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Moriah - capitulo 1

‘’Um animal ataca com suas presas, um homem ataca com sua espada, os demônios
atacam com palavras doces’’
Em meios das envelhecidas estradas de pedra vermelha do mercado de carne, Moriah
corria, um pedaço de carne crua de búfalo na boca, e uma sacola de línguas roubada entre
os braços, as pessoas abriam caminho, não querendo se intrometer na fuga entre da
criança e do soldado que lhe perseguia

A armadura de metal negro daquele guarda reluzia, e o guardas que a usavam pareciam
duas vezes maior, Moriah não conseguia acreditar que alguém usando aquilo poderia correr
tão rápido, ‘’talvez fosse magia’’ pensava tentando correr mais rápido ainda

A confiança da criança pareceu se perder completamente quando a corrida começou, foi


uma ideia estupida, agora a única ideia que passava em sua mente, ela dela acabar morta
nos fundos de um beco, servindo de comida aos corvos, ratos ou cães, talvez o medo dessa
ideia a permitisse correr tão rápido quando aquele guarda gigantesco

Moriah pulou sobre uma mesa de frutas secas, bateu-se contra uma pequena barraca de
um inventor e quase foi chutada por um cavalo magro, correu por incontáveis ruas, e
mesmo assim, os passos metálicos daquele cavaleiro pareciam chegar cada vez mais
perto, ele logo chegaria nela, a menos...

A criança cortou o próprio caminho, entrou num beco velho onde alguns foragidos usavam
vidro branco, pulou entre corpos de pessoas dormindo nas ruas, e ao longe viu o muro que
dividia seu distrito

Correu mais que jamais conseguiu, os passos do soldado pareciam começar a parar, ele
não poderia atravessar o muro,na verdade, nem ela, mas era isso, a forca ou o
espancamento, e Moriah preferia s 2 do que a fome

Sentiu cada musculo queimando, e implorou aos deuses caídos lhe condessem o mínimo
de vontade para conseguir escalar aquilo novamente.

Enfiou o máximo de línguas que conseguiu em seus bolsos, ignorando com dor oque caiam
no caminho, então, deu o salto

Aquilo era só o começo, seu corpo magro caiu contra o arame e pedra quente, começou a
escalar, ignorando os cortes, a carne crua ainda sangrando em sua boca, a adrenalina a
impedia de sentir aquilo agora, mas sabia que depois ia doer

Sentiu um corte especialmente forte na coxa, um ardor fraco naquele instante, mas sabia
que aquilo não era um bom sinal

Seus dedos logo tocaram o topo do muro, quase gritou de alegria ao perceber que o som
de metal do cavaleiro tinha parado, sua sorte parecia estar mudando

Moriah sentiu mãos frias tocarem seus braços, seu cabelo e chifres, e levando
forçadamente para trás, no ato de desespero idiota, só restou tentar se agarrar ao arame
afiado, o que não adiantou nada

‘’co-como, pacifistas negros não podem voar!’’ pensou a criança, estupidamente

Seu corpo caiu a mais de 4 metros de costas no chão de pedra, sua visão ficou turva, em
um instante, parou de ver cores, e todo virou um amontado de vermelho, as pegadas de
metal voltaram a soar no chão, lentamente se aproximando, mas a criança já não podia mas
correr, seu corpo parecia ter parado de funcionar, o soldado parou ao seu lado, e então
analisou a criança, olhou para a carne jogada no chão, e num gesto de raiva chutou a
cabeça da garota
Moriah já não conseguia identificar oque o soldado falava, os sons não pareciam se
diferenciar um do outro, pensava ouvir risadas, mas fora isso, só conseguia identificar uma
palavra dos insultos soltos que o soldado soltava, e unicamente porque já o ouviu um
milhão de vezes

‘’aberração’’

Moriah sabia que o pior ainda estava por vir, e esperou, e esperou, o homem de armadura
negra ainda a analisava, a armadura brilhando refletindo o vermelho do sol

Na sua inocência, pensou que a situação poderia ser consertada, que o soldado teria pena
e a deixaria ali, sem espanca-la, ou talvez melhor, a levar para ajuda, talvez lhe dar um
pedaço de pão pela coragem

‘’des-desculpa senh-‘’ foram as palavras que tentou dizer, o soldado pareceu aceitar o
pedido de desculpas como um insulto, um tentativa fraca de implorar por humanidade, algo
que ele sabia que aquele ser não merecia, então ele logo interrompeu a frase com outro
chute, a bota de metal pegou inteira em seu corto, indo da boca até o chifre, sentiu um
estralo, algo caiu do seu lado, sua boca parecia mole.

Alguns cachorros se aproximaras, corvos espiavam de canto, pareciam mais curiosos que
os próprios homens que compravam no mercado, que pareciam aceitar aquilo como rotina

O soldado sabia que aquele demônio não valia o esforço, sua piada de pegar a comida já
não fraca-la, mas catou a carne que caiu no chão de qualquer forma, iria simplesmente
levar para casa e pedir para o cozinhe-lo faze-la

O pequeno demônio seria melhor lidado pelos cães e corvos dali

Então o soldado partiu, assobiando um antigo cântico de sua mãe

Moriah ficou no chão pelo que pareceu horas, ninguém ajudou, mas ela não esperava isso,
ela tinha se tornado mais um corpo dos que tem na cidade, os animais de rua observavam
curiosos, a dor começou a aparecer, seu corpo inteiro ardia, sentia o sangue aos poucos
escorrer, quis chorar, mas ali já não tinha força

Um cachorro vagabundo tomou vantagem dos outros, e então se aproximou, seu rosto
quente podia ser sentido, tal qual seu pelo seco e áspero, Moriah fechou os olhos,
esperando que ele terminasse com ela ali, como eles costumavam terminar com os ratos da
cidade, apenas uma mordida

Ele chegou perto, então lambeu seu rosto, por alguns minutos, então abriu a boca, e com
os dentes, agarrou em seu casaco velho, e levou para um beco solidário, Moriah
adormeceu, pensando ser seu fim

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