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Introdução
a) Norberto Bobbio
Nem todo sistema normativo pode ser considerado igual em estrutura ao ordenamento.
Surge no fim do século XVIII e início do século XIX – exigência de unidade a um conjunto
de normas fragmentárias – risco permanente de incerteza e arbítrio.
Não seria possível dar uma definição do direito a partir da norma jurídica considerada
isoladamente: uma definição satisfatória do direito só seria possível do ponto de vista do
ordenamento jurídico.
Dita por um guarda de trânsito, ganha o caráter de norma. Dita pelo jornaleiro, é
adescrição de uma proposição; dita pelo guarda é a prescrição de uma proposição.
Mas essa definição não é de todo verdadeira. No conjunto de normas brasileiro, temos
as exposições de motivos, as classificações (como as do Código Civil, no direito das coisas, etc.)
que servem para organizar a matéria, mas não têm imposição vinculante e institucionalizada.
O conjunto dos elementos é apenas o repertório (a sala de aula com seus móveis,
objetos e alunos, sem a relação entre os alunos).
b) Bobbio
1. Em relação à unidade e de que modo se constituem; problema discutido pela hierarquia das
normas;
b.3.1.) unidade – o ponto de referência é o poder originário – a fonte das fontes – as normas são
todas postas (direta ou indiretamente, mediante delegação a autoridades subordinadas) pela
mesma autoridade, podendo ser reconduzidas à mesma fonte originária constituída pelo poder
legitimado a criar o direito.
Seu núcleo é que as normas de um ordenamento jurídico não estão todas num mesmo
plano. Há normas superiores e normas inferiores. As inferiores dependem das superiores.
“Subindo das normas inferiores àquelas que se encontram mais acima, chega-se a uma
norma suprema, que não depende de nenhuma outra norma superior, e sobre a qual repousa a
unidade do ordenamento. [...] é a norma fundamental [...] É ela que dá unidade ao
ordenamento”.
b.3.2.) coerência
B) Dinâmico - as normas que o compõe derivam umas das outras através de sucessivas
delegações de poder - através da autoridade que as colocou: uma autoridade inferior deriva de
uma superior, até chegar à autoridade suprema, que não tem nenhuma acima de si. A relação
entre essas normas não é, então, material, e sim formal.
Disso decorre:
1.1. Sistema dedutivo - dado ordenamento é umsistema enquanto todas as normas jurídicas
daquele ordenamento são deriváveis de alguns princípios gerais. Essa acepção foi mais usada
pelos jusnaturalistas.
1.2. Sistema indutivo - Indica um ordenamento da matéria, realizado através do processo
indutivo, partindo do conteúdo das simples normas com a finalidade de construir conceitos
sempre mais gerais, e classificações ou divisões da matéria inteira (semelhante a uma
classificação taxonômica – gênero, espécie, família, ordem, etc.).
O ordenamento jurídico constitui um sistema porque não podem coexistir nele normas
incompatíveis. Ou, o Direito não tolera antinomias.
1.3.1. Antinomia - situação na qual são colocadas em existência duas normas incompatíveis,
pertencentes ao mesmo ordenamento e tendo o mesmo âmbito de validade. Duas normas
conflitantes, válidas e emanadas de autoridade competente, sem que se possa dizer qual delas
merecerá aplicação em determinado caso concreto (lacunas de colisão).
Condições:
B) As duas normas devem ter o mesmo âmbito de validade. Distinguem-se quanto ao âmbito de
validade de uma norma: temporal, espacial, pessoal e material. Não constituem antinomia duas
normas que não coincidem com respeito a: tempo, espaço, pessoa e matéria.
C1.) Total-total - se duas normas incompatíveis têm igual âmbito de validade; em nenhum caso
uma das duas normas pode ser aplicada sem entrar em conflito com a outra.
C.2.) Parcial-parcial – se duas normas incompatíveis têm âmbito de validade em parte igual e
em parte diferente, a antinomia subsiste apenas para a parte comum: cada uma das normas
tem um campo de aplicação em conflito com a outra, e um campo de aplicação no qual o conflito
não existe.
C.3.) Total-parcial: a primeira norma não pode ser em nenhum caso aplicada sem entrar em
conflito com a segunda; e a segunda tem uma esfera de aplicação em que não entra em contato
com a primeira.
C.4.) Solúveis ou aparentes – são os casos em que se podem aplicar ao mesmo tempo duas ou
mais regras em conflito entre si.
C.5.) Insolúveis ou reais - aquelas em que o intérprete é abandonado a si mesmo: ou por falta
de um critério para solução da antinomia, ou por conflito entre os critérios dados.
D.3.) Critério da especialidade – entre duas normas incompatíveis, uma geral e uma especial
(ou excepcional), prevalece a especial.
Quando não se pode aplicar nenhum dos três critérios (ex: entre normas incompatíveis
dentro de um mesmo código), a solução acaba dando liberdade ao intérprete, mediante três
possibilidades:
D.3.1.) eliminar uma norma - a operação feita pelo juiz chama-se interpretação ab-rogante, mas
é uma ab-rogação em sentido impróprio: o juiz tem a liberdade de aplicar a norma que
considerar mais compatível com o caso, mas não de expeli-la do sistema;
D.3.3.) conservar as duas normas – solução mais comum entre os intérpretes: o juiz deve
demonstrar que as normas não são incompatíveis, a incompatibilidade é apenas aparente;
interpretação corretiva para conciliar o texto.
E.1.) Conflito entre critério hierárquico e o cronológico - quando uma norma anterior
superior é antinômica em relação a uma norma posterior inferior: Se aplicar o critério
hierárquico, prevalece a primeira; se aplicado o critério cronológico, prevalece a segunda. O
critério hierárquico prevalece sobre o cronológico, caso contrário o critério hierárquico seria
tornado vão, pois não haveria o poder das normas superiores de não serem ab-rogadas pelas
inferiores.
(MURTA, Raissa Oliveira et al. (REVISTA DIREITO GV, SÃO PAULO 8(2) | P. 455-484 | JUL-DEZ
2012)
a) Pelo critério hierárquico (Lei superior revoga lei inferior), a Lei 11.428/06 deve
prevalecer sobre a Portaria n. 83/1991 do Ibama, e a Instrução Normativa n. 6/2008, do MMA.
b) No que se refere ao critério da especialidade (lei especial revoga lei geral), percebe-
se que a Portaria n. 83/1991 do Ibamadeve prevalecer face às demais, uma vez que é mais
específica que as outras, pois trata particularmente da espécie florestal aroeira.
g) Desse modo, por pertencer o artigo 28 da referida lei a um título mais específico
dentro da disposição do diploma, é forçoso concluir, à luz do critério de que “lei especial revoga
lei geral”, pela sua prevalência e consequente possibilidade de exploração da aroeira quando
em monodominância, desde que mediante plano de manejo autorizado.
h) Por fim, no que tange o critério cronológico (Lei posterior revoga lei anterior),
percebe-se que a Instrução Normativa n. 6/2008 do MMA, que traz a aroeira como espécie
ameaçada de extinção, é a norma mais recente e, portanto, por esse critério, deveria prevalecer.
1) Conceito - a propriedade pela qual um ordenamento jurídico tem uma norma para regular
cada caso, ou, não há situação que não tenha regulamento previsto em norma constante do
sistema. Seria o sistema sem lacunas.
3) Crítica da completude - Escola do Direito Livre - pela primeira vez na história criticou o dogma
da completude - defendia que o direito estatal não é completo, está cheio de lacunas e, para
preenchê-las, é necessário confiar principalmente no poder criativo do juiz, na sociologia
jurídica, nas necessidades e na vida social.
4.2. O ordenamento pode apresentar falta de normas (deficiência) - há norma a menos, no caso
de lacuna. O trabalho do jurista consiste na integração do próprio direito.
5.1. – Espaço jurídico vazio - argumento dos positivistas estritos: um caso está regulado pelo
Direito, e então é um caso jurídico oujuridicamente relevante; ou não está regulado pelo
Direito, e pertence à esfera de livre desenvolvimento da atividade humana, do juridicamente
irrelevante.
Assim, até onde o Direito alcança com as suas normas, não há lacunas; onde não
alcança,há espaço jurídico vazio e, portanto, não há lacunas no Direito, mas atividades
indiferentes ao Direito.
5.2.1. Norma geral exclusiva - Uma norma que regula um comportamento não apenas limita a
regulamentação e as consequências jurídicas que derivam disso para determinada conduta, mas
também exclui da regulamentação todos os outros comportamentos.
Assim, cada norma está acompanhada de uma outra, nela contida de modo
implícito que exclui todos os casos particulares nela não previstos. Ou, é permitido tudo o que
não está proibido ou comandado. Esfera do juridicamente lícito.
Ex.: Norma que proíbe importar cigarros permite importar todas as outras coisas que
não sejam cigarros.
5.2.2. Norma geral inclusiva – destinada a regular do mesmo modo, os casos não
compreendidos na norma particular, mas semelhantes a eles.
Assim, diante de um caso não regulado, utilizando a norma geral inclusiva, será resolvido
do mesmo modo ao que está regulamentado; já utilizando a norma geral exclusiva o caso será
resolvido de maneira oposta.
5.3.1 - Próprias (reais) – encontram-se inseridas no sistema. Quando há norma geral exclusiva
e inclusiva e um caso não-regulado pode ser encaixado tanto numa quanto noutra. São
solucionadas mediante as leis vigentes e completáveis pelos intérpretes. Se há lacunas próprias,
o sistema está incompleto.
5.3.2. Impróprias (ideológicas) – derivam da comparação do sistema real (lege data) com o
sistema ideal (lege ferenda). Existem quando há somente norma geral exclusiva. Só é eliminada
pela formulação de novas normas, e são completáveis só pelo legislador.
Esses dois tipos designam um caso não regulamentado pelas leis vigentes num dado