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FACULDADE DE TECNOLOGIA DE TERESINA – CET/PI

CURSO: DIREITO
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO
Profª Eulane Coelho Batista

RESENHA CRÍTICA

Teresina/PI
2019
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RESENHA CRÍTICA
Por Maurício José Gomes Mendes1

BOBBIO, Norberto. Teoria do Ordenamento Jurídico. 2ª edição. Brasília/DF. Ari Marcelo


Solon, Celso Lafer e Tercio Sampaio Ferraz Junior, 2014. 176p.

CREDENCIAIS DO AUTOR

Norberto Bobbio (Turim, 18 de outubro de 1909 — Turim, 9 de janeiro de


2004), estudou no Ginásio e em seguida no Liceo Massimo d’Azeglio. Em 1927 ingressou na
Universidade de Turim no curso de Direito. Em 1931 licencia-se com a tese Filosofia do
Direito. Estagiou em Marburg na Alemanha. De volta a Turim continuou seus estudos e em
1933 defendeu a tese “Husserl e a Fenomenologia”. Em 1934 obteve a livre-docência em
Filosofia do Direito. Em resumo, foi um filósofo político, historiador do pensamento político,
professor de direito e, mais tarde, ciência política, mas, sobretudo, um protagonista, se
tornando senador vitalício italiano. Considerado um destacado filosófo do século XX, teve
seu pensamento reconhecido nos estudos de filosofia do Direito sobre o Jusnaturalismo e
Positivismos jurídicos, emplacando também outros temas, com escritos sobre Política e
Formas de Governo.

RESUMO DA OBRA

A obra em questão é a segunda parte do Livro Teoria Geral do Direito. Para o


autor, Teoria do Ordenamento Jurídico é a continuação dos debates feitos em Teoria da
Norma Jurídica.
O livro “Teoria do Ordenamento Jurídico” é considerado por intelectuais e
estudiosos do Direito como um dos mais belos trabalhos de Bobbio, a primeira edição foi
lançada em 1960, no Brasil sua primeira tradução foi feita em 1995, por Maria Celeste
Cordeiro Leite e apresentação de Tercio Sampaio Ferraz Júnior, a literatura jurídica traça sua
discussão em 5 capítulos, onde o autor faz entender, num contexto conceitual e construtivista,
o método científico de interpretação do direito caracterizado pela jurisprudência dos valores.

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Acadêmico do 1º Período do Curso de Direito da Faculdade de Tecnologia de Teresina – CET/PI.
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Ao aprofundar questões sobre o destino da Ciência Jurídica na própria sociedade


em transformação, caracterizando o direito como instrumento de controle social, dividindo
este em três tipos, coativo (molde tradicional, ênfase na repressão e prevenção de condutas);
persuasivo (ênfase no condicionamento da ação desejada); premonitivo (ênfase em evitar que
conflitos venham acontece), Bobbio nos leva à observar o estado Direito, em duas formas, o
Estado Tradicional (protetor e repressor) em que o operador do Direito, trata tal ciência como
um conjunto de regras cuja função é sancionadora e negativa, onde é ele quem sistematiza e
interpreta, com base em uma Teoria Estrutural do Direito. E o Estado Promocional, neste o
Direito é visto como conjunto de regras com função implementadora de comportamento, cujo
papel é modificador e criador de direitos, assim, tem-se uma Teoria Funcionalista, como
opositora da estruturalista.
No capítulo 1, da obra em comento, Da norma jurídica ao ordenamento
jurídico, Bobbio trata da importância de estudar as normas dentro de um conjunto, visto que
estas não existem sozinhas, mas dentro de um contexto que se inter-relacionam, que estrutura
um computo chamado Ordenamento Jurídico. Bobbio declara que sua obra é uma
continuação da obra de Kelsen, pois afirma que antecipadamente Kelsen via a necessidade de
estudar isoladamente os problemas do ordenamento jurídico daqueles da norma jurídica,
denominados por este de Nomodinâmica e Nomostática.
Bobbio admite não ter concluído a discussão sobre o que seja direito, quando
abriu o viés argumentativo da Teoria da Norma Jurídica, passou a tecer uma crítica
sistemática sobre os critérios posto pela teoria da norma jurídica: a) Critério Formal – o
direito caracterizado a partir de um elemento estrutural da norma jurídica, que podem ser,
positivas ou negativas, gerais(abstratas) ou individuais(concretas) e categóricas ou
hipotéticas; b) Critério Material – caracterizado pelo conteúdo da norma, as ações que elas
regulamentam; c) Critério do Sujeito que põe a Norma – identifica como jurídicas as normas
advindas de um “poder soberano”, incontestável e com o monopólio do uso da força; d)
Critério do Sujeito a quem a norma é destinada – caracteriza uma norma como jurídica a
partir de seus destinatários, os juízes ou os súditos.
Mesmo diante tal crítica, o autor define norma jurídica como aquela cuja execução
é garantida por uma sanção externa e institucionalizada, mas é decisivo quando diz, que
mesma definição não possa ser atribuída como conceitual ao Direito, pois a palavra direito
pode ser utilizada tanto para indicar uma norma jurídica particular, como também, para definir
um complexo de normas jurídicas. Esse conceito leva à concepção do direito como
ordenamento, pois com esta definição pressupõe um complexo orgânico de normas e não
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apenas um elemento individual da norma. O principal argumento para a existência do


ordenamento jurídico é de que não existem ordenamentos porque há normas jurídicas e sim há
normas jurídicas porque há ordenamento. Com a definição do ordenamento jurídico, o autor
passa a aprofundar o seu conceito abordando a pluralidade das normas, em que analisa a
impossibilidade de existir uma norma única, pois esta, na realidade, seriam duas, a particular e
a geral excludente, mesmo que em estrutura formal, esta seja um único conjunto.
O capítulo 2, A unidade do ordenamento jurídico, Bobbio justifica a
dificuldade no estudo do direito como ordenamento, de encontrar um fundamento que o
identifique, capaz de unificar um entendimento. Chama a atenção para a complexidade de
fontes da norma e de sua necessidade imprescindível para reger uma sociedade. A
apresentação histórica da norma, cuja origem é fundada na obra Teoria do Contrato Social de
Hobbes, destaca que de um lado há um poder soberano que faz e impõe as normas e, do outro,
um poder originário, pautado nas concepções de John Locke, para este havia a possibilidade
de criação de normas em diferentes órgãos. Assim, as fontes do direito, sendo aqueles fatos ou
atos, insumos dos quais o ordenamento jurídico faz depender a produção das normas jurídicas.
O ordenamento moderno, por sua vez, além de regular o comportamento das
pessoas, regula também o modo pelo qual se devem produzir as regras. Para explicar o
ordenamento jurídico como unidade, o autor, se vale da Teoria da Construção Gradual do
Ordenamento Jurídico (Rans Kelsen), a mencionada teoria explica que as normas de um
ordenamento não estão no mesmo plano, pois existem normas superiores e inferiores,
conforme apresenta a pirâmide kelsiana. Em outras palavras, o autor expunha, a existência de
uma Norma Fundamental de origem exterior ao sistema jurídico e que estaria na base da
hierarquia das normas, como o poder constituinte, dando a legitimidade a todo o sistema
jurídico, sendo assim, tal norma estabeleceria obediência ao poder originário. Para Bobbio
todo poder originário repousa um pouco sobre a força e um pouco sobre o consenso, a
justificativa foi dada para explicar a atuação do poder coercitivo do Estado na aplicação das
normas.
Em tratativa, o capítulo 3 - A Coerência do Ordenamento Jurídico, salienta o
problema da coerência que surge em função do ordenamento jurídico, constituir-se por um
conjunto de normas, as quais por emergirem de variadas fontes podem apresentar oposições
entre si.
Partindo da ideia que ordenamento é um sistema, Bobbio lembra que Kelsen
divide esse sistema em dois, os estáticos – que são normas ligadas por seu conteúdo e, os
dinâmicos – normas que estão ligadas por sua forma, hierarquia. Assim, sendo o ordenamento
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um sistema, não podem coexistir normas incompatíveis, pois havendo essa incompatibilidade
nas normas, haveria o que o autor chama de antinomias, normas incompatíveis em seu
conteúdo e na validade.
Para Bobbio, as antinomias são defeito que o intérprete das normas jurídicas terá
que tentar eliminar. Assim, expõe ser necessário seguir regras fundamentais de solução de
antinomias, a saber: a) critério cronológico – prevalece a norma posterior; b) critério
hierárquico – prevalece a norma superior e c) critério da especialidade- prevalece a lei
especial. Em casos de conflito de critérios prevalece a especialidade, a hierarquia e por fim a
cronologia. Ainda assim, não resolvendo o problema da antinomia, pode o juiz optar por
proceder de três formas: a) elimina uma das normas; b) elimina as duas; c) conserva as duas.
Contudo, ressalta que a coerência não é condição de validade, mas sempre condição para a
justiça do ordenamento, pois a aplicação de duas normas contraditórias gerará decisões
diferentes em casos semelhantes, violando princípios considerados importantes para os
ordenamentos jurídicos: o princípio da certeza e o princípio da justiça.
No penúltimo capítulo, intitulado A Completude do ordenamento jurídico, nos
remete a pensar o ordenamento jurídico materializado, ou seja, forma corpórea de normas,
cuja função seria regular qualquer que seja a conduta humana. Nesse sentido, a ausência de
uma norma que regule determinado comportamento é considerada uma lacuna no
ordenamento, temos aqui uma incompletude, ou seja, uma falta no ordenamento jurídico.
O autor expõe a completude como princípio no ordenamento jurídico, que o
caracteriza como completo, capaz de fornecer ao juiz uma solução sem recorrer a igualdade.
Segundo Bobbio, as lacunas distinguem-se em reais e ideológicas, ou seja, lacunas próprias –
dentro do sistema e impróprias – comparação do real com o ideal. Nas suas explicações cita o
autor os meios para se completar um ordenamento com lacunas, tais meios têm a ver com os
métodos de Carnelutti, a heterointegração (o juiz busca complementação no direito natural e
fonte subsidiária) e a auto integração (preenchida pelo próprio ordenamento e fonte). Para
aplicação desses métodos, Bobbio apresenta ser necessário que se utilize de dois
procedimentos, o uso da analogia ou o dos princípios gerais do direito.
O capítulo final desta obra, os ordenamentos jurídicos em relação entre si, o
autor ressalta que desde a concepção monista, há a ideia de um Direito Universal, contudo,
uma maioria de estudiosos discorda, levando a crer, que existe sim, um pluralismo de
ordenamento. Nessa concepção, Bobbio torna evidente, que acredita nas concepções que
defendem a existência de vários ordenamentos e que estes se relacionam ente si. O direito
universal tem ligação com o direito natural único e universal, enquanto que o pluralismo, tem
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sua fase iniciada na concepção do direito advindo, direto ou indiretamente, da consciência


popular e numa segunda fase, mais atual, de um caráter institucional, em que vários
ordenamentos concorrem entre si, o da igreja, da escola, do Estado, dos Países vizinhos. Neste
sentido, os ordenamentos podem ser indiferentes entre si, podem recusarem-se ou
absorverem-se. Podem ainda, relacionarem-se em aspectos temporais, espaciais e materiais,
prevendo, neles mesmos, critérios para coordenação e aplicação ao caso concreto, não
deixando o ordenamento se tornar algo obsoleto ou estagnável com o passar dos tempos.

Conclusão

Vale aqui sublinhar, que esta obra foi escrita há precisamente 59 anos, mesmo
assim, seus argumentos se fazem ainda útil e necessário ao Direito Contemporâneo. A riqueza
circundada nas obras de Norberto Bobbio, torna-as obrigatória na bibliografia necessária dos
cursos de Direito, haja vista, tecer discursos gerais de Direito, que perpassa pela formação e
organização da norma jurídica, bem como pela ideia de unidade, coerência, completude e as
relações entre os ordenamentos jurídicos.
Na obra estudada, foi possível compreender que a especificidade do direito reside
não na norma jurídica considerada isoladamente, mas no ordenamento jurídico como um todo.
Nesse sentido, é bastante válida a indicação desta leitura pelos professores, pois proporciona
um crescimento intelectual dos alunos de direito, no que diz respeito, ao entendimento da
Teoria Geral do Direito em uma leitura bastante enriquecedora dos conhecimentos jurídicos
explicado por um grande escritor da Ciência Jurídica, como é o caso do Bobbio, devendo a
leitura ser sempre aprofundada e compreendida em seus termos minuciosamente detalhados.

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