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Sistema Jurídico

A normatividade jurídica tem de se objetivar e manifestar num sistema, esse sistema uno e
coerente é o Sistema Jurídico. Este traduz o modo como o conteúdo do direito se relacionada com a
realidade, bem como, o modo de objetivação da normatividade jurídica.
O Sistema Jurídico Português é, um sistema: aberto (recebe continuamente conteúdos
normativos), constituendo (está em permanente constituição), pluridimensional (constituído por vários
elementos e estratificado), não autossuficiente, não pleno (incapaz de resolver todos os problemas
juridicamente relevantes), de índole material e de dinâmica regressiva (construção regressiva a posteriori).
Como não se limita à lei o Sistema Jurídico Português apresenta uma diversidade de estratos
(pluridimensionalidade), nos quais encontramos:

fundamentos, que são racionalizações justificativas de inteligibilidade, isto é, são a base axiológica da
fundamentação; e critérios, operadores práticos mobilizáveis para a resolução de problemas concretos.
Existe entre os critérios e os fundamentos uma relação de fundamentação, uma vez que, os critérios
encontram a sua sustentação matérias nos fundamentos, que por sua vez, conferem sentido aos critérios.

ESTATUTOS DO SJ

*ignorar o estatuto do sentido do direito*

1. Princípios Normativos
Os princípios normativos são manifestações da fundamentação da juridicidade vigente, neles
radica a validade de todo o sistema jurídico. Estes são os fundamentos materiais que permitem construir
normas e critérios vigente. Apesar de não oferecerem respostas diretas a problemas prático, a sua
interpretação é mediata, uma vez que, estes são o fundamento do critério que oferece a solução.
Os princípios normativos podem ser classificados de várias formas e de acordo com diferentes
critérios (sendo o mais relevante para a questão) como a sua posição no sistema jurídico, que distingue,
aqueles que são princípios suprapositivos, isto é, princípios que representam pilares do sistema jurídico
e que emanam e manifestam a ideia de direito, pela sua fundamentação material, são considerados
superiores aos outros princípios; dos que são princípios transpositivos, ou seja, princípios que são
concretizações de princípios suprapositivos, estes apresentam-se como pilares fundamentais de uma área
dogmática; e por último dos princípios positivos, que são princípios que estão consagrados nas próprias
normas e, como tal, já estão positivados.
Outros critérios de distinção (que não devem sair em exame, mas vou pôr aqui a encher chouriços),
são: o modo de objetivação, que distingue princípios escritos (que estão positivados por razões de certeza
e segurança) de princípios não escritos (estão na consciência geral, mas não estão escritos); a
intencionalidade normativa que diferencia princípios abertos (reedificações não estão estabelecidas como
tal nos códigos) de princípios em forma de norma (não são normas, mas apresentam-se como uma
solução concreta); origem normativa – tou com preguiça.
O estrato dos princípios normativos goza de uma presunção de validade, isto é, se os referentes
de fundamentação são materialmente válidos, os princípios que neles se fundamentam também o serão.

2. Normas Legais
As normas legais são critérios gerais e abstratos que se apresentam como critérios de resolução de
problemas juridicamente relevantes. As normas são interpretadas de acordo com os princípios normativos
de forma a evitar contradições ou situações de injustiça, desta forma, são reconhecíveis na norma duas
facetas: a ratio legis, a faceta geral e abstrata que se relaciona com a realidade e faceta iuris que
representa a relação entre a norma e o princípio em que esta se fundamenta.
Assim como os princípios, as normas podem ser distinguidas e classificadas.
De acordo com o critério modo-lógico existem: normas autónomas (conteúdo completo e
independente capazes de produzir conteúdo por si só); normas não autónomas (são de qualquer forma
incompletas e por isso incapazes de produzir conteúdo por si só, o que implica a remissão para outra
norma), que podem ser n. remissivas implícitas, n. remissivas explícitas (nestas é feita uma presunção -
art.349ºCC). Podemos ainda distinguir as normas de acordo com a especialidade territorial – normas
globais, regionais e locais. Podemos ainda classifica-las quanto à sanção que aplicam – leis mais que
perfeitas (nulidade e sanção), leis perfeitas (nulidade), leis menos que perfeitas (coimas e multas) e leis
imperfeitas (sem qualquer tipo de sanção).
As normas podem ser distinguidas de acordo com a sua especialidade material, isto é, normas
que estabelecem vínculos com a ação e precisam de ser entendidas tendo em conta a autonomia
privada/vontade dos destinatários. Aqui distinguimos, as normas imperativas, normas cuja aplicação não
depende da vontade dos sujeitos e, por isso, são impostas independentemente da mesma, se exigirem um
comportamento são normas imperativas precetivas, se proibirem um comportamento são normas
imperativas proibitivas; das normas permissivas, normas cuja produção de efeitos depende da vontade
dos sujeitos/destinatários, estas podem ser facultativas (se permitirem um comportamento), interpretativas
in strictu (se limitarem o alcance e sentidos de certas expressões passíveis de dúvida) ou supletivas (se
estabelecerem uma solução na ausência de manifestação dos destinatários).
As normas legais gozam de uma presunção de autoridade, uma vez que, no sistema legal em
que se inserem beneficiam (da conjugação entre) validade jurídica e legitimidade política.

3. Jurisprudência Judicial
A jurisprudência corresponde ao momento em que o direito é diretamente convocado para a
resolução de problemas concretos. Encontramos neste estrato, as decisões judiciais aquando a sua
constituição e, depois, enquanto precedentes, uma vez que, cada decisão judicativa pode, no futuro, ser
utilizada como exemplo de resolução para casos semelhantes.
A jurisprudência goza de uma presunção de justeza, que lhe é atribuída pelo facto de as
decisões judiciais terem valor normativamente constituído e como critérios puderem ser invocadas para a
resolução de casos futuros, enquanto se mostrarem adequados.

4. Dogmática
A dogmática é conhecida como o direito dos juristas. Esta, para além de refletir o direito vigente é
responsável pela reflexão constitutiva e preposição de modelos de solução para problemas juridicamente
relevantes. A este estrato competem 5 funções – estabilizadora (compensa as falhas de outros estratos),
dinamizadora (propõe soluções ex-novo), desoneradora, técnica (confere instrumentos técnicos de fixação
de sentido) e de controlo (forma estruturas do pensamento).
À dogmática dirige-se uma presunção de racionalidade, racionalidade esta de fundamentação,
sustentada pela argumentação.

5. Regras Procedimentais
As regras procedimentais são critérios técnicos que os juristas mobilizam para o desempenhar da
sua função, são cânones metodológicos mobilizados para a seleção e interpretação de normas.
Por serem considerados operadores jurídicos essenciais para o suporte do direito enquanto
sistema jurídico, é atribuída às regras procedimentais uma presunção de prestabilidade.

6. Realidade Jurídica
A realidade jurídica trata de reconhecer a autonomia normativa da realidade juridicamente
relevante, no plano de posicionamento do sistema jurídico, este é por isso um momento de ação histórico
da normatividade jurídica.
Presunção de eficácia ??????????? je ne ce pas :)
Fontes de Direito
Em termos gerais, é sobre saber como se constitui e manifesta o direito positivamente vigente
numa determinada comunidade histórica.
Para o positivismo, o problema das fontes de direito era algo que podia ser respondido através da
convocação de critérios legais, uma vez que, eram estas que consagravam as fontes de direito.
No sistema jurídico português, as fontes de direito estão consagradas nos artigos 1º a 4º e 348º/1
do Código Civil.

Numa perspetiva política- constitucional, as fontes de direito são aquilo que o poder legitimado
(legislativo) definir como tal. A legitimidade do direito vinha do facto de ser criado por instâncias com
legitimidade para criar normas juridicamente obrigatórias. Esta é assim, uma perspetiva polarizada nas
normas, formalista, estatista e dogmática. As críticas a esta teoria fundem-se com o facto de a
dependência no direito já constituído afastar as fontes da realidade; da redução do direito à lei; e do facto
de incentivar o jurista a aplicar o direito de forma lógica e sem reflexão crítica.
Em contraste, a perspetiva fenomenológico-normativa destaca os modos que constituem direito.
Nesta perspetiva, as fontes de direito refletem o sentido do mesmo, em que este surge como validade
dever ser que é.

EXPERIÊNCIAS JURÍDICAS CONSTITUINTES (Modos Constitutivos de Direito???)


1) Experiência Consuetudinária
Esta experiência resulta da formação do costume como fonte de direito. O costume jurídico foca-se
na observância reiterada e uniforme de comportamentos, que pelo seu conteúdo, fundamento e
consistência se tornam vinculantes. Enquanto fonte este implica um corpus (comportamento reiterado) e
um animus (convicção de obrigatoriedade).
Aqui a instância criadora e recetora de direito é a mesma, a sociedade, este é, portanto, um modo
constitutivo de índole social.
O costume jurídico é entendido como uma prática com força vinculante e, como tal, é observado
como norma jurídica de comportamento.
Esta experiência jurídica assenta na força do tempo, neste sentido, é uma prática reiterada,
uniforme e social, acompanhada pela convicção de obrigatoriedade.

2) Experiência Jurídica Constituinte Judicial


Esta experiência concentra-se no juízo decisório. Assume uma índole prudencial, uma vez que, o
que está em causa é um juízo enquanto ponderação prática.
Nesta experiência o direito é criado no momento em que se realiza em prol de um caso concreto.

3) Experiência Jurídica Constituinte Legislativa


Esta é uma experiência de índole estatal, com remissão para o poder político, politicamente
legislado para criar direito. Aqui a instância criadora de direito é o legislador e a instância destinatária a
sociedade.
A construção do direito apresenta-se como um conjunto pré-determinado de regras com vista
aplicação futura. A lei é, nesta experiência, o modo constituinte predominante.

PROCESSO CONSTITUTIVO DO DIREITO VIGENTE

Teoria Tradicional das Fontes de Direito


A teoria tradicional das fontes de direito reconhece que é fonte de direito apenas o que a lei
estabelece (perspetiva político – constitucional) , a lei surge como fonte crucial e principal de direito.
Neste sentido, se só a lei pode criar direito, o valor reconhecido aos modos constitutivos de direito
é aquele que a lei determinar, por isso, não é reconhecido à jurisprudência e à dogmática, o estatuto de
fonte de direito.
Segundo esta teoria, o processo constitutivo do direito implica vários momentos etapas para
determinar a validade e eficácia de cada uma destas fontes. A partir do momento em que um critério passa
por este processo, adquire vigência. Este processo reduz-se então a quatro momentos:
O momento material, que diz respeito à matéria prima do direito, responsável por definir quais as
situações juridicamente relevantes (uma vez que o direito não regulamenta ad liberum), a dimensão
material corresponde, então, ao leque de relações que para uma comunidade são juridicamente
relevantes, no entanto, só temos consciência da relevância jurídica de uma situação quando lhe
associamos o momento de validade.
O momento de validade, que corresponde ao momento em que o direito se afirma como instância
normativa, reconhece quais os problemas juridicamente relevantes e o seu sentido de resolução. É neste
momento que se afirma o sentido do que deve ser, ou seja, a intencionalidade normativa que fundamenta
a resposta a dar à realidade social.
O momento constituinte, é o resultado da forma como os dois primeiros momentos se articulam,
de forma a geral legislação, costume ou jurisprudência. É o momento em que os modos legítimos de
produção jurídica assimilam a validade. No momento constituinte, a legislação como polo fundamental da
constituição de direito vai trazer-nos razões pelas quais a dei é a fonte mais mobilizada. Contudo a própria
lei apresenta limitações, nas suas funções e limites normativos. Eis que a lei é limitada pelos limites:
funcional, este é um limite negativo que limita o que a lei pode ser chamada a fazer, isto é, existem
matéria que a lei não regula e, portanto, quem criar direito nessas matérias não cria lei; normativos
objetivos, existe consciência de que a realidade é mais ampla do que o universo de normas
predisponíveis e suscetíveis de orientar solução, e por isso, as leis pela forma como são constituídas
delimitam o âmbito da sua relevância e consequentemente ficam limitadas do ponto de vista objetivo, já
que existe a possibilidade de a realidade não corresponder à cristalização que a norma estabelece
(lacunas); normativos intencionais, por serem gerais e abstratas, as normas, mesmo que absorvam a
intencionalidade normativa de uma casa, sofrerão sempre de insuficiência intencional, isto é, uma
distância entre o plano geral e abstrato da norma e o plano concreto da realidade; normativos temporais,
situações em que a passagem do tempo se constitui um limite à lei, situações em que uma norma em vigor
é limitada no seu contacto com a realidade, por exemplo, quando uma norma deixa de ser a concretização
adequada de um princípio normativo, perde validade e torna-se caduca, ou, quando uma norma não se
adequa à realidade que se transformou, deixa de ser eficaz e, portanto, obsoleta; normativos da
realidade, corresponde a situações em que a norma não está, nem nunca esteve em consonância com o
sentido dos princípios normativos.
O momento de objetivação corresponde ao momento em que o direito se torna objetivo, positivo e
vigente.

Metodonomologia
A metodonomologia é o caminho racionalmente percorrido para atingir um objetivo, neste caso,
juízo decisório. A metodonomologia jurídica é o pensamento que o direito faz de si próprio quando dialoga
com a realidade a que se dirige. Este é um problema de quid ius, consideramos a forma como o direito se
projeta na realidade e interage com a mesma.

ESCOLAS METÓDICAS
Surgiram no século XIX, numa perspetiva positivista, e são escolas do pensamento jurídico que
apresentam pontos de vista, ciências do direito e metodologias diferentes. Contudo, partilham a ideia do
direito enquanto objeto cognoscível e do pensamento jurídico como ciência semelhante, as ciências
exatas. A esta ideia corresponde um sistema jurídico fechado, pleno, autossuficiente e pré-definidor da
juridicidade.

1. Escola da Exegese
Esta escola identifica o direito com a lei, a lei era dotada de racionalidade universal, o que lhe
garantia validade. Esta validade era puramente formal, pois dependia da legitimação política, o que fazia
do poder legislativo o único capaz de criar direito, tornando a lei a única fonte de direito e,
consequentemente, fazendo com que o direito fosse exclusivamente criado sob a forma de lei.
O sistema jurídico da Escola da Exegese era um dogma de plenitude lógica, isto é, era o direito
positivado sob a forma de lei que definia a realidade juridicamente relevante. Qualquer alteração ao
sistema jurídico ou às normas tinha de ser introduzida pelo legislador e não por influencia da realidade,
surge assim o conceito de subjetivismo histórico, que define a vontade do legislador como a única forma
passível de interpretar a lei, era a determinação desta vontade expressa na lei que garantia coerência na
aplicação do direito.
Se um caso não estava diretamente previsto na lei – caso omisso – mas se revelasse
suficientemente semelhante à hipótese de uma norma a analogia legis permitia que a mesma fosse
aplicada ao caso em questão; se o caso não mostrasse semelhança suficiente, não era considerado
juridicamente relevante.
Para a Escola da Exegese, o sistema jurídico era uma construção sistemática, as normas estavam
organizadas de forma lógica e, por consequência, também o direito era aplicado de forma lógica sob um
esquema lógico dedutivo de aplicação da lei.

2. Escola Histórica
A Escola Histórica surgiu como forma de repúdio ao jusnaturalismo racionalista do iluminismo, à
pressuposição do ideal direito natural, intemporal e universal.
Esta escola rejeita a ideia de codificação da lei e da lei como única fonte de direito e reforça o papel
do costume e de que é direito o que está consagrado na prática. O direito surge como direito
consuetudinário, a Escola Histórica considera que o direito estava nas especificações culturais que o
costume densificava como direito e manifestava de forma objetiva nos institutos.
Os maiores problemas que o sistema jurídico enfrentava perante esta conceção eram, os de falta
de unidade, haviam contradições dentro dos estatutos e a falta de universalidade, existência de lacunas.
Na existência de um caso omisso, este podia ser resolvido por meio de criação de um novo
instituto, desde que o mesmo concordasse com a evolução prática do sistema.

3. Jurisprudência dos Conceitos


A jurisprudência dos conceitos afirma-se como a ciência do direito através de um sistema de
conceitos, no qual a resolução de um caso concreto é feita através de operações de dedução e indução.
Afasta a relevância do material histórico e reforça a prevalência da construção científica, sobretudo na
dedução dos princípios jurídicos e posterior criação de conceitos.
Ihering, um dos autores desta escola, afirma que as normas eram o resultado dos dados
normativos históricos elaborados em proposições normativas gerais e abstratas. Esta ciência transformaria
as normas em: jurisprudência menor (formação de princípios gerais de direito) e jurisprudência maior
(construção conceitual e organização sistemática).
O metódo de constituição do direito da jurisprudência de conceitos consistia em destilar as normas
em enunciados cada vez mais gerais e abstratos, até resultarem nas formas mais simples e puras de
direito.
A forma como os conceitos se relacionam é demonstrada na Pirâmide de Putcha, esta estabelece
entre os conceitos relações de dedução e indução, isto é, uma vez constituído o 1º conceito, os outros são
obtidos de forma indutiva ou dedutiva a partir desse. No topo da pirâmide está o conceito de direito, e os
níveis a seguir (os mais elevados) correspondem ao níveis mais gerais e abstratos.
Era segundo este sistema que se aplicava a lei, as normas e leis eram remetidas a um sistema
conceitual e aplicadas segundo um silogismo subjuntivo.
O sistema jurídico era lógico formal de cariz axiomático dedutivo.

ESCOLAS METODOLÓGICAS DE ORIENTAÇÃO PRÁTICA


Surgem em consequência da superação do positivismo, como evolução das escolas
metodológicas. Mudam a sua perspetiva no que toca, ao facto de o direito não se reduzir à lei, o sistema
jurídico não ser fechado e o pensamento jurídico não ser teorético.

1. Jurisprudência de Interesses
Surgiu no século no XX, em reação à Jurisprudência de Conceitos. Esta escola estabeleceu uma
condição que permitia uma parcial superação do positivismo, enquanto continuava a propor a obediência
perante a lei, no momento de aplicação do direito, esta era, contudo, uma obediência pensante, isto é,
uma obediência à intenção normativa da lei e não ao seu texto.
O pilar da jurisprudência de interesses é a perspetivação do direito através de interesses, ou seja, o
direito como um conflito de interesses. Nesta perspetiva, a construção de normas, será, então, feita a partir
de interesses causais, a norma surge como solução valoradora de um conflito de interesses.
O modo de constituição do direito implica o estudo do conflito de interesses na realidade/sociedade
em que se insere, impossibilitando a aplicação lógico-dedutiva do direito e tornando esta uma corrente
inerentemente prática. A interpretação torna-se, assim, fundamental para a aplicação do direito e
construção de um juízo decisório.
Nesta perspetiva, o direito identifica-se com as normas, mas numa perspetiva diferente, isto é, o
direito é assumidamente lacunoso, por ser incapaz de prever toda a ampla dimensão de situações
concretas, por isso, os casos omissos podem e devem ser integrados no sistema.
A própria jurisprudência de interesses acabou por ser superada, por diversas insuficiências:
sociológicas, ao assumir os interesses como critérios e fundamentos, não fazendo a sua distinção;
sistemáticas, a norma servia como fundamento, objeto e critério, não se fazendo valer dos outros estratos;
criteriológica, reduz as normas aos critérios; e filosófica, apesar de se fazer valer dos interesses, não
demonstra preocupação pela pessoa humana enquanto ser ético.

Interpretação Jurídica
A interpretação jurídica é o ato metodológico a partir do qual é possível a elaboração de critérios
para a solução de um caso concreto. É responsável pela determinação do sentido normativo da fonte
jurídica e dela obter orientação para a realização de direito em casos concretos.

1. Teoria Tradicional da Interpretação Jurídica


Quando nos referimos à Teoria Tradicional da Interpretação Jurídica, referimo-nos geralmente às
perspetivas positivistas de interpretação, que assentam no sentido vinculativo da dimensão textual. Esta
perspetiva define a interpretação como a atividade cognitiva de tentar encontrar, fixar e conhecer os
significados de um texto que à partida não é claro, já que quando a norma fosse clara não precisava de
ser interpretada, porque não levantava dúvidas e objetivo da interpretação não é fazer juízos de valor.
Esta teoria assumia um sentido hermenêutico-normativo, a interpretação em abstrato e
independente da mobilização da norma.
O método/estrutura de interpretação partia-se em quatro:
- Objeto, que é o texto da lei/norma enquanto texto. Este é um objeto cognoscível e possível de
estudar de forma objetiva e lógica. As normas tinham de ser objetivadas num texto com hipótese e
estatuição, de forma a serem reduzidas a um enunciado literal. O texto da lei não se limitava a identificar a
lei, mas também a delimitar a sua interpretação possível. Esta delimitação era feita pelo elemento
gramatical (letra da lei), nas suas funções negativa e positiva, a sua função negativa, é autónoma e
vinculativa, no sentido em que, qualquer interpretação que não tenha ligação aos sentidos literais
admissíveis era excluída; a função positiva, determinava que os sentidos a admitir como possíveis tinham
de ter essa ligação (sentidos possíveis – sentidos admissíveis), esta poderia ser mais ou menos cabível na
letra, desde que cabível. Surge na função positiva, uma teoria que permite que propostas menos exigentes
aceitem que sejam tidos em conta todos os sentidos com mínima correspondência à letra da lei – teoria da
alusão (no art.9º/2 CC- a interpretação que se possa fazer tem de ter na lei o mínimo de correspondência
verbal).
- Objetivo, que é reconduzir os sentidos que a lei deve valer aos já consagrados no sistema.
Existem dentro da teoria tradicional doutrinas que divergem quanto ao que se deve retirar do texto da lei. A
teoria subjetivista acenta na autoridade do legislador, o objetivo era averiguar a sua vontade; a teoria
objetivista, determina como objetivo a determinação da vontade expressa pelo próprio texto da lei; existe
ainda uma teoria mista que conjuga estas duas – teoria de que é exemplo o art.9º CC, que consagra os
elementos relevantes para a interpretação, permitindo que esta vá além da lei (nº1- destaca a relevância
fundamental do texto, mas afasta a interpretação literal; nº2- teoria da alusão e exigência do mínimo de
correspondência verbal; nº3 – pressuposição do legislador razoável)
- Elementos – gramatical; histórico (realidade atual vs a realidade do momento de emanação da
norma); teleológico (ratio legis – objetivo prático da norma e razão de surgimento); sistemático
- Resultados, são a consequência da interpretação dos diferentes elementos, determinados pelo
grau de correspondência com a lei e amplitude dos sentidos. Estes podem ser: interpretação declarativa
(correspondência perfeita entre todos os elementos e sentido natural correspondente); interpretação
restritiva (sig. Gramatical mais amplo que o espírito); int. extensiva (sentido da letra menos amplo); int.
enunciativa (não se chega à conclusão, são necessários mecanismos lógicos), int. revogatória
(conjugação entre os elementos é impossível)
2. Superação da Teoria Tradicional da Interpretação Jurídica
Esta superação deu-se pelo estabelecimento de um novo objetivo – os interesses. É classificada
como uma teoria subjetivista teleológica, porque confia na razoabilidade formal e substancial do legislador
para considerar um determinado sentido problemático.
A Jurisprudência de Interesses apresenta uma perspetiva prático normativa, onde o ponto de
partida para a realização prática do direito é o caso e não as normas.
A jurisprudência de interesses postula uma obediência pensante, uma obediência à
intencionalidade normativa e objetivo prático da norma. E esta vontade pode estar no texto da lei ou ser
distinta do mesmo. O objeto da interpretação é, assim, a norma enquanto problema.
No momento da interpretação o intérprete deve reconstruir a ponderação do legislador perante
um caso concreto – objetivo.
O método interpretativo da jurisprudência de interesses passa por uma série de tarefas: em
primeiro lugar analisar a norma à luz de um problema em concreto, de seguida analisar a lei de forma
histórica (quais os interesses na sua origem) e por último, tentar estabelecer uma analogia entre os
interesses do caso concreto e a ponderação do legislador presente no enunciado da norma.
Nesta teoria, o elemento gramatical, não tem força vinculativa na pré-determinação de sentidos,
uma vez que, excluía antecipadamente situações e sentidos sem tee em conta o contexto da situação.
Assim, torna-se fundamental considerar o contexto prático do problema e identificar a sua relevância
jurídica.
A JI torna possível a contradição entre o comando da norma (texto) e a sua intencionalidade
normativa (espírito) e como o jurista deve obedecer à intencionalidade normativa, Heck propõe a
interpretação corretiva, que propõe que em certas situações seja permitido optar pela vontade normativa
em oposição ao texto, de forma a adaptá-la e corrigi-la em prol de um caso concreto.
Da interpretação feita pela JI surgem 2 tipos de resultados – interpretação teleológica (convocação
da norma para situações que não estejam prevista no seu âmbito de função e objetivo); exclusão
teleológica (são delimitados os casos em que a norma, por não se relevar adequada a pesar de funcional,
não pode ser aplicada)

Integração (de casos omissos)

- analogia legis: comparação entre 1 caso omisso e 1 caso previsto, procura-se um facto análogo
no enunciado da norma
- analogia iuris: recorre-se diretamente ao princípio geral do direito em que a norma estaria
fundamentada se existisse
- quando é impossível fazer um juízo analógico recorre-se ao cânone do julgador legislador –
art.10º/3 CC

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