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Direito da União Europeia

História
No final da II Guerra Mundial, o problema da recuperação, estabilização
e defesa da Europa colocou-se em especial acuidade. Os EUA haviam dado um
importante contributo na vitoria sobre as forças nazis e envolviam-se agora na
reconstrução da Europa, nomeadamente, através da garantia de defesa militar
face ao bloco comunista e do Plano de Marshall de reconstrução económica.
Em 9 de maio de 1950, Robert Schumann, ministro francês, avança com a
ideia de construção de uma comunidade europeia, que, através de realização
concretas e pacificas, conseguisse aprofundar a solidariedade de facto entre os
povos europeus com base num acervo de valores capazes de fazer face ao
totalitarismo, de base fascista, comunista e capitalista.

Os tratados fundadores
Este projeto assentou em 2 tratados: o primeiro foi o Tratado de Paris,
de 8 de abril de 1951, instituiu a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço,
tendo como contratantes a França, a República Federal Alemã, a Bélgica, a
Itália, a Holanda e o Luxemburgo. A SECA caraterizava-se pela sua
supremacia e federalismo funcional.
Em 1957 é celebrado o Tratado de Roma, pelo qual se institui a
Comunidade Económica Europeia (CEE). Previa-se, aí, um processo de
integração por fases, começando na criação de uma união aduaneira e
progredindo para o estabelecimento de um mercado único, assente na livre
circulação de mercadorias, pessoas, serviços e capitais.
Numa convenção anexa ao Tratado de Roma estabeleceu-se o Tribunal
de Justiça e o Parlamento Europeu, como órgãos comuns às 3 comunidades, e
o Comité Economico e Social, como órgão comum da CEE e da CEEA. Pela via
do Tratado de Bruxelas, de 8 de abril de 1965, operou-se a fusão dos
principais órgãos de direção e decisão das três comunidades, passando a
haver apenas um Conselho e uma Comissão.
A Cimeira de Haia. Em 1969, veio concretizar uma significativa
mudança, anunciando 3 objetivos primordiais:

 Alargamento: adesão do Reino Unido, Irlanda e Dinamarca (1973);


Grécia (1973); Portugal e Espanha (1986); Áustria, Finlândia e Suécia
(1995); países de Leste (2004);
 Aperfeiçoamento; o modo de financiamento das Comunidades deverá
ser progressivamente agilizado ou facilitado.
 Aprofundamento: ampliação das áreas de competência da EU.

Ato Único Europeu 1986


O Ato Único Europeu estabeleceu um fundamento convencional autónomo
para a cooperação política europeia. Este veio fazer uma revisão dos tratados
fundadores:

 Introduziu a ideia de criação de uma União Europeia nos objetivos do


tratado;
 Fez-se uma institucionalização do Conselho Europeu como instância de
cooperação política, não sujeito aos procedimentos dos órgãos das
Comunidades;
 Opera-se a primeira reforma do sistema institucional comunitário:
aumento das matérias decididas pelo Parlamento por maioria
qualificada, são criados novos procedimentos e decisão, o Conselho é
limitado no exercício das suas funções, prevê-se a criação de uma nova
instância jurisdicional.
 Aumento do leque de atribuições comunitárias.

O Tratado de Maastricht
Este tratado (ou Tratado da União Europeia), assinado m 1992, tinha dois
objetivos principais: criar a EU e alterar os tratados comunitários. As
principais alterações operadas com este tratado foram as seguintes:

 Criação da União Europeia;


 A CEE passa a designar-se só Comunidade Europeia (CEE);
 Introdução de políticas de cooperação intergovernamental nos domínios
da Política Externa e Criação do Comité das Regiões;
 Reconhecimento do estatuto de “cidadania europeia”;
 Afirmação dos princípios de fundamentais de delimitação de
competências entre Comunidade Europeia e os Estados-Membros;
 Reforço dos poderes do Parlamento;
 Criação de novas políticas, em educação, saúde, cultura, defesa dos
consumidores, etc.
 Criação de uma União Económica e Monetária.

A União Económica e Monetária


Esta é acompanhada pela previsão de um processo em 3 fases que deveria
conduzir, após 1 de janeiro de 1999, à instituição da moeda única. Foram
instituídos órgãos de competência especifica e de competência decisória. O
funcionamento do Banco Central Europeu, carateriza-se pela independência
relativamente aos Governos nacionais e às instituições europeias. Foram ainda
transferidas para o BCE competências monetárias e financeiras nos domínios
de emissão da moeda, da política monetária, da política cambial, da fixação de
taxas diretorias e da regulação das instituições de crédito.

A cidadania europeia
O conceito de cidadania europeia assenta no direito de livre circulação
residência, no direito de sufrágio ativo e passivo nas eleições municipais e
para o Parlamento Europeu, no direito à proteção diplomática fora da EU por
qualquer Estado-membro e no direito de petição e queixa perante os órgãos da
UE. A cidadania europeia funda-se num estatuto de igualdade jurídica,
assente no princípio da proibição da discriminação em relação de
nacionalidade. Trata-se de uma cidadania complementar e de sobreposição,
dependente das leis de nacionalidade dos Estados-membros, que não pretende
substituir.

Tratado de Amesterdão
Foi aprovado em 1997, entrando em vigor em 1999, tendo vindo a
alterar o Tratado da UE e os tratados das 3 comunidades. Este tratado veio
reforçar o fundamento democrático, de Estado de Direito e de direitos
humanos da UE. Entre as principais inovações conta-se a comunitarização de
algumas matérias do terceiro pilar- Justiça e Administração Interna. Verifica-
se a incorporação no Tratado do acervo dos acordos intergovernamentais do
sistema de Schengen. Noutro prisma, institui um procedimento de tutela
política do cumprimento dos direitos fundamentais, podendo levar à aplicação
de sanções ao Estado infrator.

Tratado de Nice (2003)


Os objetivos que presidiram à conclusão deste tratado foram:
o Reforma institucional: alteração da composição da Comissão e maioria
qualificada no Conselho;
o Desenvolvimento das cooperações reforçadas;
o Alargamento das competências do Tribunal de Justiça;
o Cooperação judiciária em matéria penal;

No centro das reformas institucionais levadas a cabo neste tratado esteve a


preocupação com os alargamentos que previam, e que, ocorrendo em 2004 e
2005, determinaram a entrada para a UE dos países da Europa de Leste.
Estas reformas manifestam um reforço do peso das Estados com mais
densidade demográfica.

Da Constituição Europeia as Tratado de Lisboa


Projeto de Tratado Constitucional Europeu
Após a entrada em vigor do Tratado de Nice, a UE sofre um período de
profunda mutação por 3 fatores principais:
o O alargamento da UE a 12 novos Estados-membros (na sua maioria ex-
países comunistas).
o A refundação constituintes da UE devido à cessação de vigência do
Tratado de Paris, em 2002;
o O aumento das áreas de atuação da União Europeia fez com que o
direito comunitário aumentasse as suas áreas de tensão com o direito
constitucional. O Tribunal de Justiça da UE foi transformando os
Tratados numa verdadeira Carta Constitucional. Na generalidade dos
Estados-membros o termo Constituição surge, em regra, ligado à
expressão última de soberania de uma comunidade política
independente. Assim, sustentam-se duas posições:
a) Alguns defendem que a UE, por exercer prerrogativas de
soberania, tem forçosamente de ter uma Constituição;
b) Outros duvidam que a dita constitucionalização dos tratados
constitutivos tenha atingido um estado de plenitude
constituinte que implique a criação de uma nova Grudnorm.
Prende-se aqui a problemática de revisão dos tratados. O art.48º TUE
estabelecia as normas que regulam o procedimento para a sua revisão, à
semelhança das normas constitucionais que regulam o poder constituinte
derivado. A dimensão constitucional dos tratados parece prevalecer sobre a
natureza jurídico-internacional. Em todo o caso, ele ainda não foi ao ponto de
desativar a soberania internacional dos Estados-membros transformando-os
em meros Estados federados. Em 2001, os Chefes de Estado e de Governo
da UE decidiram convocar uma Convenção sobre o Futuro da Europa, cujos
trabalhos decorreram entre 2002 e 2003. O Projeto de Tratado Constitucional
foi assinado em 29 de outubro de 2004. As principais manifestações do
carater constitucional deste tratado eram:

 A expressão “constituição”, claramente assumida no documento;


 A adoção dum hino, de uma bandeira e da divida de “unidade na
diversidade”;
 Adoção de uma carta de Direitos Fundamentais da UE;
 Os regulamentos passam a ser designados leis e as diretivas leis-
quadro;
 Instituição de um Presidente do Conselho Europeu e um Ministro dos
Negócios Estrangeiros;
 Reforço do princípio democrático no seio da UE;
 Abolição dos 3 pilares da CEECA e CE;
 O PTCE foi abandonado, pois um duplo “não” nos referendos em França
e Holanda determinaram a não ratificação daquele projeto.

Tratado de Lisboa
Foi assinado em 2007, mas só entrou em vigor m 2009. Este foi
ratificado pelos parlamentos de todos os Estados, exceto a Irlanda. Este
tratado funciona como uma solução de compromissos. Por um lado, se ele
mantém algumas caraterísticas do PTCE; por outro, ele introduz algumas
alterações no equilíbrio institucional que aquele projeto proponha.
Algumas alterações relativas às instituições da UE foram as seguintes:
 Dupla legitimidade democrática do edifício constitucional europeu;
 Simplificação do sistema jurídico;
 O Parlamento é reconhecido como legislador de pleno direito, em estrita
igualdade com o Conselho no processo legislativo ordinário, este vê,
ainda, crescer os seus poderes de controlo político;
 Reestruturação profunda do Conselho Europeu;
 O Conselho permanece como órgão central no exercício dos poderes
legislativo e executivo da UE;
 Consagração das funções da Comissão;
 Alteração do sistema jurisdicional;
 O BCE e o Tribunal de Contas são elevados à categoria de instituição;
 É atribuído aos Parlamentos Nacionais um papel de fiscalização da ação
da União.

Natureza jurídica do direito da união


1. Direito da UE- considerações gerais
O art. 47º TUE afirma expressamente que a União tem personalidade
jurídica.
A UE é herdeira de todo o direito comunitário adquirido. Além disso, a
existência de várias organizações internacionais no espaço europeu, de
diferente natureza, dotadas de normas jurídicas própria e estabelecendo entre
si um complexo relacionamento, pode suscitar alguma confusão concetual.
Assim, convém distinguir o direito da UE do direito europeu, do direito
internacional geral e do direito nacional.

2. Direito da UE e direito internacional


O direito da UE estabelece uma estreita relação com o direito internacional.
2.1. A presença do direito internacional na UE
O direito da UE estabelece uma relação íntima com o direito
internacional. Por um lado, o direito internacional esteve presente na
celebração dos tratados de Paris e Roma, instituidores da CECA, CEEA e CEE.
Estes tratados foram aprovados e ratificados de acordo com as regras que
regem os tratados internacionais entre Estados.
Por outro lados, o mesmo faz sentir sua influência no funcionamento do
Conselho Europeu e do Conselho, especialmente na sua formação de negócios
estrangeiros. O direito internacional mantém também a sua relevância no
quotidiano da UE disciplinando as relações que se estabelecem entre ale e
terceiros Estados e organizações internacionais.
Portanto, o direito da UE define os aspetos materiais, institucionais e
procedimentais em que se desenvolvem essas relações.
I. Ius Tanctum (poder de celebrar tratados internacionais): a
UE, tendo personalidade jurídica, pode celebrar tratados
com um ou mais Estados ou organizações internacionais
no âmbito da política externa e de segurança comum (art.
37º TUE).
II. Ius Lagacionis (possibilidade de estabelecer relações
diplomáticas e consulares): a UE pode estabelecer
delegações em países terceiros, organizações
internacionais e conferencias internacionais (arts. 32º e
35º TUE); a UE dispõe de privilégios e imunidades junto
dos próprios Estados membros, e vice-versa.
Note-se, ainda, que as relações entre os Estados membros se regem, ainda,
pelo Direito Internacional, exceto que o direito internacional tenha sido
preterido pelo direito comunitário. No entanto, litígios entre os Estados-
membros podem envolver direito internacional e direito da UE. Nesses casos,
deve aplicar-se o art-344º TFUE: os Estados-membros comprometem-se a não
submeter qualquer diferendo relativo à aplicação e interpretação de Tratados a
um modo de resolução diferente daqueles previstos. A violação desta norma
conduz a um processo por incumprimento do direito da UE, nos termos do
art.258º TFUE.

II.2. Relação entre direito da UE e direito internacional.


O direito da UE, ao mesmo tempo que procura estabelecer uma unidade
e continuidade material com os principais valores e princípios do direito
internacional, não hesita em salientar a sua autonomia ordenamental
relativamente ao direito internacional quando isso decorre dos seus valores
fundamentais.
As instituições da UE devem observar o direito internacional na sua
atuação, do mesmo modo, reconhece-se facilmente a subordinação das
instituições comunitárias aos princípios gerais de direito internacional e
reconhece-se à jurisprudência do Tribunal Internacional de Justiça a sua
qualidade como fone auxiliar de direito internacional.
Quanto aos tratados internacionais celebrados pela UE coloca-se a
questão de se saber em que termos e com que força jurídica se verifica a sua
aplicação ao nível do direito interno dos Estados-membros. Jurisprudência
comunitária não adota a posição de “one size fits all”. Distingue, por isso,
entre os vários tratados internacionais:

 GATT (1947): O TJUE entendeu que as obrigações dele resultantes não


são suficientemente precisas, determinadas e incondicionais para
serem diretamente aplicáveis e acionáveis pelos cidadãos europeus
junto dos tribunais nacionais.
 GATT/OMC (1994): O TJUE recusou o efeito dos acordos da OMC por
entender que os mesmo repousam em princípios contratuais flexíveis e
condicionais, negociáveis e moldáveis pelos poderes legislativo e
executivo.
A UE é uma organização supranacional dotada de caraterísticas
constitucionais. O mesmo estabelece, organiza e limita o exercício de poderes
de autoridade publica, ao nível da UE, com incidência nos domínios político,
legislativo, administrativo e judicial. E fá-lo com efeito direto e primazia sobre
o direito interno dos Estados.

As competências da UE são determinadas nos Tratados (art. 5º TUE). O art. 3º


TFUE enumera as competências exclusivas da UE. Por fim, o art. 352º TFUE
prevê as chamadas “competências implícitas” da UE. Isto conduz a que os
tribunais nacionais tenham a obrigação de desaplicar o direito interno
contrário ao direito da UE e de interpretar o direito interno do acordo com o
direito da UE.

3. A cidadania europeia
3.1 Cidadania e nacionalidade
A nacionalidade repousa num vínculo genuíno e efetivo a um determinado
Estado. A cidadania consiste no complexo de direitos que caraterizam uma
pessoa enquanto sujeito de uma determinada comunidade.

 A nacionalidade é um vínculo legal que corresponde ao direito a ter


direitos;
 A cidadania é um conjunto de direitos a que a nacionalidade dá acesso.

A cidadania, como conceito mais complexo, comporta 3 dimensões:


1. Dimensão civil: direito inerentes à liberdade individual, de expressão e
pensamento.
2. Dimensão política: direito de participação no poder político.
3. Dimensão social: direitos económicos e sociais.
A correspondência entre cidadania e nacionalidade não é garantida devido aos
desafios que hoje enfrenta a cidadania:

 Globalização: a nacionalidade nem sempre pressupõe a cidadania


 Multiculturalismo: a cidadania nem sempre pressupõe a nacionalidade.
3.2 Cidadania da União
A cidadania da UE resulta do art. 20º TFUE. A cidadania da União acresce à
cidadania nacional e não a substitui. Assem, quem é nacional de um Estado-
membro é, ipso facto, cidadão da União, sem necessidade de qualquer
declaração ou procedimento para o efeito. Por contrapartida, quem não é
nacional de um Estado membro da UE não é cidadão (mesmo que resida no
“território da UE”).
Este entendimento tem gerado críticas por alguns setores da doutrina devido
ao estatuto que é conferido a nacionais de países terceiros residentes na UE.
Há opiniões a favor da autonomização de um critério próprio para a definição
de “cidadania da União”, que desligue a cidadania da nacionalidade: deveria
prevalecer um critério de residência legal por tempo determinado.
Entre nós considera-se que a resposta mais viável seria a autonomização dos
critérios da nacionalidade dos Estados-membros.
De acordo com Miguel Poiares Maduro, este vínculo político que é a cidadania
europeia une os povos da Europa e decorre do compromisso de construir uma
nova forma de solidariedade cívica e política. A cidadania europeia reforça os
laços que unem os Estados e emancipa os cidadãos. Está em causa o
compromisso recíproco de abrir as comunidades políticas a outros cidadãos
europeus.
A cidadania da União é o substrato pessoal fundamental à União Europeia,
complementarmente à cidadania nacional.

3.3 Conteúdo da cidadania da União


a) Direito da livre circulação e permanência
Encontra-se consagrado no art.21º TFUE. Este é um corolário do princípio da
não discriminação em função da nacionalidade, tendo sido integrado no
Tratado de Amesterdão.
Todos os cidadãos da União têm o direito a circular e residir livremente no
território dos Estados membros, não se exigindo o exercício de uma atividade
económica. Este direito pressupõe ainda que seja conferido direito de
residência a familiares de um cidadão da União.
A conceção deste direito a outros familiares a cargo do cidadão da União, dos
quais este tenha de cuidar pessoalmente por motivos de saúde graves, ou a
outra pessoa com a qual mantenha uma relação permanente certificada, deve
ser facilitada pela legislação nacional.
Quanto ao direito de residência, sempre que for exercido por um período
superior a 3 meses, exige-se:

 Que o cidadão exerça uma atividade assalariada ou não assalariada ou


esteja inscrito num estabelecimento de ensino publico ou privado;
 Que o cidadão detenha seguro de doença e recursos suficientes.
O direito de residência permanente é concedido aos cidadão e família que
tenham residido legalmente por um período de 5 anos consecutivos no
território do Estado membro. O direito de residência permanente apenas se
perde por ausência superior a 2 anos.
A cidadania da União já não é apenas uma cidadania assente no mercado,
mas não é apenas uma plena cidadania dos valores. Com efeito, verificam-se
alguns desvios:

 Nem todas as pessoa colocadas em situação comparável têm o direito de


aceder à nacionalidade de um Estado membro e, deste modo, à
cidadania da União.
 Mesmo dentro da nacionalidade de um Estado subsiste alguma
diferenciação
b) Direitos políticos
Consagrados no art.22º TFUE. Estão aqui em causa os direitos:
(1): a eleger e ser eleito nas eleições municipais do Estado de residência;
(2): a eleger e ser eleito para o Parlamento Europeu. As regras aplicáveis às
eleições são definidas dominantemente ao nível nacional, desde que se
assegure o respeito pelo princípio da igualdade em razão da nacionalidade. Há
que advogue a necessidade de maior uniformidade no processo eleitoral para o
parlamento europeu. Porém, as normas relativas aquele processo eleitoral
constituem tão só princípios a serem respeitados pelos Estados.

c) Direito a proteção diplomática


Regulado no art.23º TFUE. Os cidadãos da União têm direito a proteção
diplomática e consular no território de Estados nos quais o Estado membro de
nacionalidade não está representado. Estas condições devem, no entanto, ser
determinadas por acordos internacionais.
As condições para a obtenção da proteção diplomática são:

 Ser nacional de um Estado membro da UE;


 Encontrar-se numa situação de dificuldade num país terceiro e
necessitar de proteção;
 Não existir um embaixador ou consulado do seu país acessível;
Os tipo de assistência que podem ser obtidos são:

 Assistência em caso de morte, acidente grave ou doença;


 Assistência em caso de prisão ou detenção;
 Assistência às vítimas de atos de violência;
 Repatriamento de cidadão da União
Com o Tratado de Lisboa determinou-se a criação do Serviço Europeu para a
Ação Externa que, sendo o corpo diplomático da UE, pode vir a ter
consequências nesta matéria.

d) Direito de Petição
Este direito encontra-se consagrado no art.24º TFUE. Segundo o disposto
neste artigo todos os cidadão da UE têm:
(1) Direito de petição ao Parlamento Europeu;
(2) Direito de petição ao Provedor de Justiça Europeu;
(3) Direito de se dirigir a qualquer umas das instituições europeias do art.
13º TUE por escrito. Este direito é também reconhecido a qualquer
pessoa singular ou coletiva residente ou sedeada num Estado-membro
(art. 24º/3 TFUE).
Art.25º TFUE: em coerência com o seu carater evolutivo e dinâmico, o
Conselho tem incluído novos direito no âmbito da cidadania da União,
designadamente:

 Direito ao nome;
 Direito à família
O âmbito da cidadania da União também conheceu grande desenvolvimento
com o Tratado de Lisboa, nomeadamente com A Carta dos Direitos
Fundamentais da União:
Art.11º/4 TUE: É um mecanismo de democracia participativa, onde se permite
a iniciativa dos cidadãos. Os organizadores da iniciativa devem formar um
comité formado por, pelo menos, 7 pessoas residentes em, pelo menos, 7
Estados-membros. A Comissão tem, neste âmbito, amplos poderes:
 Não registar uma iniciativa que seja considerada contraria aos valores
da União, ou que seja abusiva;
 Considerar inadmissível uma proposta se esta se referir a uma matéria
em que o ato jurídico da UE não possa ser adota por falta de
competências;
 Não iniciar um procedimento normativo ou de iniciar um procedimento
com conteúdo distinto do solicitado na iniciativa.

3.4. As limitações do conceito de cidadania


É fundamental evidenciar as críticas apontadas à cidadania da União:
 Estamos em face de um nível adicional de cidadania para um grupo que
não é mais do que uma ficção: o povo europeu;
 A ausência da caraterística expressa de deverosidade (dever de pagar
impostos) conduz a uma identidade europeia incipiente;
 O conceito de cidadania devia estar isolado do conceito de
nacionalidade dos Estados membros
 O conceito de cidadania comporta falhas de comunicação, pelo que, a
este respeito verifica-se uma opinião publica neutra ou negativa;
 Há que dar mais peso e relevância à dimensão participativa da
cidadania da EU, assim com já se verifica ao nível da sua dimensão
representativa.

4. Direito da UE como direito supranacional


O direito da UE é supranacional uma vez que estamos em face de uma
organização supranacional. Os traços característicos deste carater são os
seguintes:
 Personalidade jurídica- art.47º TUE;
 Poder de concluir tratados- art.218º TFUE;
 Responsabilidade- art.340º TFUE;
 Poder de criação autónoma do direito- art. 288º TFUE;
 Aplicabilidade direita e efeito direto- art.288º TFUE;
 Políticas comuns;
 Poder de revisão autónomo- art.48º TUE;
 Instituições autónomas- art.14º, 17º e 19º/2 TUE;
 Recursos próprios- art.311º TFUE;
 Jurisdição obrigatória- art.19º TUE.

Direito institucional da União Europeia


A dicotomia órgãos vs instituições
A UE apresenta hoje uma estrutura autónoma. No plano institucional, o
Tratado de Lisboa procurou criar as condições para uma maior funcionalidade
e eficácia e reforçar a democracia da UE. Deixou de existir a distinção entre 3
pilares:
1. Comunidade europeia (união económica e monetária);
2. Segurança comum (PESC);
3. Cooperação Policial e Judiciaria (JAI);
No entanto, materialmente a distinção continua a existir, sendo fácil
observar que se trata de 3 domínios distintos sujeitos a logicas diferentes,
embora relacionadas entre si.
As instituições são órgãos de soberania com poderes de direção e de
controlo mais fortes. Os restantes órgãos desemprenham funções
predominantemente auxiliares, como o Comité Economico, Social, etc.
É com base nesta distinção que iniciamos o estudo institucional da EU.
O elenco enunciado no tratado (art.13º TUE) esta em ordem decrescente de
importância, começando pelo Parlamento Europeu o órgão com legitimidade
democrática por excelência.
Estrutura
É possível classificar os órgãos da UE em categorias:

 Órgãos de direção politica- Parlamento Europeu, Conselho Europeu e o


Conselho;
 Órgãos de direção, execução e decisão;
 Órgãos auxiliares.
Quanto às competências:

 Internas
 Externas- intracomunitárias ou extracomunitárias.

Aspetos gerais do funcionamento das instituições e dos órgãos


 Autonomia: esta deve ser considerada numa dupla aceção. Autonomia
interna, as instituições têm poder de auto-organização, mediante a
provação de um regulamento interno próprio. Autonomia externa
falamos de um grau de independência da própria UE na sua relação
com os Estados-membros e outras entidade jurídicas.
 Função publica comunitária: os funcionários e agentes do órgãos e
instituições devem atuar com autonomia e imparcialidade.
 Privilégios e imunidades: A UE não beneficia de imunidade de
jurisdição.
 Regime linguístico: a UE tem 24 línguas oficiais.
 Sede: a localização das sedes das instituições consta de um Protocolo
específico.

O Parlamento Europeu
É composto pelos representantes dos cidadãos da União, eleitos por sufrágio
universal direto e secreto por um mandato de 5 anos. O regime interno do PE
define as seguintes questões:

 O estatuto do Deputado Europeu;


 A organização e atuação dos “partidos políticos ao nível europeu”;
 A composição das Comissões parlamentares permanentes e as
Delegações do Parlamento ao exterior;
 A quórum constitutivo do PE- 1/3 dos seus membros.

No art.14º/2 TUE, o número de representantes dos cidadãos da UE não pode


ser superior a 750 mais o Presidente (751). Limite mínimo de 6 representantes
por Estado-membro, e nenhum estado-membro pode ter mais de 96 lugares
no Parlamento.
O PE é composto pelo:
1. Presidente;
2. Pela Mesa- Presidente Vice-Presidente e questores;
3. Pela Conferencia de Presidentes
4. Pela Conferencia de Presidentes das Comissões;
5. Pela Conferencia dos Presidentes das Delegações;
Este funciona por Comissão e a decisão é tomada em plenário.

Votação do Parlamento
A regra de deliberação no PE é a maioria de votos expressos (art.231º TFUE). A
votação deverá sempre respeitar o quórum constitutivo: de 1/3 dos deputados.
Em matérias de grande sensibilidade, as regras são mais exigentes:
o Dupla maioria: 2/3 dos votos expressos correspondendo à maioria dos
deputados eleitos nos casos (art.234º TFUE)
o Maioria dos votos expressos, correspondendo à maioria dos deputados
eleitos em algumas decisões em matéria orçamental
o 3/5 dos votos expressos, correspondendo à maioria dos deputados
eleitos quando esteja em causa a confirmação de alterações ao
orçamento apresentado pelo Conselho e que este tenha rejeitado
(art.314º/7/d TFUE).
Funções do Parlamento
a) Função legislativa: o parlamento exerce esta função em conjunto com o
Conselho (art.14/1º TUE). No entanto, não vigora o princípio do
parlamentarismo com primazia democrático-legislativa, do PE, nem
vigora uma prerrogativa geral de iniciativa legislativa por parte do
Parlamento. Mas o PE, pode, por maioria, solicitar à Comissão que lhe
apresente propostas sobre questões carecidas de atos de execução dos
Tratados; caso esta não apresente a proposta deve justificar-se (art.
225º TFUE). O PE tem competência para participar nos procedimentos
de produção normativa. O Tratado de Lisboa veio equiparar o PE ao
Conselho, que passou a ser o processo legislativo ordinário.
b) Função de consulta: o PE desempenha importantes funções consultivas
(art. 14/2º TUE), podendo intervir em processo legislativo especial ou
na tomado de decisões do Conselho sem direito do voto. Ele é
consultado regularmente pelo Alto Representante sobre questões de
política externa, segurança e defesa (art.36º TUE). O parecer do PE
pode surgir inserido num verdadeiro procedimento normativo (art. 294º
TFUE).
c) Funções de nomeação e eleição: cabe-lhe eleger os seus membros,
Presidente e a sua Mesa (art.14/4º TFUE). Cabe-lhe ainda eleger o
Presidente da Comissão e dar voto de aprovação do colégio de comissão
antes da sua nomeação. Cabe também ao PE eleger o Provedor de
Justiça (art.228/2 º TFUE)
d) Funções de controlo de fiscalização: diversos órgãos têm dever de
informação para com o PE, devendo apresentar um relatório anual. O
PE tem ainda poderes de interpelação, audição (art.230º TFUE) e
inquérito (art. 226º TFUE).
e) Função de apreciação de petições: o PE tem competências para
apreciara as petições dos cidadãos. Os cidadãos da UE têm o direito de
petição nos termos do art. 20º/2/d TFUE.
f) Função de aprovação de moções de censura: o PE tem a faculdade de
aprovação de moções de censura à Comissão (art. 234º TFUE). A adoção
da moção de censura por maioria de 2/3 dos votos que representam a
maioria dos membros do PE conduz à demissão coletiva da Comissão.
g) Função orçamental: o PE exerce a função orçamental juntamente com o
Conselho (art.14º/1 TUE). A ambos cabe a elaboração e aprovação do
orçamento anual da UE (art.314º TFUE). O PE realiza ainda uma
atividade de controlo orçamental e financeiro da UE.
h) Função de controlo interorgânico: o PE tem legitimidade processual ativa
para interpor ações junto do TJUE (arts. 263º/2 e 265º TFUE) e
solicitar-lhe a emissão de pareceres (art. 218º/11 TFUE).
A Comissão Europeia
É um órgão colegial composto por pessoas independentes (art.17º TUE).
Esta é considerada a guardiã da ordem politica. Cabe-lhe proteger o interesse
geral da UE. Procura promover o bem-estar, de forma totalmente independente
dos Estados-membros (art.17º/3 TUE). Este é, portanto, um órgão colegial,
não governamental e de indivíduos. A sua composição é elaborada da seguinte
forma:
 Indigitação do Presidente da Comissão pelo Conselho Europeu e sua
aprovação pelo PE;
 Escolha dos Comissários pelo Conselho em acordo com o Presidente
tendo em conta as propostas dos Estados-membros;
 Aprovação global da Comissão pelos PE;
 Nomeação da comissão pelo Conselho Europeu por maioria qualificada.

Funções da Comissão
a) Funções de iniciativa: a esta cabe a tomada de iniciativa de
programação anual e plurianual da UE (art.17º/1 TUE). A sua iniciativa
assume um especial relevo no exercícios dos poderes legislativos. O
princípio geral do exclusivo da iniciativa legislativa da Comissão visa
assegurar que as iniciativas legislativas no seio da UE sejam motivadas
por uma avaliação dos interesses globais da União e não apenas por
uma avaliação nacional de interesses. Os desvios às propostas da
Comissão requerem unanimidade do Conselho. Também encontramos
poderes de iniciativa da Comissão no domínio da alteração dos Tratados
(art. 48º/2/6 TUE). Os poderes de iniciativa da Comissão estão sujeitos
as princípios da atribuição de competências, da subsidiariedade, da
proporcionalidade e do financiamento.
b) Função normativa: em princípio, os atos legislativos da EU só podem
ser adotados sob iniciativa da Comissão, salvo se expressamente os
Tratados dispuserem de modo diferente (art. 17º/2 TUE). A Comissão
dispõe de um poder significativo de decisão e confirmação, quanto ao
momento, conteúdo, forma, modo e densidade das medidas normativas
adotadas. A Comissão exerce poderes normativos próprios (poderes que
lhe são atribuídos diretamente pelos Tratados; art. 55º/3/d, 106º/3
TFUE) e poderes normativos delegados (existência de atos legislativos de
delegação de competências normativas da Comissão; art. 290º TFUE).
c) Função orçamental: também o exercício da função orçamental é da
iniciativa da União. A esta compete reunir as previsões das receitas e
das despesas para o exercício orçamental seguinte. O projeto do
Orçamento será apresentado ao PE e ao Conselho.
d) Função executiva (importante): a Comissão vela pela aplicação dos
Tratados e das medidas adotadas pelas Instituições comunitárias por
força destes (art. 17º/1 TUE). A mesma dispõe de competências
especificadas para a emissão de atos individuais concretos e de
execução (art. 105º 126º, 43º, etc TFUE). A função executiva implica
ainda o dever de execução do Orçamento juntamente com os Estados-
membros (317º TFUE).
e) Função de vinculação internacional: esta participa no processo de
vinculação internacional da UE, podendo formular recomendações ao
Conselho sobre as negociações (art.218º/3 TFUE).
f) Função de representação externa: a Comissão tem a oportunidade de
estabelecer uma ampla rede de contactos internacionais.
g) Função de representação dos Estados membros: a Comissão goza de
privilégios e imunidades. Cabe-lhe representar a UE juntos dos
tribunais nacionais.
h) Função de supervisão económica e orçamental: a Comissão está no
centro do sistema híbrido e multinível de governação financeira, e
orçamental da UE. Esta tem competências para desencadear
procedimentos de défice, divida e desequilíbrio macroeconómico
excessivos. No chamado Semestre Europeu os Estados-membros
submetem à Comissão os projetos de orçamento, cabendo a esta
controlar a observância dos requisitos mínimos para a conceção e
operação das leis orçamentais nacionais. A Comissão pode objetar os
projetos de orçamento nacionais e exigir alterações. A Comissão tem
ainda outros poderes de supervisão e controlo da disciplina orçamental
dos Estados, podendo conduzir à adoção de sanções.
i) Funções de controlo: a Comissão tem importantes poderes de
controlo, sob supervisão do TJUE (art.17º/1 TUE). Esta dispõe de
poderes de recolha de informação e verificações necessárias (art. 337º
TFUE), tem o dever de investigar queixas que lhe são apresentadas
pelos particulares e de controlar a utilização dos fundos pelos Estados,
tem o poder de intentar ações de incumprimento do direito da UE
contra os Estados membros de acordo com o disposto nos arts. 258º e
260º TFUE.

A Comissão Europeia e as demais instituições


A Comissão exerce as suas funções com independência face ao
Conselho e as Estados membros, mas pode apontar-se a sua dependência
política relativamente ao PE:

 Dimensão genérica: processo de nomeação; a designação do Presidente


da Comissão tem em conta o resultado das eleições para o PE;
 Dimensão funcional: coincidência dos mandatos; respostas às questões
dirigidas pelo PE; apresentação de um relatório anual ao PE;
constituição de comissões de inquérito.
 Dimensão extensiva: o PE pode aprovar moções de censura à Comissão,
conduzindo à sua demissão.

O estatuto da Comissão Europeia


Na CE as deliberações são tomadas por maioria dos seus membros,
desde que esteja reunido o número de comissários que corresponde ao
quórum constitutivo desse órgão. As decisões são tomadas:
1. Em reunião- processo oral;
2. Por processo escrito;
3. Mediante procedimento de habilitação ou de delegação nos seus
membros.
As reuniões não são publicas, mas as ordens de trabalho e as atas são
divulgadas. O Presidente da Comissão assume um papel de destaque, é este
que orienta politicamente a sua atividade e distribui as funções entre os
membros (art. 17º/6 TUE).

Eleição do Presidente da Comissão Europeia


O Presidente da Comissão tem de ser da área política que tem a maioria
do PE. Assim, ao votar para o PE, o eleitor está indiretamente a escolher
igualmente a comissão política.
O PE elege o Presidente da Comissão Europeia, sendo o candidato
definido pelo Conselho Europeu. Contudo a eleição é do PE. Isto acarreta 2
implicações:

 A responsabilidade pela escolha do Presidente da Comissão é partilhada


pelo Conselho e pelo PE;
 Por força do regimento do PE, o Presidente da Comissão indigitado deve
fazer um discurso indicado à orientação política da sua Comissão.
O Conselho
É um órgão da UE de legitimidade governamental e representativo dos
Estados membros, sendo composto por um representante de cada Estado a
nível ministerial, que terá poderes para vincular esse Estado (art. 16º TUE). A
presidência do Conselho é rotativa por 6 meses e assegurada, de forma igual,
pelos representantes dos Estados-membros. O Conselho é composto por
formações, tantas quanto os assuntos a debater. Há a possibilidade de uma
formação Jumbo, onde se associam ministros de várias pastas. O Conselho
reúne por convocação do seu Presidente, cabendo a iniciativa a si mesmo, a
um dos membros do Conselho, à Comissão ou ao Alto Representante.

Funções do Conselho
1. Função legislativa: o Conselho exerce a função legislativa junto com o
PE (art.16º/1 TUE). Ambos assumem o papel principal na criação do
direito secundário da UE.
2. Função orçamenta: o Conselho exerce a função orçamental juntamente
com o PE (art.16º/1 TUE). Ele aprecia o projeto de orçamento proposto
pela Comissão (art. 314º/2/3 TFUE).
3. Funções de coordenação: o Conselho exerce importantes funções de
definição das políticas e de coordenação e complementação,
nomeadamente no domínio económico, ou de competências paralelas
(art.4º/3, 5º, 6º e 16º/1 TUE).
4. Função de vinculação internacional da UE (arts. 216º e 218º TFUE): o
papel do Conselho é especialmente importante na fase de negociação,
ouvindo o PE sempre que tal seja exigido. No processo, ele deve seguir
as recomendações que lhe sejam formuladas pela Comissão ou pelo Alto
Representante.
5. Função de alteração dos tratados: o Conselho participa no processo de
alteração dos tratados recebendo propostas no processo de revisão
ordinária e remetendo-as para o Conselho Europeu (art. 48º/2 TUE).
6. Função de iniciativa: o Conselho pode solicitar estudos e propostas à
Comissão, tendo em vista a realização dos objetivos dos Tratados (art.
241º TFUE).
7. Função de Controlo: o Conselho goza de legitimidade processual ativa
para intentar ações de controlo da legalidade dos atos e das omissões
das instituições e órgãos da UE (arts. 263º e 265º TFUE).
8. Função de recursos humanos: o Conselho tem um papel importante no
fixação do vencimento, subsídios, abonos e pensões de alguns membros
de instituições (art.234º TFUE). Juntamente com o PE também lhe cabe
aprovar o Estatuto dos Funcionários e o regime aplicável a outros
agentes da UE (art. 336º TFUE).

Regras de votação no Conselho


A votação no Conselho opera-se por maioria simples dos seus membros, sendo
que vigora o princípio um Estado, um voto (art. 238º/1 TFUE). As abstenções
dos Estados-membros presentes ou representados não impedem a tomada de
decisão. Quando as matérias requerem deliberação por maioria qualificada, a
regra da votação pressupõe a ponderação entre Estados
grandes/médios/pequenos, e não “um Estado, um voto” (art.28º/2 TFUE).
Neste contexto vigora a regra da dupla maioria:

 A maioria qualificada corresponde a, pelo menos, 55% dos membros do


Conselho;
 Exige-se que estejam representados Estados-membros que reúnem, no
mínimo, 65% da população da União. A minoria de bloqueio deve ser
composta por, pelo menos, 4 membros do Conselho representativos de
mais de 35% da população da União.

O COREPER
O Comité dos Representantes Permanentes é um órgão auxiliar do Conselho,
composto pelos representantes dos Estados membros em Bruxelas, que
prepara os trabalhos do Conselho e exerce os mandatos que este lhe confia,
assegurando um ligação entre os Governos dos Estados membros e o
Conselho. As competências co CEREPER aplicam-se a todos os domínios da
atividade do Conselho, não obstante a existência de Comités específicos.

O Conselho Europeu
É composto pelos Chefes de Estado ou de Governo dos Estados
membros, pelo seu Presidente e pelo Presidente da Comissão. Nele participa,
ainda, o Alto Representante (art.art.15º/2 TUE). Os Chefes de Estado ou de
Governo podem ser assistidos por um Ministro e o Presidente da Comissão por
um membro da Comissão. Este, inicialmente, não era incluído no elenco de
instituições do Tratado da CE.
O Conselho Europeu é hoje o principal órgão de direção política da UE
(art.13º/2 TUE). Este elege o seu presidente por maioria qualificada, por um
mandato de 2 anos e meio, sendo que o Presidente eleito não pode exercer
qualquer mandato no seu país. O Presidente do Conselho Europeu tem as
seguintes funções:

 Preside e dinamiza os trabalhos do Conselho Europeu;


 Assegura a preparação e continuidade dos trabalhos;
 Atua no sentido de facilitar a coesão e o consenso;
 Apresenta um relatório ao PE após cada uma das reuniões do Conselho
Europeu;
O Presidente do Conselho Europeu não é o Presidente da UE, pois não assume
legitimidade democrática nem sequer tem direito a voto num conjunto amplo
de situações.

Funções do Conselho Europeu


a) Função de direção política: o conselho europeu é o órgão da UE
responsável por definir as respetivas orientações políticas gerais (art,
15º TUE). É este órgão que identifica os interesses estratégicos da UE e
estabelece os objetivos e orientações no domínio da PESC (art. 26º
TUE). Na prática, este poder de direção política confere-lhe um poder de
iniciativa.
b) Função de decisão: o Conselho Europeu tem capacidade de produzir
decisões jurídicas vinculativas. Nos casos de clausulas ponte, as
decisões de competência do Conselho podem ser remetidas para o
Conselho Europeu. Noutro prisma, em casos de suspensão do processo
legislativo ordinário, as decisões são remetidas para o CE (art. 82º/3
TFUE).
c) Função de nomeação: o Conselho nomeia o Alto Representante da
União para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança (art. 18º/1
TUE). Nomeia, ainda, o Presidente, Vice-presidentes e os Vogais da
Comissão Executiva do Banco Central (art. 283º TFUE).
d) Função de alteração dos Tratados: o Conselho Europeu decide por
maioria simples a analise das alterações propostas aos Tratados, no
processo de revisão ordinária (art. 48º/2/3 TUE). No processo de
revisão simplificado o Conselho Europeu assume um papel central (art.
48º/6 TUE).
e) Funções de avaliação e reflexão: no âmbito dos temas do terrorismo
(art.222º/4 TFUE) e o emprego (art. 148º/1 TFUE).
A deliberação do Conselho Europeu
Este dá à União os impulsos necessários ao seu desenvolvimento e define as
orientações e propriedades políticas gerais. As deliberações tomadas no sei do
Conselho Europeu são tomadas em regra por consenso (art. 15º/4 e 22º TUE)
e adotam o nome de conclusões da Presidência que podem incluir declarações,
orientações, resoluções e decisões. Estas decisões tem uma natureza
puramente política, não tendo eficácia jurídica.
Hoje o Conselho Europeu já tem a possibilidade de adoção de atos jurídicos,
mesmo que dirigidos a terceiros (arts. 263º e 265º TFUE). As decisões poderão
ser tomadas por:
1. Unanimidade (art. 236º/1 TFUE e 7º/2 TUE):
2. Maioria qualificada (arts. 15º/5 TUE, 235º/1, 236º TFUE);
3. Maioria simples (art. 235º/3 TFUE)

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