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Direito constitucional

Estrutura da CRP
A Constituição da República Portuguesa é o documento fundamental que estabelece
as normas e princípios pelos quais o país é regido. Dentro desse contexto, os
princípios desempenham um papel crucial, pois servem como fundamentos
essenciais que norteiam toda a legislação e organização do Estado.
Primeiramente, é importante destacar que os princípios estão situados no ápice da
hierarquia normativa. Eles precedem os preceitos normativos, o que significa que
são conceitos fundamentais que orientam a elaboração e interpretação das leis. Ao
contrário das normas específicas, os princípios são mais abstratos e gerais,
refletindo valores e diretrizes básicas.
No entanto, é vital compreender que os princípios não estão acima do Direito; em vez
disso, estão intrinsecamente incorporados no próprio ordenamento jurídico. Isso
significa que, embora desempenhem um papel orientador, estão sujeitos à
conformidade com as demais normas legais. Os princípios não são uma entidade
separada, mas sim uma parte integrante e essencial do sistema jurídico.
Além disso, os princípios constituem a base da Constituição Material. Isso significa
que eles formam os alicerces sobre os quais a Constituição é construída. São os
valores essenciais que moldam as disposições específicas da Constituição e
fornecem a estrutura ética e moral que permeia todo o ordenamento jurídico.
Em resumo, na Constituição da República Portuguesa, os princípios são os alicerces
que antecedem as normas, estão imersos no ordenamento jurídico, não estão acima
das demais normas, mas, pelo contrário, são parte integrante delas, e constituem a
base fundamental da Constituição Material, refletindo os valores fundamentais que
sustentam o sistema legal do país.

Características da CRP
A Constituição da República Portuguesa (CRP) apresenta distintas características
que a diferenciam das normas-regra, aproximando-se mais da ideia de Direito
enquanto guia fundamental para a organização do Estado e sociedade.
Primeiramente, destaca-se a maior amplitude da CRP em comparação com as
normas-regra. Enquanto estas últimas são específicas e detalhadas, a Constituição
abrange princípios amplos e abstratos que fornecem diretrizes gerais para a
legislação e a governança do país.
Além disso, os princípios da CRP são respeitantes a fins e não a meios. Isso
significa que, em vez de se concentrarem estritamente nos métodos para atingir um
objetivo, eles estabelecem os objetivos fundamentais, permitindo flexibilidade na
escolha de meios para alcançá-los.
A grande versatilidade e abertura da CRP são evidentes na sua capacidade de se
adaptar a diferentes contextos e situações. Ao contrário das normas-regra, que são
mais estáticas, a Constituição é mais flexível e pode acomodar mudanças sociais,
políticas e econômicas.
Outra característica importante é a expansibilidade da CRP perante novos
contextos. Isso significa que a Constituição pode ser interpretada e aplicada de
maneira a abranger questões emergentes e desafios contemporâneos, garantindo
que continue relevante ao longo do tempo.
Por fim, a capacidade de harmonização sem revogação recíproca destaca a
habilidade da CRP de integrar novas disposições sem anular aquelas já existentes.
Isso contribui para a estabilidade e continuidade do ordenamento jurídico,
permitindo que a Constituição se adapte a mudanças sem perder sua base
estrutural.
Em síntese, as características da CRP incluem sua amplitude, orientação a fins,
versatilidade, expansibilidade e capacidade de harmonização, tornando-a um
instrumento fundamental e adaptável que se aproxima da concepção mais ampla de
Direito.

Princípios versus regras


Os princípios e as regras são elementos distintos no campo jurídico, cada um com
suas características específicas, que podem ser resumidas da seguinte maneira:
Regras:
1. Consequências Jurídicas Imediatas: As regras têm consequências jurídicas
imediatas e específicas. Se uma regra não for seguida, isso pode resultar em
sanções ou penalidades de forma direta e imediata.
2. Estrutura Vigente: As regras têm uma estrutura mais rígida e são aplicáveis
de maneira direta. Elas ditam comportamentos específicos e são mais
prescritivas em relação ao que é permitido ou proibido.
3. Diferença Qualitativa: As regras são normas que estabelecem padrões de
comportamento de maneira precisa, não deixando muito espaço para
interpretação ou adaptação. Elas são aplicadas de forma mais objetiva.
Princípios:
1. Consequências Jurídicas Indiretas: Os princípios, por sua vez, têm
consequências jurídicas mais indiretas. Eles podem influenciar a
interpretação e aplicação do Direito, mas não necessariamente resultam em
sanções diretas se não forem seguidos.
2. Estrutura que Vale: Os princípios têm uma estrutura mais flexível e
orientadora. Eles servem como guias gerais para a interpretação e aplicação
das normas, contribuindo para a coerência e a justiça do sistema jurídico.
3. Diferença Qualitativa: Os princípios são normas mais abstratas que
expressam valores fundamentais, proporcionando uma orientação mais
ampla. Sua aplicação pode variar de acordo com o contexto e as
circunstâncias.
Em resumo, enquanto as regras têm consequências jurídicas imediatas, uma
estrutura mais vigente e uma aplicação mais direta, os princípios influenciam de
maneira mais indireta, possuindo uma estrutura que vale de forma mais flexível e
orientadora. Ambos desempenham papéis importantes no sistema jurídico, com as
regras fornecendo diretrizes específicas e os princípios contribuindo para a
interpretação e aplicação justa do Direito.

Importância dos princípios


Os princípios desempenham um papel fundamental na vida jurídico-política de um
país, sendo de grande importância em diferentes contextos, seja em períodos de
normalidade ou em situações de ruptura constitucional. Suas características e
relevância podem ser destacadas da seguinte maneira:

● Períodos de Normalidade:
Durante períodos de normalidade constitucional, a estrutura legal é moldada pelos
princípios constitucionais que orientam a interpretação e aplicação das normas.
Nesse contexto, duas formas de ação legal são fundamentais para entender como a
estrutura é operacionalizada:
- Ação Imediata—> Diretamente Aplicáveis: Certos princípios
constitucionais são diretamente aplicáveis, o que significa que têm
eficácia imediata e podem ser invocados e aplicados diretamente pelos
tribunais e outros órgãos jurídicos. Esses princípios não requerem
legislação intermediária para se tornarem efetivos.
- Ação Mediata:---> Referência para Interpretação e Integração:
Princípios que não têm ação imediata muitas vezes atuam de forma
mediata. Eles não são aplicáveis diretamente, mas servem como
referência e guia para a interpretação e integração das regras
infraconstitucionais. Tribunais e autoridades jurídicas podem usar
esses princípios como critérios para avaliar a conformidade das leis e
regulamentos com a Constituição.

● Períodos de Ruptura Constitucional:


- Poucas Regras Escritas e Estrutura, quando há poucas regras escritas,
os princípios desempenham um papel crucial ao fornecerem uma base
ética e moral para a legislação e a tomada de decisões, os princípios
preenchem lacunas e fornecem uma estrutura ética e moral que guia a
tomada de decisões e a elaboração de novas normas.
- A vida jurídico-política do país assenta nos princípios, pois eles
constituem a estrutura orientadora que permeia todo o ordenamento
jurídico. Eles são a base sobre a qual as normas específicas são
construídas.
Em resumo, a importância dos princípios é evidente tanto em momentos de
normalidade quanto em períodos de ruptura constitucional. Eles fornecem uma
orientação ética, garantem flexibilidade na aplicação do Direito e servem como
alicerces para a estabilidade e justiça no sistema jurídico de um país.

Os princípios dividem-se em 3 grandes grupos


● Princípios Axiológicos Fundamentais: Estes são os princípios que refletem
valores fundamentais e axiológicos da sociedade. Eles são a base ética e
moral sobre a qual a Constituição é construída. Exemplos incluem princípios
como dignidade da pessoa humana, igualdade, liberdade e justiça. Estes
princípios fornecem a orientação moral e ética que permeia todo o sistema
jurídico.
● Princípios Político-Constitucionais: Esses princípios estão relacionados à
organização política do Estado e à estruturação do sistema constitucional.
Eles delineiam a forma de governo, a separação de poderes, os direitos
políticos e outras questões fundamentais para a organização do Estado.
Exemplos incluem o princípio da democracia representativa, o princípio da
separação de poderes e o princípio do Estado de Direito.
● Princípios Constitucionais Instrumentais: Estes princípios são instrumentos
ou meios para a consecução dos objetivos estabelecidos pelos princípios
axiológicos fundamentais e pelos princípios político-constitucionais. Eles são
utilizados como ferramentas para assegurar a eficácia e a aplicabilidade dos
princípios fundamentais. Exemplos incluem o princípio da proporcionalidade,
o princípio da subsidiariedade e o princípio da razoabilidade. Esses princípios
orientam a interpretação e aplicação das normas constitucionais em
situações específicas.
Essa classificação tripartida reflete a diversidade de funções e propósitos dos
princípios dentro do contexto constitucional, proporcionando uma estrutura
abrangente para a compreensão dos valores, da organização política e dos
instrumentos jurídicos essenciais presentes em uma Constituição.

Preâmbulos
Os preâmbulos constituem uma parte peculiar das Constituições, e sua presença ou
ausência pode variar de uma constituição para outra. Alguns pontos relevantes sobre
os preâmbulos em contextos constitucionais podem ser destacados com base no
trecho fornecido:
● Contingência da Presença nos Documentos Constitucionais:
É verdade que nem todas as Constituições incluem preâmbulos. A presença
ou ausência de um preâmbulo em uma Constituição é uma escolha feita
durante o processo de elaboração constitucional, refletindo a abordagem e as
prioridades dos redatores da Constituição.
● Origem no Poder Constituinte Formal: Os preâmbulos são considerados parte
integrante da Constituição e emanam do poder constituinte formal, que é a
autoridade responsável pela elaboração e adoção da Constituição. Eles
expressam os valores, objetivos e princípios fundamentais que fundamentam
o texto constitucional.
● Normas-Regra e Igual Dignidade: Apesar de serem distintos das
normas-regra, os preâmbulos compartilham a igual dignidade como normas
constitucionais. Isso significa que, embora tenham uma natureza introdutória
e reflexiva, eles são considerados normas jurídicas com status constitucional.
● Possibilidade de Desatualização com Revisões Constitucionais: Uma
característica interessante dos preâmbulos é sua suscetibilidade à
desatualização em caso de revisões constitucionais. Alterações nos valores
ou na visão da sociedade ao longo do tempo podem tornar certas
declarações nos preâmbulos menos representativas, e, portanto, eles podem
ser revisados para refletir uma compreensão mais contemporânea.
No caso específico mencionado da Constituição da República Portuguesa (CRP) de
1976, nota-se que ela contém um preâmbulo. O trecho sugere que, assim como as
normas-regra, os preâmbulos também emanam do poder constituinte formal,
sublinhando a igual dignidade entre ambas as formas normativas na Constituição.
Além disso, destaca-se a possibilidade de desatualização dos preâmbulos mediante
revisões constitucionais, indicando uma flexibilidade para ajustar a expressão dos
valores fundamentais à evolução da sociedade.

Normas- Regras
No Direito em Geral:
Certamente, a classificação das normas-regra no Direito em geral envolve diversas
dimensões,
● Quanto à Forma de Atuação:
- Permissivas: Autorizam determinada conduta, concedendo uma
faculdade ou permitindo algo.
- Prescritivas: Impõem obrigações ou deveres, determinando o que deve
ser feito.
- Proibitivas: Vedam ou proíbem determinada conduta, estabelecendo o
que não deve ser feito.

● Quanto à Abstração e Generalidade:


- Gerais: Aplicam-se a uma pluralidade indeterminada de situações e
sujeitos.
- Especiais: Aplicam-se a situações específicas ou a sujeitos
determinados.
● Quanto à Natureza do Direito:
- De Direito Comum: Aplicam-se ao direito de forma geral.
- De Direito Particular: Aplicam-se a uma área específica ou ramo do
direito.

● Quanto à Abrangência:
- Gerais: Aplicam-se a uma gama ampla de situações.
- Excepcionais: Aplicam-se em situações específicas ou excepcionais.

Direito Constitucional
Certamente, no âmbito do Direito Constitucional, as normas-regra (também
chamadas de normas constitucionais) podem ser classificadas de diversas formas,
considerando suas características específicas.
● Materiais ou de Fundo: Referem-se à regulamentação de direitos, garantias,
deveres e instituições, ou seja, tratam do conteúdo substantivo da
Constituição.
● Orgânicas ou Organizativas: Referem-se à estruturação dos órgãos e poderes
do Estado, estabelecendo as bases da organização política e institucional do
país.
● Procedimentais ou de Forma: Regulam os procedimentos, as formas de
atuação e os ritos relacionados aos órgãos e processos constitucionais.
● Quanto à Natureza da Regulação:
- Preceptivas ou Programáticas: São normas que estabelecem
programas a serem implementados pelo Estado, indicando diretrizes a
serem seguidas para alcançar determinados objetivos.

● Exequíveis por Si Mesmas: Normas que têm eficácia imediata, podendo ser
aplicadas diretamente pelos tribunais e outros órgãos sem a necessidade de
legislação intermediária.
● Não Exequíveis por Si Mesmas: Normas que necessitam de legislação
infraconstitucional para tornarem-se efetivas.
● Quanto à Hierarquia Normativa:
- Constitucionais Propriamente Ditas: Normas que compõem o texto
principal da Constituição e têm o mais alto grau de hierarquia
normativa.
- Normas sobre Normas Constitucionais: Estabelecem regras sobre a
interpretação, revisão e alteração das normas constitucionais,
delineando procedimentos específicos.
Aplicabilidade das normas constitucionais
● Princípios Diretamente Aplicáveis: Esses são princípios constitucionais que
têm eficácia imediata, ou seja, podem ser aplicados diretamente pelos
tribunais e outros órgãos sem a necessidade de legislação intermediária. Eles
são de aplicação direta e não dependem de normas infraconstitucionais para
produzir efeitos.
● Normas Exequíveis por si mesmas (p.s.m.)Essas são normas constitucionais
que têm eficácia imediata e podem ser aplicadas sem a necessidade de
regulamentação infraconstitucional. Elas podem ser invocadas e utilizadas
diretamente nos casos concretos.
● Normas Não Exequíveis por si mesmas (p.s.m.)Essas são normas
constitucionais que, para produzirem efeitos, dependem de legislação
infraconstitucional. Ou seja, precisam ser regulamentadas por normas
ordinárias para serem efetivas.
Características Adicionais:
- Aplicáveis às Relações entre Particulares, destes com o Estado e aos Órgãos
e Titulares dos Órgãos do Estado, RA e AL: Indica a ampla abrangência das
normas constitucionais, que se aplicam não apenas às relações entre o
Estado e os cidadãos, mas também às relações entre particulares e aos
órgãos e titulares dos órgãos do Estado, bem como aos entes federativos (RA
e AL referem-se a Regiões Autónomas e Autarquias Locais).
- Geram Inconstitucionalidade por Omissão: Algumas normas constitucionais
podem gerar inconstitucionalidade por omissão, ou seja, o legislador pode ser
considerado inconstitucional por não cumprir o dever de regulamentar uma
norma constitucional que exige regulamentação.
- Base Interpretativa e Integrativa de Outras Normas: Algumas normas
constitucionais servem como base interpretativa e integrativa para outras
normas. Elas podem guiar a interpretação de dispositivos legais e preencher
lacunas normativas.
- Não Automaticamente Revogadas: As normas constitucionais não são
automaticamente revogadas por outras normas infraconstitucionais. Elas
mantêm sua validade, a menos que sejam expressamente revogadas por
meio de processo legislativo adequado.

Interpretação, integração e aplicação das normas constitucionais


A interpretação, integração e aplicação das normas constitucionais desempenham
um papel central no funcionamento dos sistemas jurídicos, sendo processos
essenciais para garantir a eficácia e a justiça das normas. Em todos os
ordenamentos jurídicos, a interpretação é uma etapa necessária, pois todas as
normas jurídicas, incluindo as constitucionais, requerem análise cuidadosa para
serem adequadamente aplicadas.
A interpretação constitucional busca desvendar o significado e o propósito por trás
das disposições da Constituição. Dada a natureza muitas vezes aberta e
principiológica das normas constitucionais, a interpretação desempenha um papel
crucial na adaptação dessas normas a situações específicas e na garantia de sua
relevância ao longo do tempo.
Nos ordenamentos jurídicos do tipo anglo-saxónico, a jurisprudência (decisões
judiciais anteriores) desempenha um papel particularmente importante na
interpretação. A Common Law, característica desses sistemas, baseia-se em
decisões judiciais anteriores para desenvolver um corpo de precedentes que orienta
a interpretação e a aplicação futuras das normas. A jurisprudência torna-se uma
fonte significativa de direito, ajudando a preencher lacunas normativas e a adaptar
as regras legais a novos contextos.
Além da interpretação, a integração é outro elemento vital. Em situações em que
uma norma não abrange completamente uma determinada situação, os intérpretes
do direito precisam integrar essa lacuna, buscando soluções que estejam em
conformidade com os princípios e objetivos gerais da Constituição.
Finalmente, a aplicação das normas constitucionais é o resultado final do processo
interpretativo e integrativo. É por meio da aplicação que as normas ganham vida
prática, influenciando decisões judiciais, políticas públicas e relações sociais.
Assim, a interpretação, integração e aplicação das normas constitucionais
representam um ciclo contínuo e dinâmico, essencial para a efetivação dos
princípios fundamentais e para a adaptação do ordenamento jurídico às
transformações sociais e políticas.

Interpretação da Constituição em 3 critérios


A interpretação da Constituição é um processo complexo e multifacetado, e
diferentes critérios são empregados para compreender e aplicar suas disposições.
● Unidade e Identidade da Constituição: Este critério refere-se à ideia de que a
Constituição deve ser interpretada como um todo coerente e harmonioso,
refletindo uma unidade e identidade em seus princípios e valores
fundamentais. A interpretação deve buscar evitar contradições internas e
garantir a consistência global do texto constitucional. O intérprete deve
considerar o espírito geral da Constituição, buscando uma harmonização
entre suas diversas disposições.
● Adequação ou Concordância Prática: O critério de adequação ou
concordância prática enfatiza a necessidade de interpretação que leve a
resultados práticos e coerentes com os objetivos da Constituição. Isso
implica adaptar a interpretação de suas normas para garantir sua eficácia e
aplicabilidade no contexto social, político e econômico contemporâneo. A
interpretação deve buscar soluções que estejam em sintonia com os valores
constitucionais e que atendam às necessidades da sociedade.
● Efetividade: O critério de efetividade destaca a importância de interpretar a
Constituição de maneira a garantir a realização efetiva de seus princípios e
direitos. A interpretação não deve se limitar a uma mera análise teórica, mas
deve ser orientada para a concretização dos objetivos constitucionais na
prática. Isso inclui a busca por interpretações que promovam a eficácia das
normas e a proteção efetiva dos direitos fundamentais.
Esses critérios trabalham em conjunto para orientar o intérprete na tarefa de dar vida
e sentido à Constituição. A abordagem holística, respeitando a unidade e identidade,
juntamente com a busca por soluções práticas e efetivas, contribui para uma
interpretação dinâmica e adaptável às demandas da sociedade e às mudanças no
ambiente jurídico e social.

Integração da Constituição
A integração da Constituição no ordenamento jurídico é um processo complexo que
visa preencher lacunas deixadas pela norma fundamental. A Constituição, como
qualquer sistema normativo, não consegue antecipar todas as situações possíveis e,
por isso, há momentos em que se torna necessário recorrer à decisão política do
legislador ordinário.
Uma lacuna pode surgir quando a Constituição não oferece orientações claras ou
específicas sobre determinado assunto. Por exemplo, podemos observar isso na
ausência de uma definição precisa do prazo para o Presidente da República
promulgar as leis de revisão constitucional. Nesses casos, a Constituição não
estabelece um prazo específico para essa ação, o que deixa espaço para a atuação
do legislador ordinário.
A decisão política do legislador ordinário é crucial para preencher essas lacunas.
Este atua por meio da elaboração de leis e regulamentos que complementam as
disposições constitucionais, oferecendo diretrizes mais detalhadas e específicas
para situações não abrangidas pela norma fundamental. Assim, o legislador
ordinário desempenha um papel fundamental na concretização e operacionalização
dos princípios constitucionais, adaptando as normas à evolução da sociedade e às
demandas contemporâneas.
É importante ressaltar que essa integração deve ocorrer de forma harmônica e
coerente, respeitando os valores e princípios fundamentais estabelecidos pela
Constituição. A procura por soluções legislativas que estejam alinhadas com os
objetivos constitucionais contribui para a estabilidade e eficácia do sistema jurídico
como um todo. Dessa forma, a integração da Constituição não apenas preenche
lacunas, mas também fortalece o sistema jurídico, garantindo sua adaptação às
transformações sociais e políticas ao longo do tempo.
Analogia
Quando se menciona a ideia de um artigo como "Analogia", pode-se estar a refer-se a
uma norma que não está expressamente prevista na legislação, mas que pode ser
aplicada por analogia com outras normas existentes. A analogia ocorre quando o
intérprete, diante de uma lacuna na lei, procura aplicar princípios ou regras
semelhantes às que já estão previstos. (ex: art.10º do CC)

Integração de normas da Constituição formal


A integração de normas da Constituição formal refere-se ao processo de
preenchimento de lacunas ou ambiguidades dentro da própria Constituição, sem a
necessidade de recorrer a normas provenientes da legislação ordinária. Isso é feito
considerando os valores e princípios fundamentais da Constituição material, que são
os valores subjacentes que norteiam as disposições constitucionais.
Dentro da Constituição formal, que consiste no texto escrito da lei fundamental de
um país, podem surgir situações em que as regras não são explicitamente definidas
ou onde há ambiguidades na redação. Nesses casos, a integração de normas ocorre
ao interpretar e aplicar os princípios e valores consagrados na Constituição material.
A Constituição material representa os valores, ideais e princípios fundamentais que
inspiram a elaboração da Constituição formal. Esses valores podem incluir direitos
fundamentais, princípios democráticos, o Estado de Direito e outros elementos que
refletem a identidade e os objetivos fundamentais da sociedade.
Ao realizar a integração de normas, os intérpretes e aplicadores do direito buscam
entender a intenção subjacente à Constituição material, aplicando-a aos casos
concretos. Isso envolve uma interpretação que vai além da simples leitura literal do
texto constitucional, considerando os valores e princípios que fundamentam as
disposições.
A vantagem desse processo é que permite adaptar a Constituição às mudanças
sociais e desenvolvimentos, mantendo sua relevância ao longo do tempo. No
entanto, é crucial que essa integração seja feita de maneira consistente e
respeitando os princípios fundamentais, para garantir a coerência do ordenamento
jurídico.
Assim, a integração de normas da Constituição formal, à luz dos valores da
Constituição material, representa um esforço para harmonizar o texto escrito com os
princípios subjacentes, promovendo uma interpretação dinâmica e adaptativa da lei
fundamental de um país.

As normas constitucionais projetam-se sobre todo o ordenamento jurídico


As normas constitucionais exercem uma influência abrangente sobre todo o
ordenamento jurídico de um país. Elas funcionam como a base e o alicerce sobre o
qual as demais normas são construídas. Ao projetar-se sobre o sistema jurídico, as
normas constitucionais estabelecem os princípios fundamentais que orientam a
legislação, a jurisprudência e a atuação de instituições.
A Constituição é a lei máxima de um Estado, refletindo os valores, direitos e
princípios essenciais para a organização da sociedade. Sua supremacia confere-lhe
a capacidade de moldar e limitar todas as demais normas legais. Desse modo, as
normas constitucionais não apenas conferem legitimidade ao ordenamento jurídico,
mas também estabelecem os parâmetros dentro dos quais as leis e decisões
judiciais devem operar.
Além disso, as normas constitucionais muitas vezes asseguram direitos
fundamentais, delineiam a estrutura dos órgãos estatais e estabelecem princípios
que regem a atuação do poder público. Sua projeção sobre o ordenamento jurídico é
vital para a garantia da legalidade, justiça e equidade na sociedade.
Em resumo, as normas constitucionais desempenham um papel central ao
permearem todas as esferas do ordenamento jurídico. Elas conferem unidade,
coesão e direção aos demais dispositivos legais, contribuindo para a construção de
um sistema jurídico sólido e alinhado aos valores fundamentais de uma nação.

Nova Constituição (originária ou revisão)


Na perspectiva jurídica, o fenômeno de "superveniência" refere-se a eventos,
circunstâncias ou mudanças ocorridas após a criação de uma norma legal ou
constitucional. A superveniência pode impactar a validade ou a interpretação de
normas existentes. No contexto de uma nova Constituição (seja ela originária ou
resultante de revisão), o fenômeno de superveniência pode manifestar-se de
diversas maneiras:
● Inconstitucionalidade Superveniente: Eventos ou mudanças que ocorrem
após a promulgação da nova Constituição podem tornar certas normas
anteriormente constitucionais incompatíveis com os novos princípios. Isso
leva à declaração de inconstitucionalidade superveniente, exigindo
adaptações ou revogação dessas normas.
● Alterações Sociais e Tecnológicas: A evolução da sociedade e avanços
tecnológicos podem criar situações não previstas pela Constituição anterior.
A nova Constituição precisa lidar com essas mudanças, incorporando
princípios que abordem novas realidades e desafios.
● Desenvolvimento Jurisprudencial: A jurisprudência que se desenvolve após a
promulgação da nova Constituição pode influenciar a interpretação de suas
normas. Caso surjam novos precedentes ou mudanças na interpretação
judicial, isso constituirá uma forma de superveniência.
● Eventos Políticos e Mudanças de Regime: Mudanças significativas no cenário
político, como transições democráticas ou mudanças de regime, podem criar
novos desafios e exigir adaptações na ordem constitucional.
A superveniência destaca a dinâmica e a adaptabilidade necessárias no sistema
jurídico para lidar com mudanças ao longo do tempo. O reconhecimento desses
fenômenos é essencial para manter a relevância e eficácia da Constituição diante de
um ambiente em constante evolução. Ao incorporar mecanismos para lidar com a
superveniência, uma nova Constituição pode se tornar mais resiliente e capaz de
enfrentar desafios futuros.

Superveniência de normas constitucionais


A superveniência de normas constitucionais pode dar origem a diferentes
fenômenos jurídicos em relação às normas anteriores, tais como revogação global,
revogação parcial, novação ou caducidade por inconstitucionalidade superveniente.
Vamos explorar cada um desses conceitos:
● Revogação Global: A promulgação de uma nova Constituição, seja ela
originária ou resultante de uma revisão constitucional abrangente, pode
resultar na revogação global da Constituição anterior. Nesse caso, a antiga
Constituição deixa de ter validade, e a nova assume sua posição como a lei
fundamental do país.
● Revogação Parcial: A revogação parcial ocorre quando apenas algumas
disposições da Constituição anterior são revogadas pela nova. Isso pode
acontecer por meio de emendas específicas que eliminam ou modificam
determinadas partes da Constituição, enquanto outras disposições são
mantidas.
● Novação Constitucional: A novação constitucional envolve a substituição de
normas anteriores por novas normas, sem necessariamente revogar toda a
Constituição. Pode ocorrer quando a nova Constituição mantém parte das
disposições anteriores, mas introduz alterações significativas ou novos
princípios, ou seja, uma constituição nova sobre normas ordinárias anteriores
não desconformes
● Caducidade por Inconstitucionalidade Superveniente: A caducidade por
inconstitucionalidade superveniente refere-se à perda de vigência de normas
anteriores devido à sua incompatibilidade com a nova Constituição. Se uma
norma anterior se torna inconstitucional em virtude de emendas ou mudanças
na ordem constitucional, ela pode ser considerada caduca, ou seja, uma
constituição nova sobre normas ordinárias anteriores desconformes

Esses fenômenos são formas pelas quais a superveniência de normas


constitucionais impacta o ordenamento jurídico anterior. É importante notar que o
reconhecimento desses fenômenos muitas vezes depende da interpretação dos
tribunais constitucionais e do respeito aos procedimentos estabelecidos para a
elaboração e emenda constitucional, garantindo a continuidade e coerência do
sistema jurídico. O processo de superveniência e seus efeitos devem ser conduzidos
com o devido cuidado para preservar a estabilidade e a legitimidade do sistema
constitucional.
Regra Geral
Regra geral, a Constituição da República Portuguesa aplica-se no território do
Estado, garantindo direitos e proteções aos cidadãos dentro desse espaço
geográfico. No entanto, fora do território do Estado, como quando um cidadão
português está em férias ou residindo no estrangeiro, a aplicação direta da
Constituição pode ser limitada.
Isso não significa que o cidadão português fique totalmente desvinculado ou
desprotegido pela Constituição. Muitos direitos fundamentais são considerados
universais e inalienáveis, aplicando-se mesmo além das fronteiras nacionais. Além
disso, tratados internacionais e acordos bilaterais podem oferecer alguma proteção
aos cidadãos em contextos internacionais.
É importante observar que, em alguns casos, a aplicação prática de certos direitos
constitucionais pode ser condicionada pela legislação do país onde o cidadão
português se encontra. Portanto, embora a Constituição da República Portuguesa
seja a lei fundamental que rege a relação entre o Estado e seus cidadãos, a extensão
de sua aplicação direta fora do território nacional pode ser mitigada por questões
jurídicas internacionais e pela legislação local.
Sendo assim a resposta à pergunta “Ficará um cidadão português em férias ou a
residir no estrangeiro desvinculado e/ou desprotegido pela Constituição da República
Portuguesa?” É negativa, o Artigo 14º da Constituição da República Portuguesa
(CRP) estabelece que o direito de cada Estado, incluindo Portugal, acompanha seus
cidadãos onde quer que estejam. Especificamente, em relação aos cidadãos
portugueses residentes no estrangeiro, o texto da CRP afirma que eles gozam dos
direitos e estão sujeitos aos deveres que não sejam incompatíveis com a situação
de ausência do país.
Portanto, mesmo estando fora do território do Estado português, os cidadãos
portugueses continuam a ter direitos fundamentais protegidos pela Constituição,
desde que esses direitos sejam compatíveis com sua condição de ausência do país.
Essa disposição constitucional reflete o princípio fundamental de que a cidadania
confere direitos e deveres aos cidadãos independentemente de sua localização
geográfica.
A inclusão de tal disposição na Constituição ressalta o compromisso de garantir a
proteção dos direitos dos cidadãos portugueses, independentemente de estarem em
solo nacional ou no estrangeiro. Isso reforça a ideia de que a cidadania portuguesa
não é restrita ao território, mas é uma afiliação que transcende fronteiras
geográficas.
São aplicáveis:
● Direitos Fundamentais (Art. 16º, nº 1): O artigo 16º, nº 1, estabelece que os
direitos fundamentais são aplicáveis a todas as entidades públicas e
privadas. Isso significa que tanto o Estado como entidades não estatais
devem respeitar e proteger esses direitos.
● Direitos, Liberdades e Garantias (Art. 9º, b; 24º ss.): Os direitos, liberdades e
garantias são uma categoria abrangente que engloba direitos individuais e
coletivos. O artigo 9º, b, da CRP destaca a garantia da inviolabilidade pessoal
e a integridade física e moral. Os artigos 24º e seguintes detalham diversos
direitos nesta categoria, como liberdade, igualdade, segurança, privacidade,
entre outros.
● Direitos Económicos, Sociais e Culturais (Art. 9º, d; 58º ss.): O artigo 9º, d,
reconhece os direitos económicos, sociais e culturais como parte integrante
dos direitos fundamentais. Os artigos 58º e seguintes da CRP abordam
questões relacionadas com a educação, cultura, saúde, trabalho, habitação e
segurança social, entre outros.
● Alguns Direitos de Participação Política: A participação política é abordada
em diferentes partes da CRP. Por exemplo, o direito de sufrágio (voto) é
referido em vários artigos, como o artigo 49º. Os direitos de associação e de
manifestação são também garantidos, permitindo a participação ativa na vida
política.

Assim, esses direitos são aplicáveis a diversos âmbitos da vida, garantindo a


proteção e promoção de uma ampla gama de valores fundamentais em Portugal. A
Constituição estabelece a base legal para a defesa destes direitos, que devem ser
respeitados e cumpridos por todas as entidades, públicas e privadas, no âmbito do
território português.

Os direitos de participação política são fundamentais para a democracia e estão


expressamente garantidos pela Constituição da República Portuguesa (CRP). Os
direitos mencionados no contexto da participação política incluem:
● Votar nas eleições dos Deputados à Assembleia da República (Artigo 149º,
nº 2 CRP): Este direito permite aos cidadãos portugueses participarem
ativamente na escolha dos representantes para a Assembleia da República, o
órgão legislativo nacional.
● Votar para a eleição do Presidente da República (Artigo 121º, nº 2 CRP): O
direito de votar para a eleição do Presidente da República concede aos
cidadãos a capacidade de escolher o chefe de Estado, uma figura central na
estrutura política do país.
● Votar na eleição para Deputados por Portugal no Parlamento Europeu, se
residirem na UE: Este direito estende-se aos cidadãos portugueses que
residem na União Europeia, permitindo-lhes votar nas eleições para os
Deputados portugueses no Parlamento Europeu.
● Participar em referendo político nacional, sobre matéria que lhe diga respeito
(Artigo 115º, nº 1 e 2 CRP): Os cidadãos têm o direito de participar em
referendos políticos nacionais, exercendo o seu voto sobre questões
específicas que afetem a sua vida e a organização do Estado. O referendo é
uma forma direta de participação nas decisões políticas.

Sentido dos direitos fundamentais


Direitos do homem vs Direitos fundamentais
Os termos "Direitos Fundamentais" e "Direitos do Homem" muitas vezes são
utilizados como sinônimos, mas existe uma distinção sutil entre eles. Os Direitos do
Homem referem-se aos direitos inerentes a todos os seres humanos simplesmente
por sua condição de pessoa, independentemente de qualquer ordenamento jurídico
específico. Esses direitos são considerados universais e irrevogáveis, aplicando-se a
todas as pessoas em qualquer parte do mundo. No entanto, mesmo esses direitos
dependem da existência de um Estado que os respeite e proteja. Os Direitos do
Homem encontram sua concretização prática nas Constituições nacionais, que os
incorporam como Direitos Fundamentais.
Por outro lado, os Direitos Fundamentais são uma categoria mais específica de
direitos, relacionada à ordem jurídica de um país ou região específica. Eles são os
direitos individuais e coletivos reconhecidos e protegidos pela Constituição de um
Estado. Portanto, os Direitos Fundamentais são os direitos do ser humano enquanto
parte de uma comunidade política e estão integrados na estrutura legal do país.
Esses direitos são essenciais para assegurar a autonomia das pessoas diante do
poder político. A existência de uma Constituição confere a base legal e normativa
para a proteção desses direitos dentro do contexto nacional.
A principal distinção reside no escopo e na origem desses direitos. Os Direitos do
Homem transcendem fronteiras nacionais e são considerados inalienáveis a toda a
humanidade. Em contraste, os Direitos Fundamentais são moldados e garantidos
pelo sistema jurídico de uma nação específica, refletindo os valores e as prioridades
dessa sociedade em particular.
Ambos os conceitos buscam proteger e promover a dignidade humana, a liberdade e
a igualdade, mas a diferença fundamental está na sua aplicação e origem. Enquanto
os Direitos do Homem representam um ideal global de justiça e respeito pela
humanidade, os Direitos Fundamentais representam a concretização prática desses
ideais dentro do contexto jurídico e constitucional de uma nação. Em muitos casos,
os Direitos Fundamentais de uma Constituição são inspirados ou refletem os
princípios consagrados nos Direitos do Homem.
A autonomia das pessoas frente ao poder político é um elemento-chave. Os Direitos
Fundamentais garantem que os indivíduos possuam uma esfera de autonomia que o
Estado não pode violar arbitrariamente. Essa autonomia é fundamental para
preservar a dignidade e a liberdade de cada pessoa.
Sem um Estado que respeite e proteja esses direitos, a autonomia das pessoas
estaria em risco, sujeita a abusos por parte do poder político. A Constituição, ao
estabelecer os Direitos Fundamentais, serve como um mecanismo crucial para a
limitação do poder estatal e a proteção dos indivíduos contra possíveis violações.

Evolução Histórica Dos Direitos Fundamentais


A evolução histórica dos direitos fundamentais é um processo complexo que se
desdobrou ao longo de várias eras e contextos culturais. Vamos traçar brevemente
essa evolução desde a antiguidade greco-romana até a Idade Média e a época
estamental:
Período pré DDHC
Antiguidade greco-romana:
Na antiguidade greco-romana, as noções precursoras dos direitos fundamentais
começaram a surgir. Na Grécia, destacam-se ideias como a democracia ateniense,
onde alguns cidadãos tinham participação política. Em Roma, a Lei das Doze Tábuas
representou um código legal que reconhecia alguns direitos básicos para os
cidadãos romanos. No entanto, esses direitos eram frequentemente restritos a
grupos específicos, como homens livres.
Na Antiguidade greco-romana, a prática da escravização era uma característica
fundamental da sociedade.
Idade média:
Com a transição para a Idade Média, muitos dos conceitos gregos e romanos foram
reinterpretados à luz do cristianismo e da organização feudal. A Igreja Católica
exerceu influência considerável sobre a sociedade, e os direitos individuais eram
muitas vezes ligados à posição social e ao status dentro da hierarquia feudal. Surgiu
uma combinação complexa de direitos e deveres, mas a ênfase nos direitos
individuais ainda não era dominante.
Na Idade Média, as ideias sobre direitos e deveres eram frequentemente moldadas
pela filosofia tomista de Santo Tomás de Aquino. Ele articulou uma visão que
incorporava a "lex divina" (lei divina), a "lex natura" (lei natural) e a "lex positiva" (lei
positiva). Essa abordagem destaca a ideia de que a lei divina, proveniente de Deus,
estabelece princípios fundamentais, enquanto a lei natural é derivada da razão e
aplicável a todos os seres humanos. A lei positiva, por sua vez, refere-se às leis
criadas pelas autoridades humanas para a organização da sociedade.
Época Estamental:
Durante a época estamental, que compreende grande parte da Idade Média, a
sociedade estava estruturada em estamentos ou classes sociais. Os direitos eram
frequentemente diferenciados com base na posição social. A Magna Carta, de 1215,
na Inglaterra, é um marco importante nesse período, representando uma tentativa de
limitar o poder do monarca e garantir certos direitos a certos grupos, embora ainda
não fosse uma declaração abrangente de direitos fundamentais para toda a
população.
Período pós-DDHC
Após a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (DDHC) no contexto da
Revolução Francesa, a evolução dos direitos humanos pode ser analisada em quatro
dimensões principais: direitos individuais, direitos democráticos e participação
política, direitos sociais e dos trabalhadores, e direitos dos povos.
Direitos Individuais:
A dimensão dos direitos individuais concentra-se nas liberdades e garantias
fundamentais que protegem a autonomia e dignidade de cada pessoa. Isso inclui
direitos como a liberdade de expressão, de religião, o direito à privacidade e a
igualdade perante a lei. O objetivo é salvaguardar as liberdades pessoais e proteger
os indivíduos contra abusos de poder estatal.
Direitos Democráticos e de Participação Política:
Nesta dimensão, destaca-se a importância da participação política e dos direitos
democráticos. Inclui o direito de votar, de se candidatar a cargos públicos, e de
participar ativamente no processo decisório do governo. Esses direitos visam
assegurar a representatividade, a transparência e a responsabilidade no exercício do
poder político.
A Constituição de Weimar, promulgada em 1919 na República de Weimar, Alemanha,
representa um marco significativo na evolução dos direitos democráticos e na
participação política.
Direitos Sociais e dos Trabalhadores:
A dimensão dos direitos sociais concentra-se na garantia de condições dignas de
vida, educação, saúde e bem-estar. Isso inclui direitos como o acesso à educação, à
saúde, à segurança social e condições de trabalho justas. O objetivo é reduzir as
desigualdades sociais e proporcionar um padrão de vida adequado a todos os
membros da sociedade. Neste momento os homens passam a ter direitos de
liberdade,prestação e solidariedade
Direitos dos Povos:
Esta dimensão refere-se aos direitos coletivos e à autodeterminação dos povos.
Inclui o direito à paz, à soberania, ao desenvolvimento e à preservação da identidade
cultural. O foco está na proteção dos grupos humanos contra opressões externas e
na promoção do desenvolvimento sustentável. inicia se o direitos dos estrangeiros e
da minoria e em 1992 a ONU adota a “declaração dos direitos de pessoas
pertencentes a minorias nacionais ou étnicas”

Conceitos a saber
Direitos do Homem: Princípios fundamentais e inalienáveis atribuídos a todos os
seres humanos pela sua condição, geralmente consagrados em documentos
internacionais.
Direitos dos Cidadãos: Conjunto de prerrogativas e responsabilidades conferidas
aos membros de uma comunidade política, incluindo direitos civis, políticos e
sociais.
Direitos Civis: Protegem a liberdade e a integridade pessoal, abrangendo direitos
como liberdade de expressão, religião e igualdade perante a lei.
Direitos Políticos: Relacionados à participação na vida política, como o direito de
votar e ser eleito, contribuindo para a tomada de decisões.
Direitos Individuais: Salvaguardam a autonomia e a dignidade de cada pessoa,
incluindo liberdades fundamentais e proteções contra abusos do poder estatal.
Direitos Públicos: Referem-se aos direitos em que o Estado é parte, como o direito
administrativo, envolvendo a relação entre os cidadãos e o governo.
Direitos de Personalidade: Refletem as facetas únicas de cada indivíduo, protegendo
aspectos como vida, integridade física, honra, imagem, privacidade e liberdade
individual.
Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (DESC): Englobam direitos relacionados ao
bem-estar socioeconômico, como o direito ao trabalho, à educação, à saúde, à
moradia e à participação na cultura.
Garantias Institucionais: Referem-se a dispositivos legais e constitucionais que
asseguram o funcionamento eficaz das instituições governamentais, a separação de
poderes, a independência do judiciário e a proteção da democracia e dos direitos
fundamentais.

Classificação dos Direitos Fundamentais


Direitos de Existência
Definição: Essenciais para garantir a dignidade e a sobrevivência básica dos
indivíduos, estes direitos buscam assegurar as condições mínimas para uma vida
digna.
Exemplos: Direito à vida (art24), à integridade física (art25) à alimentação adequada,
à moradia e à saúde.

Direitos de Liberdade:
Definição: Refletem as liberdades individuais, protegendo a esfera pessoal contra
interferências indevidas e garantindo a autonomia dos cidadãos.
Exemplos: Liberdade de expressão e informação (art42), de religião, de movimento,
de associação e de privacidade, liberdade de casamento (art36)

Direitos de Participação:
Definição: Conferem aos cidadãos o direito de participar ativamente na vida política,
social e cultural da comunidade, promovendo a inclusão e a representatividade.
Exemplos: Direito de voto (art48), de associação, de manifestação, de acesso à
informação e de participação em processos decisórios e de acesso a cargo públicos
(art50)
Direitos a Prestações:
Definição: Relacionam-se aos direitos sociais e econômicos que buscam garantir
condições dignas de vida, educação, saúde, trabalho e bem-estar.
Exemplos: Direito à educação (art74), direito à saúde (art64), direito ao trabalho,
direito à segurança social (art63)

Direitos de Defesa:
Definição: São direitos que protegem os indivíduos contra abusos do poder estatal,
assegurando um tratamento justo em processos legais.
Exemplos: Direito ao devido processo legal, direito à ampla defesa, direito ao
contraditório, direito à inviolabilidade do domicílio, direito de resistência (art 21, 103
nº3 e 271 nº3) e direito de recorrer para o tribunal constitucional (art280 nº1 b)

Estado de direito social


Num Estado de Direito Social, os Direitos Fundamentais dividem-se em duas
categorias essenciais: os Direitos de Liberdade e os Direitos Sociais. Os Direitos de
Liberdade, fundamentados na premissa de que as pessoas, simplesmente pela sua
condição humana, merecem respeito e proteção por parte do Estado, concentram-se
em salvaguardar as liberdades individuais e a autonomia pessoal.
Estes direitos, como a liberdade de expressão, religião e movimento, estabelecem
uma barreira protetora em torno do indivíduo, reconhecendo sua dignidade intrínseca
e a necessidade de preservar sua esfera pessoal contra interferências injustificadas.
Por outro lado, os Direitos Sociais têm sua base na ideia de que situações de
desigualdade procura a solidariedade da comunidade política. Aqui, o foco está na
criação de condições igualitárias, proporcionando acesso a serviços essenciais
como saúde, educação e trabalho digno. Esses direitos reconhecem que a sociedade
como um todo deve atuar de maneira solidária para superar disparidades e garantir a
todos uma qualidade de vida condizente com a dignidade humana.
Em resumo, num Estado de Direito Social, as liberdades individuais são protegidas
como uma expressão do respeito inerente a cada pessoa, enquanto os direitos
sociais refletem a responsabilidade coletiva de abordar e mitigar as desigualdades,
construindo uma comunidade mais justa e solidária. Essa abordagem integrada
busca equilibrar a autonomia individual com a necessidade de garantir um padrão
mínimo de bem-estar para todos os membros da sociedade.
Direito de Liberdade vs Direito Social

DLG vs DESC
O Artigo 9º da Constituição da República Portuguesa (CRP) estabelece que incumbe
ao Estado garantir os Direitos, Liberdades e Garantias (DLG) e promover os Direitos
Económicos, Sociais e Culturais (DESC) como tarefas fundamentais. Esse artigo
destaca a responsabilidade do Estado em assegurar a proteção dos direitos
individuais e coletivos, bem como fomentar condições que propiciem o
desenvolvimento social e econômico.
Garantir os Direitos, Liberdades e Garantias refere-se à proteção dos direitos
fundamentais dos cidadãos, como liberdade de expressão, igualdade perante a lei,
liberdade de associação e direitos processuais justos. O Estado tem a incumbência
de criar um ambiente em que esses direitos sejam respeitados e protegidos,
garantindo a integridade e a autonomia dos indivíduos.
Promover os Direitos Económicos, Sociais e Culturais significa que o Estado deve
adotar medidas para criar condições que permitam o acesso a condições dignas de
vida, como educação, saúde, trabalho, cultura e outros aspectos que contribuam
para o bem-estar da sociedade. Isso envolve políticas públicas que buscam reduzir
desigualdades e promover a inclusão social.
Em suma, o Artigo 9º da CRP ressalta o papel ativo do Estado na salvaguarda dos
direitos individuais e na criação de condições propícias ao desenvolvimento e
bem-estar coletivo. Essa abordagem reflete a visão constitucional de um Estado
comprometido com a proteção e promoção abrangente dos direitos e interesses dos
cidadãos.
DLG
Os Direitos, Liberdades e Garantias (DLG) abrangem uma diversidade de
prerrogativas que os indivíduos têm perante o Estado, e essa categoria pode ser
subdividida em Direitos de Agir, Direitos Negativos e o Dever de Proteção por parte
do Estado.
Os Direitos de Agir referem-se às liberdades ativas que os cidadãos possuem para
realizar determinadas ações ou atividades sem interferência indevida do Estado.
Isso inclui, por exemplo, a liberdade de expressão, o direito de manifestação e a
capacidade de associar-se a grupos ou organizações. Esses direitos proporcionam
aos indivíduos a capacidade de participar ativamente na sociedade, expressando
suas opiniões e contribuindo para o debate público.
Os Direitos Negativos, por sua vez, representam a proteção contra interferências
injustificadas do Estado na esfera privada e na liberdade individual. Esses direitos
englobam, por exemplo, a proibição de tortura, tratamento cruel ou degradante, e
asseguram que o Estado não exerça poder de forma arbitrária sobre os cidadãos,
respeitando a sua autonomia e dignidade.
Ao mesmo tempo, há o dever de proteção por parte do Estado, o qual implica que o
Estado tem a obrigação de resguardar os cidadãos contra violações de seus direitos
por terceiros. Isso envolve a criação de estruturas legais e institucionais que
previnam abusos e garantam a segurança e integridade das pessoas.
Dessa forma, a concepção abrangente dos DLG reconhece não apenas as liberdades
ativas e passivas dos cidadãos, mas também estabelece uma obrigação clara por
parte do Estado em proteger esses direitos, promovendo um equilíbrio entre a
liberdade individual e a segurança coletiva. Essa dinâmica reflete a busca por uma
sociedade onde a autonomia e os direitos dos cidadãos sejam respeitados e
protegidos de maneira integral.
DESC
Os Direitos Económicos, Sociais e Culturais (DESC) compreendem uma categoria de
direitos fundamentais que se desdobram em Direitos de Exigir, Direitos Positivos e
envolvem um Dever de Proteção por parte do Estado.
Os Direitos de Exigir referem-se à capacidade dos cidadãos de demandar do Estado
a satisfação de necessidades básicas e condições dignas de vida. Isso inclui o
direito à educação de qualidade, ao acesso à saúde, a condições de trabalho justas,
entre outros. Esses direitos conferem aos indivíduos a possibilidade de reivindicar do
Estado as condições necessárias para uma existência digna.
Os Direitos Positivos são aqueles que estabelecem a obrigação do Estado de agir
proativamente para criar condições que permitam o pleno exercício desses direitos.
Envolvem políticas públicas, programas sociais e iniciativas governamentais que
visam garantir, por exemplo, o direito ao trabalho, à habitação, à cultura e outros
elementos essenciais para o bem-estar.
Paralelamente, há o dever de proteção por parte do Estado, que implica na
responsabilidade do Estado em resguardar e promover esses direitos. Este dever não
apenas abrange a proteção contra ações do próprio Estado, mas também contra
ameaças provenientes de terceiros ou de circunstâncias que possam comprometer
o gozo desses direitos por parte dos cidadãos.
Assim, a concepção dos DESC reconhece não apenas a necessidade de garantir aos
indivíduos a capacidade de exigir condições dignas, mas também estabelece um
compromisso ativo do Estado em criar políticas e estruturas que assegurem o
efetivo disfrute desses direitos, promovendo a igualdade social e o bem-estar
coletivo.

Do ponto de vista do conteúdo


DLG
Ao contrário de algumas normas que precisam de regulamentação adicional para
serem aplicadas, as normas que delineiam os DLG são autossuficientes. Elas
contêm, dentro de si, as orientações e disposições necessárias para serem
executadas e aplicadas diretamente, sem a necessidade de legislação ou
regulamentação subsequente.
Essa autossuficiência das normas que estabelecem os DLG reflete a intenção de
conferir aos cidadãos um conjunto de direitos fundamentais que são claros,
acessíveis e prontamente aplicáveis. Ao serem determinados ou determináveis por
via das normas constitucionais, esses direitos são dotados de uma base sólida e
inequívoca, garantindo a sua aplicabilidade imediata.
Portanto, a concepção de que os DLG são determinados ou determináveis por meio
das normas constitucionais e são normas exequíveis por si mesmas destaca a
importância de uma proteção direta e efetiva dos direitos fundamentais,
promovendo a sua aplicação imediata sem depender de legislação adicional. Isso
reforça a centralidade e a autonomia desses direitos na estrutura legal de um Estado
democrático.

DESC
Os Direitos Económicos, Sociais e Culturais (DESC) são, em geral, determinados pelo
legislador ordinário, e essa determinação muitas vezes se traduz em normas
programáticas. Essa característica destaca a natureza específica desses direitos e a
forma como são implementados na legislação.
Quando dizemos que os DESC são "determinados pelo legislador ordinário",
queremos salientar que a definição precisa e a concretização desses direitos
frequentemente ocorrem por meio de leis e regulamentos elaborados pelo poder
legislativo comum, em contraste com os Direitos, Liberdades e Garantias (DLG), que
são frequentemente explicitados diretamente na Constituição.A expressão "normas
programáticas" refere-se ao fato de que as disposições que delineiam os DESC
frequentemente estabelecem diretrizes gerais e objetivos a serem alcançados, em
vez de criar regras detalhadas e específicas. Em outras palavras, essas normas
traçam um programa a ser seguido, indicando as metas a serem atingidas, mas
deixando para a legislação ordinária a tarefa de especificar detalhes e implementar
efetivamente esses direitos.
Essa abordagem reflete a complexidade e a natureza multifacetada dos DESC, que
abrangem áreas como educação, saúde, trabalho e cultura. Ao envolver o legislador
ordinário na sua determinação, busca-se adaptar esses direitos às circunstâncias
específicas e dinâmicas da sociedade, permitindo uma abordagem mais flexível e
ajustada à realidade em constante mudança.

No ponto de visto do regime


A distinção entre Direitos, Liberdades e Garantias (DLG) e Direitos Económicos,
Sociais e Culturais (DESC) no que diz respeito ao regime legal e constitucional é um
elemento importante na compreensão do sistema jurídico. A afirmação de que o DLG
consiste num "regime especial dos DLG" e o DESC consiste num "regime geral dos
Direitos Fundamentais (DF)" pode ser explicada da seguinte forma:
Regime especial dos DLG:
- Os DLG são frequentemente considerados um "regime especial" porque, no
contexto constitucional, eles têm características distintas. São normas
específicas que protegem liberdades individuais, como a liberdade de
expressão, de reunião e de associação, bem como garantias processuais,
como o direito a um julgamento justo. Esses direitos são muitas vezes mais
detalhados e precisos em sua formulação, aparecendo diretamente na
Constituição.
Regime geral dos DF (direitos fundamentais):
- Por outro lado, os DESC são considerados parte do "regime geral dos Direitos
Fundamentais". Este regime abrange uma gama mais ampla de direitos,
incluindo não apenas os DLG, mas também os direitos sociais, económicos e
culturais. Os DESC frequentemente apresentam características mais abertas e
programáticas, indicando objetivos amplos a serem alcançados pelo Estado.
Em resumo, a expressão "regime especial" aplicada aos DLG sugere uma ênfase na
proteção de liberdades individuais específicas, enquanto a designação "regime geral"
atribuída aos DESC destaca uma abordagem mais abrangente, abarcando diversos
aspectos dos direitos fundamentais, incluindo as dimensões sociais e económicas.
Essa diferenciação reflete a diversidade e complexidade dos direitos fundamentais
em um ordenamento jurídico.

A CRP e os Direitos Fundamentais


Na Constituição da República Portuguesa (CRP), os Direitos Fundamentais não são
enumerados de forma exaustiva. Isso significa que a CRP não lista todos os direitos
fundamentais de maneira pormenorizada, mas estabelece princípios e disposições
gerais que fundamentam e garantem esses direitos.
Essa abordagem mais aberta permite uma interpretação dinâmica e evolutiva dos
Direitos Fundamentais, adaptando-se às mudanças sociais e garantindo que a
proteção desses direitos seja eficaz ao longo do tempo.

Na Constituição da República Portuguesa (CRP), os Direitos Fundamentais não estão


limitados a uma única parte ou secção, mas estão dispersos por vários lugares,
destacando a sua abrangência e importância em diferentes contextos
constitucionais. Aqui estão alguns pontos relevantes:
● Preâmbulo: O Preâmbulo da CRP também contém princípios fundamentais
que orientam a interpretação e aplicação da Constituição. Embora não seja
uma fonte direta de direitos fundamentais, fornece a base ideológica para a
proteção da dignidade da pessoa humana e outros valores fundamentais.
● Partes II, III e IV: Os princípios e normas das Partes II, III e IV da CRP, que
abordam a organização do Estado, as liberdades e os direitos, bem como os
deveres fundamentais, contêm disposições relacionadas aos Direitos
Fundamentais. Estas partes articulam diversos aspetos dos direitos
fundamentais, incluindo direitos políticos, liberdades individuais e direitos
sociais.
● Artigo 16.º, n.º 1: Este artigo contém uma norma aberta que não exclui outros
Direitos Fundamentais que possam ser estabelecidos por lei ou pelo Direito
Internacional. Isso significa que a lista de direitos fundamentais não é
exaustiva, deixando espaço para a inclusão de outros direitos ao longo do
tempo, seja por legislação nacional ou normas internacionais.
● Artigo 16.º, n.º 2: Este artigo estabelece que os Direitos Fundamentais devem
ser interpretados e integrados à luz da Declaração Universal dos Direitos do
Homem (DUDH). Isso destaca a importância da dimensão internacional na
interpretação e aplicação dos direitos fundamentais em Portugal.

É correto observar que a presença e a consagração dos Direitos Fundamentais na


Constituição da República Portuguesa (CRP) não se limitam apenas à Parte I, onde
está formalmente intitulada como "Direitos e Deveres Fundamentais." Outras partes
da CRP também contêm disposições que reconhecem e protegem direitos
fundamentais. Aqui estão alguns exemplos:
● Artigo 7.º, n.º 1: Este artigo impõe à República Portuguesa o dever de
respeitar os direitos do homem nas relações internacionais. Essa disposição
reflete o compromisso do Estado português em promover e proteger os
direitos fundamentais não apenas no âmbito interno, mas também no
contexto das suas relações com outros Estados e organizações
internacionais.
● Artigo 26.º, n.º 1: O direito ao livre desenvolvimento da personalidade é
consagrado neste artigo. Esse direito é fundamental para garantir a
autonomia e a liberdade individuais, abrangendo várias dimensões da vida
pessoal, como escolhas pessoais, identidade e auto expressão.
● Artigo 32.º, n.º 1: Este artigo reconhece os direitos de defesa do arguido no
âmbito do processo criminal. Garante a presunção de inocência, o direito a
um julgamento justo e outras garantias processuais que protegem os
indivíduos envolvidos em processos judiciais.
● Artigo 48.º: O direito de participação política é estabelecido neste artigo. Ele
abrange a participação dos cidadãos nas eleições, referendos e em outros
processos democráticos, destacando a importância da voz e da influência dos
cidadãos nas decisões políticas.

DF formalmente constitucionais vs DF materialmente constitucionais


A distinção entre Direitos Fundamentais formalmente constitucionais e
materialmente constitucionais é uma perspectiva útil para compreender as
diferentes fontes e naturezas desses direitos na Constituição da República
Portuguesa (CRP).
Direitos Formalmente Constitucionais: Esses direitos são enunciados diretamente
na Constituição, ou seja, estão expressamente contidos no texto constitucional,
conferindo-lhes um valor e status constitucional formal. Por exemplo, muitos dos
direitos e liberdades individuais constantes na Parte I da CRP, como a liberdade de
expressão (Artigo 37.º) ou o direito à integridade pessoal (Artigo 25.º), são
considerados formalmente constitucionais.
● São aqueles enunciados diretamente no catálogo da Parte I da CRP,
que compreende os artigos 12.º a 79.º.
● Incluem também outros direitos que são designados como "Direitos
Fundamentais", como, por exemplo, os direitos e garantias dos
administrados, conforme estabelecido no artigo 268.º.
● Abrangem ainda os direitos consignados noutras normas da
Constituição formal, o que inclui tanto a Constituição Instrumental (que
regula a revisão constitucional e outros aspetos formais) quanto a
Declaração Universal dos Direitos do Homem (DUDH), a qual é
expressamente mencionada no artigo 16.º.

Direitos Materialmente Constitucionais: Estes direitos não estão expressamente


enunciados na Constituição, mas são reconhecidos como Direitos Fundamentais
com base em outras fontes, como leis ordinárias ou regras do direito internacional.
O artigo 16.º da CRP estabelece que os Direitos Fundamentais podem derivar de
fontes além do próprio texto constitucional, admitindo, assim, a existência de
direitos materialmente constitucionais. A Declaração Universal dos Direitos do
Homem (DUDH) é frequentemente citada como uma fonte relevante para a
fundamentação desses direitos.
“Equiparáveis, pelo seu objeto e importância aos direitos formalmente
constitucionais e, por isso, com dignidade suficiente para serem considerados
fundamentais" (Canotilho, 2017, p. 404).
Os Direitos Fundamentais materialmente constitucionais são reconhecidos com
base em fontes além do texto constitucional, como leis ordinárias ou regras de
direito internacional. Ao contrário dos Direitos Formamente Constitucionais, esses
direitos não gozam das garantias específicas associadas às normas formalmente
constitucionais.
A rigidez da revisão constitucional e a fiscalização da constitucionalidade são
características que conferem um status especial às normas formalmente
constitucionais. A revisão constitucional requer um procedimento mais complexo,
garantindo uma proteção mais robusta contra alterações arbitrárias na Constituição.
Além disso, as normas formalmente constitucionais estão sujeitas à fiscalização da
constitucionalidade por parte do Tribunal Constitucional, que avalia a conformidade
dessas normas com os princípios fundamentais da Constituição.
Já os Direitos Fundamentais materialmente constitucionais, por não estarem
diretamente enunciados na Parte I da CRP, não desfrutam dessas garantias
específicas. No entanto, sua proteção é assegurada pelo reconhecimento da
Constituição de que esses direitos podem derivar de fontes externas, como
legislação ordinária ou tratados internacionais.
Essa distinção reflete a flexibilidade da CRP em adaptar-se às mudanças sociais e à
evolução do direito, garantindo, ao mesmo tempo, uma proteção sólida aos direitos
formalmente constitucionais, que ocupam uma posição privilegiada no ordenamento
jurídico português.

Os artigos 16.º e 17.º da Constituição da República Portuguesa (CRP) são relevantes


para a compreensão da abrangência dos Direitos Fundamentais e sua relação com
outros princípios fundamentais. Vamos explorar brevemente cada um deles:
● Artigo 16.º - Norma Aberta (Princípio da não tipicidade dos DF): Este artigo
estabelece uma norma aberta, o que significa que a lista de Direitos
Fundamentais não é exaustiva. Ele reconhece que os Direitos Fundamentais
podem derivar não apenas dos enunciados expressos na Constituição, mas
também de outras fontes, como a Declaração Universal dos Direitos do
Homem (DUDH) e leis ordinárias. Isso reflete o Princípio da não tipicidade dos
Direitos Fundamentais, indicando que a proteção desses direitos não está
rigidamente definida e pode evoluir ao longo do tempo.
● Artigo 17.º - Direitos de Natureza Análoga aos DLG: Este artigo reconhece a
existência de direitos de natureza análoga aos Direitos, Liberdades e
Garantias (DLG). Embora não sejam expressamente mencionados como DLG,
esses direitos compartilham características semelhantes. Isso amplia a
proteção dos Direitos Fundamentais para além do catálogo específico dos
DLG, destacando a abrangência e a adaptação do sistema constitucional aos
desafios contemporâneos.

direitos de natureza análoga


Os direitos de natureza análoga aos Direitos, Liberdades e Garantias (DLG)
representam uma categoria especial que, embora não estejam expressamente
listados no catálogo dos DLG, usufruem de um regime jurídico idêntico. Esses
direitos podem ser encontrados em diferentes partes da Constituição da República
Portuguesa (CRP) e não estão restritos a uma única secção ou título específico.
Essa categoria especial destaca a flexibilidade do sistema jurídico português para
reconhecer e proteger direitos fundamentais que compartilham características
semelhantes aos DLG, mesmo que não estejam explicitamente incluídos no catálogo
da Parte I da CRP. O facto de esses direitos serem regidos por um regime idêntico
aos DLG implica que gozam das mesmas garantias e proteções constitucionais.
Esses direitos de natureza análoga podem assumir diferentes formas e estar
dispersos ao longo do texto constitucional. Alguns podem ser considerados Direitos
Económicos, Sociais e Culturais (DESC) e, portanto, estar enquadrados no Título II da
CRP, enquanto outros podem ser integrados entre os demais Direitos Fundamentais
constantes na Constituição.
Essa abordagem reflete a compreensão de que a proteção dos direitos fundamentais
não está rigidamente vinculada a categorias estanques, mas é orientada pelos
princípios fundamentais que subjazem aos DLG. Esses princípios incluem a
dignidade da pessoa humana, a igualdade, a liberdade e a justiça, que transcendem
fronteiras específicas e podem ser reconhecidos em várias disposições
constitucionais, independentemente da sua classificação formal. Essa flexibilidade
permite uma adaptação contínua do sistema jurídico às necessidades e valores em
evolução na sociedade.

Princípio da não tipicidade – art. 16


O Princípio da não tipicidade, expresso no artigo 16.º da Constituição da República
Portuguesa (CRP), é fundamental para compreender a flexibilidade do sistema
jurídico português em relação aos Direitos Fundamentais. Esse princípio estabelece
que a lista de Direitos Fundamentais não é exaustiva, permitindo a emergência de
novos direitos que sejam essenciais para responder às mudanças sociais, valores e
necessidades da sociedade.
O surgimento de novos Direitos, Liberdades e Garantias (DLG) e Direitos Económicos,
Sociais e Culturais (DESC) está muitas vezes associado à evolução do Estado Social
de Direito. À medida que a sociedade se desenvolve e crescem os valores como a
solidariedade, a promoção do indivíduo e a consciência da necessidade de corrigir
desigualdades, novas demandas e aspirações emergem.
Esse crescimento de valores pode resultar na criação de novos Direitos
Fundamentais ou na expansão dos existentes para abranger situações e contextos
anteriormente não contemplados. Por exemplo, direitos relacionados à proteção do
ambiente, à privacidade digital ou à igualdade de género podem ser vistos como
reflexo desse processo dinâmico.
A flexibilidade do Princípio da não tipicidade reconhece a necessidade de uma
Constituição viva e adaptável, capaz de acompanhar as transformações sociais.
Esse dinamismo é crucial para garantir que os Direitos Fundamentais permaneçam
eficazes e relevantes ao longo do tempo, assegurando a sua aplicação em face dos
desafios contemporâneos e das aspirações em evolução da sociedade.
Exemplo: o art. 74o, no 2, a) impõe ao Estado assegurar o ensino básico universal,
obrigatório e gratuito. Ao longo da vigência da CRP, a duração do ensino básico tem
sido alargada, possivelmente em resposta a mudanças nas exigências educacionais
e na sociedade. Esse alargamento demonstra como o sistema educacional pode ser
ajustado para melhor atender às necessidades dos estudantes e ao progresso
pedagógico. O exemplo sugere que o alargamento da obrigatoriedade ao ensino
secundário ou ao pré-escolar não é considerado inconstitucional. Isso ressalta a
flexibilidade do sistema jurídico para responder às necessidades educacionais em
constante evolução. A adaptação da obrigatoriedade a outros níveis de ensino é
vista como uma medida que está em conformidade com os princípios fundamentais
da CRP, incluindo o direito à educação.
Essa evolução é coerente com o Princípio da não tipicidade, permitindo que os
Direitos Fundamentais, como o direito à educação, se desenvolvam para melhor
atender às aspirações e exigências da sociedade ao longo do tempo, sem a
necessidade de uma revisão constitucional específica para cada mudança. Essa
flexibilidade é essencial para garantir que a Constituição permaneça relevante e
eficaz na promoção dos direitos fundamentais em diferentes contextos.

Funções dos Direitos Fundamentais


Os Direitos Fundamentais desempenham várias funções fundamentais no
ordenamento jurídico, garantindo proteção, igualdade e participação cidadã.
● Proteção do Indivíduo face ao Estado: Uma das funções primordiais dos
Direitos Fundamentais é proteger os indivíduos contra possíveis excessos de
poder por parte do Estado. Eles estabelecem limites e garantias que impedem
a violação arbitrária dos direitos e liberdades individuais pelo poder estatal.
Isso assegura a preservação da dignidade, liberdade e integridade das
pessoas.
● Não Discriminação: Os Direitos Fundamentais também desempenham um
papel crucial na promoção da igualdade e na prevenção da discriminação.
Eles estabelecem o princípio da igualdade perante a lei, proibindo
discriminações injustas com base em características como raça, género,
religião, entre outras. Dessa forma, contribuem para a construção de
sociedades mais justas e inclusivas.
● Prestação Social: Alguns Direitos Fundamentais têm uma dimensão
prestacional, o que significa que não apenas protegem contra interferências,
mas também garantem prestações positivas por parte do Estado. Isso inclui
direitos sociais, económicos e culturais, como o direito à educação, à saúde e
à segurança social. Esses direitos visam assegurar condições de vida dignas
para todos os membros da sociedade.
● Proteção em Relação a Terceiros: Além da proteção face ao Estado, os
Direitos Fundamentais podem também proteger os indivíduos em relação a
ações de terceiros. Por exemplo, direitos à liberdade de expressão, à
privacidade e à propriedade têm o propósito de salvaguardar os cidadãos não
apenas contra a intervenção estatal, mas também contra violações por parte
de outros indivíduos ou entidades.
Essas funções destacam a importância dos Direitos Fundamentais na construção de
sociedades justas, livres e respeitosas dos direitos humanos. Ao desempenhar
esses papéis, os Direitos Fundamentais contribuem para a proteção dos indivíduos, a
promoção da igualdade e o fortalecimento do Estado de Direito.

função da Defesa
A função de defesa dos Direitos Fundamentais, possui dois sentidos distintos: o
negativo e o positivo. Vamos explorar cada um desses sentidos
● Sentido Negativo - Proibição de Ingerência: Neste sentido, a função de
defesa atua de maneira negativa, proibindo a ingerência ou intervenção
injustificada dos poderes públicos na esfera jurídica individual dos
particulares. Isso significa que os Direitos Fundamentais estabelecem limites
à ação do Estado, protegendo os cidadãos contra interferências arbitrárias ou
injustificadas em seus direitos e liberdades individuais. Essa dimensão
negativa enfatiza a autonomia e a liberdade dos indivíduos, impedindo ações
estatais que possam violar seus direitos fundamentais.
● Sentido Positivo - Poder de Exigir Omissões: No sentido positivo, a função de
defesa envolve o poder de exigir omissões por parte dos poderes públicos
para evitar agressões ou violações desses direitos. Isso significa que, além de
proibir a interferência prejudicial, os Direitos Fundamentais conferem aos
indivíduos o direito de demandar ações do Estado para prevenir ou corrigir
situações que possam ameaçar seus direitos fundamentais. Isso inclui a
obrigação do Estado de adotar medidas preventivas e corretivas para garantir
a efetiva proteção dos Direitos Fundamentais.
exemplo: Art. 37 CRP , no sentido negativo, o primeiro parágrafo assegura o direito
das pessoas à informação sobre atos que as afetem, praticados pelos poderes
públicos. Ele proíbe a ingerência excessiva e não justificada do Estado na esfera
jurídica individual dos cidadãos, garantindo transparência e acesso à informação
sobre atos administrativos que possam impactar diretamente os indivíduos.
No sentido positivo, o segundo parágrafo estabelece que a lei pode definir casos e
condições em que o acesso a documentos administrativos e informações
nominativas relativas a terceiros é vedado. Aqui, a função de defesa também opera
no sentido positivo, concedendo ao Estado o poder de adotar medidas para proteger
informações sensíveis e garantir a privacidade de terceiros, evitando potenciais
agressões ou violações de direitos.
Este exemplo demonstra como o Princípio da Legalidade, presente no artigo 37.º,
equilibra a proteção dos indivíduos contra a ingerência estatal injustificada (sentido
negativo) com a necessidade de omissões por parte do Estado para salvaguardar
outros direitos, como a privacidade (sentido positivo)

Regime dos Direitos Fundamentais


O regime dos Direitos Fundamentais compreende diferentes categorias que refletem
as características e garantias específicas associadas a cada tipo de direito.
● Regime Comum a Todos os Direitos Fundamentais (DF): Este é o conjunto de
princípios e normas que se aplicam a todos os Direitos Fundamentais,
independentemente da sua natureza. Inclui, por exemplo, a garantia de
igualdade perante a lei, a proibição de discriminação, a proteção da dignidade
da pessoa humana e a possibilidade de recurso jurisdicional para defesa dos
direitos fundamentais.
- este consagra em si vários princípios:
1. universalidade (art 12)
2. igualdade (art 13)
3. proporcionalidade (art 2,18 nº2,19 nº 4 e 8, 30 nº5, 50 nº3, 65
nº4, 266 nº2, 270 e 272)
4. eficácia jurídica (art 18 nº1)
5. responsabilidade civil (art 22 e 269 nº1)
● Regime Específico dos Direitos, Liberdades e Garantias (DLG): Os Direitos,
Liberdades e Garantias (DLG) têm um regime específico que inclui
características como a irrenunciabilidade, a impossibilidade de suspensão em
estado de sítio ou de emergência, e a garantia de habeas corpus. Este regime
visa conferir uma proteção reforçada aos direitos individuais e às liberdades
fundamentais.
- este consagra em si vários princípios:
1. reserva da lei (art 18 nº2 e 3)
2. carácter restritivo das restrições (art 18 nº2 e 3)
3. carácter excepcional da suspensão (art 19)
4. afetação individual (art 27 nº2 e 3 e 36 nº6)
5. autotutela (art 21 e 103 nº3)
6. responsabilidade criminal
● Regime Específico dos Direitos Económicos, Sociais e Culturais (DESC): Os
Direitos Económicos, Sociais e Culturais (DESC) possuem um regime
específico que abrange, por exemplo, a obrigatoriedade progressiva da sua
concretização, a garantia da segurança no emprego e o acesso à cultura e à
educação. Este regime reconhece a natureza prestacional desses direitos,
exigindo uma atuação progressiva do Estado na sua concretização.
Essa divisão em regimes específicos destaca a diversidade de características e
necessidades associadas aos diferentes tipos de Direitos Fundamentais. Enquanto
os DLG enfatizam a proteção das liberdades individuais, os DESC reconhecem a
importância de assegurar condições de vida dignas e a realização de direitos sociais
e económicos. O regime comum, por sua vez, estabelece os princípios fundamentais
que permeiam todo o sistema de Direitos Fundamentais. Essa abordagem
equilibrada reflete a complexidade e a abrangência do regime dos Direitos
Fundamentais na Constituição da República Portuguesa.
Em nenhum momento se trata de regimes excludentes, mas sim de regimes que se
completam. O regime especial dos DLG não exclui o regime geral dos DF mas
acrescenta-se-lhe

Princípios específicos dos DESC


Os Direitos Económicos, Sociais e Culturais (DESC) são regidos por princípios
específicos que refletem a natureza prestacional e a complexidade associada a
esses direitos. Vamos analisar os princípios mencionados:
● Iniciativa Social e Democracia Participativa: Os DESC reconhecem a
importância da iniciativa social e da democracia participativa na sua
efetivação. Isso significa que, além da atuação estatal, a sociedade civil e os
próprios titulares desses direitos desempenham um papel ativo na promoção
e realização dos DESC. A participação democrática é vista como um meio
para garantir que as políticas relacionadas a esses direitos reflitam as
necessidades reais da população.
● Relativa Relevância das Condições Económicas dos Titulares: Os DESC
reconhecem que as condições económicas dos titulares desses direitos têm
uma relevância significativa. A garantia de condições de vida dignas está
intrinsecamente ligada à capacidade económica dos indivíduos. Assim, a
realização efetiva dos DESC leva em consideração a necessidade de
promover uma distribuição mais equitativa dos recursos económicos, de
forma a assegurar que todos tenham acesso a condições de vida dignas.
● Dependência da Realidade Constitucional: A efetivação dos DESC está
diretamente vinculada à realidade constitucional específica de cada país. Isso
significa que a concretização desses direitos deve levar em conta as
circunstâncias económicas, sociais e culturais de cada nação. A dependência
da realidade constitucional reconhece que as estratégias para a realização
dos DESC podem variar de acordo com o contexto nacional.
● Exigência de Efetivação Pública: A efetivação pública refere-se à
responsabilidade do Estado na implementação de políticas e medidas que
garantam a realização prática dos DESC. Este princípio destaca a obrigação
estatal de adotar medidas efetivas, legislativas e administrativas para
assegurar que os direitos económicos, sociais e culturais sejam
concretizados na prática, proporcionando às pessoas condições dignas de
vida.
Em resumo, os princípios específicos dos DESC enfatizam a necessidade de uma
abordagem abrangente, participativa e adaptada à realidade de cada país para
garantir a efetivação desses direitos. Eles reconhecem a interdependência dos
fatores económicos, sociais e culturais na realização desses direitos e destacam a
importância da atuação conjunta do Estado, da sociedade civil e dos próprios
titulares para alcançar esse objetivo.

Princípio da universalidade
O regime geral dos Direitos Fundamentais (DF) é baseado no princípio da
universalidade, conforme estabelecido no artigo 12.º da Constituição da República
Portuguesa (CRP). Esse princípio expressa a ideia fundamental de que todos os
cidadãos possuem, em igual medida, os direitos e deveres consagrados na
Constituição.
O artigo 12.º proclama de forma clara e abrangente que "todos os cidadãos gozam
dos direitos e estão sujeitos aos deveres consignados na Constituição". Esse
enunciado ressalta a universalidade dos Direitos Fundamentais, afirmando que esses
direitos são inerentes a todas as pessoas que compõem a comunidade política,
independentemente de características como origem, género, religião ou estatuto
social.
Esse princípio da universalidade reflete a visão de que a proteção e promoção dos
Direitos Fundamentais são essenciais para a construção de uma sociedade justa e
democrática. Ele assegura que nenhum cidadão seja excluído do alcance desses
direitos, enfatizando a igualdade perante a lei e a dignidade intrínseca de cada
indivíduo.
Além disso, ao mencionar a sujeição aos deveres consignados na Constituição, o
artigo 12.º destaca a reciprocidade entre direitos e deveres. Os cidadãos não apenas
gozam dos benefícios dos Direitos Fundamentais, mas também assumem
responsabilidades para com a comunidade e o Estado.
Em suma, o regime geral dos Direitos Fundamentais, ancorado no princípio da
universalidade, reafirma o compromisso de garantir a todos os cidadãos o pleno
exercício de seus direitos, contribuindo para a construção de uma sociedade
baseada na justiça, igualdade e respeito pelos direitos humanos.
Este principio não está consagrado apenas no artigo 12 mas também no 13 nº1, 71
nº1, 20 nº1, 27 nº1, 44 nº1, 10 nº1 e 288 h), 64 nº2 e 74 nº2 a)

O princípio da universalidade dos Direitos Fundamentais estabelece que esses


direitos são aplicáveis a todos, sem discriminação, garantindo a sua extensão a
diferentes grupos de pessoas. No contexto da Constituição da República Portuguesa
(CRP), esse princípio é expresso no sentido de abranger:
● Aos Portugueses em Portugal: Este aspecto destaca que os Direitos
Fundamentais são conferidos a todos os cidadãos portugueses que se
encontram no território nacional. Independentemente de origem, género,
religião ou outra característica, todos os portugueses têm o direito de usufruir
dos direitos consagrados na Constituição enquanto estiverem em Portugal.
● Aos Portugueses no Estrangeiro: Este aspecto reconhece que os Direitos
Fundamentais estendem-se também aos cidadãos portugueses que se
encontram fora do território nacional. Aos portugueses residentes ou
temporariamente no estrangeiro são garantidos esses direitos,
permitindo-lhes manter uma ligação às proteções fundamentais
estabelecidas pela Constituição, mesmo quando estão fora de Portugal.
● Aos Estrangeiros em Portugal: Este aspeto do princípio da universalidade
sublinha que os Direitos Fundamentais não são exclusivos dos cidadãos
nacionais. Os estrangeiros que se encontrem em território português também
têm direito à proteção dos Direitos Fundamentais, independentemente da sua
nacionalidade ou estatuto migratório. Isso reflete o compromisso de Portugal
em assegurar a dignidade e os direitos humanos de todas as pessoas
presentes no seu território.
Assim, o princípio da universalidade destaca a aplicação abrangente e inclusiva dos
Direitos Fundamentais, garantindo a proteção desses direitos a todos os cidadãos
portugueses, independentemente da sua localização, e aos estrangeiros que se
encontrem em território português. Este princípio reforça a ideia fundamental de que
os direitos humanos são inalienáveis e aplicáveis a todos, contribuindo para a
construção de uma sociedade baseada na igualdade e no respeito pelos direitos
fundamentais.

Derrogação?
A derrogação refere-se à possibilidade de suspender ou restringir temporariamente
certos direitos ou garantias estabelecidos na legislação, geralmente em situações de
emergência ou em circunstâncias excecionais. Este procedimento é muitas vezes
regulamentado por disposições legais específicas e deve respeitar os princípios
fundamentais, mesmo quando temporariamente limita certos direitos.
Em algumas circunstâncias, alguns direitos podem não ser aplicáveis a todas as
pessoas, mas apenas a determinados grupos ou em condições específicas. Essa
diferenciação pode ser justificada por diferentes razões, como a proteção de
interesses particulares, a promoção de políticas públicas específicas ou a gestão de
situações específicas.
É importante notar que a derrogação ou restrição de direitos deve ser estritamente
necessária, proporcional à situação e temporária. Além disso, as limitações devem
ser consistentes com os princípios fundamentais e os valores constitucionais.
É comum que, mesmo em situações excecionais que justifiquem a derrogação,
certos direitos fundamentais sejam considerados invioláveis e não sujeitos a
restrições. Em muitos sistemas jurídicos, mesmo durante estados de emergência,
certos direitos, como o direito à vida e à integridade física, podem não ser passíveis
de derrogação.
Portanto, embora a derrogação possa permitir a suspensão temporária de alguns
direitos em circunstâncias específicas, ela está sujeita a limites legais e
constitucionais para garantir a proteção dos princípios fundamentais e a
manutenção do Estado de Direito.
O princípio da universalidade implica que os direitos dentro de cada categoria são
atribuídos a todos os que pertencem a essa categoria. Tomando como exemplo os
direitos dos trabalhadores, conforme estabelecido no artigo 59.º, a intenção é
garantir que todos os trabalhadores, sem distinção, tenham acesso e se beneficiem
desses direitos.

Princípio da igualdade
O princípio da igualdade é um elemento fundamental do regime geral dos Direitos
Fundamentais, desempenhando um papel central no constitucionalismo moderno.
A sua expressão mais conhecida está presente na Declaração dos Direitos do
Homem e do Cidadão de 1789, que proclama: "Les hommes naissent et demeurent
libres et égaux en droits" ("Os homens nascem e permanecem livres e iguais em
direitos").
Esse princípio é um dos pilares do constitucionalismo, que procura garantir
tratamento justo e imparcial a todas as pessoas, independentemente de
características como origem, género, raça, religião ou posição social. A ideia
subjacente é que todos os indivíduos devem desfrutar dos mesmos direitos
fundamentais e serem tratados com igualdade perante a lei.
No contexto da Constituição da República Portuguesa (CRP), o princípio da
igualdade está consagrado em vários artigos, destacando-se o artigo 13.º, que
estabelece que "todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais
perante a lei." Este princípio permeia todo o ordenamento jurídico, orientando a
interpretação e a aplicação das normas legais.
A igualdade perante a lei não implica a uniformidade absoluta, reconhecendo-se a
existência de situações diferentes que podem justificar tratamentos distintos.
Tratar de modo igual o que é juridicamente igual e tratar de modo diferente
o que é juridicamente diferente
Versão originária não continha menção à igualdade entre homens e mulheres então
a evolução da realidade constitucional demonstrou que a menção expressa na CRP
era necessária, Alterou-se o artigo 9 no sentido de passar a constar, como tarefa do
Estado, a promoção da igualdade (real) entre homens e mulheres, em particular no
acesso a cargos políticos
Igualdade significa justiça!

vertente positiva vs negativa do princípio da igualdade


O princípio da igualdade possui duas vertentes distintas: a vertente positiva e a
vertente negativa. Vamos explorar cada uma dessas vertentes:
● Vertente Positiva: Na vertente positiva, o princípio da igualdade refere-se ao
tratamento igual e proporcional das situações, considerando tanto a realidade
existente quanto a aspiração constitucional. Isso significa que, ao aplicar o
princípio da igualdade, o legislador e as autoridades devem considerar não
apenas como as situações são na prática, mas também como deveriam ser à
luz dos valores e objetivos expressos na Constituição. Isso implica uma
abordagem ativa na promoção da igualdade, buscando corrigir desigualdades
e promover a justiça social.
● Vertente Negativa: Na vertente negativa, o princípio da igualdade envolve a
proibição de privilégios e discriminações. Isso significa que ninguém deve ser
tratado de maneira privilegiada ou discriminada injustamente com base em
características como origem, género, raça, religião, entre outras. A vertente
negativa busca assegurar que a lei e as políticas públicas não concedam
favores indevidos a certos grupos em detrimento de outros, e que não haja
discriminação injustificada em qualquer esfera da sociedade.
Essas duas vertentes do princípio da igualdade trabalham em conjunto para garantir
que a igualdade seja promovida ativamente, corrigindo desigualdades existentes, ao
mesmo tempo que impede a criação de privilégios injustificados ou tratamento
discriminatório.
No contexto da Constituição da República Portuguesa (CRP) e de outros
ordenamentos jurídicos, essas vertentes do princípio da igualdade orientam a
formulação e a interpretação das leis, assegurando que a igualdade seja uma
realidade efetiva na sociedade, com respeito aos direitos fundamentais de todos os
cidadãos.

Embora não conste do elenco dos limites materiais de revisão do artigo 288, Tem
que ser considerado como limite material implícito da revisão constitucional
A inclusão do princípio da igualdade como um limite material implícito significa que,
mesmo que não seja mencionado de forma explícita no texto constitucional, é
considerado fundamental para a estrutura e coerência do sistema constitucional.
Isso reflete a compreensão de que a igualdade é um valor intrínseco ao Estado de
Direito e à proteção dos direitos fundamentais.
A consideração desse princípio como um limite material implícito implica que
qualquer revisão constitucional que comprometa substancialmente a igualdade
perante a lei, seja por meio da criação de discriminações injustificadas ou pela
concessão de privilégios indevidos, seria incompatível com a essência da
Constituição e, portanto, não seria permitida.

Discriminação positiva
A discriminação positiva, também conhecida como ação afirmativa ou medidas
afirmativas, refere-se a políticas ou ações implementadas com o objetivo de corrigir
ou atenuar desigualdades de facto entre grupos específicos. Ao contrário da
discriminação negativa, que envolve tratamento injusto ou desigual, a discriminação
positiva procura promover a igualdade e superar desvantagens históricas ou sociais.
exemplos na CRP: art 59 nº2 c), 68 nº3 e 4, 67 nº2 f), 69nº2, 71 nº2, 100 d) e 97 nº1

Regime específico dos DLG


O regime específico dos Direitos, Liberdades e Garantias (DLG) destaca-se por certas
características distintivas que moldam a sua aplicação e eficácia.
● Aplicação Imediata: Os DLG possuem aplicação imediata, o que significa que
podem ser invocados e exercidos sem a necessidade de mediação legislativa.
Essa característica confere aos indivíduos a capacidade de acionar e usufruir
desses direitos sem demora, garantindo uma proteção rápida e eficaz. (artigo
18, 1º parte) “Os preceitos constitucionais respeitantes aos direitos, liberdades
e garantias são diretamente aplicáveis...”
● Vinculação das Entidades Privadas: Além de vincular o Estado e as entidades
públicas, os DLG também podem impor obrigações às entidades privadas,
especialmente quando estas exercem funções de natureza pública ou
prestam serviços de interesse coletivo. Isso visa assegurar que os direitos
fundamentais não sejam violados em contextos privados, quando há uma
relação especial com o interesse público.
Alguns exemplos na CRP: art 26 nº2, 52 nº3, 53, 60 nº1 etc..
● Princípio da Proporcionalidade: A aplicação dos DLG deve respeitar o
princípio da proporcionalidade. Isso significa que as restrições ou limitações a
esses direitos devem ser proporcionais ao objetivo legítimo que se pretende
alcançar. O Estado ou outras entidades só podem interferir nos DLG na
medida necessária para atingir um fim legítimo. A CRP Portuguesa foi das que
mais afirmou a proporcionalidade como instrumento limitador do poder e do
Estado. (Arts. 18o, no 2, 19o, no 4, 272o,no 1 e 266o, no 2 CRP
● Preservação do Conteúdo Essencial: As restrições ou limitações impostas
aos DLG não podem comprometer o seu conteúdo essencial. Mesmo quando
há necessidade de regulação ou intervenção estatal, o núcleo fundamental
desses direitos deve ser preservado. Podem ser restringidos, cumpridos os
pressupostos constitucionais de que depende essa restrição mas não ao
ponto de ferir o seu conteúdo essencial

● Limitação Recíproca: Os DLG podem colidir entre si, e em certas situações,


pode ser necessário equilibrar diferentes direitos para resolver conflitos. Essa
limitação recíproca requer uma ponderação cuidadosa para garantir uma
solução equitativa em casos de choque entre direitos fundamentais.
Nem a CRP ou a DUDH contêm qualquer regra de solução de conflitos entre
DF.
Essa limitação recíproca pode ser gerida através de alguns princípios e
abordagens, incluindo:
● Harmonização segundo os critérios da proporcionalidade: Ao lidar
com a colisão de direitos, é essencial aplicar o princípio da
proporcionalidade. Isso implica avaliar se as restrições ou limitações
impostas a um direito são proporcionais ao objetivo legítimo que se
pretende atingir. Busca-se encontrar um equilíbrio justo que não
comprometa desnecessariamente nenhum dos direitos em conflito.
● Distinguir entre princípios e regras: A doutrina e jurisprudência muitas
vezes fazem distinção entre normas constitucionais que têm a
natureza de princípios e de regras. Princípios gerais, por exemplo,
podem ser mais flexíveis e sujeitos a ponderação em situações de
conflito, enquanto regras podem ser aplicadas de forma mais rígida.
Essa distinção auxilia na abordagem dos conflitos de direitos.
● Esgotar as capacidades de harmonização dos princípios: Antes de
adotar medidas que restrinjam um direito, é importante esgotar as
possibilidades de harmonização entre os princípios em conflito. Isso
envolve buscar soluções que permitam a coexistência pacífica dos
direitos envolvidos, sempre que possível.
● Operação de concordância prática de acordo com as circunstâncias do
caso: A concordância prática é uma abordagem que procura evitar a
exclusão total de um direito em favor de outro, buscando soluções
específicas para cada situação. Essa operação envolve uma análise
minuciosa das circunstâncias do caso para determinar a melhor forma
de equilibrar os direitos envolvidos.

Tutela dos DF
A tutela dos Direitos Fundamentais (DF) em um Estado de Direito, como previsto na
Constituição da República Portuguesa (CRP), é assegurada por meio de diversos
mecanismos, tanto jurisdicionais quanto não jurisdicionais.
● Meios de Defesa Jurisdicionais (Artigo 20º CRP): O artigo 20º da CRP
consagra os meios de defesa jurisdicionais como um direito fundamental.
Este artigo estabelece o direito à proteção jurídica através dos tribunais. Isso
significa que qualquer lesão ou ameaça a direitos deve ser passível de ser
levada a tribunal para análise e decisão. Os tribunais desempenham um papel
fundamental na proteção e garantia dos DF, assegurando o acesso à justiça e
a aplicação das normas constitucionais.
A CRP, no entanto, deixa à lei ordinária a definição do tribunal competente e da
forma do processo. Ou seja, cabe à legislação infraconstitucional determinar
os detalhes específicos sobre qual tribunal será responsável por tratar
determinadas questões e como os processos judiciais devem ser conduzidos.
● Meios de Defesa Não Jurisdicionais (Garantias Administrativas): Além dos
meios jurisdicionais, existem meios de defesa não jurisdicionais, muitas vezes
referidos como garantias administrativas. Estes meios incluem ações e
procedimentos administrativos que visam assegurar o respeito pelos DF no
âmbito da atuação do poder público. Exemplos incluem reclamações,
recursos administrativos e outras formas de diálogo entre o cidadão e as
entidades administrativas.
As garantias administrativas são uma parte importante do sistema de
proteção dos DF, permitindo a resolução de questões antes de ser necessário
recorrer aos tribunais. No entanto, caso essas vias administrativas não se
revelem eficazes, a parte interessada ainda pode recorrer aos meios de
defesa jurisdicionais.

Direito ao processo equitativo


O direito ao processo equitativo é um princípio fundamental do sistema jurídico que
assegura que todos os indivíduos tenham acesso a um julgamento justo e imparcial,
livre de qualquer forma de arbitrariedade. Este princípio é frequentemente referido
em documentos legais, incluindo tratados internacionais de direitos humanos e
constituições de diversos países.
O direito ao processo equitativo é consagrado em várias convenções e declarações
de direitos humanos, como no artigo 6 da Convenção Europeia dos Direitos do
Homem e no artigo 10 da Declaração Universal dos Direitos Humanos. É uma peça
fundamental na proteção dos direitos individuais e na garantia de que o sistema
judicial opere de maneira justa e imparcial.

Garantias
As garantias são elementos essenciais presentes em diversos ramos do Direito,
proporcionando meios para evitar ou sancionar violações do direito objetivo, ofensas
aos direitos subjetivos ou interesses legítimos dos particulares, bem como para
avaliar a atuação da Administração Pública. Essas garantias podem assumir
diversas formas, atuando de maneiras distintas para proteger os diversos aspectos
do ordenamento jurídico. Vamos explorar algumas categorias comuns de garantias:
● Preventivas: Garantias preventivas referem-se a meios que buscam evitar a
ocorrência de violações ou ofensas aos direitos antes que ocorram. Exemplos
incluem a criação de normas claras e procedimentos adequados para orientar
a conduta das partes envolvidas.
● Reparadoras: Garantias reparadoras são aquelas que visam corrigir ou
compensar violações ou ofensas aos direitos ou interesses legítimos das
partes. Isso pode incluir ações judiciais para obter reparação por danos ou a
aplicação de medidas corretivas.
● Dos Particulares: Algumas garantias são destinadas a proteger os indivíduos
em relação a ações de outros particulares, assegurando que seus direitos
sejam respeitados e, se violados, proporcionando meios para reparação.
● Do Direito Objetivo: Referem-se a garantias relacionadas à preservação e
respeito pelo direito objetivo, ou seja, o conjunto de normas e regras jurídicas
que regem a sociedade. Isso pode incluir garantias de legalidade e
conformidade com as normas estabelecidas.
● De Legalidade: Essas garantias têm como foco assegurar que a atuação dos
poderes públicos, incluindo a Administração Pública, esteja em conformidade
com a lei. Isso implica que qualquer ato administrativo deve ter base legal e
respeitar os limites estabelecidos pela legislação.
● De Mérito: Garantias de mérito referem-se à avaliação da qualidade e eficácia
das ações administrativas. Elas buscam garantir que a Administração Pública
atue de maneira eficiente, justa e dentro dos padrões estabelecidos,
independentemente da legalidade estrita.

A efetivação das garantias no contexto do ordenamento jurídico pode envolver


diferentes órgãos, cada um desempenhando um papel específico. Os principais
órgãos responsáveis pela efetivação das garantias incluem:
● Órgãos Políticos: Os órgãos políticos, como o Legislativo e o Executivo,
desempenham um papel crucial na criação, revisão e revogação de leis. O
Legislativo é responsável por aprovar normas legais que estabelecem as
garantias e direitos fundamentais. O Executivo, por sua vez, implementa e
executa as políticas de acordo com essas normas.
● Administração Pública: A Administração Pública, que inclui diferentes órgãos
e entidades responsáveis pela execução das políticas e pela prestação de
serviços públicos, desempenha um papel fundamental na efetivação das
garantias. A atuação administrativa deve ser pautada pela legalidade, respeito
aos direitos individuais e eficiência na prestação de serviços.
● Tribunais: Os tribunais, parte do Poder Judiciário, são responsáveis por
garantir a aplicação e interpretação das leis, bem como pela proteção dos
direitos fundamentais. Eles desempenham um papel crucial na resolução de
conflitos, na análise da constitucionalidade das normas e na apreciação de
casos que envolvem violações de direitos.
Esses órgãos atuam de maneira interligada para assegurar que as garantias
estabelecidas no ordenamento jurídico sejam efetivadas. O Legislativo cria as leis, a
Administração Pública implementa essas leis no contexto cotidiano, e os Tribunais
exercem a função de controle e garantem a aplicação correta e justa das normas. A
coordenação entre esses órgãos é essencial para garantir um sistema jurídico
funcional e respeitoso aos direitos fundamentais.

Garantias políticas
As garantias políticas são instrumentos legais que protegem os direitos e liberdades
fundamentais dos cidadãos em relação ao Estado. No contexto da Constituição da
República Portuguesa (CRP), dois exemplos de garantias políticas importantes são o
Direito de Petição (artigo 52º) e o Direito de Resistência (artigo 21º). Vamos explorar
cada um deles:
● Direito de Petição (Artigo 52º CRP): O Direito de Petição é consagrado no
artigo 52º da CRP. Este direito confere aos cidadãos o poder de apresentar
petições, individuais ou coletivas, perante qualquer órgão de soberania,
autoridade ou entidade pública, com o objetivo de defender os seus direitos,
interesses legítimos ou resolver situações injustiças.
Esse direito permite que os cidadãos expressem as suas preocupações,
reivindicações ou solicitações diretamente às autoridades, promovendo a
participação cívica e a possibilidade de os cidadãos influenciarem a ação do
Estado.
● Direito de Resistência (Artigo 21º CRP): O Direito de Resistência está previsto
no artigo 21º da CRP. Este artigo estabelece que os cidadãos têm o direito de
resistir a qualquer ordem que viole os seus direitos, liberdades e garantias e
de repelir pela força qualquer agressão, quando não seja possível outro
recurso.
No entanto, é importante destacar que o exercício do direito de resistência
deve ser proporcional e justificado perante uma situação que represente uma
clara violação dos direitos fundamentais. A CRP procura equilibrar esse direito
com o respeito pela legalidade e ordem pública.
Ambos os direitos, o de petição e o de resistência, desempenham papéis
importantes na proteção dos direitos políticos e civis dos cidadãos, garantindo
mecanismos para a expressão de suas preocupações e para a resistência a ações
que possam representar violações aos direitos fundamentais.

Garantias Administrativas

As garantias administrativas desempenham um papel crucial na proteção dos


direitos e interesses dos particulares em suas relações com a Administração
Pública. Essas garantias são essenciais para assegurar que a atuação do poder
público seja pautada por princípios de legalidade, imparcialidade e respeito aos
direitos fundamentais. Grau de proteção aos particulares mais elevado do que as
garantias políticas porque o móbil principal da Administração não assenta em
motivações políticas, sendo-lhe mais fácil dar razão ao particular
Porém, não são suficientes porque por vezes os órgãos administrativos também se
movem por motivações políticas

As garantias administrativas podem ser classificadas em diferentes categorias,


dependendo da natureza da proteção que oferecem aos particulares em suas
relações com a Administração Pública. Entre essas categorias, destacam-se as
garantias petitórias, impugnatórias e a possibilidade de apresentar queixa ao
Provedor de Justiça. Vamos explorar cada uma delas:
● Garantias Petitórias: As garantias petitórias referem-se aos mecanismos
pelos quais os particulares podem solicitar ou requerer algo à Administração
Pública. Isso inclui, por exemplo, o direito de apresentar petições,
requerimentos ou solicitações para obter informações, serviços públicos ou
para expressar preocupações relacionadas à atuação administrativa.
Dentro das garantias petitórias, que se referem aos meios pelos quais os
particulares podem solicitar ou requerer algo à Administração Pública,
existem diferentes formas de expressão desses direitos. Cada um deles
desempenha um papel específico na interação entre os cidadãos e a
Administração Pública.
- Direito de Petição
- Direito de queixa
- Direito de denúncia
- Direito de representação
- Direito de oposição administrativa

● Garantias Impugnatórias: As garantias impugnatórias estão relacionadas aos


meios pelos quais os particulares podem impugnar ou contestar atos,
decisões ou procedimentos administrativos que considerem injustos, ilegais
ou prejudiciais aos seus direitos. Isso pode envolver a interposição de
recursos administrativos, ações judiciais ou outros meios legalmente
previstos para contestar atos administrativos.
Dentro das garantias impugnatórias, que envolvem os meios pelos quais
os particulares podem contestar atos, decisões ou procedimentos
administrativos, existem diferentes formas de expressão desses direitos.
- Reclamação
- Recurso hierárquico
- Recurso hierárquico impp.
- Recurso tutelar
● Queixa ao Provedor de Justiça: A possibilidade de apresentar queixa ao
Provedor de Justiça representa uma garantia adicional. O Provedor de Justiça
é uma entidade independente que atua como um mediador entre os cidadãos
e a Administração Pública. Os particulares podem apresentar queixas ao
Provedor de Justiça quando consideram que foram vítimas de injustiças ou
arbitrariedades por parte da Administração. O Provedor de Justiça pode
investigar essas queixas e emitir recomendações.
O provedor de justiça tem alta autoridade administrativa, eleita pelo
Parlamento, independente do Governo e dos Tribunais.

As inconstitucionalidades no tribunal constitucional


O Tribunal Constitucional assume um papel de destaque no sistema jurídico
português, sendo um Órgão de Soberania autónomo e independente. Ao contrário
dos tribunais tradicionais, o Tribunal Constitucional não está integrado na
organização judiciária dos tribunais comuns. Este órgão exerce funções específicas
relacionadas com a interpretação e fiscalização da constitucionalidade das normas
legais, garantindo a supremacia da Constituição da República Portuguesa.
O Tribunal Constitucional é composto por juízes que desfrutam de independência e
inamovibilidade, características essenciais para assegurar a imparcialidade nas suas
decisões. Os juízes que compõem o Tribunal Constitucional são cidadãos
portugueses com pleno gozo dos direitos civis e políticos, possuindo uma formação
jurídica sólida, geralmente detentores de graus académicos como Doutores, Mestres
ou Licenciados em Direito. Esta exigência de formação especializada contribui para
a expertise necessária na interpretação e aplicação do direito constitucional.
A missão primordial do Tribunal Constitucional é zelar pela conformidade das leis
com a Constituição, sendo chamado a pronunciar-se sobre a constitucionalidade das
normas que lhe são submetidas para apreciação. Esta função contribui para a
salvaguarda dos princípios fundamentais consagrados na Constituição, assegurando
que as leis e atos normativos estejam em conformidade com os valores
fundamentais da ordem jurídica portuguesa.

Escolha dos Conselheiros do TC


13 Conselheiros—> -10 eleitos pela Assembleia da República (maioria de 2/3)
-3 escolhidos pelos 10 eleitos (mínimo de 7 votos)
(6 obrigatoriamente juízes de outros Tribunais)
- Presidente e Vice-Presidente eleitos pelos 13

Mandato dos Conselheiros do TC


O Tribunal Constitucional de Portugal possui um sistema específico de mandatos
para os seus conselheiros, presidente e vice-presidente, que visa garantir a
estabilidade e independência do órgão. O mandato dos conselheiros do Tribunal
Constitucional é estabelecido da seguinte maneira:
● Mandato dos Conselheiros: Os conselheiros do Tribunal Constitucional têm
um mandato de 9 anos, e esse mandato não é renovável. Esse período mais
longo de mandato visa assegurar uma maior estabilidade e continuidade na
composição do Tribunal.
● Mandato do Presidente e Vice-Presidente: O Presidente e o Vice-Presidente
do Tribunal Constitucional têm mandatos diferenciados. Cada um deles
exerce funções por um período de 4 anos e meio. Este sistema visa promover
a alternância nos cargos de liderança do Tribunal, proporcionando uma gestão
dinâmica e a possibilidade de diferentes juízes assumirem responsabilidades
de liderança ao longo do tempo.
A combinação desses diferentes mandatos busca equilibrar a estabilidade
necessária para a atuação consistente do Tribunal Constitucional, especialmente no
que diz respeito aos conselheiros, com a possibilidade de renovação e alternância na
liderança representada pelo Presidente e Vice-Presidente. Essa estrutura contribui
para a independência e eficácia do Tribunal no cumprimento das suas
responsabilidades constitucionais.

Incompatibilidades Conselheiros do TC
As incompatibilidades estabelecidas para os conselheiros do Tribunal Constitucional
(TC) visam preservar a independência, imparcialidade e integridade do órgão. As
regras sobre incompatibilidades impedem que os conselheiros exerçam
determinadas funções simultaneamente, a fim de evitar conflitos de interesse. No
caso dos conselheiros do TC em Portugal, algumas das incompatibilidades incluem:
● Funções em Outros Órgãos de Soberania ou Poder Regional/Local: Os
conselheiros do TC não podem exercer funções em outros órgãos de
soberania (por exemplo, Presidência da República, Assembleia da República
ou Governo) ou em órgãos de poder regional/local durante o exercício do
mandato.
● Outros Cargos de Natureza Pública ou Privada: Incompatibilidade com a
ocupação de outros cargos, tanto de natureza pública como privada, que
possam comprometer a independência ou objetividade dos conselheiros no
desempenho das suas funções.
● Funções em Órgãos de Partidos Políticos e Atividades Públicas: Proibição de
desempenhar funções em órgãos de partidos políticos ou participar em
atividades públicas que possam criar conflitos com a imparcialidade
requerida para o exercício das responsabilidades no TC.
● Exceção: Funções Docentes na Área do Direito, Não Remuneradas: Uma
exceção notável nas incompatibilidades é a possibilidade de os conselheiros
exercerem funções docentes na área do Direito, desde que essas funções
sejam não remuneradas. Isso permite que os conselheiros continuem a
contribuir para a academia sem comprometer a independência do Tribunal.

Tribunal Constitucional
O Tribunal Constitucional em Portugal toma as suas decisões por meio de acórdãos,
que representam os pronunciamentos formais do Tribunal sobre as questões
constitucionais submetidas à sua apreciação. Essas decisões são fruto do trabalho
de um tribunal coletivo, composto por mais do que um juiz, e refletem a análise e
interpretação da Constituição da República Portuguesa.
A composição plural do tribunal coletivo no Tribunal Constitucional é fundamental
para garantir uma análise abrangente e a consideração de diversas perspetivas
jurídicas. Os acórdãos são o resultado do debate e da deliberação entre os juízes
que compõem o tribunal, e é comum que essas decisões revelem posições
diferentes entre os membros do colegiado.
Cada acórdão pode conter votos concordantes e discordantes, sendo este último
conhecido como "voto de vencido". O voto de vencido ocorre quando pelo menos um
juiz discorda da maioria em relação à decisão tomada. Essa possibilidade de
desacordo reflete a natureza complexa das questões constitucionais e a
interpretação variada que os juízes podem ter sobre os princípios constitucionais em
jogo.

Competências do TC
- Fiscalização da constitucionalidade de normas
- Matéria eleitoral e partidos políticos
- Referendos (Fiscalização prévia da constitucionalidade)
- Cargos políticos (declarações de rendimentos)
- Contencioso de perda de mandato deputados

Inconstitucionalidade
Art. 277o CRP
São inconstitucionais as normas que infrinjam:
- O disposto na Constituição
- Os princípios nela consignados

Tipos de inconstitucionalidade
A inconstitucionalidade pode manifestar-se de diversas formas, sendo os dois tipos
principais a inconstitucionalidade por ação e a inconstitucionalidade por omissão.
● Inconstitucionalidade por Ação: Este tipo de inconstitucionalidade ocorre
quando uma norma ou ato normativo é contrário à Constituição devido ao seu
conteúdo ou efeitos. Ou seja, a prática de um ato normativo viola diretamente
preceitos constitucionais. Pode ser um problema relacionado com a
formulação, conteúdo ou aplicação da norma em questão.
● Inconstitucionalidade por Omissão: A inconstitucionalidade por omissão
ocorre quando há uma lacuna normativa, ou seja, a ausência de uma norma
que deveria existir para assegurar o cumprimento de determinados princípios
constitucionais. Esta situação ocorre quando o legislador deixa de criar uma
norma necessária para regulamentar uma matéria específica, violando, assim,
a Constituição.
Em ambos os casos, a inconstitucionalidade é declarada pelo Tribunal
Constitucional ou outro órgão competente para a fiscalização da
constitucionalidade. A função desse tribunal é garantir que as leis e atos normativos
estejam em conformidade com a Constituição, protegendo, assim, os princípios
fundamentais e direitos dos cidadãos.

A desconformidade de uma norma com a Constituição pode manifestar-se de


diversas formas quanto à extensão do impacto, sendo classificada como total ou
parcial.
● Inconstitucionalidade Total: A inconstitucionalidade total ocorre quando toda
a norma ou ato normativo é contrário à Constituição. Nesse caso, a norma na
sua totalidade é considerada inválida e incompatível com os preceitos
constitucionais. Isso implica que a norma não pode produzir efeitos legais,
sendo declarada nula.
● Inconstitucionalidade Parcial: A inconstitucionalidade parcial ocorre quando
apenas uma parte específica da norma ou ato normativo é contrária à
Constituição, enquanto o restante é compatível com a mesma. Nesse cenário,
apenas a parte inconstitucional é considerada inválida, e o restante da norma
pode permanecer em vigor. A declaração de inconstitucionalidade parcial
permite a preservação das disposições válidas e a exclusão apenas das que
violam a Constituição.
Essa distinção entre inconstitucionalidade total e parcial é relevante no processo de
fiscalização da constitucionalidade, pois orienta o tribunal sobre a amplitude da
invalidade da norma.

diferentes tipos de violações das normas constitucionais


● Inconstitucionalidade Material: Refere-se à violação do conteúdo substantivo
de uma norma constitucional. Nesse caso, uma norma é considerada
inconstitucional porque contraria os princípios, valores ou direitos
fundamentais estabelecidos na Constituição.
● Inconstitucionalidade Formal: Diz respeito à violação de normas
procedimentais ou de forma, ou seja, regras relativas ao processo legislativo
ou à forma como a norma foi promulgada. Se as regras de procedimento
estabelecidas na Constituição para a criação ou alteração de normas não
forem seguidas, a norma pode ser considerada inconstitucional formalmente.
● Inconstitucionalidade Orgânica: Envolve a violação de normas de
competência ou de órgãos. Se uma norma for adotada por um órgão que não
tem a competência constitucional para fazê-lo, ou se violar as regras sobre a
competência entre os diferentes órgãos do Estado, pode ser declarada
inconstitucional organicamente.
O Tribunal Constitucional ou órgão equivalente, ao identificar uma violação em uma
dessas categorias, pode declarar a inconstitucionalidade da norma, total ou
parcialmente, dependendo da extensão da violação.

O que fiscaliza as inconstitucionalidades? (art 112 CRP)


Normas
O Artigo 112.º da Constituição da República Portuguesa (CRP) trata dos atos
normativos no contexto legal em Portugal. De acordo com este artigo, os atos
normativos podem ser classificados em diferentes categorias, sendo elas:
● Leis: As leis são atos normativos com força de lei, ou seja, têm a capacidade
de estabelecer regras jurídicas vinculativas para toda a sociedade. Podem ser
leis ordinárias ou leis orgânicas, dependendo do seu objeto e das matérias
que regulam.
● Leis Orgânicas: As leis orgânicas são um tipo especial de lei que regulamenta
matérias específicas consideradas de grande relevância. Elas têm um
processo legislativo diferenciado e abordam questões estruturais ou
fundamentais para o funcionamento do Estado.
● Decretos-Lei: Os decretos-lei são atos normativos emitidos pelo Governo.
Eles têm uma natureza legislativa e são utilizados para regulamentar matérias
que não exijam a intervenção direta do parlamento. Os decretos-lei têm uma
hierarquia inferior às leis.
● Decretos Legislativos Regionais: Os decretos legislativos regionais são atos
normativos específicos das regiões autónomas (Madeira e Açores). Cada
região autónoma possui a sua Assembleia Legislativa Regional, com
competência para elaborar este tipo de ato normativo.

A fiscalização da constitucionalidade em Portugal, conforme estabelecido na


Constituição da República Portuguesa (CRP), ocorre por meio de duas modalidades,
constituindo assim um sistema misto:
● Fiscalização Abstrata: Na fiscalização abstrata, os atos normativos são
analisados quanto à sua conformidade com a Constituição antes de sua
entrada em vigor. Isso significa que a análise é realizada de forma preventiva,
antes que a norma produza efeitos jurídicos. O Tribunal Constitucional,
enquanto guardião da Constituição, pode ser acionado por determinados
órgãos ou entidades para verificar a constitucionalidade de uma lei ou de
partes dela, garantindo que esteja em conformidade com os preceitos
constitucionais.
Tem um sistema de fiscalização concentrada que só pode ser feita pelo TC

A fiscalização abstrata, no contexto da Constituição da República Portuguesa


(CRP), pode ser realizada de três formas distintas:
- Fiscalização Abstrata Preventiva: A fiscalização abstrata preventiva
ocorre antes da entrada em vigor da norma. Ela é realizada antes de a
lei ou ato normativo produzir efeitos jurídicos. Essa modalidade
permite que certas entidades, como o Presidente da República, o
Provedor de Justiça, ou um número mínimo de deputados ou membros
de órgãos regionais, solicitem ao Tribunal Constitucional a apreciação
preventiva da constitucionalidade de uma norma antes da sua
promulgação.
Objetivo? Evitar que entrem em vigor normas inconstitucionais
A fiscalização abstrata preventiva pelo Presidente da República em Portugal é uma
prerrogativa constitucional que lhe permite avaliar a constitucionalidade de leis,
decretos-lei e tratados antes de os promulgar ou ratificar. Essa análise prévia tem
como objetivo assegurar que as normas que o Presidente está prestes a promulgar
ou ratificar estejam em conformidade com a Constituição.
De acordo com a Constituição da República Portuguesa (CRP), esta competência
está prevista nos artigos 112.º (no 1 a 3), 120.º, 134.º (nas alíneas b) e g)), e 278.º
(no 1). O Presidente da República, ao exercer a função de fiscalização abstrata
preventiva, desempenha um papel fundamental na preservação da
constitucionalidade das normas legais e dos tratados internacionais.
As leis orgânicas competem ao Primeiro Ministro ou a ⅕ dos deputados da AR (Arts.
112o, no 3 e 278o, no 4 CRP)
A fiscalização abstrata preventiva em Portugal segue um procedimento com prazos
definidos, conforme estabelecido na Constituição da República Portuguesa (CRP).
Aqui estão os prazos para as diferentes etapas desse processo:
- Requerente: 8 dias (artigo 278.º, no 6): O requerente, que pode ser o
Presidente da República, tem um prazo de 8 dias para submeter ao
Tribunal Constitucional (TC) o pedido de fiscalização abstrata
preventiva. Durante esse período, ele avalia a constitucionalidade do
diploma legal ou tratado que está prestes a promulgar ou ratificar.
- Tribunal Constitucional (TC): 25 dias (artigo 278.º, no 8): O Tribunal
Constitucional tem um prazo de 25 dias para analisar o pedido de
fiscalização abstrata preventiva após recebê-lo do requerente. Durante
esse período, o TC avalia a constitucionalidade da norma em questão,
verificando se está em conformidade com os princípios e normas
constitucionais.
Esses prazos estabelecem um cronograma claro para a realização da fiscalização
abstrata preventiva, garantindo que o processo seja conduzido de maneira eficiente e
dentro de limites temporais definidos pela legislação.
Efeitos? PR deve vetar o diploma (art. 279o, no 1), o diploma é devolvido ao órgão
que o aprovou e este pode (art. 279o, no 2): Expurgar o diploma ou Confirmar –
maioria 2/3

- Fiscalização Abstrata Sucessiva: A fiscalização abstrata sucessiva


ocorre após a entrada em vigor da norma. Ela é desencadeada por uma
ação direta junto ao Tribunal Constitucional para avaliar a
constitucionalidade de uma lei ou parte dela. Pode ser iniciada por
determinados órgãos do Estado, incluindo o Presidente da República, a
Assembleia da República, o Governo, o Provedor de Justiça ou um
grupo de deputados.
Quem pode pedir ao TC? - Presidente da República
-Primeiro-Ministro
-Provedor de Justiça
-Procurador-Geral da República
-Presidente da AR
-1/10 dos Deputados da AR
Na fiscalização abstrata sucessiva, quando o Tribunal Constitucional (TC) declara a
inconstitucionalidade de uma norma, os efeitos dessa decisão são regulados pelo
artigo 282.º da Constituição da República Portuguesa (CRP). Eis os principais
efeitos:
- Decisão com Força Obrigatória Geral (artigo 282.º): A decisão do TC
tem força obrigatória geral, o que significa que vincula todos os órgãos
do Estado, as autoridades e os cidadãos. Essa decisão é considerada
como uma interpretação vinculativa da Constituição.
- Eliminação da Norma da Ordem Jurídica: A norma que foi declarada
inconstitucional é eliminada da ordem jurídica, perdendo a sua validade
e eficácia.
- Efeitos Retroativos desde a Entrada em Vigor da Norma: A decisão do
TC tem efeitos retroativos, ou seja, ela retroage até à data da entrada
em vigor da norma declarada inconstitucional. Isso significa que todos
os atos praticados com base nessa norma são afetados pela
declaração de inconstitucionalidade.
- Repristinação de Normas Revogadas: Se a norma declarada
inconstitucional tiver revogado outras normas anteriormente vigentes,
a declaração de inconstitucionalidade pode resultar na repristinação
dessas normas revogadas. A repristinação ocorre quando a revogação
é considerada como nunca tendo existido.
- Fiscalização Abstrata por Omissão: A fiscalização abstrata por
omissão refere-se à análise de situações em que o legislador não
cumpre a obrigação de criar uma lei que a Constituição exige. Essa
modalidade permite que o Tribunal Constitucional se pronuncie sobre a
inconstitucionalidade por omissão, declarando a necessidade de o
legislador adotar medidas para cumprir os preceitos constitucionais
em falta.
Quem pode pedir ao TC? (283o, no 1) -Presidente da República
-Pres. Ass. Regionais
-Provedor de Justiça
Efeitos - Art. 283o, no 2- TC dá conhecimento ao órgão responsável pela omissão,
não se substitui ao legislador na aprovação de medidas e dá se o princípio da
separação dos poderes

● Fiscalização Concreta: A fiscalização concreta ocorre quando a


constitucionalidade de uma norma é questionada em um caso específico que
já está em tramitação nos tribunais. Nesse caso, a análise é realizada em
resposta a um caso real e particular que foi levado aos tribunais. O Tribunal
Constitucional pode ser chamado a se pronunciar sobre a constitucionalidade
da norma no contexto do processo judicial em andamento.
Sistema de fiscalização difuso, feita por todos os Tribunais.
Se uma parte invocar a inconstitucionalidade e o Tribunal decidir aplicar a norma
(280o, no 1, b) , a parte que levantou a questão pode recorrer para o TC (no 4)
Se o Tribunal recusar aplicar a norma com fundamento na sua inconstitucionalidade
(280o, no 1, a) , recurso para o TC obrigatório para o Ministério Público (no 5)
O recurso é sempre apresentado no Tribunal onde a causa corre termos, nunca no
constitucional
Efeitos - Art. 280o, no 6- Faz caso julgado quanto à questão da
inconstitucionalidade mas apenas no processo, depois o processo regressa ao
Tribunal para decisão sobre a causa e este não tem força obrigatória geral
Efeitos Art. 281o, no 3- Se o TC julgar uma norma inconstitucional em 3 processos
concretos, declara a inconstitucionalidade com força obrigatória geral

Essas modalidades de fiscalização asseguram que a conformidade das leis e atos


normativos com a Constituição seja verificada tanto de maneira preventiva, antes de
sua entrada em vigor, como de maneira reativa, em resposta a casos específicos. O
Tribunal Constitucional desempenha um papel crucial nesse processo, contribuindo
para a proteção da supremacia da Constituição em Portugal.
Face à elevada taxa de imigração para o nosso país, a Assembleia da República
aprovou um decreto nos termos do qual os estrangeiros residentes em Portugal não
gozam dos direitos reconhecidos ao cidadão português. Remetido ao Presidente da
República para promulgação em 01 de Maio de 2013, este decidiu enviar o diploma
ao Tribunal Constitucional em 15 de Maio de 2013. O Tribunal Constitucional
pronunciou-se pela inconstitucionalidade daquela norma. O Presidente da
República decidiu mesmo assim promulgar o diploma, em 05 de Junho de 2013,
tendo o mesmo sido publicado dias depois (Decreto-Lei 88/2013 de 19 de Junho).
Aprecie as atuações do Presidente da República.
R: No caso apresentado, observamos que a Assembleia da República aprovou um
decreto que limita os direitos dos estrangeiros residentes em Portugal, em resposta
à elevada taxa de imigração no país. Este decreto foi submetido ao Presidente da
República para promulgação em 01 de Maio de 2013, mas o Presidente optou por
enviar o diploma ao Tribunal Constitucional em 15 de Maio de 2013.
O Tribunal Constitucional pronunciou-se pela inconstitucionalidade da norma em
questão. No entanto, o Presidente da República, mesmo ciente da decisão do
Tribunal, decidiu promulgar o diploma em 05 de Junho de 2013, e o mesmo foi
publicado dias depois.
A fiscalização preventiva da constitucionalidade é um mecanismo legal pelo qual
determinadas leis ou normas podem ser submetidas a uma análise prévia quanto à
sua conformidade com a Constituição de um país antes de serem promulgadas ou
entrarem em vigor. Este processo é projetado para evitar que leis inconstitucionais
se tornem parte do ordenamento jurídico.
Em sistemas jurídicos que adotam esse tipo de fiscalização, geralmente, um órgão
específico, como o Tribunal Constitucional, é responsável por realizar essa avaliação.
No que diz respeito ao prazo para requerer a fiscalização preventiva da
constitucionalidade, o Presidente da República, de acordo com o artigo 278º, nº 3 da
CRP, ultrapassou o período estipulado de 8 dias a contar da receção do diploma. Esta
omissão pode levantar questões sobre a conformidade com os procedimentos
constitucionais, uma vez que a não solicitação da fiscalização preventiva pode ser
interpretada como concordância com o conteúdo do diploma.
Além disso, a decisão do Presidente de promulgar o diploma mesmo após a
declaração de inconstitucionalidade pelo Tribunal Constitucional é um ponto de
considerável controvérsia. Normalmente, quando uma norma é considerada
inconstitucional, espera-se que o Presidente vete o diploma como previsto no artigo
279 da CRP ou, no mínimo, peça a sua revisão pela Assembleia da República. A
escolha de promulgar o diploma pode ser interpretada como uma atitude que
desconsidera a decisão do Tribunal Constitucional, levantando preocupações sobre
o respeito à supremacia da Constituição.
A Assembleia da República aprovou um projeto de lei que permite a inclusão nos
contratos de trabalho da proibição de inscrição dos trabalhadores em associações
sindicais. Após promulgação, veio a lei a ser publicada em Diário da República (Lei
99/2013 de 1 de Abril), com inicio de vigência no dia seguinte ao da sua publicação.
Meses mais tarde, Natércio, trabalhador da “ABC”, foi despedido, após
procedimento disciplinar, por se ter inscrito no Sindicato. Revoltado, Jerónimo
opôs-se judicialmente ao despedimento, e no processo suscitou a questão da
inconstitucionalidade das normas constantes da Lei 99/2013. O tribunal não lhe
deu razão, decidindo no sentido da não inconstitucionalidade, pelo que Jerónimo
pretende interpor recurso para o Tribunal Constitucional.
a) Aprecie eventuais inconstitucionalidades da lei aprovada pela Assembleia da
República.
R: No caso apresentado, a Assembleia da República aprovou um projeto de lei
que permite a inclusão nos contratos de trabalho da proibição de inscrição
dos trabalhadores em associações sindicais. A lei resultante desse projeto foi
promulgada e publicada em Diário da República (Lei 99/2013 de 1 de Abril),
com início de vigência no dia seguinte ao da sua publicação. Posteriormente,
um trabalhador chamado Natércio, que fazia parte da empresa "ABC", foi
despedido após se inscrever no sindicato. Jerónimo, revoltado com o
despedimento de Natércio, opôs-se judicialmente e suscitou a questão da
inconstitucionalidade das normas da Lei 99/2013 no processo. O tribunal de
primeira instância decidiu no sentido da não inconstitucionalidade, levando
Jerónimo a pretender interpor recurso para o Tribunal Constitucional.
O direito à liberdade sindical é um direito fundamental garantido pela CRP. O
artigo 55º da CRP estabelece que "é garantida aos trabalhadores a liberdade
sindical, sendo nulas e de nenhum valor as cláusulas dos contratos,
individuais ou coletivos, e os acordos que, direta ou indiretamente, impeçam
ou limitem aquele direito".
A "Inconstitucionalidade por Ação Material" refere-se à situação em que uma
norma ou lei é considerada inconstitucional devido ao seu conteúdo material,
ou seja, por violar princípios e normas fundamentais estabelecidos na
Constituição de um país, neste sentido, a lei aprovada pela Assembleia da
República, ao permitir a inclusão nos contratos de trabalho da proibição de
inscrição dos trabalhadores em associações sindicais, parece violar
diretamente o direito fundamental à liberdade sindical consagrado no artigo
55º da CRP. Essa proibição pode ser interpretada como uma restrição
indevida ao exercício desse direito fundamental, tornando-se suscetível de
inconstitucionalidade.
Jerónimo, ao opor-se judicialmente ao despedimento e suscitar a questão da
inconstitucionalidade, pode ter fundamentos válidos para interpor recurso
para o Tribunal Constitucional, argumentando que a Lei 99/2013 viola o seu
direito à liberdade sindical garantido pela Constituição. O Tribunal
Constitucional terá então a responsabilidade de analisar se a lei em questão é
ou não inconstitucional à luz dos princípios constitucionais.
b) Pode Jerónimo recorrer para o Tribunal Constitucional?
R: Sim, Jerónimo pode recorrer para o Tribunal Constitucional com base na
fiscalização concreta da constitucionalidade, esta tem como objetivo verificar
se a aplicação de uma norma específica a um caso prático viola os princípios
e direitos fundamentais consagrados na Constituição. A alegação de
inconstitucionalidade pode ser feita por qualquer pessoa que tenha um
interesse direto e imediato na questão, desde que alegue que a norma em
causa, quando aplicada ao seu caso específico, viola a Constituição.
A fiscalização concreta da constitucionalidade é um mecanismo legal pelo
qual indivíduos ou partes interessadas podem questionar a
constitucionalidade de normas legais em casos específicos, conforme
estabelecido no artigo 280º da Constituição da República Portuguesa (CRP).
O artigo 280º da CRP prevê diferentes modalidades de fiscalização da
constitucionalidade, sendo a fiscalização concreta uma delas. A alínea b) do
nº 1 desse artigo estabelece como fundamento para a fiscalização concreta a
verificação da inconstitucionalidade de normas através do seu uso em casos
concretos. O nº 4 do mesmo artigo estabelece a legitimidade para requerer a
fiscalização concreta, indicando que qualquer pessoa pode fazê-lo se alegar,
com fundamento em situação que a afete diretamente e que configure uma
inconstitucionalidade, a inconstitucionalidade de normas constantes de
textos legislativos ou regulamentares.
No caso de Jerónimo, que se opôs judicialmente ao seu despedimento com
base na alegada inconstitucionalidade das normas da Lei 99/2013, ele pode
alegar diretamente a inconstitucionalidade dessas normas no contexto do seu
próprio caso. Ele alega que a proibição de inscrição em associações sindicais
contida na referida lei viola o seu direito fundamental à liberdade sindical,
conforme garantido pelo artigo 55º da CRP.
Portanto, Jerónimo tem fundamento para recorrer ao Tribunal Constitucional
com base na fiscalização concreta da constitucionalidade, argumentando que
a aplicação da Lei 99/2013 no seu caso específico viola a Constituição
Portuguesa. Ele possui a legitimidade para apresentar esse recurso, uma vez
que a situação o afeta diretamente e configura uma alegada
inconstitucionalidade. O Tribunal Constitucional terá então a responsabilidade
de analisar a fundamentação apresentada por Jerónimo e decidir sobre a
constitucionalidade das normas em questão.
Aprecie, sob o ponto de vista jurídico-constitucional, os seguintes atos normativos,
realçando eventuais inconstitucionalidade e a forma de fiscalização da
constitucionalidade adequada:
a) Um decreto remetido ao Presidente da República para ser promulgado como lei,
que determina a exigência de 5% dos votos do total nacional para a atribuição de
um mandato parlamentar.
R: No cenário apresentado, temos um decreto remetido ao Presidente da República
para ser promulgado como lei, que estabelece a exigência de 5% dos votos do total
nacional para a atribuição de um mandato parlamentar.
O ato normativo parece enfrentar uma inconstitucionalidade material, pois
estabelece um requisito (exigência de 5% dos votos do total nacional) para a
atribuição de um mandato parlamentar que pode ser considerado contrário à
Constituição.
O artigo 152º, nº 1, da Constituição da República Portuguesa (CRP) estabelece que
"a lei fixa os requisitos de capacidade e outros necessários à eleição e ao exercício
dos cargos políticos". A imposição de uma exigência percentual específica para a
atribuição de mandatos parlamentares pode ser interpretada como uma interferência
indevida no processo eleitoral, limitando a expressão da vontade popular.
A fiscalização preventiva é apropriada neste caso, conforme mencionado no artigo
278º da CRP. O Presidente da República pode requerer a fiscalização preventiva da
constitucionalidade antes de promulgar o decreto como lei.
A fundamentação para tal requerimento estaria na possível violação do artigo 152º,
nº 1, da CRP, que estabelece a competência da lei para fixar os requisitos de
capacidade para a eleição e exercício de cargos políticos. A fiscalização preventiva
permite ao Presidente da República solicitar a análise do Tribunal Constitucional
antes da entrada em vigor do decreto, evitando assim a promulgação de uma norma
que poderia ser considerada inconstitucional.
Em resumo, a exigência de 5% dos votos do total nacional para a atribuição de um
mandato parlamentar, como estabelecida no decreto, pode ser considerada
inconstitucional materialmente por violar o artigo 152º, nº 1, da CRP. A forma
adequada de fiscalização da constitucionalidade seria a preventiva, conforme
previsto no artigo 278º da CRP, permitindo ao Presidente da República requerer a
análise do Tribunal Constitucional antes da promulgação do decreto como lei.

b) Um diploma da Assembleia da República, já publicado, que estabelece que a


fundação de jornais depende de autorização administrativa.
R: No cenário apresentado, temos um diploma da Assembleia da República, já
publicado, que estabelece que a fundação de jornais depende de autorização
administrativa. O ato normativo parece enfrentar uma inconstitucionalidade material,
pois condicionar a fundação de jornais à autorização administrativa pode ser
interpretado como uma restrição indevida à liberdade de imprensa.
O artigo 38º, nº 2, alínea c), da Constituição da República Portuguesa (CRP)
estabelece que "é garantida a liberdade de imprensa sem dependência de censura e
de autorização". A imposição de uma autorização administrativa para a fundação de
jornais pode ser vista como uma violação direta desse direito fundamental.
A fiscalização abstrata é apropriada neste caso, conforme mencionado no artigo
281º da CRP. A fiscalização abstrata permite que as normas sejam analisadas
quanto à sua conformidade com a Constituição, sem vinculação a um caso
específico.
A fundamentação para tal fiscalização seria a possível violação do artigo 38º, nº 2,
alínea c), da CRP, que assegura a liberdade de imprensa sem dependência de
censura e autorização. A fiscalização abstrata permite que qualquer interessado,
incluindo entidades com legitimidade para tal, conteste a constitucionalidade da
norma perante o Tribunal Constitucional.
Em resumo, a exigência de autorização administrativa para a fundação de jornais,
estabelecida no diploma da Assembleia da República, pode ser considerada
inconstitucional materialmente por violar o direito fundamental à liberdade de
imprensa, conforme estabelecido no artigo 38º, nº 2, alínea c), da CRP. A forma
adequada de fiscalização da constitucionalidade seria a abstrata, permitindo que a
norma seja analisada em relação à sua conformidade com a Constituição.

c) Um decreto-lei publicado sem promulgação


R: No caso apresentado, temos um decreto-lei que foi publicado sem ter passado
pelo ato de promulgação.
O ato normativo enfrenta uma inconstitucionalidade formal, pois, de acordo com o
artigo 137º da Constituição da República Portuguesa (CRP), os decretos-lei devem
ser promulgados pelo Presidente da República antes de serem publicados. A falta de
promulgação pelo Presidente configura uma violação do procedimento
constitucional estabelecido.
A fiscalização abstrata é apropriada neste caso, conforme mencionado no artigo
281º da CRP. A fiscalização abstrata permite que as normas sejam analisadas
quanto à sua conformidade com a Constituição, independentemente de um caso
específico. A fundamentação para essa fiscalização seria a possível violação do
artigo 137º da CRP, que estabelece o procedimento de promulgação para os
decretos-lei. A fiscalização abstrata permitiria que qualquer interessado, incluindo
entidades com legitimidade para tal, contestasse a constitucionalidade da norma
perante o Tribunal Constitucional.
Em resumo, a publicação de um decreto-lei sem a devida promulgação configura
uma inconstitucionalidade formal, violando o procedimento estabelecido pelo artigo
137º da CRP. A forma adequada de fiscalização da constitucionalidade seria a
abstrata, permitindo que a norma fosse analisada em relação à sua conformidade
com a Constituição, independentemente de um caso específico.
Um decreto-lei relativo ao regime do segredo de Estado, cuja constitucionalidade o
Procurador Geral da República contesta.
R: No cenário apresentado, temos um decreto-lei relativo ao regime do segredo de
Estado, e o Procurador Geral da República contesta a sua constitucionalidade
A alegação de inconstitucionalidade recai sobre a competência para legislar sobre o
regime do segredo de Estado. O artigo 164º, alínea q), da Constituição da República
Portuguesa (CRP) estabelece que compete à Assembleia da República legislar sobre
matéria de reserva absoluta da sua competência.
O regime do segredo de Estado pode ser considerado como uma matéria que está
incluída na reserva absoluta de competência da Assembleia da República. Se um
decreto-lei aborda questões que são de reserva absoluta da competência legislativa
da Assembleia da República, isso configura uma inconstitucionalidade orgânica.
A fiscalização abstrata é apropriada neste caso, conforme mencionado no artigo
281º da CRP. A fiscalização abstrata permite que as normas sejam analisadas
quanto à sua conformidade com a Constituição, independentemente de um caso
específico.
A fundamentação para tal fiscalização seria a possível violação do artigo 164º,
alínea q), da CRP. A fiscalização abstrata permite que o Procurador Geral da
República, enquanto parte interessada, questione a constitucionalidade do
decreto-lei perante o Tribunal Constitucional.

O Ministério Público pretende recorrer para o Tribunal Constitucional da decisão do


Tribunal de primeira instância que recusou a aplicação da Lei 1/2005 de 13 de
Setembro, com fundamento na sua inconstitucionalidade. Aquela lei proibia a
constituição de associações de caráter lúdico ou recreativo. A questão da
constitucionalidade havia sido suscitada no processo por Helena Dinis, cozinheira
numa cantina, e indiciada por ter constituído uma associação de convívio para
todos os funcionários.
a) Aprecie a legitimidade e fundamento do Ministério Público para tal recurso,
referindo-se à forma de fiscalização descrita no enunciado.
R: No caso apresentado, o Ministério Público pretende recorrer para o Tribunal
Constitucional da decisão do Tribunal de primeira instância que recusou a aplicação
da Lei 1/2005 de 13 de Setembro, com fundamento na sua inconstitucionalidade. A
lei em questão proibia a constituição de associações de caráter lúdico ou recreativo,
e a questão da constitucionalidade foi suscitada no processo por Helena Dinis,
cozinheira numa cantina, que foi indiciada por ter constituído uma associação de
convívio para todos os funcionários.
O Ministério Público possui legitimidade para recorrer para o Tribunal Constitucional
no âmbito da fiscalização concreta, conforme estabelecido no artigo 280º, nº 1,
alínea a), e nº 3 da Constituição da República Portuguesa (CRP).
O artigo 280º, nº 1, alínea a), estabelece que o Ministério Público tem legitimidade
para interpor recurso para o Tribunal Constitucional das decisões dos tribunais que
apliquem normas que considerem inconstitucionais. No caso em questão, o Tribunal
de primeira instância recusou a aplicação da Lei 1/2005 com base na sua
inconstitucionalidade, dando ao Ministério Público a legitimidade para recorrer.
O fundamento do recurso do Ministério Público reside na recusa do Tribunal de
primeira instância em aplicar a Lei 1/2005, considerando-a inconstitucional.
A Lei 1/2005 proibia a constituição de associações de caráter lúdico ou recreativo, e
a recusa do Tribunal de primeira instância em aplicá-la levanta a questão da
constitucionalidade desta lei. O Ministério Público, como guardião da legalidade e
interesses públicos, busca que o Tribunal Constitucional analise a
constitucionalidade da lei em causa.
Em resumo, o Ministério Público possui legitimidade para recorrer para o Tribunal
Constitucional no âmbito da fiscalização concreta, fundamentado na recusa do
Tribunal de primeira instância em aplicar a Lei 1/2005 por considerá-la
inconstitucional. O objetivo é que o Tribunal Constitucional analise a
constitucionalidade da lei no contexto específico do processo de Helena Dinis.

b) Se o Tribunal Constitucional vier a julgar aquela lei inconstitucional, quais os


efeitos dessa decisão? Descreva-os.
R: Se o Tribunal Constitucional vier a julgar a Lei 1/2005 inconstitucional, os efeitos
dessa decisão serão particulares e restritos à questão da inconstitucionalidade,
conforme estabelecido no artigo 280º, nº 6, da Constituição da República
Portuguesa (CRP).
A decisão do Tribunal Constitucional poderá resultar na anulação ou não aplicação
da Lei 1/2005 no caso específico de Helena Dinis. Isso significa que as disposições
dessa lei que foram consideradas inconstitucionais não terão efeito sobre a situação
em análise.
A decisão do Tribunal Constitucional não implica necessariamente a revogação ou
anulação geral da Lei 1/2005. A lei pode manter a sua validade em relação a outros
casos que não foram objeto de análise no processo em questão.
Os efeitos da decisão do Tribunal Constitucional terão um alcance limitado e não se
aplicarão a todos os casos ou situações semelhantes. A inconstitucionalidade será
declarada em relação ao caso específico em análise.

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