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A normatividade jurídica tem de se objetivar e manifestar num sistema, esse sistema uno e
coerente é o Sistema Jurídico. Este traduz o modo como o conteúdo do direito se relacionada com a
realidade, bem como, o modo de objetivação da normatividade jurídica.
O Sistema Jurídico Português é, um sistema: aberto (recebe continuamente conteúdos
normativos), constituendo (está em permanente constituição), pluridimensional (constituído por vários
elementos e estratificado), não autossuficiente, não pleno (incapaz de resolver todos os problemas
juridicamente relevantes), de índole material e de dinâmica regressiva (construção regressiva a posteriori).
Como não se limita à lei o Sistema Jurídico Português apresenta uma diversidade de estratos
(pluridimensionalidade), nos quais encontramos:
fundamentos, que são racionalizações justificativas de inteligibilidade, isto é, são a base axiológica da
fundamentação; e critérios, operadores práticos mobilizáveis para a resolução de problemas concretos.
Existe entre os critérios e os fundamentos uma relação de fundamentação, uma vez que, os critérios
encontram a sua sustentação matérias nos fundamentos, que por sua vez, conferem sentido aos critérios.
ESTATUTOS DO SJ
1. Princípios Normativos
Os princípios normativos são manifestações da fundamentação da juridicidade vigente, neles
radica a validade de todo o sistema jurídico. Estes são os fundamentos materiais que permitem construir
normas e critérios vigente. Apesar de não oferecerem respostas diretas a problemas prático, a sua
interpretação é mediata, uma vez que, estes são o fundamento do critério que oferece a solução.
Os princípios normativos podem ser classificados de várias formas e de acordo com diferentes
critérios (sendo o mais relevante para a questão) como a sua posição no sistema jurídico, que distingue,
aqueles que são princípios suprapositivos, isto é, princípios que representam pilares do sistema jurídico
e que emanam e manifestam a ideia de direito, pela sua fundamentação material, são considerados
superiores aos outros princípios; dos que são princípios transpositivos, ou seja, princípios que são
concretizações de princípios suprapositivos, estes apresentam-se como pilares fundamentais de uma área
dogmática; e por último dos princípios positivos, que são princípios que estão consagrados nas próprias
normas e, como tal, já estão positivados.
Outros critérios de distinção (que não devem sair em exame, mas vou pôr aqui a encher chouriços),
são: o modo de objetivação, que distingue princípios escritos (que estão positivados por razões de certeza
e segurança) de princípios não escritos (estão na consciência geral, mas não estão escritos); a
intencionalidade normativa que diferencia princípios abertos (reedificações não estão estabelecidas como
tal nos códigos) de princípios em forma de norma (não são normas, mas apresentam-se como uma
solução concreta); origem normativa – tou com preguiça.
O estrato dos princípios normativos goza de uma presunção de validade, isto é, se os referentes
de fundamentação são materialmente válidos, os princípios que neles se fundamentam também o serão.
2. Normas Legais
As normas legais são critérios gerais e abstratos que se apresentam como critérios de resolução de
problemas juridicamente relevantes. As normas são interpretadas de acordo com os princípios normativos
de forma a evitar contradições ou situações de injustiça, desta forma, são reconhecíveis na norma duas
facetas: a ratio legis, a faceta geral e abstrata que se relaciona com a realidade e faceta iuris que
representa a relação entre a norma e o princípio em que esta se fundamenta.
Assim como os princípios, as normas podem ser distinguidas e classificadas.
De acordo com o critério modo-lógico existem: normas autónomas (conteúdo completo e
independente capazes de produzir conteúdo por si só); normas não autónomas (são de qualquer forma
incompletas e por isso incapazes de produzir conteúdo por si só, o que implica a remissão para outra
norma), que podem ser n. remissivas implícitas, n. remissivas explícitas (nestas é feita uma presunção -
art.349ºCC). Podemos ainda distinguir as normas de acordo com a especialidade territorial – normas
globais, regionais e locais. Podemos ainda classifica-las quanto à sanção que aplicam – leis mais que
perfeitas (nulidade e sanção), leis perfeitas (nulidade), leis menos que perfeitas (coimas e multas) e leis
imperfeitas (sem qualquer tipo de sanção).
As normas podem ser distinguidas de acordo com a sua especialidade material, isto é, normas
que estabelecem vínculos com a ação e precisam de ser entendidas tendo em conta a autonomia
privada/vontade dos destinatários. Aqui distinguimos, as normas imperativas, normas cuja aplicação não
depende da vontade dos sujeitos e, por isso, são impostas independentemente da mesma, se exigirem um
comportamento são normas imperativas precetivas, se proibirem um comportamento são normas
imperativas proibitivas; das normas permissivas, normas cuja produção de efeitos depende da vontade
dos sujeitos/destinatários, estas podem ser facultativas (se permitirem um comportamento), interpretativas
in strictu (se limitarem o alcance e sentidos de certas expressões passíveis de dúvida) ou supletivas (se
estabelecerem uma solução na ausência de manifestação dos destinatários).
As normas legais gozam de uma presunção de autoridade, uma vez que, no sistema legal em
que se inserem beneficiam (da conjugação entre) validade jurídica e legitimidade política.
3. Jurisprudência Judicial
A jurisprudência corresponde ao momento em que o direito é diretamente convocado para a
resolução de problemas concretos. Encontramos neste estrato, as decisões judiciais aquando a sua
constituição e, depois, enquanto precedentes, uma vez que, cada decisão judicativa pode, no futuro, ser
utilizada como exemplo de resolução para casos semelhantes.
A jurisprudência goza de uma presunção de justeza, que lhe é atribuída pelo facto de as
decisões judiciais terem valor normativamente constituído e como critérios puderem ser invocadas para a
resolução de casos futuros, enquanto se mostrarem adequados.
4. Dogmática
A dogmática é conhecida como o direito dos juristas. Esta, para além de refletir o direito vigente é
responsável pela reflexão constitutiva e preposição de modelos de solução para problemas juridicamente
relevantes. A este estrato competem 5 funções – estabilizadora (compensa as falhas de outros estratos),
dinamizadora (propõe soluções ex-novo), desoneradora, técnica (confere instrumentos técnicos de fixação
de sentido) e de controlo (forma estruturas do pensamento).
À dogmática dirige-se uma presunção de racionalidade, racionalidade esta de fundamentação,
sustentada pela argumentação.
5. Regras Procedimentais
As regras procedimentais são critérios técnicos que os juristas mobilizam para o desempenhar da
sua função, são cânones metodológicos mobilizados para a seleção e interpretação de normas.
Por serem considerados operadores jurídicos essenciais para o suporte do direito enquanto
sistema jurídico, é atribuída às regras procedimentais uma presunção de prestabilidade.
6. Realidade Jurídica
A realidade jurídica trata de reconhecer a autonomia normativa da realidade juridicamente
relevante, no plano de posicionamento do sistema jurídico, este é por isso um momento de ação histórico
da normatividade jurídica.
Presunção de eficácia ??????????? je ne ce pas :)
Fontes de Direito
Em termos gerais, é sobre saber como se constitui e manifesta o direito positivamente vigente
numa determinada comunidade histórica.
Para o positivismo, o problema das fontes de direito era algo que podia ser respondido através da
convocação de critérios legais, uma vez que, eram estas que consagravam as fontes de direito.
No sistema jurídico português, as fontes de direito estão consagradas nos artigos 1º a 4º e 348º/1
do Código Civil.
Numa perspetiva política- constitucional, as fontes de direito são aquilo que o poder legitimado
(legislativo) definir como tal. A legitimidade do direito vinha do facto de ser criado por instâncias com
legitimidade para criar normas juridicamente obrigatórias. Esta é assim, uma perspetiva polarizada nas
normas, formalista, estatista e dogmática. As críticas a esta teoria fundem-se com o facto de a
dependência no direito já constituído afastar as fontes da realidade; da redução do direito à lei; e do facto
de incentivar o jurista a aplicar o direito de forma lógica e sem reflexão crítica.
Em contraste, a perspetiva fenomenológico-normativa destaca os modos que constituem direito.
Nesta perspetiva, as fontes de direito refletem o sentido do mesmo, em que este surge como validade
dever ser que é.
Metodonomologia
A metodonomologia é o caminho racionalmente percorrido para atingir um objetivo, neste caso,
juízo decisório. A metodonomologia jurídica é o pensamento que o direito faz de si próprio quando dialoga
com a realidade a que se dirige. Este é um problema de quid ius, consideramos a forma como o direito se
projeta na realidade e interage com a mesma.
ESCOLAS METÓDICAS
Surgiram no século XIX, numa perspetiva positivista, e são escolas do pensamento jurídico que
apresentam pontos de vista, ciências do direito e metodologias diferentes. Contudo, partilham a ideia do
direito enquanto objeto cognoscível e do pensamento jurídico como ciência semelhante, as ciências
exatas. A esta ideia corresponde um sistema jurídico fechado, pleno, autossuficiente e pré-definidor da
juridicidade.
1. Escola da Exegese
Esta escola identifica o direito com a lei, a lei era dotada de racionalidade universal, o que lhe
garantia validade. Esta validade era puramente formal, pois dependia da legitimação política, o que fazia
do poder legislativo o único capaz de criar direito, tornando a lei a única fonte de direito e,
consequentemente, fazendo com que o direito fosse exclusivamente criado sob a forma de lei.
O sistema jurídico da Escola da Exegese era um dogma de plenitude lógica, isto é, era o direito
positivado sob a forma de lei que definia a realidade juridicamente relevante. Qualquer alteração ao
sistema jurídico ou às normas tinha de ser introduzida pelo legislador e não por influencia da realidade,
surge assim o conceito de subjetivismo histórico, que define a vontade do legislador como a única forma
passível de interpretar a lei, era a determinação desta vontade expressa na lei que garantia coerência na
aplicação do direito.
Se um caso não estava diretamente previsto na lei – caso omisso – mas se revelasse
suficientemente semelhante à hipótese de uma norma a analogia legis permitia que a mesma fosse
aplicada ao caso em questão; se o caso não mostrasse semelhança suficiente, não era considerado
juridicamente relevante.
Para a Escola da Exegese, o sistema jurídico era uma construção sistemática, as normas estavam
organizadas de forma lógica e, por consequência, também o direito era aplicado de forma lógica sob um
esquema lógico dedutivo de aplicação da lei.
2. Escola Histórica
A Escola Histórica surgiu como forma de repúdio ao jusnaturalismo racionalista do iluminismo, à
pressuposição do ideal direito natural, intemporal e universal.
Esta escola rejeita a ideia de codificação da lei e da lei como única fonte de direito e reforça o papel
do costume e de que é direito o que está consagrado na prática. O direito surge como direito
consuetudinário, a Escola Histórica considera que o direito estava nas especificações culturais que o
costume densificava como direito e manifestava de forma objetiva nos institutos.
Os maiores problemas que o sistema jurídico enfrentava perante esta conceção eram, os de falta
de unidade, haviam contradições dentro dos estatutos e a falta de universalidade, existência de lacunas.
Na existência de um caso omisso, este podia ser resolvido por meio de criação de um novo
instituto, desde que o mesmo concordasse com a evolução prática do sistema.
1. Jurisprudência de Interesses
Surgiu no século no XX, em reação à Jurisprudência de Conceitos. Esta escola estabeleceu uma
condição que permitia uma parcial superação do positivismo, enquanto continuava a propor a obediência
perante a lei, no momento de aplicação do direito, esta era, contudo, uma obediência pensante, isto é,
uma obediência à intenção normativa da lei e não ao seu texto.
O pilar da jurisprudência de interesses é a perspetivação do direito através de interesses, ou seja, o
direito como um conflito de interesses. Nesta perspetiva, a construção de normas, será, então, feita a partir
de interesses causais, a norma surge como solução valoradora de um conflito de interesses.
O modo de constituição do direito implica o estudo do conflito de interesses na realidade/sociedade
em que se insere, impossibilitando a aplicação lógico-dedutiva do direito e tornando esta uma corrente
inerentemente prática. A interpretação torna-se, assim, fundamental para a aplicação do direito e
construção de um juízo decisório.
Nesta perspetiva, o direito identifica-se com as normas, mas numa perspetiva diferente, isto é, o
direito é assumidamente lacunoso, por ser incapaz de prever toda a ampla dimensão de situações
concretas, por isso, os casos omissos podem e devem ser integrados no sistema.
A própria jurisprudência de interesses acabou por ser superada, por diversas insuficiências:
sociológicas, ao assumir os interesses como critérios e fundamentos, não fazendo a sua distinção;
sistemáticas, a norma servia como fundamento, objeto e critério, não se fazendo valer dos outros estratos;
criteriológica, reduz as normas aos critérios; e filosófica, apesar de se fazer valer dos interesses, não
demonstra preocupação pela pessoa humana enquanto ser ético.
Interpretação Jurídica
A interpretação jurídica é o ato metodológico a partir do qual é possível a elaboração de critérios
para a solução de um caso concreto. É responsável pela determinação do sentido normativo da fonte
jurídica e dela obter orientação para a realização de direito em casos concretos.
- analogia legis: comparação entre 1 caso omisso e 1 caso previsto, procura-se um facto análogo
no enunciado da norma
- analogia iuris: recorre-se diretamente ao princípio geral do direito em que a norma estaria
fundamentada se existisse
- quando é impossível fazer um juízo analógico recorre-se ao cânone do julgador legislador –
art.10º/3 CC