela estrada.

Chad olhou para Romeo. — Fique atrás de mim.

A estrada terminou, mas Chad continuou em frente, usando seu


telefone para navegar na grama. Eles iam deixar rastros, mas a lama por
baixo era dura, seus sapatos não deixavam pegadas e, com Romeo
andando atrás, ele esperava que parecesse que havia apenas um deles.
Pistas conduziam ao redor do prédio fora de vista, velhas e rachadas, mas
definitivamente vindas de um carro.
As janelas do prédio estavam fechadas com tábuas, musgo e hera
cresceram nas paredes, mas quando eles se moveram ao redor do prédio
para a porta, as vinhas foram cortadas.

— Tem certeza? — Romeo disse.

Chad acenou com a cabeça, usando a ponta da camisa para abrir a


maçaneta da porta. Romeo se eriçou ao lado dele, dobrando as pernas,
encolhendo os ombros, pronto para atacar se necessário.

Chad puxou a maçaneta e abriu a porta. Ele iluminou a escuridão


com a luz do telefone e piscou, antes de piscar de novo e de novo enquanto
seus olhos lacrimejavam.

— Jesus. — Romeo disse, puxando Chad de volta pelo cotovelo. —


Acho que meus olhos estão sangrando.

Chad lutou para frente, levando Romeo com ele. O espaço estava
vazio, não havia um pedaço de mobília ou uma folha caída dentro, mas o
cheiro de alvejante queimava seus olhos e nariz.

Ele podia sentir o gosto cobrindo o fundo de sua garganta,


envenenando-o com os vapores. Ele iluminou o interior do prédio com seu
telefone, olhando para as paredes. As janelas tinham sido rebocadas, a sala
era de um branco ofuscante, fedendo a limpeza.

Ele prendeu a respiração, tirou algumas fotos com seu telefone e


fechou a porta.

— Vamos.
Chad deu as costas para o prédio, soprando no ar puro. Romeo
gaguejou e ofegou antes de dar a Chad um sorriso tranquilizador.

— Para onde agora?

Chad apontou para as árvores. — Lá.

Assim que o alvejante saiu do nariz e da garganta, ele voltou a sentir


o cheiro. Ele contraiu as narinas, aspirando outro cheiro condenável.
Fumaça, não a fumaça de um cigarro, mas uma fogueira - papel e madeira
queimados. Ele o seguiu como um cão de caça de sangue, tropeçando em
árvores e rachaduras na terra. Romeo estava ao lado dele, firmando-o
enquanto eles tropeçavam na escuridão.

Chad continuou por entre as árvores até encontrar uma pilha de


cinzas. Ele iluminou a área com o telefone, esperando que algo tivesse se
perdido, mas não havia nada.

Chad passou seu telefone para Romeo, que o segurou sobre as cinzas
enquanto encontrava um graveto. Ele cutucou e se mexeu, mas não havia
nada além de cinzas.

Romeo tirou uma foto, antes de olhar para Chad.

— Tudo bem?

Ele acenou com a cabeça, pegando o telefone de Romeo.

— Cinza de um incêndio e um prédio vazio limpo.

Chad caiu contra a árvore mais próxima. — Não há muito o que


dizer.
— É suspeito.

— É isso? Ou minha paranoia está aumentando?

— O que seu instinto diz?

Um galho quebrou atrás deles. Romeo posicionou Chad atrás dele e


olhou para a escuridão. Chad apontou seu telefone na direção, e dois olhos
refletiram de volta para eles. Eles brilhavam verdes na luz, dois olhos logo
acima do solo, não de uma pessoa, mas de um animal.

Chad deu um passo em direção à criatura, os dois olhos


permaneceram neles, observando até que Chad estivesse perto o suficiente
para ver a forma do animal, suas orelhas triangulares e seu pequeno nariz
preto que se contorcia quando ele se aproximava.

A raposa se virou e correu para as árvores.

Um novo cheiro soprou em direção ao Chad, azedo e podre. Ele


franziu a testa, farejando o ar, rastreando o cheiro pútrido. Ele ficou onde a
raposa estava agachada, e quando ele apontou seu telefone para o chão, ele
pulou para trás, batendo em uma árvore.

Romeo correu, verificando a parte de trás da cabeça de Chad antes de


descobrir a razão pela qual ele se sacudiu.

— Isso é um dedo, não é?

— Sim.
Um dedo com pouca carne sobrando, mas a unha ainda estava
intacta, esmalte preto. Ele ergueu a luz e ficou boquiaberto com a clareira
nas árvores.

As depressões e moldes no solo.

Pelo menos dez que Chad poderia ver com uma olhada rápida em
seu telefone. Ele balançou em seu aperto, lançando um brilho trêmulo
sobre a clareira. Seu pulso acelerado tornava difícil falar, estremecendo em
sua garganta, mas Romeo falou por ele.

— Sepulturas.

O calor tinha secado a terra, rachado em alguns lugares, e Chad


podia ver onde a raposa havia cavado, onde havia uma fenda alargada
para que pudesse deslizar para dentro e beliscar um cadáver. O cheiro da
morte envenenou o ar e Chad se aproximou, atraído pelo cheiro podre. Ele
cobriu a boca com a mão enquanto tirava uma fotografia antes de se retirar.

O prédio tinha sido limpo, qualquer evidência destruída, mas a onda


de calor dos últimos dias ajudou Chad, abrindo caminho para a raposa
encontrar comida.

Chad fechou os olhos, relaxando na escuridão. Suas entranhas se


desemaranharam, a contorção em seu estômago cessou.

Romeo pressionou contra suas costas, envolvendo os braços em volta


da cintura de Chad. Os lábios roçaram o lado de seu pescoço, subindo mais
alto até chegarem ao ouvido de Chad.

— Encontrou sua prova.


— Sim.

****

Já passava da meia-noite quando eles chegaram em casa, e a lua cheia


brilhava acima da casa. Romeo estava sentado à mesa da cozinha,
balançando a perna no chão. Chad poderia dizer que ele queria uma
explicação, mas Chad ordenou que ele ficasse parado até que estivesse
pronto.

A impressora buzinava constantemente, despertando a curiosidade


de Romeo, mas Chad não o deixou ver suas evidências, não até que elas
fossem exibidas da maneira correta.

Chad empurrou o sofá da sala contra a parede do fundo antes de


pegar Romeo da cozinha.

— Sente.

Ele se empoleirou na beirada, olhando para a frente e para trás ao


longo da parede oposta. Não era a tela de alta tecnologia da sala de
incidentes, estava de volta ao básico, pregando fotos e documentos
impressos.

Chad havia esgotado a tinta da impressora e a maioria das fotos


estava em preto e branco, mas isso acrescentou a familiaridade de que ele
precisava. Ele ainda estava pegando um assassino, ainda fazendo seu
trabalho, mas a justiça feita seria diferente.

A justiça viria na forma de um monstro.


Kerion, Ellen, Andrew e Zara estavam todos na parede, assim como
mapas, fotografias do prédio vazio, o incêndio, o dedo decepado e os
túmulos.

O olhar de Romeo saltou por toda a parede, e Chad esperou que ele
conectasse os pontos, para ver o quebra-cabeça completo quando ainda
havia pedaços faltando, mas ele apenas franziu a testa.

— Você... você não acha que há provas suficientes? — Chad


perguntou.

— Eu poderia, se você me explicasse.

— Certo, sim, desculpe.

— Abra essa sua cabeça e revele seus segredos. Quero saber tudo de
você, o detetive, e Chad, todos os detalhes.

— Eu não acho...

— Eu quero.

Chad coçou a testa. Para ele, o quebra-cabeça estava apenas


parcialmente incompleto, mas para Romeo ele espalhou as peças e
esperava que ele soubesse em qual foto estava trabalhando. Ele se virou,
engolindo em seco, sem saber por onde começar, mas se fixou na fotografia
no alto da parede.

Aquela que intrigou Romeo desde que ele a imprimiu.

— Este é o nosso suspeito. Doutor Clive Carter...

— Você acha que ele era o destinatário pretendido do lenço?


— Sim.

— Por que?

Chad respirou fundo e mergulhou. — Eu o conheci no hospital


quando os rins de Ellen foram enviados para a UTI. Ele afirmou que sabia
das vítimas, morava nas proximidades, tinha falado com Kerion algumas
vezes sobre seus supercarros e enviou-lhe um cartão de condolências
depois que Ellen foi morta.

— Um bom vizinho.

— Havia uma expressão nos olhos dele, mas me distraí. Ele


empurrou o holofote de si mesmo para Marcy, sugeriu que os rins estavam
zombando dela, e nós seguimos cegamente seu exemplo e eu me esqueci
dele até quase colidir com ele.

— Você bateu nele?

— Quando eu estava procurando por você e vi o prédio entre as


árvores. Eu não estava olhando para onde estava indo e desviei no último
segundo. Ele estava com aquela expressão de novo, mas eu estava com
tanta vergonha de tê-lo matado. — Chad tocou o nariz. — Lembro-me do
cheiro de antisséptico forte e fumaça. Ele me disse que era fumaça de
cigarro e eu não o questionei mais.

— Você acha que ele estava se livrando das evidências naquela


noite?

Chad acenou com a cabeça. — Acho que ele limpou aquele prédio e
queimou todas as evidências que pôde antes de colocar o resto no carro.
— Então, os órgãos enviados para o hospital?

— Foram feitos para ele, como um aviso. Andrew foi relatado


dirigindo pelo hospital. Ele estacionou em um acostamento, em um trecho
da estrada que ele sabia que Carter iria dirigir para chegar em casa, exceto
que interviemos, e Carter foi chamado a sala de cirurgia no final de seu
turno.

— Carter, o herói. — Romeo bufou. — E eu pensei que minhas


máscaras eram eficazes, mas o bom doutor está em outro nível... mas quem
está naquela floresta?

— Pessoas desaparecidas ligadas a Ellen e Kerion. Elas foram


levadas, o DI acha que elas podem ter sido vendidas para o tráfico, mas
Andrew estava inflexível de que Zara estava morta. Eles não mostraram a
ela nenhum cuidado, compaixão ou dignidade, foi o que ele me disse.

— Mas por que... o que eles estavam fazendo naquele prédio? Por
que levar essas meninas?

— Carter é especialista em transplantes de órgãos. Você deveria ver


o escritório dele, todos os cartões de agradecimento para ele. Por um
trabalho bem executado. Que herói. Ellen e Kerion receberam muito
dinheiro quando uma de suas vítimas desapareceu.

— Você pensa o que? Carter estava vendendo órgãos paralelamente?

Chad acenou com a cabeça. — Acho que ele pagou Ellen e Kerion
para ajudá-lo, e eles entregaram suas vítimas bem na sua porta. Ele pegou
o que precisava antes de jogá-los na floresta e todos se esconderam atrás
dessas máscaras perfeitas. Eles estão fazendo isso há seis anos, mas não
mais.

— Andrew cuidou de Ellen e Kerion.

— O que nos deixa com Carter.

— Pega inteligente.

— Não me sinto muito inteligente. Eu me sinto estúpido. Eu acreditei


em sua fachada afetuosa e apaixonada.

— Parece que ele enganou todo mundo...

— Mas eu, entre todas as pessoas, deveria ter percebido que ele era o
assassino no início. Eu tinha suspeitas, desconfiança, mas continuei
descartando isso. Ele não poderia ter nada a ver com isso, ele era um
médico, um cara bom que salvava pessoas.

— Ele salva as pessoas sob os holofotes e mata outras nas sombras.


Ele é a sua escuridão perfeita com a luz. O homem no cinza.

— Ele é o Sr. Cinza Fodido.

Carter sorriu para ele de sua posição no alto da parede. Seu cabelo
loiro e olhos azuis eram angelicais. A iluminação atrás dele o aqueceu com
um brilho divino, mas Chad podia ver o diabo agora.

Os dedos de Chad encontraram sua garganta. Ele empurrou contra a


carne roxa, cutucando a dor como Carter tinha. — Eu o deixei me
examinar. Deixei ele me tocar. Eu não suportava suas mãos em mim, mas
ele me disse para confiar nele e eu confiei.
Chad não se virou para Romeo, mas sabia que ele estava se
aproximando. Ele enganchou o queixo de Chad com o dedo indicador, e
quando Chad o encarou, ele passou os dedos por baixo, movendo a mão de
Chad para o lado e agarrando sua garganta. O calor de sua palma embebeu
a pele de Chad, e ele relaxou nas mãos firmes de Romeo.

— O que você quer fazer?

Chad engoliu em seco, seu pomo de adão deslizando contra a palma


da mão de Romeo.

— Eu quero trazê-lo aqui.

Romeo encontrou os lábios de Chad com o polegar e os esfregou, um


toque tão leve que fez cócegas.

— O que mais?

— Eu quero ter certeza. Eu quero ouvi-lo confessar.

Romeo lambeu os lábios. — E se ele confessar, o que acontecerá?

Chad viu o monstro preso nos olhos de Romeo, ele avançou


esperando sua deixa.

— Eu vou te deixar.

Romeo o puxou pelo pescoço e cobriu a boca de Chad com a sua. O


gemido que deixou Romeo foi perto de um rosnado e os joelhos de Chad
enfraqueceram.

Ele se afastou ofegante. — Mas eu não sei como trazê-lo aqui.

— Eu posso te ajudar com isso.


Capítulo Dezoito

Romeo havia lhe dito que se não fosse acontecer naquela noite,
haveria outra. O estômago de Chad se contorceu com a ideia de esperar
noite após noite pela oportunidade se apresentar.

Isso tinha que acontecer naquela noite.

O dia todo ele examinou as evidências na parede, revirando-as


interiormente sem parar antes de falar em voz alta, convencendo-se de que
estava certo sobre Carter, mas a TV e o rádio cantavam seus elogios.

Ele não era apenas um herói local, mas também nacional, salvando
Marcy das portas da morte.

Muitas vezes naquele dia ele balançou a cabeça, disse a Romeo que
ele devia ter entendido errado, mas Romeo ficou na frente dele, pressionou
a palma da mão na barriga de Chad e perguntou sobre sua intuição em
relação a Carter.

Não havia mudado, apesar de todas as estações de notícias


parabenizarem o médico.

O vento soprou um ar refrescante para ele, para variar. Ele foi


abençoado, não apenas com a sombra das árvores, mas com a temperatura
fria. O longo intervalo devido à onda de calor estava se aproximando
rapidamente e trouxe um exército de nuvens cinzentas. Elas bloquearam o
sol, lançando uma grande sombra sobre o campo, manchando-o de
escuridão.

Carter terminava seu turno às 5:00, e Romeo deixou Chad uma hora
mais cedo do que o necessário. Ele esperou, escondido na linha das
árvores. Ele tinha uma boa visão da estrada que levava a Crafts Way, a
comunidade escondida dos ricos, e podia ver os carros se aproximando à
distância.

Cada vez que passava um carro que não era de Carter, ele se
esgueirava para trás e lutava contra uma nova onda de incerteza. O e se
girou em sua mente, ganhando impulso.

O que aconteceria se ele estivesse errado?

Chad descansou contra a árvore, antes de praguejar e saltar para a


frente. Ele fez o possível para verificar se havia marcas em seu terno,
imaginando o rosto impressionado de Romeo.

Ele tinha passado a ferro os vincos da camisa, jaqueta e calça de


Chad, inflexível que Chad tinha que parecer o seu melhor para seu
confronto com Carter. Chad ainda podia imaginar a alegria no rosto de
Romeo enquanto ajudava Chad a se preparar, aperfeiçoando sua máscara.

Ele havia consertado a gravata de Chad, alisado o colarinho e


escovado o paletó com as mãos. Chad tinha se fixado no queixo de Romeo,
até que ele foi inclinado para cima para encontrar os olhos de Romeo.

— É normal ficar nervoso.


O nó na garganta de Chad não se mexeu, não importou o quanto ele
tentasse engolir. — E se eu estiver errado?

— Eu não vou fazer nada até que você me dê permissão.

— É como jogar um osso para um cachorro e esperar que ele não o


coma.

As covinhas de Romeo se contraíram com seu bufo. — E se você


jogasse um osso para Toby e gritasse para ele deixá-lo, ele teria feito isso?

— Sim, mas ele era um bom menino.

— Eu também posso ser um bom menino. — Romeo passou os


braços em volta das costas de Chad e deslizou as mãos para baixo,
segurando a bunda de Chad. — Não que eu queira ser agora.

Chad balançou a cabeça. — Chega de distrações.

Romeo o virou em direção ao espelho e apoiou o queixo no ombro de


Chad. Seus braços seguraram o peito de Chad, mantendo-o junto quando
ele estava tão perto de desmoronar.

— Mas você está tão... bonito.

Eram as palavras de Romeo, mas Chad estava pensando nelas, não


sobre si mesmo, mas no rosto de Romeo ao lado do seu, sorrindo para o
espelho. Como alguém podia parecer tão incrivelmente vivo ao fantasiar
sobre um assassinato?

Romeo beijou seu pescoço antes de virar Chad em seus braços para
uma pressão adequada de lábios. Chad resistiu, mas isso não deteve
Romeo. Ele continuou bicando e mordiscando até que Chad caiu sob seu
feitiço e o beijou de volta.

Romeo estava de volta em casa, sem dúvida andando pelo edifício


enquanto esperava para ver se seria esta noite ou não.

Chad não caminhou, mas flexionou a mão ao lado do corpo,


bombeando-a como um coração, um enrijeceu e lutou quanto mais tempo
ele tinha que esperar.

Chad semicerrou os olhos para o carro no horizonte. Ele varreu a


estrada até que estava perto o suficiente para Chad ver a cor, então o
modelo, antes de finalmente o motorista aparecer.

Ele forçou as pernas rígidas a se moverem e saiu da linha das árvores.


Ele parou na beira da estrada com o polegar para cima, parecendo como se
estivesse pegando uma carona. O carro passou zunindo, agitando o terno
de Chad e ele ficou paralisado, olhando para o lugar onde o carro de Carter
acabara de passar.

Não estava destinado a ser naquela noite, e Chad não sabia se queria
praguejar ou se alegrar. Ele estava preso entre tanto aliviado quanto
desapontado.

Uma frieza o percorreu e ele estremeceu. Um motor zumbiu atrás


dele, reclamando que estava dando ré na estrada.

— Detetive Fuller?
Parecia que demorou um século, mas Chad se virou para encará-lo. O
sorriso que ele reuniu não contornou suas bochechas ou ergueu seus olhos,
era puro de emoção.

— Doutor Carter.

— Ei, Chad, pensei que fosse você.

Carter baixou a janela e esticou o pescoço. Óculos cobriam seus olhos,


apesar das nuvens cinzentas pairando acima.

— Não reconheci o carro.

— Oh, este é o que eu levo para trabalhar, o Jaguar ainda está sendo
consertado.

— Este é bom também.

— O BMW mais recente, todos os extras - a pintura me custou uma


pequena fortuna, cinza ardósia - mas vale a pena.

— Com certeza.

Carter riu. — Você não tem que fingir. Eu sei que você não é um
sujeito viciado em gasolina.

Uma gota de chuva caiu sobre o carro, Chad observou sua descida
antes de inclinar a cabeça para o céu.

— O que diabos você está fazendo aqui?

— O carro está quebrado.

Carter sacudiu a cabeça para cima e para baixo na estrada. — Você


não tem muita sorte com carros, não é?
— Não deixei de estacionar dessa vez.

— Fico feliz em ouvir isso. Onde está?

— Lá atrás — Chad disse, apontando para a distância. — Eu tenho


caminhado por pelo menos alguns quilômetros.

— Entre, vou levá-lo até o seu carro e providenciar um veículo de


recuperação.

A dúvida assobiou na cabeça de Chad, e a voz que ele empurrou para


o fundo de sua mente retumbou de volta à vida. Não poderia ser Carter.
Simplesmente não podia ser. Ele era um bom homem. Um médico. Ele
salvou a vida de Marcy, pelo amor de Deus.

— Chad?

Carter colocou os óculos no cabelo.

O azul de seus olhos e a sinceridade em seu sorriso gritavam


honestidade. Era uma máscara, uma máscara carinhosa e compassiva,
projetada para despistar qualquer pessoa. Ou não era?

— Você não poderia me dar uma carona para casa?

Carter franziu a testa, olhando Chad de cima a baixo. — Casa? Você


está bem?

— Sim eu estou bem.

— Vamos encontrar seu carro então...

— Não!

— Não?
A voz firme de Romeo voltou para ele. Seja assertivo. Educado, mas
assertivo.

— Deixe o carro, está tudo bem onde está.

— Deixar o carro? — Carter balançou a cabeça. — Cristo, você não


gostaria que eu deixasse um dos meus.

— Nem todos somos entusiastas de carros como você.

— Mas é o seu carro.

— Vai ficar tudo bem por um tempo, tenho gasolina em casa, fica
mais perto do que qualquer garagem.

— Certo... mas e se...

— Obrigado. — Chad disse, puxando a maçaneta da porta traseira.


— Eu realmente gostei disso.

Ele deslizou para o banco de trás. Carter o observou pelo espelho,


mas não disse nada. Ele baixou os óculos de sol sobre os olhos, apesar da
primeira chuva no para-brisa.

— Então, para onde estou indo?

Chad disse a Carter seu endereço, e ele dirigiu até a estrada para
encontrar um lugar para virar.

— E você está bem em deixar seu carro no meio do nada?

— Sim.

— Vamos abastecer e depois encontrar o seu carro.


— Soa como um plano.

Os campos passaram pela janela em um borrão. Eles pareciam mais


verdes na escuridão, mais vivos do que quando o sol havia batido neles. A
grama, as plantas e as árvores se ergueram mais alto, sabendo que a chuva
estava chegando. O inferno que eles viveram estava prestes a diminuir.

— Chad? —

Ele desviou o olhar da janela e fixou-o de volta em Carter. —


Desculpe?

— Eu disse o que o traz por aqui? — Carter perguntou.

— Eu estava na casa de Kerion e Ellen.

Carter ergueu a sobrancelha. — Para ajudar com as evidências contra


Andrew?

— Ainda há algumas pontas soltas.

— Nada é mais culpado do que pular de uma ponte para evitar a


prisão.

— Eu estava lá em cima com ele, não parecia que ele estava evitando
a prisão, mais perdendo as esperanças. Ele parecia uma alma torturada.

— Bem, você tem que ser um pouco torturado para fazer o que ele
fez com Ellen e Kerion.

— Todo assassino tem um motivo, mesmo que seja apenas porque


eles sentiram o desejo de matar.
Carter ajustou seu aperto no volante. — E que motivo você acha que
Andrew teve?

— Ele achava que Ellen e Kerion eram os responsáveis pelo


desaparecimento de sua filha.

— Mesmo?

— Sim.

Carter arrastou as costas contra o assento, lançando olhares no


espelho. Chad achou que ele parecia nervoso, mas, novamente, Carter
estava sentado em um carro com ele. Seus encontros anteriores foram tudo
menos normais.

— Bem?

— Estamos investigando isso.

— Investigando?

— Merda — Chad sibilou, o carro desviou ligeiramente, mas ele


fingiu que não tinha notado. Carter lançou lhe um olhar de olhos
arregalados.

— O que é isso?

— Eu nem sequer mencionei isso. A operação de Marcy. Parabéns.

Uma risada instável deixou Carter. — Foi um dos dias mais


estressantes como médico, com certeza.

— Tudo funcionou no final. Você é um herói.

— Eu não iria tão longe.


— Não seja modesto.

— É o meu trabalho. — Ele encolheu os ombros. — Fui treinado para


fazer isso, da mesma forma que você foi treinado para pegar assassinos e
pegar Andrew. Tarefa concluída. Caso encerrado.

— Sim, acho que sim. É sempre satisfatório quando obtemos o


resultado que desejamos.

Carter afundou em seu assento, assentindo. — Com certeza. — Ele se


inclinou para frente, olhando para o céu pelo para-brisa. — Estava
começando a achar que nunca mais veria chuva.

Ela batia contra a janela de Chad e apenas a visão dela foi refrescante.
Ele pressionou a testa contra o vidro e suspirou.

— Na hora certa.

— Tem certeza de que está bem?

Chad franziu o rosto com a preocupação de Carter. — Eu estarei


quando estiver em casa.

****

Carter assobiou para a casa. — Você vive aqui?

— É pacífico.

— Há paz e vibrações de assassinos em série.

O bufo de Chad se transformou em uma risada completa. Carter o


encontrou no espelho, rindo também. Ambos ficaram histéricos, mas foi
Carter quem se recuperou primeiro, levantando os óculos para enxugar os
olhos.

— Eu gosto da cabana. Adoraria construir uma para guardar todos


os meus carros - minhas garagens não aguentam mais.

— Quantos você tem?

— Garagens ou carros?

— Ambos.

Carter sorriu. — Quatro garagens duplas, oito carros caríssimos.


Acho que sou viciado.

— Vício e obsessão andam de mãos dadas.

— Então eu admito que estou obcecado. Supercarros são o que eu


vivo.

— Não está salvando vidas?

— Esse é o meu trabalho. Sou o Doutor Carter no trabalho e...

— Clive, o entusiasta de carros em casa.

— Exatamente.

Carter parou ao lado da casa e baixou a janela. Ele inclinou a cabeça


para a esquerda e para a direita, observando a casa. A chuva batia em um
ritmo constante contra o carro, distorcendo o mundo exterior.

— Seu namorado está?

— Namorado?
Carter se retorceu em seu assento. — Aquele que ficou um pouco
ansioso demais com você.

Chad não conseguia ver para onde Carter estava olhando, mas sua
garganta latejava. — Não. Ainda não.

— Você vai conseguir aquela gasolina?

— Sim, desculpe — Chad soltou seu cinto. Ele olhou para a


maçaneta, mas não a puxou. — Enquanto estamos aqui, podemos também
tomar um café.

— Obrigado, Chad, mas foi um longo dia.

— Eu insisto.

— Sério, estou bem.

Chad se inclinou para frente, fixando o olhar nas chaves de Carter


ainda na ignição. Brilhava, fornecendo a ele uma maneira de tirar Carter do
carro.

— É um chaveiro estranho.

Carter pegou suas chaves. — Oh, isso...

Ele desligou o motor e puxou-as para fora para Chad ver.

— Edição limitada porta-chaves Bentley 18k. Apenas cem no mundo,


cada um tem um número de série. — Carter o virou para Chad ver o
número e o código no verso. — Fiz um bom negócio… este e os meus
óculos escuros, apenas $ 4000. Barganha.
Chad estendeu a mão e Carter agarrou suas chaves antes de soltá-las
na palma de Chad. Ele enrolou os dedos em torno delas, a atenção de
Carter não deixou sua mão por um segundo.

— Você pode realmente sentir o peso disso, não é? — Cárter


sussurrou. — Quão raro, quão exclusivo.

Chad sorriu ao acenar com a cabeça e, em seguida, abriu a porta do


carro.

— O que você está fazendo?

— Agora você tem que tomar um café.

A chuva batia nos prados, liberando um cheiro de terra. Chad


respirou fundo em seus pulmões e suspirou enquanto as gotas escorriam
por seu rosto.

Carter soltou o cinto. Ele abriu sua própria porta, correndo ao redor
do capô do carro para chegar até Chad.

— Isso não é engraçado.

Ele estendeu a mão, espalhando os dedos, sacudindo-a para Chad.


Sua sobrancelha se apertou e seus lábios pressionaram em uma linha firme.
Chad não disse nada a ele, ele apertou as chaves em seu punho e caminhou
em direção a cabana.

— Que diabos está fazendo?

— Vamos. — Chad disse por cima do ombro. — Há coisas sobre as


quais precisamos conversar.
— Que coisas?

— Você vai ver.

Ele não se virou de novo, mas ouviu os sapatos de Carter esmagarem


o cascalho. Chad abriu a porta e ouviu o zumbido familiar vindo das luzes.
Carter entrou e fechou a porta atrás de si.

— Você está ficando cada vez mais estranho. — Ele ficou ao nível de
Chad e gesticulou para o espaço enorme. — O que há com a mobília?

— Vício, obsessão. Eu acho.

— Então, eu tenho meus carros e você tem isso. — Carter disse,


deslizando seus óculos de sol em seu cabelo. — Olha, eu tive um longo dia.

— Eu também.

Chad começou a andar por um dos corredores, mas Carter foi rápido
em bloquear seu caminho. — Vamos, chega.

— Você precisa se sentar.

— Não, eu preciso que você me dê minhas chaves.

Chad se moveu ao redor dele e continuou andando.

Carter bufou, seguindo atrás. — Eu tentei ser legal.

— Enganosamente legal.

— Eu não tinha que te levar para casa. Eu não tinha que te ajudar na
beira da estrada naquela noite também.

Chad se virou para encará-lo. — Por que você fez isso?


— Eu disse que estava sendo legal, não tenho sido nada além de
legal com você.

— Por que?

Carter franziu o rosto. — O que diabos você quer dizer por que?

— Foi porque você é uma pessoa boa ou porque você é muito bom
em ser mau?

— Claramente você tem problemas para resolver. Talvez você


precise marcar uma nova consulta com aquela sua terapeuta.

Chad inclinou a cabeça. — Como você sabe que tenho uma


terapeuta?

Carter evitou seus olhos e, em vez disso, enfiou a mão no bolso. Ele
recuperou seu telefone e o sacudiu para Chad.

— Como você sabia? — Chad perguntou novamente.

Carter não respondeu. Ele olhou para o telefone e depois para Chad.
— Último aviso.

— Antes do que?

— Eu chamarei a polícia, pedirei para falar com o seu DI.

— Por que você faria isso?

— Você obviamente pirou.

Chad acenou com a cabeça, movendo-se para trás de uma mesa. Ele
se sentou, olhando para Carter, que ficou boquiaberto, ainda segurando
seu telefone.
— Eu acho que você está certo. — Chad admitiu.

Carter soltou o que parecia 'louco' e bateu com o polegar na tela do


telefone.

— Já que você está nisso, pode contar ao meu DI sobre os corpos na


floresta.

O rosto de Carter afundou, e ele encontrou o olhar de Chad. — O


que?

— Você ouviu o que eu disse. — Chad apontou para a cadeira em


frente à mesa. — Agora, sente-se.
Capítulo Dezenove

Carter não se moveu e o choque em seu rosto não diminuiu. Chad


apertou e relaxou a mão sob a mesa, rezando para não ter cometido um
grande erro. A chuva batia com mais força no telhado da cabana, abafando
o zumbido das luzes.

— Corpos... do que diabos você está falando?

— Aquela base militar. Dei uma olhada.

Carter se afastou, lançando olhares acusadores para todos os móveis.


— Eu não tenho ideia do que você está falando. Não conheço nenhuma
base militar.

— Você dirige seus carros esportivos ao longo da estrada ao lado


dela e às vezes você entra. Você estaciona atrás daquele prédio de tijolos
nas árvores.

— Não tenho absolutamente nenhuma ideia do que você está


falando. — Carter ergueu a sobrancelha para Chad e quando ele não
respondeu, ele bufou, pressionando o telefone no ouvido.

— Você enlouqueceu. Você precisa de ajuda.

O estômago de Chad deu uma cambalhota. — Há marcas de pneus


na estrada.

— Marcas de pneus?
— Tem estado muito quente ultimamente, mas meses atrás não
parava de chover. Há marcas de pneus atrás do portão e ao lado do prédio.

— Isso não significa que eu estive lá. — Carter olhou ao redor do


prédio novamente. — Elas podem ser do carro de qualquer pessoa.

— Elas podem ser, mas também podem combinar com marca de


pneus do seu Jaguar.

— Você não sabe nada sobre pneus ou carros.

— Não muito, mas sou um detetive. Eu juntei as evidências.

— Você perderá seu emprego por isso.

Carter balançou nos calcanhares, mantendo o telefone pressionado


contra o ouvido.

— Nós dois sabemos que você não está ligando para ninguém agora.

— Eu provavelmente não preciso. — Ele deu um passo para o lado


ao longo do corredor e olhou para trás de um dos armários. — Certamente
todos os seus amigos detetives estão aqui, prontos para me emboscar, e
assim que eles saírem do esconderijo, podemos resolver isso e espero um
pedido de desculpas de todos vocês...

— Não há detetives ou polícia aqui, além de mim.

Carter abaixou o telefone. — Você espera que eu acredite nisso?

— É a verdade. Eu só preciso que você admita.

— Não estou admitindo nada. Eu não fiz nada.


— Me convença de que você não fez isso. Convença-me que estou
errado.

— Não é assim que funciona — disse Carter, marchando de volta


para a mesa. Ele apoiou as mãos no topo e se inclinou, invadindo o espaço
de Chad. — Inocente até que se prove a culpa.

— E acho que tenho provas...

— Algumas marcas de pneu em uma estrada.

Chad balançou a cabeça. — Não apenas isso.

Carter se afastou da mesa. Ele zombou antes de se abaixar, checando


embaixo da mesa.

— O que você está fazendo?

— Se o seu sargento e DI não estão aqui, você deve estar gravando


isso. Eles devem estar ouvindo. Eu sou malditamente inocente!

Ele foi até o armário mais próximo e abriu-o antes de puxar as


gavetas do aparador ao lado. — O que diabos é essa mobília?

— Todos nós temos nossos segredos.

— Eu não.

— Eu não estou gravando você. Ninguém sabe que você está aqui.
Ninguém suspeita de qualquer irregularidade.

— Porque eu não matei ninguém. Eu não sou um assassino. Eu sou


um médico.
— Eu nunca mencionei assassinato. Tudo que mencionei foram
corpos na floresta.

— Você deu a entender que tenho algo a ver com eles.

Chad gesticulou para o assento na frente da mesa. — Por favor.

— Dê-me minhas chaves.

— Não até nós conversarmos.

Carter voltou para a mesa, arrastou a cadeira e sentou-se. Ele


balançou a cabeça, sem olhar para Chad.

— Há quanto tempo você conhece Kerion e Ellen?

— Eu disse que não os conhecia. Eles moravam na mesma rua que


eu, mas eu não os conhecia.

— Dois entusiastas de carros e você nunca disse mais do que um alô


de vizinhança?

— Não. Eu estava ocupado... ser médico leva muito tempo. Muita


dedicação.

— Médico em tempo parcial.

— Com licença?

— Você trabalha três dias por semana. Eu vi a programação na


parede do escritório...

— E daí?
— Só estou dizendo que você teve tempo para dizer mais do que um
alô.

— Eu mal os vi. — Carter bufou. — E se essa é a sua suposta


evidência...

— Quando te encontrei na estrada...

— Quando você quase me matou.

Chad engoliu em seco. — Sim. Quando quase bati em você. Eu podia


sentir o cheiro de fumaça em você, fumaça e alvejante.

— Eu trabalho em um hospital e gosto da minha dose de nicotina.

— Você não cheira a fumaça agora, e não cheira a água sanitária.


Você terminou às 5:00, certo? Não fumou no caminho para casa para aliviar
você de seu dia estressante?

— Não estava com vontade.

— Você tem cigarros com você? No seu carro.

Carter ergueu o queixo. — Em casa. Você não tem nada.

— Você cheirava a fumaça de fogo e quando verifiquei a floresta


encontrei cinzas. O prédio tinha sido alvejado e limpo. Você cheirava a esse
alvejante. Você agiu de forma suspeita...

— Eu estava agindo de forma suspeita? — Carter riu. — E você,


detetive? Explorando o campo descalço. Quase incapaz de ficar parado. Eu
podia sentir o cheiro de álcool em seu hálito, você me ameaçou para ficar
quieto.
— O que?

— Você não tem nenhuma evidência real, e se vier atrás de mim, eu


o derrubarei, e em quem as pessoas acreditarão, um médico heroico ou um
detetive decaído?

— Eu não decaí.

— Você está agarrado pelas suas unhas. Que tipo de detetive se


diverte sendo estrangulado? Que tipo de homem precisa ver uma terapeuta
como condição para voltar a trabalhar?

Chad baixou o olhar e o ar foi expulso de seu pulmão com as


palavras de Carter.

— Todos eles sabem que você está rachando, mal conseguindo se


controlar. Seu sargento implorou a todos nós para mantermos silêncio
sobre você irromper na sala de cirurgia. Você está sob muito estresse,
tentando o seu melhor, você teve alguns anos difíceis, mas eu podia ver nos
olhos dela, ela sabe que você é irrecuperável. Você está quebrado além do
reparo.

Chad não conseguia tirar os olhos da mesa. As palavras de Carter


giraram em sua cabeça.

— Se você perseguir isso, ninguém vai acreditar em você.

Chad mordeu o lábio, balançando a cabeça. — É por isso que não


estou perseguindo isso. Não vou contar ao meu DI sobre minhas suspeitas.
Não vou pressionar para que você seja preso, acusado ou trancado.

— Então por que se preocupar?


— Preciso saber se meu pressentimento está certo.

— Seu pressentimento?

— Não vai se sustentar no tribunal. Nem a minha declaração de vê-


lo naquela noite. Minha evidência é baseada no cheiro - seria motivo de
riso fora do tribunal - mas eu preciso saber. — Os olhos de Chad
queimaram e ele piscou para conter as lágrimas antes de lançar um olhar
suplicante para Carter. — Então, estou pedindo a você para ajudar este
homem quebrado, este ser irrecuperável, e colocá-lo fora de sua miséria.
Admita para eu ouvir. Só uma vez. Não vou contar a ninguém, juro.

Carter balançou a cabeça.

— Por favor. — Chad disse, franzindo a testa. — Você não pode ver
que estou sofrendo.

Seus olhos estavam úmidos, embaçando Carter. — Eu preciso disso.


Você é um médico. Você deveria ajudar as pessoas com dor.

Carter lambeu os lábios antes de colocar as mãos embaixo da cadeira.


Ele se inclinou para verificar embaixo de sua cadeira antes de vasculhar os
armários de cada lado da mesa.

— Onde está o seu telefone?

Chad enfiou a mão no bolso para pegá-lo e deslizou sobre a mesa.


Carter bufou antes de pegar algo no chão. Ele balançou um martelo que
Chad não tinha percebido que estava lá e quebrou o telefone em pedaços.
Carter tirou o telefone da mesa e ele bateu no chão.

— Não há equipamento de gravação.


— É o que você diz. — Carter sentou-se, largando o martelo na mesa.
— Você vai me devolver minhas chaves se eu disser.

— Sim.

— O que você quer que eu diga?

— Que você é responsável pelos corpos na floresta.

— Bem. Eu sou responsável. — Ele estendeu as mãos para pegar as


chaves. — Dito sob coação por um detetive lunático.

— Não estou tentando enganar você. Eu só preciso ouvir. Eu


sequestrei você, eu prendi você aqui. O que quer que você diga agora não
seria suficiente para condená-lo de qualquer maneira, não sem evidências
sólidas.

— Que você não tem.

— Quantos corpos estão na floresta?

O olhar de Carter percorreu o rosto de Chad para cima e para baixo.


Ele suspirou pelo nariz. — Não sei...

Chad fechou os olhos com força, caindo para frente. — Por favor, isso
não vai além de nós.

— Eu quis dizer não sei quantos. Eu não os contei.

Chad abriu os olhos. Carter não estava olhando para ele, mas sim
para o lado. Ele cruzou os braços e suspirou. — Pronto... isso é o suficiente
agora?

— Eu quero saber por que?


— Vamos, Chad, você me trouxe aqui, você deve pelo menos ter
pensado em um motivo.

Chad mordeu o lábio. — Você é conhecido por seus transplantes. Sua


taxa de sucesso supera qualquer outro médico no país.

— Obrigado.

— Você também é obcecado por carros, não apenas por carros


esportivos, mas por edições limitadas. Você tem um Bugatti...

— Alguém está fazendo pesquisas.

— Existem apenas quatro desse modelo no mundo.

— Três, na verdade. Um idiota bateu o dele, mas não espero que


você saiba disso.

— Uma obsessão cara, especialmente depois do terrível divórcio pelo


qual você passou. Você teve que vender parte de sua coleção preciosa para
pagar as taxas.

— Você tem estado ocupado, não é?

— Então, em termos de motivação, eu diria que você deve estar se


beneficiando financeiramente com essas pessoas na floresta. Eu diria que
não é tráfico de pessoas, mas de órgãos.

Carter abriu a boca, mas fechou-a e acenou com a cabeça em vez


disso.

Chad soltou a respiração com pressa.


— Aqui está o que eu acho que estava acontecendo. Ellen e Kerion
fizeram amizade com pessoas online, principalmente meninas. Eles as
sequestraram, drogaram e trouxeram para você. Você as matou, pegou o
que precisava e depois as enterrou na floresta.

— Kerion levaria os órgãos para onde eles precisassem ir.

— Armazenando-os na caixa de sua motocicleta.

— E assim que as mercadorias foram entregues e eu recebi meu


dinheiro, dei a Ellen e Kerion sua parte. É um grande negócio. Os órgãos
estão sempre em alta demanda e há pessoas que estão dispostas a pagar a
terra por uma chance de salvar seus entes queridos.

— Marcy não se qualificou para o seu serviço extra?

— Os pais dela não podem pagar um sanduíche, muito menos rins


de origem ilegal.

— Quantas pessoas estão na floresta?

— Pelo menos quarenta.

O queixo de Chad caiu. — Quarenta? Como você conseguiu tantos


em seis anos?

Carter soltou uma risada. — Você acha que eu só faço isso há seis
anos? Refinei com Ellen e Kerion, éramos muito mais eficientes, mas tenho
feito isso por muito mais tempo do que seis anos.

— Quanto tempo?
— Sempre adorei carros raros, mesmo como médico iniciante. Como
qualquer coisa, foi uma curva de aprendizado. Fiquei melhor nisso,
aprendi no trabalho.

— O que você quer dizer?

— Quando comecei isso, me concentrei nos vulneráveis. Eles não


pestanejaram sobre entrar no carro com um completo estranho. Ofereci-
lhes comida, ou brinquedos ou doces, e eles ficaram fora de si de tanta
empolgação. Seus pais drogados não davam a mínima para eles, os
deixavam vagando pelas ruas. Eles não se importavam se voltavam para
casa ou não... alguns nem mesmo relataram o desaparecimento de seus
filhos. — Carter estalou a língua, sorrindo para Chad. — Eu fui atrás de
crianças como você. Eu as peguei e ninguém se importou, porque ninguém
se preocupa com crianças como você. Você é uma mancha suja na
sociedade que todo mundo prefere que seja apagada, sem fazer perguntas.

— Por que você não continuou assim? — Chad cerrou os dentes. —


Por que você não continuou limpando nossas manchas?

— Porque essas crianças sujas tinham pequenos corpos sujos e


pequenos órgãos fracos. Elas foram quebradas por completo, e não servem
para ninguém. Eu precisava de melhores corpos, melhores órgãos, e Ellen e
Kerion os atraíram com seus estilos de vida saudáveis e regimes de
condicionamento físico. Assim que o corpo perfeito foi encontrado, Ellen
pedia que se encontrassem, e o resto você pode adivinhar.

— Andrew inventou Nina...


— Sim, ela teria sido perfeita.

— Mas ela não era real. Ele jogou Ellen em seu próprio jogo doentio.

— Nós nunca saberemos o que ela disse a ele antes que ele a matasse.
Se ela deu meu nome ou não, se ele sabia...

— Ele sabia, ele estava esperando por você no dia em que saltou da
ponte. Se não tivéssemos aparecido...

— Então foi um bom trabalho você persegui-lo até a borda, não é?


Caso contrário, podia não estar aqui agora, satisfazendo sua intuição, e a
verdade é satisfatória, Chad?

— Não realmente.

— Por que? Porque você sabe que não pode fazer nada com isso. Eu
negaria tudo.

— Eu poderia contar ao meu DI sobre a floresta...

— O que eu direi que não tem nada a ver comigo, e se você me


acusar, eu te arruinaria. Eu diria que você estava embriagado no dia em
que quase se chocou contra mim. Eu diria que você estava delirando,
esbravejando de pijama, sem sapatos nos pés. Eu diria que você irrompeu
em uma sala de cirurgia, aterrorizando minhas enfermeiras. Eu diria que
seu namorado o estrangulou com o seu consentimento e é por isso que
você tem hematomas na garganta. Quem colocaria sua confiança em você?

— Ninguém. — Chad sussurrou.


— Exatamente, mas as pessoas confiam em mim todos os dias.
Doutor Carter. Um herói. O país inteiro sabe sobre sua mãe negligente.
Você não tem ideia de qual cliente dela era seu pai. Ninguém na escola
gostava de você, seus professores o rotularam de criança problemática.

— Eu trabalhei meu caminho desde aquele começo.

— E foi capturado por um assassino. Um assassino que você


continuou a visitar. Um assassino pelo qual você era obcecado, tanto que
quando alguém se inspirou nele e em sua farra, todos suspeitaram de você.

— A verdade saiu no final. Todo mundo sabe agora que não fui eu.
Eu não estava seguindo os passos de Romeo. Holly Stevenson tinha uma
vingança.

— Não importa se ela tinha, está tudo lá fora. Ela desenterrou tudo e
mostrou a todos os seus esqueletos, e não importa o que você faça, nunca
será capaz de enterrá-los novamente. Que tipo de detetive você é para ser
levado por dois assassinos em série diferentes?

— Eu deveria ter sabido melhor com Marc, eu não deveria ter ido...

— Sim, você deveria. Você deveria saber, deveria ter tomado


cuidado ou, se você ficou chateado por perder o primeiro, pensou que
gostaria de outro?

— Marc não era nada como Romeo.

— Ele drogou você dia após dia e gravou números em sua carne.
A pele de Chad formigou. Doíam como se tivessem sido cortados
recentemente, e ele olhou para a camisa, esperando ver sangue manchando
o tecido.

— Mas não foi só isso que ele fez...

— O que você está falando?

— Eu li seu arquivo.

— Você leu meu...

Uma respiração instável o deixou em vez de mais palavras. Ele olhou


além de Carter para Romeo, não mais se escondendo, mas encostado em
uma cama de beliche dez metros atrás de Carter. Seus olhos estavam fixos
na nuca de Carter, e ele contraiu os dedos ao lado do corpo.

— Sim, eu li. Você desabou e disse a um dos médicos.

— Cale-se. — Chad respirou. Ele deslizou as mãos sobre as orelhas e


balançou a cabeça. Quando ele olhou para Romeo, ele não estava mais
concentrado em Carter, mas em observar Chad.

— Não diga isso.

Ele não queria que fosse exposto, não queria que fosse usado contra
ele. Ele não queria que Romeo soubesse.

Chad estendeu a mão para o martelo e o ergueu. Carter riu,


balançando a cabeça.

— Você não tem isso em você.

O martelo dobrou - triplicou de peso.


— Você é fraco e patético.

— Cale-se.

Carter sorriu. O azul em seus olhos cintilou. — E eu sei o seu segredo.

— Eu juro se você disser...

— Você não fará nada, assim como você não fez nada quando Marc
teve você.

Um arrepio percorreu Chad. Ele largou o martelo, mas não o ouviu


bater na mesa. Ele pressionou as mãos sobre os ouvidos, mas se concentrou
nos lábios de Carter.

— Ele se forçou em você... em você. E você não poderia fazer nada


para impedi-lo.

O ar deixou Chad em uma respiração. Seu diafragma teve um


espasmo, seus pulmões queimaram e o branco brilhante da dor dissolveu o
mundo ao seu redor até que ele ficou apenas com Marc Wilson. A
iminência, o sorriso selvagem, o cheiro de seu hálito acima do próprio
sangue e suor de Chad. O peso de seu corpo, o empurrão de seus quadris e
a agonia profunda.

Um som cru escapou de sua garganta, e ele enrolou os dedos na


lateral da cabeça, balançando para frente. O branco brilhante da dor
desapareceu até que Chad só viu a escuridão. Sangrava dentro dele, o
possuía. Ele caiu da corda bamba, incapaz de chegar ao outro lado, mas
não atingiu o chão e se quebrou além de qualquer reparo como ele
imaginou. A escuridão era suave e difusa e o protegeu da queda. Foi alívio
e poder, e abandonar o medo.

Marc Wilson estava morto.

Romeo e o monstro o salvaram, mas era mais do que isso.

Ele ajudou.

Mesmo em seu estado mais desamparado, Chad foi capaz de ajudar a


si mesmo. Ele atacou Marc e salvou Romeo. Ele viu quando a vida de Marc
foi extinta, qualquer luz que ele tinha em seu corpo cruel o deixando para
sempre, e ele tinha gostado de vê-lo morrer. Foi bom ver Romeo usar sua
escuridão e liberar seu lado monstruoso em alguém que merecia.

A escuridão não era tão ruim.

Ele respirou fundo e exalou lentamente antes de abrir os olhos e tirar


as mãos do ouvido. Os olhos de Romeo estavam arregalados e sua boca
pendeu mole com a revelação de Marc, mas Chad voltou sua atenção para
Carter, que estava sentado em sua cadeira com um grande sorriso no
rosto.

— São dois assassinos que mexeram com você e eu sou o terceiro.


Juntos, quebramos cada parte de você.

— Eu tenho números cortados em minha carne e um invisível


queimando meu coração. Eu fui ferido, usado e envergonhado, e fui
destruído. Nenhum de vocês me quebrou, eu já estava quebrado. — Chad
esticou o pescoço e fez um grunhido no rosto. — Mas eu quebrei todos
vocês. Todos vocês me subestimaram. Romeo não esperava que eu
incendiasse aquele celeiro. Marc não esperava que eu o atacasse no quarto,
e você... você subestimou o perigo em que está agora.

— Perigo... você não é nenhum perigo para mim. — Ele empurrou o


martelo e riu.

— Não. Eu não sou, mas ele é.

Chad olhou para Romeo e os olhos de Carter o seguiram. Ele saltou


da cadeira e ela caiu no chão.

— Que porra é essa... — ele virou a cabeça de volta para Chad. — O


que diabos está acontecendo?

— Esse é meu namorado. Aquele que ficou um pouco pesado


comigo, mas o que você espera quando ele tem uma compulsão - um vício,
e ele é incapaz de satisfazê-lo.

— Ele está morto... você está morto.

Romeo grunhiu, dando um passo à frente. — Estou me sentindo


muito vivo agora. Furioso, mas vivo.

— O que é que você quer? — Carter disse, recuando.

— Quero? — Chad suspirou. — Eu só quero ser feliz, e não posso


ser, a menos que meu namorado também seja... todo ele.

Romeo se aproximou, bloqueando a saída de Carter. Ele olhou para


Chad, que acenou com a cabeça, dando-lhe um sorriso fraco. A dor no
peito tinha se transformado em alfinetes e agulhas, e as lágrimas quentes
que escapavam de seus olhos não eram mais de desespero, mas de alívio.
Romeo voltou sua atenção para Carter. — Por que o médico assassino
estava tão zangado?

A boca de Carter se abriu e fechou. Ele olhou para Chad, então para
Romeo novamente.

— Eu... o que está acontecendo aqui?

Romeo franziu o rosto e resmungou. — Não é assim que as piadas


funcionam...

— Não sei. — Chad disse. Sua voz vacilou, mas quando olhou para
Romeo sua força voltou. — Por que o médico assassino estava tão
zangado?

— Porque ele ficou sem pacientes.

Quando ele chegou perto o suficiente, Chad percebeu a umidade em


seus olhos, a tristeza puxando sua testa. Ele hesitou perto da mesa,
contraindo os dedos, meio acenando para Chad ir para ele, mas Chad
balançou a cabeça. Não era hora de Romeo e Chad, era hora do detetive e
do monstro.

— Estou bem. — disse ele. — Mas vou me sentir ainda melhor


quando ele morrer.

Carter guinchou, pressionando contra a parede da cabana. — Você


quer dinheiro?

— Temos dinheiro. — Chad disse.

— Tudo o que você precisar, eu pego para você.


— O que precisamos é de vermes para matar e você se encaixa
perfeitamente.

— Não. — Carter balbuciou, acenando com as mãos na frente de si


mesmo. — Você não tem que fazer isso.

— Eu sei. — Chad bufou. — Mas eu quero que ele faça.

Romeo inclinou a cabeça na direção de Chad. — Você vai me deixar?

— Estou deixando você.

— Eu quero ouvir você dizer isso.

Chad olhou profundamente nos olhos de Romeo, encontrando o


monstro. Ele sorriu, e ao invés de medo, um calor fluiu por ele.

Foi uma sensação boa.

— Mate ele…
Capítulo Vinte

A chuva batia no telhado, o rugido do trovão lá fora vibrou no peito


de Chad, e ele prendeu a respiração enquanto Romeo perseguia Carter.

Este era um tigre em toda a sua beleza.

Romeo perseguiu Carter pela cabana enquanto ele implorava e


implorava. Não fez diferença para Romeo, e Chad pensou que sua
consciência poderia gritar com ele, gritar com ele para parar a loucura, mas
seu protesto não foi nada além de um sussurro, e quando Romeo agarrou
Carter, ela ficou em silêncio. Ele morreu e ele respirou fundo, a primeira
sem uma dor em sua mente. A primeira respiração livre em meses,
possivelmente anos.

Chad foi abençoado com a visão do rosto de Romeo, rosnando,


coberto por uma camada de suor. A raiva nele estalou, o verde em suas íris
se perdeu completamente e ele não piscou. Ele arregalou os olhos, vendo
Carter lutando para respirar, bebendo sua morte.

Chad não conseguia ver as mãos de Romeo, mas seus braços


incharam, a veia que corria do cotovelo até o bíceps se projetou e o
estômago de Chad formigou de luxúria. Chad não engoliu mais de
nervosismo - sua boca encheu de água ao ver Romeo em seu elemento.

O assassinato não deveria parecer erótico, não deveria excitar a


barriga de Chad, ou derramar calor em suas veias, mas parecia, apressando
seus sentidos até que certo ou errado não importava mais. Havia apenas
Romeo e o monstro, e juntos sua beleza brutal.

O cabelo suado de Romeo esvoaçou, o suor brilhava em sua testa.


Havia suor em seu arco de cupido, como se ele o tivesse colocado ali com o
propósito de chamar a atenção para seus lábios.

O coração de Chad batia forte, ele lutou para manter a respiração e


segurou-se na mesa.

O rosnado de Romeo suavizou, seus lábios e sobrancelhas relaxaram,


mas Chad fez o oposto. Ele não conseguia relaxar, a adrenalina subiu por
ele.

Romeo estremeceu, como se a morte de Carter em suas mãos tivesse


sido um clímax, que o enfraqueceu até que ele cambaleou, ofegando por
oxigênio.

Carter gaguejou, estremeceu e então caiu nas mãos de Romeo. Ele se


foi, sua vida se extinguiu e nem um grama de tristeza se apresentou.

Romeo ergueu o olhar do flácido Carter em seu aperto, mas onde


Chad esperava ver Romeo emergindo de sua alta assassina, o monstro
permaneceu, olhando para Chad. A cabana balançou com um estrondo de
trovão assustando Chad. Romeo não reagiu, ele soltou Carter, que caiu no
chão, e passou por cima de seu corpo, indo na direção de Chad.

— Romeo? — Chad sussurrou.

Não era Romeo, não inteiramente, e as entranhas de Chad se


retorceram em nós. A maneira como ele perseguia, rígido e focado, era
exatamente a mesma que ele tinha feito para Carter. Chad esperou que sua
expressão se suavizasse, para que a euforia o tomasse completamente como
aconteceu com Marc, mas isso não aconteceu. Romeo ainda estava perdido
na névoa, e não havia carinho em seu brilho de pressão.

O céu retumbou, sacudindo o chão, e quando diminuiu, e o


tamborilar da chuva assumiu, Chad estremeceu com os olhos de Romeo
ainda nele, perfurando-o do outro lado da sala.

As luzes foram apagadas e a cabana foi mergulhada na escuridão


completa. Chad cambaleou para trás, batendo na mesa atrás. Ela raspou no
chão, e o som fez o coração de Chad desabafar, gritando o perigo mais uma
vez.

Perigo, perigo, perigo.

A chuva caía no telhado, sua respiração tremia enquanto elas


entravam e saíam e ele tentava localizar qualquer barulho de Romeo na
escuridão. Ele estava sozinho com o monstro, o monstro que o queria
morto apenas uma semana antes. O monstro que naquele mesmo prédio
quase o matou.

A tempestade lá fora resmungou no céu, um ruído baixo e profundo


que silenciou momentaneamente a sala.

O pescoço de Chad latejava, ele agarrou o hematoma e deu um passo


ao longo do corredor, chegando mais perto da única fonte de luz sob a
porta. O primeiro passo próximo o fez ofegar, e o segundo socou o ar de
seus pulmões.
O monstro estava se aproximando, procurando por ele, e onde estava
calmo, Chad estava ofegante, tropeçando e se entregando. Ele estava indo
em direção à porta e o monstro o estava flanqueando, perseguindo-o, assim
como fizera com Carter.

Romeo poderia ter pegado ele facilmente, mas ele se conteve,


chegando mais perto, mas não correndo para Chad. Ele não estava com
pressa de matar como estava com Carter.

Chad sabia que poderia abrir a porta, deixar Romeo na escuridão e


correr, mas não tinha para onde ir e nenhum desejo de sair. Ele lambeu os
lábios, franzindo a testa com a outra opção. Ele poderia lutar contra o
monstro, lutar por sua vida, mas ele tentou e falhou da última vez.

Ele não iria lutar com ele, e ele não iria embora, em vez disso, ele se
colocou nas mãos assassinas de Romeo.

Chad soltou a maçaneta da porta e se virou, sentindo Romeo perto


dele. Ele fez sua escolha, ele ficaria lá, não importava o que pudesse
acontecer.

Um segundo se passou, seguido por outro, e o corpo áspero de Chad


desacelerou com aceitação. O trovão do lado de fora bloqueou todos os
outros sons, e suas vibrações sacudiram a porta atrás de Chad.

O calor de Romeo se aproximou, Chad respirou o cheiro dele, mas


não ousou alcançar ou falar. Ele fechou os olhos e esperou uma eternidade
para que Romeo se movesse, e quando o golpe veio, ele assustou Chad, e
ele pulou, abrindo a boca para seu último gole de oxigênio.
Romeo agarrou o queixo de Chad com força e apertou seus lábios
juntos enquanto achatava Chad para a porta. Seu peito esmagou o ar dos
pulmões de Chad, e sua boca sufocou até que Chad enfraqueceu e deslizou
parte do caminho para baixo da porta.

Ele grunhiu, entrelaçando as línguas com Romeo.

Dedos agarraram seu rosto, embalaram sua cabeça, deslizaram em


seu cabelo. Eles estavam em todos os lugares ao mesmo tempo, nunca
parados, mas frenéticos, movendo-se pelo rosto de Chad, inclinando-o para
cima, para baixo, de um lado para o outro, para que Romeo pudesse beijar
tudo antes de retornar para sua boca que esperava.

A necessidade desleixada desse beijo o fez gemer em Romeo, e ele


pressionou de volta com tanta força que seus lábios entorpeceram,
registrando apenas a umidade e o calor da boca de Romeo. Não era típico
de Romeo estar tão fora de controle, tão bagunçado com seus movimentos
e o efeito que isso tinha em Chad era elétrico. Ele sorriu para os beijos,
perseguindo a boca de Romeo com a sua. Quando ele agarrou a nuca de
Romeo e o puxou para mais perto, Romeo gemeu em torno de sua língua.

Romeo aliviou seu ataque e, em vez disso, beijou as palavras


obrigado em todo o rosto de Chad. Ele puxou-o de volta para cima da
porta e começou no pescoço de Chad, repetindo as mesmas palavras, às
vezes com admiração suave, e às vezes com um rosnado e dentes afiados.
Ele passou as mãos pelo lado do rosto de Chad, acalmando as marcas das
unhas que o desespero de Chad havia empurrado em sua pele.
Chad absorveu toda a atenção, esticando o pescoço para que Romeo o
acariciasse com os lábios e a língua. Ele deixou cair os braços ao lado do
corpo, moveu-se, agarrando-se à única coisa disponível, e a porta se abriu.

Ele caiu para trás, mas Romeo o segurou bem a tempo e puxou Chad
contra seu peito. Seus olhos ainda estavam negros como a noite, e tão
intensos como quando ele matou Carter, mas seus lábios se moveram em
um sorriso e Chad sorriu de volta.

Chad respirou o cheiro de chuva na terra ressecada, como alívio, e


seus olhos se fecharam com os seus. Algo cedeu dentro dele, quebrou além
do reparo, mas não doeu, ou o aterrorizou. Foi um despertar.

— Eu me sinto vivo.

Romeo deu uma risadinha. — Eu também...

— Como isso pode me fazer sentir vivo?

— É melhor não questionar, apenas deixar ir e aceitar.

Chad acenou com a cabeça - ele deixou, ele aceitou.

Isso não o assustou, era quase maravilhoso, sobrenatural, semelhante


a um deus.

— Como está o monstro?

Romeo lambeu os lábios. — Bom, muito bom, exceto...

— Exceto?

— Ele quer que eu arranque suas roupas.


Romeo riu enquanto se abaixava, beijando Chad no nariz antes de
sua bochecha e, em seguida, em seus lábios. Ele foi levado de costas para a
chuva até que escorreu pelo rosto, encharcando o cabelo na altura da
cabeça. Ele continuou marchando Chad para longe da cabana até que ele
bateu em algo duro e frio.

Ele olhou de volta para o carro reluzente de Carter, mesmo na chuva


ele cintilava. Chad se baseou no motivo de Carter, seus preciosos carros
feitos de metal frio, que valiam mais do que sangue quente e ossos.

Romeo deslizou seus lábios pelo pescoço de Chad, encontrando sua


orelha. — Meu detetive maldito.

Chad pressionou sua bochecha contra a de Romeo. — Contanto que


eu esteja amaldiçoado com você.

— Todos nós.

Ele rosnou as palavras em sincronia com o céu, e Chad sorriu,


roçando seu rosto contra o de Romeo, suspirando com o frio da chuva e o
calor da pele de Romeo.

Refrescante e sufocante ao mesmo tempo.

Chad beliscou o lóbulo da orelha de Romeo antes de sussurrar: —


Meu monstro.

Romeo estremeceu, assentindo.

Seus dedos agarraram o topo da calça de Chad, desfazendo-a, e


quando uma mão quente deslizou para dentro e agarrou seu pênis, ele
gritou no pescoço de Romeo. Ele puxou o pau de Chad, enquanto beijava o
lado de seu rosto. A mesma ansiedade excessiva que deixou uma umidade
quente em seu rosto foi lavada com a mesma rapidez pela chuva.

Romeo o trabalhou rápido, tão frenético quanto o beijo deles, e Chad


podia sentir o quão molhado ele estava ficando, toda a sua excitação sendo
arrancada dele pela mão esfregando de Romeo.

Romeo beijou as palavras obrigado por todo o rosto de Chad, o tom


estridente de seu tom fez seu estômago embrulhar. Ele girou fora de
controle, agarrando-se, mas Romeo estava pior. Romeo ofegou e agarrou
Chad como um homem se afogando desesperado para ser salvo.

Romeo caiu de joelhos, agarrando as calças de Chad. Ele olhou para


Romeo, encharcado de chuva e suor. Seus olhos brilharam e sua testa se
contraiu uma fração enquanto ele lutava com as roupas de Chad. Um
suspiro quente roçou a parte superior da coxa de Chad uma vez que suas
calças foram retiradas, e a agitação no rosto de Romeo diminuiu enquanto
ele lambia um caminho do joelho de Chad até sua virilha.

Seu pênis balançou. Assistir Romeo matar o encheu de um desejo que


ele não conseguia explicar, e nem mesmo o medo da morte poderia
diminuí-lo.

Romeo o prendeu pelos quadris. O calor de sua boca envolveu Chad


e ele chupou, sem se preocupar com provocações, ele levou Chad direto ao
seu limite, forçando-o a se segurar. Suas mãos escorregaram no carro, até
que ele desistiu e caiu para trás, olhando para o céu com a boca aberta para
a chuva.
Romeo deslizou a mão por baixo da camisa molhada de Chad e
arrastou as unhas para baixo em todos os números, fazendo Chad sibilar e
se contorcer. Ele reacendeu a todos com uma nova queimadura, mas bem-
vinda. Seu prazer e sua dor eram ambos dominados por Romeo.

Não foi tão ruim cair quando Romeo estava lá para pegá-lo e ele
abandonou suas reservas.

Ele se inclinou enquanto todos os músculos de seu corpo se


contraíam. Seu gemido, áspero no início, suavizou com cada liberação de
seu pênis. Romeo cantarolou através do orgasmo de Chad, sem engolir
uma gota, ele segurou o esperma de Chad em sua boca, em seguida,
levantou-se.

Ele prendeu Chad no carro com uma mão e desfez o fecho da calça
com a outra. Seus olhos encontraram os de Chad e ele acenou em
encorajamento. Romeo puxou suas calças para baixo e colocou o esperma
de Chad em sua mão. Ele ofegou, lambeu os lábios e alcançou entre as
pernas de Chad.

Ele engasgou quando os dedos de Romeo o abriram. Seu esperma,


ainda quente, outra sensação para adicionar ao frio da chuva e a
queimadura em seu peito. Os suspiros ásperos de Romeo soaram como o
vento assobiando, a respiração instável de um homem se segurando, e
Chad não queria que ele se segurasse, Chad queria que ele caísse como ele
havia caído.

— Eu preciso de você.
Romeo lambeu os lábios, posicionando-se. Chad balançou os quadris
para fora do carro, seduzindo Romeo a simplesmente empurrar e fode-lo
na chuva, no meio da tempestade, na vastidão do cinza.

Romeo empurrou para frente, franzindo o rosto como se estivesse


sofrendo com a penetração. Seus músculos se contraíram quando ele
deslizou para casa, seu pescoço apertou, sua mandíbula se contraiu, e
quando ele encheu Chad completamente, ele desfez todo o seu aperto. Ele
jogou a cabeça para trás, segurando os quadris de Chad, acariciando os
ossos afiados com os polegares enquanto ofegava para o céu.

Chad puxou os botões de sua camisa antes de desistir e abri-la. As


unhas de Romeo não romperam a pele, mas deixaram marcas ao longo do
torso de Chad. Elas esbarraram em suas cicatrizes, rosa e cruas e
lindamente de Romeo.

Romeo observou sua obra, seguindo os arranhões com os olhos até


encontrar a seção não marcada sobre o coração de Chad. Ele se abaixou e
beijou o remendo e Chad sentiu através de seu corpo. Um beijo que tocou
seu coração como ninguém, ninguém mais poderia. A marca queimou com
tanta força que ele sabia que nunca seria apagada, não importava o que
acontecesse.

— Foda-me. — Chad gemeu, empurrando seus quadris, esfregando


o pênis de Romeo em suas entranhas. Romeo grunhiu, mordendo o lábio
até que o sangue manchou seus dentes. Chad continuou movendo seus
quadris, empurrando seu corpo sobre Romeo tanto quanto podia.
Romeo retirou-se e bateu de volta. Ele empurrou fundo e rápido,
balançando a suspensão do carro. Os olhos de Chad se fecharam e ele
ouviu sua respiração áspera, o tapa da carne e a confusão de dois corpos
trabalhando por um objetivo. A mão de Romeo encontrou sua garganta,
aplicando pressão nos hematomas.

Chad não provou a morte, ele provou a vida, e sorriu enquanto sua
tontura entorpecia seu corpo, exceto por sua próstata danificada e seu
pênis desesperado. A sensação se intensificou e Chad ficou inerte no capô
do carro de Carter, levando uma surra de Romeo. O risco, a submissão,
tudo fez seu coração palpitar mais rápido. Ele podia sentir o sangue
correndo em seu pênis, enchendo sua ereção ao máximo, tornando-a rígida
e formigando, até que era demais, ele estava apertando e gozando antes
que pudesse conscientemente alcançá-lo.

Seu orgasmo bateu nele, e ele zonou para a luz branca acima, o
relâmpago que encheu o céu que parecia nunca ir embora.

Tudo desacelerou, o tempo saltou e o som chegou até ele todo


distorcido. Romeo saiu de seu corpo e caiu sobre seu peito. O peso dele não
esmagou, mas sufocou da melhor maneira. Seu hálito quente fazia cócegas,
mas o som de sua respiração ofegante não combinava. O som da chuva não
combinava com ela batendo na pele de Chad ou no carro, ele observou
enquanto ela caía, batendo silenciosamente antes que o som viesse depois,
fora do tempo, errado, mas hipnótico.

— Você está bem?


Chad ouviu as palavras antes de ver Romeo perguntar. Romeo que
em algum momento levantou a cabeça, subiu no carro e cobriu Chad da
chuva. O mundo não estava fazendo sentido, mas não importava para
Chad, tudo o que importava era que Romeo estava ao lado dele, e ele
esperaria com Chad até que começasse a fazer sentido novamente.

Ele passou as mãos pelo cabelo de Chad antes de segurar seu rosto e
fazer a mesma pergunta novamente. A preocupação apertou sua
sobrancelha e limpou seus olhos de toda escuridão. Chad olhou para ele, o
céu cinza acima emoldurava-o perfeitamente.

O mundo ao redor de Chad voltou ao foco. Ele podia sentir o cheiro


da terra úmida, podia sentir a chuva salpicando sua pele, o frio do capô do
carro e o calor de Romeo ao seu lado. Romeo sorriu e passou o braço por
baixo do pescoço de Chad para puxá-lo para perto.

— Estou bem. Mais do que bem.

Romeo ergueu a sobrancelha. — Mais do que bem?

— Não me sinto nem um pouco normal.

Ele riu, uma risada vertiginosa que não tinha explicação, e deus, era
bom rir.

— E essa é uma sensação agradável?

— Sim, é. Eu me sinto... mais leve, mais feliz.

— Os orgasmos da próstata são feitos para serem bons.

Chad empurrou Romeo, rindo novamente.


— Se for esse o caso, você deve dá-los para mim com mais frequência
então.

O céu retumbou, os címbalos do trovão se espatifaram no peito de


Chad.

— Eu estava preocupado. — Romeo sussurrou.

Chad rolou para ele, pressionando suas testas juntas. — Foi bom,
muito bom. Surpreendente.

— Eu não quis dizer isso.

Chad tentou olhar para Romeo, mas a chuva caiu sobre eles,
tornando impossível manter os olhos abertos, ao invés de lutar, ou ficar
irritado, ele aceitou, e manteve os olhos fechados, imaginando que Romeo
estava fazendo o mesmo. Eles ficaram assim, ouvindo a chuva e o estrondo
acima, o ocasional lampejo branco que Chad podia ver através de suas
pálpebras. Nunca havia sentido um momento tão perfeito, uma calma tão
perfeita, não depois da tempestade, mas durante uma.

— Por que Romeo estava tão triste?

Chad bufou, revirando os olhos por dentro para o terrível momento


cômico de Romeo. — Não sei, por que Romeo estava tão triste?

Houve uma longa pausa, e Chad estendeu a mão para Romeo,


deslizando a mão sobre sua camisa molhada. Ele se acalmou com as
batidas do coração de Romeo, forte e rápido contra sua palma.

— Um médico falou veneno com sua Julieta e ele quase a ingeriu.


Sua voz tremeu e o coração de Chad se apertou. — Eu não tomei.

— Por um segundo você fez.

— Só por um segundo, então eu cuspi.

Chad pressionou seus lábios nos de Romeo. O beijo tinha gosto de


chuva, Romeo, e o que Chad suspeitava era o salgado das lágrimas. Romeo
apertou seu braço ao redor de Chad até que eles estivessem pressionados
juntos com tanta força que nem mesmo a chuva poderia ficar entre eles.

— Sim, você cuspiu aquele veneno. — Romeo respirou. — E eu matei


o médico que se atreveu a falar com você.

Chad esfregou o nariz contra o de Romeo enquanto assentia. — Você


fez, e Julieta achou que foi lindo.
Capítulo Vinte e Um

Chad acordou com o barulho de metal.

Ele piscou quando a sala voltou ao foco e percebeu que estava no


quarto, nu. Ele vasculhou sua mente preguiçosa e lembrou-se de que
Romeo o ajudou a entrar em casa e eles se aninharam juntos na cama.

Romeo se foi, seu lado da cama estava frio ao toque e o barulho do


lado de fora continuou.

Chad tirou os lençóis de seu corpo e tropeçou em seu caminho até a


janela. Estava escuro lá fora e silencioso, exceto pelo som metálico e
grunhidos do homem lá fora. Uma lanterna estava no chão, iluminando um
monte de terra.

Chad se vestiu com pressa e saiu correndo de casa. Suas botas


grudaram na lama e quando ele se aproximou de Romeo, ele diminuiu o
ritmo. Uma figura estava caída no chão. A luz não estava diretamente
sobre ele, mas Chad podia ver o contorno de Carter.

Eles estavam a 200 metros de distância no campo. A escuridão se


estendeu na frente deles e a claridade da casa ficou para trás.

— Ei.

Chad olhou para Romeo. — Ei.


Ele parou na beira do buraco. Parecia o comprimento certo para
Carter, Chad olhou para ele, medindo-o.

— Você deveria estar descansando.

Chad desviou o olhar de Carter enquanto Romeo se erguia para fora


do buraco.

— Eu só quero descansar se você estiver comigo.

Romeo enxugou a testa ao longo do braço. A lama manchava suas


bochechas, queixo e ele respirava pela boca, sugando o ar.

— Mas você não conseguia dormir...

Romeo balançou a cabeça e Chad afundou, baixando o olhar.

— Não é que eu não consiga dormir. Eu posso, como um bebê, mas


prefiro não acordar e ter a polícia em cima de nós.

— Certo. — Chad disse, coçando a nuca. — Sim, isso faz sentido.

A mão de Romeo pousou em seu ombro e ele apertou. — Por que


você não volta para dentro?

— Não.

— Não?

— Estamos nisso juntos.

Chad lutou com a pá da outra mão de Romeo. Ele a soltou com uma
risada suave e apertou o ombro de Chad novamente.
— Eu não posso obter a adrenalina sem lidar com a parte complicada
depois, também.

— Mudei o carro para a garagem.

— Precisamos nos livrar disso.

— Mesmo? Esse carro inestimável? Apenas dez foram feitos.

Chad olhou para Romeo e ele riu enquanto desabava no chão. Chad
caiu no buraco e continuou a trabalhar com a pá. Romeo virou a lanterna
para ele, colocando-o sob um holofote. O cheiro de lama encheu o ar,
úmido e terroso, e refrescante após as semanas de calor intenso.

A lama grudou na pá como cimento molhado e, em pouco tempo,


Chad estava ofegante enquanto enxugava o suor da testa. Ele pousou a pá
de lado e puxou a camiseta pela cabeça.

O ar frio o atingiu e ele inclinou a cabeça para trás, expondo sua


frente ao vento.

— Dança erótica sedutora, dez letras.

Chad riu, pegando a pá. Ele acenou de forma ameaçadora para


Romeo. — Eu não estou fazendo um strip-tease.

— Provocar é definitivamente a palavra ideal.

— Estou coberto de lama e suor, cavando um maldito buraco.

— Para o cara que acabei de matar. Você está perfeito.

Chad apertou a sobrancelha antes de forçar a pá na terra. — Não


somos normais.
— Não, não somos, mas é muito mais divertido ser anormais juntos,
não é?

Chad olhou na direção de Carter. Era ridículo, mas ele esperava que
ele se movesse, só um pouco.

— Por que a areia estava molhada?

Chad voltou sua atenção para Romeo. — O que?

— Eu disse por que a areia estava molhada?

— Estamos realmente fazendo isso?

— Sim, nós estamos.

— A piada é você porque eu conheço este. A areia estava molhada


por causa das algas.

Romeo franziu o rosto, balançando a cabeça. — Não.

— Como assim não?

— A areia estava molhada por causa da mudança da maré. Pensei


que todo mundo conhecesse o mar e as marés. Ela entra e sai.

Chad se abaixou para pegar um pedaço de terra e jogou em Romeo.


Ele se esquivou do caminho, sorrindo.

— Eu tenho outra.

— Por favor, me poupe.

Romeo lambeu os lábios. — O que Chad Fuller e Romeo Knight têm


em comum?
— Além de assassinato, além de ser anormal?

— Não estrague minha piada.

— Bem. Não sei, o que Chad Fuller e Romeo Knight têm em comum?

Romeo olhou para cima e para baixo na forma ofegante de Chad.

Chad ergueu a sobrancelha, esperando a piada.

— Nós dois somos de tirar o fôlego...

Chad mordeu a língua e murmurou: — Isso é completamente


inapropriado.

— É isso?

— E eu não sou.

— Bem, você está roubando meu fôlego e eu roubei o dele.

Mesmo olhando para Carter não poderia matar o sorriso no rosto de


Chad ou a risada em sua garganta. — É confuso.

Romeo ergueu as mãos. — Você está certo... eu deveria respeitar a


companhia presente.

Chad ergueu a pá para retomar a escavação, mas Romeo falou


novamente, parando-o em seu caminho.

— Um médico, um assassino em série e um idiota completo e


absoluto entram em um bar... e esse foi apenas o primeiro cara.

Chad riu até que seus lados doeram.

— Você é o idiota.
— Fazer você rir é bom.

— Mesmo em um momento como este.

— Especialmente em um momento como este.

O olhar de Chad foi atraído para Carter novamente, e ele engoliu em


seco, terminando sua risada.

— Como você está se sentindo? — Romeo perguntou.

— Esgotado.

— Você sabe que eu não quis dizer fisicamente.

Carter estava a apenas cinco metros de onde ele estava cavando,


completamente imóvel. Chad não sabia se ele estava de frente para o céu
noturno ou se Romeo o havia rolado no chão, mas havia uma pessoa morta
bem na frente dele.

Em circunstâncias normais, ele seria chamado para tal pessoa. A cena


seria isolada, qualquer evidência documentada e alguém tiraria fotos de
Carter de todos os ângulos possíveis.

Chad estava a trinta centímetros de rolar Carter no buraco e jogar


terra em cima dele.

— Não lamento que ele esteja morto.

— Bom.

— E estou feliz por você ter deixado o monstro sair.

— Você gostou?
Chad desviou o olhar, sussurrando um sim ao vento.

— Mas?

— Não ficarei satisfeito até que essas pessoas na floresta sejam


descobertas. Esses adolescentes, essas crianças. Pessoas perdidas, que têm
família e amigos desesperados para encontrá-los, mesmo que não tenham,
mesmo que sejam como eu, sem ninguém que se importasse, eles merecem
ser encontrados.

Romeo acenou com a cabeça. — Eles merecem.

— Estou enterrando seu corpo como ele enterrou todos os deles, mas
não quero que ele seja encontrado. Não quero que ele seja desenterrado ou
descoberto, ele não merece.

Chad começou a escavar novamente, jogando lama na pilha. O tinido


e o baque da terra foram estranhamente calmantes. Romeo tinha parado de
ofegar atrás dele, mas Chad podia sentir seu olhar em suas costas. Ele
sentiu a agitação de Romeo e franziu a testa, virando-se para encará-lo.

Seus olhos se encontraram, e foi Romeo quem desviou o olhar


primeiro.

— O que é isso?

— Por que você não me contou sobre Marc?

Chad cravou a pá no chão e se apoiou na lateral do buraco. — Não


sei.
— Eu sei que sou novo nisso, estar em um relacionamento, cuidar,
mas falo sério quando digo que você não precisa esconder nada de mim.

— Eu... eu estava sofrendo, e no meu ponto mais baixo, ele me fez


doer ainda mais, de maneiras que eu não poderia imaginar. Eu não era
nada além de uma marionete indefesa, amarrada e usada. Então você
entrou na sala e foi como um sonho. Você matou Marc, você me libertou, e
eu não queria que você soubesse porque...

— Porque o que?

— Porque você podia não ter me querido mais. Se você percebesse o


quão quebrado eu estava... você poderia não ter voltado. Você poderia não
ter esperado por mim fora do hospital. Você poderia ter ido embora assim
que chegamos aqui.

Romeo mudou para a borda do buraco e balançou as pernas. — Você


realmente pensou isso? Jesus, Chad, eu escapei da prisão por você...

— Exatamente, e você encontrou o que restou de mim. Se você


soubesse quão fraco, quão patético, quão indefeso...

— Você não é fraco, nem patético, nem indefeso.

— Eu não poderia arriscar.

— Nunca houve nenhum risco. Você não precisa esconder nada de


mim, nunca.

Romeo acenou para que ele se aproximasse, Chad baixou o olhar,


balançando nos calcanhares.
— Você gosta de desmontar as coisas, juntar as coisas, resolver as
coisas. Meu coração, minha alma, tudo está quebrado e eu não posso ser
consertado. Não sou um jogo que veio para ser ganho ou um quebra-
cabeça que pode ser feito.

— Eu não quero te ganhar, ou te juntar. Não há alegria em algo ser


terminado, concluído ou feito. Isso é o fim de alguma coisa, o momento
cruel que o deixa vazio. Não quero nunca chegar ao fim com a gente,
estaremos sempre quebrados, não consertados, incompletos,
imperfeitamente perfeitos.

Chad tropeçou em sua direção, se encaixando entre as pernas de


Romeo. Os braços de Romeo o cercaram e o puxaram para mais perto.

Ele pressionou o nariz no pescoço de Romeo, respirando-o.

— Dói saber que Marc fez isso com você. Dói saber que você não
sentiu que poderia me dizer.

— Eu pensei que se você soubesse... isso poderia estragar tudo.

— Nunca. Você colocou um coração no meu peito quando pensei


que seria impossível para mim sustentá-lo. Você me faz saber o que é estar
vivo. Você me faz sentir isso.

Chad balançou a cabeça, mas Romeo o segurou firme.

— O monstro faz você se sentir vivo.

— Não, ele me faz sentir a morte, mas você, você me faz sentir a
vida, e é incrível, precioso e ridiculamente frágil. — Ele riu: — E às vezes
eu te odeio por isso.
Chad olhou para ele. — Por que?

Romeo riu, liberando Chad. Ele apontou para um de seus olhos


lacrimejantes, cutucando o topo de sua bochecha até que uma lágrima
escapou.

— Isso — ele disse. — Isso é novo. É irritante pra caralho, e quando


meu peito se comprime, isso é irritante também, é como se eu estivesse
sufocando. E eu não sinto isso por mim mesmo, eu sinto isso por você. Se
você está chateado ou machucado, isso me esmaga.

— Estar apaixonado por mim não pode ser tão ruim.

— Não é, quando você está feliz, isso me deixa mais leve, mais feliz,
também. É infeccioso.

— É lindo que meu namorado fale de mim como se eu fosse uma


doença.

Romeo bufou, traçando os lábios de Chad com seu polegar


enlameado.

— Quando você sorri ou ri, sinto uma coceira no estômago. Isso é


normal?

Chad riu. — Como diabos eu sei?

— E quando eu olho para você, eu sinto um desejo... é um desejo tão


forte...

Os hematomas na garganta de Chad latejavam. O desejo, a


necessidade, o vício que ele nunca poderia saciar...
— O desejo de beijar você e não parar.

O coração de Chad saltou e ele soltou um suspiro trêmulo.

— Sinto todas essas coisas que não sentia antes e é por sua causa — o
sorriso de Romeo sumiu — não vivo para satisfazer o monstro. É um efeito
colateral de estar vivo - viciante, eufórico, problemático, mas uma reflexão
tardia. Eu vivo, respiro, continuo existindo porque quero passar o máximo
de tempo que puder amando você antes de ir para o inferno.

— Você sabe que eu me juntaria a você lá.

— Sim?

— Eu sou sua Julieta, afinal. Juntos na vida e na morte.

— Falando em morte... — Romeo olhou por cima do ombro em


direção a Carter.

Chad acenou com a cabeça, levantando-se para fora da sepultura.


Romeo o seguiu antes de se aproximar de Carter. Ele estava deitado de
bruços, o cabelo em sua nuca se mexia com o vento.

— Pronto? — Romeo disse.

— Espere.

— Para que?

— Apenas espere.

Ele se virou e correu de volta para a casa. Romeo apontou a lanterna


para ele, observando-o partir. Ele gritou atrás de Chad, mas ele não
respondeu.
Chad irrompeu pela porta da cozinha, deixando pegadas lamacentas
em seu rastro, e correu para a sala de incidentes improvisada. O lenço
estava preso na parede sob o rosto sorridente de Carter. Chad o puxou para
fora, fazendo o pino voar. Ele apertou o lenço em suas mãos antes de se
virar para voltar para Romeo.

Chad passou os dedos pelo lenço enquanto caminhava de volta. Ele


apertou os olhos para a lanterna brilhando sobre ele, incapaz de ver Romeo
ou Carter no campo. Ele continuou seguindo a luz na escuridão até
encontrar Romeo.

— Muito adequado. — Disse ele, estendendo a mão para pegar o


lenço.

Chad olhou para ele, respirou o cheiro de dor e desespero e o


entregou. Romeo colocou Carter em uma posição sentada e o apoiou contra
sua perna enquanto ele enrolava o lenço firmemente em seu pescoço.

Ele ergueu a sobrancelha na direção de Chad, que acenou com a


aprovação em resposta.

Romeo sorriu, empurrando Carter para o buraco. Ele atingiu a terra


com um baque surdo que explodiu no peito de Chad. Ele respirou fundo
antes de exalar lentamente para o céu escuro.

— Olhe para ele. — Romeo disse.

— O que?

— Basta olhar para o rosto dele, Chad.


Ele engoliu o nó na garganta antes de baixar o olhar para Carter no
buraco. Romeo apontou a lanterna para Carter e Chad franziu a testa. Ele
esperava que arrependimento ou vergonha surgissem dentro dele, algo,
mas não havia nada além da satisfação de que Carter não existia mais.

Ele pegou o assassino e Romeo extinguiu sua vida.

Romeo começou a trabalhar com a pá e Chad sentou-se na lama,


puxando os joelhos até o queixo. Ele fechou os olhos, zoneando ao som
repetitivo de Romeo jogando terra sobre Carter.

Ele não sabia quanto tempo ficou sentado ali, ouvindo, mas mãos
quentes sobre os joelhos o despertaram.

Romeo se agachou na frente dele. Ele inclinou a cabeça, estudando


Chad. — Tudo feito.

— Ele se foi?

— Ele se foi. Vamos — ele disse, ajudando Chad a se levantar. —


Você parece exausto.

— Valeu mesmo.

Ele não tinha percebido o quão drenado e exausto seu corpo estava
até que ele voltou para casa. Romeo ergueu o braço de Chad sobre o
pescoço e o ajudou. Chad não protestou, ele permitiu que Romeo o
ajudasse, sabia que gostava de fazer isso.

— O que você vai fazer sobre a floresta? — Romeo perguntou.

— Uma dica anônima parece boa.


— Posso ligar, usar meu sotaque do Oeste.

Chad bufou. — Ok, mas vamos apenas ter um dia juntos primeiro.
Um dia.

— Soa perfeito.
Capítulo Vinte e Dois

Chad respirou o cheiro de livros, café e o leve toque do perfume de


Keeley. Ela sorriu para ele da cadeira, a caneta pronta para fazer anotações.
O sol brilhava, mas o ar havia esfriado. A camisa de Chad não estava
úmida de suor e suas calças não estavam mais grudadas em suas pernas.

— É um dia mais confortável, com certeza.

Keeley riu, olhando para a janela. — Aquela tempestade era


definitivamente necessária.

— Foi bonito.

— Como você está se sentindo hoje?

— Bom. Foi bom ter algum tempo de folga depois do primeiro caso.

Ela ergueu as sobrancelhas. — Você não estava contando as horas


para voltar?

Chad balançou a cabeça. — Eu gostei de estar em casa, fazendo o


mundano.

— Como o que?

— Assistir TV, comer, dormir.

— É bom conversar com as pessoas também, não se fechar.

— Eu também fiz isso. Liguei para o Zac. Ele ficou feliz em ouvir
falar de mim.
— Isso é ótimo.

— E eu estou tendo uma limpeza em casa. Fora com o velho, dentro


com o novo.

— Isso também ajuda.

Chad abriu a boca para falar, mas foi cortado por seu novo telefone
vibrando em seu bolso. Eles esperaram que parasse de vibrar antes de
continuar.

— E você não estava pensando em trabalhar durante o seu tempo


livre?

— Não. Deixei o trabalho no trabalho. Eu percebi que você estava


certa. Só sentir que vale a pena por meu trabalho é um modo de vida
nocivo. Eu preciso me concentrar em mim também. O que eu quero. O que
eu preciso. E me sinto melhor por isso.

Keeley olhou para cima e para baixo nele. — Você parece melhor,
mais relaxado. Da última vez você parecia...

— Aturdido, fora de controle, eu sei.

— Mas você se sente mais no controle agora?

— Com certeza. Eu sei o que tenho que fazer, aonde tenho que
chegar.

Ela acenou com a mão para ele continuar.


— Eu tenho que ser um bom detetive. Tenho que fazer meu trabalho
com o melhor de minhas habilidades, estar lá para minha equipe e o
público.

— Sim, mas...

Ele ergueu a mão, interrompendo-a. — Mas eu também tenho que


fazer coisas para mim. Tenho que fazer coisas que me deixam feliz, fora do
trabalho. Eu tenho que sentir meu valor. Eu tenho que viver minha vida
como eu quero.

Seu telefone tocou novamente e ele estremeceu. — Eu sinto muito.

— Algo urgente?

— Você se importa se eu…

Ela se recostou na cadeira. — Atenda.

Chad tirou o telefone do bolso. — É Ally, meu sargento.

Ele atendeu a ligação e a voz de Ally o atingiu no ouvido. — Você


tem que descer aqui!

— Estou falando com minha terapeuta.

— Foda-se ela.

Keeley organizou seus papéis na mesa em uma pilha organizada, mas


suas bochechas ficaram vermelhas.

— Quero dizer, não foda de verdade a terapeuta, isso iria te atrasar


ainda mais, a menos que você seja um finalizador rápido.

O rosto de Chad se encheu de calor. — Ally...


— Sim, desculpe, mas eu preciso do meu parceiro aqui.

— Estarei aí assim que puder.

— Agora. Isso é uma ordem.

Ela desligou e Chad colocou o telefone de volta no bolso. — Você se


importa se reagendarmos?

Keeley acenou com a cabeça. — Parece importante.

— É — ele disse, se levantando.

Chad chegou à porta, mas Keeley pigarreou e ele olhou para trás.

— Ally Coulson?

— Isso mesmo. — Ele franziu a testa. — Você conhece ela?

— Não sabia que ela havia voltado ao trabalho. Ela costumava ser
uma de minhas pacientes.

— Ela nunca disse.

Keeley desviou o olhar. — Não, suponho que não.

Sua aparência preocupada não diminuiu e ela brincou com a caneta


nas mãos. Ela percebeu que Chad ainda estava lá e riu, deixando cair a
caneta.

— Mesma hora na próxima semana.

Ela se levantou e o conduziu para fora.

Ele acenou com a cabeça antes de passar pela porta. Ela a fechou atrás
dele e ele ficou lá, carrancudo até que seu telefone tocou novamente.
Agora Chad!

****

Os portões da base militar abandonada estavam abertos, dois oficiais


forenses tiravam fotos do cadeado na grama. Chad se aproximou
lentamente, na esperança de ouvi-los, mas um deles olhou para cima e
percebeu que ele estava observando.

— Roupas de proteção ali.

Ele acenou com a cabeça e mudou-se para vestir o traje branco. Ele
calçou as luvas, ergueu o capuz e prendeu a máscara facial atrás das
orelhas.

— DI Sharpe e DS Coulson?

O oficial se endireitou e apontou para longe. — É difícil ver, mas há


um prédio bem ali.

Chad semicerrou os olhos. — Sim, acho que posso ver.

— Vá nessa direção e siga o cheiro.

— Obrigado pela ajuda.

Havia oficiais na grama alta, marchando em uma linha lenta,


vasculhando o terreno em busca de pistas. O coração de Chad disparou e
ele verificou se os policiais atrás dele não estavam olhando. Ele estava no
meio da estrada, sem nenhum policial ao seu redor ou prestando atenção
nele.
Chad verificou uma última vez antes de se agachar para separar a
cobertura dos sapatos. A grama alta o cobria e, olhando através dela para
os oficiais à distância, ele se sentiu como uma presa, uma presa que
precisava fugir rapidamente.

Chad puxou o traje e a perna da calça para recuperar a sacola de


evidências escondida em sua meia. Ele trabalhou rapidamente, desfazendo
a sacola e pegando os óculos de sol com as mãos enluvadas. Ele verificou se
ninguém estava se aproximando por trás, antes de encaixar os óculos na
grama.

Chad se levantou e continuou subindo a estrada. Um oficial de


branco estava encostado no prédio, os braços cruzados, a atenção fixada
nele. Ele se aproximou, mordendo a língua, mas relaxou ao reconhecer os
óculos roxos de Ally.

— Vim o mais rápido que pude.

— O que demorou muito.

— O que conseguimos? — Chad perguntou.

— O que conseguimos? A mãe de todos os casos é o que temos.


Numerosos corpos na floresta.

Ela veio em sua direção e apontou para a marca no chão. — Marcas


de pneus. Existem dois conjuntos, dois carros diferentes.

Chad acenou com a cabeça. — Eu vejo eles.


Ela deu um passo para o lado na estrada e gesticulou para a outra
marca, bem no centro. Tinha outro marcador numerado ao lado. — Outra
marca de pneu, mas isso é de uma motocicleta, não de um carro.

— Uma motocicleta e carros.

Ally cantarolou. — Venha, vamos dar um passeio pela floresta.

Ela liderou e ele a seguiu.

— Você não vai querer entrar no prédio, quase queimou meus olhos
e não consegui parar de chorar por horas.

— Isso explica o rímel que escorre pelo seu rosto.

— O que? — Ela esfregou o rosto. — Droga.

— Eu pensei que a cena tinha afetado você.

Ela empacou. — Eu sou dura como pedra. Faye, por outro lado...

Chad a avistou contra uma árvore, olhando para longe. Chad


caminhou até ela antes que ela percebesse que ele estava lá. Ela saltou e ele
agarrou seu ombro.

— Você está bem?

— Sim, desculpe-me. — Ela riu, balançando a cabeça. — Eu nunca


tive um caso como este antes.

— A mina de ouro dos casos. — Ally disse.

Faye franziu a testa para ela antes de olhar de volta para Chad. —
Como está sua garganta?
— Muito melhor.

— Bom, isso é bom. Eu realmente acho que você deveria entrar em


contato com a empresa...

— Cristo — Ally murmurou.

— Talvez eles pudessem deixar o conteúdo um pouco mais claro. —


Chad disse.

As rugas na testa de Faye relaxaram antes de ficar mais tensas do que


antes. — Há tantos. O DI contou as quedas no solo, pelo menos vinte e
cinco.

— Vinte e cinco vítimas. — Ally disse. — Este assassino tem talento.

Faye fez uma careta, se afastando de Ally. — As imagens de radar...


algumas das sepulturas são tão pequenas. Eles acham que há crianças lá
embaixo.

Chad apertou seu ombro, e ela fechou a mão sobre a dele. — Quem
diabos faria isso?

— Pessoas doentes, é isso. — Ally disse.

— Vou verificar como estão os policiais no portão.

— Boa ideia.

Faye se afastou, usando as árvores para apoiá-la.

— Crianças? — Chad perguntou.

Ally acenou com a cabeça. — Vamos lá. E este é um local, há outra


clareira mais adiante.
Eles caminharam por entre as árvores até a primeira pequena
clareira.

Chad olhou para a pilha de cinzas. Havia um marcador numerado ao


lado dele.

— Evidência de um incêndio. — Ally disse. — Isso é estranho...

— Que estranho?

Ela se agachou perto do que ele usou para verificar o fogo. Com um
metro de comprimento, a ponta estava negra por causa das cinzas.

— Parece que quem quer que seja mexeu um pouco. — Ela olhou
para ele. — Provavelmente verificando se todos os pedaços grandes se
foram.

— Muito completo.

— Sim — disse ela, levantando-se. — Eles foram.

Ela o conduziu por entre as árvores. Câmeras disparavam e clicavam,


vozes murmuravam e cachorros latiam. Havia pelo menos vinte policiais
usando os trajes de proteção espalhados e quatro cães nas coleiras,
abanando o rabo quando o encontravam.

Um olhou para Chad, farejando o ar. Ele puxou a coleira, levando o


adestrador para mais perto. Chad lambeu os lábios, sutilmente se
afastando, mas o cachorro persistiu até que seu focinho pressionou o lado
de sua perna.

— Eu ainda estou vivo, muito obrigado.


O treinador riu, puxando a guia. — Desculpe, ele está superexcitado,
só isso.

— Está como Ally então.

Ela bateu no braço dele, rindo.

O cachorro perdeu o interesse em sua perna e foi embora, ainda


balançando o rabo alegremente. Chad soltou um suspiro lento.

— Chad, pensei que fosse você. — O DI se aproximou. — Espero que


sua sessão não tenha sido interrompida.

Ally bufou, balançando a cabeça.

— Remarcamos. Ally está me atualizando.

O DI acenou com a cabeça. — Estamos fotografando e documentando


antes de exumar os restos mortais. Este será um processo lento e delicado.

— Como você sabia que eles estavam aqui?

— Alguém ligou para a estação esta manhã, disse que tinha visto um
carro chique entrando e saindo da base. Ele não deixou seu nome e não
conseguimos rastrear seu número.

— Um carro chique?

Ally encolheu os ombros. — Isso foi o que ele disse. Ele pensava que
esta terra ainda pertencia aos militares, e a pessoa estava arrombando e
invadindo.

— Não pertence aos militares?


— Não. Foi comprada há muito tempo. Havia preocupações de que o
comprador queria transformar o terreno em moradia, mas isso nunca
aconteceu... nada aconteceu, foi apenas deixado.

— Quem é o dono?

O DI suspirou. — Mr. Wills.

Chad franziu a testa. — Alguma relação com JB Wills e a conta no


exterior que pagou Ellen e Kerion?

Ally acenou com a cabeça. — Achamos que sim, mas não temos ideia
de quem é o Sr. Wills, onde ele mora, o que ele faz, como ele se parece, não
temos nada.

— DI Sharpe!

Josh irrompeu na clareira. — Eles encontraram algo na busca.

— O que? — O DI perguntou, correndo atrás de Josh.

— Um par de óculos.

O DI passou por ele e Josh voltou sua atenção para Chad.

— Pode-se dizer que é um par chique.

Chad riu.

— Como foi a terapia?

— Curta.

— Ah, curta e doce.

— É esse o aviso que você dá a todos os seus amantes? — Ally disse.


Josh piscou. — Claro que é.

Ally foi segui-lo, mas Chad tocou seu ombro, impedindo-a. —


Estaremos lá em um minuto.

Ela olhou para ele. — O que é isso?

Chad esperou até que Josh fosse embora. — Você nunca disse que
costumava ver minha terapeuta.

— O que ela disse?

Chad franziu a testa. — Nada, só que você costumava ser uma das
pacientes dela.

Ally desviou o olhar. — Sim, eu era, até que percebi que vê-la era
inútil.

— Por que?

— Isso não me ajudou. — Ela passou as mãos pelo traje de proteção.


— Mas isso ajudou. Agir é muito melhor do que apenas pensar nisso. Estou
fazendo algo sobre como me sinto.

— E você se sente melhor com isso?

Ele podia ver o sorriso em seus olhos. — Começando. Estou fazendo


a diferença. Terapia... não era para mim.

— Eu também não acho que seja para mim.

— Mas você não tem escolha, não se quiser manter seu emprego. Se
ela sugerir hipnose, vá em frente, a melhor soneca que tive em anos.

Ela apertou a mão dele, tão fugaz que ele mal notou seu toque.
— Agora vamos, preciso de inspiração para o meu próximo par de
óculos. Então, novamente, a ideia chique de Josh é ter um guardanapo com
seu hambúrguer e batatas fritas.

Chad olhou para as depressões e moldes no solo.

Eles não teriam que esperar muito até serem desenterrados, seus
segredos compartilhados para melhor.

Chad tinha que garantir que seus próprios segredos permanecessem


enterrados.

Ele morreria por Romeo, mas mais do que isso, ele mataria por ele
também.
Epílogo
Chad encostou-se na casa, observando os homens marchando para a
frente e para trás na cabana. Eles lutaram com os móveis, batendo no
batente da porta e lançando uma enxurrada de palavrões. Ele estremeceu
interiormente, perguntando se Romeo estava assistindo de uma janela do
andar de cima. Ele não olhou para o caso de chamar a atenção para ele.

O caminhão já estava com uma pilha alta de móveis. Como um


grande jogo de Jenga6, Chad temia pelos homens assim que chegassem ao
destino. Ele podia imaginar uma mesa deslizando do topo e caindo em um
deles.

Ajuda para os sem-teto foi impresso na lateral do caminhão, e Chad


esperava que a doação de móveis ajudasse. Romeo tinha comprado kits
caros e, exceto aqueles que ele esmagou em frustração, eles eram bem
feitos.

A porta do caminhão desceu e o cadeado na parte inferior foi


trancado.

6 É um jogo de habilidade física, criado por Leslie Scott. Nele os jogadores se revezam para remover blocos de uma torre,
equilibrando-os em cima, criando uma estrutura cada vez maior e mais instável à medida que o jogo progride. A palavra "jenga" é
a forma imperativa de "kujenga", o verbo suaíli para "construir".
Um dos homens se aproximou dele com uma prancheta pronta. —
Essa foi a última peça.

— Exceto pelas duas mesas de nogueira no meio.

O homem bufou. — Elas estão parecendo meio solitárias.

Chad riu, assinou os papéis e devolveu a prancheta.

— Você mora aqui por conta própria?

— Sim.

O homem olhou em volta. — Você deveria pensar em arranjar um


cão de guarda ou algo assim.

— Eu tenho um.

— Sim?

— Ele é lindo, mas tem um lado mau. Ele está acorrentado em casa.

O homem engoliu em seco. — Eu não o ouvi.

— Ele é o tipo de cachorro que morde primeiro e late depois.

— Talvez você deva colocar alguns sinais de alerta.

— Onde está a diversão nisso?

O homem recuou alguns passos antes de se virar e correr em direção


ao caminhão. Ele saltou para dentro da cabine e o motor ganhou vida. O
caminhão rodou pela estrada até que fosse um ponto ao longe.

— Uau, uau do caralho.


Chad riu, olhando para Romeo. — Eu sempre imaginei que você
rosnaria.

Ele passeou, passou os braços em volta da cintura de Chad e rosnou


no pescoço de Chad. Sua pele formigou e ele empurrou Romeo para longe,
rindo.

— Você manteve os quebra-cabeças, certo?

— Eu mantive os quebra-cabeças.

— Bom.

— Posso até ter encomendado um novo para você. Bombeiros e suas


mangueiras.

Romeo abaixou-se e mordeu o pescoço de Chad. Ele beijou a marca e


enfiou as mãos sob a camisa de Chad.

— Espere. — Chad disse, se afastando. — Eu tenho outra coisa para


você.

Ele correu até o carro e abriu o porta-malas. Romeo se aproximou e


apoiou as mãos na borda do porta-malas. Ele balançou a cabeça, olhando
para as pastas.

— Alguns arquivos parecendo empoeirados. Obrigado.

Chad deu uma risadinha. — São casos arquivados.

— Casos arquivados.

— Você gosta de jogos e quebra-cabeças, certo?

— Certo.
— Você vence resolvendo-os e provavelmente pode adivinhar a
recompensa.

Romeo cantarolou, sorrindo.

— As regras são as seguintes: você precisa me provar quem é o


assassino, e apenas o assassino...

— Ou assassinos.

— Assassino ou assassinos se machucam. Nós os trazemos aqui, eles


confessam, e então...

— Você vai me deixar.

Chad acenou com a cabeça. — Eu vou te deixar.

— Você é como o mestre do jogo...

Chad lambeu os lábios. — Mestre. Eu gosto do som disso.

— Segurando todas as cartas.

— Mais como segurando a corrente.

— Você está gostando disso?

— Não.

Romeo ergueu o queixo. — Admita.

— Admitir o que?

— Assistir me matar te faz bem.

— Não, não faz.

Ele cantarolou. — Grande mentira, quatro letras.


— Eu não sou um mentiroso.

— Gosto de saber que você também gostou.

— Eu não gostei.

Romeo suspirou. — Mentiroso.

— Não é ver você matar que eu gosto, é ver você ser livre, ver você
se soltar.

— Sou livre agarrando a garganta de alguém. Faz todo o sentido.

— E sim, ver você matar um idiota que eu peguei para você foi
satisfatório.

Romeo bicou sua bochecha corada.

— Sabia. Não é melhor admitir isso?

— Mais ou menos, mas então eu olho para o seu rosto arrogante e é


irritante.

Romeo curvou-se para frente, rindo. — Meu rosto convencido e


apaixonado.

Chad bateu o porta-malas e deu uma olhada na garagem. — Ainda


temos que resolver o carro de Carter.

— Eu encomendei um cortador de disco, deve tornar o trabalho mais


gerenciável.

— O que vamos fazer com as peças?

— Enterra-las.
— Isso vai levar séculos.

— Bom trabalho, tenho muito tempo disponível.

Chad acenou com a cabeça. — A polícia está se aproximando de


Carter.

— Bom.

— Ele está vinculado aos nomes falsos no registro de terras e na


conta no exterior. Seu óculos de sol foi encontrado no local, as marcas de
seu pneu Jaguar correspondem a um dos conjuntos na estrada e
equipamento de classe médica foi encontrado no porta-malas de seu carro.

— E ele desapareceu.

— Isso também.

— Sem mencionar a testemunha que colocou seu carro luxuoso no


local.

Chad revirou os olhos. — Sim, essa testemunha realmente confiável.

— Eu ouvi que ele parecia bonito.

— Ele parecia?

— Sim, muito bonito.

Chad bufou, balançando a cabeça.

— Duvido que o depoimento dessa suposta testemunha fosse


suficiente para acusá-lo de assassinato. Ele teria saído disso.

— Bem, ele era bastante escorregadio para segurar...


Chad cutucou o ombro de Romeo. — A questão é que o que
descobrimos é o suficiente para desacreditar sua reputação, pelo menos, e
Kerion e Ellen. A falta de tinta em seu carro secreto corresponde à marca
no portão, sua moto coincide com a marca do pneu e o sangue na parte
superior de sua moto coincide com sua vítima mais recente, Gary. Os três
são finalmente vistos sob uma luz diferente.

— Os holofotes estão sobre eles por um motivo muito diferente.

— Ally ficou chateada com Carter, disse que ele era bonito demais
para ser um cara legal.

— Bonitos são sempre os piores.

Chad tentou acotovelá-lo, mas Romeo o agarrou pelo braço e o girou


até que estivessem um de frente para o outro. Ele passou os braços em
volta das costas de Chad, e Chad serpenteou ao redor do pescoço de
Romeo.

— Você tem que fazer piada de tudo?

— A maioria das coisas, porque te faz rir.

— Keeley me disse que fazer piadas de tudo é um sinal de estresse.

— Ela disse?

— Isso mascara a dor interior.

— Bem, você sabe tudo sobre máscaras, detetive.

Chad estreitou os olhos e Romeo riu.

— Eu pareço estar com dor?


Seus olhos eram brilhantes, redondos, felizes e covinhas
pressionavam em sua bochecha enquanto ele sorria. Ele desenhou círculos
na parte inferior das costas de Chad com o polegar, e seu batimento
cardíaco estava firme contra o peito de Chad.

— Não. — Ele sussurrou.

— Não. — Romeo concordou. — Eu me sinto melhor do que nunca e,


quando olho em seus olhos, também vejo.

— Ver o que?

— Você sente o mesmo.

Chad desviou o olhar, mas seu rosto o denunciou, aquecendo. Ele


piscou para afastar a ardência em seus olhos.

— Mas não normal.

— Nunca é normal, e tudo bem.

— Porque estamos no cinza.

— Maldita seja aquela sua terapeuta.

Romeo se inclinou, pressionando seus lábios nos de Chad. Ele


segurou a mandíbula de Romeo para aprofundar o beijo, mas ele se
esquivou.

— O que é isso?

— Sabe, podemos fazer coisas normais também.

— Como o que?
Um rubor atingiu as bochechas de Romeo. Chad acariciou uma,
franzindo a testa.

— Não temos que ser apenas sobre assassinato e sexo. Nem tudo que
um casal normal faz me causa repulsa. Nós poderíamos... sair para algum
lugar. A praia ou um parque.

— Você está me convidando para sair?

— Suponho que estou. Sim.

— Isso vai ser um pouco difícil, considerando que você é um


assassino em série morto...

— Difícil, mas não impossível. Teríamos que ter cuidado, mas


quando o monstro estiver satisfeito e você tiver algum tempo de folga.
Poderíamos tentar fazer algo que casais normais fazem. Jantar, um filme.
Umas férias à beira-mar. Qualquer coisa longe daqui, só por um tempinho.

— E você gostaria disso.

— Eu gostaria com você. Nenhum detetive. Nenhum monstro. Eu e


você.

— Isso parece... bom.

— Apenas bom?

— Parece muito bom.

O sorriso de Chad encontrou o sorriso de Romeo em um beijo, e os


dois bufaram antes de transformar o beijo em um beijo mais sério de lábios
e línguas. Chad passou os dedos pelos cabelos grossos de Romeo, e Romeo
apertou seu abraço em torno de Chad, levando-o de costas para a casa.

Um grasnar começou acima deles, o chamado distinto da pega, e


Romeo puxou sua boca de Chad, terminando o beijo.

— Você realmente parou por causa dos pássaros?

Romeo não respondeu, mas apertou Chad com força. Chad


pressionou a testa na clavícula de Romeo, recusando-se a olhar para elas
circulando acima. Ele fechou os olhos e respirou fundo antes de afundar
ainda mais no aperto de Romeo.

— Isso é interessante.

— O que é isso? — Chad murmurou em seu peito.

— Há quatro delas.

Fim

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