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Estrutura da CRP
A Constituição da República Portuguesa é o documento fundamental que estabelece
as normas e princípios pelos quais o país é regido. Dentro desse contexto, os
princípios desempenham um papel crucial, pois servem como fundamentos
essenciais que norteiam toda a legislação e organização do Estado.
Primeiramente, é importante destacar que os princípios estão situados no ápice da
hierarquia normativa. Eles precedem os preceitos normativos, o que significa que
são conceitos fundamentais que orientam a elaboração e interpretação das leis. Ao
contrário das normas específicas, os princípios são mais abstratos e gerais,
refletindo valores e diretrizes básicas.
No entanto, é vital compreender que os princípios não estão acima do Direito; em vez
disso, estão intrinsecamente incorporados no próprio ordenamento jurídico. Isso
significa que, embora desempenhem um papel orientador, estão sujeitos à
conformidade com as demais normas legais. Os princípios não são uma entidade
separada, mas sim uma parte integrante e essencial do sistema jurídico.
Além disso, os princípios constituem a base da Constituição Material. Isso significa
que eles formam os alicerces sobre os quais a Constituição é construída. São os
valores essenciais que moldam as disposições específicas da Constituição e
fornecem a estrutura ética e moral que permeia todo o ordenamento jurídico.
Em resumo, na Constituição da República Portuguesa, os princípios são os alicerces
que antecedem as normas, estão imersos no ordenamento jurídico, não estão acima
das demais normas, mas, pelo contrário, são parte integrante delas, e constituem a
base fundamental da Constituição Material, refletindo os valores fundamentais que
sustentam o sistema legal do país.
Características da CRP
A Constituição da República Portuguesa (CRP) apresenta distintas características
que a diferenciam das normas-regra, aproximando-se mais da ideia de Direito
enquanto guia fundamental para a organização do Estado e sociedade.
Primeiramente, destaca-se a maior amplitude da CRP em comparação com as
normas-regra. Enquanto estas últimas são específicas e detalhadas, a Constituição
abrange princípios amplos e abstratos que fornecem diretrizes gerais para a
legislação e a governança do país.
Além disso, os princípios da CRP são respeitantes a fins e não a meios. Isso
significa que, em vez de se concentrarem estritamente nos métodos para atingir um
objetivo, eles estabelecem os objetivos fundamentais, permitindo flexibilidade na
escolha de meios para alcançá-los.
A grande versatilidade e abertura da CRP são evidentes na sua capacidade de se
adaptar a diferentes contextos e situações. Ao contrário das normas-regra, que são
mais estáticas, a Constituição é mais flexível e pode acomodar mudanças sociais,
políticas e econômicas.
Outra característica importante é a expansibilidade da CRP perante novos
contextos. Isso significa que a Constituição pode ser interpretada e aplicada de
maneira a abranger questões emergentes e desafios contemporâneos, garantindo
que continue relevante ao longo do tempo.
Por fim, a capacidade de harmonização sem revogação recíproca destaca a
habilidade da CRP de integrar novas disposições sem anular aquelas já existentes.
Isso contribui para a estabilidade e continuidade do ordenamento jurídico,
permitindo que a Constituição se adapte a mudanças sem perder sua base
estrutural.
Em síntese, as características da CRP incluem sua amplitude, orientação a fins,
versatilidade, expansibilidade e capacidade de harmonização, tornando-a um
instrumento fundamental e adaptável que se aproxima da concepção mais ampla de
Direito.
● Períodos de Normalidade:
Durante períodos de normalidade constitucional, a estrutura legal é moldada pelos
princípios constitucionais que orientam a interpretação e aplicação das normas.
Nesse contexto, duas formas de ação legal são fundamentais para entender como a
estrutura é operacionalizada:
- Ação Imediata—> Diretamente Aplicáveis: Certos princípios
constitucionais são diretamente aplicáveis, o que significa que têm
eficácia imediata e podem ser invocados e aplicados diretamente pelos
tribunais e outros órgãos jurídicos. Esses princípios não requerem
legislação intermediária para se tornarem efetivos.
- Ação Mediata:---> Referência para Interpretação e Integração:
Princípios que não têm ação imediata muitas vezes atuam de forma
mediata. Eles não são aplicáveis diretamente, mas servem como
referência e guia para a interpretação e integração das regras
infraconstitucionais. Tribunais e autoridades jurídicas podem usar
esses princípios como critérios para avaliar a conformidade das leis e
regulamentos com a Constituição.
Preâmbulos
Os preâmbulos constituem uma parte peculiar das Constituições, e sua presença ou
ausência pode variar de uma constituição para outra. Alguns pontos relevantes sobre
os preâmbulos em contextos constitucionais podem ser destacados com base no
trecho fornecido:
● Contingência da Presença nos Documentos Constitucionais:
É verdade que nem todas as Constituições incluem preâmbulos. A presença
ou ausência de um preâmbulo em uma Constituição é uma escolha feita
durante o processo de elaboração constitucional, refletindo a abordagem e as
prioridades dos redatores da Constituição.
● Origem no Poder Constituinte Formal: Os preâmbulos são considerados parte
integrante da Constituição e emanam do poder constituinte formal, que é a
autoridade responsável pela elaboração e adoção da Constituição. Eles
expressam os valores, objetivos e princípios fundamentais que fundamentam
o texto constitucional.
● Normas-Regra e Igual Dignidade: Apesar de serem distintos das
normas-regra, os preâmbulos compartilham a igual dignidade como normas
constitucionais. Isso significa que, embora tenham uma natureza introdutória
e reflexiva, eles são considerados normas jurídicas com status constitucional.
● Possibilidade de Desatualização com Revisões Constitucionais: Uma
característica interessante dos preâmbulos é sua suscetibilidade à
desatualização em caso de revisões constitucionais. Alterações nos valores
ou na visão da sociedade ao longo do tempo podem tornar certas
declarações nos preâmbulos menos representativas, e, portanto, eles podem
ser revisados para refletir uma compreensão mais contemporânea.
No caso específico mencionado da Constituição da República Portuguesa (CRP) de
1976, nota-se que ela contém um preâmbulo. O trecho sugere que, assim como as
normas-regra, os preâmbulos também emanam do poder constituinte formal,
sublinhando a igual dignidade entre ambas as formas normativas na Constituição.
Além disso, destaca-se a possibilidade de desatualização dos preâmbulos mediante
revisões constitucionais, indicando uma flexibilidade para ajustar a expressão dos
valores fundamentais à evolução da sociedade.
Normas- Regras
No Direito em Geral:
Certamente, a classificação das normas-regra no Direito em geral envolve diversas
dimensões,
● Quanto à Forma de Atuação:
- Permissivas: Autorizam determinada conduta, concedendo uma
faculdade ou permitindo algo.
- Prescritivas: Impõem obrigações ou deveres, determinando o que deve
ser feito.
- Proibitivas: Vedam ou proíbem determinada conduta, estabelecendo o
que não deve ser feito.
● Quanto à Abrangência:
- Gerais: Aplicam-se a uma gama ampla de situações.
- Excepcionais: Aplicam-se em situações específicas ou excepcionais.
Direito Constitucional
Certamente, no âmbito do Direito Constitucional, as normas-regra (também
chamadas de normas constitucionais) podem ser classificadas de diversas formas,
considerando suas características específicas.
● Materiais ou de Fundo: Referem-se à regulamentação de direitos, garantias,
deveres e instituições, ou seja, tratam do conteúdo substantivo da
Constituição.
● Orgânicas ou Organizativas: Referem-se à estruturação dos órgãos e poderes
do Estado, estabelecendo as bases da organização política e institucional do
país.
● Procedimentais ou de Forma: Regulam os procedimentos, as formas de
atuação e os ritos relacionados aos órgãos e processos constitucionais.
● Quanto à Natureza da Regulação:
- Preceptivas ou Programáticas: São normas que estabelecem
programas a serem implementados pelo Estado, indicando diretrizes a
serem seguidas para alcançar determinados objetivos.
● Exequíveis por Si Mesmas: Normas que têm eficácia imediata, podendo ser
aplicadas diretamente pelos tribunais e outros órgãos sem a necessidade de
legislação intermediária.
● Não Exequíveis por Si Mesmas: Normas que necessitam de legislação
infraconstitucional para tornarem-se efetivas.
● Quanto à Hierarquia Normativa:
- Constitucionais Propriamente Ditas: Normas que compõem o texto
principal da Constituição e têm o mais alto grau de hierarquia
normativa.
- Normas sobre Normas Constitucionais: Estabelecem regras sobre a
interpretação, revisão e alteração das normas constitucionais,
delineando procedimentos específicos.
Aplicabilidade das normas constitucionais
● Princípios Diretamente Aplicáveis: Esses são princípios constitucionais que
têm eficácia imediata, ou seja, podem ser aplicados diretamente pelos
tribunais e outros órgãos sem a necessidade de legislação intermediária. Eles
são de aplicação direta e não dependem de normas infraconstitucionais para
produzir efeitos.
● Normas Exequíveis por si mesmas (p.s.m.)Essas são normas constitucionais
que têm eficácia imediata e podem ser aplicadas sem a necessidade de
regulamentação infraconstitucional. Elas podem ser invocadas e utilizadas
diretamente nos casos concretos.
● Normas Não Exequíveis por si mesmas (p.s.m.)Essas são normas
constitucionais que, para produzirem efeitos, dependem de legislação
infraconstitucional. Ou seja, precisam ser regulamentadas por normas
ordinárias para serem efetivas.
Características Adicionais:
- Aplicáveis às Relações entre Particulares, destes com o Estado e aos Órgãos
e Titulares dos Órgãos do Estado, RA e AL: Indica a ampla abrangência das
normas constitucionais, que se aplicam não apenas às relações entre o
Estado e os cidadãos, mas também às relações entre particulares e aos
órgãos e titulares dos órgãos do Estado, bem como aos entes federativos (RA
e AL referem-se a Regiões Autónomas e Autarquias Locais).
- Geram Inconstitucionalidade por Omissão: Algumas normas constitucionais
podem gerar inconstitucionalidade por omissão, ou seja, o legislador pode ser
considerado inconstitucional por não cumprir o dever de regulamentar uma
norma constitucional que exige regulamentação.
- Base Interpretativa e Integrativa de Outras Normas: Algumas normas
constitucionais servem como base interpretativa e integrativa para outras
normas. Elas podem guiar a interpretação de dispositivos legais e preencher
lacunas normativas.
- Não Automaticamente Revogadas: As normas constitucionais não são
automaticamente revogadas por outras normas infraconstitucionais. Elas
mantêm sua validade, a menos que sejam expressamente revogadas por
meio de processo legislativo adequado.
Integração da Constituição
A integração da Constituição no ordenamento jurídico é um processo complexo que
visa preencher lacunas deixadas pela norma fundamental. A Constituição, como
qualquer sistema normativo, não consegue antecipar todas as situações possíveis e,
por isso, há momentos em que se torna necessário recorrer à decisão política do
legislador ordinário.
Uma lacuna pode surgir quando a Constituição não oferece orientações claras ou
específicas sobre determinado assunto. Por exemplo, podemos observar isso na
ausência de uma definição precisa do prazo para o Presidente da República
promulgar as leis de revisão constitucional. Nesses casos, a Constituição não
estabelece um prazo específico para essa ação, o que deixa espaço para a atuação
do legislador ordinário.
A decisão política do legislador ordinário é crucial para preencher essas lacunas.
Este atua por meio da elaboração de leis e regulamentos que complementam as
disposições constitucionais, oferecendo diretrizes mais detalhadas e específicas
para situações não abrangidas pela norma fundamental. Assim, o legislador
ordinário desempenha um papel fundamental na concretização e operacionalização
dos princípios constitucionais, adaptando as normas à evolução da sociedade e às
demandas contemporâneas.
É importante ressaltar que essa integração deve ocorrer de forma harmônica e
coerente, respeitando os valores e princípios fundamentais estabelecidos pela
Constituição. A procura por soluções legislativas que estejam alinhadas com os
objetivos constitucionais contribui para a estabilidade e eficácia do sistema jurídico
como um todo. Dessa forma, a integração da Constituição não apenas preenche
lacunas, mas também fortalece o sistema jurídico, garantindo sua adaptação às
transformações sociais e políticas ao longo do tempo.
Analogia
Quando se menciona a ideia de um artigo como "Analogia", pode-se estar a refer-se a
uma norma que não está expressamente prevista na legislação, mas que pode ser
aplicada por analogia com outras normas existentes. A analogia ocorre quando o
intérprete, diante de uma lacuna na lei, procura aplicar princípios ou regras
semelhantes às que já estão previstos. (ex: art.10º do CC)
Conceitos a saber
Direitos do Homem: Princípios fundamentais e inalienáveis atribuídos a todos os
seres humanos pela sua condição, geralmente consagrados em documentos
internacionais.
Direitos dos Cidadãos: Conjunto de prerrogativas e responsabilidades conferidas
aos membros de uma comunidade política, incluindo direitos civis, políticos e
sociais.
Direitos Civis: Protegem a liberdade e a integridade pessoal, abrangendo direitos
como liberdade de expressão, religião e igualdade perante a lei.
Direitos Políticos: Relacionados à participação na vida política, como o direito de
votar e ser eleito, contribuindo para a tomada de decisões.
Direitos Individuais: Salvaguardam a autonomia e a dignidade de cada pessoa,
incluindo liberdades fundamentais e proteções contra abusos do poder estatal.
Direitos Públicos: Referem-se aos direitos em que o Estado é parte, como o direito
administrativo, envolvendo a relação entre os cidadãos e o governo.
Direitos de Personalidade: Refletem as facetas únicas de cada indivíduo, protegendo
aspectos como vida, integridade física, honra, imagem, privacidade e liberdade
individual.
Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (DESC): Englobam direitos relacionados ao
bem-estar socioeconômico, como o direito ao trabalho, à educação, à saúde, à
moradia e à participação na cultura.
Garantias Institucionais: Referem-se a dispositivos legais e constitucionais que
asseguram o funcionamento eficaz das instituições governamentais, a separação de
poderes, a independência do judiciário e a proteção da democracia e dos direitos
fundamentais.
Direitos de Liberdade:
Definição: Refletem as liberdades individuais, protegendo a esfera pessoal contra
interferências indevidas e garantindo a autonomia dos cidadãos.
Exemplos: Liberdade de expressão e informação (art42), de religião, de movimento,
de associação e de privacidade, liberdade de casamento (art36)
Direitos de Participação:
Definição: Conferem aos cidadãos o direito de participar ativamente na vida política,
social e cultural da comunidade, promovendo a inclusão e a representatividade.
Exemplos: Direito de voto (art48), de associação, de manifestação, de acesso à
informação e de participação em processos decisórios e de acesso a cargo públicos
(art50)
Direitos a Prestações:
Definição: Relacionam-se aos direitos sociais e econômicos que buscam garantir
condições dignas de vida, educação, saúde, trabalho e bem-estar.
Exemplos: Direito à educação (art74), direito à saúde (art64), direito ao trabalho,
direito à segurança social (art63)
Direitos de Defesa:
Definição: São direitos que protegem os indivíduos contra abusos do poder estatal,
assegurando um tratamento justo em processos legais.
Exemplos: Direito ao devido processo legal, direito à ampla defesa, direito ao
contraditório, direito à inviolabilidade do domicílio, direito de resistência (art 21, 103
nº3 e 271 nº3) e direito de recorrer para o tribunal constitucional (art280 nº1 b)
DLG vs DESC
O Artigo 9º da Constituição da República Portuguesa (CRP) estabelece que incumbe
ao Estado garantir os Direitos, Liberdades e Garantias (DLG) e promover os Direitos
Económicos, Sociais e Culturais (DESC) como tarefas fundamentais. Esse artigo
destaca a responsabilidade do Estado em assegurar a proteção dos direitos
individuais e coletivos, bem como fomentar condições que propiciem o
desenvolvimento social e econômico.
Garantir os Direitos, Liberdades e Garantias refere-se à proteção dos direitos
fundamentais dos cidadãos, como liberdade de expressão, igualdade perante a lei,
liberdade de associação e direitos processuais justos. O Estado tem a incumbência
de criar um ambiente em que esses direitos sejam respeitados e protegidos,
garantindo a integridade e a autonomia dos indivíduos.
Promover os Direitos Económicos, Sociais e Culturais significa que o Estado deve
adotar medidas para criar condições que permitam o acesso a condições dignas de
vida, como educação, saúde, trabalho, cultura e outros aspectos que contribuam
para o bem-estar da sociedade. Isso envolve políticas públicas que buscam reduzir
desigualdades e promover a inclusão social.
Em suma, o Artigo 9º da CRP ressalta o papel ativo do Estado na salvaguarda dos
direitos individuais e na criação de condições propícias ao desenvolvimento e
bem-estar coletivo. Essa abordagem reflete a visão constitucional de um Estado
comprometido com a proteção e promoção abrangente dos direitos e interesses dos
cidadãos.
DLG
Os Direitos, Liberdades e Garantias (DLG) abrangem uma diversidade de
prerrogativas que os indivíduos têm perante o Estado, e essa categoria pode ser
subdividida em Direitos de Agir, Direitos Negativos e o Dever de Proteção por parte
do Estado.
Os Direitos de Agir referem-se às liberdades ativas que os cidadãos possuem para
realizar determinadas ações ou atividades sem interferência indevida do Estado.
Isso inclui, por exemplo, a liberdade de expressão, o direito de manifestação e a
capacidade de associar-se a grupos ou organizações. Esses direitos proporcionam
aos indivíduos a capacidade de participar ativamente na sociedade, expressando
suas opiniões e contribuindo para o debate público.
Os Direitos Negativos, por sua vez, representam a proteção contra interferências
injustificadas do Estado na esfera privada e na liberdade individual. Esses direitos
englobam, por exemplo, a proibição de tortura, tratamento cruel ou degradante, e
asseguram que o Estado não exerça poder de forma arbitrária sobre os cidadãos,
respeitando a sua autonomia e dignidade.
Ao mesmo tempo, há o dever de proteção por parte do Estado, o qual implica que o
Estado tem a obrigação de resguardar os cidadãos contra violações de seus direitos
por terceiros. Isso envolve a criação de estruturas legais e institucionais que
previnam abusos e garantam a segurança e integridade das pessoas.
Dessa forma, a concepção abrangente dos DLG reconhece não apenas as liberdades
ativas e passivas dos cidadãos, mas também estabelece uma obrigação clara por
parte do Estado em proteger esses direitos, promovendo um equilíbrio entre a
liberdade individual e a segurança coletiva. Essa dinâmica reflete a busca por uma
sociedade onde a autonomia e os direitos dos cidadãos sejam respeitados e
protegidos de maneira integral.
DESC
Os Direitos Económicos, Sociais e Culturais (DESC) compreendem uma categoria de
direitos fundamentais que se desdobram em Direitos de Exigir, Direitos Positivos e
envolvem um Dever de Proteção por parte do Estado.
Os Direitos de Exigir referem-se à capacidade dos cidadãos de demandar do Estado
a satisfação de necessidades básicas e condições dignas de vida. Isso inclui o
direito à educação de qualidade, ao acesso à saúde, a condições de trabalho justas,
entre outros. Esses direitos conferem aos indivíduos a possibilidade de reivindicar do
Estado as condições necessárias para uma existência digna.
Os Direitos Positivos são aqueles que estabelecem a obrigação do Estado de agir
proativamente para criar condições que permitam o pleno exercício desses direitos.
Envolvem políticas públicas, programas sociais e iniciativas governamentais que
visam garantir, por exemplo, o direito ao trabalho, à habitação, à cultura e outros
elementos essenciais para o bem-estar.
Paralelamente, há o dever de proteção por parte do Estado, que implica na
responsabilidade do Estado em resguardar e promover esses direitos. Este dever não
apenas abrange a proteção contra ações do próprio Estado, mas também contra
ameaças provenientes de terceiros ou de circunstâncias que possam comprometer
o gozo desses direitos por parte dos cidadãos.
Assim, a concepção dos DESC reconhece não apenas a necessidade de garantir aos
indivíduos a capacidade de exigir condições dignas, mas também estabelece um
compromisso ativo do Estado em criar políticas e estruturas que assegurem o
efetivo disfrute desses direitos, promovendo a igualdade social e o bem-estar
coletivo.
DESC
Os Direitos Económicos, Sociais e Culturais (DESC) são, em geral, determinados pelo
legislador ordinário, e essa determinação muitas vezes se traduz em normas
programáticas. Essa característica destaca a natureza específica desses direitos e a
forma como são implementados na legislação.
Quando dizemos que os DESC são "determinados pelo legislador ordinário",
queremos salientar que a definição precisa e a concretização desses direitos
frequentemente ocorrem por meio de leis e regulamentos elaborados pelo poder
legislativo comum, em contraste com os Direitos, Liberdades e Garantias (DLG), que
são frequentemente explicitados diretamente na Constituição.A expressão "normas
programáticas" refere-se ao fato de que as disposições que delineiam os DESC
frequentemente estabelecem diretrizes gerais e objetivos a serem alcançados, em
vez de criar regras detalhadas e específicas. Em outras palavras, essas normas
traçam um programa a ser seguido, indicando as metas a serem atingidas, mas
deixando para a legislação ordinária a tarefa de especificar detalhes e implementar
efetivamente esses direitos.
Essa abordagem reflete a complexidade e a natureza multifacetada dos DESC, que
abrangem áreas como educação, saúde, trabalho e cultura. Ao envolver o legislador
ordinário na sua determinação, busca-se adaptar esses direitos às circunstâncias
específicas e dinâmicas da sociedade, permitindo uma abordagem mais flexível e
ajustada à realidade em constante mudança.
função da Defesa
A função de defesa dos Direitos Fundamentais, possui dois sentidos distintos: o
negativo e o positivo. Vamos explorar cada um desses sentidos
● Sentido Negativo - Proibição de Ingerência: Neste sentido, a função de
defesa atua de maneira negativa, proibindo a ingerência ou intervenção
injustificada dos poderes públicos na esfera jurídica individual dos
particulares. Isso significa que os Direitos Fundamentais estabelecem limites
à ação do Estado, protegendo os cidadãos contra interferências arbitrárias ou
injustificadas em seus direitos e liberdades individuais. Essa dimensão
negativa enfatiza a autonomia e a liberdade dos indivíduos, impedindo ações
estatais que possam violar seus direitos fundamentais.
● Sentido Positivo - Poder de Exigir Omissões: No sentido positivo, a função de
defesa envolve o poder de exigir omissões por parte dos poderes públicos
para evitar agressões ou violações desses direitos. Isso significa que, além de
proibir a interferência prejudicial, os Direitos Fundamentais conferem aos
indivíduos o direito de demandar ações do Estado para prevenir ou corrigir
situações que possam ameaçar seus direitos fundamentais. Isso inclui a
obrigação do Estado de adotar medidas preventivas e corretivas para garantir
a efetiva proteção dos Direitos Fundamentais.
exemplo: Art. 37 CRP , no sentido negativo, o primeiro parágrafo assegura o direito
das pessoas à informação sobre atos que as afetem, praticados pelos poderes
públicos. Ele proíbe a ingerência excessiva e não justificada do Estado na esfera
jurídica individual dos cidadãos, garantindo transparência e acesso à informação
sobre atos administrativos que possam impactar diretamente os indivíduos.
No sentido positivo, o segundo parágrafo estabelece que a lei pode definir casos e
condições em que o acesso a documentos administrativos e informações
nominativas relativas a terceiros é vedado. Aqui, a função de defesa também opera
no sentido positivo, concedendo ao Estado o poder de adotar medidas para proteger
informações sensíveis e garantir a privacidade de terceiros, evitando potenciais
agressões ou violações de direitos.
Este exemplo demonstra como o Princípio da Legalidade, presente no artigo 37.º,
equilibra a proteção dos indivíduos contra a ingerência estatal injustificada (sentido
negativo) com a necessidade de omissões por parte do Estado para salvaguardar
outros direitos, como a privacidade (sentido positivo)
Princípio da universalidade
O regime geral dos Direitos Fundamentais (DF) é baseado no princípio da
universalidade, conforme estabelecido no artigo 12.º da Constituição da República
Portuguesa (CRP). Esse princípio expressa a ideia fundamental de que todos os
cidadãos possuem, em igual medida, os direitos e deveres consagrados na
Constituição.
O artigo 12.º proclama de forma clara e abrangente que "todos os cidadãos gozam
dos direitos e estão sujeitos aos deveres consignados na Constituição". Esse
enunciado ressalta a universalidade dos Direitos Fundamentais, afirmando que esses
direitos são inerentes a todas as pessoas que compõem a comunidade política,
independentemente de características como origem, género, religião ou estatuto
social.
Esse princípio da universalidade reflete a visão de que a proteção e promoção dos
Direitos Fundamentais são essenciais para a construção de uma sociedade justa e
democrática. Ele assegura que nenhum cidadão seja excluído do alcance desses
direitos, enfatizando a igualdade perante a lei e a dignidade intrínseca de cada
indivíduo.
Além disso, ao mencionar a sujeição aos deveres consignados na Constituição, o
artigo 12.º destaca a reciprocidade entre direitos e deveres. Os cidadãos não apenas
gozam dos benefícios dos Direitos Fundamentais, mas também assumem
responsabilidades para com a comunidade e o Estado.
Em suma, o regime geral dos Direitos Fundamentais, ancorado no princípio da
universalidade, reafirma o compromisso de garantir a todos os cidadãos o pleno
exercício de seus direitos, contribuindo para a construção de uma sociedade
baseada na justiça, igualdade e respeito pelos direitos humanos.
Este principio não está consagrado apenas no artigo 12 mas também no 13 nº1, 71
nº1, 20 nº1, 27 nº1, 44 nº1, 10 nº1 e 288 h), 64 nº2 e 74 nº2 a)
Derrogação?
A derrogação refere-se à possibilidade de suspender ou restringir temporariamente
certos direitos ou garantias estabelecidos na legislação, geralmente em situações de
emergência ou em circunstâncias excecionais. Este procedimento é muitas vezes
regulamentado por disposições legais específicas e deve respeitar os princípios
fundamentais, mesmo quando temporariamente limita certos direitos.
Em algumas circunstâncias, alguns direitos podem não ser aplicáveis a todas as
pessoas, mas apenas a determinados grupos ou em condições específicas. Essa
diferenciação pode ser justificada por diferentes razões, como a proteção de
interesses particulares, a promoção de políticas públicas específicas ou a gestão de
situações específicas.
É importante notar que a derrogação ou restrição de direitos deve ser estritamente
necessária, proporcional à situação e temporária. Além disso, as limitações devem
ser consistentes com os princípios fundamentais e os valores constitucionais.
É comum que, mesmo em situações excecionais que justifiquem a derrogação,
certos direitos fundamentais sejam considerados invioláveis e não sujeitos a
restrições. Em muitos sistemas jurídicos, mesmo durante estados de emergência,
certos direitos, como o direito à vida e à integridade física, podem não ser passíveis
de derrogação.
Portanto, embora a derrogação possa permitir a suspensão temporária de alguns
direitos em circunstâncias específicas, ela está sujeita a limites legais e
constitucionais para garantir a proteção dos princípios fundamentais e a
manutenção do Estado de Direito.
O princípio da universalidade implica que os direitos dentro de cada categoria são
atribuídos a todos os que pertencem a essa categoria. Tomando como exemplo os
direitos dos trabalhadores, conforme estabelecido no artigo 59.º, a intenção é
garantir que todos os trabalhadores, sem distinção, tenham acesso e se beneficiem
desses direitos.
Princípio da igualdade
O princípio da igualdade é um elemento fundamental do regime geral dos Direitos
Fundamentais, desempenhando um papel central no constitucionalismo moderno.
A sua expressão mais conhecida está presente na Declaração dos Direitos do
Homem e do Cidadão de 1789, que proclama: "Les hommes naissent et demeurent
libres et égaux en droits" ("Os homens nascem e permanecem livres e iguais em
direitos").
Esse princípio é um dos pilares do constitucionalismo, que procura garantir
tratamento justo e imparcial a todas as pessoas, independentemente de
características como origem, género, raça, religião ou posição social. A ideia
subjacente é que todos os indivíduos devem desfrutar dos mesmos direitos
fundamentais e serem tratados com igualdade perante a lei.
No contexto da Constituição da República Portuguesa (CRP), o princípio da
igualdade está consagrado em vários artigos, destacando-se o artigo 13.º, que
estabelece que "todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais
perante a lei." Este princípio permeia todo o ordenamento jurídico, orientando a
interpretação e a aplicação das normas legais.
A igualdade perante a lei não implica a uniformidade absoluta, reconhecendo-se a
existência de situações diferentes que podem justificar tratamentos distintos.
Tratar de modo igual o que é juridicamente igual e tratar de modo diferente
o que é juridicamente diferente
Versão originária não continha menção à igualdade entre homens e mulheres então
a evolução da realidade constitucional demonstrou que a menção expressa na CRP
era necessária, Alterou-se o artigo 9 no sentido de passar a constar, como tarefa do
Estado, a promoção da igualdade (real) entre homens e mulheres, em particular no
acesso a cargos políticos
Igualdade significa justiça!
Embora não conste do elenco dos limites materiais de revisão do artigo 288, Tem
que ser considerado como limite material implícito da revisão constitucional
A inclusão do princípio da igualdade como um limite material implícito significa que,
mesmo que não seja mencionado de forma explícita no texto constitucional, é
considerado fundamental para a estrutura e coerência do sistema constitucional.
Isso reflete a compreensão de que a igualdade é um valor intrínseco ao Estado de
Direito e à proteção dos direitos fundamentais.
A consideração desse princípio como um limite material implícito implica que
qualquer revisão constitucional que comprometa substancialmente a igualdade
perante a lei, seja por meio da criação de discriminações injustificadas ou pela
concessão de privilégios indevidos, seria incompatível com a essência da
Constituição e, portanto, não seria permitida.
Discriminação positiva
A discriminação positiva, também conhecida como ação afirmativa ou medidas
afirmativas, refere-se a políticas ou ações implementadas com o objetivo de corrigir
ou atenuar desigualdades de facto entre grupos específicos. Ao contrário da
discriminação negativa, que envolve tratamento injusto ou desigual, a discriminação
positiva procura promover a igualdade e superar desvantagens históricas ou sociais.
exemplos na CRP: art 59 nº2 c), 68 nº3 e 4, 67 nº2 f), 69nº2, 71 nº2, 100 d) e 97 nº1
Tutela dos DF
A tutela dos Direitos Fundamentais (DF) em um Estado de Direito, como previsto na
Constituição da República Portuguesa (CRP), é assegurada por meio de diversos
mecanismos, tanto jurisdicionais quanto não jurisdicionais.
● Meios de Defesa Jurisdicionais (Artigo 20º CRP): O artigo 20º da CRP
consagra os meios de defesa jurisdicionais como um direito fundamental.
Este artigo estabelece o direito à proteção jurídica através dos tribunais. Isso
significa que qualquer lesão ou ameaça a direitos deve ser passível de ser
levada a tribunal para análise e decisão. Os tribunais desempenham um papel
fundamental na proteção e garantia dos DF, assegurando o acesso à justiça e
a aplicação das normas constitucionais.
A CRP, no entanto, deixa à lei ordinária a definição do tribunal competente e da
forma do processo. Ou seja, cabe à legislação infraconstitucional determinar
os detalhes específicos sobre qual tribunal será responsável por tratar
determinadas questões e como os processos judiciais devem ser conduzidos.
● Meios de Defesa Não Jurisdicionais (Garantias Administrativas): Além dos
meios jurisdicionais, existem meios de defesa não jurisdicionais, muitas vezes
referidos como garantias administrativas. Estes meios incluem ações e
procedimentos administrativos que visam assegurar o respeito pelos DF no
âmbito da atuação do poder público. Exemplos incluem reclamações,
recursos administrativos e outras formas de diálogo entre o cidadão e as
entidades administrativas.
As garantias administrativas são uma parte importante do sistema de
proteção dos DF, permitindo a resolução de questões antes de ser necessário
recorrer aos tribunais. No entanto, caso essas vias administrativas não se
revelem eficazes, a parte interessada ainda pode recorrer aos meios de
defesa jurisdicionais.
Garantias
As garantias são elementos essenciais presentes em diversos ramos do Direito,
proporcionando meios para evitar ou sancionar violações do direito objetivo, ofensas
aos direitos subjetivos ou interesses legítimos dos particulares, bem como para
avaliar a atuação da Administração Pública. Essas garantias podem assumir
diversas formas, atuando de maneiras distintas para proteger os diversos aspectos
do ordenamento jurídico. Vamos explorar algumas categorias comuns de garantias:
● Preventivas: Garantias preventivas referem-se a meios que buscam evitar a
ocorrência de violações ou ofensas aos direitos antes que ocorram. Exemplos
incluem a criação de normas claras e procedimentos adequados para orientar
a conduta das partes envolvidas.
● Reparadoras: Garantias reparadoras são aquelas que visam corrigir ou
compensar violações ou ofensas aos direitos ou interesses legítimos das
partes. Isso pode incluir ações judiciais para obter reparação por danos ou a
aplicação de medidas corretivas.
● Dos Particulares: Algumas garantias são destinadas a proteger os indivíduos
em relação a ações de outros particulares, assegurando que seus direitos
sejam respeitados e, se violados, proporcionando meios para reparação.
● Do Direito Objetivo: Referem-se a garantias relacionadas à preservação e
respeito pelo direito objetivo, ou seja, o conjunto de normas e regras jurídicas
que regem a sociedade. Isso pode incluir garantias de legalidade e
conformidade com as normas estabelecidas.
● De Legalidade: Essas garantias têm como foco assegurar que a atuação dos
poderes públicos, incluindo a Administração Pública, esteja em conformidade
com a lei. Isso implica que qualquer ato administrativo deve ter base legal e
respeitar os limites estabelecidos pela legislação.
● De Mérito: Garantias de mérito referem-se à avaliação da qualidade e eficácia
das ações administrativas. Elas buscam garantir que a Administração Pública
atue de maneira eficiente, justa e dentro dos padrões estabelecidos,
independentemente da legalidade estrita.
Garantias políticas
As garantias políticas são instrumentos legais que protegem os direitos e liberdades
fundamentais dos cidadãos em relação ao Estado. No contexto da Constituição da
República Portuguesa (CRP), dois exemplos de garantias políticas importantes são o
Direito de Petição (artigo 52º) e o Direito de Resistência (artigo 21º). Vamos explorar
cada um deles:
● Direito de Petição (Artigo 52º CRP): O Direito de Petição é consagrado no
artigo 52º da CRP. Este direito confere aos cidadãos o poder de apresentar
petições, individuais ou coletivas, perante qualquer órgão de soberania,
autoridade ou entidade pública, com o objetivo de defender os seus direitos,
interesses legítimos ou resolver situações injustiças.
Esse direito permite que os cidadãos expressem as suas preocupações,
reivindicações ou solicitações diretamente às autoridades, promovendo a
participação cívica e a possibilidade de os cidadãos influenciarem a ação do
Estado.
● Direito de Resistência (Artigo 21º CRP): O Direito de Resistência está previsto
no artigo 21º da CRP. Este artigo estabelece que os cidadãos têm o direito de
resistir a qualquer ordem que viole os seus direitos, liberdades e garantias e
de repelir pela força qualquer agressão, quando não seja possível outro
recurso.
No entanto, é importante destacar que o exercício do direito de resistência
deve ser proporcional e justificado perante uma situação que represente uma
clara violação dos direitos fundamentais. A CRP procura equilibrar esse direito
com o respeito pela legalidade e ordem pública.
Ambos os direitos, o de petição e o de resistência, desempenham papéis
importantes na proteção dos direitos políticos e civis dos cidadãos, garantindo
mecanismos para a expressão de suas preocupações e para a resistência a ações
que possam representar violações aos direitos fundamentais.
Garantias Administrativas
Incompatibilidades Conselheiros do TC
As incompatibilidades estabelecidas para os conselheiros do Tribunal Constitucional
(TC) visam preservar a independência, imparcialidade e integridade do órgão. As
regras sobre incompatibilidades impedem que os conselheiros exerçam
determinadas funções simultaneamente, a fim de evitar conflitos de interesse. No
caso dos conselheiros do TC em Portugal, algumas das incompatibilidades incluem:
● Funções em Outros Órgãos de Soberania ou Poder Regional/Local: Os
conselheiros do TC não podem exercer funções em outros órgãos de
soberania (por exemplo, Presidência da República, Assembleia da República
ou Governo) ou em órgãos de poder regional/local durante o exercício do
mandato.
● Outros Cargos de Natureza Pública ou Privada: Incompatibilidade com a
ocupação de outros cargos, tanto de natureza pública como privada, que
possam comprometer a independência ou objetividade dos conselheiros no
desempenho das suas funções.
● Funções em Órgãos de Partidos Políticos e Atividades Públicas: Proibição de
desempenhar funções em órgãos de partidos políticos ou participar em
atividades públicas que possam criar conflitos com a imparcialidade
requerida para o exercício das responsabilidades no TC.
● Exceção: Funções Docentes na Área do Direito, Não Remuneradas: Uma
exceção notável nas incompatibilidades é a possibilidade de os conselheiros
exercerem funções docentes na área do Direito, desde que essas funções
sejam não remuneradas. Isso permite que os conselheiros continuem a
contribuir para a academia sem comprometer a independência do Tribunal.
Tribunal Constitucional
O Tribunal Constitucional em Portugal toma as suas decisões por meio de acórdãos,
que representam os pronunciamentos formais do Tribunal sobre as questões
constitucionais submetidas à sua apreciação. Essas decisões são fruto do trabalho
de um tribunal coletivo, composto por mais do que um juiz, e refletem a análise e
interpretação da Constituição da República Portuguesa.
A composição plural do tribunal coletivo no Tribunal Constitucional é fundamental
para garantir uma análise abrangente e a consideração de diversas perspetivas
jurídicas. Os acórdãos são o resultado do debate e da deliberação entre os juízes
que compõem o tribunal, e é comum que essas decisões revelem posições
diferentes entre os membros do colegiado.
Cada acórdão pode conter votos concordantes e discordantes, sendo este último
conhecido como "voto de vencido". O voto de vencido ocorre quando pelo menos um
juiz discorda da maioria em relação à decisão tomada. Essa possibilidade de
desacordo reflete a natureza complexa das questões constitucionais e a
interpretação variada que os juízes podem ter sobre os princípios constitucionais em
jogo.
Competências do TC
- Fiscalização da constitucionalidade de normas
- Matéria eleitoral e partidos políticos
- Referendos (Fiscalização prévia da constitucionalidade)
- Cargos políticos (declarações de rendimentos)
- Contencioso de perda de mandato deputados
Inconstitucionalidade
Art. 277o CRP
São inconstitucionais as normas que infrinjam:
- O disposto na Constituição
- Os princípios nela consignados
Tipos de inconstitucionalidade
A inconstitucionalidade pode manifestar-se de diversas formas, sendo os dois tipos
principais a inconstitucionalidade por ação e a inconstitucionalidade por omissão.
● Inconstitucionalidade por Ação: Este tipo de inconstitucionalidade ocorre
quando uma norma ou ato normativo é contrário à Constituição devido ao seu
conteúdo ou efeitos. Ou seja, a prática de um ato normativo viola diretamente
preceitos constitucionais. Pode ser um problema relacionado com a
formulação, conteúdo ou aplicação da norma em questão.
● Inconstitucionalidade por Omissão: A inconstitucionalidade por omissão
ocorre quando há uma lacuna normativa, ou seja, a ausência de uma norma
que deveria existir para assegurar o cumprimento de determinados princípios
constitucionais. Esta situação ocorre quando o legislador deixa de criar uma
norma necessária para regulamentar uma matéria específica, violando, assim,
a Constituição.
Em ambos os casos, a inconstitucionalidade é declarada pelo Tribunal
Constitucional ou outro órgão competente para a fiscalização da
constitucionalidade. A função desse tribunal é garantir que as leis e atos normativos
estejam em conformidade com a Constituição, protegendo, assim, os princípios
fundamentais e direitos dos cidadãos.