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Dualidade da Linguagem - Gpo vs. conceito: na linguagem jurídica, os conceitos dispõem de uma
extensão e uma intensão, sendo tanto a linguagem Gpológica ou intensional como a linguagem
classificatória ou conceptual u*lizadas pelo legislador. A *pológica concre*za-se nos Gpos legais. A
classificatória nos conceitos jurídicos.
Conceitos determinados: também designados de descriGvos, são conceitos cuja extensão está
determinada. Subdividem-se em normaGvos e empíricos. Os normaGvos são próprios de uma ordem
norma*va, nomeadamente, da ordem jurídica (podem também pertencer à ordem moral, também
norma*va), que só têm significado numa ordem jurídica. Os empíricos são conceitos próprios de uma
realidade não norma*va.
Conceitos indeterminados: são conceitos cuja extensão é variável, sendo por isso vagos. Em
termos abstratos, possuem uma zona delimitada e uma zona cinzenta e de penumbra, podendo ser
clara a sua referência em determinadas situações e não clara noutras situações.
Preenchimento: o conceito indeterminado estará preenchido quando a situação
concreta se inclua no seu núcleo e quando essa situação também possa ser incluída na zona de
penumbra. Pode acontecer que seja manifestamente aplicável, quando estão preenchidos os requisitos,
manifestamente não aplicável quando não estão preenchidos (a situação vai para além do halo) e nem
manifestamente aplicável nem manifestamente não aplicável, na medida em que há dúvidas
rela*vamente à inclusão da situação no halo de penumbra.
Problema destes conceitos: a indeterminação das fronteiras torna determinados casos
de diocil solução, já que a sua aplicação é feita em várias medidas - saber-se, até que ponto, a situação
está ainda dentro das fronteiras do halo.
ConcreGzação e Aplicação: só podem ser compreendidos e aplicados através de uma
concre*zação, através da qual se ajuíze o que neles se inclui e o que deles se exclui - uma delimitação de
fronteiras.
Tipos legais: o Gpo corresponde a algo de exemplar ou de paradigmáGco. É um modelo. Pode
dis*nguir-se um Gpo médio e um Gpo consGtuGvo. O médio corresponde ao que se verifica com maior
frequência, o que é mais comum - exemplo: aluno médio. O consGtuGvo ou de totalidade descreve uma
realidade de acordo com os traços caracterís*cos e essenciais - exemplo: casa Wpica portuguesa.
Redução Tipológica - classificação vs. ordenação: a diferenciação entre conceito e *po, de acordo com
as linguagens, pode ser traçada. Um conceito tem uma função classificatória, procurando dis*nguir
realidades. Um Gpo tem uma função ordenatória, procurando ordenar realidades de acordo com as suas
caracterís*cas essenciais - o *po não pode ser definido, apenas descrito. Em termos de abstração, o
conceito é mais abstrato e o Gpo é mais concreto.
Conceito vs. Tipo: o conceito é fechado, exigindo a verificação de todos os seus elementos
cons*tu*vos (os elementos são todos eles essenciais). O Gpo é vago, já que permite que se verifiquem
diferentes configurações ou que os elementos essenciais combinem com elementos acessórios dis*ntos
ou aWpicos.
Prevalência do Tipo: a mesma expressão pode ser considerada como um conceito ou
como um *po. Contudo, na linguagem habitual, o Gpo é mais relevante, sendo a linguagem *pológica
fundamentalmente *pológica. Já no caso da linguagem jurídica, cabe ao legislador fazer a escolha entre
uma linguagem *pológica e uma linguagem classificatória - é frequente a escolha Gpológica, já que o
legislador pretende enquadrar juridicamente certas matérias, não sendo necessária uma descrição dos
elementos Wpicos do facto/situação que integra a previsão da norma. A mesma linguagem Gpológica é
u*lizada nas definições legais (apenas os elementos Wpicos). A prevalência do Gpo verifica-se nos
conceitos indeterminados - estes são, na verdade, Gpos, já que há indeterminação quanto aos casos
regulados.
Divisio e Par++o - disGnção: a divisio consiste na divisão da extensão de um conceito (de um género nas
suas espécies - cada parte cons*tui, assim, todas as caracterís*cas do conceito dividido). A par66o
consiste na decomposição de um concito nas suas notas caracterís*cas, pelo que nenhum membro da
par66o contém todas as caracterís*cas do conceito.
Consequências: a divisio é própria de um sistema fechado e da linguagem conceptual. A par66o
é própria de um sistema aberto e da linguagem *pológica
Importância da disGnção: a divisio e a par66o acompanham a dis*nção entre conceito e *po, A
divisio consiste na divisão de um conceito mais extenso em conceitos menos extensos. Já a par66o
consiste na decomposição de um conceito nos seus elementos caracterís*cos, permi*ndo passar-se do
conceito para o *po.
Exemplificação da divisio: o conceito abc ficaria dividido em abc+d, abdc+e e abc+f.
Exemplificação da par++o: o *po abc ficaria dividido em a, b e c.
Construção de um Gpo: decompor, através da par66o o conceito nos seus elementos Wpicos e
conjugar cada um deles com elementos semelhantes de outros conceitos.
18 – Interpretação da Lei.
Aspetos Relevantes: a interpretação desdobra-se em três aspetos fundamentais. É necessário escolher a
sua finalidade (delimitar se a finalidade é descobrir a intenção do legislador ou o significado obje*vo da
lei), selecionar elementos (selecionar os elementos aos quais se vai recorrer para a*ngir essa finalidade)
e inferir a regra jurídica (conjugar os vários elementos da interpretação, apurando o significado práGco
da fonte – a que casos esta se aplica).
Caráter normaGvo: a interpretação responde a uma questão do domínio do dever ser – como é
que a lei deve ser interpretada. Assim, tem caráter normaGvo, acrescendo-se as regras específicas do
arGgo 9º.
Elementos da interpretação: para a interpretação, devem ser seguidas regras específicas, denominadas
de elementos da interpretação. Assim, há que, segundo Savigny, considerar: elemento gramaGcal
(sen*do literal da lei), elemento lógico (construção lógica da lei), elemento sistemáGco (conexão
sistemá*ca das regras que constam da lei), elemento histórico (mo*vo da elaboração da lei).
Atualmente, entende que há que considerar a letra da lei, o que resulta da história, da teologia e da
contextualização.
Enunciado: em concreto, os elementos são – elemento literal (sen*do da letra da lei), elemento
histórico (momento em que a lei foi produzida), elemento sistemáGco (enquadramento sistemá*co da
lei), e o elemento teleológico (finalidade da lei). Os três úl*mos são não literais. Assim, a interpretação
aplica-se a todas as leis em senGdo material e aos preceitos do ar*go 9º - não se aplica à regra
(resultado da interpretação).
Letra e espírito: pretende-se que o intérprete encontre o espírito da lei, através da
letra, com base na sistemá*ca, na história e na teleologia.
Hierarquia dos elementos: o ordenamento português estabelece duas hierarquias,
quanto ao resultado e quanto ao método. A do método permite concluir que o elemento grama*cal tem
primazia (só depois de determinado o basic meaning, literal, deve ser recons*tuído o deep meaning,
pensamento legisla*vo, através de elementos não literais). A do resultado, pressupõe que o intérprete
deve recons*tuir o pensamento legisla*vo a par*r do texto da lei, com base nos elementos não literais,
devendo prevalecer o espírito sobre a letra, em caso de divergência – prevalecem os não literais.
Conclusão: permite concluir uma meta-regra de prevalência – o que o
intérprete pode fazer com a lei prevalece sobre o que a letra da lei diz.
Valor dos elementos: de acordo com o princípio da exausGvidade dos elementos, devem ser
usados todos os elementos que constam do ar*go 9º. Só podem ser usados os elementos nele incluídos,
de acordo com o princípio da exclusividade, e a sua u*lização não necessita de ser jus*ficada
Elemento histórico: também pode ser designado de elemento genérico e corresponde à jusGficação da
fonte, ou seja, que necessidades estavam a ser sa*sfeitas no momento da produção da fonte. Contém
aspetos objeGvos, como a situação social e jurídica, e subjeGvos, a intenção do legislador.
Aspetos ObjeGvos: há que ter em conta os precedentes normaGvos e doutrinários e o occasio
legis. Os precedentes norma*vos correspondem aos antecedentes da lei, podendo ser históricos (leis
que antecedem e que forem subs*tuídas) e compara*vos (leis vigentes em outros ordenamentos). Os
precedentes doutrinários têm que ver com o ambiente doutrinário. O occasio legis respeita ao
conhecimento da realidade que rodeou a formação da lei (ar*go 9/1).
Aspetos subjeGvo: corresponde à intenção do legislador. Para tal, há que analisar as exposições
oficiais, os trabalhos preparatórios (estudos), os anteprojetos e os projetos, a discussão, os preâmbulos
dos diplomas legais e os relatórios explica*vos das convenções internacionais. Será, então, o que
hipoteGcamente for daí inferido.
Aspetos evoluGvo: entende-se que a interpretação tem sido dada, pela jurisprudência e pela
doutrina, averigua novas necessidades, diferentes das que jus*ficaram a produção e que podem ser
sa*sfeitas pela lei. Daqui resulta a diferença entre law in books e law in acGon.
Elemento sistemá*co: os ins*tutos jurídicos cons*tuem um sistema, pelo que só dentro dessa conexão
de sistema podem ser completamente compreendidos. A unidade do sistema jurídico exige que uma lei
seja interpretada de acordo com o sistema e que só essa interpretação garante a primeira unidade
(postulado e consequência). No caso de nenhuma interpretação ser conforme o sistema, há que reccorer
à revogação, à invalidade, à qualificação de uma como lei excecional ou como lei especial ou à escolha
de uma das regras, depois de ponderados interesses. Consagra-se no arGgo 9/1.
Importância: este elemento orienta-se pelo princípio da igualdade, devendo ser tratado igual o
que é igual e desigual o que é diferente. Para além disso, ter em conta o elemento sistemá*co permite
resolver a ambiguidade da semân*ca das palavras.
Historicismo vs. Atualismo: deve optar-se pelo elemento atualista, ou seja, ter em conta o
sistema que vigora no momento da interpretação e não no momento da produção.
ConcreGzação: há duas concre*zações. Rela*vamente ao contexto, o intérprete só pode
interpretar depois de enquadrar a fonte no conjunto vasto em que se integra. Rela*vamente à
consistência, infere-se que deve ser garan*do o princípio da consistência. Assim, é possível chegar a
duas regras interpreta*vas: a posiGva (atribuir à lei o significado que melhor se harmoniza com outras
fontes ou preceitos) e a negaGva (não atribuir à lei um significado que seja inconsistente com outros
preceitos ou fontes).
Relação de contexto: no enquadramento sistemá*co, nomeadamente no contexto, há
que ter em conta o contexto verGcal e o contexto horizontal. No verGcal, o pressuposto é a consistência
com a fonte de produção – assim, há que considerar a interpretação conforme a cons*tuição, o direito
europeu e o direito ordinário (o direito europeu deve ser interpretado consoante a cons*tuição e o
direito nacional consoante o direito europeu) No horizontal, há ter em conta leis da mesma hierarquia e,
até mesmo, preceitos da respe*va lei (ter em conta significados que regulam a mesma matéria). É
importante no que toca à interpretação de leis especiais e lei excecionais, que têm de ter em
consideração a lei geral. Ainda, a interpretação da lei remissiva, deve considerar a lei para a qual remete,
assegurando-se a harmonia entre ambas.
Princípio da consistência: decorre da unidade do sistema jurídico. É indispensável
para encontrar o significado da lei no contexto da unidade e para afastar significados incompaWveis.
Neste sen*do, uma lei que seja uma concre*zação do princípio da jus*ça, da confiança e da eficiência ou
de outro material, deve ser interpretada por forma a garan*r a maior concre*zação destes princípios. De
acordo com o princípio da proximidade, a lei deve ser interpretada em conformidade com o subsistema
em que se integra.
Elemento teleológico: respeita à finalidade da lei, determinando que obje*vos é que a lei pode
prosseguir. No fundo, é a finalidade que jus*fica a vigência. O intérprete procura descobrir a ra6o legis
(ar*go 9/1). Daqui se re*ra o entendimento de que compreender a lei é perceber a que situações ela dá
resposta.
Relevância da estatuição: é fundamental compreender a estatuição (o que permite, proíbe ou
obriga), sendo só assim possível compreender a finalidade prosseguida.
Historicismo vs. Atualismo: a resposta dada pelo direito português é inequívoca. Deve ser dada
prevalência às condições específicas do tempo em que a lei é aplicada, ou seja, opta-se por uma
teleologia objeGva e atualista, as condições polí*cas, sociais, económicas e culturais que jus*ficam a
vigência no momento da interpretação.
ConcreGzação: a finalidade da lei é aquela que ela prossegue em função de fatores exterior,
pelo que deve ser conhecido o ambiente socioeconómico, polí*co e cultural em que a fonte é
interpretada, numa procura por oGmizar a finalidade.
Fatores sistémicos: devem ser considerados os princípios do sistema jurídico e do
subsistema em que a fonte de integra, devendo ser interpretada conforme princípios formais e materiais
que a lei concre*ze (por exemplo, a interpretação da lei incriminatória deve considerar o princípio da
não retroa*vidade da lei penal). Ter em conta os princípios permite determinar a raGo iuris. Assim, o
intérprete deve procurar o princípio respe*vo e visar a sua o*mização. No caso de conflito entre
princípios, deve optar pelo que melhor visar proteger os interesses a que a lei corresponde.
Consequências: havendo duas ou mais teologias, há que optar pela que melhor se
encaixar no sistema, ou seja, a que melhor permite proteger os interesses que se encontram
acautelados na fonte.
Regras de experiência: recorre-se, frequentemente, a regras de experiência
(experiência da vida quo*diana). Estas regras são importantes, permi*ndo ao intérprete realizar a
interpretação de acordo com os parâmetros que melhor correspondam à normalidade da vida em
sociedade (o que a maioria das pessoas espera).
Importância do elemento: é o elemento que permite controlar a correção da interpretação e
que mais apela ao intérprete, permi*ndo u*lizar valores é*cos, polí*cos ou económicos na procura pela
o*mização dos princípios. Tem uma dimensão consequencialista, sendo a finalidade fundamental para
determinar as consequências da aplicação.
Função específica: é o elemento que permite descobrir as situações de fraude à lei,
que são ar*ficialmente criadas para evitar a aplicação da lei e que permitem fugir à teleologia da lei.
Conjugação dos elementos: a interpretação resulta da conjugação de todos os elementos, não podendo
haver oposição entre o elemento não literal e os vários elementos não literais (não se exige entre cada
um destes). Os elementos não literais devem ser vistos numa perspe*va adiGva. A interpretação deve
ser realizada na base da correspondência mínima com a letra da lei, tendo por base os demais
elementos não literais.
21 – Integração de Lacunas: no caso de se dar pela existência de uma lacuna, uma das formas de
solução, consagrada no ar*go 8º do CC, é a integração por parte do juiz, através da decisão do caso
omisso.
Critérios de integração: as lacunas podem ser integradas através da analogia jurídica (os casos
omissos são regulados de acordo com a regra aplicável aos casos análogos) e da regra hipotéGca (devido
à falta de regra, o intérprete cria uma regra, como se do legislador se tratasse, devendo esta integrar o
espírito do sistema).
Analogia Jurídica: entendida por Aristóteles, não pressupõe igualdade (correspondência em
todos as qualidades, mas apenas numa parte das mesmas). Deve, assim, haver semelhanças e
diferenças.
Proibição da analogia: a analogia é proibida nas regras penais, nas regras fiscais e nas
regras excecionais. Nestes casos, o legislador fecha o sistema. Quanto ao sistema penal, deve-se à
circunstância de só poder ser considerado crime aquilo que esteja expressamente previsto (é aceitável,
ainda assim, a analogia mais favorável ao agente). Quanto às regras excecionais, cabe notar que poder-
se-ia considerar que não há espaço para lacunas na relação regra geral-regra excecional. Ainda, importa
referir que a excecionalidade se divide em formal (não se excecionam valores) e a substancial
(introduzida para excecionar a razão geral), pelo que a excecionalidade formal permite aplicação
analógica, mas o mesmo não decorre da vertente substancial – é uma interpretação restri*va do ar*go
11º.
Tipologias taxaGvas: as *pologias legais são concre*zações, enuncia*vas ou taxa*vas,
de um *po. As enuncia*vas permitem comportar outras concre*zações do mesmo *po, logo são
abertas, não se podendo verificar nenhuma lacuna. As taxa*vas são aquelas que só comportam as
concre*zações do *po que nelas es*verem presentes, logo são fechadas e não admitem uma aplicação
analógica (podem admi*r, contudo, interpretação extensiva).
Aplicação da analogia: por forma a ser aplicada a analogia, devem exis*r razões/
qualidades comuns que jus*fiquem a aplicação da regra do caso regulado ao caso omisso. Assim, o
critério será a presente do mesmo *po em ambos, ou seja, numa comunhão das suas caracterís*cas
essenciais (razão de ser do caso regulado = razão de ser do caso omisso).
A analogia na aplicação jurídica: em termos jurídicos, a analogia tem de assentar num
juízo valoraGvo, uma vez que a ponderação das semelhanças e o apuramento das caracterís*cas
essenciais são, eles próprios, processos valora*vos.
A importância da raGo legis: a consequência da previsão da norma do caso regulado,
nomeadamente a permissão/obrigação/proibição deve ser adequada ao caso omisso. A desadequação
entre a consequência e o caso omisso pode, inclusive, determinar a não semelhança entre os mesmos.
Analogia vs. Interpretação: de acordo com MTS, há dis*nção entre analogia da
interpretação e aplicação analogia. Na analogia da interpretação, o processo é a subsunção dos casos à
fosse, o que requer que os casos sejam análogos ao Wpico da fonte. Já na analogia da integração de
lacunas, é apenas estabelecida a analogia entre o caso concreto e o caso omisso. De acordo com a Escola
de Coimbra e com o Professor Bronze, não há integração de lacunas, porque o processo é o mesmo – as
lacunas integram-se no momento da interpretação.
Modalidades da analogia: existe a analogia legis, que pressupõe a aplicação da regra
do caso regulado ao caso omisso, e a analogia iuris, que pressupõe a regulação de um caso omisso
através da aplicação de um princípio. No entanto, note-se que os princípios são critérios de resolução de
casos concretos, pelo que a analogia iuris não corresponde a uma verdadeira situação de integração de
lacunas – se pode ser aplicado um princípio, então não há lacuna.
Regra hipotéGca: é um método subsidiário, sendo preferencial a integração através da analogia.
Estará, assim, excluída sempre que se aplicar a analogia ou quando o sistema seja fechado. Será
recorrida quando, através da analogia, não se arranjar solução
Construção da regra: deve ser feita de acordo com a abstração e a generalidade, sem
aplicar a discricionariedade ou a equidade. A construção deve, então, observar o espírito do sistema e
deve ser conforme os princípios materiais e formais. Estes princípios servem para orientar a aplicação da
regra ao caso e para garan*r que o regime é o mais adequado. Note-se, desde logo: de acordo com a
doutrina de Coimbra, a analogia iuris em nada difere da regra hipoté*ca (ambas consistem na resolução
do caso através da aplicação dos princípios).
22 - Solução de casos concretos: os casos concretos podem ser resolvidos através de critérios
normaGvos e de critérios não normaGvos.
Critérios normaGvos: baseiam-se em leis abstratas e gerais e assentam no princípio da
universalização, permi*ndo uma opção pelo princípio da confiança. Trata-se, pois, de uma aplicação
imediata da lei.
Determinação da regra: quando se dá a aplicação da regra pode exis*r uma única
regra ou várias regras aplicáveis à situação. Assim, pode ocorrer que todas as regras são aplicadas ao
caso (cumulação de regras), qualquer das regras pode ser aplicada ao caso (concurso de regras) e só
uma das regras pode ser aplicada ao caso (conflito de regras).
Cumulação de Regras: ocorre quando várias regras são aplicadas em conjunto
na decisão de um caso concreto. Será uma consequência de a ordem jurídica regular de diferentes
perspe*vas a mesma situação da vida.
Concurso de Regras: ocorre quando um caso pode ser subsumível a várias
regras que definem o mesmo efeito jurídico, implicando assim uma relação de alterna*vidade entre as
mesmas (qualquer delas pode ser u*lizada para resolver o caso).
Conflito de Regras: ocorre quando o caso, apesar de ser subsumível a várias
regras, só pode ser resolvido pela aplicação de uma. A escolha da mesma deve ser orientada por
critérios de especialidade (prevalece a regra especial), de excecionalidade (prevalece a regra excecional),
de subsidiariedade (a regra subsidiária só é aplicada quando não poder ser aplicada a regra geral) e de
consumpção (se uma das regras consumir outra regra, só se a consump*va (é frequente em Direito
Penal).
Princípios jurídicos: são, eles próprios, igualmente critérios de decisão dos casos
concretos. Será mais comum o recurso a princípios materiais, contudo, não será impossível a aplicação
dos formais (jus*ça, confiança e eficiência).
Critérios não normaGvos: são critérios que se baseiam no princípio da especialidade, ou seja,
cada caso deve ser decidido de acordo com as suas par*cularidades (equidade e discricionariedade),
permi*ndo uma opção pelo princípio da jusGça.
Discricionariedade: consiste na atribuição, ao órgão decisor, a possibilidade de decidir
de acordo com o que considerar mais oportuno e conveniente para a prossecução de um interesse.
Equidade: em termos concetuais, consiste na aplicação da jus*ça no caso concreto. O
primeiro teorizador foi Aristóteles, afirmando o autor que esta equidade garante o cumprimento das
especificidades do caso concreto e procura encontrar uma solução justa, de acordo com essas
especificidades. No direito vigente, entende-se que a equidade não é fonte de direito, porque não
garante a abstração e a generalidade, no entanto não se entende a sua inclusão no ar*go 4º.
Critério de decisão: a equidade poderá cons*tuir um critério único de decisão ou um
critério concorrente. Será critério único nas situações incluídas no ar*go 4º, alínea a) e b). Pode, ainda,
concorrer com outros critérios de decisão, sendo comum a sua conjugação com um critério norma*vo.
Note-se que, independentemente disto, a equidade só pode ser u*lizada quando haja sido estabelecida
essa possibilidade por declaração negocial ou disposição legal.
23 – Teoria da argumentação jurídica: a argumentação jurídica tem como finalidade criar a convicção
num des*natário – tem dois des*natários, a contraparte e o juiz (que irá proferir a decisão para o caso
concreto). Assim, as partes tentam convencer o juiz a resolver o caso através da aplicação da regra
jurídica que defendem e das suas ideologias. Esta argumentação pode ser aberta, se não limitada pela
lei, ou fechada, se limitada ela lei.
Alexy e a Teoria Processual: o jurista criou uma teoria processual, afirmando que as questões
prá*cas podem ser resolvidas através da argumentação (há uma finalidade de correção que leva à
consequente dis*nção entre bons e maus argumentos).
Premissas da Teoria: uma das premissas respeita à veracidade/validade da norma, que
só se verifica caso possa ser resultado de um discurso prá*co racional, respeitando um sistema de regras
e formas de argumentação próprias do discurso prá*co. Esta razão prá*ca a que se refere consiste no
sistema de regras próprias do discurso que permite chegar ao conhecimento – o discurso jurídico é uma
das vertentes especiais do discurso prá*co (especial, porque se encontra sujeito à lei, aos precedentes,
ao enquadramento dogmá*co, etc.). Note-se que a correção a que se refere Alexy é par*cular: a
obtenção de uma decisão através de um discurso prá*co não significa que esse discurso conduza ao
consenso entre par*cipantes nem que essa seja a única solução correta. A solução tem sempre uma
correção relaGva.
Condições do Discurso: o ponto de par*da do discruso é a convicção dos par*cipantes sobre o
modo como se resolve a questão prá*ca, sendo o obje*vo a alteração dessa convicção. Há que atender,
assim, a 5 regras – regras básicas, regras de racionalidade, regras do ónus da argumentação, regras de
jus*ficação e regras de transição.
JusGficação do discurso: Alexy dis*ngue entre uma jusGficação interna e uma jusGficação
externa. A primeira respeita à questão de saber se a decisão decorre logicamente das premissas. A
segunda respeita à fundamentação das premissas.
Dissenso racional e irracional: é indiscuWvel a necessidade de seguir regras/modelos de
argumentação. De acordo com esta ideia, entende-se que se chegará a um discurso correto.
Problema: o seguimento de regras não garante, necessariamente, a correção do
discurso. Ainda que o processo u*lizado possa ser considerado necessário para se a*ngir a verdade ou
correção de um resultado, nunca será suficiente para cons*tuir/criar essa veracidade ou correção. Na
verdade, a decisão pode ser correta perante os factos alegados (no entanto, não há certezas de que os
factos alegados sejam corretos ou verdadeiros – a correção é rela*va). Outro problema tem que ver com
a questão de o discurso não se verificar em condições ideais ou com um número restrito de
interessados.
Consenso e Dissenso: MTS considera que Alexy se engana quanto ao obje*vo da discussão –
não é a obtenção de consenso. O normal é que acabe em dissenso – assim, o que é relevante aferir é se
o dissenso é ou não racional. A argumentação não procura o consenso, procura o apuramento da
racionalidade ou irracionalidade do dissenso.
Racionalidade do dissenso: nas sociedades pluralistas há inúmeras matérias nas quais
está mais do que comprovada a racionalidade do dissenso (a única solução do dissenso é aceitá-lo como
racional, ainda que haja base para a argumentação).
Irracionalidade do dissenso: existem, contudo, outras situações às quais se reporta um
dissenso racional. Neste sen*do, a solução seria o convencimento de uma das partes – no entanto, é
provável que subsista o dissenso. Há um conjunto de regras da discussão que devem ser observadas
para que o dissenso possa ser irracional – regra da universalidade (tudo pode ser discu*do), regra da
exaustão (todos os argumentos devem poder ser invocados e discu*dos), regra da igualdade, regra do
contraditório (tudo o que for argumentado pode ser contrariado), a regra do ónus da prova (tudo tem de
ser provado), regra da indiscu*bilidade (o que for provado é indiscuWvel). Se observadas as regras, o
dissenso será irracional – assim, entende-se que a argumentação racional não procura a racionalidade
do consenso, mas a irracionalidade do dissenso. Os processos jurisdicionais demonstram esta relação
entre argumentação racional e irracionalidade do dissenso.