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Atuação acadêmica:
Professor do Curso de Graduação em Direito da Faculdade Paranaense (FACCAR)
Rolândia/Pr, Professor do Curso de Gradução em Direito e da Especialização em Filosofia
Política e Jurídica (UEL)/Pr.
Títulos:
Doutorando em Filosofia – Universidade Federal de Santa Catarina (2006 - )
Mestre em Direito Negocial – Universidade Estadual de Londrina (2003)
Especialista em Filosofia Política – Universidade Estadual de Londrina (1999)
Especialista em Direito Penal e Execução Penal – Universidade Norte do Paraná (1999)
Bacharel em Direito – Universidade Estadual de Londrina (1997)
MARCA COMUNITÁRIA NA UNIÃO EUROPÉIA
RESUMO:
1 INTRODUÇÃO
2 A UNIÃO EUROPÉIA
2
DROMI, Roberto; EKMEKDJIAN, Miguel A.; RIVERA, Julio C. Derecho Comunitario: Régimen del
Mercosur. Buenos Aires: Ediciones Ciudad Argentina, 1995, p. 336.
3
O destaque ao fato de que esse projeto opera em função da institucionalização do direito comunitário está
em que as propostas de unificação anteriores (império romano, “reich” alemão, etc.) tinham fundamento no
uso da força ou busca da submissão como mecanismo de unificação. Os tratados originários da União
Européia são: Tratado de Paris (firmado em 18 de abril de 1951, entrou em vigor em 23 jul. 1952) celebrado
entre Alemanha, França, Itália, Bélgica, Luxemburgo e Países Baixo, criou a primeira das três Comunidades
Européias, a Comunidade Européia do Carvão e do Aço (CECA). Tratados de Roma (firmados em 25 mar.
1957, entraram em vigor em 1 jan. 1958) instituíram a Comunidade Européia da Energia Atômica (CEEA),
também chamada EURATOM e a Comunidade Econômica Européia (CEE), também chamado de Tratado da
Comunidade Européia (TCE). Tratado de Bruxelas, ou Tratado de fusão dos Executivos, de 1 jul. 1967, o
qual estabeleceu instituições únicas para as três Comunidades Européias. O Tratado do Ato Único Europeu
(firmado em 28 fev. 1986) atribuiu novas competências à Comunidade e reforçou as políticas comunitárias
no sentido de se aperfeiçoar o mercado interno único. Tratado de Maastricht (firmado em 7 de fevereiro de
1992, entrou em vigor em 1 nov. 1993), também conhecido como Tratado da União Européia (TUE), alterou
a denominação das Comunidades para “União Européia”, estabeleceu uma síntese global da unificação
progressiva dos Estados-membros, conservando a CECA, CEE e CEEA, o caráter de sujeito de direito
internacional, permanecendo instituições separadas dentro da União. Tratado de Amsterdã (firmado em 2 out.
1997) revê e atualiza os textos dos tratados originários (TCE e TUE) (cf. OLIVEIRA, Odete Maria de. União
Européia: processo de integração e mutação. Curitiba: Juruá, 1999, p. 93-126. A normatização européia,
originária e derivada, está disponível em <http://europa.eu.int/eur-lex/pt/search/search_treaties.html>.
Estados-membros se reúne, pelo menos, uma vez a cada seis meses e objetiva definir as
linhas políticas e objetivos da União4.
Quanto ao processo de decisão comunitário, esse é de iniciativa da
Comissão das Comunidades Européias; ao Parlamento Europeu compete se pronunciar
sobre essas propostas; e, uma vez adotada a proposta pelo Conselho Europeu, compete à
Comissão executá-la5. Há ainda a produção normativa derivada. Essa se dá a partir do
desenho institucional dos Tratados constitutivos da União. De sorte que, a partir desse
direito originário, as instituições da UE elaboram o denominado direito derivado. As
espécies do direito comunitário derivado, podem ser ordenadas por ordem de importância e
abrangência de aplicação como: os regulamentos, as diretivas, as decisões (espécies
dirigidas de modo imperativo aos Estados-membros), recomendações e pareceres (de
caráter orientativo)6.
O quadro institucional conta ainda, com órgãos de natureza judicial e
administrativa: o Tribunal de Justiça das Comunidades Européias (TJCE), o Tribunal de
Primeira Instância e o Tribunal de Contas. O TJCE é órgão de natureza jurisdicional
integrado por 20 juízes encarregados de aplicar o direito comunitário e elucidar as questões
sobre a aplicação do mesmo existentes entre os Estados-membros da UE, as instituições
comunitárias ou mesmo entre particulares. O Tribunal de Primeira Instância foi concebido
para atuar em conjunto com o TJCE, àquele compete atuar como instância recursal aos atos
dos funcionários da UE e solucionar litígios entre particulares de forma geral nas áreas de:
concorrência; medidas antidumping; e, indenizações. Por fim, ao Tribunal de Contas
compete fiscalizar a execução do orçamento da União Européia7.
4
CASELLA, Paulo Borba. Comunidade européia e seu ordenamento jurídico. São Paulo: LTr, 1994, p. 106-
21; CONSELHO DA UNIÃO EUROPÉIA (União Européia). Guia informativo do Conselho da União
Européia. Luxemburgo: Serviço das Publicações Oficiais das Comunidades Européias, 2002; OLIVEIRA,
op. cit., 1999, p.129-73; SILVA, Roberto Luiz. Análise comparativa entre o sistema processual comunitário e
da integração. Scientia Iuris. Londrina, vol. 4, 2000, p. 273-4.
5
Além dessas instituições, a União Européia conta com uma série de órgãos consultivos que emitem
pareceres prévios às decisões sobre os temas de sua competência. Entre eles figuram o Comitê Econômico e
Social, composto por 222 membros provenientes dos agentes econômicos (sindicatos, organizações
empresariais ou profissionais, etc) e o Comitê das Regiões, também formado por 222 representantes de
entidades regionais e locais da União. Cite-se o Banco Europeu de Investimento e Banco Central Europeu
(cf. <http://www.comdelbra.org.br/pt/about_us/4.htm>). Há, ainda, quinze agências especializadas que
desempenham tarefas específicas de carácter técnico, científico ou de gestão, cf. subseção 2.1.
6
Casella acrescenta ao direito derivado outros atos comunitários de ordem interna, não previstos pelos
Tratados, abrangendo decisões, declarações, deliberações, resoluções, programas de ação e conclusões (cf.
CASELLA, op. cit., p. 123). Silva completa o direito comunitário com adição dos Acordos internacionais
anteriores e posteriores à constituição das Comunidades, Convenções entre Estados-membros, princípios
gerais do direito, jurisprudência, e o direito supletivo, para preencher lacunas baseando-se no direito
internacional público e direito nacional dos Estados-membros (cf. SILVA, op. cit., p. 275).
7
OLIVEIRA, op. cit., p.173-200; cf. <http://www.comdelbra.org.br/pt/about_us/4.htm>.
Embora sem função legislativa, o TJCE e o Tribunal de Primeira
Instância, muito contribuíram para elaboração e desenvolvimento do direito comunitário.
Por meio de controle de adequação do direito derivado dos Tratados, os órgãos judiciais
garantiram a uniformidade de aplicação, desenvolvendo e esclarecendo o conteúdo das
normas comunitárias8.
Uma vez apresentada a estrutura institucional, deve-se indicar que a
concretização do princípio da liberdade de mercado estabelecida no TCE9, existe como
paradigma central de sua atuação. A ponto do direito comunitário europeu, por meio do
trabalho interpretativo realizado pelos tribunais comunitários, ser entendido como
verdadeiro direito garantidor da iniciativa econômica.
Efetivamente, na UE, liberdade e mercado constituem princípios que
orientam a formação do seu regime jurídico. É o que dispõe o Tratado de Roma (TCE) no
art. 3, “f”, quando determina que para alcançar os fins enunciados no presente tratado,
deve-se estabelecer “Um regime que garanta que a concorrência não seja falseada no
mercado interno”10.
Importante esclarecer que a instituição da livre concorrência num âmbito
de mercado unificado não se limita ao desaparecimento de barreiras aduaneiras, mas
também à proibição de eliminar, restringir ou desvirtuar o mercado por meio de acordos
privados ou práticas concertadas paralelas. Envolve também a proibição de abusar de
posições de domínio alcançadas no mercado, que de tal forma desvirtuariam os objetivos
de liberalização inerente à integração econômica11.
Isso pode ser percebido quando as autoridades comunitárias atuam
fiscalizando e notificando Estados-membros nos casos em que discriminem os produtos,
serviços ou nacionais de outros Estados. Inclusive com a atribuição de competência para os
8
Art. 3, “f”, TCE a partir da revisão operada pelo Tratado de Amsterdã é art. 3, “g”; CASELLA, op. cit., p.
122; OLIVEIRA, op. cit., p. 17. Os órgãos judiciais nacionais também participam do sistema comunitário,
por via reflexa, pois na medida em que é gerado pelos organismos jurídicos próprios, o direito comunitário
incorpora-se ao ordenamento jurídico de cada Estados-Membros, num movimento de unificação jurídica
(SILVA, op. cit., p. 274-5).
9
Arts. 30 a 34, TCE atuais 28 e 29, reformas introduzidas pelo Tratado de Amsterdã.
10
DROMI; EKMEKDJIAN; RIVERA. op.cit., p. 339. O TCE, na sua Parte III (políticas da Comunidade
Européia) Título I (livre circulação de mercadorias), Capítulo I (A união aduaneira) dispõe quanto às normas
sobre a concorrência. Este Capítulo está dividido em três seções, que contém disposições aplicáveis às
empresas (arts. 85 a 90), práticas de “dumping” (art. 91) e incentivos outorgados pelos Estados (arts. 92 a
94).
11
DROMI; EKMEKDJIAN; RIVERA. op.cit., p. 336-7.
tribunais comunitários para julgar a validade de atos normativos internos dos Estados-
membros12.
O Tratado de Roma consagra além de um regime jurídico de
concorrência, objetivos econômicos e sociais fundamentais, que permitem uma ampla
existência do regime econômico comunitário e dos regimes econômicos nacionais, guiados
pela imperatividade das disposições do ordenamento jurídico da UE, comprometida a
promover “a coesão económica (sic) e social e a solidariedade entre os Estados-
membros”13.
A concorrência permitida é a denominada efetiva (“workable
competition”), ou seja, aquela que garante a presença no mercado de um número de
empresas independentes funcionando em condições a proporcionar aos consumidores uma
razoável possibilidade de escolha14.
Agência Européia para a Segurança e a Saúde no Trabalho; Instituto Comunitário das Variedades Vegetais;
Centro de Tradução dos Organismos da União Européia; Observatório Europeu do Racismo e da Xenofobia;
Agência Européia de Reconstrução; Autoridade Européia para a Segurança dos Alimentos; Agência Européia
da Segurança Marítima; Agência Européia para a Segurança da Aviação (Disponível em:
<http://europa.eu.int/agencies/index_pt.htm>. Acesso em 28 mar. 2003).
16
Arts. 111 a 139, RMC.
17
cf. art. 2, RMC; CASADO CERVIÑO, op. cit., p. 120; INSTITUTO DE HARMONIZAÇÃO NO
MERCADO INTERNO (União Européia). Marcas, desenhos e modelos. Luxemburgo: Serviço das
Publicações Oficiais das Comunidades Européias, 1996, p. 8. Cabe ao IHMI equilibrar o seu orçamento
através de receitas próprias, principalmente através da cobrança de taxas relativas ao registro ou à renovação
dos títulos de proteção (art. 134, RMC).
18
O Boletim do IHMI difunde a informação contida no registro sob a forma de uma publicação impressa,
incluindo reproduções policromáticas relativamente às marcas que tenham reivindicado a cor, cf.
INSTITUTO, op. cit., p. 26.
19
Art. 119 e 120, RMC.
20
Art. 121, RMC.
21
Art. 133, RMC.
qualquer terceiro, que esteja direta ou indiretamente afetado pelos atos cuja legalidade se
questiona22.
Por fim, o pedido de marca comunitária pode ser apresentado em
qualquer uma das línguas oficiais da União Européia 23 e garante uma proteção uniforme
para o sinal em todo o território da UE. Assim, o IHMI é responsável por administrar esse
regime de concessão, uso e proteção da marca comunitária.
22
cf. art. 118, RMC. De sorte que, o IHMI partilha com os órgãos jurisdicionais dos Estados-membros da
União Européia a tarefa de decidir sobre os pedidos de concessão e invalidação dos registros, cf. CASADO
CERVIÑO, op. cit., p. 121; e, INSTITUTO, op. cit., p. 8.
23
Arts. 115 e 116, RMC. cf. INSTITUTO, op. cit., p. 16. Enquanto que os procedimentos posteriores ao
registro podem implicar numa escolha limitada às cinco línguas do IHMI. Ou seja, já no momento do
depósito do pedido, o requerente deverá indicar uma segunda língua, escolhida entre as cinco línguas do
IHMI. Por via de conseqüência, essa segunda língua será utilizada em caso de processo de oposição e de ação
de extinção ou de anulação.
24
A expressão direito transnacional é atribuída à Philip Jessup, cf. JESSUP, Philip C. Direito transnacional.
Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1965.
Esclarecem Dinh, Daillier e Pellet, que direito internacional e direito
transnacional, das organizações internacionais, não devem ser considerados como regimes
jurídicos distintos. Isso porque tal afirmação seria desconhecer que o direito internacional
pode evoluir e dar por certo que o “inter-estatismo” clássico é da natureza do direito
internacional, “in verbis”:
30
SILVA, Roberto Luiz. Direito comunitário e de integração. Porto Alegre: Síntese, 1999, p. 80-1.
31
Efetivamente, o art. 2 do Tratado da Comunidade Européia (TCE) dispõe que, a UE, tem como missão,
promover, em toda a Comunidade, o desenvolvimento harmonioso, equilibrado e sustentável das atividades
econômicas, a coesão social e a solidariedade entre os Estados-membros, cf.
<http://europa.eu.int/eur-lex/pt/search/search_treaties.html>.
32
cf. art. 16, RMC; sobre os vários direitos nacionais cf. INSTITUTO DE HARMONIZAÇÃO DO
MERCADO INTERNO (União Européia). Derecho nacional y marca comunitária. 2 ed. Alicante: IHMI,
2002.
registro de marca nacional anterior. O requerente ou o titular de uma marca comunitária
também poderá renunciar do registro de sua marca nacional e continuar beneficiando-se
dos direitos que já havia adquirido com dita marca; b) um pedido de marca comunitária, ou
a sua titularidade, poderá transformar-se em marca nacional, conservando sua data de
prioridade, quando o pedido de marca comunitária for retirado ou quando a marca
comunitária deixe de produzir efeitos; c) ainda quando os efeitos da marca se
determinarem exclusivamente pelas disposições do RMC e dos Regulamentos que o
complementam, as infrações contra as marcas comunitárias se regerão pelo direito nacional
sobre infrações contra marcas nacionais33.
A regra geral é que, enquanto objeto de propriedade, a marca comunitária
é considerada em sua totalidade e para o conjunto do território da UE como uma marca
nacional registrada no Estado-membro no qual o titular da marca tenha sua sede ou seu
domicílio. Por via de conseqüência, estes atos serão regidos pela lei nacional aplicável. Se
o titular da marca não tem sua sede ou seu domicílio num Estado-membro suas ações serão
regidas pela lei espanhola, Estado em que se encontra a sede do IHMI34.
Por exemplo, no que se refere às marcas, no território da UE, os cidadãos
europeus gozam da possibilidade da proteção comunitária de seus direitos de titularidade.
Enquanto que o direito internacional é elaborado a partir de negociações na qual os Estados
através de mútuas concessões firmam um acordo. No regime jurídico previsto no RMC,
encontram-se princípios e regras elaborados por um órgão comunitário, no qual a vontade
dos Estados não é computada de modo simétrico e além dos interesses estatais são
regulados também interesses da organização internacional e dos indivíduos.
Recorde-se, um dos princípios fundamentais da regulamentação do
comércio do direito internacional, o princípio da nação mais favorecida, dispõe que todas
as condições de tratamento mais favorável concedidas de modo particularizado entre
Estados, devem ser expandidas ao universo multilateral dos contratantes do Acordo OMC.
Enquanto que, na UE, o órgão supranacional, estabelece um regime de tratamento
preferencial entre poucos Estados e que não se aplica a terceiros Estados, o que, em tese,
contraria frontalmente o princípio da nação mais favorecida da OMC (e do TRIPs) 35.
33
cf. arts. 29, 32 e 14, RMC; cf. CASADO CERVIÑO, op. cit., p. 151-2.
34
Ibid., p. 128.
35
SOARES, Guido F. S. A compatibilização da Aladi e do Mercosul com o GATT. Boletim de Integração
Latino-Americana n. 16, jan./abr. 1995, p. 21. O art. XXIV, § 4o., do Acordo GATT dispõe: “Para os fins da
aplicação do presente artigo, entende-se por território aduaneiro qualquer território para o qual são mantidas
tarifas aduaneiras distintas ou outras regulamentações aplicáveis às trocas comerciais, em relação a outros
territórios, para uma parte substancial do comércio do território em questão. Entende-se por “união
Daí porque, os redatores do primitivo Acordo GATT, à luz do acordo
aduaneiro existente entre Bélgica, Luxemburgo e Países Baixos, estabeleceram a
possibilidade de que uniões aduaneiras e zonas de livre-comércio fossem instituídas em
exceção ao princípio da nação mais favorecida36.
Porém os acordos regionais, inclusive os que dispõe sobre a proteção às
marcas, só são legitimados pela OMC na medida em que auxiliam na redução de barreiras
comerciais, ainda que a extensão de seus efeitos não se dê em âmbito multilateral, mas em
hipótese alguma poderá resultar em maior restrição a quem não é parte no Acordo37.
Embora, nesse trabalho, tenha-se distinguido o direito internacional do
direito comunitário (transnacional), essas ordens não são isoladas de sorte que a União
aduaneira” a substituição, por um só território aduaneiro de dois ou mais territórios aduaneiros de tal maneira
que todas as tarifas aduaneiras outras regulamentações restritivas das trocas comerciais entre os territórios
dos membros da união sejam eliminados de maneira substancial e que, da mesma forma, tarifas e outras
regulamentações sensivelmente semelhantes sejam aplicadas por cada Membro da União ao comércio com
territórios nela não compreendidos” (cf. BRASIL. Lei n. 313, de 30 jul. 1948. Autoriza o Poder Executivo a
aplicar, provisoriamente, o Acordo Geral sobre Tarifas Aduaneiras e Comércio; reajusta a Tarifa das
Alfândegas, e dá outras providências. Disponível em <http://wwwt.senado.gov.br/legbras/>. Acesso em 22
mar. 2003.).
36
Pode-se distinguir uma zona de livre comércio, área de união aduaneira, mercado comum e união
econômica com as seguintes considerações, o grau de autonomia da organização internacional que representa
o acordo de integração numa zona de livre comércio é menor do que numa união aduaneira; contudo, as
normas adotadas pelos órgãos da união aduaneira, não possuem o efeito de vigência imediata e automática
nos territórios dos Estados-Partes, como existente num acordo de mercado comum e nem uma autoridade
supranacional como numa união econômica. Assim, numa zona de preferências tarifárias limitam-se a
estabelecer, no comércio recíproco entre seus sócios, tarifas aduaneiras menos elevadas que as normalmente
aplicáveis ao comércio de terceiros países, podendo haver também tarifa nula para determinados produtos
(por exemplo a Associação Latino-Americana de Livre Comércio - ALALC). Numa zona de livre comércio
há eliminação das tarifas que incidam no comércio intra-área e uniformização de normas de controle de
qualidade e de padrões de produtos (por exemplo o Acordo Norte-Americano de Livre Comércio – NAFTA);
Numa área de união aduaneira além de praticarem o livre comércio nas suas relações recíprocas, adotam uma
política comercial comum, que se consubstancia principalmente na aplicação de uma tarifa externa comum
(TEC) a terceiros países, de sorte que, há unificação da estrutura tarifária relativa a terceiros países e um
mínimo de harmonização das políticas monetária, fiscal e cambial (como por exemplo na Comunidade
Andina das Nações); Numa área de mercado comum, acrescenta-se a livre locomoção dos fatores de
produção, a criação de uma legislação harmônica com a sincronização das políticas em geral, ou seja a
integração alcança não só os setores econômicos e sociais, como também o monetária com a adoção de uma
moeda única (da qual o único exemplo atualmente é a União Européia); Vislumbra-se a possibilidade de um
mercado comum ser aperfeiçoado para uma união, na qual há unificação política e militar, com a
configuração de um espaço único, cf. SILVA, op. cit., p. 31; PEREIRA, Ana Cristina Paulo. Direito
institucional e material do Mercosul. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2001, p. 93-4.
37
Guido Soares sintetiza os requisitos previstos no Acordo GATT como sendo: a) obrigação de que os
arranjos integrativos cubram o essencial das trocas comerciais; b) existência de um plano ou programa que
contenha previsões precisas sobre o estabelecimento de uma união aduaneira ou de uma zona de livre
comércio em um prazo razoável entre a instalação definitiva das mesmas e o final de um período transitório;
c) o acordo de integração deve ter por objeto facilitar o comércio e não opor obstáculos ao comércio dos
Estados não participantes; d) a formação do acordo de integração não poderá acarretar no aumento de tarifas
aduaneiras, nem tornar os regulamentos comerciais mais rigorosos, do que os estabelecidos anteriormente
nos territórios dos Estados participantes isoladamente considerados, antes de formação do acordo de
integração. cf. SOARES, op. cit., p. 22.
Européia pôde constituir-se em regime excepcional de regulacão jurídica internacional,
mas balizada pelos princípios do direito internacional.
A marca comunitária, então, surge como uma alternativa para a marca
internacional, mas sob os princípios do direito internacional, com o objetivo de ser um
complemento para a proteção oferecida pela marca nacional. Nesse sentido, cuida-se,
agora, especificamente de sintetizar as principais disposições do Regulamento (CE) 40/94,
sobre marca comunitária (RMC).
3 Marca Comunitária
3.1 Princípios
38
DUTOIT, Bernard. O direito da concorrência desleal e a relação da concorrência: Dupla indissociável?
Uma perspectiva comparativa. Trad. Elsia de Araujo Riberio Alvares. Revista de Direito do Consumidor, São
Paulo [RT] n. 15, jul./set., 1995, p. 36.
apropriados. Contudo, também é certo que essa liberdade não pode resultar na divisão de
mercados unidos pelos tratados.
A função de regulamentação da concorrência, segundo Silveira, deve
indicar a evolução da marca de um mero sinal de propriedade ou de identificação do
produtor para um sinal que vai identificar diante dos consumidores uma procedência
constante de determinado produto ou serviço, oferecidos em concorrência com outros: “A
marca pressupõe a existência, ao menos potencial, de produtos idênticos ou similares
oferecidos perante o mesmo mercado sendo, pois, um instrumento de concorrência, e não
de monopólio”39.
De sorte que, o titular da marca além de ser detentor de um direito
privado subjetivo de uso do seu sinal é também responsável pelo produto ou serviço
marcado. Ostentar uma marca representa uma determinada garantia de que o fornecedor
seguirá oferecendo uma mesma qualidade de características nos seus produtos ou serviços.
Perante o consumidor, a aposição da marca significa que ele foi feito sob sua
responsabilidade. O crédito e o descrédito resultantes incidirão sobre o titular da marca,
influindo de forma positiva ou negativa sobre a sua reputação40.
Desta explicação decorre que, no regime jurídico de proteção às marcas
da UE, encontram-se contemplados os seguintes princípios hermenêuticos: respeito à
titularidade da marca; garantia de um mercado equilibrado (concorrência leal); e, respeito
ao interesse do consumidor. Daí decorre a proibição do uso enganoso da marca, seja esse
efetuado pelo titular ou por terceiro41.
Ou seja, as marcas podem ser explicadas como instrumento que
incorpora uma imagem protegida de forma idêntica em toda a União, valorizando “el
control de calidad que realizam los consumidores mediante su propia experiencia” 42.
Kors interpreta que, na normativa européia, na DM e no RMC
reconheceu-se que o consumidor tem direito a que a marca em dois produtos ou serviços
39
SILVEIRA, Newton. Licença de uso, as marcas e outros sinais distintivos. São Paulo: Saraiva, 1984, p. 16.
40
SILVEIRA, op. cit., p. 16-7.
41
Essa solução é extraída da leitura da exposição de motivos da DM e também do RMC, nas quais se
expressa que a função de uma marca é “principalmente garantir a indicação de origem”(cf. KORS, op. cit.,
p.160; GONÇALVES, op. cit., p. 24).
42
KORS, Jorge Alberto. La marca: una herramienta del derecho de la competencia. In: CORREA, Carlos
Maria (org.) Temas de derecho industrial y de la competencia. Buenos Aires: Ciudad Argentina, 1999, p.160.
cf. preâmbulo do RMC (especificamente o sétimo parágrafo). Na explicação de Gonçalves, o consumidor
deve poder acreditar que o produto ou serviço é proveniente de empresas capazes de produzir (ou prestar um
serviço) com as mesmas vantagens não necessariamente da mesma fábrica, (GONÇALVES, Luís M. Couto.
Direito de marcas. Coimbra: Almedina, 2000, p. 20).
indique uma mesma origem, ainda que, nem sempre, todas as legislações reconheçam esse
direito com o mesmo rigor, preferindo acentuar o caráter patrimonial da marca 43.
Foi para satisfazer esses objetivos que a UE criou a marca comunitária e
conferiu a essa proteção única em todo território da União. Efetivamente, a marca
comunitária goza de proteção uniforme e produz efeitos sobre todo o território da União.
Isso porque a aproximação das legislações nacionais não foi suficiente para a supressão do
obstáculo da territorialidade do direito nacional. De sorte que, para as empresas exercerem
sem entraves uma atividade econômica em todo o mercado comum fez-se necessário criar
marcas reguladas pelo direito comunitário44.
Daí porque, através do regime jurídico da marca comunitária, pode-se
registrar uma marca para todo o território comunitário e com uma só solicitação, através de
um único organismo administrativo, essa marca, poderá ser cedida, ser objeto de renúncia,
caducidade ou de nulidade para o conjunto da UE45.
Assim, determina-se que a partir do registro surge a titularidade do
direito sobre a marca, de modo a permitir ao seu titular europeu, ou de seu representante
com sede em um dos Estados-membros, usar na comercialização, em atividades de
fabricação e distribuição de bens ou de prestação de serviços, seu sinal em escala
comunitária. Esse uso deve ser verdadeiro de modo a prestigiar os direitos dos
consumidores e não falsear a concorrência ou dividir mercados. Sob esses princípios abre-
se a oportunidade de se estudar as regras que disciplinam o regime jurídico da marca
comunitária.
57
O instituto da renúncia é objeto do art. 49, RMC, a extinção é tratada no art. 50 e as causas de nulidade
estão reunidas no art. 51, RMC; CASADO CERVIÑO, op. cit., p. 131.
58
Art. 7, RMC; CASADO CERVIÑO, op. cit., p. 123. As nulidades absolutas podem ser reconhecidas de
ofício, independentemente de qualquer oposição.
59
Art. 40, RMC; INSTITUTO, op. cit., p. 23.
60
Art. 8, RMC; cf. art. 38, RMC. Sobre os motivos de recusa cf. CARVALHO, Américo da Silva. Marca
comunitária: Os motivos absolutos e relativos de recusa. Coimbra: Coimbra Editora, 1999.
61
cf. Art. 41 a 43; CASADO CERVIÑO, op. cit., p. 125. Os direitos anteriores que podem ser tomados em
consideração no procedimento de oposição incluem: as marcas comunitárias anteriores; as marcas nacionais
registradas e as marcas internacionais com efeitos num dos Estados-membros da UE; as marcas notórias, no
sentido do art. 6 “bis”, CUP; as marcas embora não registradas já utilizadas por outrem e os sinais utilizados
na atividade comercial que, na legislação nacional que lhe é aplicável, confere ao seu titular o direito de
proibir a utilização de uma marca mais recente (por exemplo, nomes comerciais e os emblemas), cf.
INSTITUTO, op. cit., p. 24. Então, a nulidade, pode ser total ou parcial. Se a causa de nulidade somente
existir para parte dos produtos ou dos serviços para os quais está registrada a marca comunitária, se declarará
a nulidade dos direitos do titular só para os produtos ou serviços de que se trate (art. 51, §3 o. e art. 52, § 5o.).
Segundo o art. 52, RMC, a nulidade tem efeitos retroativos, de tal sorte que, a declaração de nulidade terá por
conseqüência considerar que a marca nunca produziu efeitos.
62
Art. 45, RMC.
trâmites procedimentais, como por exemplo, pagar as taxas previstas no RMC e no
Regulamento (CE) n. 2869/95; b) renovar o registro da marca a cada 10 anos 63; e, c) usar a
marca no mercado64.
Sob a influência dos princípios hermenêuticos, o RMC fixa as causas de
caducidade da marca comunitária que podem ser reconhecidas pelo IHMI e pelos tribunais:
a falta de uso sério; a perda de caráter distintivo do sinal, quando o sinal se converte
designação usual para o produto; se o titular do registro derivado, comunitário, não renova
o registro original, nacional; se a marca é utilizada de modo a criar confusão ou induzir o
público consumidor a erro65.
A caducidade não tem, como princípio geral, efeitos retroativos, de tal
sorte que a marca produz todos seus efeitos até a data que se apresentou seu requerimento
de declaração de caducidade da inscrição ou o requerimento de análise de regularidade.
Pode ser total ou parcial. Se a causa de caducidade somente existir para parte dos produtos
ou dos serviços para os quais está registrada a marca comunitária, se declarará a
caducidade dos direitos do titular só para os produtos ou serviços de que se trate66.
No que respeita a exigência do uso, a ausência de uso de uma marca
comunitária acarreta importantes conseqüências. Em primeiro lugar, se não a usa, seu
titular não poderá opor-se com êxito à inscrição de uma nova marca confundível com a
sua67. Tampouco poderá pedir a nulidade de uma marca comunitária posterior nem impedir
que se use no mercado68. Por último, impedirá que a marca comunitária se beneficie do
mecanismo da transformação, com a única exceção do previsto no art. 108, §2º “a”,
RMC69.
A não utilização séria durante cinco anos consecutivos, a perda do
caráter distintivo e o caráter enganador da marca resultante do seu uso constituem os
principais motivos que permitem fundamentar uma ação de extinção. A marca comunitária
está submetida à mesma obrigação de utilização que as marcas registradas nos Estados-
membros da UE e as marcas internacionais que produzam os seus efeitos nesses Estados70.
63
Art. 47, RMC. A falta de renovação provocará a extinção do direito.
64
Art. 15 e 50, RMC; CASADO CERVIÑO, op. cit., p. 127.
65
Art. 50, RMC.
66
cf. arts. 50 e 54, RMC; CASADO CERVIÑO, op. cit., p. 132.
67
Art. 43, § 2º, RMC.
68
Art. 53, RMC.
69
CASADO CERVIÑO, op. cit., p. 128.
70
INSTITUTO, op. cit., p. 30. No Mercosul há caducidade da marca se não utilizada, somente quando o uso
for considerado obrigatório no Estado-Parte.
3.4 Direitos conferidos
71
cf. art. 9, § 1º., “a” a “c”; CASADO CERVIÑO, op. cit., p. 125-6.
72
cf. art. 9, § 2º., “a” a “d”. Deve-se atentar que, o risco de associação é uma figura que nasceu na Lei
Uniforme do Benelux e foi incorporada na DM (art. 4, b), a partir da qual foi incorporada às legislações dos
Estados-membros da UE (MARTÍNEZ MEDRANO, Gabriel A., SOUCASSE, op. cit.,, p. 229).
73
CABANELLAS DE LAS CUEVAS, Guillermo. El uso atipico de la marca ajena. In. CORREA, Carlos
Maria (org.) Temas de derecho industrial y de la competencia. Buenos Aires: Ciudad Argentina, 1999, p. 51
Como exemplo de uso autorizado, tem-se a utilização da marca registrada em dicionários,
enciclopédias ou obra de consulta similar, desde que esta não gere a impressão de que se
trata de um termo genérico74.
74
Art. 10, RMC; cf. UNIÃO EUROPÉIA. TJCE. Processo C-379/97. Acórdão do Tribunal de 12 out. 1999.
Pharmacia & Upjohn SA contra Paranova A/S. Pedido de decisão prejudicial: Sø- og Handelsretten -
Dinamarca. Direito de marca - Medicamentos - Importação paralela - Substituição de marca. Colectânea da
Jurisprudência 1999 página I-06927; UNIÃO EUROPÉIA. TJCE. Processo C-63/97. Acórdão do Tribunal,
proferido em 23 fev. 1999. Bayerische Motorenwerke AG (BMW) e BMW Nederland BV contra Ronald
Karel Deenik. Pedido de decisão prejudicial: Hoge Raad - Países Baixos. Directiva sobre as marcas - Uso não
autorizado da marca BMW nos anúncios de um garagista. (Colectânea da Jurisprudência 1999 página I-
00905); UNIÃO EUROPÉIA. TJCE. Processo C-2/00. Acórdão do Tribunal, proferido em de 14 maio 2002.
Michael Hölterhoff contra Ulrich Freiesleben. Pedido de decisão prejudicial: Oberlandesgericht Düsseldorf -
Alemanha. Aproximação das legislações - Marcas - Directiva 89/104/CEE - Artigo 5.º, n.º 1 - Alcance do
direito exclusivo do titular da marca - Terceiros - Uso da marca para fins descritivos. ( Colectânea da
Jurisprudência 2002 página I-04187).
75
ARACAMA ZORRAQUÍN, Ernesto. El agotamiento de los derechos de marca y las importaciones
paralelas. CORREA, Carlos Maria (org.) Temas de derecho industrial y de la competencia. Buenos Aires:
Ciudad Argentina, 1999, p. 14.
76
DI FIORI, Diego. Las marcas en el comercio internacional: limitaciones a las importaciones mediante la
ley de marcas. Buenos Aires: Heliasta, 2000, p. 65.
77
ARACAMA ZORRAQUÍN, op. cit., p. 14-5.
78
ARACAMA ZORRAQUÍN, op. cit., p. 15.
A teoria do direito de seguimento abre margem para que o titular da marca se insurja
validamente contra o modo de exposição do produto no mercado, por exemplo.
Em outra linha de idéias Kohler, em fins do séc. XIX, enunciou a teoria
da exaustão do direito de marca. Para essa, tal direito consiste somente no direito exclusivo
de utilizar o sinal de marca para por o produto no mercado. Nesse momento, ocorre a
exaustão do direito do titular do sinal que se exaure com a primeira circulação do objeto
marcado.
O pressuposto essencial da exaustão de direitos de marcas é que a partir
da introdução no comércio de produto protegido pela marca, realizada pelo titular da marca
ou por um terceiro com seu consentimento, obtém-se pleno proveito da mesma79.
A partir do regular ingresso do objeto em circulação, o proprietário da
marca não tem mais direito e o comprador do produto marcado pode utilizar e revender
dito produto sem render contas àquele, o qual não pode impedir nem regulamentar sua
revenda. O revendedor não precisará de autorização expressa, do titular da marca, para
exibir os produtos em seus locais de venda, para mencioná-las nos seus catálogos de preços
e para realizar publicidade em distintos meios80.
Contudo, ainda que o titular já não possa mais exercer seu “ius
prohibendi” frente àqueles produtos que introduziu no comércio, ainda assim poderá
exercer contra terceiros que fabriquem dito produto sem seu consentimento. Mantém o
produtor a prerrogativa de proteger sua imagem81.
Então, para impedir a divisão de mercados, a jurisprudência dos tribunais
comunitários recepcionou a teoria do esgotamento do direito de marca. Na qual, o direito
sobre a marca, consiste somente no direito exclusivo de utilizar a marca para por o produto
no mercado, desde que a introdução ao mercado tenha sido efetuada de modo regular pelo
titular (ou terceiro autorizado)82.
79
ARACAMA ZORRAQUÍN, op. cit., p. 15-6.
80
CABANELLAS DE LAS CUEVAS, Guillermo. El uso atípico de la marca ajena. In. CORREA, Carlos
Maria (org.) Temas de derecho industrial y de la competencia. Buenos Aires: Ciudad Argentina, 1999, p. 60.
Tal licitude desaparecerá, contudo, quando se efetuem menções falsas sobre os produtos ou quando se efetue
apelo difamatório sobre a marca em questão. De sorte que, aceita-se que o titular da marca pode acionar
judicialmente alguém que realizar atos incompatíveis com as funções da marca, seja com a função distintiva,
função de garantia aos consumidores e função publicitária. (cf. ARACAMA ZORRAQUÍN, op. cit., p. 17-8).
81
SALIS, Eli. El protocolo de marcas del Mercosur y el sistema de marcas argentino. In. CORREA, Carlos
Maria (org.) Temas de derecho industrial y de la competencia. Buenos Aires: Ciudad Argentina, 1999, p.
234-5.
82
O Tribunal de Justiça reconheceu o princípio da exaustão dos direitos sobre marcas no Acórdão
Centrafarm: UNIÃO EUROPÉIA. TJCE. Processo C-443/99, Acórdão de 31 out. 1974, 16/74, Rec. P. 1183)
cf. n. 16, CONCLUSIONES DEL ABOGADO GENERAL SR. JACOBS presentadas el 12 jul. 2001. Asunto
C-443/99 Merck, Sharp & Dohme GmbH contra Paranova Pharmazeutika Handels GmbH (Petición de
Assim, para que seja aplicável a teoria do esgotamento do direito de
marca, é necessário que: a) que o ingresso ao mercado seja regular (o bem ou serviço tenha
sido disponibilizado pelo titular da marca de modo livre); b) que por circulação se entenda
a alienação ou transmissão de domínio do produto, que não ocorre enquanto não se tenha
saído da propriedade do dono original, como por exemplo quando se entrega a alguém o
produto para transporte ou em consignação83.
A teoria do esgotamento sobre a marca aplica-se a duas situações, ainda
que vinculadas entre si de alguma maneira são, em realidade, distintas: o tema das
importações paralelas e o tema dos direitos nacionais de marcas nos processo de integração
econômica.
decisión prejudicial planteada por el Oberlandesgericht Wien) y asunto C-143/00 Boehringer Ingelheim KG
y Boehringer Ingelheim Pharma KG y Otros contra Swingward Ltd y Otros (Petición de decisión prejudicial
planteada por la High Court of Justice of England and Wales). Disponível em:
<http://www.curia.eu.int/jurisp/cgi-bin/form.pl?
lang=pt&Submit=Pesquisar&docrequire=alldocs&numaff=&datefs=&datefe=&nomusuel=&domaine=&mot
s=marca+comunitaria&resmax=200> Acesso em 29 ago. 2002.
83
ARACAMA ZORRAQUÍN, op. cit., p. 17.
84
Aracama explica que o fato de que estas importações sejam efetuadas por pessoas alheias à rede “oficial”
de distribuição ou venda do titular da marca é o que originou o nome de importações paralelas, cf.
ARACAMA ZORRAQUÍN, op. cit., p. 19-20.
territoriais de exaustão de direitos de marcas: nacional, regional (comunitário) e
internacional85.
Assim, o primeiro, exaustão nacional do direito de marca, é causado pela
primeira comercialização dos produtos de marca realizada ou autorizada pelo titular no
mercado nacional. Esta exaustão num Estado não afeta os direitos que o titular possa ter
em outro Estado. Na exaustão regional a primeira comercialização é aferida em âmbito de
um mercado regional, ou seja, basta que um produto seja comercializado pelo titular ou
com sua autorização num Estado-Parte do acordo de integração para que o direito seja
exaurido (se esgote) também nos demais Estados. Por fim, a exaustão internacional,
significa que a partir da primeira comercialização em algum mercado, vale dizer, no
mercado do Estado exportador86.
A exaustão nacional tem por efeitos impor a unidade do mercado
nacional e garantir o livre comércio. Implica em que o titular da marca autoriza tacitamente
aos revendedores a utilizar dita marca para a promoção de seus produtos e oferta dos
produtos autênticos, regularmente adquiridos por procedimentos normais e isso não
constitui um uso ilícito ou uma falsificação de marca.
A exaustão regional, não é mais que a extensão ao território do novo
espaço econômico da proibição imposta ao proprietário da marca de excluir o uso dessa
quanto a produtos postos legitimamente no comércio por ele ou com sua autorização
dentro da região de que se trate.
De um lado, encontra-se, o interesse do titular de um direito de
propriedade industrial, em controlar a distribuição do seu produto no mercado nacional,
regional e/ou internacional, através do estabelecimento de redes próprias de distribuição ou
de revenda consentida. De outro, são os interesses de consumidores, terceiros
revendedores, e, de certa forma, do próprio processo de integração que proclama a
diminuição das barreiras para a importação de mercadorias87.
Então, apresenta-se que, que pela teoria do esgotamento aplicada ao tema
das importações paralelas, deve-se observar que não é lícito que o produtor após colocar
85
ARACAMA ZORRAQUÍN, op. cit., p. 21.
86
ARACAMA ZORRAQUÍN, op. cit., p. 21.
87
BORGES, Valesca Raizer. As Importações Paralelas no Brasil e no Mundo: Tendências do debate sobre a
exaustão dos direitos de propriedade intelectual, nas Importações Paralelas Palestra proferia no XXI
Seminário Internacional da Propriedade Intelectual. Vitória, 21 ago. 2001.
regularmente no mercado um produto venha se opor a que esse produto seja introduzido no
território de outro Estado88.
Até porque, pretende-se evitar que o titular da marca comercialize o
produto por preços distintos em Estados diferentes. Ou seja, se porventura o titular da
marca comercializar o produto num Estado a preço mais baixo, nada impedirá que alguém
compre esse produto no país estrangeiro e o introduza no seu país em concorrência ao
titular da marca89.
Na União Européia, o princípio da exaustão comunitária foi consagrado
no art. 7, §º 1, DM, que estabelece o seguinte:
98
Arts. 5 e 6, RMC.
99
Art. 8, RMC.
100
Arts. 57 a 62, RMC.
101
Art. 63, RMC.
102
Arts. 90 a 103, RMC; CASADO CERVIÑO, op. cit., p. 142-8.
103
Art. 91, § 1o., RMC.
104
CASADO CERVIÑO, op. cit., p. 143.
105
CASADO CERVIÑO, op. cit., p. 143-4; cf. INSTITUTO, op. cit., p. 28.
106
Art. 92, RMC; cf. CASADO CERVIÑO, op. cit., p. 144-7.
Interposta uma demanda por violação de uma marca comunitária e
comprovados os fatos alegados, o Tribunal de marcas comunitárias dita providências para
impedir que o infrator continue seus atos ou ameaça de violação. Assim, o Tribunal adota
todas as medidas idôneas que a legislação nacional do Estado-membro permite para
garantir a eficácia desta proibição107.
As ações previstas no art. 92, RMC são propostas ante os Tribunais de
marcas comunitárias de primeira instância e recursos contra as suas decisões podem ser
propostos ante os Tribunais de marcas comunitárias de segunda instância 108. As regras
processuais sob as quais se pode interpor recurso ante um Tribunal de marcas comunitárias
de segunda instância são as fixadas na legislação nacional do Estado-membro em cujo
território esteja radicado esse Tribunal109.
Para as demais ações que não se encontram contempladas no art. 92,
serão competentes os Tribunais nacionais que terão competência territorial e funcional se
se tratar de ações relativas a uma marca nacional registrada no Estado de que se trate. Se
nenhum Tribunal nacional tiver competência para conhecer uma ação distinta das
contempladas e relacionada a uma marca comunitária, dita ação poderá ser promovida ante
os Tribunais de marcas comunitárias da Espanha, sede do IHMI110. Resume-se, assim, o
procedimento judicial preconizado pela UE como complemento ao regime jurídico de
regulamentação da proteção às marcas.
4. NOTAS CONCLUSIVAS