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Teoria do Direito

Norma
As normas jurídicas podem ser definidas como um conjunto de normas que integram o
ordenamento jurídico brasileiro, cuja função é regulamentar a conduta das pessoas, ou
seja, é a imposição normativa incorporada em uma fórmula jurídica. Podem ter uma
conotação de preceito e sanção, cujo objetivo principal é resguardar a ordem e a paz
social, porém não devem ser entendidas como instrumento ou ideia relacionada à
segurança, á justiça, etc.

Para Kelsen, toda norma jurídica tem uma sanção, ou seja, uma consequência
negativa.

Validade
A validade é um atributo essencial das normas jurídicas
 Posso fazer uma proposição sobre a norma (falar sobre ela) e essa proposição será
verdadeira ou falsa.
 Mas a norma ela mesma não é verdadeira ou falsa, sim válida ou inválida.
 A validade é um atributo que apenas pode ser atribuído em um contexto, não existem
normas válidas “em si”.
 As normas jurídicas são válidas no contexto do ordenamento jurídico.

A validade (em sentido técnico) é o pertencimento da norma ao ordenamento jurídico.


Sendo:
• Validade formal: qualidade da norma produzida por órgão competente,
obedecendo a procedimentos legalmente previstos.
• Validade material: consistência/coerência da norma em relação à Constituição.

Ordenamento jurídico
É o conjunto de leis, mas não de forma desordenada.

• O ordenamento não é composto apenas de leis no sentido de legislação: todos os atos


normativos compõem o ordenamento.
• Há também elementos não normativos: definições (ex.: definição de doação – art. 538,
CC), classificações (ex.: classificações dos bens – arts. 79 ss., CC), preâmbulos (ex.:
preâmbulo da Constituição Federal)...
• Ordenamento é um conjunto, portanto, de elementos normativos e não-normativos
(esse conjunto é chamado de repertório do ordenamento).
• O ordenamento não é um conjunto desordenado.
• Ele tem determinada estrutura, que ordena seus elementos.
• As regras de estrutura não são normas jurídicas, não são elementos do ordenamento.
• Exemplo: regras de hierarquia, de ordenação das leis no tempo, de coerência.
• Ordenamento, portanto, é o conjunto de elementos normativos e não normativos
estruturados de forma determinada (repertório + estrutura).

Vigência
Tempo de validade da norma, que depende de sua publicação.
Entre validade e vigência: vacatio legis
A lei começa a vigorar no Brasil 45 dias depois de publicada
Em países estrangeiros começa a vigorar três meses depois da publicação.
Se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova publicação de seu texto, destinada a correção, o
prazodeste artigo e dos parágrafos anteriores começará a correr da nova publicação.
As correções a texto de lei já em vigorconsideram-se lei nova.

Eficácia
É a capacidade da norma de produzir efeitos
• Eficácia social (efetividade)
• “Sucesso normativo”: condições fáticas para observância espontânea ou
imposta, ou para a satisfação de objetivos visados.

• Uma norma programática não observada é ineficaz?

• Eficácia técnica: presença de exigências técnico-normativas para aplicação da norma, tais


como outra norma que a especifica, esclarece ou detalha (ex.: A norma prevê que “crimes
hediondos não comportamfiança” – o que é crime hediondo? Se não existe a definição, então
aquela norma será ineficaz no sentido técnico).
• Classificação de eficácia das normas constitucionais de José Afonso daSilva: eficácia plena,
eficácia limitada, eficácia contida.

Vigor
É a imperatividade da norma, força vinculante.
• Art. 2º Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique
ou revogue.
• O vigor pode ser confundido com a vigência da norma.

• Mas algumas normas já sem validade, portanto não vigentes, podem ter vigor (fenômeno
da ultratividade).
• Exemplo de situação de ultratividade: Art. 3º do Código Penal:
Art. 3º A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou
cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica- se ao fato praticado durante sua
vigência.
Duas regras estruturais (pertencentes à estrutura do ordenamento):
 A norma perde validade se revogada por outra norma – REVOGAÇÃO
 Norma pode perder validade por INEFICÁCIA
Revogação
A perda de validade pode se dar por três regras:
• Lex superior: a norma superior revoga a norma inferior nahierarquia no que esta tem de
incompatível.
• Lex posterior: a norma posterior, que vem por último notempo, revoga a norma
anterior no que esta tem de incompatível.
• Lex specialis: a norma especial revoga a norma geral noque esta tem de especial
e incompatível.

Tipos de revogação
• Expressa, tácita ou global. Ver o art. 2º, § 1º, LINDB:
• “A lei posterior revoga a anterior quando”
• “expressamente o declare,” (EXPRESSA)
• “quando seja com ela incompatível” (TÁCITA)
• “ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a leianterior.”
(GLOBAL)

A revogação pode ser total (ab-rogação) ou parcial (derrogação)


• Ex: Código Civil: Art. 2.045. Revogam-se a Lei no 3.071,de 1o de janeiro de 1916 - Código
Civil e a Parte Primeirado Código Comercial, Lei no 556, de 25 de junho de 1850.

.• O art. 2.045 do Código Civil ab-rogou o Código Civil de


. 1916 e derrogou o Código Comercial, em sua PartePrimeira.

No Brasil, no art. 2°, $ 3° da LINDB, é proibido a repristinação. Ou seja, fenomeno no qual a


lei revogada volta a valer pela revogação da norma revogadora.

Ineficácia

Três situações:
• Caducidade: situação social que norma visa regular deixa de existir;
geralmente, são leis de vigência temporária.

• Desuso: condições sociais de eficácia da norma deixam de ocorrer.


• Lei nº 86, de 29/12/1893, prohibe a existência de estábulos no 1ºperímetro
da cidade.
• Lei nº 89, de 19/01/1894, obriga o fechamento das casas de negóciosnos Domingos e
dias de festa Nacional.
• Essas duas leis foram revogadas só em 2005!
• Lei nº 4.117/62 (Código Brasileiro de Telecomunicações): constituir
abuso punível usar os serviços de radiodifusão (rádio e TV) para “ultrajar a honra nacional”
(art. 53, “c”).
• Costume negativo (costume contra legem): a norma é reiteradamente descumprida, sem que
haja maiores efeitos em relação ao descumprimento.

A caducidade é um fenomeno que pode ser verificado mais facilmente, enquanto desuso e
costume negativo são fenômenos que exigem justificação/argumentação detalhada.

Consistencia do ordenamento- Lacunas e antinomias


No ordenamento jurídico, há uma ficção de coerência e completude: em relação a qualquer
comportamento, preciso saber se ele é proibido, permitido ou obrigatório. De forma que para
que o ordenamentro seja verdadeiro, tenha que haver compeltude e coerencia. Entretanto, isso
é apenas um caso ideal.

Assim,
 As situações de incoerencia são chamadas de antinomia
 As situações de incompletude são chamadas de lacunas.

Antinomia
É a ocorrencia de duas ou mais normas incompatíveis regulando a mesma situação.
Exemplo, algo proibido e permissão positiva contraditorio.

Requisitos de existencia de antinomias:


 Incompatibilidade
 Normas do mesmo ordenamento jurídico
 Normas com um mesmo âmbito de validade

Antinomias reais (pode ser resolvida) e aparentes (não há critério de resolução)


As antinomias são aparentes se as normas pertencem a ordenamentos jurídicos diferentes ou
tem ãmbito de validade distinto. Mas um problema é que em alguns casos o âmbito de
validade não está claro.

Critérios de resolução de antinomias

2. Temporalidade (lex posterior derrogat legi priori)


 Se pressupormos a existência de um legislador racional, é uma exigência lógica que a
vontade mais recente prevaleça sobre a vontade antiga.
3. Especialidade (lex specialis derrogat legi generali)
 Novamente aqui, o pressuposto do legislador racional faz com que seja uma exigência
lógica a prevalência da lei especial.

Insuficiencia ou conflito entre critérios


 Insuficiência: normas de mesma hierarquia, temporalidade e generalidade.
A inuficiência dos critérios de resolução é um caso de lacuna jurídica.
Nesse caso, o intérprete/aplicador precisa decidir se as duas normas incompatíveis são
inválidas ou se é possível realizar uma interpretação que preserve a validade de uma
delas.
 Conflito (antinomia de segundo grau): casos em que mais de um critério de solução de
antinomia se aplica. Nesses casos, um dos critérios irá prevalecer.
Hierarquia sempre prevalece sobre os outros dois. Não há regra geral sobre a
prevalencia de especialidade ou temporalidade.

Lacunas= problema para a completude do ordenamento


Casos em que não é possível identificar uma norma jurídica aplicável.
O juiz não pode se negar a decidir: vedação do non liquet

Possibilidades de solução da lacuna


1. Existe no ordenamento uma “norma geral exclusiva” (“regra geral de liberdade”): tudo que
não é proibido, é permitido. Argumentum a contrarii.
2. Argumentum a similli: possibilidade de aplicar uma norma jurídica que regula determinado
caso a outro caso que seja semeljante ao já regulado. =Analogia (legis)
3. Invocação de princípios gerais do direito (analogia juris)
4. Invocação de costumes

 Autointegração do direito: resolver lacunas recorrendo a elementos do próprio


ordenamento (analogia, princípios)
 Heterointegração do direito; resolver lacunas recorrendo a elementos externos
(costumes).

Interpretação
É algo que fazemos naturalmente em relação a tudo é produto do mundo humano: não existe
um sentido “auto-evidente” das obras humanas.
Interpretar= Extrair o sentido, significado, valor de algo.
 Toda norma jurídica é interpretada.
 Todos que lidam com o direito (não só os juízes e advogados, por exemplo, mas
também o legislador) realizam interpretação.
 Não existe norma jurídica “auto-aplicável”.
 Noção de direito enquanto ordenamento (conjunto de normas válidas com regras
estruturais próprias) cria a impressão de que ele poderia funcionar enquanto um
sistema “independente”, mas essa ideia é muito parcial: o direito não é totalmente
determinado, o que faz com que a atividade do intérprete seja essencial.

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