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Em princípio cabe apontar que o título do capítulo faz menção aos três
critérios de valoração da norma jurídica.
Se ela é justa ou injusta - O problema da justiça é o problema da
correspondência ou não da norma aos valores últimos que inspiram
determinado ordenamento jurídico. Com isso, Bobbio se afasta do afã de
eleger quais são esses valores últimos, atendo-se ao fato de que todo
ordenamento jurídico persegue determinados fins, e concluindo que o problema
da justiça/injustiça da norma é um problema moral, deontológico . O problema
moral, como se sabe, é do plano do dever-ser.
Se é válida ou inválida: Enquanto o binômio justiça/injustiça diz respeito
a um juízo moral, de valor, a questão da validade da norma jurídica faz um
juízo de fato Verificar a compatibilidade da norma com o ordenamento Verificar
se ela não foi ab-rogada posteriormente, ou seja, se ela não perdeu sua
validade por força de uma nova lei hierarquicamente superior.
Jusnaturalismo: As correntes jusnaturalistas têm em comum a intenção
de priorizar o problema da justiça/injustiça em detrimento da
validade/invalidade e da eficácia/ineficácia. Os defensores do direito natural
insistem no caráter universal de determinados direitos, subordinando a validade
e a eficácia da norma jurídica a algum valor ético/moral considerado natural,
universal.
Positivismo jurídico: Sabendo que esta corrente tem na norma jurídica
estatal o núcleo do seu objeto de estudo, é fácil perceber que o juspositivismo
confere primazia ao binômio validade/invalidade.
Quando Kelsen afirma que o que constitui o direito como tal é a validade,
ele não quer absolutamente afirmar, ao mesmo tempo, que o direito válido
também é justo . O que Kelsen quer, ao dar primazia ao problema da validade
da norma, é justamente separar o problema estritamente jurídico do problema
do valor justiça, de ordem ética/moral.
Thomas Hobbes: Pode ser considerado um juspositivista estrito, já que,
para ele, o direito válido é necessariamente justo. Ou seja, o valor «justiça» de
uma norma, para Hobbes, deriva da sua validade. Em outras palavras: se uma
autoridade baixar uma lei, ela é necessariamente justa. Para entender o
radicalismo hobbesiano, é necessário observar que ele propõe uma ruptura
com o jusnaturalismo em alguns pontos fundamentais: embora ele não rejeite a
existência de Deus - e, portanto, de valores naturais ou universais-, ele trabalha
o direito, a ética e a moral humanas enquanto mera convenção. Em outras
palavras, Hobbes concebe a norma jurídica a partir do critério da validade,
exclusivamente. Ao reduzir a norma jurídica a uma convenção, é possível
concluir que, se o justo é uma mera arbitrariedade, basta alguém convencionar
algo para que esse algo se torne justo, ou, melhor dizendo, é até necessário
que haja um Leviatã que imponha à força certas convenções, com o fim de
garantir a ordem e a paz social.